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© 2017 by Beatriz Acampora e Bianca Acampora Gerente Editorial: Alan Kardec Pereira Editor: Waldir Pedro Revisão Gramatical: Lucíola Medeiros Brasil Capa e Projeto Grá�co: 2ébom Design Capa: Eduardo Cardoso Diagramação: Flávio Lecorny Este livro foi revisado por duplo parecer, mas a editora tem a política de reservar a privacidade. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A1153p Acampora, Beatriz; Acampora, Bianca Psicopedagogia institucional: guia teórico e prático/ Beatriz Acampora, Bianca Acampora. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2023. 200p. : 21cm Inclui bibliogra�a ISBN 978-85-7854-389-1 1. Psicologia educacional. I. Acampora, Bianca. II. Título. 17-40928 CDD 370.15 CDU: 37.015.2 2023 Direitos desta edição reservados à Wak Editora Proibida a reprodução total e parcial. WAK EDITORA Av. N. Sra. de Copacabana, 945 – sala 107 – Copacabana Rio de Janeiro – CEP 22060-001 – RJ Tels.: (21) 3208-6095, 3208-6113 e 3208-3918 wakeditora@uol.com.br www.wakeditora.com.br mailto:wakeditora@uol.com.br https://www.wakeditora.com.br/ Dedicatória Dedicamos este livro a Deus, à nossa família, aos nossos amigos, aos pro�ssionais comprometidos em aprender cada vez mais sobre a área psicopedagógica. Epígrafe A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar- se fora da procura, fora da boniteza e da alegria. (Paulo Freire) Sumário Prefácio Introdução Cap 1 - A Psicopedagogia Institucional e o Processo de Desenvolvimento Humano Segundo Piaget, Wallon e Vigotsky 1.1 – Piaget 1.2 - Wallon 1.3 – Vigotsky Cap 2 - A Psicopedagogia Institucional no Processo de Aprendizagem 2.1 – A Psicopedagogia e as bases da aprendizagem 2.2 – O papel da afetividade na aprendizagem e a função do psicopedagogo 2.3 – Como estimular a memória e aprendizagem? Cap 3 - A Psicopedagogia e os Aspectos Psiconeurológicos 3.1 – O cérebro humano e os aspectos da cognição 3.1.1 – Inteligência 3.1.2– Atenção 3.1.3 – Funções executivas 3.1.4 - Linguagem 3.2 – Transtornos de aprendizagem Cap 4 - Constituição Subjetiva e Construção Cognitivo-Psicopedagógica por Meio do Jogo Simbólico, de Construção, de Regras e Cooperativo 4.1 A construção cognitiva 4.2 - O trabalho do psicopedagogo institucional POR MEIO do Jogo Simbólico, de Construção, de Regras e Cooperativo Cap 5 - A Psicopedagogia e o Desenvolvimento da Linguagem: Lacan, Saussure, Chomsky, Lenneberg 5.1 – A linguística de Ferdinand Saussure 5.2 – Lacan e a relação entre psicanálise e linguagem 5.3 – Chomsky e a gramática transformacional 5.4 – Lenneberg 5.5 – Abordagens teóricas em aquisição da linguagem Cap 6 - A Construção da Escrita e o Desenvolvimento da Personalidade Moral por Meio da Literatura: o trabalho psicopedagógico na instituição 6.1 – A construção da escrita nas crianças 6.2 – O trabalho psicopedagógico e a importância da leitura para a criança 6.3 – O desenvolvimento da personalidade moral 6.4 – A literatura e a moralidade: a contribuição para o desenvolvimento da autonomia Cap 7 - Intervenção Psicopedagógica no Raciocínio Lógico-Matemático Cap 8 - Psicopedagogia Comunitária, Violência e Sociedade Cap 9 - Psicopedagogia no Trabalho: diagnóstico e intervenção institucional 9.1 - Ética pro�ssional 9.2 - O psicopedagogo na instituição escolar 9.3 - Fundamentos de um diagnóstico escolar 9.4 - Intervenção psicopedagógica escolar Cap 10 - Orientação Familiar e Escolar 10.1 - Motivação 10.2 – Autoestima 10.3 - Afetividade Considerações Finais Rerefências Prefácio Lidar com pessoas é um desa�o diário de autoconhecimento, relacionamento e busca de superação. Atualmente, temos uma certeza constante: é preciso aprender a aprender. Isto signi�ca que devemos nos dedicar ao novo, às formas distintas de ampliar nosso conhecimento. Em qualquer que seja a idade, a aprendizagem deve ser valorizada, pois faz parte da nossa jornada continuar a aprender para uma constante adaptação. Se o mundo muda, precisamos mudar com ele. É uma questão de sobrevivência, já dizia Charles Darwin: “Na história da humanidade (e dos animais também) aqueles que aprenderam a colaborar e improvisar foram os que prevaleceram”. Dessa forma, a mudança é necessária para alcançar novas etapas da vida. E, assim, é necessário que se compreendam as teorias acerca da aprendizagem e da Psicopedagogia para utilizá-las no ambiente institucional. As facilidades e di�culdades do processo de aprendizagem podem ter muitas in�uências, como os estímulos oferecidos pelo meio – incluindo a família, a escola, as amizades e os locais que um indivíduo frequenta –, as questões psicológicas e os aspectos cognitivo-afetivos e, até mesmo, biológicos. Ocorre que aprender pode se tornar mais prazeroso e signi�cativo com a utilização de estratégias diferenciadas baseadas na ludicidade, na interação com os docentes e com a família, visando despertar o interesse, associar emoções positivas, valorizar a realidade e a “bagagem” daquele que está na condição de aprendiz. Na sala de aula ou nas organizações, a apreciação e aquisição do saber são espaços privilegiados que vão além da simples reprodução ou memorização de fatos, pois busca-se promover o desejo de produzir conhecimento, de criar o que se aprende, de participar de trocas efetivas, que facilitam o crescimento pessoal. Todos aprendem de alguma forma: alguns mais facilmente, outros por vias extraordinárias, mas todos os indivíduos merecem a chance de um olhar atento e cuidadoso que propicie estímulos singulares para o desenvolvimento. Desejo que este livro possa ser uma ponte para esse olhar. João Oliveira Psicólogo – CRP 05/32031 Introdução A Psicopedagogia Institucional consiste em um campo de atuação que abrange a investigação e o estudo dos padrões de aprendizagem, sejam eles normais ou disfuncionais, levando em consideração a pessoa e sua relação com o meio em que vive. Nesse sentido, a família, a escola, a sociedade e a cultura são importantes e in�uenciam diretamente os processos de aprendizagem. A Psicopedagogia Institucional pode ocorrer em instituições escolares, em ONGs e organizações empresariais. O modo como as pessoas compreendem a si mesmas e o mundo à sua volta tem um aspecto relevante na aprendizagem, pois esta ocorre não apenas em função do aparato cerebral mas também do psíquico. A proposta da Psicopedagogia é contribuir para que a aprendizagem seja a melhor possível para cada pessoa, de acordo com suas potencialidades e, para isso, utiliza recursos de diagnóstico, avaliação, tratamento, intervenção e prevenção. Paulo Freire certa vez a�rmou que “não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-re�exão”. A proposta da Psicopedagogia é a atuação pertinente aos problemas de aprendizagem e adaptação às formas de aprender para que se possam superar di�culdades e realizar conquistas que são individualmente valiosas. Este livro trata das questões ligadas ao trabalho psicopedagógico institucional com base no desenvolvimento humano, no processo de aprendizagem, nas di�culdades de aprendizagem e na intervenção do processo de aprendizagem e seus possíveis problemas. No primeiro capítulo são abordados “A Psicopedagogia Institucional e o Processo de Desenvolvimento Humano segundo Piaget, Wallon e Vigotsky”. O segundo capítulo apresenta “A Psicopedagogia Institucional no Processo de Aprendizagem”. O terceiro capítulo aborda “A Psicopedagogia e os Aspectos Psiconeurológicos” do ser humano. O quarto capítulo trata da “Constituição Subjetiva e Construção Cognitivo-Psicopedagógica por Meio do Jogo Simbólico, de Construção e Cooperativo”, visando à qualidade de aprendizagem do estudante. O quinto capítulo aborda “A Psicopedagogia e o Desenvolvimento da Linguagem: Lacan, Saussure, Chomsky e Lenneberg”. No sexto capítulo, são abordados “A Construção da Escrita e o Desenvolvimento da Personalidade Moral por Meioda Literatura: o trabalho psicopedagógico na instituição”. O sétimo capítulo trata da “Intervenção Psicopedagógica no Raciocínio Lógico-Matemático”. No oitavo capítulo, “Psicopedagogia Comunitária, Violência e Sociedade” são abordadas, objetivando a sensibilização da ação integrada da sociedade contra a violência infantil e em prol do desenvolvimento da criança para a felicidade e a aprendizagem saudável. O nono capítulo apresenta a questão da “Psicopedagogia no Trabalho: diagnóstico e intervenção institucional”, abordando a avaliação e a intervenção psicopedagógica institucional. O décimo capítulo trata da “Orientação Familiar e Escolar”. Este eixo do trabalho psicopedagógico é de suma importância para que o processo de aprendizagem se desenvolva plenamente. Nossa proposta é que este guia possa contribuir para que os atores envolvidos no processo ensino-aprendizagem tenham facilidade no entendimento de como este processo funciona, possibilitando um olhar atento e cuidadoso para o ser que aprende. Boa leitura! Capítulo 1 A Psicopedagogia Institucional e o Processo de Desenvolvimento Humano Segundo Piaget, Wallon e Vigotsky “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já �zeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, veri�car e não aceitar tudo que a elas se propõe”. (Jean Piaget) A Psicopedagogia é um campo interdisciplinar que pressupõe a interface de conhecimentos com a Neurociência, a Neurologia, a Fonoaudiologia, a Psicologia, a Pedagogia, a Psicomotricidade, entre outros. Nasceu da necessidade de se trabalhar com os sujeitos que apresentavam desordens mentais, tendo primeiramente um cunho voltado para a área médica. Posteriormente, com os avanços da pesquisa, o seu enfoque foi ampliado para uma visão sistêmica do indivíduo, levando em consideração diferentes fatores para o “não aprender”, tais como: problemas emocionais, neurológicos, ambientais, interacionais, familiares, entre outros. A Psicopedagogia Institucional visa trabalhar preventivamente com os grupos, dentro das instituições, seja escolar (com os alunos, os professores e as famílias), seja nas organizações (com os colaboradores que necessitam aprender algo relativo ao trabalho ou por meio da formação continuada). Levando em consideração este cenário, é importante abordar alguns teóricos que contribuíram para as premissas de desenvolvimento humano que se têm hoje, visando que o psicopedagogo institucional possa compreendê-las para melhor atuar na instituição. O desenvolvimento humano consiste no estudo da evolução biopsicossocial (conferir glossário) do ser humano desde o seu nascimento até a sua maturidade. Isso implica a�rmar que vários aspectos constituem essa evolução rumo à maturidade: cognitivo, afetivo, moral, biológico, habilidades sociais etc. As teorias do desenvolvimento perpassam por diversos teóricos que buscaram relacionar os estudos acerca da evolução em etapas do homem em determinados momentos históricos. 1.1 – PIAGET Piaget (1896-1980) nasceu na Suíça em 1896, formou-se em Biologia, tornando-se doutor nesta área em 1918. Neste mesmo ano, iniciou um estágio no laboratório de Psicologia e, em seguida, em clínica psiquiátrica. Iniciou os estudos sobre o desenvolvimento das habilidades cognitivas das crianças em 1921 e, a partir de 1923, começou a publicar livros voltados para esta temática. Interessou-se por Filoso�a, Psicologia e aprendizagem, escrevendo aproximadamente cem livros e diversos artigos. Faleceu em Genebra em 1980. Piaget construiu uma teoria denominada de “Epistemologia Genética” que tem como objetivo estudar a gênese das estruturas cognitivas, explicando-a pela construção, surgindo, assim, o conceito de Construtivismo. Tal estudo é mediante a interação radical entre sujeito e objeto. Para a perspectiva interacionista, o conhecimento deve ser considerado como uma relação de interdependência entre o sujeito conhecedor e o objeto a ser conhecido, e não como a justaposição de duas entidades dissociáveis. (INHELDER, BOVET e SINCLAIR, 1977, p. 17) Neste sentido, Piaget e colaboradores como Inhelder (1977) valorizam a relação entre mente, corpo e ambiente, trazendo contribuições signi�cativas para o campo da educação ao longo de seus 70 anos de estudos e pesquisas. Para compreendermos a proposta de Piaget, faz-se necessário olhar para abordagens de pensamento que o antecederam e que in�uenciaram a noção do desenvolvimento humano. A visão cartesiana é dualista e pressupõe a separação entre corpo e alma. René Descartes (1596-1650), seu fundador, nasceu e viveu em uma época na qual o Feudalismo e o domínio da Igreja eram a base estruturante da sociedade e acreditava que a cultura tem uma forte in�uência sobre o que as pessoas pensam, acreditam e como veem o mundo ao seu redor. Descartes foi considerado o pai do Racionalismo (conferir glossário) e buscava apreender os fatos do mundo a partir de questionamentos e dúvidas. Dele é a famosa frase: “Penso, logo existo”. Descartes in�uenciou o surgimento de uma visão mais objetiva e mecanicista do ser humano, tomando como base de seu pensamento o Inatismo (conferir glossário), ou seja, a capacidade de cada indivíduo estava contida em suas estruturas internas que iam se desenvolvendo na medida de sua relação com o meio. Essa teoria foi sendo modi�cada e ampliada com o tempo, �cando conhecida como Objetivismo, no qual o homem é produto do meio. Uma outra abordagem acerca do desenvolvimento humano é a Subjetivista, pressuposta por Blumer (1986), Bryman (1995) e Denzin (1983), que prioriza a consciência humana com base na experiência: a relação entre os estímulos do meio ambiente e a percepção de cada indivíduo – o modo como cada um compreende o que ocorre à sua volta. Nesse sentido, a aprendizagem acontece mediante a necessidade e predisposição de cada pessoa para adequação ou adaptação a uma dada situação e diante de determinadas condições. Na abordagem subjetivista, o meio é transformado pelo homem, que o modi�ca conforme suas necessidades. Dessa forma, tais autores depreendem que a pessoa age em relação a algo – pessoas ou coisas –, com base nos signi�cados que esse algo tem para ela. Tal signi�cado não só se origina de algum tipo de interação social, como também é estabelecido e modi�cado pela interpretação das pessoas sobre outras pessoas e coisas (BLUMER, 1986; BRYMAN, 1995). As situações de interação são construções fenomenológicas. (DENZIN, 1983). (VERGARA e CALDAS, 2005, p. 69) Piaget considera os modelos Objetivista e Subjetivista insu�cientes para explicar o processo evolutivo do homem e propõe um novo conceito: Epigênese (conferir glossário). Sua argumentação se dá no sentido de que o conhecimento não deriva de uma programação inata tampouco da experiência única dos sujeitos sobre os objetos: o conhecimento se dá mediante construções sucessivas, que necessitam de constantes elaborações de novas estruturas. O paradigma epigenético que abrange a psicologia piagetiana e a biologia pode ser caracterizado pelos seguintes aspectos: (a) o desenvolvimento ocorre por epigênese, processo em que a experiência ambiental dos organismos entra como in�uência formativa necessária, não ocorrendo nenhuma pre-formação ou predeterminação dos genes; (b) as mudanças evolucionárias são iniciadas por mudanças desenvolvimentais; (c) estas mudanças desenvolvimentais não são arbitrárias, sendo determinadas pela dinâmica do próprio sistema epigenético; (d) as mudanças desenvolvimentais podem ser assimiladas pelo novo sistema organismo/ambiente como um todo, ajustando os seus parâmetros para uma futura evolução; (e) a epigênese atua na mediação entre os níveis biológico e psicossocial, servindo para integrar os dois níveis em um todo estrutural e funcional; (f ) o desenvolvimentoe a evolução são processos contínuos, no âmbito dos quais o organismo participa ativamente em dar forma à sua própria história desenvolvimental e evolucionária. (Almeida; Falcão, 2008, p. 529) Tal pressuposto implica compreender o processo evolutivo humano a partir de suas características biológicas e pela ação e interação do organismo com o meio no qual está inserido. Dessa forma, o desenvolvimento e a evolução se integram, e o organismo participa ativamente do seu próprio desenvolvimento e da evolução de sua espécie. Piaget considera que o processo de desenvolvimento é in�uenciado por fatores, como maturação (crescimento biológico dos órgãos), exercitação (funcionamento dos esquemas e órgãos que implica a formação de hábitos), aprendizagem social (aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões culturais e sociais) e equilibração (processo de autorregulação interna do organismo, que se constitui na busca sucessiva de reequilíbrio após cada desequilíbrio sofrido). Para o referido autor, existe um processo de equilibração progressiva do organismo com o meio. O próprio organismo por meio da sua atividade colabora com as formações de adaptações. Portanto, sua ênfase está no processo, nos modos como os indivíduos passam por cada etapa da vida. O processo de equilibração é comum a todos os seres humanos, mas, em função da relação do indivíduo com o meio, pode sofrer alterações de acordo com a cultura da qual ele faz parte. A in�uência cultural pode in�uenciar no tempo e no modo como esta equilibração ocorre. Mas o que signi�ca equilibração? A todo o tempo, o organismo interage com o meio e recebe informações, estímulos, que são assimilados e acomodados. Quando o indivíduo consegue a equilibração entre o que foi assimilado e acomodado (explicaremos estes termos adiante), novos estímulos surgem, e o desequilíbrio ocorre. Em função disso, estamos todos em constante processo de equilibração e desequilibração mediante o surgimento de con�itos. A relação do homem com sua própria vida em todos os contextos que se apresentam está sempre recheada de impasses que desencadeiam um estado de desequilíbrio. A cada desequilíbrio, busca-se uma solução que o encerre, e o organismo volta ao equilíbrio. Então, a busca pela equilibração é uma constante, mas, em de�nitivo, ela é uma virtualidade, algo a ser sempre alcançado em muitos diferentes momentos da vida. Neste processo, Piaget leva em consideração dois fatores no desenvolvimento humano: Os fatores invariantes são aqueles que, ao nascer, o indivíduo recebe como herança uma série de estruturas biológicas predeterminadas – sensoriais e neurológicas –, que irão permanecer constantes ao longo de sua vida. Tais estruturas biológicas vão predispor o surgimento das estruturas mentais. Partindo desse pressuposto, na corrente piagetiana, considera-se que o indivíduo carrega consigo duas marcas inatas que são a tendência natural à organização e à adaptação, onde, portanto, que, em última instância, o motor do comportamento básico do sujeito é inerente ao ser. Já os fatores variantes podem ser representados pelo conceito de esquema, que conota a unidade básica de pensamento e ação estrutural do modelo piagetiano, caracterizando-se como um elemento que se transforma no processo de interação com o meio, buscando a adaptação do indivíduo ao que está em sua volta – real. (Piaget, 1971 apud: FERRARI, 2014, p. 14) O organismo, então, está sempre buscando novas formas de adaptação ao meio, pois, no processo de interação, o estado de equilíbrio está sempre sendo colocado à prova em função de eventos ou exigências do meio ambiente e, também, das necessidades do próprio ser humano. É nessa busca por novas formas de adaptação que a assimilação e acomodação ocorrem. Para compreender o que os termos assimilação e acomodação con�guram, é necessário apreender que todo ser humano carrega consigo esquemas, conhecimentos, mesmo que básicos, a respeito do mundo em que vive, pois, na sua relação com o meio, já experienciou e percebeu o meio de alguma forma. Partindo deste pressuposto, a assimilação consiste na busca por soluções conforme a estrutura cognitiva do momento presente, na integração de novos elementos aos esquemas já formados, retirando do objeto aquilo lhe interessa particularmente para a equilibração e adaptação do organismo. A acomodação, por sua vez, consiste na modi�cação das estruturas mentais estabelecidas para que o organismo possa englobar um novo objeto de conhecimento. Para o processo de adaptação, o organismo se reestrutura cognitivamente, transformando-se, para lidar melhor com as exigências do meio e com suas próprias necessidades. Fonte: http://psicologiad43.blogspot.com.br/2012/05/assimilacao-acomodacao-e-equilibracao.html. Acesso em 03/04/15. Você sabia? Quando uma criança percebe um objeto, ela o faz com base nas suas estruturas internas, seus conhecimentos prévios, mediada pela sua relação com o meio e os outros. Por exemplo: Ao apresentar uma foto de um rato, nunca tendo visto um, poderá associar a um outro animal semelhante que já conheça e afirmar que percebeu tal animal, como um preá (ra�nho da índia). Dessa forma, compreende-se que, durante um único dia, muitos estímulos e informações são apresentados a uma pessoa, que seleciona o que é importante e descarta o que não lhe interessa, buscando em seus esquemas modos já conhecidos para lidar com as diversas situações, incluindo novos objetos de conhecimento e, ainda, criando novas estratégias, novos modos de agir para se adaptar. Assim se dá o desenvolvimento humano para Piaget: por meio da percepção que cada indivíduo tem do mundo que o cerca e os modos com que ele lida com os con�itos e as novidades que surgem a cada momento. De acordo com o marco teórico de Piaget, o desenvolvimento cognitivo humano se divide em três princípios: 1) Inteligência humana – por meio da inteligência, o organismo humano alcança um equilíbrio nas suas relações com o meio. O mesmo ocorre no campo psicológico no processo de conhecimento dos objetos. 2) Conhecimento – o conhecimento é construído. As pessoas não nascem providas das noções e categorias de pensamento, pois elas são elaboradas no decorrer do desenvolvimento. Entretanto, o bebê humano traz uma herança de invariantes funcionais e re�exos, que auxiliarão o processo de desenvolvimento intelectual, a direcionalidade e a organização do processo. 3) Interação entre sujeito e objeto – o conhecimento nasce e é elaborado no intercâmbio entre sujeito e objeto. Dessa forma, conhecer implica atuar sobre a realidade de maneira ativa e transformadora, física ou mentalmente. Piaget considera que o processo de desenvolvimento cognitivo se dá em estágios (PIAGET, 1971): Período Estágios Faixa etária 1º Período Sensório-motor 0 a 2 anos 2º Período Pré-operatório 2 a 7 anos 3º Período Operatório concreto 7 a 11/12 anos 4º Período Operatório formal 11/12 anos em diante Período Sensório-motor: ocorre aproximadamente até os dois anos de vida. Neste estágio, a atividade intelectual da criança é de natureza sensorial e motora, sem representação mental dos objetos, sendo sua ação direta sobre os mesmos. São esquemas de ação física. Aspectos desta fase para a criança: • Capacidade de acompanhar com o olhar um objeto que se desloque no seu campo visual. • Progressivo reconhecimento e diferenciação de si mesmo dos objetos. • Construção de um universo estável de objetos permanentes, o movimento, a organização do que está registrado pelas leis denominado pelo grupo de deslocamento. Ao �nal do período sensório-motor, as seguintes características cognitivas devem ser consideradas: a) alcançar um primeiro nível de elaboração de noções básicas, como o espaço, o tempo e a causalidade; b) capacidade de conhecer as coisas sem atuar diretamente sobre elas; c) noção de permanência dos objetos: procurar algo quando não o encontra no seu campo visual; d) capacidade de evocar no presenteuma atividade passada; e) com 18 a 24 meses – aquisição da função simbólica que implica a capacidade de “atuar sobre os objetos não só �sicamente mas mentalmente, por meio de esquemas de ação representativos ou interiorizados.” (COLL, 1999, p 88) Período Pré-operatório: fase compreendida aproximadamente entre os dois e sete anos de idade em que a criança desenvolve e amplia a sua capacidade simbólica, ou seja, a inteligência representativa relacionada à aquisição da linguagem. É capaz de representar um objeto ou uma situação a partir de um simbolismo, usando linguagem, gestos, sons, imagem mental, dentre outros. Consegue utilizar algumas regras de conjunto e de reversibilidade, auxiliando no pensamento racional, tais como: seriação, classi�cação, conservação de número, manutenção da ordem especial, temporal e de medida. Aspectos desta fase para a criança: • ampliação da função simbólica; • capacidade de atuar sobre os objetos de maneira organizada, sem depender da manipulação direta dos mesmos; • avanço na compreensão dos fenômenos do mundo externo e da causalidade; • egocentrismo: não é capaz ainda de se colocar na perspectiva do outro; • início da reversibilidade: começa a compreender a existência de fenômenos reversíveis (que é possível a restauração de determinadas transformações – desmontar e montar um objeto, a água em diferentes estados etc.). Período Operatório-concreto: nesta fase, a criança possui a integração da organização mental. O pensamento torna-se menos egocêntrico e mais compatível com o mundo ao seu redor. Aspectos desta fase para a criança: • capacidade de ver o todo de ângulos diferenciados; • conclui e consolida as conservações do número, da substância e do peso; • trabalha com objetos representados; • �exibilidade de pensamento para novas aprendizagens; • capacidade de efetuar operações mentais reversíveis (ordem progressiva e regressiva/crescente e decrescente); • di�culdade de resolver problemas enunciados apenas em termos verbais, pois ainda recorre ao pensamento concreto. Período Operatório-formal: nesta fase, ocorre o desenvolvimento das operações de raciocínio abstrato. Há a ampliação do potencial cognitivo das operações. Aspectos desta fase para a criança e o adolescente: • evolução do pensamento concreto para o pensamento lógico e abstrato; • capacidade de raciocinar sobre proposições, hipóteses ou ideias que não acredita, inferindo consequências; • desenvolvimento do pensamento hipotético-dedutivo; • a partir de 15 a 16 anos, apresenta a capacidade de elaborar teorias sobre diferentes assuntos. Cada período é vivenciado como etapas de desenvolvimento por todos os indivíduos na sequência apresentada, contudo pode haver discrepâncias nas faixas etárias em função da maturação biológica do organismo e dos estímulos que o meio ambiente oferece. Por exemplo: uma criança de dez anos que foi criada em um lugar em que teve pouco contato com o mundo externo, sem relações com outras pessoas além de seus pais e sem nunca ter ido à escola, apresentará um desenvolvimento cognitivo completamente diferente de uma criança da mesma idade que teve muito contato com o mundo externo, que conviveu com outras crianças, outros membros da família e amigos e que frequentou a escola desde nova. Mesmo que duas crianças tivessem estímulos ambientais semelhantes, como no caso de gêmeos univitelinos, ainda assim, o modo como cada indivíduo lida com os eventos da vida é singular, pois há um modo peculiar de selecionar do mundo o que lhe interessa e de encontrar os melhores meios para o processo de equilibração. Dos pressupostos de Piaget, surge a corrente teórica denominada Construtivismo, que visa explicar como o desenvolvimento da inteligência humana ocorre, partindo do princípio que a evolução da inteligência tem como base as ações mútuas entre o indivíduo e o meio. 1.2 - WALLON Henri Wallon (1879-1962) foi um dos precursores, junto com Jean Piaget, da Psicologia da criança na França. Foi professor de Filoso�a e doutor em Medicina, tornando-se psiquiatra infantil. Pesquisou e trabalhou com crianças denominadas na época de “difíceis e anormais”. Wallon criticou o ensino tradicional e teve uma preocupação em olhar para o aluno como um indivíduo. A proposta para o desenvolvimento humano de Wallon é pautado na psicogênese da pessoa completa. Seus estudos levaram em consideração a evolução psíquica da criança que, para ele, se dá de modo descontínuo, ou seja, os estágios do desenvolvimento não ocorrem de forma linear, mas por ampliação e reformulação nas transições de cada etapa, sendo os con�itos desencadeadores da evolução humana. A teoria psicogenética de Wallon teve como base a Psicanálise de Freud e a teoria de Piaget, utilizando um método de comparação genética e neuropatológica relativo a conjuntos com níveis e velocidades de desenvolvimento diferentes: Psicopatologia, Psicologia animal, Antropologia. Dessa forma, sua obra apresenta uma Psicologia do desenvolvimento da personalidade, concebida como integração da afetividade e da inteligência. Sua teoria tem como eixo primordial do desenvolvimento a integração vista sob dois aspectos: • Integração organismo-meio: valoriza a relação do indivíduo com o meio ambiente, a integração dos fatores orgânicos e socioculturais. O meio é um complemento indispensável ao ser vivo. Ele deverá corresponder a suas necessidades e as suas aptidões sensório- motoras e, depois, psicomotoras... Não é menos verdadeiro que a sociedade coloca o homem em presença de novos meios, novas necessidades e novos recursos que aumentam possibilidades de evolução e diferenciação individual. A constituição biológica da criança, ao nascer, não será a única lei de seu destino posterior. Seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias de sua existência, da qual não se exclui sua possibilidade de escolha pessoal... Os meios em que vive a criança e aqueles com que ela sonha constituem a “forma” que amolda sua pessoa. Não se trata de uma marca aceita passivamente. (WALLON, 1975, pgs. 164, 165, 167) • Integração cognitiva-afetiva-motora: trata dos domínios funcionais que envolvem a afetividade, o ato motor, o conhecimento e a pessoa. O conjunto afetivo oferece as funções responsáveis pelas emoções, pelos sentimentos e pela paixão. [...] O conjunto ato motor oferece a possibilidade de deslocamento do corpo no tempo e no espaço, as reações posturais que garantem o equilíbrio corporal, bem como o apoio tônico para as emoções e sentimentos se expressarem. O conjunto cognitivo oferece um conjunto de funções que permite a aquisição e a manutenção do conhecimento por meio de imagens, noções, ideias e representações. É ele que permite ainda registrar e rever o passado, �xar e analisar o presente e projetar futuros possíveis e imaginários. A pessoa — o quarto conjunto funcional — expressa a integração em todas as suas