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W BA 02 49 _V 2. 0 AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA 2 Tatiana dos Santos São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Michele Aparecida Cerqueira Rodrigues Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Santos, Tatiana dos Avaliação e intervenção pedagógica / Tatiana dos Santos. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 36 p. ISBN 978-65-5356-170-0 1. Intervenção pedagógica. 2. Transtornos específicos da aprendizagem. 3. Planejamento e organização. I. Título. CDD 370 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O S237a © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Avaliação no contexto da educação inclusiva: do diagnóstico ao AEE ___________________________________________________________ 06 Intervenção pedagógica: crianças com TDAH e Transtornos Específicos da Aprendizagem (dislexia, discalculia) ___________ 19 Intervenção pedagógica para crianças com deficiências ______ 30 Planejamento e organização de espaços para avaliação e intervenção pedagógica ______________________________________ 41 AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA 5 Apresentação da disciplina Seja bem-vindo à disciplina de Avaliação e intervenção pedagógica. Esta disciplina discute a necessidade de compreensão do público-alvo sobre a educação especial, pessoas com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades/superdotação) e, também, sobre as pessoas com TDAH e transtornos específicos de aprendizagem (dislexia, discalculia e disortografia). Conhecer essas especificidades é o primeiro passo para você pensar a avaliação e a intervenção pedagógica, recursos fundamentais no processo de ensino e aprendizagem. Nesta disciplina, também será abordada a organização dos espaços específicos, além sala de aula, para que a intervenção pedagógica aconteça, seja por meio de apoio pedagógico ou pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE). Lembre-se sempre de que a inclusão escolar depende de todos: pais; professores; alunos; e comunidade. As barreiras atitudinais precisam ser superadas, tornando as pessoas mais humanas e sensíveis diante da diversidade. Espero que esta disciplina contribua de alguma forma, com este processo de sensibilização e acolhimento da diversidade, bem como ampliando as práticas inclusivas e o olhar dos profissionais para o modo como os alunos aprendem e, inda, para a avalição como recurso que amplia possibilidades qualificando o processo de aprendizagem dos alunos, indiferente da condição física, sensorial, social ou intelectual, apresentada. Bons estudos e muita sensibilidade humana nas suas discussões! 6 Avaliação no contexto da educação inclusiva: do diagnóstico ao AEE Autoria: Tatiana dos Santos Leitura crítica: Michele Aparecida Cerqueira Rodrigues Objetivos • Compreender as características do público-alvo da educação especial. • Reconhecer o processo de avaliação como ferramenta de qualificação para os processos de ensino e aprendizagem no contexto da educação Inclusiva. • Compreender a importância da avaliação diagnóstica para a elaboração dos planos de Atendimento Educacional Especializado (AEE). 7 1. Educação inclusiva: caracterização e avaliação Discutir avaliação, normalmente é polêmico, afinal, somos avaliados o tempo todo, não é mesmo? Na perspectiva da educação inclusiva, é ainda mais polêmico, tendo em vista as diferentes visões que ainda encontramos sobre a deficiência, as dificuldades de aprendizagem e o diferente. Qual sua visão sobre este público? Já refletiu sobre qual público estamos discutindo? Para iniciarmos nossa reflexão, vamos às orientações da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, quanto à definição deste público. Até o ano de 2008, as discussões acerca da definição do público-alvo da educação especial centravam- se nas necessidades especiais que, normalmente, não estavam apenas vinculadas a deficiências, transtornos e altas habilidades, por exemplo. As escolas, como estavam em um processo de compreensão e adaptação frente às questões da educação especial, acabavam classificando as crianças que apresentavam dificuldades de aprendizagem neste público e, por vezes, sinalizam no censo como crianças com algum tipo de deficiência ou distúrbio. Você sabia que crianças com dificuldades de aprendizagem eram classificadas, muitas vezes, como deficientes mentais? Uma nomenclatura/classificação que nem existe mais. Com o passar dos anos e das lutas do público da educação especial, diversos documentos foram elaborados, a partir de discussões entre grupos nacionais e internacionais, até que em âmbito nacional a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), finalmente define o público-alvo da educação especial como pessoas com deficiência, Transtornos Globais do Desenvolvimento e Altas habilidades/superdotação. Lembre-se que muitas síndromes 8 apresentam como características alguma deficiência, passando, então, a fazer parte deste público. Após a implementação da política e a definição do público-alvo da educação especial, o número de matrículas deste público na sala de aula regular, aumentou muito, de acordo com o levantamento de dados sobre a educação inclusiva, realizado por meio do censo escolar. Mas, como ficam os alunos com Transtorno Funcional Específico? Mesmo com a clara definição do público-alvo da educação especial, entende-se que os alunos caracterizados com Transtorno Funcional Específico (dislexia, disgrafia, disortografia, discalculia e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), também necessitam de orientações para acompanhamento e apoio escolar, atendimento definido na Política Nacional de Educação Inclusiva. “Nestes casos e em outros, como os transtornos funcionais específicos, a educação especial atua de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento desses estudantes” (BRASIL, 2008, p. 12). No ano de 2021, foi sancionada a Lei nº 14.254, de 30 de novembro de 2021, que garante “acompanhamento integral para educandos com dislexia ou Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou outro transtorno de aprendizagem” (BRASIL, 2021, p. 1). Ou seja, mesmo não classificadas como público-alvo da educação especial. As crianças com transtornos de aprendizagem têm garantido o apoio e atendimento integral, baseado em suas necessidades pedagógicas. A inclusão escolar rompe com paradigmas excludentes e abraça a educação a partir da valorização e respeito pela diferença, compreende todas as pessoas como únicas e especiais, capazes de superar dificuldades, desde que respeitadas assuas possibilidades e necessidades. Além da valorização do ser humano, a educação inclusiva segue o princípio da amizade, da convivência e da socialização e 9 aprendizagem entre as pessoas, fundamentais para crianças que fazem, ou não, parte da classificação do público-alvo da educação especial. A educação especial, transversal a todas as modalidades de ensino, deve estar articulada aos Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs), garantindo acesso e permanência do público-alvo da educação especial. Faz-se necessário articular as práticas pedagógicas, bem como a avaliação da aprendizagem de forma processual, valorizando as potencialidades de forma individualizada e inclusiva. 1.1 Avaliação na perspectiva inclusiva A avaliação na escola, por muito tempo foi compreendida como instrumento de punição e, principalmente, instrumento para medir o conhecimento por meio da comparação entre os alunos. Originalmente o termo vem do latim da composição de a-valere, que significa “dar valor a”. Desde as primeiras discussões a avaliação teve caráter de “atribuir valor”, “determinar valor” e, consequentemente, os diferentes modelos de educação evoluíram o termo, desenvolvendo instrumentos que por vezes, consideram o produto final e não o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Na perspectiva inclusiva, a avaliação considera o processo como fundante do planejamento de novas ações para o desenvolvimento da criança. Mais do que atribuir notas, ela é um instrumento de conhecimento e replanejamento, que oportuniza ao professor conhecer o aluno e suas especificidades bem como, rever a prática pedagógica. Contudo, faz-se necessário repensar o processo, os instrumentos com base nas especificidades da educação especial garantindo educação justa e igualitária. Segundo o documento elaborado pelo MEC (BRASIL, 2006), Avaliação para identificação das necessidades educacionais especiais, a proposta atual é de que a avaliação contribua para mudanças de atitudes 10 dos professores frente ao processo de ensino e aprendizagem dos alunos, considerando a diversidade e as dificuldades e potencialidades apresentadas, como fundante na construção do conhecimento. Ou seja, a avaliação passa a ter sentido muito mais amplo, do que uma nota para o aluno, mas amplia a possibilidade de autoavaliação das próprias propostas e planejamentos. Para Luckesi (1996), a avaliação, definitivamente, deve servir para auxiliar e orientar os educadores na tomada de decisões que contribuam para o aprimoramento de respostas adequadas às necessidades dos alunos. Mas, ao pensar uma avaliação na perspectiva inclusiva, o que você pontuaria? Temos algumas considerações no quadro a seguir: Quadro 1 – Avaliação na perspectiva inclusiva Considerações sobre avaliação na perspectiva inclusiva Na escola, todos são avaliadores e avaliados, sem que possamos estabelecer e determinar quem são uns e outros porque, na verdade, todos são avaliadores