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AULA 6 NEUROLIDERANÇA E NEUROCOACHING Prof. Fábio Eduardo da Silva 2 CONVERSA INICIAL Chegamos ao final da disciplina, com a tema brain fitness, trazendo dicas de como cuidar melhor de seu corpo, em especial do cérebro. Brain fitness, literalmente ginástica cerebral, ou ainda neuróbica, considera que, por ser plástico/maleável, o cérebro pode ser melhorado através de exercícios. Complementarmente, como o cérebro é parte de um sistema orgânico maior, com o qual mantém relação sistêmica, alguns cuidados básicos devem ser considerados quando se busca otimizar seu funcionamento. As sugestões sobre nutrição apresentadas neste texto buscam despertar o interesse pelo tema, mas não substituem, em nenhuma hipótese, a orientação de um profissional da área. TEMA 1 – NUTRIÇÃO E INGESTÃO DE ÁGUA 1.1 Nutrição cerebral e água Do ponto de vista metabólico, o cérebro é o órgão mais ativo e exigente no corpo humano, com necessidades específicas. Ele pesa 1/40 de nosso peso, mas consome 1/5 da glicose produzida pelo corpo. Um cérebro adulto saudável produz energia suficiente para acender uma lâmpada de 25 watts (Lyman, 2016). Segundo Lyman (2016), os Centros para o Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (<https://www.cdc.gov/>) indicam que uma alimentação de qualidade, voltada a maximizar a energia do organismo, deve incluir carboidratos complexos, encontrados em frutas, grãos integrais e vegetais. Esses alimentos trazem benefícios nutricionais mais duradouros, diferentes dos efeitos dos carboidratos simples, que incluem açúcares, farinha branca e seus derivados (pães brancos, bolachas etc.), que devem ser evitados. Além dos carboidratos de qualidade, é também necessário consumir proteínas de qualidade, que incluem ovos, carnes magras e leite. Combinando carboidratos complexos, boa proteína e hidratação, sabemos que nosso cérebro estará preparado para aprender! 66% de nosso corpo é composto de água; 80% de nosso cérebro é água! Assim, manter o organismo hidratado é crucial ao bom desempenho cerebral. Por exemplo, de noite perdemos água em níveis significativos, que deve ser reposta ao acordar. 3 Mesmo níveis leves de desidratação podem afetar o desempenho de aprendizagem do cérebro. Os neurônios no cérebro mantêm a água em pequenas estruturas semelhantes a balões conhecidas como vacuolas [...]. A água é necessária para a produção cerebral de hormônios e neurotransmissores, componentes críticos para o sistema de comunicação do cérebro. Uma pessoa que está desidratada pode, em última análise, experimentar fadiga, má concentração e habilidades cognitivas reduzidas. (Lyman, 2016, p. 47). E sentir sede é um sinal de que as reservas corporais de água baixaram e a tonicidade do plasma aumentou. Isso leva à ativação da vasopressina, um hormônio secretado pela hipófise posterior que aumenta a reabsorção renal de água, inibe a produção de urina e ativa o reflexo da sede. Ou seja, bebemos água como uma resposta fisiológica a um estado crônico de desidratação e não para nos hidratarmos. [...] Para reidratar-se, já que não ingerimos água, o corpo passa então a beber a água que está no intestino grosso, o que provoca o ressecamento das fezes. Os rins retêm a água, e a urina fica concentrada, amarelada. A pele, os olhos, as articulações e a mucosa respiratória “murcham”, e as secreções brônquica e intestinal tornam-se espessas. O cérebro fica menos irrigado. A memória e a concentração se alteram. A longo prazo, a desidratação crônica conduz o cérebro a um encolhimento. As glândulas endócrinas, totalmente dependentes de hidratação adequada para sua fisiologia normal, passam a funcionar de forma claudicante, como em períodos equivalentes a uma seca. Os ossos da coluna se ressecam e se ressentem; é a base de toda dor lombar. [...] A desidratação crônica faz com que o sangue fique mais espesso, aumentando sua viscosidade e, consequentemente, criando resistência ao fluxo sanguíneo, o que faz com que o bombeamento cardíaco e a pressão sanguínea aumentem. Manter o corpo hidratado garante o bom funcionamento do sangue e do aparelho cardiovascular, permitindo que os nutrientes adequados cheguem suavemente aos tecidos. Para manter o corpo hidratado, beba líquidos de forma que possa urinar a cada duas ou três horas. (Gonzalez, 2017, posição 4054- 4057). 