inúmeras possibilidades. (MAHONEY, A. e ALMEIDA, L., 2005) Wallon propõe cinco estágios do desenvolvimento humano: Faixa Estágio Principais aspectos etária Primeiro ano de vida Impulsivo- emocional Predominância da afetividade; reações do bebê às pessoas; primeiras interações com o mundo físico. Até os três anos Sensório- motor e projetivo Aquisição da marcha; maior autonomia na manipulação de objetos e exploração do ambiente; desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. De três a seis anos Personalismo Construção da consciência de si mediante interações sociais; interesse das crianças pelas pessoas. De seis a onze anos Categorial Interesse da criança para as coisas, conhecimento e conquista do mundo exterior. A partir de onze anos Predominância funcional Reestruturação dos contornos da personalidade em função das modi�cações corporais. Ressaltam-se as questões pessoais, morais e existenciais. O quadro, a seguir, retrata bem as fases que Wallon propõe para o desenvolvimento e as forças quemovem cada fase. (Fonte: http://pt.scribd.com/doc/19206314/Clanet-e-Laterrasse-Quadro-dos-estagios- de-desenvolvimento-segundo-Henri-Wallon#scribd): 1.3 – VIGOTSKY A obra de Vigotsky foi construída entre a década de 20 e 30 na União Soviética e visava ao estudo da estruturação de uma Psicologia capaz de empreender o estudo da consciência humana. Vigotsky desejava superar a Psicologia natural e causal baseada no método experimental e a Psicologia fenomenológica e hermenêutica que renunciava à explicação causal. Os estudos de Vigotsky tratam da dimensão social do desenvolvimento humano, e um de seus pressupostos básicos consiste na ideia de que o ser humano constitui-se como tal na relação com o outro social. Dessa forma, a cultura está intrinsecamente relacionada com a evolução do homem nela inserido. Este teórico tinha um interesse especial pelas funções psicológicas superiores que se constroem na relação do homem com o meio. Essas funções psíquicas superiores constituem-se em atenção voluntária, percepção, memória lógica, formação de conceitos, julgamento e pensamento, estando diretamente relacionadas ao comportamento consciente do homem. Para Vigotsky, o ser humano não é passivo diante do meio, mas é um ser que atua sobre o meio, que é ativo nas relações sociais, transformando a realidade. O cérebro nessa concepção deve ser considerado como um sistema aberto, com plasticidade, cujas estruturas são desenvolvidas ao longo da trajetória de evolução individual. É a partir da plasticidade que o cérebro pode servir às novas funções, reagindo a estímulos e permitindo novas estratégias de acordo com as necessidades do desenvolvimento humano. Dessa forma, o cérebro deve ser apreendido como um sistema funcional no qual as funções mentais são organizadas a partir da articulação de diversos elementos e estruturas. Uma pessoa pode responder corretamente quanto é 15-7, por exemplo, contando nos dedos, fazendo um cálculo mental, usando uma máquina de calcular, fazendo a operação com lápis e papel ou simplesmente lembrando-se de uma informação já armazenada anteriormente em sua memória. É fácil imaginar como cada uma dessas rotas para a solução de um mesmo problema mobilizará diferentes partes de seu aparato cognitivo e, portanto, de seu funcionamento cerebral. (OLIVEIRA, 1993 in LA TAILLE, 1992, p. 25) Vigotsky valoriza a ligação entre os processos psicológicos humanos e a relação do indivíduo inserido em um determinado contexto socio-histórico e cultural. O desenvolvimento cognitivo ocorre por meio de fases que envolvem diferentes processos mentais, desde os mais elementares na infância até os mais complexos na vida adulta (La Taille, 1992). Um desses processos mentais é a formação de conceitos que têm início na infância e evolui até a fase da adolescência, sendo um processo mediado por signos adquiridos a partir da relação com o meio e da linguagem de uma determinada cultura. Pensamento e linguagem, então, estão intimamente relacionados e se desenvolvem em um processo de internalização das relações do indivíduo com a família, a escola, a cultura da qual faz parte e consigo mesmo. Para que o homem internalize conceitos, é preciso representá-los, o que ocorre sob a in�uência de um contexto sociocultural. Aqui podemos introduzir a ideia de mediação proposta por Vigotsky: o acesso aos objetos se dá por meio da mediação, ou seja, “através dos recortes do real operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe” (LA TAILLE, 1992, p. 26). O conceito de mediação inclui dois aspectos complementares: 1) representação mental – operação mental sobre o mundo que supõe um conteúdo mental de natureza simbólica; 2) origem social dos sistemas simbólicos – a representação da realidade, por meio dos sistemas simbólicos, ocorre a partir de uma dada cultura que fornece esses sistemas. O ser humano se relaciona com o meio em que vive e internaliza modos de se comportar, de se vestir, de falar, de se relacionar com seus pares, de desempenhar determinadas atividades, introjetando regras e desenvolvendo um mundo intrapsíquico. A linguagem desempenha papel primordial na teoria de Vigotsky, caracterizando-se como o sistema simbólico que dá vida à mediação entre o sujeito e o objeto. Esta tem duas funções básicas: • intercâmbio social – serve ao propósito da interação e comunicação entre indivíduos para as mais diversas �nalidades; • pensamento generalizante – generalização da experiência de modo simpli�cado por meio da categorização de conceitos (exemplo: animal – cachorro – poodle) Os conceitos existem a partir do mundo real, que dá base para suas construções e para a possível abstração de seus usos. Vigotsky propôs um percurso genético para o desenvolvimento, não linear, do pensamento conceitual: 1) formação de conjuntos sincréticos – a criança agrupa objetos com conexões subjetivas e baseadas em fatores perceptivos, como, por exemplo, a proximidade espacial; 2) pensamento por complexos – o indivíduo agrupa determinados componentes a partir de ligações concretas e factuais, não levando em consideração conexões abstratas e lógicas, exigindo a ligação entre objetos de acordo com sua similaridade; 3) único atributo – o indivíduo é capaz de abstrair propriedades isoladas da experiência concreta, reunindo objetos com base em um único atributo. A criança interage com os atributos presentes nos elementos do mundo real, sendo essa interação direcionada pelas palavras que designam categorias culturalmente organizadas. A linguagem, internalizada, passa a representar essas categorias e a funcionar como instrumento de organização do conhecimento. (LA TAILLE, 1992, p. 31) O conhecimento passa por etapas de categorização e internalização conforme a inserção em uma dada cultura. Vigotsky distingue os conceitos em cientí�cos e espontâneos. Os primeiros estão relacionados às situações formais de ensino e aprendizagem, enquanto os segundos estão relacionados ao cotidiano, impregnado pela experiência. Um dos postulados básicos deste teórico é que a aprendizagem é fundamental para o desenvolvimento desde o nascimento da criança. É a partir deste postulado que o conceito de zona do desenvolvimento proximal pode ser esclarecido: diferença entre o que o indivíduo já sabe e o que ainda não sabe, mas está perto de saber com a ajuda de alguém. Faz-se, assim, uma distinção entre o desenvolvimento real (retrospectivo), que faz referência ao que já foi aprendido e que o indivíduo consegue realizar sozinho, e o desenvolvimento proximal (prospectivo), que refere-se ao que está prestes a ser aprendido com o devido suporte. GLOSSÁRIO BIOPSICOSSOCIAL – que abrange aspetos biológicos, psicológicos e sociais. CONSTRUTIVISMO – corrente baseada nos trabalhos do suíço Jean Piaget (1896-1980) que explica a estrutura da inteligência humana como um produto, não só do inatismo, mas igualmente da ação do indivíduo sobre o meio. Inatismo – doutrina segundo a qual há no espírito humano ideias ou princípios que nascem com ele e que, portanto, se distinguem dos que são adquiridos. EPIGÊNESE – A teoria da epigênese tenta explicar o desenvolvimento individual de um organismo e foi criada pelo �lósofo grego Aristóteles, a partir de suas observações em embrião de galinha, por exemplo, onde ele viu que o animal gradualmente adquiriu forma. Essa teoria a�rma que o desenvolvimento do embrião é dado por um zigoto amorfo, ou seja, sem forma ou diferenciação determinada. O �lósofo considerava os pais como os “princípios geradores” e que cada organismo, individualmente, começa de novo. Assim, a epigênese acredita que o organismo não está formado no ovo fertilizado, mas sim, que ele cresce progressivamente a partir de alterações profundas que ocorrem durante a embriogênese. PSICOGÊNESE – parte da Psicologia que trata da origem e do desenvolvimento das funções psíquicas Racionalismo – doutrina que a�rma a primazia da razão. O racionalismo é a corrente �losó�caque iniciou com a de�nição do raciocínio como uma operação mental, discursiva e lógica que usa uma ou mais proposições para extrair conclusões – se uma ou outra proposição é verdadeira, falsa ou provável. Essa era a ideia central comum ao conjunto de doutrinas conhecidas tradicionalmente como racionalismo. Referências: Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográ�co [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2016. [consult. 2016-08-08 18:58:29]. Disponível em: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa. Dicionário Português. Disponível em: http://dicionarioportugues.org/pt. Capítulo 2 A Psicopedagogia Institucional no Processo de Aprendizagem “Aprendizagem é a progressiva mudança do comportamento que está ligada, de um lado, a sucessivas apresentações de uma situação e, de outro, a repetidos esforços dos indivíduos para enfrentá-la de maneira e�ciente.” (McConnell) “Normalmente, consideram-se como aprendidas as mudanças de comportamento relativamente permanentes, que não podem ser atribuídas à maturação, lesões ou alterações �siológicas do organismo, mas que resultam da experiência.” (Sawrey e Telford) A Psicopedagogia Institucional preconiza o trabalho por meio de estratégias para o desenvolvimento da aprendizagem, de modo que o indivíduo aprenda e evolua em seus pensamentos, ações e comportamentos, para ter resultados positivos. O conceito de aprendizagem é amplo, mas existe uma base sobre a qual ele se apoia: a aprendizagem consiste em mudança de comportamento. Não aprendemos nada novo quando repetimos comportamentos já realizados anteriormente. Isso porque estamos apenas repetindo algo que já foi aprendido. Uma nova aprendizagem ocorre na medida em que houver uma mudança no comportamento atual. Veja a situação a seguir: uma criança está começando a estudar Matemática e ainda não conhece as operações básicas (somar, diminuir, dividir e multiplicar), mas, após as aulas da professora e os exercícios de reforço, agora já consegue fazer contas de Matemática simples. Houve um aprendizado. 2.1 – A PSICOPEDAGOGIA E AS BASES DA APRENDIZAGEM Para a Psicopedagogia, a aprendizagem consiste em uma mudança de comportamento resultante da experiência. Há aqueles comportamentos que são aprendidos e aqueles que resultam da maturação biológica e �siológica do nosso organismo: andar de bicicleta ou jogar um jogo novo são comportamentos aprendidos, enquanto respirar ou salivar dependem apenas do organismo, mas não de aprendizagem. A concretização do processo de aprendizagem engloba três elementos principais (LEITE, 2015): 1) situação estimuladora: fatores que estimulam os órgãos dos sentidos. Em havendo apenas um fator, recebe o nome de estímulo. São exemplos de estímulos: calor, frio, sons, gostos, cheiros, palavras ditas em voz alta etc.; 2) pessoa que aprende: indivíduo alcançado pela situação estimuladora: o organismo que interage com o meio; 3) Resposta: ação que resulta da estimulação e da atividade. Existe uma dinâmica de resposta do organismo às situações estimuladoras: se uma resposta já foi aprendida, o cérebro recupera a informação diante do estímulo ofertado e reage conforme a aprendizagem: atender ao telefone falando “alô”, usar o controle remoto para diminuir o som da televisão etc. É importante que o psicopedagogo institucional pondere que, para ocorrer a aprendizagem, é preciso levar em consideração o ambiente, pois é na interação com o seu meio que o indivíduo desenvolve um novo conhecimento acerca de algo. Em todas as fases da vida, há aprendizagem, mas podemos a�rmar que a infância e a adolescência são períodos em que há uma grande porcentagem de absorção de conteúdos novos, pois o desenvolvimento biológico, cognitivo e afetivo ocorre em grande escala. Cole (2003, p. 523) a�rma que “uma maneira de conseguir que as crianças adquiram habilidades e conhecimento de adulto é através da educação”. O ensino formalizado nas escolas visa a aprendizagens constantes, preparando o indivíduo para enfrentar as mais diversas situações da vida e ter uma base que propicie novos aprendizados para que ele possa se inserir no mercado de trabalho na vida adulta. Educação é uma forma de socialização em que os adultos se envolvem no ensino deliberado dos jovens para garantir sua aquisição de conhecimento e habilidades especializadas. (COLE, 2003, p. 523) O que diferencia uma pessoa da outra são as habilidades e competências desenvolvidas ao longo da vida. Neste sentido, o meio ambiente, por meio da estimulação de novas aprendizagens, é essencial. Uma criança que tem a oportunidade de receber estímulos diferenciados terá habilidades muito diferentes de outra que recebe sempre os mesmos estímulos ou que esteja diante de um ambiente pobre em estimulação. O cérebro se alimenta de novidade. Até mesmo para andar, uma criança precisa ser estimulada: a mãe ou cuidador(a) precisa ofertar um ambiente em que a criança possa engatinhar, tentar �car de pé, se apoiar em paredes e cair, experimentando e explorando o ambiente até aprender a andar. Contudo, se a criança �ca o tempo todo no colo da mãe, porque esta deseja protegê-la e tem medo de que a criança se machuque ou adquira doenças, provavelmente a criança demorará muito mais para aprender a andar, uma vez que não recebe estímulos para isso. A educação, então, começa quando a criança nasce, pois cada estímulo recebido por ela terá uma reação do cérebro e uma resposta do organismo ao meio. Os adultos tentam estabelecer com seus �lhos horários para comer, para dormir, para tomar banho, e as crianças aprendem a sistematizar comportamentos conforme as exigências do ambiente. A�nal, elas precisam se adaptar para sobreviver. Em seguida, vem a escola, e a criança é submetida a um método educacional padronizado para adquirir conhecimentos necessários para a vida em sociedade. Existem modelos educacionais distintos, com padrões que permitem o desenvolvimento de habilidades diferenciadas. A sociedade atual requer pessoas que tenham habilidades sociais e comportamentais para o convívio em grupo, além de outras habilidades especí�cas para exercer uma pro�ssão. A criança já nasce sob o julgo dos planos dos pais para sua vida, os desejos e as fantasias que fazem parte do processo de constituir uma família. Mas, não há como de�nir uma pessoa em desenvolvimento, ela se de�ne em função de seus interesses, do que escolhe captar do meio que a cerca, dos aprendizados que adquire e das suas necessidades. O psicopedagogo institucional deve considerar em seu trabalho os fatores para que o processo de aprendizagem ocorra (MOULY, 1993): Fatores Importância Motivação A aprendizagem depende do interesse, da vontade em realizar algo. Uma necessidade já satisfeita deixa de ser uma motivação. Ex.: desinteresse do aluno em fazer exercícios de assuntos que já domina. Objetivo O comportamento é orientado para os objetivos que possam satisfazer as necessidades do indivíduo. Preparação O corpo deve ter uma maturação para a realização de algo, ou seja, deve estar preparado para receber um estímulo. Não adianta ensinar uma criança que ainda não conhece as letras a ler um texto complexo. É preciso que haja uma maturidade biológica, mental e emocional para a aprendizagem ocorrer. Obstáculo A di�culdade é facilitadora da mudança e, consequentemente, de novas aprendizagens. Quando tudo permanece igual, a tendência é que o indivíduo repita comportamentos já aprendidos e permaneça em sua zona de conforto. Respostas As ações de uma pessoa se dão no sentido de encontrar a melhor maneira possível em um dado momento para vencer o obstáculo que se apresenta, agindo de acordo com sua interpretação da situação. Reforço Diante de um obstáculo, se a resposta (comportamento) que leva à satisfação de uma necessidade for reforçada, há a tendência de que, em situações semelhantes no futuro, o indivíduo venha a repetir a mesma resposta. A satisfação da necessidade se tornaum reforço positivo. Generalização A resposta (comportamento) que deu certo diante do obstáculo é inserida no repertório de conhecimentos do indivíduo e, em situações semelhantes, ele tenderá a evocar o mesmo padrão de resposta que o levou ao êxito em situações semelhantes. Sempre que for preciso, o indivíduo utilizará a nova aprendizagem, que passa a fazer parte dele. A aprendizagem acompanha a maturidade biopsicossocial do indivíduo e, ao mesmo tempo, precisa ser estimulada. Casos em que a criança é privada de estímulos positivos di�cultam o desenvolvimento considerado normal, podendo trazer sérios prejuízos. Neste sentido, é importante o trabalho do psicopedagogo institucional, visando estimular a aprendizagem nos indivíduos e promover junto com os docentes escolares e gestores organizacionais reuniões para estudos de caso e re�exões acerca do trabalho com estratégias de ensino que possam propiciar a aprendizagem em qualquer etapa da vida. Crianças que recebem estímulos negativos recorrentes tendem a criar respostas diante desses estímulos que nem sempre são funcionais, mas que são as possíveis para o enfrentamento da questão. Por exemplo: se uma criança é agredida recorrentemente, ela pode aprender a criar algumas respostas para evitar apanhar, como agradar ao agressor, fugir ou se esconder, chorar, mentir etc. A literatura a respeito da aprendizagem destaca que existem oito tipos básicos de aprendizagem (GAGNÉ, 1974 in SILVA, 2010): 1) aprendizagem de sinais – o corpo responde aos estímulos externos de forma involuntária. Exemplos: a dilatação da pupila diante da intensidade da luz, salivar diante de um limão, chorar ao cortar cebolas; 2) estímulo-resposta: associação de uma resposta a um estímulo determinado. Geralmente ocorre quando há reforçamento. Exemplos: a criança silencia-se quando a mãe lhe solicita, uma criança responde à chamada na sala de aula quando ouve seu nome; 3) cadeias motoras: consiste em uma cadeia contínua de estímulos- respostas, que envolve passar de comportamentos mais simples para comportamentos mais complexos, exigindo repetição. Exemplos: para aprender uma equação matemática complexa, a criança primeiro precisa aprender as quatro operações básicas; para aprender a escrever uma carta à mão, a criança precisa primeiro aprender as letras, sílabas e palavras; 4) cadeias verbais: a formação dessas cadeias ocorre a partir de associação de palavras para ter mais e�ciência na memorização das mesmas. Cada palavra associada funciona como um estímulo para lembrar a palavra que se deseja memorizar. Exemplo: bonito = belo versus feio – as palavras belo e feio servem para ajudar a lembrar do que signi�ca bonito; 5) aprendizagem de discriminação: capacidade de dar respostas diferentes a estímulos semelhantes, o que implica a categorização. Exemplo: animal – pássaro – sabiá / pardal / pombo / pica-pau; 6) aprendizagem de conceitos: capacidade de dar uma resposta comum e ampla a estímulos diferenciados. Exemplo: pássaro – animal que possui pena e voa, tem duas patas e um bico; 7) aprendizagem de princípios: “um princípio é formado por uma cadeia de dois ou mais conceitos, logo, para aprender um conceito, é preciso antes aprender os conceitos que o formam”. O objetivo é aplicar um princípio para a resolução de problemas. Exemplo: para resolver uma equação matemática, é preciso conhecer os números, as operações básicas e o que é uma equação; 8) solução de problemas: consiste em uma aprendizagem mais complexa, pois permite a aplicação de conhecimentos já adquiridos para solucionar problemas, bem como a criação de novas estratégias. Todos esses fatores são importantes para o ensino, que pode ser apreendido como uma forma de educação que engloba a motivação, as relações sociais, a organização social e a comunicação, utilizando-se da linguagem escrita. 2.2 – O PAPEL DA AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM E A FUNÇÃO DO PSICOPEDAGOGO Para que haja aprendizagem, é preciso que o psicopedagogo leve em consideração dois fatores essenciais: a afetividade e a memória. É certo que guardamos com mais facilidade em nossa memória eventos que tenham marcado afetivamente as nossas vidas, seja de forma positiva ou negativa. Nesse sentido, é possível compreender por que é mais fácil lembrar o que foi servido em um jantar de uma festa de aniversário muito divertida que ocorreu há dez anos do que aquilo que comemos no jantar de um dia qualquer da semana passada. Da mesma forma, uma perda signi�cativa pode ser um marco na memória em função da emoção associada ao evento. Uma pessoa que tenha sofrido muito em função da perda de algum parente em um determinado lugar pode se sentir muito mal apenas ouvindo o nome deste lugar. No mundo atual, muitas pessoas sofrem de diversos males psicológicos em função de associações entre uma emoção negativa e um evento. O cérebro aprende por associação. A cada novo evento, há uma busca rápida no cérebro pelas similaridades de ocorrências anteriores. Se o resultado da busca estiver relacionado a um sentimento ruim, a tendência é que a pessoa tente uma resposta ou um comportamento que evite sentir o que ela já sabe que é ruim. Um adulto pode compreender bem este processo, mas uma criança que ainda não sabe nominar suas emoções nem avaliar o que está sentindo pode ter muita di�culdade de encontrar comportamentos funcionais diante do que está acontecendo. Os processos de aprendizagem passam pela afetividade. Ninguém gosta de lidar com um estímulo, com novas possibilidades de conhecimento, com dor e sofrimento. A punição, então, não é a melhor forma de fazer alguém aprender, mas sim o reforço. Um dos estudiosos de como a aprendizagem ocorre, Skinner (2003), a�rma que o reforço positivo é uma técnica muito e�caz para que a aprendizagem ocorra, enquanto a punição pode trazer consequências, como comportamento de fuga, de evitação e ansiedade. Na vida familiar, é fácil compreendermos o papel do reforço positivo quando uma mãe oferece algum incentivo para que seu �lho tome banho na hora certa, como um lanche diferente ou uma brincadeira, por exemplo. O elogio também é um excelente reforço positivo. Skinner (2003, p. 201) de�ne reforço positivo como “...qualquer estímulo que, quando apresentado, aumenta a frequência do comportamento”, ou seja, um reforço é uma recompensa que visa fazer com que um indivíduo se comporte mais de uma determinada forma. Já a punição consiste no processo de oferecer um estímulo visando à diminuição de um determinado comportamento, ou seja, castigar: bater, gritar etc. A punição é uma poderosa forma de controle social, mas, nem sempre, a ela é administrada por uma outra pessoa. A aprendizagem também ocorre quando uma pessoa tem um comportamento, e a consequência deste comportamento é indesejada, o que também promove a evitação do mesmo. Vejamos os exemplos de Skinner (2003, p. 202): A criança que se queima é punida pela chama. Comer alimento inadequado é punido por indigestão. [...] Um vendedor chegou a uma casa, pressionou a campainha, houve uma explosão nos fundos da casa. Aconteceu apenas uma contingência acidental e muito rara: houve vazamento de gás na cozinha e a explosão foi ocasionada pelas faíscas da campainha elétrica. Se atentarmos para as possibilidades de comportamento em função da situação do vendedor citada acima, veremos que o evento associado à emoção do momento fará com que ele tenha respostas futuras de fuga, evitação ou ansiedade diante da possibilidade de passar por algo semelhante. Se o vendedor não conseguir criar estratégias para lidar com o evento, o medo pode se tornar uma fobia de campainhas. Em estudos feitos com ratos de laboratório, Skinner descobriu que os efeitos da punição podem ser traiçoeiros. Quando choques elétricos eram ministrados incondicionalmente sem qualquer critério para sua suspensão, o rato �cava quieto em um canto o tempo todo, já esperando levar o choque, sem tentar nenhum tipo de comportamentopara evitá-lo. A isso denominou-se desamparo aprendido: a certeza de que nada pode alterar um evento ou estímulo. Ao trazermos esse exemplo para o modo como os indivíduos se comportam, podemos inferir que, por trás de qualquer comportamento, há uma experiência anterior que levou a pessoa a agir de determinada forma. Uma criança que seja violentada, agredida ou abusada constantemente poderá criar estratégias para lidar com o sofrimento, comportando-se de determinadas formas que, ao modo de ver da sociedade, são disfuncionais ou erradas. Como fazer? O psicopedagogo deve considerar o trabalho com estratégias de ensino por meio do afeto positivo e do prazer, pois estes facilitam o aprendizado. Os professores podem ser estimulados pelo psicopedagogo institucional a ensinar por meio de atividades lúdicas e da brincadeira, utilizando-se de estratégias que estimulem os sujeitos aprendentes a vivenciarem e construírem os conceitos, sem dar respostas prontas. O estímulo à re�exão é muito importante. Na infância, a criança aprende por meio dos jogos, da brincadeira, da ludicidade, e isso promove conexões para a vida toda e que serão as bases de futuros aprendizados e conexões. Quando uma tarefa é divertida, o indivíduo tem motivação e desejo para aprender e se lançar em um novo desa�o. O contrário também é verdadeiro: quando o estímulo dado é desinteressante, considerado chato, perigoso ou difícil, a tendência é que a criança desista diante do desa�o e vá fazer outra coisa de que goste. O psicopedagogo deve estimular os pais e educadores a participarem ativamente do processo de aprendizagem das crianças e dos jovens, devendo estar atentos a esse processo e buscar modos criativos para que o processo de aprendizagem ocorra de forma saudável. Uma criança que é estimulada de forma criativa, divertida e com afeto positivo tenderá a enfrentar melhor os desa�os e a ter respostas mais funcionais diante dos problemas que forem se apresentando, pois suas bases de aprendizagem são sólidas. O que não fazer? O que pode prejudicar a obtenção de um novo conhecimento? • Cobranças excessivas. • Estímulos apresentados com agressividade. • Impaciência diante do tempo de resposta da criança e do adolescente. • Punições recorrentes. • Apresentação de algo novo de modo que gere desmotivação ou irritação. • Associar o aprendizado com emoções de tristeza, raiva, medo, nojo. • Desvalorizar a capacidade da criança diante do estímulo desa�ador. • Dentre outros. Quando a aprendizagem ocorre de forma adequada, há uma sensação de capacidade, de força, o que fortalece o autoconceito positivo, umas das bases para o desenvolvimento de novas habilidades. 