e tudo o que fazem pode ser considerado como objeto de avaliação. As apreciações, como análises qualitativas, devem envolver todos os atores, bem como suas ações, suas histórias, suas interações, necessidades, expectativas e, ainda, os contextos em que se inserem. A avaliação não deve ser reduzida a um momento escolhido para este fim, nem às técnicas a serem utilizadas. Na condição de processo contínuo, permanente e compartilhado, a avaliação não diz respeito ao aluno e apenas a ele. Devem ser analisados todos os aspectos do processo de ensino e de aprendizagem, o que implica, necessariamente, avaliar o contexto em que se realiza: o “clima” da escola e da sala de aula; os recursos didáticos; o mobiliário; o projeto curricular; os objetos do conhecimento; os espaços físicos; os apoios; dentre outros. No caso da identificação de necessidades educacionais, elas tanto dizem respeito ao aprendiz quanto ao contexto em que a aprendizagem ocorre. A identificação dessas necessidades deve impulsionar a comunidade escolar às providências cabíveis para satisfazê-las. Fonte: Brasil (2006, p. 22-23). Quando a escola avalia de forma inclusiva, considera as necessidades dos seus alunos, da família, da comunidade e dos professores. E, com 11 base nessa identificação e considerações, desenvolve seu planejamento com o olhar para todos de forma coletiva e individualizada ao mesmo tempo. A prova deixa de ser o foco, a nota, embora exigência do próprio sistema, passa a compor o processo como um todo e, os professores passam a compreender o percurso dos alunos em busca do conhecimento. Para Beyer (2006): [...] precisamos entender que as crianças são diferentes entre si. Elas são únicas em sua forma de pensar e aprender. Todas as crianças, não apenas as que apresentam alguma limitação ou deficiência são especiais. [...] É injusto avaliar o desempenho de diferentes crianças com os mesmos critérios ou as mesmas medidas. Crianças que são únicas em suas características, e, ao mesmo tempo, diferentes entre si, não podem ser comparadas através de procedimentos escalonados por uma média, que definem os alunos como bons, médios ou fracos. (BEYER, 2006, p. 28; 65) Beyer (2006) reforça a ideia de que a avaliação na perspectiva inclusiva, deve ter caráter dinâmico, da mesma forma que considera fundamental, os estudos de Vygotsky para a compreensão do processo de aprendizagem das crianças. Assim, os conceitos de Zona de Desenvolvimento Real e Proximal estariam relacionados não apenas com o modo como a criança se relaciona com os seus pares, por meio das interações, como também com o modo como se desenvolve a partir das situações mediadas. Na avaliação não basta verificar condições atuais do desempenho escolar da criança. Sua condição intelectual somente poderá ser devidamente avaliada quando ocorrerem situações de mediações, em que conceitos e informações venham a provocar a consolidação, pela criança, da sua Zona de Desenvolvimento Proximal. (BEYER, 2006, p. 94) 12 Entende-se que o processo de avaliação em uma escola inclusiva, está em constante transformação, assim como a própria escola. O papel do professor como mediador do conhecimento converge com o perfil de pesquisador do modo como seus alunos aprendem, bem como do modo como ensina. A avaliação é consequência e instrumento para qualificação do processo. Assim, caso você seja professor, também terá papel de pesquisador, buscando compreender os estilos de aprendizagem, as necessidades, também as dificuldades, para conseguir, com base nesses dados, estimular a potencialidade de seus alunos. 1.2 Avaliação diagnóstica para o Atendimento Educacional Especializado e apoio pedagógico Se você analisar a história da educação especial, certamente perceberá que, por muito tempo, os alunos chegavam, e por vezes ainda chegam, trazendo um laudo médico para escola que os diagnosticam com algum tipo de deficiência, (intelectual, sensorial, física, motora, múltipla) ou ainda síndromes psiquiátricas, neurológicas ou com quadros psicológicos graves. É comum também, alunos chegarem com avaliações, relatórios e laudos de distúrbios de aprendizagem, muitas vezes emitidos por médicos neurologistas, psiquiatras, psicólogos, entre outros. Alguns desses alunos chegam a passar por situações de exclusão, quando as escolas negam a matrícula por conta da condição da criança. Em outros casos, as crianças iniciam a trajetória escolar normalmente e, quando apresentam alguma dificuldade de aprendizagem, são encaminhadas para o diagnóstico. Mas, qual é a relação desses documentos e ações com a avaliação na perspectiva inclusiva? Essas duas situações estão diretamente relacionadas com a avaliação e principalmente, com as práticas pedagógicas que permeiam os processos de ensinar e aprender. 13 Muitas escolas ainda condicionam o atendimento educacional especializado à entrega de laudos médicos, o que revela uma postura clínica frente às questões inclusivas. Cabe salientar que a NOTA TÉCNICA Nº 04 / 2014/ MEC / SECADI / DPEE, de orientação quanto a documentos comprobatórios de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação no Censo Escolar, determina que: O atendimento educacional especializado – AEE visa promover acessibilidade, atendendo as necessidades educacionais específicas dos estudantes público-alvo da educação especial, devendo a sua oferta constar no projeto Político pedagógico da escola, em todas as etapas e modalidades da educação básica, a fim de que possa se efetivar o direito destes estudantes à educação. (BRASIL, 2014, p. 1). Diante do direito à educação, as famílias não podem ter o atendimento educacional especializado condicionado a um documento de caráter clínico. Ao trabalhar com a diversidade e compreender o processo de aprendizagem a partir das relações sociais e da mediação pedagógica, ou seja: Cabe ao professor que atua nesta área, elaborar o Plano de Atendimento Educacional Especializado – Plano de AEE, documento comprobatório de que a escola, institucionalmente, reconhece a matrícula do estudante público-alvo da educação especial e assegura o atendimento de suas especificidades educacionais (BRASIL, 2014, p. 1) O AEE caracteriza-se por atendimento pedagógico e não clínico, assim, os documentos devem ser analisados como componentes de informações complementares, anexos, que visam contribuir com a elaboração de plano de AEE na escola. Ou seja, na escola a equipe multidisciplinar deverá elaborar a avaliação diagnóstica, a fim de contribuir com o profissional da educação especial na elaboração do plano de AEE. 14 Não é o documento clínico que determina este atendimento, e sim o documento pedagógico organizado pela equipe é que será o norteador das ações inclusivas. Muitas das atuais definições de avaliação diagnóstica ainda estão atreladas ao conceito de avaliação clínica, classificatória. Em algumas situações, pais e familiares também indicam as crianças para a avaliação, contudo, normalmente esta solicitação parte dos professores da classe comum, buscando subsídios dos especialistas do AEE para trabalhar com esses alunos, pensando no Plano de Desenvolvimento Individualizado (PDI) e também nos recursos e espaços necessários para a efetivação desses planos. Poker et al. (2013) sugeriram uma proposta de PDI. De acordo com as autoras, Por meio dos dados coletados no processo de avaliação, o professor especializado pode identificar as áreas comprometidas e as competências do aluno que podem ser exploradas e aprimoradas. Além disso, tais dados, quando analisados, podem instrumentalizar e orientar o professor da classe comum, os gestores da escola e a família, para que o aluno tenha as melhores condições possíveis de acesso aos conteúdos curriculares. (POKER et al., 2013, p. 23) Esses dados podem ser coletados de diversas formas e as autoras dividem a avaliação em cinco tópicos, a saber: Quadro 2 – Tópicos para a avaliação do aluno Os cinco tópicos para a avaliação do aluno na construção do PDI Tópico 1 Informações a respeito da identificação do aluno. Tópico 2 Dados familiares que são importantes para contextualizar a situação do aluno, na família, bem como a sua situação social e econômica. Tópico 3 A trajetória escolar do aluno. Tópico 4 Que trata da avaliação geral, são analisadas duas instâncias que são determinantes para o desenvolvimento do aluno: a família e a escola. 