1.2 Algumas dicas de nutrição Apresentamos algumas dicas de refeições, fazendo pontes com o funcionamento cerebral. A primeira refeição, pela manhã, é muito importante. Não tê-la reduz o desempenho cognitivo. A ingestão de cereais é uma ótima sugestão para esse momento, pois um alto teor de proteínas aumenta o desempenho em exercícios cognitivos complexos (Douglas et al., 2007). Omelete feito sem gordura acompanhado de salada seria uma excelente sugestão para o almoço. Rico em colina, substância que o organismo utiliza para produzir o neurotransmissor acetilcolina, o ovo pode favorecer a produção deste importante neurotransmissor, que em níveis baixos relaciona-se com a doença de Alzheimer (Douglas et al., 2007). As saladas cruas (legumes e verduras) são importantíssimas para manter os neurônios em bom estado. As vitaminas C e E são antioxidantes, e reduzem 4 os radicais livres produzidos pelo cérebro. A vitamina B12 e o ácido fólico melhoram a memória (Douglas et al., 2007). O iogurte, produzido pelas sementes de Kefir, contém o aminoácido tirosina, necessário para a produção de dopamina e noradrenalina, entre outros. Sob tensão, reduzimos os estoques da tirosina, sendo que a sua suplementação melhora o estado de alerta e a cognição (Douglas et al., 2007). Deve-se evitar comidas calóricas com baixo teor nutritivo, como guloseimas processadas (massas, doces, biscoitos com ácidos graxos trans), que prejudicam a resolução de problemas e a memória. Os ácidos graxos trans podem “entupir” o sistema. Para lubrificá-lo (e também alimentá-lo), a ingestão de ácidos graxos ômega-3, em especial o docosaexaenóico ou DHA, é recomendada. Eles também retardam situações de demência (Douglas et al., 2007). 1.3 A longevidade do cérebro Em seu memorável livro A longevidade do cérebro, Khalsa (1997) apresenta um programa com quatro grandes áreas: 1. terapia nutricional, incluindo alimentação, complementação com vitaminas, minerais e oligoelementos, e administração de tônicos medicinais naturais; 2. controle do stress, através da meditação e da gestão de fatores estressantes do dia a dia; 3. terapia de exercícios aeróbicos para a mente e para mente-corpo; 4.farmacologia, com a administração de medicamentos para amplificar a cognição e a terapia de reposição hormonal. O programa destina-se principalmente a combater o stress, como causa principal do envelhecimento do cérebro em função do cortisol. Esse hormônio, produzido pelas glândulas supra-renais, é secretado como uma resposta do organismo ao estresse, sendo importante para a adaptação do organismo às situações em que sofre (ou acredita sofrer) algum tipo de ameaça. Ele não é prejudicial, salvo quando produzido em excesso, continuamente, situação na qual torna-se tóxico e elimina ou danifica bilhões de células cerebrais (Khalsa, 1997, p. 20): Estou certo de que a exposição crônica do cérebro a níveis tóxicos de cortisol é a principal causa da degeneração cerebral durante o processo de envelhecimento. Durante décadas, o cortisol excessivo destrói a integridade bioquímica do cérebro. Acredito ainda, que a toxicidade do cortisol é uma das principais causas do mal de Alzheimer. [... ] distúrbio mental caracterizado por extenso a morte de células cerebrais. Estou 5 convencido, baseado nas minhas pesquisas e no trabalho clínico, de que a produção excessiva de cortisol também é uma das principais causas da morte de tais células. As outras causas