2.3 – COMO ESTIMULAR A MEMÓRIA E APRENDIZAGEM? Um dos componentes virtuais da aprendizagem é a memória. É a partir dela que podemos armazenar dados que nos interessam particularmente, evocar informações quando necessitamos e associar novos conhecimentos, ampliando a base de dados. Nossa memória contém não só os registros de nossas experiências mas também todo o conhecimento acerca de nós mesmos que permitem que tenhamos uma identidade. Quando uma pessoa perde a memória de longo prazo e a capacidade de se referenciar enquanto indivíduo, a identidade se perde. Portanto, uma pessoa é Maria, 15 anos, estudante, residente no Brasil, que gosta de esportes, na medida em que ela pode se lembrar disso. Os estudos acerca da memória a dividem em etapas: • Codi�cação – ocorre o processamento da nova informação a ser armazenada. Divide-se em aquisição (registro das informações sensoriais) e consolidação (consolida a informação através do tempo). • Armazenamento – a partir da informação codi�cada, cria e mantém um registro permanente da mesma. • Evocação – criação de uma representação consciente ou execução de um comportamento aprendido como um ato motor a partir da informação armazenada. Na infância, a memória ainda é frágil, pois a criança ainda não tem experiências su�cientes para formar uma base de dados na memória em prol de resolver questões complexas do dia a dia. Por isso, a experiência é importante e dá a base para que a memória in�uencie diretamente os comportamentos futuros. Quanto menor for a criança, menor será a sua capacidade de memória e quanto mais o indivíduo envelhece, há a tendência de que a memória o conduza na direção de ações conforme suas experiências e resultados armazenados. Além da informação que o meio ambiente oferece, é importante que haja a maturação das estruturas cerebrais para que a criança consiga aprender determinadas tarefas. Então, diante desse conhecimento, podemos apreender que se torna descabido fazer solicitações a crianças pequenas, pois elas ainda não têm maturidade biológica e psíquica para realizar. Um exemplo é uma mãe que exige que uma criança de um ano varra a casa. Se a criança está começando a andar, ainda não sabe se expressar, nem �car em pé locomovendo um determinado objeto, como poderia atender a tal exigência? Da mesma forma, se uma criança que ainda não está na escola em função de sua idade é solicitada a resolver problemas que uma criança que já sabe ler e escrever resolveria com facilidade, não seria injusto? Cada etapa de desenvolvimento e evolução da memória deve ser respeitada para que a aprendizagem ocorra de modo a permitir que o conhecimento se construa. Se os estímulos para cada idade são adequados, a memória vai se consolidando para a vida. Alguns fatores podem prejudicar a memória, como privação do sono, determinados medicamentos, estresse, alimentação pobre, ambiente desagradável, dentre outros. Em todas as etapas da vida, é importante que se avalie a aprendizagem em conjunto com os outros aspectos da vida do indivíduo, buscando uma visão integradora do ser humano. A memória é um componente básico da aprendizagem, pois, para que um aluno em idade escolar consiga aprender conceitos, discriminar objetos e coisas, abstrair e generalizar informações, ele precisa de elementos que já foram codi�cados e armazenados para adquirir um novo conhecimento. A experiência é a base da memória, e compreender isso é simples: a cada situação vivida, associada com a afetividade, vamos registrando informações e modos de comportamento. À medida que uma nova situação exija uma ação, rapidamente a mente procura nos dados da memória situações semelhantes vividas, e isso contribui para a tomada de decisão. Situações-exemplo: • Uma criança que caiu e se machucou em um determinado lugar, provavelmente se lembrará disso quando passar novamente pelo mesmo local, evitando cair de novo. • Uma mulher que tenha sido assaltada na frente de uma loja que tocava uma determinada música, ao ouvir a música novamente tempos depois, tenderá a se lembrar do assalto. • Uma pessoa que vai fazer uma viagem para um lugar desconhecido usará todas as memórias de experiências de viagens anteriores para se divertir, evitar se perder ou passar por situações difíceis. Como o psicopedagogo pode trabalhar na escola ou nas organizações para estimular a memória e o aprendizado dos sujeitos? O psicopedagogo institucional pode sugerir aos docentes que desenvolvam jogos de memória com seus alunos ou o próprio psicopedagogo pode trabalhar coletivamente com a turma de alunos ou de pro�ssionais exercitando a memória e melhorando o aprendizado. A memória, portanto, é um componente importante da vida humana, e devemos valorizá-la. Como alimentar a memória com novas informações? Criando estratégias para que ela se mantenha sempre ativa! • utilizar jogos de memória; • apresentar imagens e depois escondê-las, solicitando aos indivíduos que expressem verbalmente quais imagens viram; • solicitar-lhes que façam listas com nomes de frutas; • solicitar-lhes que recordem nomes de lugares; • solicitar-lhes que recordem o caminho feito de casa até a escola ou trabalho etc. Capítulo 3 A Psicopedagogia e os Aspectos Psiconeurológicos Durante muitos séculos, cientistas e �lósofosvêm discutindo quais são as bases do comportamento humano funcional e disfuncional, chegando a consensos e discordâncias. Um desses consensos é que o cérebro é o órgão que comanda uma orquestra chamada corpo. Algumas discordâncias dizem respeito à questão da separação entre mente e corpo. Embora a Filoso�a durante muito tempo tenha apartado ambos, hoje os cientistas sabem que não é possível o funcionamento da mente sem as estruturas cerebrais que o possibilitem. A partir de muitos estudos e da congregação de diversas áreas, surge a Neurociência, que visa explicar os fenômenos mentais a partir do funcionamento do cérebro. A evolução dos estudos da Neurociência passou por estágios onde se avaliava que cada região do cérebro corresponderia a uma atividade mental até chegar à noção de que o cérebro trabalha em conjunto para produzir as atividades mentais. O cérebro ainda hoje, apesar de muitas pesquisas, continua a ser um tesouro a ser descoberto, pois ele é como uma identidade singular para cada ser humano e tem potencialidades in�nitas e desconhecidas para os processos de aprendizagem e adaptação. 3.1 – O CÉREBRO HUMANO E OS ASPECTOS DA COGNIÇÃO O cérebro é o principal órgão dos animais vertebrados e em diversos invertebrados. O cérebro humano é extremamente complexo e contém cerca de 100 bilhões de neurônios, ligados por mais de 10.000 conexões sinápticas cada. O neurônio é a unidade funcional do sistema nervoso. A comunicação entre os neurônios ocorre por meio das sinapses e, entre eles, são propagados os impulsos nervosos. Todo o corpo humano é coberto de células com terminações nervosas que favorecem a proteção do corpo e as respostas aos estímulos recebidos do ambiente. O funcionamento do sistema nervoso visa coordenar e regular as atividades corporais, recebendo e integrando informações para o envio de ordens e tomada de decisão. Um de seus componentes é a medula espinhal, que corresponde ao centro dos re�exos: reações automáticas do organismo diante dos estímulos externos, como retirar a mão de algo que machuque ou queime, espirrar e tossir. O cérebro possui uma casca que o cobre, uma camada externa, que é denominada de córtex cerebral e possui divisões conhecidas como lobos, com atribuições especí�cas: o lobo frontal é responsável pelo planejamento consciente e pelo controle motor; o lobo temporal tem centros importantes de memória e audição; o lobo parietal lida com os sentidos corporal e espacial; o lobo occipital direciona a visão (ANDRADE et al., 2004). Não pretendemos pormenorizar aqui cada estrutura cerebral, mas oferecer uma noção geral das partes do cérebro que propiciam as funções de movimento e cognitivas, tais como: linguagem, pensamento, julgamento, tomada de decisão, percepção, atenção, memória etc. Nesse sentido, optamos por criar o quadro abaixo para facilitar a visualização de algumas estruturas cerebrais e as principais funções relacionadas. Estrutura Funções relacionadas Mesencéfalo Visão, audição, movimento dos olhos, movimento do corpo. Diencéfalo (Tálamo e Hipotálamo) Integração sensorial, integração motora. Homeostase corporal, controle da temperatura corporal, regulação do apetite, do sono. Tem papel importante nas emoções. Tronco encefálico Respiração, batimento cardíaco e pressão arterial. Cerebelo Controle dos movimentos, equilíbrio, postura, tônus muscular. Bulbo Funções autônomas: respiração, batimento cardíaco, pressão do sangue, re�exos de salivação, tosse, espirro e o ato de engolir. Hipocampo Memória. Sistema límbico Comportamento emocional, memória, aprendizado, emoções. Vida vegetativa (digestão, circulação, excreção etc.). A imagem, a seguir, refere-se às funções do cérebro com algumas funções essências para o desenvolvimento humano e para a aprendizagem. Fonte: http://sigmasistemico.blogspot.com.br/2014/04/pnl-ensinando-com-linguagem-do-cerebro.html. O cérebro está sempre se reorganizando, e isto quer dizer que o cérebro tem uma constante plasticidade, que consiste em uma propriedade do cérebro que permite que ele mude em função de experiências, limitações ou danos. É a partir da plasticidade que o cérebro se adapta às exigências do meio. A base da aprendizagem está na capacidade do cérebro em refazer sua rede neural durante toda a vida, o que permite que possamos aprender até o envelhecimento, mesmo que com o avançar da idade a plasticidade diminua. Sem as conexões sinápticas, não haveria aprendizagem, uma vez que é a mudança na força das conexões e a possibilidade de construção de novas sinapses que permitem que, a cada momento da vida, possamos adquirir novos conhecimentos e experiências que podem ser a base de hábitos e do comportamento. O cérebro se desenvolve a partir da relação com o meio e dos estímulos recebidos para a formação de conexões. Há um momento, um período crítico, em que certas experiências precisam ocorrer para que o cérebro se desenvolva normalmente. Estímulos visuais e auditivos são importantes para que o cérebro do bebê desenvolva os caminhos pelos quais futuros estímulos dessa natureza irão percorrer. 3.1.1 – INTELIGÊNCIA O conceito de inteligência é muito amplo e vem se modi�cando com o tempo. Há algumas décadas, a inteligência era diretamente relacionada apenas ao QI (quoe�ciente de inteligência) determinado por meio de testes especí�cos. Alfred Binet foi um dos primeiros estudiosos do ramo: criador do primeiro instrumento para avaliação da inteligência, ele aplicou testes lógicos e verbais em crianças na França, descobrindo que algumas delas poderiam responder às perguntas e relacionar conceitos que outras da mesma idade não conseguiam. Os estudos de Binet, realizados no início do século XX, deram origem ao primeiro teste de inteligência, desenvolvido na Universidade de Standford, na Califórnia: Standford-Binet IntelligenceScale. Muitos foram os teóricos que avaliaram a inteligência em seres humanos e, também, em animais. Contudo, hoje de�ne-se inteligência sob um novo ângulo: o da aplicabilidade prática das habilidades. Howard Gardner conceitua a inteligência como “a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam signi�cativos em um ou mais ambientes culturais” (GAMA, 1998). A partir de pesquisas realizadas com diversos públicos na Universidade de Harvard, Gardner desenvolveu a teoria das inteligências múltiplas, destacando que áreas do cérebro humano são ativadas quando determinada habilidade está sendo utilizada. Fortemente in�uenciado por Piaget, Gardner pode ser considerado um psicólogo construtivista e, a partir de estudos com crianças normais e superdotadas, adultos com lesões cerebrais e populações tidas como excepcionais, desenvolveu a teoria das inteligências múltiplas, propondo inicialmente sete inteligências 1 : INTELIGÊNCIAS ASPECTOS RELAÇÃO LINGUÍSTICA Os componentes centrais da inteligência linguística são uma sensibilidade para os sons, ritmos e signi�cados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade para É a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas. Em crianças, esta habilidade se manifesta por meio da capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências vividas. usar a linguagem a �m de convencer, agradar, estimular ou transmitir ideias. MUSICAL Habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. A criança pequena com habilidade musical especial percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, frequentemente, canta para si mesma. LÓGICO- MATEMÁTICA Sensibilidade para padrões, ordem e sistematização. É a habilidade para explorar relações, categorias e É a inteligência característica de matemáticos e cientistas. A criança com especialaptidão nesta inteligência demonstra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para padrões, por meio da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma controlada; é a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los. criar notações práticas de seu raciocínio. ESPACIAL Capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, em uma representação visual ou espacial. É a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Em crianças pequenas, o potencial especial nessa inteligência é percebido por meio da habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais. CINESTÉSICA Habilidade para resolver problemas ou criar produtos por meio do uso de parte ou de todo o corpo. É a habilidade para usar a coordenação grossa ou �na em esportes, artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cinestésica se move com graça e expressão. A partir de estímulos musicais ou verbais, demonstra uma grande habilidade atlética ou uma coordenação �na apurada. INTERPESSOAL Habilidade para entender e responder adequadamente a humores, temperamentos motivações e Ela é mais bem apreciada na observação de psicoterapeutas, professores, políticos e vendedores bem-sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para desejos de outras pessoas. distinguir pessoas e, na sua forma mais avançada, como a habilidade para perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente a partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas demonstram muito cedo uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez que são extremamente sensíveis às necessidades e aos sentimentos de outros. INTRAPESSOAL Habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos, sonhos e ideias, para discriminá- los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e Como esta inteligência é a mais pessoal de todas, ela só é observável por meio dos sistemas simbólicos das outras inteligências, ou seja, por meio de manifestações linguísticas, musicais ou cinestésicas. inteligências próprios, a capacidade para formular uma imagem precisa de si próprio e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva. Na continuidade de seus estudos, Gardner (1999) reformulou sua teoria e incluiu três novas inteligências: naturalística, espiritual e existencial. Seu postulado é que as pessoas podem desenvolver pelas várias habilidades ao longo da vida, mas algumas serão preferenciais enquanto outras permanecerão desativadas. Howard Gardner oferece uma grande contribuição à educação, alicerçando as bases para (GAMA, 1998): sistemas de avaliação mais adequados, coerentes e de acordo com as diferentes habilidades humanas; desenvolvimento de currículos mais motivadores e interessantes, centrados nos interesses das crianças e nas diferentes áreas de conhecimento; investimento em ambientes educacionais variados, com inclusão de diferentes aprendizagens, com espaço para a criatividade e não somente centrado na linguagem e na lógica. 3.1.2– ATENÇÃO O termo atenção tem ganhado destaque nas áreas educacionais e do trabalho em função de sua importância para o desempenho nas tarefas da escola e das empresas. O signi�cado de atenção está relacionado “a uma percepção direcionada e seletiva a uma forma particular de informação [...] com duração de�nida” (ANDRADE et al., 2004, p. 77). Na escola, a atenção é essencial para que a aprendizagem ocorra, pois ela é necessária para o processo de captação das informações e memorização das mesmas. Na empresa, a atenção é fundamental no exercício de tarefas repetitivas e que exijam do indivíduo a capacidade de permanecer durante um período realizando uma determinada tarefa. Usamos a atenção todo o tempo em nossas vidas: para atravessar a rua, para ler um livro, para conversar com alguém, para tocar um instrumento musical, para escrever algo, para comer. Isso implica a alocação dos recursos disponíveis do cérebro para manter o foco em alguma coisa ou situação. Quando algo dispersa nossa atenção, podemos cometer erros em função da distração. Os tipos de atenção são (CROISILE, 2010): TIPOS DE ATENÇÃO SIGNIFICADO Concentrada Habilidade para se concentrar em uma coisa enquanto excluímos outras coisas à nossa volta. Exemplo: estudar. Sustentada Habilidade de concentração durante uma tarefa repetitiva por um período de tempo contínuo. Exemplo: manter-se atento durante uma aula de duas horas. Seletiva Habilidade de selecionar em que prestar atenção em meio a outros estímulos. Exemplo: prestar atenção no professor em meio uma sala com muitos barulhos diferentes. Alternada Habilidade de mudar o foco de atenção ou alterná-lo em diferentes tarefas. Exemplo: escrever na lousa e ouvir a pergunta dos alunos. Dividida Habilidade para responder simultaneamente a múltiplas tarefas (multitarefas). Exemplo: veri�car e-mail enquanto planeja uma aula. 3.1.3 – FUNÇÕES EXECUTIVAS O ser humano se distingue dos outros animais em função da sua capacidade de planejamento, raciocínio, julgamento, tomada de decisão, capacidade de organização, manejo do tempo, gerenciamento das emoções e controle dos impulsos. O córtex pré-frontal é a região do cérebro responsável pelas funções executivas, que são desenvolvidas nos primeiros anos de vida. Elas referem-se à capacidade de engajamento em comportamentos orientados para objetivos, para metas especí�cas, por meio de ações que são voluntárias (GODOY, 2010). Envolve também a capacidade de escolher voluntariamente para onde direcionar sua atenção em prol de uma tarefa. Seus componentes são 2 : ATENÇÃO SUSTENTADA – refere-se à postura da consciência para a consideração de um objeto, ideia ou situação, por tempo prolongado, mantendo a resposta estável diante de uma tarefa repetitiva. MEMÓRIA DE TRABALHO – componente cognitivo que armazena informações por curto período de tempo, com capacidade limitada e tem relação com a vida cotidiana, auxiliando o indivíduo nas tomadas de decisões diárias. PERCEPÇÃO – função que atribui signi�cado aos estímulos sensoriais. Consiste em uma apreensão das sensações de acordo com um conjunto complexo que engloba a qualidade da interpretação, as atitudes, as expectativas, as necessidade, a defesa etc. Permite ao indivíduo a atribuição de signi�cado ao meio em que vive. PLANEJAMENTO – capacidade de organizar estratégias para o curso de atividades. Programação de ações com a �nalidade de atingir um objetivo ou meta. RACIOCÍNIO – operação mental que utiliza uma ou mais proposições para análise, avaliação e conclusão de algo, por meio de comparações e abstrações. Permite ao indivíduo encontrar respostas para problemas e avaliar se estas são verdadeiras, falsas ou prováveis. IMAGINAÇÃO – capacidade mental que permite a representação de objetos depois que eles são apresentados aos órgãos dos sentidos. Implica o indivíduo em conseguir visualizar o objeto sem a presença do mesmo. PENSAMENTO – processo mental que permite aos seres a ordenação dos conteúdos psíquicos, modelando o mundo para lidar com ele de forma efetiva conforme suas necessidades. JULGAMENTO – capacidade de examinar, avaliar, analisar, apreciar algo e emitir um juízo de valor estabelecendo relações entre conceitos. ORGANIZAÇÃO – capacidade de compreensão das partes e do todo para integrá-los. A organização compreende asseio, equilíbrio, precisão, ordem, arrumação, otimização do tempo, planejamento. 3.1.4- LINGUAGEM A linguagem consiste no sistema de signos que serve de meio de comunicação entre os seres humanos. Seus elementos constitutivos são símbolos, palavras, sinais, sons, gestos que são utilizados para a comunicação entre duas ou mais pessoas, transmitindo ideias, conteúdos e pensamentos. A linguagem é o meio pelo qual as pessoas se comunicam, seja por meio da palavra falada (linguagem verbal) ou dos gestos, posturas corporais ou expressões faciais (linguagem não verbal). A partir do uso do pensamento, o indivíduo também re�ete sobre si mesmo, usando palavras de forma mental para avaliar situações e julgar o que ocorre interna e externamente. As áreas responsáveis pela linguagem no cérebro estão localizadas no lado esquerdo, no lobo temporal, são (OLIVEIRA, 2005): • Àrea de Broca – responsável pela expressão motora da fala – quando há lesão nesta área, ocorre a afasia motora, que é a incapacidade de comunicação por meio da fala ou da expressão gestual. • Área de Wernick – responsável pela expressão sensória e interpretativa da comunicação. Quando há lesão nesta área, ocorre a afasia sensória, que é a incapacidade de interpretação: a pessoa consegue falar (se a área de Broca estiver intacta) e expressar-se de forma incoerente e sem signi�cado. Fonte: http://ciencia.hsw.uol.com.br/chimpanze-aprende-linguagens1.htm. A linguagem falada é usada cotidianamente, e o ser humano desenvolve a capacidade de avaliar o impacto de sua fala no meio em que vive. A linguagem verbal corresponde a mais de 50% do modo como nos comunicamos e vem sendo cada vez mais valorizada pelos estudiosos no comportamento humano. Quando as estruturas e funções do cérebro e do sistema nervoso estão saudáveis e funcionais, o indivíduo exibe todo o potencial para a aprendizagem e para lidar com os estímulos do ambiente de forma elaborada. Contudo, se alguma estrutura estiver dani�cada, em função de um trauma ou de um problema estrutural no desenvolvimento, inúmeras di�culdades podem se apresentar, como veremos a seguir. 3.2 – TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM Na área educacional, é muito comum encontrar alunos com di�culdades de aprendizagem em função de problemas relacionados à má qualidade da alimentação, relacionamento dos pais com os �lhos, violência urbana, autoestima do aluno, ambiente escolar, relação com os professores, fatores biológicos, dentre outros. Segundo a DSM-5, os Transtornos de Aprendizagem encontram-se dentro dos Transtornos do Neurodesenvolvimento. Os Transtornos de Aprendizagem (TA) ocorrem quando há comprometimento dos fatores neurobiológicos, podendo ocorrer em função do prejuízo da leitura, da escrita ou em matemática. Os indivíduos apresentam resultados abaixo do esperado para sua faixa etária e nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual. O transtorno de aprendizagem pode ser suspeitado na criança que apresenta algumas características, tais como: inteligência normal; ausência de alterações motoras ou sensoriais; bom ajuste emocional, porém “camu�ado”; nível socioeconômico e cultural aceitável. (RELVAS, 2010, p. 53) Colaborando com a a�rmativa de Relvas (2010), o DSM na sua 5ª versão foi editado em 2014. De acordo com o DSM-5 (2014), para os Transtornos de Aprendizagem, devem ser excluídos casos de De�ciência Intelectual, atraso global de desenvolvimento, má acuidade visual e auditiva, desordens neurológicas e mentais, falta de oportunidade acadêmica e adversidades psicossociais. Os Transtornos de Aprendizagem ou TA caracterizam-se por uma disfunção no Sistema Nervoso Central em função de uma falha no processamento das informações. As informações sensoriais recebidas chegam ao cérebro, mas há um problema na integração, processamento e armazenamento dos dados, o que prejudica diretamente a evocação das informações quando a criança precisa escrever, ler ou fazer uma conta de matemática, por exemplo. Sintomas que persistem apesar da intervenção especí�ca: TA com prejuízo em Leitura TA com prejuízo da Expressão Escrita TA com prejuízo >em Matemática - Baixo desempenho em leitura de palavras - Baixo desempenho de codi�cação - Di�culdades em senso numérico - Fluência ou velocidade leitora abaixo do esperado - Baixo desempenho gramatical e de pontuação - Di�culdade na memorização de fatos aritméticos - Dislexia como termo alternativo - Di�culdade em manter a clareza e a organização da expressão escrita - Di�culdade na �uência de realização dos cálculos - Baixo desempenho no raciocínio matemático - Discalculia como termo alternativo Fonte: Adaptado pelas autoras do DSM-5 (2014). Disgra�a – distúrbio relacionado à letra do indivíduo ao escrever. Também conhecido como “letra feia”, ocorre pela incapacidade de lembrar a gra�a da letra e já nasce com a criança. A escrita é lenta e pode ocorrer concomitantemente com a disortogra�a. Não está associado a nenhum tipo de comprometimento intelectual. Pode ser de dois tipos: motora (discaligra�a – di�culdade na coordenação motora �na para escrever, sem di�culdade para falar e ler) e perceptiva (incapacidade de relacionar o sistema simbólico e as gra�as que representam os sons, as palavras e as frases). • Características: letra ilegível, escrita desorganizada, traçado irregular ou forte, di�culdade de orientação espacial – com desorganização no uso da folha de papel, desorganização do texto escrito, desorganização das letras e das formas, Dislexia – distúrbio especí�co da linguagem que se caracteriza pela di�culdade em decodi�car palavras. Há uma falha no processo de aquisição da linguagem. O indivíduo não apresenta problemas relacionados à inteligência, cognitivos ou sensoriais signi�cativos. O cérebro de um disléxico processa a linguagem de maneira diferente. • Alguns sinais indicativos na escola: histórico familiar, baixa atenção, di�culdade de aprender rimas e canções, atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem, falta de interesse por livros impressos, confusão entre esquerda e direita, di�culdade em aprender uma segunda língua, bom desempenho em provas orais e baixo desempenho em provas escritas. Discalculia – consiste em falha na aquisição e habilidade para lidar com conceitos e símbolos matemáticos, implicando na transcrição errada de números e sinais. • Características: lentidão para realização de tarefas relacionadas com números e sinais; problemas com orientação espacial para fazer contas; di�culdade com as operações básicas; di�culdade de memorizar tabuadas e fórmulas; confusão de símbolos. Dessa forma, o psicopedagogo institucional deverá conhecer os transtornos de aprendizagem, não para atuar de forma clínica e individual, mas para preparar os docentes por meio do trabalho em equipe (psicopedagogo e docentes) e da formação continuada a lidar com estas demandas em sala de aula, planejando estratégias de ensino e atividades adaptadas de acordo com as demandas. 1 Fonte: GAMA, M. C. S. S. A Teoria das Inteligências Múltiplas e suas implicações para Educação. Disponível em: http://www.homemdemello.com.br/psicologia/intelmult.html. Acesso em 05/04/15. 2 Dicionário de Psicologia Dorsh. Petrópolis: Ed. Vozes, 2001. Capítulo 4 Constituição Subjetiva e Construção Cognitivo- Psicopedagógica por Meio do Jogo Simbólico, de Construção, de Regras e Cooperativo Neste capítulo, abordaremos o trabalho psicopedagógico institucional baseado no conceito de subjetividade e sua constituição e no conceito de construção cognitiva e como o jogo simbólico, os jogos de construção, jogos de regras e jogos cooperativos podem auxiliar no trabalho psicopedagógico, visando à construção da subjetividade e à construção cognitiva. A constituição da subjetividade Alguns autores entendem a subjetividade como inerente ao indivíduo, ao psiquismo ou à sua formação, isto é, algo que é interno e que se encontra em uma relação dialética com a objetividade, que se refere ao que é externo. De acordo com Silva(2009), a subjetividade é compreendida como processo e resultado, algo que é amplo e que constitui a singularidade de cada pessoa. Leontiev (1978b) aponta que a subjetividade é o que permite a particularidade do indivíduo, seja nas esferas constitutivas das funções psíquicas, da atividade, da consciência, seja nas da própria personalidade. Vygotsky (2001) defende a interação do homem com o meio. Desta forma, o desenvolvimento da subjetividade ocorre pelo intercâmbio contínuo entre o interno e o externo. O sujeito constitui suas formas de ação em atividades e sua consciência nas relações sociais. Assim, o psicológico só pode ser compreendido nas suas dimensões social, cultural e individual. Para Vygotsky (1995), a compreensão dos diferentes aspectos da personalidade humana são constituídos por funções psíquicas superiores que caracterizam o comportamento consciente do homem. São elas: a atenção voluntária, a percepção, a memória e o pensamento. Funções psíquicas superiores (FPS) é aquilo que diferencia o homem de todos os outros animais, demarca sua especi�cidade e o quali�ca enquanto humano. Há quatro diferenças centrais entre funções psíquicas superiores e elementares: 1) as funções psíquicas superiores são constituídas na vida social, são especí�cas dos seres humanos e suas ações seguem uma autorregulação (controle voluntário); 2) as FPS possuem intelectualização ou realizações conscientes (isto não descarta a possibilidade de ações “automatizadas”, signi�cando uma relativa consolidação mental na execução de determinados comportamentos); 3) as FPS têm origem e natureza social; 4) as FPS se organizam utilizando signos sociais como mediação. (VYGOTSKY, 1995: apud HONORATO, 2015, p. 7) Desta forma, ao nascer, o ser humano possui apenas as características das funções psíquicas elementares, como reações automáticas, ações re�exas e associações simples. Na convivência com o meio social e cultural, a criança vai aprendendo e desenvolvendo as funções psíquicas superiores. Tais funções são imprescindíveis para a construção da subjetividade. Lane (2002) defende que a subjetividade se constrói: a partir do nosso cotidiano e, através de nossas percepções (sentimentos, re�exões, ações etc., objetivando nossa subjetividade). (...) Nosso primeiro contato se dá, normalmente, no lar, com a família onde experimentamos várias sensações. Aos poucos nosso principal objetivo passa pelas mediações das palavras, de emoções e de ações. Iniciamos os questionamentos acerca dos valores de nossa sociedade e, de repente, nos sentimos perdidos. Vamos, assim, caminhado em um processo de aquisição de nossa subjetividade, desenvolvendo novas habilidades nessa relação dialética com a sociedade. (LANE, 2002, p.13-16) Neste sentido, o estímulo da aprendizagem para a autonomia, onde o ser humano se torna responsável pelos seus atos, dentro de um contexto social, cultural e histórico, deve ser o objetivo principal do trabalho psicopedagógico, pois o ser humano apresenta características múltiplas e interage com as in�uências do meio. Por isso, em Psicopedagogia, é necessário compreender que não se trata de um sujeito passível de condicionamento, mas sim, de múltiplas determinações que derivam das mais diferentes instâncias: políticas, sociais, biológicas, econômicas, emocionais, históricos etc. Ghiraldelli Júnior (2000, p. 24) colabora neste sentido, a�rmando que [...] a subjetividade pode ser descrita por meio de “formas da consciência”: o eu, a pessoa, o cidadão e o sujeito epistemológico. O eu é a identidade, formada das vivências psíquicas; é a forma de conhecimento singular [...] A pessoa é a consciência moral [...] O cidadão é a consciência política [...] O sujeito epistemológico é a consciência intelectual [...] A subjetividade assim composta [...] é a instância da qual o homem (empírico ou abstratamente genérico) deve participar. Se conseguir isso, autenticamente, torna-se o sujeito – “aquele que é consciente de seus pensamentos e responsável pelos seus atos” [...]. (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2000, p. 24) Tornar-se sujeito, com possibilidades de escolhas, de assumir a autoria de seus pensamentos e ações, é ser autônomo e entender-se como parte do todo, mas também como indivíduo único, com suas possibilidades e limites. 