15 Tópico 5 Refere-se à avaliação das condições do aluno, suas limitações, competências, dificuldades e habilidades, para se garantir a acessibilidade curricular. Fonte: adaptado de Poker et al. (2013). Para as autoras: [...] somente uma avaliação detalhada das competências de aprendizagem, capaz de coletar dados sobre as dificuldades do aluno, no que tange aos processos cognitivos subjacentes aos diferentes conteúdos, bem como aos aspectos sociais, familiares, emocionais e escolares, é que permite, de fato, planejar estratégias pedagógicas individualizadas, para promover o seu desenvolvimento. Avaliação e intervenção passam a se relacionar diretamente (POKER et al., 2013, p. 22) Quando a escola apresenta um olhar inclusivo, a avaliação e intervenção começam a se relacionar diretamente, em busca da identificação de barreiras que, de alguma forma, dificultam a aprendizagem do aluno ou, de alguns grupos de crianças. Ao planejar a partir da avaliação envolvendo os diversos atores, a escola busca estratégias para superar essas barreiras construindo novos paradigmas na relação ensino e aprendizagem. Esta transformação contribui para a ampliação de planejamentos inclusivos que buscam uma escola para todos. O AEE deve ser organizado como serviço de atendimento especializado complementar, que busca eliminar ou diminuir essas barreiras e/ ou lacunas de aprendizagem. A função da escola e, principalmente dos professores é de identificar as diferenças entre os alunos, a fim de ofertar o atendimento mais adequado. Desta forma, entende as necessidades individualizadas e o modo de aprender de forma mais específica. Na mesma linha de pensamento de Poker et al. (2013), o MEC também defende a construção de um documento de avaliação individualizada, sob o enfoque psicopedagógico como “importante subsídio para a 16 elaboração de projetos político-pedagógicos que garantam respostas educativas adequadas às diferentes necessidades dos alunos e da própria instituição educacional escolar” (BRASIL, 2006, p. 46). A identificação das reais necessidades dos alunos com deficiência, transtorno global do desenvolvimento, transtornos funcionais específicos e/ou dificuldades de aprendizagem, contribui para o desenvolvimento de propostas inclusivas que visam contribuir com o processo de ensino e aprendizagem. Não existe um modelo único de levantamento de informações ou diagnóstico inicial para elaboração do Plano de AEE. Contudo pode-se citar algumas sugestões utilizadas atualmente. Cabe aos profissionais da equipe multidisciplinar analisar o contexto da escola e adaptar o plano de avaliação de acordo com a realidade dos espaços e dos alunos. O MEC, assim como Poker et al. (2013), sugere a avaliação considerando três contextos: a escola; o aluno; e a família. Esta proposta de plano estabelecida por Poker et al. (2013) converge com as discussões acerca das especificidades da educação especial e a avaliação na perspectiva da educação inclusiva. O diagnóstico passa a ter caráter de informação, quando revela a trajetória de vida, os aspectos sociais, econômicos e emocionais das crianças. Muito além das características clínicas reveladas pelos profissionais da saúde, tendo em vista que entende o ambiente escolar como espaço de informação e educação transformadora. Após o diagnóstico levantado por meio da primeira parte do PDI, de posse desses dados, o profissional do AEE poderá elaborar a proposta pedagógica de Atendimento Educacional Especializado. Desta forma é esperado que, após análises e reflexões críticas, mude-se o enfoque e revejam-se as práticas avaliativas de modo a garantir os recursos de acessibilidade necessários para cada especificidade da educação especial. 17 Os profissionais que não atuam nas escolas, como os terapeutas, devem participar dessas discussões, contribuindo com a elaboração desses planos de AEE, afinal, o foco sempre será a criança e os diferentes olhares individuais dos momentos de terapia, e coletivos, que acontecem dentro da escola. Corroboram para o planejamento e escolha de melhores estímulos, respeitando as especificidades de cada criança – por este motivo, o plano é individualizado. Pensar a avaliação na perspectiva inclusiva implica, primeiramente, em compreender quais são os alunos que fazem parte deste público, em seguida, analisar, por meio da avaliação diagnóstica, todos os aspectos individuais, familiares e escolares para a elaboração do PDI e, consequentemente, o plano de AEE. A criança passa a conviver de forma coletiva,mas suas necessidades e potencialidades são consideradas de forma individual; a avaliação contribui para a elaboração de planejamentos que buscam contribuir com o processo de ensino e aprendizagem. Este processo acontece dentro da escola regular, não mais em escolas especiais, tendo em vista que um dos princípios da inclusão é a troca entre pares, a socialização, o respeito, o convívio e o sentimento de pertença. Na escola inclusiva, a criança se sente pertencente ao grupo e aos espaços. A avaliação é fundamental para os planejamentos das propostas na perspectiva da educação inclusiva. Referências BRASIL. Saberes e práticas da inclusão: avaliação para identificação das necessidades educacionais especiais. 2. ed. Brasília, 2006. BRASIL. Presidência da República. Lei nº 14.254, de 30 de novembro de 2021. Dispõe sobre o acompanhamento integral para educandos com dislexia ou Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou outro transtorno de aprendizagem. Brasília: D.O.U., 2021. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/ https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.254-de-30-de-novembro-de-2021-363377461 18 dou/-/lei-n-14.254-de-30-de-novembro-de-2021-363377461. Acesso em: 25 maio 2022. BRASIL. Ministério da Cultura. Orientações para implementação da política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília, 2015. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/marco-2015-pdf/17237-secadi- documento-subsidiario-2015. Acesso em: 25 maio 2022. BRASIL. Ministério da Cultura. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. MEC/SECADI. Brasília, 2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Acesso em: 25 maio 2022. BEYER, H. O. Inclusão e avaliação na escola: de alunos com necessidades educacionais especiais. Porto Alegre: Mediação, 2006. LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1996. POKER, Rosimar B. et al. Plano de desenvolvimento individual para o atendimento educacional especializado. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2013. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.254-de-30-de-novembro-de-2021-363377461 http://portal.mec.gov.br/docman/marco-2015-pdf/17237-secadi-documento-subsidiario-2015 http://portal.mec.gov.br/docman/marco-2015-pdf/17237-secadi-documento-subsidiario-2015 http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf 19 Intervenção pedagógica: crianças com TDAH e Transtornos Específicos da Aprendizagem (dislexia, discalculia) Autoria: Tatiana dos Santos Leitura crítica: Michele Aparecida Cerqueira Rodrigues Objetivos • Identificar especificidades do TDAH para planejamento de intervenção pedagógica. • Identificar especificidades dos Transtornos Específicos da Aprendizagem para planejamento de intervenção pedagógica. • Estudar os fundamentos das dificuldades de aprendizagem para compreender os transtornos específicos da aprendizagem mais comuns, e o processo que orienta a intervenção pedagógica em sala de aula. 20 1. Transtornos Específicos da Aprendizagem Neste texto, abordaremos os Transtornos Específicos da Aprendizagem considerando sua classificação e identificação. Nossa intencionalidade é analisar quais são os obstáculos à aprendizagem, colocando ênfase nas dimensões pedagógicas para instrumentalizar o professor quanto às possibilidades de avaliação e intervenção em sua prática pedagógica. Para saber avaliar e intervir pedagogicamente frente aos distúrbios de aprendizagem, o primeiro passo é entender de que maneira se constrói o cenário de impedimentos à aprendizagem, bem como ocorre a sua evolução até atingir por completo os processos gerais da aprendizagem prejudicando-os. 1.1 Dificuldades de aprendizagem De acordo com Fonseca (1995), as dificuldades de aprendizagem são classificadas em dois níveis, primárias e secundárias. As primárias não se identificam com nenhuma causa orgânica, estão relacionadas às perturbações nas aquisições práxicas e simbólicas, tais como a linguagem falada, escrita e quantitativa. As secundárias são aquelas resultantes de condições, desordens, limitações ou deficiências devidamente diagnosticadas, tais com a deficiência visual, auditiva, motora etc. Nossa discussão abordará as dificuldades primárias. Esta classificação indica que as dificuldades têm em suas origens múltiplas causas determinantes. Importante indicar, ainda, que o sujeito não apresenta um déficit no seu organismo e nem mesmo em suas funções cognitivas (mantém padrão intelectual, motor e social próximo ao normal). O aluno que apresenta uma dificuldade de aprendizagem primária tem o seu desenvolvimento considerado como normal. Porém, quando estiver envolvido em contextos ou situações endógenas e exógenas surge um 21 quadro que favorece o surgimento de “impedimentos à aprendizagem”, que se configuram como sendo transitórios, isto é, podem ser eliminados sem deixar nenhuma marca permanente na história do sujeito. 2. Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) O TDAH caracteriza-se como um dos transtornos do neurodesenvolvimento, mais comuns da infância. Segundo Machado, Bello e Borges (2017, p. 2), “apresenta padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade, que podem causar prejuízos nas atividades acadêmicas, profissionais e sociais”. O TDAH não é um distúrbio da aprendizagem, contudo pode acarretar prejuízos à aprendizagem. O aluno que apresenta um quadro específico de TDAH apresenta acentuada dificuldade em selecionar os estímulos do ambiente e manter o foco de atenção. Os comportamentos de desatenção, impulsividade e inquietude tendem a solicitar constantemente a atenção e os cuidados de outras pessoas. A criança tem a dificuldade em controlar o próprio comportamento, ou seja, de impedir o fluxo de hiperatividade. As causas do TDAH estão relacionadas: a. Aspecto biológico, incluindo causas hereditárias. b. Aspecto psicológico, relativo ao processo de desenvolvimento das funções psicológicas e repertório pessoal de comportamentos. c. Aspectos pedagógicos relativos à concepção de problemas de aprendizagem e concepções de educação. 