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APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período MORFOFISIOLOGIA INTESTINO DELGADO E GROSSO Intestino Delgado • Onde ocorre a maior parte da digestão e absorção de nutrientes, logo, sua estrutura é adaptação para estas funções. • Possui um grande comprimento, para aumentar a superfície de digestão e absorção, além disso, a área é aumentada pelas pregas circulares, vilosidades e microvilosidades. • Começa no músculo esfíncter do piloro do estômago e termina no intestino grosso. • +/- 2,5cm de diâmetro; 3m de comprimento na pessoa viva e 6,5m no cadáver (devido a perda de tônus do músculo liso após a morte). É dividido em 3 regiões: • Duodeno - região mais curta, retroperitoneal; - se inicia no músculo esfíncter do piloro do estômago; - forma de um tubo em C; - +/- 25cm de comprimento e se funde com o jejuno; • Jejuno - +/- 1m de comprimento, se estendendo até o íleo; • Íleo - +/- 2m de comprimento, se juntando ao intestino grosso no óstio ileal (esfíncter); Funções: - As segmentações misturam o quimo com os sucos digestório e colocam a comida em contato com a túnica musgosa, facilitando a absorção. - Completa a digestão de carboidratos, proteínas e lipídeos; inicia e completa a digestão de ácidos nucleicos. - Absorve +/- 90% da tua e dos nutrientes que passam pelo sistema digestório. Histologia Suas paredes são formadas por: • Túnica Mucosa - composta por camada epitelial, lâmina própria e lâmina muscular da mucosa. - a camada epitelial é formada por epitélio colunar simples, que possui células absortivas, células caliciformes. - possui ainda as glândulas intestinais ou criptas de Lieberkühn (revestem as fendas e secretam suco intestinal), que possuem células de Paneth e cél. enteroendócrinas (são: células S, CCK e K). • Tela Submucosa - produzem muco. - neutraliza pH do quimo. - deixa pH ideal para enzimas pancreáticas. • Túnica Muscular • Túnica Serosa • A CCK age gerando contrações da vesícula biliar e relaxando o esfíncter de Oddi em conjunto a ação da secretina, que estimula a produção de bile. • A principal função da secretina é estimular a secreção de bicarbonato de sódio no pâncreas. • PIG ou GIP: hormônio peptídeo inibidor gástrico, tem como alvo as células beta do pâncreas e as estimulam a secretar insulina. APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período • As losozimas atuam na linha de frente do sistema imunológico, destruindo células bacterianas que causam diarreia e outras infecções. • +/- 1-2L de suco intestinal são secretado por dia (líquido amarelo-claro; contendo água e muco; alcalino pH:7,6. • As células absortivas do intestino delgado sintetizam enzimas digestoras (células da borda em escova), e colocam-as na membrana plasmática das microvilosidades, fazendo com que parte da digestão enzimática ocorra na superfície das células absortivas que revestem as vilosidades, e não somente no lúmen. • Dentre as enzimas da borda em escova, existe, as que digerem carboidrato (alfa-dextrinase, maltase, sacarase e lactase), proteínas (peptidases), mucleotídeos (nucleosidases e fosfatases). DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS • As DII são distúrbios inflamatórios crônicos que acometem qualquer porção do trato intestinal e possuem caráter autoimune. • 80-90% dos casos são classificados como Retocolite Ulcerativa (RCU) ou Doença de Crohn (DC). • Ambas causam inflamação intestinal, não têm evidência confirmatória de agente etiológico, não seguem um padrão de ocorrência familiar e podem ser acompanhadas de manifestações sistêmicas. • A causa da doença intestinal inflamatória não é conhecida, mas acredita-se que se deva a uma incapacidade do organismo em regular efetivamente as respostas imunes contra antígenos aos quais o trato digestivo está c o n s t a n t e m e n t e s e n d o e x p o s t o , desencadeando uma reação imunológica inadequada em pessoas com pré-disposição genética. • A tendência de hereditariedade é mais elevada na doença de Crohn em relação à colite ulcerativa. Três aspectos se relacionam a etiopatogenia: 1. Fatores genéticos; 2. Fatores luminais, relacionados a microbiota, seus antígenos, produtos metabólicos e antígenos