4.1 A CONSTRUÇÃO COGNITIVA Tanto para Piaget quanto para Wallon, a construção cognitiva se dá por estágios. Entretanto, há semelhanças e diferenças de ideias entre os dois pensadores, como apresentamos no quadro a seguir. PIAGET WALLON Defende o entrelaçamento do processo de maturação do organismo, a experiência com objetos, a vivência social e, sobretudo, a equilibração do organismo ao meio. Leva em conta a atuação de dois elementos básicos ao desenvolvimento humano: os fatores invariantes (herança genética que possibilita a organização e a Defende o estudo integrado do ser humano. O autor formula a noção de campos funcionais (movimento, inteligência, emoção e pessoa) os quais abarcam as dimensões motoras, afetivas e cognitivas que constituem a realidade psíquica do sujeito. Há quatro fatores adaptação) e os fatores variantes (esquema composto por adaptação, assimilação e acomodação, que constitui a unidade básica de pensamento e ação estrutural, sendo um elemento que se transforma no processo de interação com o meio, visando à adaptação do indivíduo ao real que o circunda). para explicar o desenvolvimento psicológico da criança: emoção; a pessoa; o movimento (de ação e atividade); a inteligência. A proposta walloniana coloca o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura mais humanizada. Os elementos, como afetividade, movimento e espaço físico, se encontram em um mesmo plano. Para Wallon, é por meio da emoção que o ser biológico se converte em ser social. Vê a criança de um modo mais integrado, levando em consideração os domínios cognitivo, afetivo e motor. Wallon, assim como Piaget, classi�ca os desenvolvimento em estádios, entretanto, para Wallon, não existe nem ruptura nem continuidade funcional na transição de um estádio a outro. Sensório-motor (0 a 2 anos) A partir de re�exos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio. Impulsivo-emocional (0 a 1 ano) Principais Funções: A emoção pode construir uma simbiose emocional com o ambiente. A inteligência é prática. As noções de espaço e tempo são construídas pela ação. O contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento. Exemplos: * a exploração manual e visual do ambiente; * a experiência obtida com ações, a imitação; * a inteligência prática (por meio de ações); * ações como agarrar, sugar, atirar, bater e chutar; * a coordenação das ações proporciona o surgimento do pensamento; * a centralização no próprio corpo; * a noção de permanência do objeto. Orientação: Para o interior – voltado para a construção do indivíduo. - expressões/reações generalizadas e indiferenciadas de bem-estar/mal-estar; - predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas; - as emoções são o primeiro recurso de interação do bebê com o meio social; - as emoções são extremamente contagiosas entre os indivíduos. Pré-operatório (2 a 7 anos) Também chamado de estágio da Inteligência Simbólica. Caracteriza-se pela interiorização de esquemas de ação construídos no estágio anterior (sensório-motor). É egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar, abstratamente, no lugar do outro. Sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos) Função dominante: Atividade sensório-motora tem dois objetivos básicos: o primeiro é a manipulação de objetos e o segundo é a imitação. Orientação: Para o exterior – relações orientadas para com os outros e objetos externamente. Não aceita a ideia do acaso, e tudo deve ter uma explicação (é a fase dos "por quês"). Já pode agir por simulação, "como se". Possui percepçãoglobal sem discriminar detalhes.Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos. Exemplos:Mostra-se para a criança duas bolinhas de massa iguais e dá-se a uma delas a forma de salsicha. A criança nega que a quantidade de massa continue igual, pois as formas são diferentes. Não relaciona as situações. Caracteriza-se pela investigação e exploração da realidade exterior. O andar e a linguagem darão oportunidade à criança de ingressar em um novo mundo, o dos símbolos. Linguagem estrutura o pensamento. Importância de se a�nar o olhar para o movimento. Personalismo (3 a 6 anos) Principais Funções: Consciência e a�rmação da personalidade na construção de si mesmo. Orientação: Para o interior – necessidade de a�rmação. Subperíodos: -> (entre 2 e 3 anos) a oposição, tenta reivindicar, a insistência sobre a propriedade dos objetos; -> (entre 3 e 4 anos) idade da graça nas habilidades expressivas e motoras. Procura a aceitação e admiração dos outros. Período narcisista; -> (pouco tempo antes dos 5 anos) representação de papéis. Imitação, enriquecimento do eu e a construção da personalidade. Oposição ao outro → busca de a�rmação de si. Sedução → a criança tem necessidade de ser admirada, para se admirar também. Imitação → personagens são criados a partir das pessoas que a criança admira. Inteligência se apoia fortemente na atividade motora. Sincretismo → não separa a qualidade da coisa em si. Operatório concreto (7 a 11 anos) A criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, ..., já sendo capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Não se limita a uma representação imediata, mas ainda depende do mundo concreto para chegar à abstração.Desenvolve a capacidade de representar uma ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a Pensamento Categorial (6 a 11 anos) Função principal: Conquistar e conhecer o mundo exterior. Orientação: Para o exterior – interesse especial por alguns objetos. Subperíodos: (6-9) Pensamento sincrético: global e impreciso, mistura o objetivo com o subjetivo. transformação observada (reversibilidade). Exemplos:Despeja-se a água de dois copos em outros de formatos diferentes, para que a criança diga se as quantidades continuam iguais. A resposta é a�rmativa uma vez que a criança já diferencia aspectos e é capaz de "refazer" a ação. Lei de Alternância Funcional: movimento voltado para o mundo externo. No início desse estágio, há a presença do sincretismo que é a principal característica do pensamento infantil e relaciona- se ao estado de fusão em que se encontra quando ainda não separou o eu do outro. Há quatro características do pensamento sincrético que podem ser observadas: • Fabulação: inventar histórias • Tautologia: repetição de palavra como recurso para de�nir algo • Elisão: exclusão de elementos • Contradição: substituição de ideias contrárias (De 9 a 11 anos) Pensamento categorial. Comece a agrupar categorias de acordo com seu uso, características ou atributos. Lei de Predominância Funcional: maior evidência do fator cognitivo. Operatório formal (12 em diante) Puberdade e Adolescência - A representação agora permite a abstração total. A criança não se limita mais à representação imediata nem somente às relações previamente existentes, mas é capaz de pensar em todas as relações possíveis, logicamente buscando soluções a partir de hipóteses e não apenas pela observação da realidade.Em outras palavras, as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de problemas. Exemplos: Se lhe pedem para analisar um provérbio como "de grão em grão, a galinha enche o papo", a criança trabalha com a lógica da ideia (metáfora) e não com a imagem de uma galinha comendo grãos. Predominância Funcional (15 anos em diante) Função dominante: Contradição entre o conhecido e entre o que se deseja conhecer. Orientação: Para o exterior – dirigida para a a�rmação do eu. Marca a diferenciação entre o eu e o mundo exterior, em que a criança aprende a perceber o que é de si e o que é do outro. Pensa a realidade a partir de categorias. Emergência de uma capacidade nova para o indivíduo: a atenção. É fundamental a interação do indivíduo com a cultura. Ocorre nova de�nição dos contornos da personalidade, desestruturados devido às modi�cações corporais resultantes da ação hormonal. Questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona. Levando em consideração as fases de desenvolvimento infantil, podemos inferir que a cognição é construída no processo de maturação biológica, nas interações com o meio, com a afetividade, com a motricidade. Para alguns autores da Neurociência, como Velázquez (1997) e Sternberg (2000), a cognição é um conjunto de atividades e processos pelos quais um organismo adquire informação e desenvolve conhecimentos. Os Mecanismos mentais agem sobre a informação sensorial: interpretação, classi�cação e organização. Os Processos Cognitivos são a memória, a categorização, a atenção, a resolução de problemas, a tomada de decisão, os tipos de raciocínio e a linguagem. Em geral, podemos dizer que o ser humano recebe continuamente estímulos do meio ambiente (formas de energia recebidas pelos órgãos sensoriais), mas os estímulos não são meras formas de energia, mesmo porque eles contêm signi�cados, que são interpretados mediante processos perceptivos e associações intelectivas, produzindo-se uma ação ou reposta em função do estímulo e das exigências de sua tarefa (VELÁZQUEZ, 1997). Perceber signi�ca interpretar o estímulo. Desta forma, percepção é o conjunto de processos pelos quais reconhecemos, organizamos e entendemos as sensações recebidas dos estímulos ambientais. A percepção abrange vários fenômenos psicológicos; às vezes, não podemos perceber o que existe, entretanto, em outras ocasiões, percebemos coisas que não existem. A existência de ilusões perceptivas sugere que aquilo que percebemos (em nossos órgãos sensoriais) não é necessariamente o que compreendemos (em nossas mentes). A mente capta a informação sensorial disponível e a manipula para criar representações mentais de objetos, propriedades e relações espaciais de nossos ambientes (STERNBERG, 2000). A informação que é percebida se armazena na memória para ser utilizada posteriormente. Os componentes fundamentais da memória são a aquisição, a estocagem e a recuperação/pesquisa das informações percebidas. Para Sternberg (2000), a memória é o meio pelo qual recorremos ao nosso conhecimento do passado, a �m de utilizá-lo no presente. O processo perceptivo e o processo cognitivo podem ter seu desenvolvimento estimulados por meio de jogos psicopedagógicos. Neste sentido, alguns jogos podem auxiliar no desenvolvimento da subjetividade e da cognição. 4.2 - O TRABALHO DO PSICOPEDAGOGO INSTITUCIONAL POR MEIO DO JOGO SIMBÓLICO, DE CONSTRUÇÃO, DE REGRAS E COOPERATIVO A brincadeira faz parte da vida da criança, e incluir o jogo e a brincadeira no campo educacional tem como pressuposto o duplo aspecto de servir ao desenvolvimento da criança, enquanto indivíduo, e à construção do conhecimento, processos estes fortemente interligados. Jogo simbólico Considerando os estádios Pré-Operatório (dois a sete anos) de Piaget, Sensório-motor e Projetivo (um a três anos) e Personalismo (três a seis anos) de Wallon, os jogos simbólicos surgem durante o segundo ano de vida com o aparecimento da representação e da linguagem. Com o aparecimento do jogo simbólico, a criança ultrapassa a simples satisfação da manipulação. Ela vai assimilar a realidade externa ao seu eu, fazendo distorções ou transposição. Da mesma forma, no jogo simbólico, a criança pode encontrar satisfação fantasiosa por meio de compensação, superação de con�itos, avaliar suas habilidades e compará-las com as das outrascrianças e preenchimento de desejos. O brincar também permite que a criança se aproprie de códigos culturais e de papéis sociais, como papai, mamãe, �lhinho, trabalhador etc. Quanto mais avançar a idade, mais a criança caminhará para a imitação da realidade. Por meio dos jogos, as crianças aprendem a lidar com símbolos e a pensar por analogia (jogos simbólicos): os signi�cados das coisas passam a ser imaginados por elas. Ao criarem essas analogias, tornam-se produtoras de linguagens, criadoras de convenções, capacitando-se para se submeterem a regras e dar explicações. Além disso, passam a compreender e a utilizar convenções e regras que serão empregadas no processo ensino-aprendizagem. Essa compreensão favorece sua integração em um mundo social bastante complexo e proporciona as primeiras aproximações com futuras teorizações. Pelo jogo simbólico, a criança exercita a sua capacidade de pensar, de representar simbolicamente as suas ações, as suas habilidades motoras, já que, ao brincar, salta, corre etc. No jogo simbólico, é de extrema importância o desenvolvimento subjetivo e cognitivo. O jogo pode ser utilizado por meio de desenhos, das pinturas, do faz de conta, do teatro, da dança, de brinquedos. O faz de conta vai permitir à criança recriar experiências da vida quotidiana, situações imaginárias e utilizar os objetos livremente, atribuindo-lhes signi�cados múltiplos. O jogo simbólico favorece o desenvolvimento global da criança propiciando a oportunidade de representar, pois, por meio do jogo simbólico, a criança reforça as categorias de espaço, tempo, causalidade e constância de objetos. Brinquedos para o “faz de conta” funcionam como elementos de apoio à fantasia; aumentam o repertório de conhecimentos da criança; favorecem a compreensão de atribuições e de papéis, o que contribui para o seu ajustamento ao mundo ao seu redor. Bonecos e bonecas são miniaturas do ser humano e dão à criança a oportunidade de amadurecer por meio da elaboração de sentimentos e da vivência do papel do adulto. Sugestões de jogos simbólicos: 1) O desenvolvimento artístico: Objetivo: despertar a imaginação da criança pela glória e por poderes dos heróis; Prática: propiciar que a criança desenhe livremente personagens dos desenhos animados e, depois, solicitar-lhe que imite seu personagem favorito dramatizando-o. Recursos: papel, lápis de cor, canetas de hidrocor, giz de cera. 2) A bicharada: Objetivo: possibilitar que a criança imite diferentes animais favorece a imaginação. Prática: colocar uma música de fundo com sons da natureza e imitar cachorro, gato, boi, cavalo, cobra etc., utilizando a expressão corporal e sonora (vocal). Recursos: aparelho de som e cd com música de som da natureza. 3) Fantoches: Objetivo: estimular a imaginação, a linguagem, o pensamento e favorecer a comunicação e expressão (de emoções/sentimentos). Prática: construir fantoches de meia representando pessoas que constituem uma família, personagens de contos de fada, heróis, dragões, bichos e brincar de contar uma história por meio dos fantoches com a criança. Recursos: meia, lã, cola para tecido, caneta para tecido, retalhos. 4) Fantasias: Objetivos: enriquecer o mundo do “faz de conta”, facilitar a representação de papéis e a criação de personagens e favorecer a expressão de sentimentos por meio das fantasias, máscaras, perucas e adereços. Prática: oferecer fantasias, máscaras, perucas e adereços para a criança e solicitar-lhe que escolha “peças” para vestir e se enfeitar. O psicopedagogo também se veste e, juntos, brincam de representar diferentes papéis, criam uma história etc. Recursos: fantasias, máscaras, perucas e adereços. 5) Miniaturas: Objetivo: desenvolver a criatividade e favorecer a expressão de sentimentos por meio do simbólico. Prática: oferecer uma caixa com diferentes miniaturas de meios de transporte, animais aquáticos e terrestres, seres humanos, plantas, tipos de residências, coisas de cozinha, móveis da casa etc. e deixar que a criança brinque livremente estabelecendo relações entre as miniaturas e contando histórias. Observar a história e o cenário que se desenhou no jogo simbólico das miniaturas. Recursos: miniaturas que representem o mundo real. Jogos de construção Os jogos de construção são de grande importância porque permitem à criança explicitar sua visão de mundo concretamente, revelando seu universo interior (medos, fantasias) por meio de construções com sucatas, com blocos etc. Brinquedos para manipulação visam desenvolver o pensamento e as habilidades psicomotoras. Sugestões de jogos de construção 1) Blocos de construção: Objetivos: favorecer o desenvolvimento da atenção e concentração; desenvolvimento de movimentos amplos e �nos; desenvolvimento de coordenação visório-motora; desenvolvimento da noção de equilíbrio, proporção e simetria, esses blocos permitem: a satisfação de inventar, construir, destruir e transformar. Trabalhar jogo de construção e jogo simbólico. Trabalhar a relação espaço-temporal. Prática: deixar a criança construir livremente com os blocos. Perto dos três anos, o objetivo será muito mais empilhar, equilibrar do que construir uma cidade.Ampliar essa construção por meio de perguntas para a criança começar a construir uma cidade. Introduzir carrinhos plásticos, barcos, aviões, bonecos etc. para ir enriquecendo a cena. Fazer perguntas sobre a cena, pedindo à criança para contar uma história. Recursos: blocos de construção, carrinhos plásticos, barcos, aviões, bonecos. 2) Construção com reciclagem: Objetivo: desenvolver a criatividade e a capacidade de elaboração e expressão, além da conscientização sobre a importância da reciclagem de materiais. Prática: solicite à criança que construa livremente algo com o material disponível. Ao �nal da construção, a criança deverá dar um título à obra construída, apresentá-la e explicar o que fez. Recursos: sucatas higienizadas, como latas de alumínio,; embalagens de caixa de leite (tetrapak), embalagens plásticas de garrafa (PET), tampinhas de garrafa, tubos e caixas de papelão, jornais e revistas, potes plásticos (manteiga, margarina) etc. Jogos de regras O desenvolvimento moral: é um processo de construção de regras em uma relação de con�ança e respeito. Sugestões de jogos de regras 1) Dominós: Objetivo: favorecer o raciocínio lógico, da linguagem, da aquisição de conhecimentos gerais, bem como as discriminações visuais, táteis e auditivas. Aprender a ganhar e a perder. Desenvolver a habilidade de associação por categorias ou semelhanças. Prática: embaralhar as 28 peças do jogo. Distribuir sete peças para cada participante. Cada participante deve encaixar a peça na sua vez, colocando-a ao lado de outra que tenha pelo menos algo em comum. Ganha quem bater o jogo, ou seja, quando um dos jogadores consegue �car sem peças na mão, tendo encaixado todas elas. Recursos: peças do jogo de dominó de qualquer natureza (pode ser elaborado também). 2) Jogos de memória: Objetivo: favorecer o desenvolvimento da memória, da atenção, da aquisição de conhecimentos gerais, bem como as discriminações visuais, táteis e auditivas. Prática: jogo formado por peças que apresentam uma �gura em um dos lados. Cada �gura se repete em duas peças diferentes. Para começar o jogo, as peças são postas com as �guras voltadas para baixo, para que não possam ser vistas. Cada participante deve, na sua vez, virar duas peças e deixar que todos as vejam. Caso as �guras sejam iguais, o participante deve recolher consigo esse par e jogar novamente. Se forem peças diferentes, estas devem ser viradas novamente, sendo passada a vez ao participante seguinte. Ganha o jogo quem tiver descoberto mais pares, quando todos eles tiverem sido recolhidos. Recursos: peças com imagens iguais para formar pares. 3) Jogos de loto (bingo): Objetivo: desenvolver a atenção, a discriminação auditiva. Servem de recurso psicopedagógico para estimular a aprendizagem de váriosconceitos. Prática: No Bingo, cada jogador recebe uma cartela, exibindo uma certa quantidade de números, letras ou imagens. Todas as cartelas são únicas. Em seguida, o “sorteador” tira os números, letras ou imagens ao acaso e os anuncia. Toda vez que um número, letra ou imagem sorteada corresponde a um igual de sua cartela, o jogador o marca. Para ganhar, é necessário que sua cartela seja completamente marcada ou ao menos uma parte desta de�nida antes do início do jogo (segundo as modalidades de bingo existentes). O ganhador avisa que todos os seus números foram marcados ao gritar “Bingo!”. Recursos: cartelas para bingo e peças iguais em uma sacola não transparente para sorteio. 4) Quebra-cabeça: Objetivos: favorecer o desenvolvimento da atenção e concentração; desenvolvimento do pensamento; desenvolvimento da coordenação visório- motora, permitindo à criança desenvolver a percepção/discriminação visual; noção de quantidade, desenvolvimento de vocabulário e orientação espacial; lateralidade. Prática: é um jogo onde um jogador deve resolver um problema proposto, encaixando as peças formando um todo, geralmente um desenho ou imagem. Quando jogado por duas ou mais pessoas, ganha aquela que consegue completá-lo com o menor uso de peças. Recursos: peças de quebra-cabeça que formem um todo. Jogos cooperativos A Cooperação é o ato de trabalhar em conjunto com um único objetivo, se as outras com as quais ela estiver ligada conseguirem atingir seus objetivos. Neste sentido, os jogos cooperativos têm por objetivo despertar a consciência de cooperação e promover efetivamente a ajuda entre as pessoas. No jogo cooperativo, aprende-se a considerar o outro que joga como um parceiro, e não como adversário, fazendo com que a pessoa aprenda a se colocar no lugar do outro, e não priorizar apenas o seu lado. Este tipo de jogo tem por objetivo utilizar estratégias para unir pessoas e reforçar a con�ança em si mesmo e nos outros. Ganhar ou perder não é o que realmente importa, e sim o processo como um todo. Por meio de estratégias cooperativas, cumpre-se a tarefa proposta no jogo ou não, reforçando o espírito de equipe e de respeito mútuo. Segundo Terry Orlick (1989), as principais características dos jogos cooperativos são: a percepção social; a comunicação; as atitudes; a mudança de atitudes; o processo de socialização; os grupos sociais; os papéis sociais. O jogo cooperativo possibilita enxergar o outro como um amigo em potencial; alegria; criatividade; solidariedade; con�ança entre os participantes; ser motivante; possível para todos; ninguém é excluído; simplicidade. Terry Orlick (1989) dividiu os jogos cooperativos em diferentes categorias, pois sempre é necessário adequar os jogos aos grupos que se propõem a jogar: A) Jogos cooperativos sem perdedores: todos os participantes formam um único grande time. São jogos plenamente cooperativos. B) Jogos de resultado coletivo: permitem a existência de duas ou mais equipes. Havendo um forte traço de cooperação dentro de cada equipe e entre as equipes, também. O principal objetivo é realizar metas comuns. C) Jogos de inversão: enfatizam a noção de interdependência, por meio da aproximação e troca de jogadores que começam em times diferentes. Os jogos de inversão se dividem em quatro tipos: *Rodízio: os jogadores mudam de lado de acordo com as situações preestabelecidas, como, por exemplo, depois de sacar (voleibol); após a cobrança de escanteio (futebol, handebol); assim que arremessar um lance livre (basquete). *Inversão do goleador: o jogador que marca o ponto passa para o outro time. *Inversão do placar: o ponto conseguido é marcado para o outro time. *Inversão total: tanto o jogador que fez o ponto como o ponto conseguido passam para o outro time. D) Jogos semicooperativos: indicados para um início de trabalho com jogos cooperativos, especialmente com adolescentes em um contexto de aprendizagem esportiva. * Feedback: Ao �nal do jogo, deve-se re�etir sobre as habilidades utilizadas e, possivelmente, desenvolvidas durante o jogo. Habilidades físicas: Qual habilidade física vocês usaram? Por que vocês �zeram aquilo? Habilidades intelectuais: Quais tipos diferentes de pensamento vocês usaram? Habilidades interpessoais: O que vocês �zeram para se ajudar mutuamente? Como vocês chegaram a um acordo? Qualidades pessoais: Qual qualidade ou atitude foi útil? Em que outra situação aquilo seria útil para vocês? Atitudes com relação aos outros: Como os outros membros apoiaram você? Quais sentimentos você teve? Os “feedbacks” devem ser curtos e focalizados no trabalho executado. Sugestões de jogos cooperativos 1) Cadeira livre (Fonte:http://jogoscooperativos.net) Objetivo: despertar a consciência da cooperação diante de situações de alta turbulência. Prática: formar um círculo com as cadeiras bem juntinhas, sem deixar espaço entre uma e outra. Ao sinal do focalizador, a cadeira vazia deve ser disputada e ocupada pelo participante que estiver à direita ou à esquerda da mesma, o mais rápido possível. O participante que conseguir sentar-se primeiro diz: “Eu Sentei”. Sobra então uma nova cadeira vazia que será ocupada pela pessoa que estava ao lado do participante que conseguiu se sentar. Esse, ao sentar, diz: “No Jardim”. Na sequência, sobra outra cadeira que será ocupada pelo participante que estava ao lado daquele que se movimentou. Esse, por sua vez, completa a frase dizendo: “Com Meu Amigo... (nome)”, chama-se qualquer pessoa do círculo para se sentar na cadeira vazia. Dessa forma, sobra a cadeira dessa pessoa, que possibilita o início de um novo ciclo. O objetivo é manter TODAS as cadeiras ocupadas o maior tempo possível. Recursos: cadeiras iguais ao número de pessoas no grupo e mais uma. 2) Calçando as cadeiras (fonte: Tiago Aquino. http://www.brincadeirasejogos.com.br) Objetivo: guiar e orientar a dupla, ouvir as orientações re�etindo, assim, em atitudes positivas e cooperativas. Prática: dispõem-se as cadeiras em círculo. Organizam-se os participantes em duplas. Uma dupla será o guia e a outra dupla �cará com os olhos vendados. As duplas �cam no meio do círculo, e os participantes vendados procurarão calçar duas cadeiras com sapatos ou copos de papel, que estão dispostos no centro do círculo, sendo orientados pelas suas duplas que não estão vendadas. Cada um procurará calçar a própria cadeira com os copos ou sapatos dos companheiros, espalhados dentro do circulo. Será o vencedor quem conseguir primeiro calçar os quatro pés de sua cadeira. O jogador-cego deverá ser guiado e orientado por um jogador-amigo, re�etindo, assim, em atitudes positivas e cooperativas. Recursos: cadeiras e sapatos de acordo com o número de participantes. 3) Bambolê cooperativo (fonte: Tiago Aquino. http://www.brincadeirasejogos.com.br) Objetivo: propiciar várias situações de boa discussões sobre cooperação, trabalho em equipe, criatividade corporal, participação e ética. Prática: os participantes estão em roda com dois bambolês circulando nos braços dos mesmos, que já se encontram de mãos dadas. Ao sinal, os participantes iniciarão a passagem corporal por dentro dos bambolês, sem soltar as mãos. O psicopedagogo poderá realizar uma atividade competitiva, estabelecendo o bambolê fugitivo e o pegador, e quando um encontrar o outro, invertem-se os papéis. Recursos: dois bambolês. 4) Todos no mesmo saco (Fonte: Edição 2 de setembro de 2001 da Revista Jogos Cooperativos, pág. 11 – Criado por Roberto Gonçalves Martini e Claudia da Silva Miranda) Objetivo: facilitar a vivência de valores e o surgimento de questões bem interessantes, tais como: Desa�o comum: percepção clara de interdependência na busca do sucesso; Trabalho em equipe: a importância de equilibrarmos nossas ações e harmonizarmos o ritmo do grupo; Comunicação: a importância do diálogo na escolha da melhor estratégia para continuar jogando; Respeito: pelas diferenças possíveis de encontrarmos em um grupo, comotipo físico, idade e diferença de opiniões; Persistência: na a�nação do grupo e na importância de manter o foco no objetivo. Prática: o número de participantes pode variar bastante, de 4 a aproximadamente 40 pessoas, é só abrir a lateral do saco e ir costurando em outros. Pode-se iniciar o jogo (por exemplo, com 40 pessoas) questionando se todo o grupo caberia dentro deste saco gigante. Após a constatação de que é possível todos entrarem, podemos estipular um percurso a ser percorrido pelo grupo. O grupo poderá a qualquer momento fazer um pedido de tempo para a escolha de novas estratégias. Posteriormente, poderemos aumentar o desa�o e o grau de di�culdade colocando novos obstáculos no caminho a ser percorrido. O jogo termina quando os participantes atingem o objetivo: todos os participantes deverão percorrer um determinado caminho juntos dentro de um saco gigante. Dicas: durante o jogo, a comunicação no grupo é um fator fundamental para o sucesso. Caso seja necessário, auxilie o grupo nesta tarefa. Libere os pedidos de tempo à vontade, conversar neste jogo é muito importante. Caso haja no grupo pessoas que, por suas características físicas, tenham di�culdade em jogar, �que atento à forma como o grupo resolve esta questão. Para a confecção do saco gigante, peça auxílio a uma costureira pro�ssional, isto vai ajudar bastante. Recursos: um saco gigante, confeccionado com tecido utilizado para forro de biquínis e sungas, pode ser adquirido em lojas de venda de tecido por quilo. Ele vem em formato tubular, então é só medir a altura do saco que você ache ideal, cortar, costurar e estará pronto. Os diferentes tipos de jogos auxiliam no desenvolvimento da subjetividade, da cognição, da motricidade, da afetividade e do desenvolvimento integral do ser humano. O jogo permite a expressão criativa, podendo abrir novas perspectivas do uso dos códigos simbólicos. Mas, para que estas ideias se consolidem, é importantíssimo compreender os diferentes estágios de desenvolvimento mental infantil e adequar os brinquedos às potencialidades das crianças e, sobretudo, buscar diversi�cá-los com o objetivo de explorar novas inteligências e áreas ainda não desenvolvidas. Capítulo 5 A Psicopedagogia e o Desenvolvimento da Linguagem: Lacan, Saussure, Chomsky, Lenneberg O ser humano tem a habilidade maravilhosa de guardar milhares de palavras, de associar vocábulos a eventos, lugares, pessoas e objetos. O estudo da linguagem envolve o comportamento complexo de agregar palavras com sentido para falar e compreender o que o outro pronuncia. Para isso, exigem- se: codi�cação do som da voz e dos aspectos visuais da linguagem impressa; apreensão do signi�cado das palavras e sua ordenação; percepção da entonação com que se articula uma sentença para que se possa entender se a mesma é uma a�rmativa, negativa ou uma pergunta; percepção da linguagem corporal e da expressão facial que dão o tom emocional à linguagem. Tudo isso ocorre em segundos, e o cérebro humano codi�ca o uso da linguagem tão rápido que torna possível tomar decisões quase que imediatas a partir da leitura de um relatório, de um bilhete e/ou de uma pergunta feita por um interlocutor. Matlin (2004) destaca que um americano de escolaridade média apresenta um vocabulário que engloba de 75 mil a 100 mil palavras. Quanto mais uma pessoa estuda e lê, mais palavras poderá incluir no seu vocabulário. Usamos a linguagem para tudo em nossas vidas, pois nos comunicamos com o mundo à nossa volta o tempo todo. Seja para fazer um pedido em um restaurante ou para solicitar ajuda, a linguagem verbal e a não verbal estão presentes. A linguagem já começa a se desenvolver na criança desde muito cedo, ainda na gestação, pois a criança responde aos estímulos de sons e às necessidades da mãe. A seguir, apresentamos um quadro sobre o psicopedagogo institucional que deve conhecer para levar em consideração em seu trabalho em relação ao desenvolvimento da linguagem no ser humano: Idade Desenvolvimento da linguagem 0 a 6 meses Arrulhos 6 a 8 meses Balbucios – produção de sons: consoantes e vogais 8 a 10- 12 meses Compreensão de algumas palavras e uso de gestos 10- Primeira(s) palavra(s) 12 a 17 meses 18 a 22- 24 meses Vocabulário de 3 a 50 palavras; primeiras frases de duas palavras 2 anos Frases de duas palavras – explosão vocabular 3 anos Frases de 3 e 4 palavras – explosão vocabular 4 a 6 anos Ampliação da linguagem com aprimoramento contínuo de verbos no passado, uso de plural e da articulação de palavras A partir de 6 anos Com a aprendizagem formal na escola, a criança passa a aprender a utilizar a linguagem como um recurso valioso, ampliando seu vocabulário a partir da leitura e escrita. Fonte: BEE, 2003, p. 504, 508. A linguagem faz parte da comunicação entre as pessoas e, para que esta se tornasse cada vez melhor, muitos estudos foram realizados a �m de compreender os modos pelos quais a comunicação se efetiva. Pesquisas com chimpanzés revelaram que os mesmos conseguem se comunicar por meio de gestos, sons e reconhecimento de imagens/�guras. Pesquisas com crianças apontaram para o fato de que a linguagem ocorre naturalmente independente de uma aprendizagem formal, pois as necessidades de trocas com o meio, principalmente com os cuidadores, promovem a aquisição de uma língua. Neste sentido, é perfeitamente compreensível que um indivíduo não saiba ler e escrever, mas consiga utilizar todo um código linguístico para se comunicar. Muitos foram os teóricos que contribuíram para os estudos da linguagem, dentre eles: Saussure, Lacan, Chomsky e Lenneberg. 