parecem ser fatores genéticos, ambientais, metabólicos e a diminuição do fluxo sanguíneopara o cérebro. Sobre a terapia nutricional, esse pesquisador entende que, se aplicada de forma correta, pode auxiliar a recuperação de neurônios danificados ou protegê- los, o mesmo com os neurotransmissores, que acarretam problemas maiores, conseguindo equilibrar a função bioquímica mesmo em cérebros com prejuízos. Em complemento, para pessoas saudáveis, tal terapia pode contribuir para a criação de um “super cérebro” (Khalsa, 1997). Khalsa (1997) parte do princípio de que o que é bom para o coração é bom para a cabeça, considerando que maximizar a circulação sanguínea é de extrema importância: Os problemas de memória associados ao envelhecimento são, frequentemente, exacerbados pela má circulação. Os neurônios mortos pelo cortisol e por outros fatores negativos quase sempre impedem o fluxo sanguíneo para os neurônios saudáveis, agravando a perda de memória e problemas de concentração. Também, a placa vascular causada por uma dieta com excesso de gordura contribui para a diminuição do fluxo sanguíneo para as células cerebrais. o cérebro é Totalmente Dependente de um abundante fluxo sanguíneo porque ele requer, após aproximadamente, 25% de todo sangue bombeado pelo coração. [...] ademais, hipertensão arterial - amiúde uma consequência direta de uma dieta pobre- é prejudicial a perfeita função cognitiva. No cérebro, a hipertensão produz um efeito Sutil de desvio, levando o sangue para longe de onde é necessário. Esse “efeito anti-Robin Wood” abala a memória e a concentração (Khalsa, 1997, p. 60-61). Com relação a dietas com excesso de gordura, o pesquisador indica que produzem o aumento da produção de radicais livres, matando bilhões de neurônios. Assim, sugere que uma boa dieta deve ter baixo teor de gordura, ser rica em carboidratos e conter proteínas adequadas. Outro aspecto importante é obter o nível adequado de açúcar no sangue, pois um nível baixo reduz o funcionamento apropriado do cérebro, prejudicando a concentração e o armazenamento de memórias. Indica também que o estresse aumenta as necessidades nutricionais, ou seja, uma pessoa estressada precisa de quantidades maiores de nutrientes, mas, em vez de supri-las, frequentemente as pessoas estressadas as substituem por café, açúcar, nicotina e álcool, substâncias que acabam prejudicando os neurônios e seus neurotransmissores, e ainda reduzem a habilidade de lidar com o estresse (Khalsa, 1997). 6 Khalsa (1997) propõe uma dieta baseada em cereais integrais, vegetais, proteínas não animais, frutas e uma porção ocasional de peixe. Propõe também a suplementação nutricional: Os complementos que recomendo inclui uma bateria antioxidante de vitaminas A, C e E; o complexo das vitaminas B; lecitina rica em colina; e uma pequena combinação de minerais, inclusive o magnésio. [...] A colina tem suma importância porque é um precursor nutricional, um bloco de construção do neurotransmissor acetilcolina - o principal condutor da memória. [...] também é necessária para a manutenção da plasticidade cerebral [...] pacientes com perda de memória tiveram mais de cinquenta por cento de melhora apenas com uma complementação de Colina (Khalsa, 1997, p. 61-62). TEMA 2 – MICROBIOMA OU MICROBIATA INTESTINAL 2.1 Sistema digestório Nosso sistema digestório ou gastrointestinal é responsável pela digestão dos alimentos, transformando-os em moléculas menores, os nutrientes que serão absorvidas pelo organismo. Assim, seleciona o que vai ou não ser absorvido. Ele também controla a inscrição daquilo que deve ser eliminado, seja através de fezes ou por destoxificação. Essas funções são cruciais para o organismo, pois são os nutrientes que formam, mantêm e renovam as células, garantindo uma boa saúde (Carreio, 2016, 2). Intestino pode ter de 8 a 10 metros, com superfície total de 400 metros quadrados, em média, formando