alimentares; 3. Fatores relacionados à barreira intestinal; 4. Fatores relacionados à imunorregulação e à resposta imune. Nenhum desses aspectos isolados explica a doença, mas a interação entre eles é o que determina a ocorrência. • A doença de Crohn acomete mais os segmentos distais do intestino delgado e o cólon proximal, mas pode afetar qualquer área do sistema digestório desde o esôfago até o ânus; por outro lado, a retocolite ulcerativa limita-se ao cólon e ao reto. • Tanto a DC quando a RCU se tratam de desordens poligênicas. Sintomas • Variam conforme a parte do intestino afetada e se a pessoa tem doença de Crohn ou colite ulcerativa. • Pessoas com doença de Crohn normalmente apresentam diarreia crônica e dor abdominal. • O paciente com colite ulcerativa geralmente tem episódios intermitentes de dores abdominais e diarreia sanguinolenta. • Pode afetar articulações, olhos, boca, fígado, vesícula biliar e pele, além de elevar o risco de câncer em áreas afetadas do intestino. Sinais de alerta - Idade, a partir de 45-50 anos; - Sangramento intestinal, nas evacuações; - Dor que acorda o paciente a noite; - Perda de peso não intencional; - Histórico familiar de DII, pólipos intestinais, câncer de intestino. Diagnóstico - O primeiro passo é excluir outras possíveis causas da inflamação, como por parasitas ou bactérias. • Exame de sangue nas fezes. - para identificar evidências de infecção bacteriana ou parasitária. • Endoscopia com biópsia de tecido. - para encontrar outras causas da inflamação do cólon (colite) ou inflamação da última parte do intestino delgado (íleo). • Exame de cápsula endoscópica. - avaliar o intestino da pessoa com sintomas sugestivos da doença de Crohn. • Colonoscopia - consegue identificar se é DC ou Retocolite pelo padrão da lesão. • Calprotectina APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período - ***critério de acompanhamento, não diagnóstico; para avaliação de reforço de tratamento. - proteína liberada pelas células intestinais quando há lesão. - principal marcador de inflamação. - identifica o aumento dessa proteína nas células de defesa que atuam no intestino. - alerta: quando estiver luta indica migração dos neutrófilos da mucosa intestinal. • É válido levar em consideração outras doenças como: síndrome do intestino irritável, colite isquêmica, síndromes da má absorção. Tratamento • Medicamentos - não existe cura para DII, entretanto, medicamentos como aminossalicilatos, c o r t i c o s t e r o i d e s , m e d i c a m e n t o s imunomoduladores, agentes biológicos e antibióticos podem ajudar a reduzir a inflamação e aliviar os sintomas. - Aminossalicitatos: anti-inflamatório que age no intestino. - Corticoide: muitos efeitos adversos, não é sempre utilizado. - Imunomodelador. • Cirurgia (pessoas com doença muito aguda) • Dieta e controle do estresse A DII faz com que a pessoa corra um risco maior de desenvolver determinadas infecções e distúrbios decorrentes da doença de base, má n u t r i ç ã o o u u s o d e m e d i c a m e n t o s imunomoduladores . Vac inas e exames diagnósticos e preventivos podem ajudar a diminuir o risco. - A vacina contra influenza precisa ser tomada todos os anos para ajudar a proteger contra a gripe. - A vacina pneumocócica ajuda a proteger contra infecções bacterianas causadas porStreptococcus pneumoniae. - Pessoas com 50 anos de idade ou mais devem receber a vacina contra herpes zóster (para ajudar a proteger contra herpes zóster). - Deve receber rotineiramente vacinas contra o tétano-difteria, hepatite A, hepatite B e contra o papilomavírus humano caso pertinente. - As vacinas contra COVID-19 que usam mRNA, por exemplo, as fabricadas pela Pfizer- BioNTech e pela Moderna, são recomendadas para pessoas com DII, inclusive aquelas que e s t ã o t o m a n d o m e d i c a m e n t o s imunomoduladores. DOENÇA DE CROHN • Inflamação intestinal do tipo transmural (da mucosa até a serosa). • Padrão de inflamação salteado (áreas saudáveis alternando com áreas inflamadas). • Pode acometer qualquer segmento do trato digestório, da boca ao ânus. • Predileção por regiões do íleo e ileocecal. Geralmente, acomete indivíduos de etnia branca entre 15-40 anos de idade, embora alguns estudos demonstrem