5.1 – A LINGUÍSTICA DE FERDINAND SAUSSURE Ferdinand de Saussure (1857-1913) nasceu na Suíça e elaborou estudos sobre o desenvolvimento da linguística. Sua obra mais importante foi Curso de Linguística Geral, na qual ele descreveu um signo como uma combinação de um conceito com uma imagem sonora (TORLEZI, 2008). As imagens sonoras são usadas, em geral, para produzir uma enunciação, contudo, como se constitui em uma característica mental, é possível uma pessoa falar consigo mesma mentalmente ou até mesmo sozinha. Um signo linguístico é uma unidade portadora de sentido e tem como atributos: o signi�cado (um conceito) e o signi�cante (uma imagem sonora ou forma fonológica). Saussure enunciou algumas dicotomias: Dicotomias Conceituação Langue versus Parole Langue = língua = sistema de valores que faz parte de uma determinada cultura, consistindo em um produto social homogêneo. Parole = discurso = ato individual que está sujeito a fatores externos, que não são passíveis de análise por ter elementos não linguísticos. Sincronia versus Diacronia Visão sincrônica = estudo descritivo da linguística, um sistema em funcionamento em um dado momento. Visão diacrônica = estudo histórico da linguística, sucessões históricas da mudança dos signos. Sintagma versus Paradigma Sintagma = encadeamento dos elementos associados na memória. Exclui a possibilidade de se pronunciar dois elementos ao mesmo tempo, pois um termo tem valor somente a partir do contraste com outro termo. Paradigma = conjunto de elementos similares que formam conjuntos a partir de associações na memória. As unidades se opõe, pois uma exclui a outra. Signi�cante versus Signi�cado Signi�cante = é a parte física da palavra, a imagem acústica, está no plano da forma do signo. Signi�cado = conceito relacionado ao conteúdo do signo. Signi�cado e signi�cante estão sempre relacionados. Fonte: Barreto, 2009. Saussure propôs o conceito da teoria do valor, que a�rma que cada signo tem seu valor no sistema de uma língua, estando em relação com outros signos linguísticos. Um signo tem valor porque é aquilo que os outros signos não são, ou seja, cada signo é único e importante dentro do sistema do qual faz parte, podendo ser diferenciado dos outros signos. Considerando a língua um sistema de signos na qual a signi�cação depende dasrelações entre eles, Saussure propõe um novo método de análise linguística: o estruturalismo, que, no século XX, ganhou força na Europa. Foi a partir do estruturalismo de Saussure que o objeto de estudo da linguística se tornou efetivo: a língua. Esta é concebida como um conjunto de signos organizados que formam um todo signi�cativo, a partir do qual cada signo só adquire valor na relação com o universo no qual está inserido (BARRETO, 2009). 5.2 – LACAN E A RELAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE E LINGUAGEM A linguagem é uma intermediação entre duas ou mais pessoas e é constituída por símbolos e signos que a tornam subjetiva, uma vez que ela está diretamente relacionada à percepção de cada indivíduo, às associações da memória e às interpretações conforme os ditames da consciência e do inconsciente. Freud (1856-1939), ao desenvolver a teoria psicanalítica, propôs que o inconsciente determina muito do que vivemos, incluindo as interpretações que são dadas ao uso das palavras. Os chistes, atos falhos propostos por Freud, são exemplos de como o inconsciente pode fazer emergir elementos que, em uma linguagem formal, não surgiriam. Os chistes consistem em palavras ditas que têm um tom de humor a respeito de um determinado assunto que pode ser incômodo e guarda em si a liberação da angústia. Já os atos falhos revelam segredos da mente inconsciente e consistem naquelas palavras que são proferidas em momentos inoportunos e são consideradas como um equívoco, uma distorção. Os lapsos de linguagem são comuns, uma vez que a linguagem é cultural e a introjetamos pela necessidade de sermos sociais, de convivermos com outras pessoas e é nesta mesma plataforma de viver junto em sociedade que as regras, normatizações, permissões e proibições são estabelecidas. Aquilo que se esconde nas veredas do não dito, hora surge em meio aos chistes, atos falhos e outros lapsos que possibilitam que o inconsciente se manifeste. Jacques Lacan (1901-1981) a�rma que a linguagem não é unívoca, ou seja, não permite apenas uma única interpretação, pois ela é simbólica, depende da troca realizada entre eu e o outro. Contudo, uma vez que somos sujeitos do inconsciente e este não pode ser apreendido, o outro apenas pode ser apreendido pela suposição ou fantasia e, neste contexto, podemos a�rmar que a palavra não dá conta da falta, daquilo que não é expresso em função dos mecanismos de defesa do ego 1 . Falta no campo do Outro um signi�cante do qual o sujeito do inconsciente depende para se constituir como tal. Cabe então abrir mão de um artifício para que possa ser: tornar-se objeto de desejo que se manifesta no Outro, posição precípua de sua fantasia. (LACAN in GUIMARÃES, 2012, p. 12) É na relação com o outro que o indivíduo se constitui e, nessa relação, há sempre uma falta, uma ausência, que faz parte do sujeito que fala. As línguas naturais englobam três elementos principais: EU, TU e ELE. Por isso, são consideradas de ordem ternária, que envolve três pessoas no discurso, que representam a socialização, as trocas sociais nas quais a linguagem é efetivada. Já o inconsciente é inscrito na ordem unária, pois nele tudo é possível, sem restrições ou classi�cações de verdadeiro ou falso. Ele não é linear nem carece de trocas coerentes de discurso. Ele é autorreferencial e assimétrico, emergindo por meio de chistes, atos falhos, sintomas e sonhos (LONGO, 2006). A fantasia, o campo do imaginário, é inscrita na ordem binária, na qual há uma busca pela organização e pela exclusão da contradição, priorizando a simetria, a organização da realidade, buscando evitar equívocos. A inteligência está sempre trabalhando para que a vida tenha sentido por meio de analogias, julgamentos, causalidades e conexões. Quando as conexões não são estabelecidas ou encontradas, elas simplesmente são criadas, ou seja, conexões falsas são fabricadas. O homem (e suas signi�cações) encontra na linguagem um modo de lidar com o mundo real, relacionando seus desejos, fantasias, inconsciência e consciência com as necessidades da realidade. A linguagem se constitui, então, na ferramenta simbólica que o homem utiliza para fazer parte de uma dada cultura, com suas emoções mais íntimas, encontrando sentido para apreensão do mundo e para o constante convite a �m de se revisitar e investir no seu autoconhecimento. 5.3 – CHOMSKY E A GRAMÁTICA TRANSFORMACIONAL Noam Chomsky é um dos teóricos mais in�uentes da modernidade no que tange ao estudo da linguagem. Sua proposta de que os seres humanos possuem habilidades inatas de linguagem revolucionou as pesquisas na área. As crianças aprendem o idioma da cultura da qual fazem parte facilmente, e isso ocorre em função de já possuírem a compreensão dos princípios abstratos da linguagem, ou seja, apresentam capacidade inata para a linguagem. Chomsky propôs que a linguagem é modular: “as pessoas possuem um conjunto de capacidades linguísticas especí�cas que não seguem os princípios de outros processos cognitivos (memória e tomada de decisão, por exemplo)” (MATLIN, 2004, p. 189). Isso implica a�rmar que o uso da linguagem é uma atividade criativa e que, mesmo após a aquisição da linguagem, uma pessoa continua a aprender novas palavras, signos e símbolos, podendo estudar uma nova língua, por exemplo. Quando estudamos a linguagem humana, estamos abordando o que alguns poderiam chamar a “essência humana”, as qualidades distintivas da mente que são, até onde sabemos, exclusivas do homem e inseparáveis de qualquer fase crítica da existência humana, pessoal ou social. Daí o fascínio deste estudo e, em não menor medida, sua frustração. A frustração vem do fato de que, apesar do muito progresso, permanecemos incapazes como sempre de enfrentar o problema central da linguagem humana, que considero ser este: tendo dominado uma língua, uma pessoa é capaz de entender um número inde�nido de expressões novas para sua experiência, que não têm semelhança física e não são, de modo algum, simples análogas às expressões que constituem sua experiência linguística. (CHOMSKY, 2009, p. 171) Somos capazes de utilizar a linguagem conforme o desa�o da necessidade que enfrentamos, de muitas maneiras diferentes. Uma palavra, então, pode ser utilizada em uma in�nidade de situações e contextos distintos. Ao expressarmos nossos pensamentos e emoções estamos usando a linguagem, até mesmo quando pensamos a utilizamos. A teoria da gramática transformacional implica a compreensão da linguagem que não está reduzida ao hábito e condicionamento, nem pode ser considerada uma resposta a determinados estímulos. Chomsky propõe que há dois tipos de regras: sintagmáticas e de transformação. As primeiras geram estruturas abstratas e as segundas convertem essas estruturas abstratas em sequências terminais, que são as frases da língua. A gramática é transformacional pela capacidade de mudar suas estruturas. Por exemplo: a menina jogou a bola / a bola foi jogada pela menina. Existe neste contexto uma estrutura super�cial (ES) – que são as palavras escritas ou faladas, e uma estrutura profunda (EP) – abstrata, que se refere ao signi�cado da sentença (MATLIN, 2004). “A teoria da gramática interessa-se pela questão: Qual é a natureza do conhecimento que uma pessoa tem de sua língua que lhe permite fazer uso dela de modo normal e criativo?” (CHOMSKY, 2009, p. 176). Há uma relação muito importante entre som e signi�cado. Uma pessoa que sabe uma língua domina um sistema de regras que engloba sons e signi�cados de forma conjunta; a esse sistema de regras, denomina-se gramática. As contribuições da teoria de Chomsky para os estudos da linguagem se dão no sentido de uma compreensão geral e universal de como a linguagem se constitui nos seres humanos e como a criatividade é um componente que permite diferentes tipos de abstrações e signi�cados na construção de frases no uso de uma língua. 5.4 – LENNEBERG EricHeinz Lenneberg (1921-1975) foi um importante estudioso da linguística, quedestacou a importância da raiz neurológica da atividade produtora da linguagem verbal. Este teórico “considera o ritmo como o primeiro elemento constitutivo da fala humana” (MASCARELLO, 2009). É conhecido há muito tempo que a ritmicidade do cérebro dos vertebrados ou do tecido nervoso central em geral é o verdadeiro motor para muitos movimentos rítmicos que se encontram entre os vertebrados. Se a nossa hipótese estiver correta, a mecânica motora da fala e provavelmente também da sintaxe, não constituirá nenhuma exceção a esta generalização. No homem, o motor rítmico serve para uma atividade altamente especializada, ou seja, para a fala. (LENNEBERG, 1972, p. 151, apud MASCARELLO, 2009, p. 63) Hoje já é possível, por meio de técnicas de exames por imagem, averiguar quais as áreas do cérebro são ativadas durante a fala e a aprendizagem de uma língua. Lenneberg também destacou que a criança, no processo de aquisição da linguagem, usa palavras que têm abrangência semântica. Dessa forma, as palavras carro, porta, mamãe, água e tantas outras podem signi�car uma gama muito grande de elementos (MASCARELLO, 2009). Para este autor, a capacidade linguística do ser humano é uma forma especializada de uma capacidade cognitiva geral e abrangente. Ele ressalta a importância de observar um período crítico para a aprendizagem de uma língua, que vai até os dois anos de idade. A partir dos 12 anos, a aquisição de uma língua pode ocorrer com muito esforço. Para que uma criança aprenda a língua da cultura da qual faz parte, é preciso que haja condições internas (como maturação biológica e cognitiva) e externas (estímulos do meio). Casos em que a criança é con�nada ao isolamento social, o desenvolvimento tende a �car comprometido em áreas que podem prejudicar a vida nos seguintes aspectos: cognoscíveis, sociais, linguísticas. Os estudos a respeito da aprendizagem de uma segunda língua revelam que as crianças aprendem melhor uma língua estrangeira do que os adolescentes e adultos, pois estão mais suscetíveis à aprendizagem e à adaptação (BRILHANTE, 2005). 5.5 – ABORDAGENS TEÓRICAS EM AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM Skinner, por meio da teoria behaviorista, foi um dos primeiros a estudar sobre a aquisição da linguagem, preconizando que a aprendizagem de uma língua se dava pela exposição ao meio e em decorrência da imitação e do reforço. De acordo com esta visão teórica, a aprendizagem ocorre por condicionamento, assim como qualquer outro animal. Nesse sentido, a linguagem é aprendida por meio de respostas mediante estímulos. Já vimos as contribuições de Noam Chomsky para os estudos da aquisição da linguagem, que destaca que a linguagem é uma dotação genética do ser humano, que vem equipado com uma gramática universal (GU). A partir da exposição à fala, a criança é capaz de construir suas próprias hipóteses sobre a língua da cultura a qual faz parte. Jean Piaget, em sua abordagem cognitivista construtivista, apreende que a aquisição da linguagem está relacionada ao desenvolvimento cognitivo da criança. De acordo com Piaget, a linguagem surge a partir do desenvolvimento da função simbólica na criança. O desenvolvimento da linguagem ocorre a partir da mediação do outro na relação da criança com o meio em que vive, o que propicia que a criança construa o conhecimento a partir dessas relações mediadas. Vygotsky, em seu enfoque interacionista social, estudou as características da fala de indivíduos adultos, avaliando a importância dos fatores sociais, comunicativos e culturais para a aquisição da linguagem. Nessa abordagem, os requisitos para a aquisição da linguagem são a interação social e a comunicação: a criança se constitui como sujeito a partir da linguagem enquanto elemento de conhecimento do mundo que a in�uencia diretamente (FREITAS, 2015). Estudos recentes a�rmam que a aquisição da linguagem e do conhecimento ocorre a partir do estabelecimento de conexões neurais. Esta abordagem �cou conhecida como conexionismo, que associa a mente ao funcionamento do computador. Nesta perspectiva, o aprendizado ocorre em função das relações dos dados de entrada (imput) e dados de saída (output). O processamento é distribuído em diversas regiões do cérebro, que trabalham em prol dos aspectos cognitivos. 1 Neste ponto, faz-se necessário conceituar os elementos da segunda tópica de Freud: Id, ego e superego. Id – é o componente primitivo e instintivo da personalidade e funciona segundo o princípio do prazer, que exige grati�cação imediata às suas necessidades. Ego – é o componente da personalidade que toma as decisões e funciona conforme o princípio da realidade, que procura adiar a satisfação das necessidades do id até que se encontrem as situações adequadas. Superego – é o componente da personalidade que incorpora os padrões sociais sobre o que representa o certo e o errado. Os mecanismos de defesa consistem nas manifestações do ego diante das outras instâncias psíquicas – id e superego – que visam diminuir as ameaças ao ego por meio de ações que visam protegê-lo. Alguns exemplos de mecanismos de defesa mais conhecidos: regressão, projeção, negação. Fonte: WEITEN, Wayne. Introdução à psicologia: temas e variações. São Paulo: Cengage Learning, 2008, p. 349. Capítulo 6 A Construção da Escrita e o Desenvolvimento da Personalidade Moral por Meio da Literatura: o trabalho psicopedagógico na instituição Antes de uma criança aprender a escrever, ela já passou por uma série de etapas de desenvolvimento da linguagem, do pensamento, de maturação biológica e cognitivo-afetiva que vão in�uenciar diretamente sua aprendizagem da leitura e escrita. A socialização da criança com a família, amigos, outras crianças e o modo como os pais oferecem estímulos também in�uenciam seu modo de lidar com novas informações de forma mais padronizada na escola. A partir do referenciamento social, a criança vai desenvolvendo a compreensão das emoções em si mesma e nos outros (BEE, 2003, p. 185): Durante os anos pré-escolares, o vocabulário emocional da criança aumenta gradualmente, e ela passa a reconhecer cada vez mais variações nas expressões dos outros. Por volta dos quatro anos, a maioria das crianças é capaz de reconhecer expressões faciais e situações que transmitem as emoções de felicidade, tristeza, raiva, amor e medo. [...] Ela começa a compreender que determinadas emoções ocorrem em situações envolvendo relações especí�cas entre desejo e realidade. O desenvolvimento da capacidade de reconhecimento das emoções é importante para as relações sociais e para lidar com a realidade do mundo escolar, que requer socialização, compartilhar tarefas e conviver com as diferenças. A aprendizagem da leitura e escrita requer alguns aspectos cognitivos, como percepção, pensamento, raciocínio, tomada de decisão, o uso da linguagem, dentre outros. No que diz respeito à linguagem, o conhecimento prévio que a criança tem do som e da pronúncia das palavras contribui diretamente para a aprendizagem da leitura e escrita. Bee (2003) destaca que dois aspectos são importantes nesta fase: 1) a capacidade do reconhecimento de letras separadas; 2) a consciência de que as palavras faladas e escritas constituem-se em sons separados. Crianças que conseguem comparar palavras por meio dos seus sons – como, por exemplo, pato, mato, gato – desenvolvem consciência fonêmica e têm mais facilidade de aprendizagem na alfabetização. Isso ocorre quando os pais oferecem estímulos, como conversar muito com a criança, apresentar sempre palavras novas por meio de brinquedos ou histórias, ler para a criança, comparar palavras parecidas, falar o som de cada letra, cantar cantigas infantis etc. A esse respeito, Bee (2003) destaca que um estudo feito na Inglaterra revelou que crianças que conheciam mais cantigas infantis aos três anos e meio de idade apresentavam mais consciência fonêmica do que as crianças que sabiam menos cantigas e, portanto, aprendiam mais facilmente a ler eescrever. 6.1 – A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA NAS CRIANÇAS O modelo educacional nem sempre é estimulante na construção da escrita e na aprendizagem da leitura, pois, em muitas escolas, o professor mais se assemelha a um cumpridor de tarefas que perde o espaço da criatividade e ludicidade para esta etapa tão importante. Se os estímulos da família são importantes, um ambiente escolar propício à aprendizagem, que tenha espaço para que a criança utilize a brincadeira como degrau para adquirir conhecimento e com professores que se permitam entrar no mundo da criança para apresentar novas situações, é essencial. A alfabetização ocorre quando a criança (e até mesmo o adulto) aprende a ler e a decifrar a escrita. Sendo uma atividade criativa e de grande relevância social, o desenvolvimento da leitura e da escrita também contribui para o desenvolvimento do pensamento crítico. No Brasil, até bem recentemente, a educação básica obrigatória era de 6 a 14 anos, mas a Ementa Constitucional 59 e, posteriormente, o PNE (Plano Nacional de Educação, 2014) alteraram esta proposição ao estender a obrigatoriedade de matrícula dos 4 aos 17 anos. Desta forma, a educação se torna obrigatória, ou seja, universal, para as crianças a partir dos quatro anos de idade. Nesta etapa, elas já começam a fazer os primeiros traços e escrever algumas letras, geralmente aquelas relacionadas ao seu nome e de pessoas mais próximas. Aos cinco anos de idade, a criança já consegue traçar e identi�car todas as letras e, aos seis anos, está apta a escrever e ler sílabas e palavras simples. Aos sete anos, a criança já consegue ler qualquer texto. A partir daí, inicia-se a aprendizagem das normas ortográ�cas (BUENO, 2011). Neste processo, é importante exercitar a capacidade de abstração, e o incentivo da escola e dos pais para desenhar se faz essencial. As letras têm uma forma e, quando elas são contextualizadas e vocalizadas, a aprendizagem da escrita e leitura se torna mais fácil. A escrita depende da coordenação motora �na, que se desenvolve desde o primeiro ano de vida. Para os desenhos e rabiscos, o giz de cera é ideal, pois não tem risco de machucar. Na estimulação para a construção da escrita, a criança vai progredindo no uso do giz de cera, da caneta de hidrocor e do lápis, fazendo desenhos progressivamente mais complexos e mais semelhantes à projeção da realidade. Hoje é comum as crianças �carem em creches e entrarem na pré-escola, o que facilita o processo de aprendizagem da escrita e leitura quando estes ambientes são estimulantes e ricos em espaços de criatividade. No Brasil, o método mais utilizado e que está preconizado nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1996) é o psicolinguístico, baseado na Psicogênese de Emília Ferreiro. Emília Ferreiro, psicolinguista, seguidora de Piaget, nascida na Argentina, a partir de uma perspectiva construtivista, ressalta que a criança tem papel ativo na construção da escrita e na leitura. A criança, então relê o conteúdo aprendido a partir de suas bases de experiências e percepções. O destaque desta autora se dá no sentido da valorização da compreensão da natureza da escrita e sua organização. Nesse sentido, a escola não deve manter o foco no aspecto exterior da escrita – desenhar letras –, mas no contexto que cada palavra ou letra está implicada (FERRARI, 2008). As fases da escrita são: FASES CARACTERÍSTICAS Icônica Escrever é a mesma coisa que desenhar: as formas do gra�smo devem reproduzir as formas dos objetos. As escritas formadas por gra�as não convencionais: garatujas e/ou pseudoletras. leitura global – ideia. Não há a correspondência grafofonêmica. Cada um pode interpretar sua própria escrita, mas não a dos outros: a escrita é individual e instável. Pré- Silábica A forma dos gra�smos é mais de�nida, mais próxima das letras. Predomínio da escrita de imprensa em maiúscula (in�uência dos estímulos do meio). Possibilidade de memorização de escritas de palavras – reprodução de formas �xas, na ausência do modelo. Diferenciação das formas grá�cas: letras e números. As palavras se diferenciam de acordo com o tamanho e as quantidades de objetos a serem representados. Não há a correspondência grafofonêmica. Silábico SVS (Sem Valor Sonoro) Escrita de letras sem valor sonoro convencional. Não há a correspondência grafofonêmica. Antecipação progressiva e regular da quantidade de gra�as: procura escrever uma letra para representar cada bloco de som da palavra. Ainda há a in�uência da questão quantitativa para a escrita das palavras dissílabas e monossílabas: não se pode ler e escrever com menos de três letras, por isso a criança aumenta o número de letras – SAPO/ A P E I. Silábico CVS (Com Valor Sonoro) Antecipação progressiva e regular da quantidade de gra�as: procura escrever uma letra para representar cada bloco de som da palavra (sílaba). Uso da primeira letra da palavra, cujo valor sonoro é importante. Tentativa de fonetização da escrita, com valores silábicos. Na leitura, há a passagem da correspondência global para a correspondência termo a termo. Início da compreensão de que a escrita representa os sons da fala. Atribui valor sonoro à letra que está representando a sílaba. Silábico- Alfabético Escrita na qual algumas gra�as representam uma sílaba e outras, um fonema – inclusão de letras na composição de uma sílaba na palavra: S PA T. Abandono da hipótese silábica: surge o con�ito entre a hipótese silábica e a exigência de quantidade mínima de gra�as. Passagem da hipótese silábica para a hipótese alfabética. As escritas aparecem com características de omissões de letras pela coexistência das hipóteses alfabética e silábica. Surgimento de perguntas sobre qual letra ou sílaba usar. Alfabético Escrita alfabética com valor sonoro convencionado. Compreensão dos caracteres da escrita na correspondência grafofonêmica: antecipação quantitativa na representação escrita das palavras. Compreensão da natureza alfabética do sistema de escrita: representação arbitrária dos sons da fala na escrita. Presença de con�itos nas relações entre grafemas e fonemas, conforme o padrão ortográ�co vigente. A criança já lê alfabeticamente, com ou sem �uência. FONTE: Adaptado pelas autoras do acordo com Braga (2015). 6.2 – O TRABALHO PSICOPEDAGÓGICO E A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA A CRIANÇA Algumas experiências iniciais na infância contribuem para o desenvolvimento da capacidade de reconhecer sons e para a aprendizagem da leitura e escrita. Uma das principais experiências consiste em ler para a criança de modo regular e de uma forma que atraia sua atenção e resposta ao estímulo oferecido. O psicopedagogo deve estimular isto na instituição em que desenvolver seu trabalho. Quando a criança não recebe este estímulo de ouvir histórias para poder associar imagens de um livro aos sons das palavras, há uma di�culdade maior para a alfabetização, precisando ser muito exposta à combinação de sons e letras. Tanto a oferta de estímulos realizada na escola quanto a que ocorre em casa e no mundo social da criança são essenciais e não excludentes. O ponto em questão é que os pais têm um papel essencial no desenvolvimento das habilidades de seus �lhos, e o modo como dedicam tempo para estar com eles e oferecer estímulos agradáveis em relação às palavras facilita a aprendizagem. As crianças conseguem compreender melhor que palavras podem aparecer em uma frase quando têm maior consciência fonêmica, e todo o trajeto feito até a idade escolar in�uencia neste aspecto. Por isso, ler para as crianças, além de ser algo lúdico, que aproxima pais e �lhos, também tem uma função cognitiva importante que certamente contribuirá para que a criança se torne uma boa leitora. Bee (2003) destaca que as crianças que apresentam di�culdades na aprendizagem da leitura e escrita precisam de muitas repetições, textos com rimas para desenvolver a consciência fonêmica que as crianças estimuladas pelos seus paiscom histórias já possuem. A prática de uma leitura oral que remonte à realidade da criança tem melhores resultados com os maus leitores do que exercícios simples programados. O que implica a�rmar que muita leitura, brincar com palavras, questionamento ativo e experimentação na idade pré-escolar preparam o terreno para a aprendizagem na idade escolar. As pesquisas na área revelam que uma linguagem interativa entre o adulto e a criança, por meio de histórias, contribui signi�cativamente para o desenvolvimento da linguagem, independentemente da cultura ou da classe social (BEE, 2003, p. 277): G. J. Whitehurst e equipe (1988) Grupo experimental – treinamento de alguns pais para lerem livros com �guras para seus �lhos pequenos com interação durante a leitura (leitura dialógica), por meio de perguntas que não poderiam ser respondidas pela criança apenas apontando com o dedo. Exemplo: uma mãe ao ler “Chapeuzinho Vermelho” poderia dizer – “Aqui está a chapeuzinho. O que está acontecendo com ela?” ou poderia apontar algo no livro e perguntar – “O que é isso?”. Grupo de controle – os pais foram incentivados a ler para os �lhos sem qualquer tipo de instrução ou orientação prévia de como realizar a leitura. Resultado: após um mês, as crianças do grupo experimental ao serem testadas, apresentaram maior aumento no vocabulário do que as crianças do grupo de controle. G. J. Whitehurst e equipe (1992) Reaplicação do estudo inicial em creche para crianças pobres no México. Grupo experimental: uma professora foi treinada em leitura dialógica e, durante dez minutos por dia lia para cada uma das dez crianças com dois anos de idade, durante seis a sete semanas. Grupo de controle: a mesma professora dedicava dez minutos por dia para estar com as crianças, mas, ao invés da leitura dialógica, ministrava aula de artes. Resultado: as crianças que participaram da leitura dialógica durante o experimento apresentaram vocabulário maior em testes padronizados e empregavam um conhecimento gramatical mais amplo ao conversarem com outro adulto distinto da professora. G. J. Whitehurst e equipe (1994/1995) Reaplicação do estudo inicial em creches para crianças pobres na cidade de Nova Iorque e em salas de aula do Head Start. Grupo experimental: professora e/ou mãe realizavam leitura dialógica para as crianças. Grupo de controle: as crianças apenas interagiam cotidianamente com atendentes e professoras da creche. Resultado: as crianças que participaram da leitura dialógica apresentaram um aumento maior e duradouro do vocabulário em comparação com as crianças do grupo de controle. Catherine Crain- oreson e Philip Dale (1995) Crianças com atraso em habilidades de linguagem têm um ganho signi�cativo nesta área quando os pais e professores são treinados a lerem para elas de forma dialógica. 