a maior Barreira do nosso organismo, ou seja, e a maior área exposta ao meio ambiente e, portanto, mais sensível as substâncias agressivas e imunogênicas. Quando saudável, é dotado de uma enorme capacidade para selecionar os nutrientes necessários ao funcionamento do organismo e impedir a absorção dos seus agressores. Daí a importância da integridade fisiológica e funcional de sistema. A microbiota presente no sistema gastrointestinal, em maior proporção no intestino, determina-se o funcionamento na plenitude. Sem a presença de uma comunidade de microrganismos o intestino não tem como exercer praticamente nenhuma das suas funções, imprescindíveis para a regulação de todo o organismo. [...] O sistema digestório é tão importante para a manutenção de todas as funções do organismo que possui um sistema nervoso autônomo denominado SISTEMA NERVOSO ENTÉRICO, que começa no esôfago e se estende até o ânus. O intestino é o único órgão que contém um sistema nervoso capaz de medir reflexos na total ausência de informações do cérebro ou da medula espinhal. O número de neurônios nesse sistema entérico é de cerca de 100 milhões, quase o mesmo que em toda a medula espinhal. Isso faz com que o intestino seja o único órgão do corpo humano capaz de executar funções independentemente do sistema nervoso central. [...] hoje sabemos que as funções do intestino são muito mais abrangentes: digestória, absortiva, escretória, imunológica, neurológica, endócrina e destoxificante (Carreio, 2016, p. 35-36). 7 Os 100 milhões de neurônios do intestino são ligados ao Sistema Nervoso Central por apenas 3 mil neurônios, o que lhe permite ter autonomia, razão pela qual foi chamado de 2º cérebro ou órgão inteligente! E mais, entre 90 e 95% da serotonina (neurotransmissor da felicidade) é produzida na mucosa intestinal! A acetilcolina, dopamina, hormônio do crescimento, entre outros, também são ali produzidas. Em complemento, mais de 80% de nossa imunidade se relaciona diretamente com os intestinos! Em grande parte, o funcionamento de nosso cérebro é definido nesse sistema (Carreio, 2016; Faintuch, 2016). Passaremos agora ao aspecto coletivo dessa estrutura: microbioma ou microbiata intestinal. 2.2 Microbioma: o que é isso? Como comentado, para que o sistema gastrointestinal funcione bem, e em particular os intestinos, existe a necessidade da interação com um conjunto de microrganismos (Carreio, 2016). Bioma pode ser definido como uma comunidade vegetal ou animal que vive em um habitat específico. O microbioma se refere a seres microscópicos. Pode abranger, portanto, vírus, bactérias, arqueias (arqueobactérias) e fungos. no organismo humano, a microbioma específicos na pele para as distintas regiões, bem como para todas as mucosas: esofágica, gástrica, intestinal, urinária, genital, respiratória, oral, oftálmica etc. tampouco faltam micro biomas no meio circundante, como o solo, plantas, animais, Águas Doces e marinhas, efluentes, resíduos etc. a expressão foi popularizada em 2001 pelo microbiologista Joshua Ledberg, prêmio Nobel de medicina (1958), focalizando a comunidade ecológica de microrganismos comensais, simbióticos e patogênicos que compartilham nosso espaço corporal, desempenhando papéis na saúde e na enfermidade (Faintuch, 2016, p. XV). Entre as várias nomenclaturas utilizadas, destacamos: a) microbioma bacteriano intestinal humano metanogenico; b) flora bacteriana intestinal; c) ecossistema de microrganismos comensais, simbióticos e patogênicos; d) segundo Genoma; e) segundo cérebro; f) microbioma; e e) microbiota. Essas duas últimas nomenclaturas foram adotadas nos congressos médicos como sinônimos e convivem na literatura científica (Faintuch, 2016). A quantidade desses microrganismos surpreende. Em nosso organismo, temos cerca de 10 trilhões de células. Somente em nosso intestino, temos cerca de 100 trilhões de microrganismos. Ou, seja somos 10% humanos! (Collen, 2016) Para cada célula que compõem o recipiente que você se acostumou a chamar de “meu corpo”, existem novecélulas imposturas pegando carona. Você não é formado só de carne e sangue, músculo e osso, cérebro e pele. Há também bactérias e fungos. Você é mais “eles” do que “você” (Collen, 2016, p. 12). 