novo pico na faixa etária entre 50-80 anos, com discreta predominância no sexo feminino. A incidência vem aumentando no Brasil, sendo estimada em 5,48 casos para cada 100 mil pessoas-ano. • Um gene relacionado a DC é o NOD2, responsável por codificar uma proteína que atua como receptor intracelular para um antígeno de parede bacteriana e que auxilia no controle da resposta inflamatória. • Com o NOD2 defei tuoso, a resposta inflamatória fica descontrolada, entretanto esse gente é alterado em 15-20% dos portadores, logo, não explica isoladamente a doença. • Outro defeito genético é o polimorfismo no gene que produz o receptor da IL-23. Em condições normais, essa citocina auxilia na regulação da inflamação crônica, na resposta contra agentes bacterianos e atua no Crohn. Um defeito em seu receptor ocasiona amplificação da inflamação. Manifestações Clínicas • Dor abdominal, diarreia crônica e fadiga. • Também podem estar presentes perda de peso, sangramento intestinal, febre baixa, retardo de crescimento e constipação intestinal • Podem evoluir para fistulização, abscessos, obstrução/semiobstrução intestinal (estenoses) e perfuração intestinal. • Além disso, podem haver manifestações extraintestinais, como as oftalmológicas, dermatológicas e reumatológicas. Obs: O envolvimento extenso do intestino delgado com redução da superfície absortiva e perda entérica de proteínas pode levar à desnutrição proteico-calórica grave. Diagnóstico • Não há exame padrão-ouro. • A história clínica, exame físico bem conduzido, exames de imagem, como colonoscopia e radiologia, e o histopatológico conduzem ao diagnóstico e orientam, muitas vezes, para a realização dos demais exames. • Deve ser feito o diagnóstico diferencial com retocolite ulcerativa. Colonoscopia • Importante para avaliação quanto a presença de inflamação, padrão de acometimento e complicações, como estenoses, neoplasias, pólipos e fístulas. https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/imuniza%C3%A7%C3%A3o/vacina-contra-influenza https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/imuniza%C3%A7%C3%A3o/vacina%C3%A7%C3%A3o-pneumoc%C3%B3cica https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/imuniza%C3%A7%C3%A3o/vacina-contra-herpes-z%C3%B3ster https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/infec%C3%A7%C3%B5es-por-herpesv%C3%ADrus/cobreiro-herpes-z%C3%B3ster https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/imuniza%C3%A7%C3%A3o/vacina-contra-t%C3%A9tano-e-difteria https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/imuniza%C3%A7%C3%A3o/vacina-contra-hepatite-a https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/imuniza%C3%A7%C3%A3o/vacina-contra-hepatite-b https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/imuniza%C3%A7%C3%A3o/vacina-contra-o-papilomav%C3%ADrus-humano-hpv https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/imuniza%C3%A7%C3%A3o/vacina-contra-a-covid-19 APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período • Permite realização de biópsia para avaliação histológica (em até 30% pode-se encontrar granulomas caseosos). • Alterações encontradas: envolvimento intestinal descontínuo, com áreas acometidas ao lado de áreas normais, lesões do íleo t e r m i n a l , l e s õ e s p e r i a n a i s , ú l c e r a s serpiginosas, longitudinais ou aftoides, fístulas e estenoses. TC de abdome e pelve com enterografia ou RM de abdome e pelve com enterografia • Avalia o intestino delgado quanto a presença de inflamação, padrão de acometimento e complicações (estenoses, fístulas, abscessos). • A êntero-TC é o primeiro exame utilizado. USG Intestinal • Monitoramento da atividade inflamatória intestinal. • Avalia funções estruturais das paredes das a lças , espessamento mura l , gordura mesentérica e presença de linfonodomegalias. • Utiliza-se o escore de Limberg B para avaliar vascularização das alças intestinais. • Escolhe de Limberg - Grau 0: normal. - Grau 1: parede espessada e ausência de fluxo mural. - Grau 2 (hipofluxo): parede espessada com fluxo intermitente. - Grau 3 (hiperfluxo): parede espessada com fluxos alongados. - Grau 4 (hiperfluxo): fluxo ao Doppler na parede da alça e no mesentério. Fatores de Risco - Idade