6.3 – O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE MORAL A relação com os pais e o modo como estes inserem as regras na vida da criança tem um impacto signi�cativo na maneira como esta vai reagir em situações distintas na sociedade. O exemplo dado pelos cuidadores de como enfrentar emoções e como se comportar nas mais diversas circunstâncias tende a ser seguido pelas crianças. Quando os pais demonstram irritação, xingam, batem, a tendência é que a criança replique o comportamento com outras crianças, animais ou brinquedos. Um estudo feito por Albert Bandura na década de 70 revelou que, ao assistir a �lmes violentos, as crianças tendiam a imitar o comportamento violento umas com as outras (AZZI, 2011). O desenvolvimento da personalidade moral passa pelo modo como os pais tratam seus �lhos, pelo reconhecimento das emoções em si e nos outros, pela construção da autonomia e alteridade. Quando uma criança consegue lidar com suas emoções de forma bené�ca, tendo espaço para a expressão saudável da raiva, da tristeza, do medo e da alegria, a tendência é que ela consiga desenvolver a compreensão da relação entre o que ela sente e a realidade, podendo inferir que outra criança pode sentir a mesma coisa que ela. O sentimento de alteridade depende de uma noção de eu, de autorrespeito, de valorização de si e do outro. A partir do momento em que a criança compreende que ela é alguém, tem sentimentos e consegue avaliar que o outro também é alguém e merece ser respeitado em suas emoções, a alteridade se faz presente. Piaget acreditava que a �nalidade da educação é ajudar a criança a ter autonomia e a se desenvolver intelectual e moralmente (PEREIRA, 2006). Os processos educacionais de fato contribuem para o desenvolvimento de uma autonomia moral, uma vez que esta se constrói nas interações sociais que a escola também possibilita. A autonomia moral encontra-se intimamente vinculada à questão moral. O estudo da moralidade busca respostas para uma pergunta crucial: “como devo agir?” Na ação subentende-se que há princípios e valores que a orientam e critérios atribuídos para o seu julgamento. [...] Piaget concorda com Kant quando refere que autonomia moral re�ete a independência do sujeito racional frente às pressões do grupo. No entanto, ele acrescenta que para a norma adquirir validade ela precisa ser elaborada e respeitada por todos, ou seja, é preciso haver cooperação e reciprocidade. (PEREIRA, 2006, p. 6) É na convivência com o grupo, nas interações sociais e dentro de uma cultura determinada que as regras vão sendo internalizadas pela criança, que, aos poucos, vai adquirindo noções de justiça, dignidade humana e respeito às normas estabelecidas. A criança já nasce em uma moralidade vigente e com valores éticos que prevalecem na sociedade. Cabe aqui uma distinção entre ética e moral, que, embora caminhem juntas, não são iguais. A ética consiste nos valores para o bem comum e a vida em sociedade, consistindo na base das regras criadas para que o convívio social ocorra, o que caracteriza a moral. Uma regra moral é estabelecida em função de um valor ético, que, por sua vez, aprecia o respeito entre as pessoas e atitudes que evitem prejuízos no convívio social. Assim é fácil compreender que uma criança na escola, a partir de ensinamentos de respeito às diferentes religiões, consiga respeitar um colega que tenha uma religião diferente da sua e, como consequência, se comporte cordialmente. Nenhuma realidade moral é completamente inata. Para que as realidades morais se constituam é necessário uma disciplina normativa, e para que se constitua esta disciplina é fundamental que os indivíduos entrem em relação uns com os outros. (PIAGET, 1967, p. 9) Para Piaget, a vida social é essencial para a construção da autonomia, uma vez que as crianças, em seu estágio inicial de desenvolvimento, encontram-se em um período de egocentrismo, no qual a anomia prevalece. A anomia constitui-se na ausência de regras, uma vez que estas ainda não foram internalizadas, mas ela perde espaço quando, pela via da interação com outras crianças e com adultos, as normas sociais e regras de convivência vão sendo apresentadas para a criança, que entra em contato com o julgamento dos outros (PEREIRA, 2006). A criança passa para a consciência heterônima quando apreende na palavra do adulto a verdade absoluta, deixando de avaliar somente o que lhe agrada para ponderar sobre o que os outros pensam ou julgam ser correto. Na fase da heteronomia, a criança segue as regras, sem questionar a respeito, simplesmente porque há um adulto que detém o conhecimento sobre o que é certo ou não fazer. A autonomia é conquistada quando o indivíduo consegue se autorregular diante das regras morais, internalizando-as de tal forma que consiga avaliar riscos, prejuízos e benefícios em cumprir ou descumprir uma norma sem a presença de uma �gura de autoridade. Um indivíduo que desenvolveu autonomia consegue avaliar o valor das regras e não apenas cumpri-las às cegas porque alguém disse que é certo. Pensar em autonomia moral signi�ca que o psicopedagogo institucional deve promover uma re�exãosobre o modo de agir dos professores e de como os pais educam seus �lhos, punindo ou reforçando comportamentos para o cumprimento de determinadas regras. Quando a aprendizagem de um valor ou regra se dá por meio da punição, a tendência é que a criança �que desmotivada, com medo, e reaja de forma agressiva, isolando-se por medo e coação ou fugindo de situações que levem à punição – fazendo de tudo para agradar a todos, o que pode levar à submissão. Na premissa da Psicopedagogia Institucional, as regras podem ser ensinadas de forma lúdica, na convivência, por meio de exemplos, brincadeiras e cooperação. É importante lembrar que uma criança não tem a capacidade cognitiva de um adulto e, portanto, precisa de ajuda para compreender as relações que são estabelecidas no mundo e internalizar regras. Estudos indicam que o reforço positivo, a recompensa, é a melhor forma de ajudar uma criança a ter um determinado comportamento, pois a cooperação deve ser valorizada. O psicopedagogo institucional pode desenvolver um trabalho de conscientização junto com os responsáveis, estimulando. Os pais também precisam oferecer estímulos para a criança desenvolver a autonomia moral, pois a superproteção e a atitude de fazer coisas no lugar da criança, quando esta tem a capacidade para a realização, promove insegurança para experimentar algo novo. Quando a criança consegue elaborar as próprias regras e gerenciar a si mesma, ela alcançou a autonomia, e isso envolve: cumprir horários estabelecidos de estudo sem que ninguém solicite, negociar horários preestabelecidos, se posicionar diante de uma atividade que julga desnecessária, ter cuidados com o corpo – tomar banho, se pentear, escolher a própria roupa etc. – sem a supervisão de um adulto, reinventar as regras de um jogo para torná-lo mais divertido, dentre outros. Lawrence Kohlberg é um outro autor que trata do desenvolvimento moral. Ele aproveitou as ideias de Piaget sobre o tema e investigou por meio de histórias com fundo moral qual era o raciocínio de uma criança ou adolescente sobre o tema. Uma de suas histórias famosas é esta: Na Europa, uma mulher estava quase morrendo de um tipo de câncer, Havia um medicamento que, segundo os médicos, poderia salvá-la. Era uma forma de rádio que um farmacêutico da mesma cidade tinha descoberto recentemente. Era um medicamento caro, mas o farmacêutico estava cobrando dez vezes mais do que a droga lhe custava para preparar. Ele pagava 200 dólares pelo rádio e cobrava 2 mil dólares por uma pequena quantidade da droga. O marido da mulher doente, Heinz, procurou todos os seus conhecidos para tomar dinheiro emprestado, mas só conseguiu juntar mil dólares, metade do valor do medicamento. Ele disse ao farmacêutico que sua mulher estava morrendo e lhe pediu que baixasse o preço ou que o deixasse pagar depois. Mas o farmacêutico disse: “Não, eu descobri a droga e vou ganhar dinheiro com ela”. Então, Heinz �cou desesperado e invadiu a loja do homem para roubar a droga para a sua mulher. (KOHLBERG, 1975 apud BEE, 2003, p. 392) As perguntas que seguiam a história eram do tipo: Heinz deveria roubar a droga? E se a pessoa que estava morrendo fosse um desconhecido? E se Heinz não amasse a mulher? Ele deveria roubar a droga de qualquer maneira? A partir de suas pesquisas, Kohlberg propôs três níveis de desenvolvimento moral, tendo cada nível dois estágios distintos: Nível Estágio Comportamento Faixa etária I Moralidade pré- convencional 1 – orientação para a punição e para a obediência Obediência mediante punição. O adulto é detentor do poder. Criança no Ensino Fundamental. 2 – Individualismo, propósito instrumental e troca Cumprimento de regras de acordo com o interesse e a satisfação. Criança no Ensino Fundamental, podendo perdurar até a adolescência. II Moralidade convencional 3 – expectativas e relacionamentos interpessoais mútuos e conformidade interpessoal Valorização das ações morais que são importantes para a família ou para um grupo signi�cativo. Surge na adolescência, sendo a forma mais comum de raciocínio moral na idade adulta. 4 – sistema e consciência sociais Compreensão de que as ações morais são de�nidas pela sociedade e que devem-se cumprir as regras, com raras exceções. Surge na adolescência, sendo a forma mais comum de raciocínio moral na idade adulta. III Moralidade de princípios ou pós- convencional 5 – contrato ou utilidade social e direitos individuais Capacidade de avaliar que os valores são relativos e que as leis podem ser modi�cáveis, contudo as regras devem ser seguidas objetivando o bem para um maior número de pessoas. Raro, mesmo na idade adulta. 6 – princípios éticos universais Seguem-se princípios éticos que foram escolhidos e internalizados. O adulto é capaz de determinar o que é certo por si mesmo. Raro, mesmo na idade adulta. Fonte: Bee, 2003, p. 393. 6.4 – A LITERATURA E A MORALIDADE: A CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA As histórias infantis estão repletas de signi�cado e de moralidade. Se avaliarmos as histórias mais famosas do mundo, como Chapeuzinho Vermelho, O Patinho Feio, Cinderela, A Bela e a Fera, Peter Pan, Branca de Neve, o Homem Aranha e tantas outras, veremos que elas ensinam algo universal: deve- se fazer o bem, porque mesmo que se passe por provações, o bem é sempre recompensado e o mal é punido. • Cada história traz consigo um mundo cheio de imaginação, mas que pode ter muitos ensinamentos para a vida real. Vejamos algumas delas. Chapeuzinho Vermelho conta a história de uma menina que vai visitar a avó e levar guloseimas para ela, mas que é pega de surpresa pelo lobo mal que a havia seguido e devorado sua avó, entretanto é ajudada por um caçador que abre a barriga do lobo e tira as duas lá de dentro. A moralidade envolvida está em tomar cuidado com as distrações e chamados de estranhos, buscando a autopreservação, mas também pode ter um cunho da perda da inocência. • O Patinho Feio é um clássico que conta a história de um patinho que nasce diferente do seu bando e acaba sofrendo rejeições variadas e se sentindo muito feio, mas, ao crescer e se ver entre iguais, descobre que não é um pato e sim um lindo cisne. A questão retratada é a autoestima e a sensação de pertencimento a um grupo. Em algum momento da vida, o indivíduo sente-se deslocado, como se não �zesse parte de nada, mas isso passa quando se encontra um grupo que compartilhe objetivos e ideias (URBIM, 2008). • Branca de Neve é uma moça jovem que desperta a ira de sua madrasta quando um espelho mágico informa que esta deixou de ser a mulher mais bela do reino. A madrasta passa a perseguir a enteada e chega a se transformar em uma velhinha que lhe oferece uma maçã envenenada, que lhe faz entrar em um sono profundo. No �nal, Branca de Neve é acordada pelo beijo de um príncipe. Esta história trata de algumas questões, tais como: não aceitar nada de estranhos, a inveja que a madrasta tinha da enteada, a transformação da adolescente em mulher, a relação entre bom, belo e bem. • O Homem Aranha conta a história de um jovem que foi picado por uma aranha radioativa e ganhou superpoderes de escalar prédios, de saltar longas distâncias, a partir de uma teia superpoderosa que sai de suas mãos. Seus sentidos de aranha o fazem escolher combater o crime depois que seu tio morre com um tiro de um bandido. A moralidade retratada nessa história envolve a resiliência, ou seja, a capacidade de superar desa�os e enfrentar os problemas de forma positiva, além da busca do bem para a coletividade e o combate do mal. Existem muitas histórias das quais podemos avaliar a moralidade como pano de fundo. A literatura tem ajudado crianças a compreender o que é certo e errado e a partir da identi�cação com o bem, terem comportamento que são aceitos socialmente, buscando contribuir para uma sociedade mais justa na qual o bem prevaleça. A construção daautonomia e da moralidade, como vimos, passa pelas trocas sociais, e os personagens podem ajudar as crianças a se identi�carem com o comportamento que é mais adequado e reforçado socialmente. A tomada de decisão, em prol de uma causa nas histórias, contribui para que as crianças possam desenvolver autonomia, ao perceberem que elas também podem, e até mesmo precisam, fazer escolhas em suas vidas que sejam positivas para elas e para os que as cercam. Capítulo 7 Intervenção Psicopedagógica no Raciocínio Lógico- Matemático Na história da educação matemática, os relatos de descontextualização, fragmentação dos conteúdos e rigidez são constantes. De acordo com os PCNs de Matemática (MEC, 1996, p. 23), a Matemática, como as demais ciências, re�ete as leis sociais e serve de poderoso instrumento para o conhecimento do mundo e domínio da natureza. Neste sentido, é importante que a Matemática desempenhe, equilibrada e indissociavelmente, seu papel na formação de capacidades intelectuais, na estruturação do pensamento, na agilização do raciocínio dedutivo do aluno, na sua aplicação a problemas, situações da vida cotidiana e atividades do mundo do trabalho e no apoio à construção de conhecimentos em outras áreas curriculares. (MEC, 1996, p. 25) Neste sentido, é preciso pensar diferentes estratégias para a aprendizagem da Matemática a �m de contribuir para ampliar as possibilidades do estudante de entendimento do mundo. O papel da atividade lúdica e do brincar e a necessidade de aproximação ao universo da criança, respeitando seus modos de pensar e sua lógica no processo da construção dos conhecimentos, são muito importantes neste processo. Atualmente no Brasil, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o ensino da Matemática é dividido em quatro blocos de conteúdos: Números e Operações, Espaço e Forma, Grandezas e Medidas e Tratamento da informação. No bloco Números e Operações, é desenvolvido o raciocínio lógico na área das operações matemáticas, começando por classi�cação, seriação, adição, subtração, multiplicação e divisão. No bloco Espaço e Forma, o raciocínio lógico é desenvolvido no sentido espacial, com noções de lateralidade (direita e esquerda), em cima, em baixo, na frente, atrás e as formas geométricas. No bloco Grandezas e Medidas, o raciocínio lógico é desenvolvido no sentido de se comparar e compreender tamanhos, medidas e proporções diferentes, como altura, largura, peso, massa etc. No bloco Tratamento da informação, os dados são comparados, agrupados e arrumados de forma que se possam criar tabelas, grá�cos, estabelecendo-se relações entre os elementos e fazendo uma análise e uma leitura comparada dos mesmos. Ao relacionar ideias matemáticas entre si, podem reconhecer princípios gerais, como proporcionalidade, igualdade, composição e inclusão e perceber que processos como o estabelecimento de analogias, indução e dedução estão presentes tanto no trabalho com números e operações como em espaço, forma e medidas. (MEC, 1996, p. 29) Desta forma, torna-se muito importante pensar na aprendizagem matemática e no trabalho psicopedagógico institucional por meio da resolução de problemas. A resolução de problemas é uma orientação para a aprendizagem, pois proporciona o contexto em que se podem apreender conceitos, procedimentos e atitudes matemáticas. A resolução de problemas também é entendida como das muitas competências a serem desenvolvida nos estudantes. Para desenvolvê-la, é necessário que o psicopedagogo institucional possa propor estratégias de estímulo a algumas habilidades, tais como: • elaborar um ou vários procedimentos de resolução (como, por exemplo, realizar simulações, fazer tentativas, formular hipóteses); • comparar seus resultados com os de outros alunos; • validar seus procedimentos. A Resolução de Problemas possibilita fazer o estudante pensar produtivamente. Situações problemas que envolvam, desa�em e motivem a resolução; desenvolver o raciocínio dos estudantes; desenvolver a habilidade de elaborar um raciocínio lógico e fazer uso inteligente e e�caz dos recursos disponíveis, para que eles possam propor boas soluções às questões que surgem em seu dia a dia, na escola ou fora dela. De acordo com o DSM-5, a di�culdade de aprendizagem na Matemática está compreendida dentro do Transtorno Especí�co da Aprendizagem. A CID 10 numera-a como F81.2: Com prejuízo na Matemática: para o senso numérico, memorização de fatos aritméticos, precisão ou �uência de cálculo, precisão no raciocínio matemático. As di�culdades de aprendizagem em Matemática Os critérios, de acordo com o DSM-5, para diagnosticar se o estudante possui transtorno especí�co da Aprendizagem com prejuízo na Matemática são: Critério A: veri�car se o estudante apresenta di�culdades para dominar o senso numérico, fatos numéricos ou cálculo. Por exemplo: “Entende números, sua magnitude e relações de forma insatisfatória”. (DSM-5, 2013, p.66). Veri�car se o estudante apresenta di�culdades no raciocínio. Por exemplo: “Tem grave di�culdade em aplicar conceitos, fatos ou operações matemáticas para solucionar problemas quantitativos” (DSM-5, 2013, p.66). Critério B: as habilidades acadêmicas estão abaixo do esperado para a idade cronológica do estudante, causando interferência signi�cativa no desempenho acadêmico ou pro�ssional ou nas atividades cotidianas, con�rmada por meio de medidas de desempenho padronizadas administradas individualmente e por avaliação clínica abrangente. (DSM-5, 2013, p.66) Critério C: o estudante pode não manifestar uma di�culdade de aprendizagem até que surja uma determinada demanda especí�ca que lhe exija uma maior habilidade acadêmica na área em questão como um teste cronometrado ou uma operação mais complexa. Entretanto, “as di�culdades de aprendizagem se iniciam nos anos escolares” (DSM-5, 2013, p.67). Critério D: “as di�culdades de aprendizagem não podem ser explicadas por de�ciências intelectuais, acuidade visual ou auditiva não corrigida, outros transtornos mentais ou neurológicos” (DSM-5, 2013, p.67). Ainda segundo o DSM-5 (2013, p.67), é necessário especi�car a gravidade atual da di�culdade de aprendizagem em leve, moderada e grave. De acordo com o mesmo manual, Discalculia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de di�culdades caracterizado por problemas no processamento de informações numéricas, aprendizagem de fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou �uentes. (DSM-5, 2013, p. 67) Segundo Garcia (1998, p. 213), a discalculia é classi�cada em seis subtipos, podendo ocorrer em combinações diferentes e com outros transtornos de aprendizagem: Discalculia Verbal – di�culdade para nomear as quantidades matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações. Discalculia Practognóstica – di�culdade para enumerar, comparar e manipular objetos reais ou em imagens matematicamente. Discalculia Léxica – di�culdades na leitura de símbolos matemáticos. Discalculia Grá�ca – di�culdades na escrita de símbolos matemáticos. Discalculia Ideognóstica – di�culdades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos. Discalculia Operacional – di�culdades na execução de operações e cálculos numéricos. Como fazer? A intervenção psicopedagógica institucional objetiva auxiliar os docentes e os estudantes coletivamente a enfrentar as situações de aprendizagem entendendo suas possibilidades e limites e superando-as. Na área das di�culdades de Matemática, a estratégia psicopedagógica institucional visa dar oportunidade de os estudantes se envolverem com as questões e os problemas matemáticos, podendo utilizar as estratégias de resolução de problemas por meio de jogos, da ludicidade, da comparação, de materiais concretos que auxiliam na transição para o pensamento abstrato e para o desenvolvimento de raciocínio lógico, aumentando o número de acertos. A intervenção psicopedagógica auxilia o estudante com estratégias para resolverproblemas. Estratégias que se aplicam a um grande número de situações. A intervenção psicopedagógica deve explorar e desenvolver a criatividade, a criação de estratégias, o raciocínio lógico, a argumentação, a análise e síntese, a comparação, a leitura e interpretação de diferentes situações, entre outras habilidades para estimular o desenvolvimento do senso numérico, da memorização de fatos aritméticos, da precisão ou �uência de cálculo e da precisão no raciocínio matemático. O trabalho psicopedagógico institucional para o estímulo das habilidades matemáticas em parceria com os docentes da instituição pode se dar da seguinte forma: → a) jogos com materiais não estruturados – materiais que não possuem uma estrutura preestabelecida. Exemplo: tampinhas de garrafas, palitos de picolé, canudinhos etc.; → b) jogos com materiais estruturados – materiais que possuem uma estrutura preestabelecida. Material dourado, jogo de dama, jogo de xadrez, jogo de ludo, pega-varetas etc. De acordo com os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais. VOL 3, 1996, P 35-36), os jogos e brincadeiras que envolvem tempo, raciocínio, atenção, percepção e memória nos trazem um grande número de possibilidades de tornar o processo de desenvolvimento do raciocínio lógico e a interiorização da Matemática signi�cativo para as crianças, estimulando-as a superar suas di�culdades nesta área. Dessa forma, o jogo é uma atividade natural, pois, durante o mesmo, não há obrigação externa e imposta, entretanto existem certas normas, regras e controle, o que auxilia no desenvolvimento emocional e cognitivo. O jogo propicia o aprender a ganhar e a perder e a interiorizar regras. → No jogo, mediante a articulação entre o conhecido e o imaginado, desenvolve-se o autoconhecimento — até onde se pode chegar — e o conhecimento dos outros — o que se pode esperar e em que circunstâncias. → Os jogos com regras possibilitam ao estudante perceber que só pode jogar em função da jogada do outro (ou da jogada anterior, se o jogo for solitário). Os jogos com regras têm um aspecto importante, pois neles o fazer e o compreender constituem faces de uma mesma moeda. Auxiliam na conquista cognitiva, emocional, moral e social e estimulam o desenvolvimento do raciocínio lógico. Trabalhado de forma adequada, além dos conceitos, o jogo possibilita aos alunos desenvolver a capacidade de organização, análise, re�exão e argumentação, uma série de atitudes, tais como: aprender a ganhar e a lidar com o perder, aprender a trabalhar em equipe, respeitar regras, entre outras. (Brasil, 2014.b, p. 5) Sugestões de jogos: 1) Material Dourado Objetivos: efetuar a adição, desenvolver a noção de unidade, dezena e centena; fazer agrupamentos. Prática: dois participantes. Cada um na sua vez: jogar os dados, somar os pontos dos dois dados e pegar o número de cubinhos do material dourado correspondente ao número de pontos somados nos dados. Ceder a vez para o adversário. Ele fará a mesma coisa e assim sucessivamente. Quando alguém atingir dez cubinhos, deverá trocar por uma barra (uma dezena). Quando atingir dez barras, deverá trocar pela placa (uma centena). Ganha quem conseguir trocar pela placa primeiro. Recursos: dois dados comuns, material dourado. 2) “Pintando o Sete” (Extraído do caderno de jogos do PNAIC – Brasil, 2014.b, p. 39) Objetivo: o psicopedagogo pode problematizar o porquê do tabuleiro não possuir o número 1. Isso ocorre porque é impossível obter o número 1 com a soma de dois dados. A discussão sobre esta simples característica já é um aprendizado importante. Estimular a aprendizagem: resolver adições; analisar as possibilidades de soma 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12 no lançamento de dois dados. Prática: solicitar que se cubram os números de acordo com a soma de dois dados comuns. O primeiro jogador lança os dois dados, soma os pontos obtidos e risca esse número na sua folha. Se o total for sete, deverá pintar um dos setes da sua folha. Os próximos jogadores deverão fazer o mesmo. Caso o jogador obtenha, em uma jogada, um total que já foi riscado, deverá passar a vez. O jogador que pintar todos os “setes” sai do jogo. Ganha o jogo quem primeiro conseguir riscar todos os números. Participam de três a quatro jogadores. Recursos: dois dados numerados de um a seis, lápis de cor, uma folha com os números um a doze (exceto o sete) para cada jogador, uma folha com os “setes” para cada jogador. 3) Viagem à Lua (Extraído do caderno de jogos do PNAIC – Brasil, 2014.b, p. 37) Objetivos: identi�car o zero como ponto de partida e calcular dobros e metades. Prática: cada jogador posiciona seu marcador na casa de número 0. Quem começa o jogo deve lançar o dado e andar com o marcador na trilha da seguinte maneira: • se tirar no dado um número ímpar, dobra-se o valor e avança o resultado obtido; • se tirar no dado um número par, calcula-se a metade do valor e avança o resultado obtido. O jogador deve seguir as instruções das casas especiais, caso seu marcador pare em uma delas. Vence quem chegar primeiro à casa de número 50. Participam de dois a quatro jogadores. Recursos: trilha numerada de 1 a 50, um dado com os números 1, 3, 5, 8, 10 e 12, marcadores (um para cada jogador). 4) Dominó Geométrico (Extraído do caderno de jogos do PNAIC – Brasil, 2014.b, p. 59) Objetivos: estabelecer comparações entre representações bidimensionais de objetos do espaço físico e representações bidimensionais de objetos geométricos espaciais. Prática: as cartas do dominó devem ser embaralhadas e distribuídas igualmente entre os jogadores. Caso se opte por quatro jogadores, a peça que sobrar deverá ser colocada sobre a mesa. Um dos jogadores inicia a partida, escolhendo uma de suas cartas. Os demais colocam as peças de modo a associar corretamente o modelo geométrico aos objetos. Se um jogador não tiver a peça indicada, ele deverá passar a vez. Vence o jogador que utilizar primeiro todas as suas cartas. Participam de três a quatro jogadores. Recursos: 21 cartas (peças de dominó). 