22 O TDAH sustenta-se na tríade de sintomas: desatenção; impulsividade; e hiperatividade. É possível compreender os sintomas do TDAH a partir dos estudos de Smith e Strick (2012). Veja a seguir: Figura 1 – Lista de verificação de características de transtorno de déficit de atenção hiperatividade Os déficits da atenção ocorrem com ou sem hiperatividade. Existem, também, crianças que são primariamente hiperativas e impulsivas, e têm menos problemas de atenção. De acordo com estudos para a identificação do TDAH, seis ou mais sintomas de qualquer das listas a seguir sugerem a presença do transtorno: Desatenção: • Com frequência, deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras. • Com frequência, tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas. • Com frequência, parece não escutar, quando lhe dirigem a palavra. • Com frequência, não segue instruções e não termina seus deveres escolares e tarefas domésticas. • Com frequência, tem dificuldade para organizar tarefas e atividades. • Com frequência, reluta em envolver-se em tarefas ou atividades ou evita-as (por exemplo, tarefas escolares ou deveres de casa). • Com frequência, perde coisas (como brinquedos, tarefas de casa, livros e lápis). • Distrai-se facilmente com visões e sons irrelevantes. • Com frequência, apresenta esquecimento em tarefas diárias. Hiperatividade e impulsividade: • Com frequência, retorce as mãos e os pés, remexendo-se na cadeira. • Com frequência, deixa a cadeira na sala de aula ou em outras situações nas quais se espera que permaneça sentado (como à mesa de jantar). • Corre e sobe demasiadamente nos objetos em situações nas quais isso é impróprio. • Tem grande dificuldade para brincar em silêncio.• Com frequência, está “a mil” ou age como se “impulsionada por um motor”. • Fala excessivamente. • Com frequência, dá respostas precipitadas antes de as questões terem sido completadas. • Com frequência, tem dificuldade em esperar sua vez. • Com frequência, interrompe ou intromete-se nos assuntos de outros (intromete-se em conversas ou brincadeiras). Fonte: Smith e Strick (2012, p. 39). 23 2.1 TDAH: Avaliação e intervenção pedagógica O modo como o professor se posiciona e intervém diante do TDAH gera reflexos diretos no funcionamento da rotina de sua aula. A partir de agora, estudaremos como o professor pode desenvolver estratégias para poder intervir/manejar as condutas interferentes do aluno com TDAH. Em primeiro lugar, destacamos que o aluno com TDAH necessita de um ambiente de sala de aula organizado e estruturado que possibilite a ele a fragmentação das tarefas implicando reforços positivos diante do cumprimento de suas tarefas. Em palavras mais simples: ambiente organizado e estruturado; planejamento de atividades em pequenas etapas. Mediante o cumprimento de cada tarefa, deve seguir o reforço positivo por parte do professor indicando ao aluno o sucesso de sua atividade (MACHADO; BELLO; BORGES, 2017). É importante trabalhar com esses alunos as questões ligadas aos aspectos sociais e à autoestima. Sabemos que eles têm dificuldades em controlar seus comportamentos e emoções. Por essa razão, os autores orientam focar primeiramente no controle de comportamentos externos para chegar, progressivamente, à utilização de práticas relativas às autoinstruções. Segundo Smith e Strick (2012): [...] as pesquisas indicam que as crianças com TDAH geralmente precisam é de um tempo e de orientação extras para dominarem as informações: uma vez que tenham aprendido algo, os estudantes com TDAH recordam e usam a informação tão bem quanto qualquer outra pessoa. (SMITH; STRICK, 2012, p. 41) 3. Dislexia: avaliação e intervenção pedagógica A dislexia é um dos transtornos específicos da aprendizagem que mais atinge crianças em idade escolar, atualmente. Na história da educação 24 especial, pode-se perceber que por muito tempo crianças com este transtorno foram rotuladas como incapazes e até mesmo como deficientes mentais, dependendo da época. Mas, o que é a dislexia? Dislexia se refere “às diferenças de processamentos individuais, frequentemente caracterizados pelas dificuldades apresentadas no início da alfabetização, que comprometem a aquisição de leitura, escrita e ortografia” (CAPELLINI; SANTOS, 2020, p. 29). Trata-se de transtorno do neurodesenvolvimento também chamado de transtorno específico de aprendizagem, ligado à área da linguagem. Ela afeta a capacidade de ler e escrever e pode interferir na sua atuação social. O cerne da dificuldade do disléxico está na capacidade de reconhecer e manipular, omitir e fazer todas as inferências e modificações de sons de letras dentro de um processo sintático de palavras. Por isso, uma das primeiras ações do professor ao suspeitar da dislexia é fazer uma avaliação das habilidades fonológicas da criança, entre outras ações. Para iniciar a leitura e escrita a primeira atitude é direcionar a atenção e sustentar o foco no caderno ou no foco da escrita (atenção seletiva e sustentada). Após, ativamos duas vias: a. Visuoespacial (utiliza-se de movimentos em sequência dos olhos da esquerda para a direita – movimentos sacádicos da esquerda para a direita com base na linearidade da escrita e o reconhecimento grafêmico). b. Reconhecimento fonológico: no qual se processa a decodificação e codificação, a associação semântica (sentido/significado) e a memorização rápida do processo verbal do que está sendo lido. O sujeito neurotípico utiliza-se normalmente das duas vias: a visuoespacial e o de reconhecimento fonológico. O sujeito disléxico tem um déficit de reconhecimento fonológico, de decodificação e de reconhecimento visuoespacial do processo de leitura e escrita. Por essa 25 razão, há sujeitos disléxicos que são mais visuais (visuoespacial), ou mais auditivos (reconhecimento fonológico) ou mistos. Os professores devem estar atentos para os sinais precoces para investir na prevenção. Os sinais de risco, como: atraso na fala; trocas fonêmicas; dificuldades sintáticas na fala; dificuldades de coordenação motora; sequenciação; dificuldade com memorização de histórias, canções e parlendas; dificuldades com o aprendizado de atos práxicos; dificuldades com quebra-cabeças e percepção visual; esquece fácil tudo o que envolve material impresso; disnomia e desinteresse por leitura e escrita; dificuldades espaciais/tempo, podem aparecer na faixa de 3 a 5 anos. O diagnóstico da dislexia é clínico pautado essencialmente em observação do sujeito em situação de leitura e escrita, por profissional especializado (não é diagnosticada por meio de exames de tomografia, ressonância, entre outros). Diante da abordagem terapêutica do sujeito com dislexia (com diagnóstico fechado por equipe multidisciplinar), um primeiro ponto a ser destacado é que o professor pode tomar algumas ações antes da alfabetização concluída. Diante dos sinais de risco é preciso pensar em ações de prevenção. Uma criança que apresenta os sinais de risco deve ser submetida a ações terapêuticas especializadas (fonológica, psicopedagógico e pedagógicos). Há especialistas que apontam que somente aos nove anos de idade é possível fechar o diagnóstico. Claro que é possível pensar ações de prevenção e ação psicopedagógica, fonoaudiológica e pedagógica antes dessa idade. De acordo com Capellini e Santos (2020), algumas orientações pedagógicas podem ser indicadas a partir das suspeitas mediante os sinais precoces de dislexia ou mediante o diagnóstico já realizado. São elas: a. Proporcionar um ambiente alfabetizador. 26 b. Uso de imagens e enunciados claros e objetivos. c. Respeito ao tempo e espaço apropriado para a criança. d. Permitir uso de fichas de pré-leitura, gravadores e dicionários. e. Corrigir os erros e incentivar a participação oral e destacar os pontos positivos. f. Oferecer esquemas, resumos e certificar-se de que o aluno está compreendendo os conceitos. g. Encaminhar o aluno para apoio pedagógico. O importante é que o trabalho com equipe multidisciplinar seja realizado, considerando as especificidades apresentadas pelas crianças e as suas necessidades, a fim de contribuir com o seu processo de aprendizagem. 4. Discalculia: avaliação e intervenção pedagógica A discalculia do desenvolvimento na área da Matemática não é muito conhecida pelos professores. Esta condição “caracteriza-se por dificuldades em relação ao senso numérico, memorização de fatos aritméticos, precisão ou fluência de cálculo e precisão do raciocínio matemático” (CAPELLINI; GERMANO, 2019, p. 34). A discalculia é considerada um Transtorno Específico de Aprendizagem e, também, uma condição intrínseca, que pode acarretar prejuízos acadêmicos e também sociais e emocionais. É uma condição diferente da “dificuldade de desempenho em Matemática” condição extrínseca, normalmente passageira. 