ao diagnóstico <30 anos; - Doença extensa, acometimento > 100cm de intestino; - Acometimento de trato gastrointestinal alto; - Tabagismo; - Úlceras profundas; - Doença perianal; - Doença estendias-te ou penetrante; - Cirurgia prévia; - Uso de corticoide ao diagnóstico ou corticodependência. Tratamento • Baseia-se na gravidade, extensão, fatores de mau prognóstico, comportamento, localização, tempo de evolução da doença, presença ou não de manifestações extraintestinais e complicações. • A abordagem deve incluir tanto o tratamento clínico medicamentosos, quanto possíveis intervenções cirúrgicas. • Tem como objetivo a cicatrização da mucosa intestinal (remissão endoscópica) e melhora da qualidade de vida. Objetivos de tratamento (STRIDE II) - Resposta clínica (imediato): redução de pelo ou menos 50% no PRO2 (dor abdominal e frequência evacuatória). - Remissão clínica (médio prazo): PRO2 com dor abdominal <= 1 e frequência evacuatória <=3 ou índice de Harvey Bradshaw <5. - Remissão endoscópica (longo prazo): SES-CD < 3 ou ausência de ulcerações. - Normalização da PCR e da calprotectina fecal (100-250) - médio prazo. - Restauração da qualidade de vida e ausência de incapacidade - longo prazo. Recomendações - Suspender tabagismo; - Evitar fatores estressantes; - Controlar depressão e ansiedade; - Evitar uso de AINEs; - Manter níveis séricos adequados de vitamina D e B12 e ferro; RETOCOLITE ULCERATIVA (RCU) • Doença inflamatória intestinal crônica. • Acometimento continuo e ascendente do intestino grosso começando pelo reto. • Diferente da doença de Crohn, que se associa à inflamação transmural tanto do intestino grosso quanto do delgado, a retocolite ulcerativa geralmente afeta somente a camada mucosa do cólon. • Fatores emocionais entram como gatilho para ocorrência, assim como na síndrome do intestino irritável. • No Brasil, estima-se 8 casos a cada 100.000 pessoas-ano. • A sua prevalência é maior do que a doença de Crohn em toda América Latina, exceto Brasil. • Discreto predomínio no sexo masculino ou equivalência entre gêneros. Obs: Status vacinal: Todos os pacientes com RCU devem ter seu cartão de vacina atualizado, preferencialmente antes do início do tratamento com imunomoduladores. Vacinas de agentes vivos atenuados, de maneira geral, estão contraindicadas para pacientes em uso de imunossupressores ou biológicos. ManifestaçõesClínicas • Diarreia crônica; • Sangramento intestinal; • Urgência evacuatória; • Tenesmo (espasmo doloroso do esfíncter anal ou vesical com desejo urgente de defecar ou urinar, e com eliminação de quantidade mínima de fezes ou urina). Podem estar presentes: - Perda de peso; - Febre baixa; APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período - Dor abdominal; - Fadiga; - Constipação intestinal. • História familiar de DII e presença de colangite esclerosaste primária aumentam o risco de RCU. • Apendicectomia por apendicite comprovada na infância ou adolescência e tabagismo estão associados à redução do risco de RCU. • Ao exame físico devem ser observadas taquicardia, febre, hipotensão e distensão abdominal. Complicações - Hemorragia maciça; - Megacólon tóxico; - Perfuração colônica; - Estenose colônica; - Câncer colorretal; - Tromboembolismo. Diagnóstico • Não existe exame padrão-ouro. - História clínica do paciente; - Exame físico bem conduzido; - Exames de imagem (endoscopia, radiologia e histopatológico). • Deve ser feito diagnóstico diferencial com a doença de Crohn e colites infecciosas. • Colonoscopia; • Retossigmoidoscopia; • TC ou RM de abdome e pe lve com enterografia; • Calprotectina fecal; • Marcadores sorológicos; Tratamento • Deve incluir tanto o tratamento clínico m e d i c a m e n t o s o q u a n d o p o s s í v e i s intervenções cirúrgicas. • Se baseia na gravidade, localização e extensão da doença, considerando a presença ou não de manifestações extraintestinais, com o objetivo final a cicatrização da mucosa intestinal (remissão endoscópica). REFERÊNCIAS: • TORTORA, Gerard J.. Principios de anatomia e fisiologia . 14 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019, 1201 p. • Microbiologia médica e imunologia / Warren Levinson, Ernest Jawetz. 7. ed. Porto Alegre : ARTMED, 2005. 632 p.