8 A microbiota intestinal é composta por um equilíbrio entre bactérias saudáveis (probióticas), as bactérias com potencial patogênico, as comensais e os fungos (que também possuem potencial patogênico) (Carreio, 2016, p. 38). Além da quantidade, esses trilhões de microrganismos também impressionam pelo peso, totalizando entre 1,5 e 2 kg! são entre 1000 a 4000 espécies de microrganismos coabitando com a raça humana, sendo que a maior parte deles é ainda não identificada pela ciência. Cada pessoa tem sua própria diversidade de microbioma, cerca de 160 espécies diferentes (Carreio, 2016, p. 3). “A microbiota intestinal possui mais atividade metabólica que todo nosso organismo. Esses microrganismos agem em sinergia. Suas ações não são devidas a uma única ‘super espécie’, mas sim à perfeita e comprovada simbiose de várias espécies” (Carreio, 2016, p. 38-39). Interessante notar que milhões de microrganismos não tomariam nosso corpo seu habitat se não nos trouxessem algum benefício, e obviamente também se beneficiassem com isso. Se não nos beneficiassem, nosso sistema imunológico, que combate os germes e nos cura de infecções, teria também combatido esses organismos simbióticos. De fato, suas funções em nosso sistema são diversas, cruciais à manutenção da nossa saúde e ao nosso funcionamento mental e emocional (Carreio, 2016; Collen, 2016). A indução, a ativação e o condicionamento do sistema imunológico estão robustamente subordinados ao microbioma e também a prevenção de enfermidades alérgicas e autoimunes é a ele atribuída. Diversas vitaminas são elaboradas, minerais são absorvidos ou excretados drogas são ativadas ou neutralizados pelas bactérias intestinais, sendo que muitas das moléculas por ela sintetizadas ou modificadas atuam como mediadores biológicos, exercendo ações em mecanismos e territórios distantes, incluindo-se inflamação, neurotransmissão, angiogênese, oncogênese e aterosclerose, com desdobramentos, entre outros, para o sistema cardiovascular e nervoso central (Faintuch, 2016, p. XVII). 2.3 Funções do microbioma A Figura 1 apresenta uma síntese das funções do microbioma. 9 Quadro 1 – Funções do microbioma Fonte: Faintuch, 2016, p. XVII. Outras influências incluem (Carreio, 2016; Faintuch, 2016; Collen, 2016; Kellman, 2017): • sociabilidade & extroversão (lactentes); • processamento de emoções e percepção sensorial; • aumento ou redução do stress; • autismo, farmacodependência, ansiedade e depressão = disbiose intestinal x efeitos ansiolíticos e antidepressivos; • obesidade x antibióticos; • paladar e desejo por certos tipos de alimentos. Sendo tão crucial a todo nosso organismo, e em especial ao nosso cérebro, o que podemos fazer para manter nosso microbioma saudável? Alimentação, além da manutenção de hábitos saudáveis, como o necessário sono, a ingesta correta de água, a evitação de vícios, como cigarro e álcool, entre outros, e a gestão do stress. Ainda assim: alimentação, essa é a principal estratégia. 10 2.4 Prebióticos, probióticos e simbióticos Prebióticos, probióticos e simbióticos são conceitos relacionados ao microbioma. Prebióticos são alimentos que contêm ingredientes que não são digeríveis e que estimulam seletivamente o desenvolvimento e as funções das bactérias positivas, beneficiando, consequentemente, a nossa saúde. Eles podem também inibir a multiplicação de bactérias e fungos patogênicos. Modificam o ambiente e a composição da microbiota colônica, e assim as bactérias benéficas se tornam maioria. Exemplos de alimentos prebióticos incluem: alho, alho porró, aspargos, cebola, chicória, trigo