27 A criança com discalculia pode manifestar muita dificuldade em realizar as operações e cálculos de expressões numéricas, tendo em vista a complexidade dessas operações aos olhos deste público, que, com transtorno de habilidades matemáticas poderá apresentar: dificuldade para processar auditivamente; entender e escrever números; dificuldade para perceber velocidade, temperatura e tempo; dificuldade para compreender como os números se relacionam uns com os outros; memória de trabalho ruim e dificuldade para lidar com várias informações ao mesmo tempo; lentidão da velocidade de trabalho. Pensando de forma pedagógica, a criança também poderá apresentar: dificuldade para entender conceitos numéricos simples; falta de conhecimento intuitivo sobre números; problemas para aprender, evocar e ou usar fatos e procedimentos numéricos, mesmo produzindouma resposta correta podem apresentar falta de confiança. Alguns aspectos da discalculia que podem ser observados pelo professor no decorrer de sua mediação com o aluno são de ordem: a. Verbal: dificuldade em nomear as quantidades. b. Practognóstica: dificuldade para enumerar, comparar e manipular objetos reais ou em imagens, matematicamente. c. Léxica: dificuldades na escrita de símbolos matemáticos. d. Ideognóstica: dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos. e. Gráfica: dificuldades em escrever símbolos matemáticos. f. Operacional: dificuldade com o uso de símbolos matemáticos e números no processo de cálculo. Após essa identificação, o professor deve acionar a coordenação pedagógica e a família e iniciar um planejamento diferenciada 28 considerando que é “[...] importante que o professor, ao iniciar o trabalho com alunos discalcúlicos, proporcione intervenções pedagógicas visando ao resgate da autoestima e da autoimagem desse aluno” (BERNARDI, 2006, p. 31). Os professores podem desenvolver a sua intervenção pedagógica seguindo alguns princípios didáticos, por exemplo: • Elaborar proposições/atividades claras e diretas reduzindo ao mínimo o número de considerações. • Rever os limites de tempo de realização das atividades propostas, procurando com frequência retomar os objetivos da atividade para certificar-se que o aluno compreendeu o que se solicita. • Fornecer elementos diversos para que o aluno visualize o problema proposto utilizando desenhos, gravuras e esquemas. • Atentar e conhecer os processos específicos de aprendizagem que o aluno utiliza, a fim de entender como ele organiza o pensamento para resolver os problemas. • Permitir o uso de calculadora, esquemas, tabuadas. • Fornecer suportes de escrita organizados, tais como papel quadriculado. • Propor jogos lógicos. • Estimular a argumentação para estimular o raciocínio. • Organizar o ensino usando situações e materiais concretos, já que este manuseio estimula conexões neurais. • Dialogar com o aluno de forma privativa sobre as suas dificuldades e colocando-se à disposição para ajudá-lo. 29 Importante ressaltar que alguns alunos discalcúlicos possuem seu raciocínio lógico intacto, mas com acentuada dificuldade em trabalhar com números, símbolos e fórmulas matemáticas. Os transtornos de aprendizagem, assim como o TDAH, são muito comuns em sala de aula. É importante que os professores estejam atentos aos sinais para, precocemente, dispor de estratégias pedagógicas junto aos profissionais especializados para remediar e prevenir possíveis pioras nesses quadros, além de comprometimentos sociais e emocionais. A escola e a família podem contribuir significativamente nesse processo de acolhimento e atendimento, a fim de criar um ambiente escolar que possibilite a experiência significativa no processo de ensino e aprendizagem. Referências BELLO, S.K.; BORGES, K. K.; MACHADO, A. C. Transtorno De Deficit De Atencao/ Hiperatividade (Tdah). Ribeirão Preto: Book Toy, 2017. BERNARDI, J. Alunos com discalculia: o resgate da auto-estima e da auto-imagem através do lúdico. 2006. 189 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica, Porto Alegre, 2006. Disponível em: https://tede2.pucrs.br/ tede2/handle/tede/3691. Acesso em: 25 maio 2022. CAPELLINI, S.A.; GERMANO, G. D. Compreendendo os transtornos específicos de aprendizagem. v. 3. Discalculia. Ribeirão Preto: Book Toy, 2019. CAPELLINI, S. A.; SANTOS, B. Compreendendo os transtornos específicos de aprendizagem. v. 4. Dislexia. Ribeirão Preto: Book Toy, 2020. FONSECA, V. Insucesso escolar: abordagem psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem. Lisboa: Edição Âncora, 1995. SMITH, C.; STRICK, L. Dificuldades de aprendizagem de A a Z. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2012. https://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/3691 https://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/3691 30 Intervenção pedagógica para crianças com deficiências Autoria: Tatiana dos Santos Leitura crítica: Michele Aparecida Cerqueira Rodrigues Objetivos • Conhecer os espectros da deficiência física, visual, auditiva, intelectual e múltipla. • Compreender as possibilidades de intervenção pedagógica para os alunos com deficiência. • Reconhecer a importância das adaptações para alunos com deficiência. 31 1. Inclusão da criança com deficiência Refletir sobre as possibilidades de intervenção pedagógica para crianças com deficiência, implica, primeiramente, compreender os conceitos históricos que permeiam a trajetória da Educação Inclusiva. Para Mantoan (2011, p. 37), “a inclusão implica uma mudança de paradigma educacional, que gera uma reorganização das práticas pedagógicas: planejamentos, formação de turmas, currículo, avaliação, gestão do processo educativo”. Ao considerarmos que a educação inclusiva rompe com paradigmas tradicionais de educação valorizando as potencialidades e não focando nas deficiências, precisamos repensar todo processo pedagógico e de gestão escolar em busca de práticas menos excludentes, organizadas para todos. A inclusão é uma visão, uma estrada a ser viajada, mas uma estrada sem fim, com todos os tipos de barreiras e obstáculos, alguns dos quais estão em nossas mentes e em nossos corações. (MITTLER, 2003, p. 21) A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, ao determinar quem é o público-alvo da educação especial, rompe com as práticas que rotulavam várias crianças com dificuldades de aprendizagem como deficientes. Fazem parte deste grupo, pessoas com deficiência, Transtorno do Espectro do Autismo1 e altas habilidades/superdotação. E, no grupo de pessoas com deficiência, temos deficiências: física, auditiva, visual, intelectual e múltipla (Quadro 1). 1 Transtorno Global do Desenvolvimento, foi substituído pelo CID 11 – Transtorno do Espectro do Autismo. 32 Quadro 1 – Deficiências Pessoa com deficiência Aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Deficiência intelectual Definida por alterações significativas, tanto no desenvolvimento intelectual quanto na conduta adaptativa, na forma expressa em habilidades práticas, sociais e conceituais. Deficiência múltipla Definida pela associação, de dois ou mais tipos de deficiência (intelectual/visual/auditiva/física); Deficiência auditiva Consiste na perda bilateral, parcial ou total, de 41 dB ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500 Hz, 1.000 Hz, 2.000 Hz e 3.000 Hz. Surdez Perda auditiva acima de 71 dB, aferida por audiograma nas frequências de 500 Hz, 1.000 Hz, 2.000 Hz e 3.000 Hz. Baixa visão Acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores. Cegueira Acuidade visual igual ou menor que 0,05 no menor olho, com a melhor correção óptica; ausência total de visão até a perda da percepção luminosa. Surdo-cegueira Trata-se de deficiência única, caracterizada pela deficiência auditiva e visual concomitante. Essa condição apresenta outras dificuldades, além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. Deficiência física Definida pela alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência do membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzem dificuldades para o desempenho das funções. Fonte: adaptado de BRASIL (2015). Definido o público-alvo daeducação especial e as especificidades que permeiam os tipos de deficiência, é possível refletir sobre as intervenções pedagógicas que podem auxiliar no processo de ensino e aprendizagem deste público, bem como seu processo de inclusão escolar e social. 33 2. Intervenções pedagógicas para alunos com deficiência A escola é um espaço de integração, socialização e trocas de saberes. A diversidade encontrada na escola propicia enriquecimento para as crianças, ao trocar experiências com os seus pares, e para os professores, ao planejarem estratégias direcionadas às necessidades de todos os alunos. Nas novas propostas educacionais que buscam desenvolver ambientes inclusivos, a criança com deficiência passa a ser vista como um ser humano que se desenvolve e neste desenvolvimento estão inseridos diversos aspectos que são características únicas e individuais. A ideia de que todas as crianças em uma determinada idade deveria estar com um determinado nível de desenvolvimento, passou a ficar ultrapassada, pois, a partir destas concepções, constrói-se a noção de desenvolvimento individual, de acordo com o meio, com o estímulo recebido e com seu organismo. Vygotsky (1997), por meio do estudo sobre a deficiência e o desenvolvimento de crianças com deficiência, a defectologia, enfatizou o desenvolvimento da criança e suas potencialidades, e não mais a impossibilidade, a incapacidade, e isso influencia a própria prática educacional destes indivíduos. Vygotsky (1997, p. 104) alerta que: “não é importante saber só qual doença tem a pessoa, mas também que pessoa tem a doença. O mesmo é possível com relação à deficiência. É importante conhecer não só o defeito que tem afetado a criança, mas que criança tem tal defeito”. O autor também defendia que, a educação social, baseada na compensação social dos problemas físicos e intelectuais, era a maneira de auxiliar a vida das pessoas deficientes. Segundo Maiola (2008), 34 Vygosky acreditava em uma escola integradora de todas as crianças na sociedade, oportunizando a convivência junto com pessoas normais. Nesta linha, Vygotsky (1997) defendeu que muitas crianças “defeituosas” deveriam ser consideradas normais, uma vez que tinham potencialidades para se desenvolverem, desde que a escola fosse organizada e planejada para atender a todos os alunos. Como considerava que as crianças apresentam capacidade para dominar diferentes culturas e instrumentos culturais, desenvolvendo-se de um modo diferente, manifestava-se contra os diagnósticos de abordagem puramente quantitativa. Esse potencial das crianças deveria ser buscado na área das funções psicológicas superiores, desenvolvidas por meio das ações e interações sociais. A compensação da deficiência acontece na aprendizagem coletiva. Assim, o autor defendia a organização de grupos de níveis mistos para oportunizar avanços no desenvolvimento dos indivíduos e, a partir dessa premissa acreditava que as crianças com deficiência intelectual encontravam capacidade de desenvolvimento no contato com outras que estivessem em um nível superior ao seu. É o conceito de zona de desenvolvimento real e proximal. 