5) Equilíbrio Geométrico (Extraído do caderno de jogos do PNAIC – Brasil, 2014.b, p. 61) Objetivos: reconhecer as �guras geométricas; desenvolver percepções corporais; desenvolver a lateralidade e as noções de espaço, estabelecendo estratégias na utilização de representações. Prática: as crianças devem estar descalças para facilitar o próprio equilíbrio e com vestimentas que permitam a �exibilidade do corpo. Para iniciar o jogo, decidir quem será o juiz e os primeiros a jogar. O juiz é quem deve lançar os dados. Cada jogador escolhe uma ponta do tapete para iniciar a jogada. O juiz lança o primeiro dado (tetraedro – cor azul) para veri�car qual será a orientação para movimentar o corpo. Neste caso, a parte do dado que cai virada para baixo é a sorteada. O juiz levanta o dado e lê a parte do corpo que o jogador deve posicionar sobre o tapete (mão direita, mão esquerda, pé direito ou pé esquerdo). Somente uma mão ou um pé podem ocupar uma das �guras, sendo uma de cada vez. O jogador deve mover os pés e as mãos conforme a indicação dos dados, sem perder o equilíbrio ou cair. Em seguida, o juiz joga o dado de cor laranja (cubo), cuja parte virada para cima que indica a �gura sobre a qual o jogador deverá posicionar a parte do corpo sorteada no primeiro dado. Uma vez que as mãos e os pés estejam sobre as �guras, eles não poderão ser movidos ou levantados. O juiz joga novamente os dois dados para dar o comando ao novo jogador. O primeiro jogador deverá permanecer no tapete. Se os dados indicarem uma posição em que o jogador já esteja, ele deverá mover-se somente para outra �gura com o mesmo formato. Quando um jogador não consegue equilibrar-se ou deixa qualquer parte do corpo que não seja mão ou pé tocar o tapete, ele sai do jogo. O último jogador que �car no tapete conforme as regras é o vencedor do jogo. Participam de dois a três jogadores. Recursos: um tapete contendo círculos, quadrados,retângulos e triângulos (pode-se pintar um tapete ou mesmo colar as �guras geométricas no chão), um dado azul (tetraedro) com orientações corporais: mão direita, mão esquerda, pé direito, pé esquerdo (a face sorteada é aquela virada para baixo), um dado laranja (cubo) com os nomes das �guras geométricas: triângulo, quadrado, círculo, retângulo e dois espaços de perde a vez. 6) Mancala – jogo de domínio público O jogo é tipicamente composto por um tabuleiro, construído dos mais variados materiais, com uma série de cavidades distribuídas em �leiras, geralmente duas ou quatro. A movimentação das peças tem um sentido de “semeadura” e “colheita”. Cada jogador é obrigado a recolher sementes (que, neste momento, não pertencem a nenhum dos jogadores), e com elas semeá-las suas casas do tabuleiro, mas também as casas do adversário. Seguindo as regras, em dado momento, o jogador faz a “colheita” de sementes, que passam a ser suas. Ganha quem mais sementes tiver no �nal do jogo. É um jogo em que não há sorte envolvida, mas exclusivamente raciocínio lógico e matemático. Objetivo: estimular e desenvolver a estratégia e a contagem. Prática: são jogados por duas pessoas, uma em frente da outra, com o tabuleiro longitudinalmente colocados entre elas. Antes de começar o jogo, o mesmo número de sementes é distribuído em cada uma das cavidades do tabuleiro. Os jogadores se alternam para jogar, distribuindo as sementes da cavidade escolhida, uma a uma, no sentido anti-horário, nas cavidades subsequentes. Sempre há captura de sementes, sendo a forma de captura diferente, dependendo do jogo em questão. A partida termina quando restam muito poucas sementes para o jogo continuar ou quando resta apenas uma semente em cada lado. Ganha quem tem o maior número de sementes. As estratégias do jogo envolvem movimentos calculados, que exigem muita concentração, antecipação e esforço intelectual. Participam dois ou mais jogadores. Recursos: tabuleiro com cavidades e sementes ou bolinhas de gude. Capítulo 8 Psicopedagogia Comunitária, Violência e Sociedade Os atos de violência, de certa maneira, afetam toda a sociedade, seja como agressor, como vítima, ou até espectador. Tais ações marcam, deixam cicatrizes, são imperceptíveis a curto prazo e, dependendo do nível e da intensidade da experiência, causam frustrações e comportamentos desajustados, gerando, até mesmo, atitudes sociopatas. Percebe-se que, na televisão e nos telejornais, estão estampados todos os dias vários casos de violência. Na Internet, os sites de notícia estão cheios de acontecimentos que envolvem a violência. Então, questionamo-nos em qual mundo vivemos, já que, a todo o momento, somos surpreendidos por fatos marcantes que mostram a violência dentro de casa, nas ruas e em todos os lugares. Podemos pensar que na escola nossos �lhos estão seguros, um ambiente em que eles aprendem o respeito mútuo, e a valorização do ser humano. A violência doméstica tem afetado de forma avassaladora as nossas crianças, principalmente o seu desenvolvimento escolar e emocional, criando uma geração muito propensa à violência social. Diferentes tipos de violência contra crianças e adolescentes vêm sendo cometidos em seus próprios lares, onde deveriam desfrutar de condições propícias ao seu bom desenvolvimento socioemocional. Alguns fatores desta violência são: o alcoolismo, a dependência química, a pedo�lia, os desajustes emocionais e a ausência de regras familiares. Atualmente a violência manifesta-se de diversas formas, envolvendo pessoas agressoras e vítimas de idade, sexo, classe social, raça, religião e nacionalidade também diversas. A violência ocorre dentro da família, contra crianças, jovens, mulheres, idosos e pessoas com necessidades especiais, e, também, dentro da escola. TIPOS DE VIOLÊNCIA Violência física Ação ou omissão que coloque em risco ou cause dano à integridade física de uma pessoa. Violência psicológica Ação ou omissão destinada a degradar ou controlar as ações, os comportamentos, as crenças e as decisões de outra pessoa por meio de intimidação, manipulação, ameaça direta ou indireta, humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à saúde psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal. Violência Ação destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a moral reputação da mulher. Violência sexual Ação que obriga uma pessoa a manter contato sexual, físico ou verbal, ou a participar de outras relações sexuais com uso da força, intimidação, coerção, chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule ou limite a vontade pessoal. Considera-se como violência sexual também o fato de o agressor obrigar a vítima a realizar alguns desses atos com terceiros. Violência intrafamiliar Acontece dentro de casa ou unidade doméstica e geralmente é praticada por um membro da família que viva com a vítima. As agressões domésticas incluem: o abuso físico, sexual e psicológico, a negligência e o abandono. Violência institucional Tipo de violência motivada por desigualdades (de gênero, étnico-raciais, econômicas etc.). Predominantes em diferentes sociedades. Essas desigualdades se formalizam e institucionalizam nas diferentes organizações privadas e aparelhos estatais, bem como nos diferentes grupos que constituem essas sociedades. Violência patrimonial Ato de violência que implique dano, perda, subtração, destruição ou retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores. Violência social Relacionada ao desemprego, à falta de saúde, à falta de educação, à corrupção, aos baixos salários, à fome, à miséria, à in�ação, à falta de habitação, ao quadro de desigualdade social, à falta de projetos econômicos de crescimento e à falta de segurança que, somados, acarretam a violência estrutural e social que rodeia a população brasileira e mundial. Segundo a constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988, art. 227), é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. O artigo 5º do Título I das disposições preliminares do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) anuncia que nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ocasião ou omissão, aos seus direitos fundamentais. O abuso de poder pode levar o adulto a ser violento com seus próprios �lhos, comprometendo os mesmos em seu desenvolvimento cognitivo, interferindo negativamente nas suas produções, na concentração mental, interação e integração com seus colegas, pois a criança se sente como alguém incapaz de expor seus sentimentos. Outras vezes, torna-se uma criança agressiva que não sabe receber afeto, mas só bater, porque foi isso que aprendeu em sua casa. Há, portanto, dimensões da violência que parecem “invisíveis”, pois não as reconhecemos como violência, pode passar como natural, fruto da fatalidade ou destino, como a discriminação contra as pessoas por nacionalidade, origem regional, opção sexual e raça, mas, na verdade, não é. Os valores morais, tais como: o respeito, a fraternidade, a amizade, a compreensão, a ética e o amor, devem ser resgatados pela família e pelos pro�ssionais da escola. É preciso falar de virtudes, generosidade, humildade, coragem, justiça, honestidade, respeito público. Cabe à família a tarefa de estruturar o sujeito em sua identi�cação, individualização e autonomia. Isso vai acontecendo à medida que a criança vive o seu dia a dia inserido em um grupo de pessoas que lhe dá carinho, apresenta o funcionamento do mundo, oferece suporte materialpara suas necessidades, conta histórias, fala sobre coisas e fatos, conversa sobre o que sentem e pensam, ensina a arte da convivência. Cada família tem seus hábitos, suas crenças, seus mitos e medos, sua ideologia e seus objetivos. Cabe à escola auxiliar no desenvolvimento dos valores morais e éticos e no resgate da autoestima da criança. Para isso, é preciso criar estratégias diferenciadas como Escola de Pais, grupos de pais ou similares que apoiem e criem estratégias para a educação das crianças e dos jovens. Sabe-se que o psicopedagogo institucional deve estar atento às questões que possam vir a afetar os grupos sociais, investigando e procurando possíveis formas de sanar ou amenizar os problemas trazidos pelas demandas escolares. Segundo Bossa (1994, p. 11), a Psicopedagogia permite que se estude: [...] as características da aprendizagem humana, como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. A compreensão do aluno, portanto, signi�ca partir das condições reais de sua existência, seus limites, suas habilidades, suas atitudes, sua cultura, sua forma de ler o mundo e a si próprio, suas possibilidades, sua conduta etc., en�m, tudo o que determina sua vida. Observa-se que existe uma demanda de crianças e adolescente que sofrem esse tipo de assédio, e é comum as mães ou as próprias vítimas chegarem à Direção da escola se queixando desse tipo de prática no ambiente escolar. Essas agressões entre alunos, físicas ou morais, trazem consequências sérias, tanto para quem as comete como para suas vítimas. Sabe-se que uma escola de qualidade deve ser: democrática, participativa e comunitária, como espaço de socialização e desenvolvimento do educando, visando também prepará-lo para o exercício da cidadania por meio da prática e cumprimento de direitos e deveres. A escola apresenta-se como uma porta de entrada comunitária, além de seu papel pedagógico, formador e de socialização, ela é portadora dos con�itos, dos limites, das esperanças e das possibilidades sociais. A escola recebe e expressa as contradições da sociedade. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à pro�ssionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Constituição Federal de 1988, art. 227) O comportamento agressivo ou violento nas escolas é, hoje, um dos fenômenos social mais complexo e difícil de compreender, por afetar a sociedade como um todo, atingindo diretamente as crianças de todas as idades, em todas as escolas do país e do mundo. Sabemos ser o fenômeno resultante de inúmeros fatores, tanto externos como internos à escola, caracterizados pelos tipos de interações sociais, familiares, socioeducacional e pelas expressões comportamentais agressivas manifestadas nas relações interpessoais. Fante (2005, p. 67) a�rma que o bullying ocorre com maior frequência na sala de aula e, assim, há uma preocupação com a �gura do professor em seu ambiente de atuação, pois os alunos, muitas vezes, desrespeitam sua presença, promovendo um ambiente de insegurança, com con�itos constantes, no qual até o professor acaba tornando-se vítima do bullying. Segundo Bossa (1994, p.23), cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem. A questão da violência tem uma ligação muito grande com a realidade das consequências da violência e, acerca disso, temos em muitos adventos na mídia de atos de violência gerados a partir de ofensas, problemas psicológicos gerados na infância e que vêm se concretizar em atos realizados por vítimas na fase adulta. A violência é um fenômeno complexo que refere-se a uma conduta de abuso e poder, muitas vezes invisível e/ou encoberta, que envolve situações de força e tensão, assimetria e desigualdade social, danosas para a constituição do indivíduo e da sociedade. As estratégias psicopedagógicas institucionais para a violência Reuniões Inicialmente devem ser feitas reuniões com professores e pais de alunos da comunidade com o objetivo de orientá-los para que reconheçam que a violência requer medidas urgentes para a sua contenção. O�cinas Devem ser desenvolvidas a partir dos professores, de acordo com a realidade apresentada. A proposta inicial é serem utilizadas o�cinas temáticas, a �m de levar à discussão e re�exão fomentadas. Filmes Exibição de �lme sobre a temática. Dinâmicas de grupo Dinâmicas de grupo de sensibilização e conscientização sobre o tema. Debates Promover debates sobre as várias formas de violência, respeito mútuo e a afetividade, tendo como foco as relações humanas. Weiss (2004) a�rma que a Psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores. Neste sentido, o psicopedagogo deve oferecer instrumentos de intervenção e prevenção capazes de reduzir o fenômeno e minimizar seus efetivos negativos. A prática tem como intuito desenvolver a importância da cooperação, a não violência, o respeito pelos direitos humanos e pela democracia. O intuito é procurar fazer com que as crianças, os adolescentes e a comunidade no geral possam conscientizar-se de que esse con�ito relacional já é considerado um problema de saúde pública. Sendo assim, é preciso desenvolver um olhar mais observador tanto dos professores quanto dos demais pro�ssionais ligados ao espaço escolar. É perceptível a importância de atentar a comunidade para sinais de violência, procurando neutralizar os agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em principais aliados. Além disso, nota-se a importância de se tomarem algumas iniciativas preventivas do tipo: aumentar a supervisão na hora do recreio e intervalo, evitar em sala de aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por qualquer que seja o motivo. O intuito das ações preventivas e interventivas é estimular o exercício da solidariedade e da cidadania, mobilizando pessoas, grupos, instituições em prol do bem-estar da comunidade, levando os jovens a re�etirem a respeito da questão da violência e das suas consequências aos grupos sociais. O psicopedagogo e a escola podem estimular os alunos em parceria com a comunidade a fazerem pesquisas sobre o tema “Violência” e levar informações à comunidade por meio de dinâmicas, �lmes, peças teatrais e reuniões de grupos. São atividades que se comprometem com a defesa dos direitos sociais, cidadania, justiça e liberdade, com o repúdio a todas as formas de preconceito. Tal interferência, portanto, se baseia fundamentalmente na defesa dos direitos sociais. Em sua ação, o psicopedagogo institucional não deve perder de vista o educando como aquele que constrói sua relação com a aprendizagem. A percepção da di�culdade de aprendizagem derivada dos atos de violência faz com que o grupo, a instituição, a comunidade e a cultura se mobilizem para expelir aquele que pode estar representando um corpo estranho, capaz de ameaçar o funcionamento do todo. Há uma complexidadede fatores que interferem no processo de aprendizagem, surgindo a necessidade de tentar novos rumos, buscando alternativas viáveis de ação. A falta de preparo da escola e dos educadores em lidar com o processo de aprendizagem gera consequências como diagnósticos imprecisos e demorados que trazem prejuízos dolorosos, uma vez que a criança passa a ser rotulada e vista como “aluno problema”. Isso implica a necessidade de uma prática que busque contribuir para melhor compreensão desse processo. O psicopedagogo, portanto, deve contribuir com ações que tornem a educação uma prática de inclusão social, de formação da cidadania e emancipação dos sujeitos sociais, trabalhando diretamente com problemáticas de violência na sociedade e na educação, com a oportunidade de possibilitar as pessoas que se tornem conscientes e sujeitas de sua própria história. Capítulo 9 Psicopedagogia no Trabalho: diagnóstico e intervenção institucional A Psicopedagogia é um campo do conhecimento que faz interlocução com as áreas da educação e da saúde e possui como objeto de estudo a aprendizagem humana. Trata-se de um campo de estudo que se utiliza dos conhecimentos de diversas áreas, a saber: da Psicologia, da Pedagogia, da Psicanálise, da Medicina, da Linguística, da Semiótica, da Neuropsicologia, da Psico�siologia e da Filoso�a humanista-existencial. O campo de atuação da Psicopedagogia está se ampliando, pois o que inicialmente caracterizava-se somente no aspecto clínico, hoje pode ser aplicado no segmento escolar, conhecida como Institucional, em segmentos hospitalares, empresariais e em organizações que aconteçam a gestão de pessoas. O aspecto institucional acontecerá em organizações e está mais voltado para a prevenção dos insucessos interpessoais e de aprendizagem e à manutenção de um ambiente harmonioso, se bem que, muitas vezes, deve-se considerar a prática terapêutica nas organizações como necessária. Neste contexto, a empresa passa a ser, portanto, o vínculo de ensino e aprendizagem com seus funcionários, formando, em sua individualidade, seres que constroem conhecimentos a partir da realidade da organização com o meio grupal onde está inserido utilizando as práticas para resolução de problemas do cotidiano da organização. A Psicopedagogia Institucional exige do pro�ssional um profundo conhecimento do funcionamento de grupos, do histórico e da cultura da organização, bem como o desenvolvimento administrativo, um equilíbrio emocional e um código de ética pro�ssional muito bem elaborado e digerido, pois trabalhar com grupos é estar permanentemente administrando con�itos. É cada vez mais comum a atuação de psicopedagogos em instituições não escolares, como empresas de Recursos Humanos, empresas que empregam muitos funcionários, hospitais etc. O objetivo do trabalho psicopedagógico em instituições não escolares consiste em: - diagnosticar os problemas da empresa no que tange à aprendizagem, comunicação e produtividade; - desenvolver um plano de trabalho visando à formação continuada dos funcionários; à melhoria da comunicação entre os mesmos; à melhoria da produtividade de acordo com a melhoria da percepção, da atenção e da memória. As funções do psicopedagogo na empresa Ampliar formas de treinamento, resgatando a visão do todo. Avaliar ações referentes à aprendizagem do sujeito no contexto grupal. Resgatar as múltiplas inteligências, promovendo os conhecimentos de cada funcionário, somá-los e criar um ambiente completo. Trabalhar a criatividade e os diferentes caminhos para buscar saídas, desenvolvendo a imaginação. Possibilitar uma saudável relação interpessoal, respeitando as diferenças. Atuar, junto com o pro�ssional de RH, avaliando a aprendizagem, favorecendo a qualidade nos processos de recrutamento, seleção e organização de pessoal. Elaborar manuais e informativos. Criar programas de satisfação do cliente. Favorecer mudanças de atitudes, ressaltando a importância de ouvir o outro, uma vez que cada pessoa pode contribuir na solução de problemas na empresa. Neste sentido, as funções de um psicopedagogo institucional são de fomentar e avaliar ações quanto à aprendizagem do indivíduo no contexto grupal, facilitando a construção e o compartilhamento do conhecimento coletivo, incentivando novas formas de relacionamentos, criando harmonia entre gestores e colaboradores, podendo atuar junto com o pro�ssional de RH, assumindo um papel importante, avaliando e controlando a aprendizagem, favorecendo a qualidade nos processos de recrutamento, seleção e organização de pessoal, bem como levantando o diagnóstico organizacional, dando subsídios signi�cativos e per�s especí�cos, estabelecendo princípios didáticos aos treinamentos. São utilizadas possibilidades criativas e e�cazes por meio da re�exão grupal e, assim, conseguir uma real transformação do indivíduo, e isso é aprendizagem. É importante destacar que a Psicopedagogia é uma área multidisciplinar, ela, por si só, não atua, dependendo sempre de outras áreas de atuação e trabalhando em parceria com outros pro�ssionais da organização. 9.1 - ÉTICA PROFISSIONAL Os psicopedagogos devem seguir certos princípios éticos que estão condensados no Código de Ética, devidamente aprovado pela Associação Brasileira de Psicopedagogia em 2011 e disponível em http://www.abpp.com.br/codigo-de-etica-do-psicopedagogo. O Código de Ética regulamenta algumas situações, tais como: os princípios da Psicopedagogia; as responsabilidades dos psicopedagogos; as relações com outras pro�ssões; o sigilo; as publicações cientí�cas; a publicidade pro�ssional; os honorários; as relações com a educação e saúde; a observância e o cumprimento do código de ética, entre outras. 9.2 - O PSICOPEDAGOGO NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR Para a Psicopedagogia, é fundamental que o pro�ssional faça uso do trabalho interdisciplinar, pois os conhecimentos especí�cos das diversas teorias contribuem para o resultado e�ciente da intervenção ou prevenção psicopedagógica. Por exemplo, a Psicanálise pode fornecer embasamento para compreender o mundo inconsciente do sujeito; a Psicologia Genética proporciona condições para analisar o desenvolvimento cognitivo do sujeito; a Psicologia possibilita compreender o mundo físico e psíquico do sujeito; a Linguística permite entender o processo de aquisição da linguagem, tanto oral quanto escrita. A escola é responsável por grande parte da formação do ser humano, e o trabalho do psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com esta �nalidade e em decorrência do grande número de crianças com di�culdades de aprendizagem e de outros desa�os que englobam a família e a escola, a intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições de ensino. De acordo com Neide de Aquino Noffs (1995), o psicopedagogo pode desempenhar várias atividades, tais como: administrar ansiedades e con�itos, trabalhar com grupos (grupo escolar é uma unidade em funcionamento), identi�car sintomas de di�culdades no processo ensino-aprendizagem, organizar projetos de prevenção, clarear papéis e tarefas nos grupos, ocupar um papel no grupo, criar estratégias para o exercício da autonomia (aqui entendida, segundo a teoria de Piaget, como cooperação e respeito mútuo), fazer a mediação entre os subgrupos envolvidos na relação de ensino e aprendizagem (pais, professores, alunos, funcionários), criar espaços de escuta, levantar hipóteses, observar, entrevistar e fazer devolutivas, utilizar-se de metodologia clínica e pedagógica, “olhar clínico”, estabelecer um vínculo psicopedagógico, não fazer avaliação psicopedagógica clínica individual dentro da instituição escolar, porém pode fazer sondagens, fazer encaminhamentos e orientações e compor a equipe técnica-pedagógica. A Psicopedagogia Institucional tem um papel crucial na ação preventiva, pois a criança e o adolescente que não sãoentendidos em suas di�culdades iniciais poderão bloquear a aprendizagem e possivelmente necessitarão de atendimento clínico. No nível preventivo, segundo Bossa (1994), a Psicopedagogia tenta detectar perturbações no processo ensino-aprendizagem, conhecer a dinâmica da instituição educativa, orientar a instituição quanto à metodologia de ensino utilizada. Isto é feito por meio de orientação de estudos e apropriação dos conteúdos escolares. O campo de atuação do psicopedagogo é a aprendizagem, sua intervenção é preventiva e curativa, pois se dispõe a detectar problemas de aprendizagem e “resolvê-los”, também, preveni-los evitando que surjam outros. Bossa (1994) enfatiza que a função do psicopedagogo é detectar possíveis problemas no processo ensino-aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, objetivando favorecer processos de integração e trocas; promover; realizar orientações metodológicas para o processo ensino-aprendizagem, considerando as características do indivíduo ou grupo; colocar em prática processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional em grupo ou individual. É possível perceber que a Psicopedagogia também tem papel importante em um novo momento educacional que é a inserção e manutenção dos alunos com necessidades educativas especiais (NEE) no Ensino Regular, comumente chamada inclusão. Entende-se que colocar o aluno com NEE em sala de aula e não criar estratégias para a sua permanência e sucesso escolar inviabiliza todo o movimento nas escolas. Faz-se premente a necessidade de um acompanhamento e estimulação dos alunos com NEE para que as suas aprendizagens sejam efetivas. 9.3 - FUNDAMENTOS DE UM DIAGNÓSTICO ESCOLAR Um diagnóstico psicopedagógico engloba o professor, o aluno e o conhecimento contextualizado na escola, especi�camente na sala de aula, lugar onde se constatam e se priorizam as aprendizagens sistemáticas, tendo como pano de fundo a instituição escolar. Os fundamentos de um diagnóstico também revelam um tempo, um lugar e um espaço que é dado para aquele que aprende e para aquele que ensina. Consideramos o aluno como um sujeito que elabora o seu conhecimento e sua evolução pessoal a partir da atribuição de um sentido próprio e genuíno às situações que vivem e com as quais aprende. Já o lugar do professor é o lugar daquele que gerencia o processo da aprendizagem. Sua principal ação é mediar o objeto do conhecimento. É necessário também compreender os processos educativos, curriculares, os aspectos organizacional, estrutural e funcional, bem como todos os elementos envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Neste sentido, a Psicopedagogia institucional, segundo Porto, [...] está vinculada a uma concepção crítica da Psicopedagogia e, consequentemente, da educação, que muito tem a contribuir com as situações de não aprendizagem na escola e com sua consequente superação. Desta forma, a ação do psicopedagogo está centrada na prevenção do fracasso e das di�culdades escolares, não só do aluno como também dos educadores e demais envolvidos neste processo. Para tanto, é necessário que a intervenção psicopedagógica invista na melhoria das relações de aprendizagem e na construção da autonomia não só dos alunos, mas, principalmente, dos educadores. A construção da autonomia do professor [educador], a postura crítica em relação a sua ação pedagógica e o desenvolvimento da autoria de pensamento pode acontecer pela intervenção psicopedagógica na escola. (2006. p.116) E teria como objetivo: [...] auxiliar o resgate da instituição com o saber e, portanto, com a possibilidade de aprender. A re�exão sobre o individual e o coletivo traz a possibilidade da tomada de consciência e da inovação por meio da criação de novos espaços de relação com a aprendizagem. (2006. p.116) O diagnóstico psicopedagógico na escola visa compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que já estão instalados ou que podem vir a surgir. Neste sentido, o psicopedagogo preocupa-se especialmente com a tríade: estudante – família – escola, que é pouco explorada e há muito que fazer, pois uma parte da aprendizagem ocorre dentro da instituição, na relação com o professor, com o conteúdo e com o grupo social escolar como um todo; outra parte ocorre no seio familiar. O que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e expectativas com relação ao desenvolvimento de seu �lho também são de grande importância para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico. Na visão de Fagali (2002, p. 10), ... trabalhar as questões pertinentes às relações vinculares professor- aluno e rede�nir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e o cognitivo, através da aprendizagem dos conceitos, nas diferentes áreas do conhecimento. O psicopedagogo, então, pode trabalhar os elementos que envolvem a aprendizagem de maneira que os vínculos estabelecidos sejam sempre bons. A relação entre sujeito e objeto deverá ser construída positivamente para que o processo ensino-aprendizagem seja de maneira saudável e prazerosa. DIAGNÓSTICO Observação na sala de aula Observar o trabalho do docente e a dinâmica de aprendizagem da turma, visando auxiliar e promover estratégias junto com o docente para minimizar as questões e demandas dos alunos. Reuniões com os docentes Sensibilizar os docentes para a mudança e elaborar estratégias em conjunto para a melhoria de seu trabalho, da sua relação com o aluno e das metodologias utilizadas. Atividades coletivas com os alunos Desenvolvimento de atividades que possibilitem veri�car como se dá a aprendizagem dos alunos de uma turma, por meio de jogos e dinâmicas. Atividades coletivas com os docentes Diagnosticar as questões relativas à relação entre professor e aluno, à prática pedagógica e à estrutura curricular. Atividades com os pais/responsáveis Criar estratégias para perceber e diagnosticar se os problemas familiares estão interferindo na aprendizagem do aluno. Orientação vocacional Diagnosticar as dúvidas quanto às habilidades e competências que mais se destacam e quais áreas os alunos podem estar mais vocacionados. O trabalho psicopedagógico de assistência aos professores e a outros pro�ssionais da instituição escolar é muito importante para a melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos problemas de aprendizagem. Nesta fase do diagnóstico, o psicopedagogo irá avaliar a turma, os alunos e identi�car os problemas de aprendizagem, buscando conhecê-lo em seus potenciais construtivos e em suas di�culdades, encaminhando-os, por meio de um relatório, quando necessário, para outros pro�ssionais – psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista etc. – que realizam diagnóstico especializado e exames complementares com o intuito de favorecer o desenvolvimento da potencialização humana no processo de aquisição do saber. 