e tubérculos. Também temos banana, cevada, mel, centeio, tomate e aveia (Carreio, 2016). Mascaro (2018, p. 303) adiciona outros alimentos, temperos e chás que podem dar um “up” nos intestinos: • Suplementos: Ômega-3, vitaminas do complexo B • Chás: hortelã, camomila, erva doce, Espinheira Santa, guaçatonga, funcho e Bolsvélia. • Temperos: orégano, alecrim, alho e cebola, gengibre, cúrcuma. • E mais: vinagre de maçã, sementes de abóbora e linhaça, brotos, cereais integrais (arroz, que, amaranto, aveia) batata yacon, alfafa, limão, óleo de coco, aloe vera e farinha de banana verde Se os alimentos prebióticos são aqueles que nutrem as bactérias positivas, os alimentos probióticos são aqueles que contêm essas bactérias. Podem ser de dois tipos: os alimentos naturais, que são preparados de forma artesanal, e produtos alimentícios industrializados (Carreio, 2016). Probióticos foram descobertos no começo do século XX pela observação dos efeitos positivos do leite fermentado. Contudo, povos bem mais antigos, do século XVIII, já conheciam tais efeitos curativos através do leite fermentado de cabras. Isso aconteceu nas montanhas do norte do Cáucaso, sendo que essa região e esse período estão relacionados à origem do Kefir. Outros povos, como os árabes, também preparavam coalhada com leite das cabras. Os alemães desenvolveram seus próprios probióticos. Através da fermentação do repolho fizeram o chucrute, ainda hoje um prato tradicional na cultura gastronômica alemã. Também pela fermentação do repolho, os coreanos criaram o Kimchi. Os 11 japoneses elaboraram o missoshiro e o shoyu, fermentando em conjunto soja, cevada de arroz e outros grãos (Carreio, 2016). Os processos de fermentação artesanais garantiram a sobrevivência de populações que não dispunham de alimentos frescos durante o ano todo e permitiam que os povos se movimentassem sem necessidade local de fontes de alimentos. Alguns desses alimentos fermentados também eram utilizados como remédio. O Kefir talvez seja o melhor exemplo desta função (Carreio, 2016, p. 178). Os grãos ou as sementes de Kefir se constituem num conjunto gelatinoso polissacarídeos com vários microrganismos em simbiose. Esses grãos são misturados com água ou com leite cru, permitindo a reprodução desses microrganismos. É necessário ter cuidados com a procedência dos grãos, a forma de manuseá-los, e também com a higiene dos recipientes onde são alocados, evitando possíveis contaminações com outras bactérias (Carreio, 2016). Basicamente o Kefir contém: leveduras, bactérias produtoras de ácido lático e acético, várias espécies de lactobacilos, streptococcus, lactococcus, além de nutrientes como: ácido fólico, vitaminas B5, B6, B3, B12, vitamina K, biotina, cálcio, carboidratos, fósforo, gordura, lactase, magnésio, proteínas e aminoácidos isolados (Carreio, 2016, p. 179). Os simbióticos se constituem em suplementos alimentares que integram probióticos e prebióticos. Saiba mais Uma descrição desses cuidados pode ser vista em vídeo: KEFIR MANUAL do iniciante. Paloma Soares, 19 maio 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=QyJMYaJm_f8&feature=youtu.be>. Acesso em: 9 jul. 2019. 2.5 Nutriente especial para o cérebro - Ácidos graxos essenciais - Ômega-3 Ômega-3 é um lipídio, nutriente essencial para o cérebro, e está cada vez mais carente na população em geral. Talvez porque na atualidade existam poucas fontes deste supernutriente, em vista dos alimentos refinados, dos peixes criados em cativeiro, e também do alto consumo de gordura trans nos alimentos industrializados. Por essa razão, o consumo do ômega-3 tem sido considerado cada vez mais como um alimento do que um suplemento, principalmente através de cápsulas de óleo de peixe ou de linhaça, e também pelos óleos de linhaça, que são adicionados na alimentação (Carreiro, 2017). https://www.youtube.com/watch?v=QyJMYaJm_f8&feature=youtu.be 12 E