2.1 Intervenção pedagógica – Deficiência visual A deficiência visual está relacionada a causas congênitas ou hereditárias. É uma condição irreversível, mesmo após tratamento clínico ou uso de recursos. É classificada em cegueira ou baixa visão, e alunos com esta condição necessitam de recursos específicos. As intervenções pedagógicas para este público são diferenciadas com base nas características da deficiência, tendo em vista que o aluno cego precisa de estímulos táteis enquanto a baixa visão estímulos visuais ampliados. Entre os recursos para intervenções pedagógicas para esse público, podemos citar: 35 Quadro 2 – Recursos para intervenções pedagógicas para alunos com deficiência visual Intervenção precoce A intervenção precoce do professor e da família, a partir da estimulação visual, trabalha com a visão residual da criança. Esses programas são comuns de 0 a 6 anos de idade. “Na criança vidente, a visão é o agente desencadeador da motivação para a realização de movimentos e ações. A criança com deficiência visual necessita de intervenção para que sejam nela despertados o desejo, a curiosidade e a motivação para agir sobre o ambiente” (GAGLIARDO; NOBRE, 2009, p. 18). Estimulação visual Trabalho desenvolvido para estimular a visão residual da criança. Normalmente, os professores desenvolvem brinquedos, objetos utilizados no dia a dia com contraste, estimulando a visão dos bebês desde os primeiros meses de vida. Recursos ópticos e não-ópticos No período de alfabetização e, também, para os demais anos escolares alguns cuidados devem ser tomados em sala de aula, como a utilização dos recursos não ópticos, que para Conde (1998, p. 6), “são dispositivos não ópticos que não envolvem lentes, podem ou não ser especificamente projetados para crianças deficientes da visão e não têm que ser prescritos por um especialista”. São exemplos de recursos ópticos: óculos bifocais ou monofocais. Sistema de tele microscópios; lupas manuais e de apoio. Recursos não ópticos: software leitor de tela, mesa adaptada, lápis e canetas adaptadas, acetato, cadernos com pautas ampliadas. Recursos pedagógicos O sistema Braille, composto por seis pontos em relevo, que formam 63 combinações. Com o sistema Braille, é possível fazer letras, números, símbolos químicos e matemáticos. O Ábaco sofreu adaptações para ser utilizado pelas pessoas cegas, dando origem ao Soroban e ao ensino da Matemática. Orientação e mobilidade Área de estudo que trabalha com a educação e reabilitação de pessoas com deficiência visual. As técnicas dividem-se em: técnica de bengala; guia vidente; cão-guia; técnicas de autoproteção; localização de objetos; e reconhecimento de espaço. Atividades da vida diária São atividades do dia a dia que, quando trabalhadas, propiciam à criança com deficiência visual condições e hábitos de autossuficiência, que permitam participar ativamente do ambiente em que vive. Fonte: Brasil (2007b). 2.2 Intervenção pedagógica – Deficiência auditiva A deficiência auditiva é uma perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando em graus e níveis. Há diferentes tipos de 36 perda auditiva e as principais causas da surdez estão relacionadas: à consanguinidade entre os pais e/ou hereditariedade; a infecções congênitas; ao baixo peso do bebê; à asfixia severa no nascimento; à meningite, principalmente a bacteriana; à permanência em incubadora; ao alcoolismo ou uso de drogas pelos pais, antes e durante a gestação. Os tipos de surdez são surdez leve, moderada profunda e severa e suas implicações no desenvolvimento da linguagem oral. Os recursos pedagógicos para crianças com deficiência auditiva também são diferentes, uma vez que, dependendo, da condição de surdez, o aluno poderá apresentar-se como usuário da LIBRAS como língua materna ou não. Existem três abordagens, descritas no quadro a seguir, para a educação de alunos com surdez: o oralismo, a comunicação total e o bilinguismo. Quadro 3 – Abordagens para a educação de surdos ORALISMO COMUNICAÇÃO TOTAL BILINGUISMO Objetiva ensinar o surdo a falar. Busca iniciar a fala o mais cedo possível, utilizando diversos instrumentos entre eles o aparelho auditivo. Procura explorar os resíduos auditivos que a criança surda possui. É um trabalho sistematizado feito por um fonoaudiólogo. Apesar de ainda ser utilizado, o oralismo teve seu auge e hegemonia de 1880 (a partir do Congresso de Milão, quando foi abolido o uso da língua de sinais) até mais ou menos 1970, permanecendo por praticamente um século como abordagem exclusiva na educação dos surdos. Surgiu na década de 1970, como uma alternativa ao oralismo. Objetiva utilizar de todos os meios que possam facilitar a comunicação, desde a fala sinalizada, passando por uma série de sistemas até chegar aos sinais.Muitos dos sistemas objetivavam auxiliar a compreensão da língua falada. A proposta é de que todos os recursos sejam importantes e indispensáveis para promover a comunicação: fala; leitura labial; escrita; desenho; língua de sinais; alfabeto manual etc. Quando foi criada, a comunicação total teve o mérito de reconhecer a língua de sinais como direito da criança surda. A crítica maior a esta abordagem é o fato de utilizar o português sinalizado. Defende o uso da língua de sinais (LIBRAS, no Brasil) e do português, como duas línguas distintas, reconhecendo o surdo na sua diferença e especificidade. As duas línguas são usadas, mas não simultaneamente. No bilinguismo, a primeira língua dos surdos é a Língua de Sinais. A língua falada ou escrita a ser adquirida (o português, por exemplo) é a 2a língua. A Língua de Sinais é, ainda, considerada a língua natural dos surdos. Fonte: Brasil (2007a, [s.p.]). 37 Preferencialmente, as escolas inclusivas devem trabalhar com o bilinguismo, respeitando as especificidades semânticas dos alunos com surdez. A escola poderá trabalhar com os seguintes recursos para intervenção pedagógica: adequação da proposta pedagógica; princípios do bilinguismo; avaliação compatível com as especificidades semânticas; respeito às necessidades individuais. 2.3 Intervenção pedagógica – Deficiência física O conceito de deficiência física se refere ao comprometimento do aparelho locomotor, que compreende o sistema osteoarticular, o sistema muscular e o sistema nervoso, ou seja, este tipo de deficiência compromete a movimentação e a deambulação do indivíduo. Devemos considerar que as alterações podem ocorrer em vários níveis: ósseo; articular; muscular; e nervoso. A paralisia cerebral, por exemplo, é um conjunto de distúrbios motores decorrentes de lesão no cérebro (uma forma de encefalopatia crônica não evolutiva) durante os primeiros estágios de desenvolvimento. Embora confundida com deficiência intelectual, a paralisia cerebral afeta o sistema motor, assim é classificada como deficiência física. As principais adaptações para o trabalho pedagógico com crianças com deficiência física e paralisia cerebral visam sempre a plena participação deste aluno na escola e sociedade. O nível de comprometimento sempre será fator importantíssimo e norteador das ações e adaptações necessárias para este público. Assim, temos como adaptação os recursos para atividade da vida diária; os recursos pedagógicos; de comunicação alternativa e de acessibilidade física. Para o desenvolvimento de um trabalho pedagógico efetivo com aluno com deficiência física, faz-se necessário estabelecer uma interação com a família e os profissionais da área clínico-terapêutica (fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo, educador especial) para o entendimento, não apenas do diagnóstico, mas das implicações motoras no seu desempenho pessoal, educacional e social. 38 2.4 Intervenção pedagógica – Deficiência intelectual A deficiência intelectual é caracterizada por um funcionamento cognitivo significativamente inferior à média, acompanhado de limitações importantes no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação; autocuidados; vida doméstica; habilidades sociais; relacionamento interpessoal; uso de recursos comunitários; autossuficiência; habilidades acadêmicas; trabalho; lazer; saúde; e segurança. As principais causas da deficiência intelectual podem ser pré-natais, perinatais ou pós-natais. O professor deve encontrar estratégias de adaptação para a inclusão escolar desses alunos, baseadas no olhar para a diversidade, desenvolvendo pranchas de comunicação alternativa, caso necessário, adaptações curriculares, de objetos e de atividades. Algumas ações de intervenção pedagógica podem ser desenvolvidas para qualificar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Quadro 4 – Ações de intervenção pedagógica Trabalhar sempre com o concreto, pois, normalmente, as crianças com deficiência intelectual demoram um pouco mais para abstrair o conhecimento. Repetir as atividades para que ele possa acompanhá- las e compreendê-las, respeitando o seu tempo. Garantir, sempre que necessários, professor de apoio pedagógico, pois a intenção é que o professor consiga desenvolver o trabalho pedagógico com o auxílio dos próprios alunos, e não de alguém específico para aquele aluno com deficiência. Garantir adaptação curricular com propostas que valorizam a potencialidade das crianças, buscando estratégias de mediação a fim de propiciar o pleno desenvolvimento e participação das crianças. Oportunizar a troca de saberes entre pares, bem como entre crianças de diferentes faixas etárias e que apresentam estágios de desenvolvimento diferenciados, propiciando compensação social. Orientar a família e conhecer as necessidades de cada aluno, a fim de propor estratégias diversificadas que oportunizem a aprendizagem em diferentes níveis. Fonte: Brasil (2006, [s.p.]). 