9.4 - INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA ESCOLAR A intervenção psicopedagógica vem da necessidade da construção de um olhar psicopedagógico especí�co voltado ao grupo de educadores. Os mesmos possuem inúmeras práticas, porém pode lhes faltar momentos de análise das mesmas para perceber a qualidade de sua atuação e o envolvimento com a aprendizagem dos educandos. A Psicopedagogia Institucional pode colaborar em sua perspectiva preventiva favorecendo com o resgate das concepções e estratégias metodológicas utilizadas com vistas à diminuição da frequência dos problemas de aprendizagem apresentados pelos educandos. Por meio de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem em espaços institucionais. Juntamente com toda a equipe escolar, ele está mobilizado na construção de um espaço adequado às condições de aprendizagem de forma a evitar comprometimentos. Elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de facilitare/ou desobstruir tal processo. INTERVENÇÃO Reuniões com os docentes Conversar com os professores e elaborar atividades em grupo e de formação continuada para os pro�ssionais da educação. Elaboração de projetos. Atividades coletivas com os alunos Utilizar jogos, dinâmicas de grupo que visem à integração dos interesses, do raciocínio e das informações que fazem com que o estudante atue operativamente nos diferentes níveis de escolaridade. Atividades coletivas com os docentes Reelaborar estratégias acerca das questões relativas à relação entre professor e aluno, à prática pedagógica e à estrutura curricular. Sensibilização dos docentes por meio de dinâmicas e jogos. Atividades com os pais/responsáveis Participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a �m de favorecer o processo de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos. Orientação vocacional Realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo. O psicopedagogo institucional busca prevenir os problemas de aprendizagem, em vez de remediá-los, por meio da busca de diversos serviços escolares dos quais os alunos podem ser encaminhados a participar, na medida do possível, do ambiente familiar e social em que eles vivem, auxiliando o aluno a desenvolver o máximo de suas potencialidades. O trabalho do psicopedagogo na instituição escolar se cumpre quando ele consegue investigar, diagnosticar e ampliar a compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem de determinado aluno. Desta forma, abre espaço para que a escola viabilize recursos para atender às necessidades de aprendizagem. Para isso, deve analisar quais as propostas de ensino da instituição e o que é valorizado como aprendizagem. Desta forma, o fazer psicopedagógico se transforma, podendo se tornar uma ferramenta poderosa no auxílio de aprendizagem. Weiss (1994) sugere que a equipe escolar deva se organizar em grupos operativos para vivenciar o aprender a aprender. No grupo operativo, cada professor poderá verbalizar os sentimentos que vivenciou enquanto aluno relacionando-os com sua situação enquanto professor. Isso fará com que ele re�ita sobre seu papel de educador. Nesse sentido, o papel do psicopedagogo é fundamental, pois irá avaliar a conduta dos professores, dos estudantes e da família. Capítulo 10 Orientação Familiar e Escolar Ser pai e mãe, em um mundo tão repleto de informações positivas e negativas, implica desenvolver habilidades distintas, tais como: cuidar incondicionalmente de um outro ser que tem dependência total desde os primeiros meses de vida até o desenvolvimento da autonomia; ter uma �exibilidade que possa facilitar um extremo de empatia com a criança, que ainda não conhece regras nem está familiarizada com o mundo em que vivemos; saber gerenciar as emoções e a própria vida sem perder-se em meio a um turbilhão de informações e necessidades do(s) �lho(s). Com todo o desenvolvimento tecnológico que temos, ser pai e mãe, hoje em dia, é uma escolha – que deve ser pensada e avaliada porque envolve diversos fatores, que vão desde a capacidade de abrir mão de determinados aspectos da vida, em um dado momento, para cuidar de um outro ser até a avaliação das condições do ambiente, da vida �nanceira, da capacidade de se doar. Uma criança exige atenção, cuidados e investimento de tempo com qualidade para que possa crescer saudável, cercada de amor e carinho. Os estímulos oferecidos na primeira infância são essenciais para o desenvolvimento cognitivo-afetivo, que vai formar a base para uma aprendizagem saudável. Os pais são os principais responsáveis pela educação dos �lhos e devem oferecer exemplos, apresentar as regras sociais, ensinar valores que permitam a convivência em grupo, além de serem mediadores entre a criança e o mundo que vai se descortinando para ela aos poucos, conforme sua capacidade de compreensão. Ser educador é uma escolha pro�ssional que exige determinados conhecimentos, habilidades e atitudes. Lidar com crianças não é fácil, pois implica acompanhar o desenvolvimento e facilitá-lo, oferecendo as oportunidades para que ele se efetive. Uma sala de aula é um ambiente onde se encontram várias crianças que recebem dos pais informações diferentes, pois as famílias têm regras e valores que podem ser muitos distintos. A escola é o palco onde as diferenças se encontram e o saber é promovido, buscando trocas que permitam a todos adquirir um determinado conhecimento. O papel do educador neste processo envolve a criatividade, o gerenciamento do tempo, a percepção aguçada para avaliar quais são os alunos que estão com di�culdade de acompanhar um determinado conteúdo, capacidade de planejamento para que haja a melhor facilitação possível da aprendizagem e, acima de tudo, uma atenção aguçada e direcionada para as possíveis di�culdades de aprendizagem. A família e a escola devem selar uma união que re�ete em um investimento na criança e nos modos como ela se expressa, aprende, se relaciona com os outros e consigo mesma. Com a correria e as demandas do mundo moderno, muitos pais acreditam que podem delegar totalmente à escola o papel da educação global de seu(s) �lho(s). Isso não é possível porque a escola não dá conta de processos que dependem totalmente da vida familiar. Muito embora a vida escolar englobe a socialização, o estabelecimento e cumprimento de regras de convívio, horários preestabelecidos para tarefas etc., o ambiente de casa deve ser aquele que vai oferecer as bases para que a vida escolar possa ser a mais prazerosa possível. Além disso, os pais devem propiciar à criança o direcionamento de um olhar para o mundo que a possibilite se sentir integrada a ela e à sua família. Quando a família e a escola se unem verdadeiramente no propósito de fazer com que a criança se desenvolva de modo saudável e tenha à sua disposição os estímulos e recursos (ambientais, de afeto, de limites adequados) para o exercício da existência, os resultados são geralmente muito satisfatórios. Para que essa parceria ocorra, é preciso ir além das reuniões de pais que apenas buscam transmitir dados super�ciais sobre a criança e seu processo de aprendizagem, é necessário que se criem momentos para trocas efetivas, discussões sobre como os pais podem contribuir para uma escola melhor, para que ela seja o melhor espaço possível de ambientação da criança na sociedade. Hoje muitos municípios já adotam a escola aberta, que funciona como um espaço para que os pais possam estar diretamente vinculados aos processos de aprendizagem, contribuindo com seus saberes e disponibilizando tempo para trocas que podem ser um diferencial na vida de crianças e adolescentes. Atividades extras são disponibilizadas, tendo os pais como responsáveis pela facilitação de determinados conteúdos ou atividades extraclasses. A escola, então, passa a ser apreendida como integrada à comunidade e às suas necessidades. Na educação das crianças, é preciso que pais e educadores queiram caminhar juntos durante o percurso do desenvolvimento infantil, sendo aliados em uma parceria que requer atenção, cuidados e regularidade para que dê certo. Uma das coisas essenciais é que essa parceria tenha um principal objetivo e foco em comum: a criança e seu desenvolvimento. Quando a escola ou os pais percebem que há alterações neste processo, é importante que haja trocas de informações para que se possa avaliar se um determinado comportamento ou a ausência de resposta a um estímulo ocorre tanto na escola quanto no ambiente doméstico. Ao se detectar algum tipo de problema com a criança, é preciso procurar um especialista para que ela seja avaliada adequadamente. Quanto mais cedo um diagnóstico for estabelecido, mais rápido as intervenções mais adequadas poderão ser efetivadas. Em casos em que a criança apresente alterações no desenvolvimento ouna aprendizagem, é preciso uma investigação que abarque a opinião de mais de um especialista no assunto, para que se possam ouvir opiniões diferentes sobre o melhor modo de oferecer os recursos mais justos e adequados para que a criança consiga superar determinadas circunscrições. Os pais criam muitas expectativas em relação aos �lhos e quando acontece algum problema no percurso do desenvolvimento infantil, isso pode afetá-los profundamente. Uma vez que um diagnóstico é estabelecido acerca de alguma disfunção que possa ocorrer com a criança, é importante que os pais superem rapidamente a fase da negação, elaborem a frustração e consigam desenvolver estratégias emocionais para lidar com o problema, contribuindo diretamente para que a criança tenha o tratamento adequado. A não continuidade de um tratamento é extremamente prejudicial à criança, que tem tolhido o direito de ser apresentada às estratégias mais adequadas à sua evolução na vida. A criança ainda não desenvolveu autonomia para zelar por si mesma e depende dos cuidadores para investir tempo e outros recursos em prol de seu crescimento saudável, mesmo que este se dê com certas limitações – que podem sempre ser superadas, pois o cérebro humano é uma máquina surpreendente. Os pais devem sempre oferecer o melhor ao(s) �lho(s), e isso não implica dar presentes recorrentemente ou em situações que envolvam diretamente dinheiro, mas sim em amor, afetividade, investimento de tempo para coisas básicas, como levar a criança ao médico, vaciná-la, ajudá-la a superar desa�os etc. Uma di�culdade não deve se tornar uma muleta e, por isso, os pais devem ter atenção para não reforçar na criança o sentimento de vitimização, de impotência ou incapacidade em função de um diagnóstico ou disfunção. Nem sempre este processo se dá de modo tranquilo, muitos pais entram em pânico diante da possibilidade de o �lho ser diferente das outras crianças e de não conseguir ter um desenvolvimento dentro dos padrões esperados. Nesses casos, é preciso procurar auxílio de um especialista que o ajude a transitar pelo momento e a investir de modo assertivo nas necessidades da criança. A escola e a família devem ser parceiras neste sentido de superação e devem ofertar todas as condições possíveis para que a criança possa ser ela mesma, sem qualquer tipo de processo de exclusão ou de desajustamento diante da situação. Os pais precisam ser resilientes e ajudar as crianças a também desenvolverem a capacidade de resiliência, que não necessariamente tem a ver com a invulnerabilidade ou com o êxito social, uma vez que, enquanto seres humanos, estamos sempre expostos a processos de vulnerabilidade e existem muitos fatores que determinam o êxito social. A resiliência está mais associada a uma metamorfose na qual, diante das adversidades, busca-se um reequilíbrio por meio da valorização dos pontos fortes e dos meios mais signi�cativos para reforçá-los. Isso implica a não acomodação diante de uma situação singular, que não pode ser encarada como determinista (ASSIS, 2006). Dessa forma, o indivíduo, na relação consigo e com seu meio, consegue superar limitações e seguir em frente. Os pais e educadores devem ter como base de investimento três fatores que são a base que vai fecundar o ambiente propício ao desenvolvimento e à aprendizagem: motivação, autoestima e afetividade. 10.1 - MOTIVAÇÃO Uma criança motivada é aquela que recebe os estímulos e responde a eles empregando sua energia ao processo e que tem o desejo de algo e consegue se impulsionar na direção do objeto desejado. Esta motivação vai depender diretamente do modo como ela é incentivada no ambiente doméstico e na escola. A criança, ao se desenvolver psicologicamente, vai se nutrir principalmente das emoções e dos sentimentos disponíveis nos relacionamentos que vivência. São esses relacionamentos que vão de�nir as possibilidades de a criança buscar no seu ambiente e nas alternativas que a cultura lhe oferece, a concretização de suas potencialidades, isto é, a possibilidade de estar sempre se projetando na busca daquilo que ela pode vir a ser. (MAHONEY, 1993) O desejo de se projetar no ambiente pode ser ameaçado em função do modo como os pais lidam com os �lhos ou das articulações ocorridas na escola. Quando a criança entende que nada do que ela �zer será bom o su�ciente para agradar os outros e ser aceita, a tendência é que haja um sentimento de desamparo e de desmotivação para alcançar resultados que para ela já estão perdidos. A motivação consiste nos motivos internos que levam um indivíduo a um determinado comportamento. Ela tem fatores intrínsecos e extrínsecos, ou seja, toda motivação é interna, mas o ambiente oferece estímulos e incentivos para que ela ocorra. Um ambiente pode ser a fonte da desmotivação. Para os adultos, é fácil compreender isso se relacionarmos desmotivação e ambiente de trabalho. No universo infantil, a casa e a escola também podem ser desestimulantes ao oferecerem condições desfavoráveis ao desenvolvimento e à satisfação de necessidades. Maslow (1908-1970) desenvolveu sua teoria das necessidades buscando compreender como a motivação humana ocorre em função da busca pela satisfação de uma determinada necessidade. Ele propôs alguns tipos de necessidade, tais como: �siológicas, de segurança, sociais, estima e autorrealização (FERREIRA, 2010). Um bebê está buscando o tempo todo satisfazer suas necessidades �siológicas e de estima (afeto), já uma criança em idade escolar busca satisfazer suas necessidades em um amplo aspecto, que envolve toda a gama de necessidades. Uma necessidade satisfeita deixa de ser uma fonte impulsionadora de comportamento e desejo, o que leva à consideração de que toda motivação depende de uma necessidade não satisfeita. A partir deste argumento, podemos inferir que a família e a escola devem ser fontes de satisfação das necessidades infantis, as bases que promovem o espaço propício para que a criança esteja motivada a realizar algo. Nesse ponto, é relevante falar sobre a importância do reforço. Em Ciência e Comportamento Humano, Skinner (2003) destaca que o reforço é o melhor meio para que a aprendizagem ocorra. Quando uma criança tem um comportamento considerado adequado e recebe um elogio, uma recompensa, ela está sendo reforçada positivamente. Ocorre que, ao longo da história da humanidade, a punição tem sido o método mais empregado para direcionar uma pessoa para a conduta socialmente aceitável. Quando uma criança tem um comportamento que é repudiado, os pais geralmente adotam algum tipo de estratégia para que o comportamento indesejado cesse e, quase sempre, é uma punição: castigos, xingamentos, bater etc. Contudo, a punição pode eliciar respostas emocionais contraditórias como o medo associado a apanhar e a evitação de aproximação do agressor, mesmo desejando seu afeto. Dessa forma, é importante atentarmos para a intenção positiva da criança por trás de suas ações, para que possamos possibilitar expressões mais saudáveis de moções e desejos. O reforço positivo pode ser usado para mostrar à criança que ela é capaz de se expressar de forma mais apropriada e que somos capazes de valorizar e manter o foco nos comportamentos que queremos que ela tenha e não o contrário. Então, se a criança faz algo tido como errado, pode-se, por exemplo, solicitar que ela tente se comportar de uma outra forma e, na mudança de conduta, oferece-se algo (elogios, tempo juntos, uma brincadeira diferente, tempo livre etc.) que a faça entender como ela deve agir. 10.2 – AUTOESTIMA O autoconceito é construído primeiramente na relação com o(s) cuidador(es) que se apresenta(m) como um espelho para a criança, no qual ela se reconhece e se autodetermina. Posteriormente, na convivência com outras pessoas, o autoconceito estará sendo sempre colocado à prova, no modo como cada um interpreta o que o outro avalia a seu respeito. A autoestima e a autoimagem são componentes do autoconceito. Aprimeira está relacionada à autoavaliação de si mesmo, ao senso de valor próprio e a segunda, relacionada à descrição ou imagem interna que um indivíduo tem de si mesmo. Poletti (2007) destaca que a autoestima compreende dois aspectos complementares: a percepção de uma competência pessoal e a concepção de possuir valor enquanto pessoa. Esse constructo determina nosso ser e nossas atitudes, pois está na base do modo como nos apreendemos em relação a nós mesmos e o mundo e move como nos direcionamos pela vida. Piaget se referia à autoestima como autoesquema, ou seja, o esquema que a pessoa tem a respeito de si própria. Este autor supunha que o bebê constrói seu self no processo de separação ou individuação de sua mãe ou cuidador. A noção de eu, de self, vai se constituindo na relação com o outro e no processo de diferenciação entre eu e o outro. Piaget argumentava que um elemento crítico no desenvolvimento do self subjetivo é o entendimento da permanência do objeto, entre 9 e 12 meses. Assim como o bebê começa a entender que a mamãe e o papai continuam a existir quando estão fora de vista, ele compreende – pelo menos de uma maneira preliminar – que ele existe separadamente deles e que tem alguma permanência. (BEE, 2003, p. 320) Os pais devem investir em estímulos que favoreçam este processo de individuação de modo saudável e positivo, atentando para: Faixa etária Desenvolvimento do autoconceito Primeiros meses de vida O recém-nascido começa a coordenar as informações que tem a respeito de suas ações e impactos das mesmas. Primeiro ano de vida O bebê desenvolve um senso de si mesmo, surgindo um sentimento de autoe�cácia por ser capaz de realizar coisas. 15 a 18 meses Período de transição entre o self subjetivo (senso de si mesmo) e o self objetivo (no qual a criança se reconhece como um objeto no mundo). 21 meses Autorreconhecimento / autoconsciência / autonomeação – fase em que a criança começa a se autodirecionar querendo fazer coisas sozinha. 2 a 3 anos Expressão de emoções como embaraço, orgulho, vergonha / reconhece as próprias qualidades e se autonomeia. 4 a 6 anos (Idade pré- escolar) Capacidade de oferecer uma descrição completa de si mesma em dimensões diferentes. A criança já sabe aquilo de que gosta e do que não gosta, consegue avaliar o que sente diante de situações variadas. Tem percepção concreta de si. A partir de 6 a 7 anos (Idade escolar) O autoconceito concreto progressivamente muda para um autoconceito abstrato e comparativo. A criança é capaz de se comparar com outras crianças e se descrever como mais ou menos esperto que um colega. Começa a ver suas características e as dos outros como estáveis, desenvolvendo um senso global de autovalor. A partir de 7 a 8 anos e durante todo o Começa a observar o desempenho das outras crianças em relação ao próprio desempenho, realizando autojulgamentos e incluindo elementos positivos e negativos. Capacidade de ensino fundamental autoavaliação global perante os próprios desempenhos/resultados. Adolescência Maior abstração no autoconceito e autode�nição, incluindo qualidades abstratas, como emoções, formas de lidar com situações, modo de pensar e agir. Ao �nal da adolescência, a autoavaliação inclui traços conscientes da personalidade, crenças, �loso�a pessoal e padrões morais perenes. Fonte: Bee, 2003, p. 320-324. À medida que as crianças vão se desenvolvendo e interagindo com outras crianças, a autoestima vai se desenvolvendo. O modo como o universo da criança (vida familiar e escolar) é estruturado tem um impacto signi�cativo no modo como cada criança vai lidar com as frustrações e com as comparações com os outros. Os pais devem incentivar a criança a superar desa�os e desenvolver um senso de capacidade diante das situações apresentadas. Dessa forma, eles não devem superproteger a criança ou serem permissivos, mas encontrar um equilíbrio que permita à criança desenvolver sua autonomia e autoestima. O estresse do dia a dia pode levar os pais e educadores a não prestar atenção ao modo como a criança se autoavalia e como ela está lidando com o que é colocado para ela. Aquilo que a criança ouve e vê nos ambientes que a cercam interfere diretamente na autoestima, então é importante ter cuidado com: • o modo de falar com a criança – falar gritando, xingando ou desmerecendo a criança prejudica o desenvolvimento da autoestima. Em momentos de raiva e perda de controle, o melhor a fazer é se afastar, respirar e se autogerenciar emocionalmente para conversar adequadamente com a criança. • bater, beliscar, empurrar ou agredir física ou verbalmente para conseguir que a criança tenha um determinado comportamento – a criança precisa se sentir amada independentemente dos resultados que produz, portanto é necessário que os limites sejam colocados de forma clara desde que a criança nasce. De nada adianta não estabelecer regras e limites adequados – relacionados com consequências – e depois bater ou agredir porque a criança teve um comportamento que não é considerado aceito. O comportamento da criança é um re�exo de como os pais a educam. • superproteção – pais que acreditam que, ao superprotegerem seus �lhos, estarão livrando-os de situações penosas se equivocam enormemente, uma vez que a vida exige diferentes competências, e a criança precisa desenvolver modos de lidar com as exigências do meio com suas próprias habilidades; caso contrário, tenderão a permanecer na heteronomia que destacamos anteriormente. A frustração faz parte da vida e é até mesmo positiva, pois fortalece o senso de reorganização emocional e da capacidade de realizar algo diante das di�culdades. • permissividade – toda criança precisa de limites, de adequação às regras familiares e sociais. Quando os pais são permissivos, deixando as crianças fazerem tudo o que quiserem, seja pela alegação de falta de tempo em função de trabalho ou porque não querem contrariar a criança que chora quando ouve não, as consequências com certeza virão: di�culdade de relacionamento interpessoal, sensação de que pode fazer ou ter tudo o que quiser sem consequências, comportamentos agressivos diante das situações que causam frustração, dentre outros. • comparações descabidas – vimos nesta seção que inevitavelmente a criança, em algum momento, começa a se comparar com outras crianças. O senso de valor próprio não deve ser diminuído por isso, pois os indivíduos possuem habilidades diferentes. Dessa forma, é possível conceber que uma criança consiga jogar bola melhor do que outra, e ainda que outra criança tenha mais habilidade em Matemática se comparada com os colegas de classe. Isso, no entanto, deve servir de norte para que cada um tenha seu valor ressaltado e use suas forças para conseguir bons resultados, gerenciando e superando as áreas que apresenta mais di�culdades. Então, os pais não devem comparar os irmãos, criar competição por afeto ou propor uma gincana emocional para o alcance de resultados. A autoestima desenvolvida na infância será a estrutura que guiará a pessoa na vida adulta em suas relações de afeto, de trabalho, de lazer, nas responsabilidades que assume e no modo como encara os desa�os e as frustrações. A escola, neste processo, deve incentivar o desenvolvimento de uma autoavaliação positiva, utilizando estratégias de re�exão, incentivo ao alcance de resultados, respeito às diferenças, à vida e à dignidade humana. Hoje há livros paradidáticos que facilitam essas estratégias. 10.3 - AFETIVIDADE O afeto deve ser sempre incondicional, e isto signi�ca que não se deve associar o afeto dado à criança a um determinado comportamento, como, por exemplo: “Se você estudar, eu vou amar você mais”; “Se você não �zer isso direito, eu vou deixar de gostar de você”. Os pais devem ser responsivos em relação a tudo aquilo de que a criança precisa, percebendo de forma adequada os sinais que a criança oferece em relação às suas necessidades e reagindo de modosensível a elas, tomando as providências adequadas. Em alguns casos, é possível observar uma conduta excludente entre afetividade e efetividade. Pais afetivos cuidam de seu(s) �lho(s) com amor e carinho, com o cuidado para que haja um encadeamento positivo entre as necessidades da criança e as exigências do meio, buscando uma integração que permita um desenvolvimento saudável por meio do afeto. Pais efetivos também desejam que seus �lhos sejam saudáveis e que estejam integrados ao meio, mas apresentam um aspecto peculiar: têm di�culdade em demonstrar afeto, tendo atitudes objetivas em relação à criança, como um simples cumpridor de tarefas: dar o remédio na hora certa, levar para a escola, organizar a agenda da criança etc. A afetividade e efetividade precisam caminhar juntas. Cumprir determinados padrões de atividade é importante porque a criança precisa ter seu mundo organizado, mas isso pode e deve ser feito de modo afetivo. Oferecer carinho e amor à criança é importante, mas de nada adianta se utilizarmos o afeto como justi�cativa para a permissividade, superproteção ou para a severidade no modo de educar, deixando de lado o investimento na organização de ações das quais a criança depende para ter necessidades vitais satisfeitas. Educar com afetividade implica conduzir à criança na enseada da aprendizagem e do desenvolvimento a partir de uma estruturação que envolve: organização de atividades e tarefas, horários para os cuidados com o corpo e a saúde, alimentação adequada, esclarecimento de regras que são necessárias para a convivência em família e na sociedade, gerenciamento da qualidade do tempo, trocas físicas, verbais e comportamentais de carinho. Os pais precisam ser parceiros no processo de educar o(s) �lho(s), entrando em acordo quanto às regras a serem estabelecidas para o que pode ou não ser feito pela criança, para deixar claro quais as sanções disciplinares serão adotadas em caso de atitudes desabonadoras, sendo coerentes e mantendo decisões tomadas anteriormente. Bee (2003) destaca que a afetividade na família e na escola tem diversos benefícios para a criança, entre eles: autoestima mais elevada, empatia, altruísmo, cooperação, melhor desempenho na escola e maior desenvolvimento da inteligência. Estudos realizados em bairros onde a violência predomina revelam que o fator preponderante e que distingue crianças e adolescentes que não se tornaram delinquentes daqueles que se tornaram é o amor e o cuidado materno (BEE, 2003). Assim, é fácil concluir que, na outra via, está a hostilidade familiar e/ou ambiente educacional, que está diretamente relacionada ao baixo desempenho escolar, insegurança, tendência à delinquência, di�culdades de relacionamento, baixa autoestima, agressividade. A criança que se sente amada pelos pais tende a responder mais positivamente às suas solicitações, respeitando mais a família e querendo estar no ambiente do lar porque ele é seguro e con�ável. Considerações Finais Neste livro, foram discutidas questões teóricas psicopedagógicas de grande relevância para o âmbito institucional, tais como: as bases epistemológicas da Psicopedagogia, os processos de construção do conhecimento, as contribuições da Psicanálise para a compreensão do saber psicopedagógico e uma análise aprofundada das di�culdades de aprendizagem, do diagnóstico e da intervenção psicopedagógica institucional para o sucesso escolar. A partir de uma visão sistêmica do fenômeno da aprendizagem e da não aprendizagem, a Psicopedagogia atua nas instituições escolares e não escolares, em caráter preventivo, construindo saberes, valores, crenças e práticas que funcionam como “desconstrutores” das práticas pedagógicas impeditivas do processo de aprendizagem de alguns estudantes, criando novos caminhos de intervenção e regulação dos de�cits evidenciados. O psicopedagogo institucional é o especialista que vai realizar o trabalho de avaliação, intervenção e regulação das situações relacionadas às di�culdades de aprendizagem, devendo pensar globalmente o olhar para o estudante como parte de um sistema maior, onde a escola predomina como lócus de aprendizagem, mas não como único espaço capaz de propiciá-la. A família também tem um papel fundamental neste processo. O fazer psicopedagógico institucional surge na medida em que ocorre uma re�exão profunda sobre a Intervenção Psicopedagógica, seus objetivos, metas e procedimentos. O psicopedagogo deve lançar mão de diferentes caminhos ao propor ações psicopedagógicas, podendo atuar de modo direto com os alunos e as turmas, como indireto, por meio de orientação de seus professores e familiares. Para decidir qual direcionamento dar às intervenções, o psicopedagogo deve conhecer as teorias e as práticas condizentes ao seu trabalho, conhecendo também a realidade e demandas da instituição em que desenvolve seu trabalho. O psicopedagogo institucional deve desenvolver atividades de forma coerente, fornecendo informações precisas para a tomada de decisão das ações a serem implementadas. As características do contexto, dos professores e dos próprios alunos também são critérios que devem ser considerados ao de�nir-se a direção do seu trabalho. O psicopedagogo deve ter ciência de que seu trabalho deve ocorrer de modo compartilhado com os outros sujeitos envolvidos nas situações docentes, em especial aquelas que apresentam queixas ou problemas. Partindo desta premissa de “ação compartilhada”, é que o psicopedagogo institucional vai estruturar seus modelos de avaliação e intervenção, considerando o papel de cada sujeito nestas ações, as condições de implantação e as possibilidades de sucesso das estratégias. O psicopedagogo também precisa trabalhar de forma multipro�ssional, trocando suas experiências e ideias e fazendo encaminhamentos para fonoaudiólogos, médico neurologista, psicólogo, �sioterapeutas, entre outros. Faz-se necessária uma visão sistêmica, que traz desa�os para o terceiro milênio: aperfeiçoar os resultados alcançados pela de�nição mais inclusiva e profunda do seu objeto de estudo, a aprendizagem e os recursos diagnósticos e abordar as eventuais provocações do futuro. A prática psicopedagógica deve apresentar estratégias e resultados signi�cativos no resgate da estrutura cognitiva dos sujeitos com di�culdades de aprendizagem. Por meio das causas das di�culdades detectadas e da intervenção aplicada, pode-se destacar que muitas queixas de di�culdades na aprendizagem possuem causas relacionadas a procedimentos pedagógicos e avaliativos, pelo despreparo de professores, metodologias e programas de ensino inadequados. Por isso, o trabalho psicopedagógico institucional deve se dar em conjunto e articulado com os docentes, a família e a instituição escolar. Com certeza, para o terceiro milênio, instituições escolares e não escolares deverão contar com mais este pro�ssional, o psicopedagogo, pois é um trabalho que não favorece unicamente o aluno, mas também a instituição, os professores, os funcionários, a família e a comunidade como um todo, já que estes elementos estão fortemente inter-relacionados. Referências ALMEIDA, A. V. & FALCÃO, J. T. R. (2008). Piaget e as Teorias da Evolução Orgânica. Psicologia: Re�exão e Crítica, 21(3), 525-532. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/prc/v21n3/v21n3a22 ANDRADE, V. 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Capítulo 3 - A Psicopedagogia e os Aspectos Psiconeurológicos 3.1 – O cérebro humano e os aspectos da cognição 3.1.1 – Inteligência 3.1.2– Atenção 3.1.3 – Funções executivas 3.1.4 - Linguagem 3.2 – Transtornos de aprendizagem Capítulo 4 - Constituição Subjetiva e Construção Cognitivo-Psicopedagógica por Meio do Jogo Simbólico, de Construção, de Regras e Cooperativo 4.1 A construção cognitiva 4.2 - O trabalho do psicopedagogo institucional POR MEIO do Jogo Simbólico, de Construção, de Regras e Cooperativo Capítulo 5 - A Psicopedagogia e o Desenvolvimento da Linguagem: Lacan, Saussure, Chomsky, Lenneberg 5.1 – A linguística de Ferdinand Saussure 5.2 – Lacan e a relação entre psicanálise e linguagem 5.3 – Chomsky e a gramática transformacional 5.4 – Lenneberg 5.5 – Abordagens teóricas em aquisição da linguagem Capítulo 6 - A Construção da Escrita e o Desenvolvimento da Personalidade Moral por Meio da Literatura: o trabalho psicopedagógico na instituição 6.1 – A construção da escrita nas crianças 6.2 – O trabalho psicopedagógico e a importância da leitura para a criança 6.3 – O desenvolvimento da personalidade moral 6.4 – A literatura e a moralidade: a contribuição para o desenvolvimento da autonomia Capítulo 7 - Intervenção Psicopedagógica no Raciocínio Lógico-Matemático Capítulo 8 - Psicopedagogia Comunitária, Violência e Sociedade Capítulo 9 - Psicopedagogia no Trabalho: diagnóstico e intervenção institucional 9.1 - Ética profissional 9.2 - O psicopedagogo na instituição escolar 9.3 - Fundamentos de um diagnóstico escolar 9.4 - Intervenção psicopedagógica escolar Capítulo 10 - Orientação Familiar e Escolar 10.1 - Motivação 10.2 – Autoestima 10.3 - Afetividade Considerações Finais Rerefências