39 2.5 Intervenção pedagógica – Deficiência múltipla O conceito de deficiência múltipla envolve a associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias (intelectual/visual/ auditiva/física), com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa. As intervenções pedagógicas para crianças nestas condições devem ser planejadas com base nas especificidades das deficiências associadas apresentadas, ou seja, o professor deverá considerar as necessidades reveladas por cada espectro identificado. Nesta perspectiva, o professor tem papel fundamental na organização e planejamento das ações de inclusão. Cabe ao professor: Quadro 4 – Intervenção pedagógica para crianças com deficiência múltipla Motivar e organizar interação e formas de comunicação com a criança, integrando-a ao grupo. Planejar em conjunto com o professor especializado atividades significativas, lúdicas e funcionais que despertam o interesse da criança. Ajudar a criança a realizar coisas que sozinha não daria conta de fazer. Ajudá-la a explorar o meio e a brincar ativamente. Evitar subestimá-la ou superprotegê-la. Ajudá-la a desenvolver a independência no lanche, na higiene e no brinquedo. Adaptar as atividades de linguagem, simbólicas, histórias, atividades de pesquisa e artes para que possa participar ativamente. Avaliar e reavaliar, em conjunto com o professor especializado, família e equipe os avanços, as dificuldades, as estratégias e as intervenções necessárias. Participar da elaboração do projeto político pedagógico (PPP) e do plano de desenvolvimento educacional (PDE) do centro de educação infantil, contemplando as necessidades específicas e educativas especiais. Fonte: Brasil (2006, [s.p.]). Escolas inclusivas buscam garantir ambientes acolhedores que valorizam a diversidade e a potencialidade dos alunos. Não se trata de olhar 40 assistencialista ou piedoso para a condição das crianças, mas sim, um olhar mais humano que compreende todos com igualdade de direitos – entre esses direitos, o de ser diferente. Como toda construção de cultura, isto demanda tempo. É necessário desconstruir barreiras atitudinais que, por muito tempo, fizeram educadores acreditar que a aprendizagem acontece da mesma maneira e entre grupos homogêneos. A inclusão rompe com este paradigma e trabalha considerando a heterogeneidade, a troca de saberes, a compensação social e o potencial humano. As intervenções pedagógicas para crianças com deficiência devem partir dessas premissas. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Atendimento educacional especializado: pessoa com surdez. Brasília: SEESP / SEED / MEC, 2007a. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf. Acesso em: 26 maio 2022. BRASIL. Ministério da Educação. Atendimento educacional especializado: deficiência visual. Brasília: SEESP / SEED / MEC, 2007b. Disponível em: http://portal. mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf.Acesso em: 26 maio 2022. GAGLIARDO, H.G.R.G.; NOBRE, M.I.R.S. Intervenção precoce na criança com baixa visão. Revista de Neurociências, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 16-19, 2009. Disponível em: https://periodicos.unifesp.br/index.php/neurociencias/article/view/8928. Acesso em: 1 jun. 2022. MAIOLA, C. S. Práticas inclusivas na escola: o que os alunos têm a dizer sobre isso? Atos de Pesquisa, v. 3 n. 3, 2008. Disponível em: https://proxy.furb.br/ojs/index. php/atosdepesquisa/article/view/1229. Acesso em: 3 mar. 2022. MANTOAN, M.T. E. (Org.). O desafio das diferenças nas escolas. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. MITTLER, P. Educação inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003. VIGOTSKY, L. S. Obras escogidas V: fundamentos de defectologia. Madrid: Visor, 1997. http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf https://periodicos.unifesp.br/index.php/neurociencias/article/view/8928 https://proxy.furb.br/ojs/index.php/atosdepesquisa/article/view/1229 https://proxy.furb.br/ojs/index.php/atosdepesquisa/article/view/1229 41 Planejamento e organização de espaços para avaliação e intervenção pedagógica Autoria: Tatiana dos Santos Leitura crítica: Michele Aparecida Cerqueira Rodrigues Objetivos • Identificar necessidades de espaços especializados para intervenção pedagógica. • Compreender as possibilidades de organização de espaços para avaliação e intervenção pedagógica. • Conhecer as recomendações para organização de salas de recurso multifuncionais. 42 1. Espaços de intervenção pedagógica Por muito tempo, o atendimento educacional especializado (AEE) era oferecido aos alunos com alguma deficiência, transtorno global do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação em instituições especializadas. Os alunos com transtornos funcionais específicos e que apresentavam dificuldades de aprendizagem, por vezes, também foram atendidos nesses espaços. A inclusão no país passou por várias fases até que na Convenção dos Direitos Humanos, em 2006, o Brasil assume o compromisso de garantir acesso aos alunos com deficiência a um sistema inclusivo em todos os níveis de ensino. Partindo desse compromisso, em 2008, a publicação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, reforça este direito e determina que o atendimento deve acontecer prioritariamente na escola regular. A política gerou vários debates, tendo em vista os grupos que ainda defendiam o atendimento educacional especializado destinado a este público nas instituições especializadas que se mostraram resistentes em aceitar a nova condição. Muitas famílias, de crianças com deficiência, de crianças com déficit ainda preferiam que as crianças frequentassem a escola inclusiva, e outras defendiam o direito de inclusão e igualdade para todos. Os profissionais da educação também passaram por fase de aceitação, uma vez que muitos ainda manifestavam um discurso de despreparo para educar todas as crianças no mesmo espaço. Contudo fez-se necessário compreender e, também, separar o apoio pedagógico do Atendimento Educacional Especializado. 1.1 Apoio pedagógico O apoio pedagógico, destinado a todos os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem é um direito garantido por meio da Lei de 43 Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Contudo, as discussões acerca do público que deve ou não receber este serviço ainda é frequente. Os alunos com dificuldades devem receber o apoio pedagógico em parceria com os profissionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE). Embora não sejam caracterizados como público-alvo da Educação Especial, alunos com dislexia, disgrafia, disortografia, TDAH apresentam especificidades que influenciam o processo de ensino e aprendizagem. A organização dos espaços para a realização do apoio pedagógico pode, também, acontecer em parceria com o AEE. Muitos profissionais da educação ainda sentem certa insegurança ao trabalhar com a diversidade em sala de aula. Ao determinar que o público-alvo da educação especial frequente a escola regular, a Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva também orienta para a formação continuada de professores para o atendimento a este público. O apoio pode ocorrer: [...] em salas de recursos multifuncionais da própria escola, de outra escola pública ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios. (BRASIL, 2013, p. 42) A educação especial deve ser transversal a todos os processos escolares e em todos os níveis de ensino. Ao determinar que as escolas precisam organizar o AEE, a Política Nacional de Educação na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) também determina quem é o público que deverá ser atendido nesses espaços. Por muito tempo as escolas brasileiras classificavam as crianças com algum tipo de dificuldade de aprendizagem como “portadores de necessidades especiais”, ou alunos com “necessidades educacionais especiais”. Com a publicação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, a nomenclatura muda e adota- 44 se o termo público-alvo da Educação Especial para categorizar as pessoas com deficiência, transtorno global do desenvolvimento1 e altas habilidades/superdotação. Contudo, alerta para que o profissional do AEE também oriente a escola sobre o atendimento aos alunos com transtorno funcional específico. Definido o público-alvo da educação especial, inicia-se no país uma reorganização nas escolas, inclusive na matrícula desses alunos e no cadastro do censo escolar. O aluno que recebe o atendimento educacional especializado deverá estar regularmente matriculado e cadastrado na sala de recursos multifuncionais no turno oposto. Esta nova organização traz para a escola a proposta de trabalho em parceria entre o professor de sala e o professor de AEE que, até então, normalmente atuava em escolas especializadas. Os espaços de avaliação e intervenção pedagógica passam a ser pensados planejados de acordo com o perfil dos alunos que receberão atendimento. A escola como espaço de aprender, poderá organizar: sala de apoio; Sala de Recursos Multifuncionais; e Laboratório de Aprendizagem. 1.2 Salas de apoio pedagógico As salas de apoio pedagógico normalmente são organizadas pelo professor de apoio da escola ou pelo psicopedagogo, quando for o caso. São espaços pensados para o trabalho com as lacunas de aprendizagem dos alunos, principalmente quanto à alfabetização e letramento, linguagem matemática e reforço escolar. Contempladas no Plano Político Pedagógico da Escola, essas salas contam com diferentes recursos e profissionais disponíveis para o trabalho individualizado e extracurricular junto aos alunos, podem conter: material didático específico; elementos de estimulação visual; jogos; material alternativo; e tecnologias de informação e comunicação. 1 Substituído pelo CID 11 – Transtorno do Espectro do Autismo. 45 1.3 Laboratórios de aprendizagem Os laboratórios de aprendizagem, comuns em escolas públicas e privadas, possibilitam o trabalho específico com os alunos em diferentes áreas. Trata-se de uma prática não muito recente que propicia, também, aos professores o trabalho com conhecimento específico. Normalmente, os profissionais que atuam nesses laboratórios, apresentam formação em áreas específicas. Como a implementação muitas vezes depende de recursos financeiros, faz com que muitas escolas não consigam oferecer tal serviço. 2. A Implementação da sala de recursos multifuncionais As salas multifuncionais são espaços de atendimento educacional especializado (AEE), organizados com o apoio do MEC, nas escolas comuns de ensino regular.O atendimento especializado passa a ser oferecido nas escolas no contraturno em que o aluno estuda. A intenção é garantir aos alunos com necessidades educativas especiais, os atendimentos especializados dos quais este público necessita como também a inclusão escolar. O atendimento educacional especializado oferecido nas salas de recursos multifuncionais é organizado pelo profissional especializado em parceria com os professores de sala e com a coordenação e direção da escola. Tal prática deve estar prevista no Plano Político Pedagógico como uma das ações que buscam a construção de uma escola inclusiva. Assim: A implantação das Salas de Recursos Multifuncionais nas escolas comuns da rede pública de ensino atende a necessidade histórica da educação brasileira, de promover as condições de acesso, participação e aprendizagem dos alunos público-alvo da educação especial no ensino 46 regular, possibilitando a oferta do atendimento educacional especializado, de forma não substitutiva à escolarização. (BRASIL, 2010, p. 3) O Conselho Nacional de Educação, por meio da Resolução CNE/CEB nº4/2009, estabelece as Diretrizes Operacionais para o AEE na Educação Básica, definindo que: Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, nas salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, em centro de atendimento educacional especializado de instituição especializada da rede pública ou de instituição especializada comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a secretaria de educação ou órgão equivalente dos estados, do Distrito Federal ou dos municípios. (BRASIL, 2009, p. 2) As salas de recursos multifuncionais devem estar equipadas com recursos tecnológicos e pedagógicos necessários para o atendimento dos alunos com necessidades especiais que devem ser acompanhados por um professor com formação em educação especial. Nas escolas da rede pública, a responsabilidade pela compra de equipamentos e montagem das salas de recursos multifuncionais é do Ministério da Educação em parceria com as secretarias de educação municipais e estaduais. É necessário que a escola preencha o cadastro de solicitação de implementação dos recursos. Após o cadastro, a escola passa receber os principais equipamentos para a organização desses espaços. A escola, ao cumprir sua função social, deve apresentar planejamento para disponibilizar recursos e apoio por meio do AEE nas salas de Recurso Multifuncionais, a fim de valorizar as diferenças e garantir a igualdade de direitos. De acordo com o documento Orientações para 47 a implementação de Salas de Recursos Multifuncionais (BRASIL, 2010), as escolas contam com duas possibilidades de implementação desses espaços. Com ou sem equipamentos para AEE para alunos com deficiência visual. Assim: A escola de ensino regular deve ter matrícula de aluno(s) público-alvo da educação especial em classe comum, registrado(s) no Censo Escolar/ INEP, para a implantação da sala Tipo I; A escola de ensino regular deve ter matrícula de aluno(s) cego(s) em classe comum, registrado(s) no Censo Escolar/INEP, para a implantação da sala de Tipo II. (BRASIL, 2010, p. 10) Ao implementar uma sala para atendimento aos alunos cegos, o MEC (Brasil, 2010) disponibiliza ainda os seguintes equipamentos: • 01 Impressora Braille – pequeno porte. • 01 Máquina de datilografia Braille. • 01 Reglete de mesa. • 01 Punção. • 01 Soroban. • 01 Guia de assinatura. • 01 Kit de desenho geométrico. • 01 Calculadora sonora. Após a organização de equipamentos e implementação da sala de recursos multifuncionais, é necessário planejar o Atendimento Educacional Especializado. Desta forma, a escola organizará seu PPP, bem como o Plano de AEE, envolvendo todos os responsáveis. 48 2.1 O AEE nas salas de recursos multifuncionais No contexto da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2009), os Programas de Implementação das Salas de Recursos Multifuncionais (BRASIL, 2008) objetivam: • Apoiar a organização da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. • Assegurar o pleno acesso dos alunos público-alvo da educação especial no ensino regular em igualdade de condições com os demais alunos. • Disponibilizar recursos pedagógicos e de acessibilidade às escolas regulares da rede pública de ensino. • Promover o desenvolvimento profissional e a participação da comunidade escolar. Mas, para atingir esses objetivos, faz-se necessário garantir a atuação do profissional de AEE para atuação nesses espaços como também para a parceria com os professores de sala, buscando ampliar as possibilidades de acesso e garantia de direitos do público-alvo da educação especial. A atuação do professor do AEE está regulamentada na Resolução CNE/ CEB nº 4/2009 (BRASIL, 2009), art. 12, que define que para atuar no atendimento educacional especializado, o professor deve ter formação inicial que o habilite para exercício da docência e formação específica na educação especial. Esses profissionais desenvolvem um papel fundamental para a difusão da inclusão dentro da comunidade escolar. A seguir, observe as atribuições deste profissional: 49 Quadro 1 – Atribuições do professor de AEE ATRIBUIÇÕES DO PROFESSOR DE AEE Elaboração, execução e avaliação do plano de AEE do aluno. Definição do cronograma e das atividades do atendimento do aluno. Organização de estratégias pedagógicas e identificação e produção de recursos acessíveis. Ensino e desenvolvimento das atividades próprias do AEE, tais como: LIBRAS; Braille; orientação e mobilidade: Língua Portuguesa para alunos surdos; informática acessível; Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA); atividades de desenvolvimento das habilidades mentais superiores e atividades de enriquecimento curricular. Acompanhamento da funcionalidade e usabilidade dos recursos de tecnologia assistiva na sala de aula comum e ambientes escolares. Articulação com os professores das classes comuns, nas diferentes etapas e modalidades de ensino. Orientação aos professores do ensino regular e às famílias sobre os recursos utilizados pelo aluno. Interface com as áreas da saúde, assistência, trabalho e outras. Fonte: Brasil (2009). As salas de recursos multifuncionais são organizadas nas escolas de educação básica. Nas instituições de ensino superior, são implementados os núcleos de acessibilidade. De acordo com o previsto na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), a educação especial, vista sob o princípio da transversalidade, efetivar-se por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos estudantes. Para garantir o atendimento ao público-alvo da educação especial, as instituições devem conceber a acessibilidade de forma ampla, contemplando a acessibilidade atitudinal, arquitetônica, metodológica, programática, instrumental, digital e nas comunicações. Tais espectros de acessibilidade, embora muito discutido para o ensino superior, também devem ser garantidos nas demais etapas da educação. 50 Quadro 2 – Espectros de acessibilidade ESPECTRO DA ACESSIBILIDADE DEFINIÇÕES PRÁTICAS E EXEMPLOS Acessibilidade atitudinal. Refere-se à percepção do outro sem preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações. Todos os demais tipos de acessibilidade estão relacionados a essa, pois é a atitude da pessoa que impulsiona a remoção de barreiras. Essa acessibilidade pode ser notada quando existe, por parte dos gestores institucionais, o interesse em implementar ações e projetos relacionados à acessibilidade em toda a sua amplitude. A priorização de recursos para essas ações é um indicativo da existência de acessibilidade atitudinal. Acessibilidade arquitetônica (também conhecida como física). Eliminação das barreiras ambientais físicas
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