por que é tão importante? “O ômega-3 modula o sistema imunológico, melhora a comunicaçãoneuronal, auxiliando no suporte emocional, age como anti-inflamatório natural, tem ação anti-histamínica e controla IgE” (Carreiro, 2017, p. 278) Outras funções incluem: Auxiliam na manutenção das membranas celulares que circundam as células e as estruturas intracelulares (organelas); Determinam a fluidez e as reações químicas das membranas; Aumentam a razão oxidativa e metabólica e os níveis de energia; Servem de precursores para prostaglandinas, que tem grande influência na inflamação, dor e a resposta alérgica; Carregadores de substâncias lipossolúveis tóxicas para eliminação; Armazenar cargas elétricas que produzem correntes elétricas importantes para os nervos, os músculos, as funções das membranas celulares e na transmissão de mensagens; Ajudam na barreira que impede absorção de moléculas estranhas como vírus, leveduras, fungos e bactérias; Mantém intactas as proteínas, enzimas, materiais genéticos e organelas no meio intracelular (Carreiro, 2017, p. 278-279). E ainda: possuem capacidade anti-inflamatória, antiarrítmica, antitrombótica e vasodilatadora, proporcionando homeostase e maior equilíbrio bioquímico ao ultraexclusivo ambiente cerebral, ligados à síntese de neurotransmissores e integridade do sistema imunológico, favorecendo a diminuição dos níveis de inflamação sistêmica e de colesterol na corrente sanguínea. Com isso, auxiliam significativamente a menor incidência de doenças cardiovasculares e de processos neurodegenerativos e autoimunes (Mascaro, 2018, 375). E mais, potencializa a memória, e aumenta o número de receptores dos neurotransmissores serotonina, dopamina e noradrenalina (Póvoa; Callegaro; Ayer, 2005). Porém, para que a ativação dos ômegas seja efetivada em nosso organismo, é necessário a ação de enzimas delta-6-desaturase e delta-5- desaturase. Infelizmente, nossa vida moderna prejudica, ou melhor, bloqueia essas enzimas. Por vezes, também faltam nutrientes para que possam agir (Carreiro, 2017). Fatores bloqueadores dessas enzimas: Envelhecimento, Poluição atmosférica, Álcool e açúcar refinado, Carcinógenos químicos, Excesso de colesterol, Fumaça de cigarro, Deficiência de: Biotina, cálcio, selênio, magnésio, zinco, cobre, vitamina B3, vitamina B6, vitamina E, vitamina C, energia e proteína; Estresse adrenal (catecolaminas); Radicais livres (estresse oxidativo); Deficiência e/ ou resistência à insulina; 13 Excesso de gorduras saturadas; Ácidos graxos trans; Vírus; Raio X (Carreiro, 2017, p. 279-280). Por todas essas informações, a suplementação de ômega-3 parece ser indispensável a neurolíderes, porque precisam de elevado desempenho cerebral! O metabolismo cerebral, especialmente se estamos falando de estados de alta performance mental, exige o consumo diário de ômega-3. [...] podemos dizer que os ácidos graxos de cadeia longa, especificamente o ômega-3, São ocupantes do primeiro lugar em nossa lista de nutrientes bacanas para o cérebro (Mascaro, 2018, p. 375). TEMA 3 – SONO 3.1 Importância do sono Quão importante ele é? Estudos têm relacionado o sono insuficiente a doenças como diabetes, obesidade e depressão, e também doenças cardiovasculares. Em adição, é crucial para regular o humor, para consolidar memórias e para o aprendizado! Pesquisas sugerem que: a quantidade adequada de sono é fundamental para a aprendizagem. As memórias tornam-se mais estáveis durante a noite durante o sono profundo, e o cérebro passa por memórias e decide o que manter e o que não deve manter. A falta de sono pode reduzir a capacidade de aprendizagem em até 40%, de acordo com os Institutos Nacionais de Saúde. Muitos concordam que o sono é crucial para a memória, em particular para as funções interativas da memória de trabalho, memória de longo prazo e atenção (Lyman, 2016, p. 40). O sono é importante porque é durante ele que as memórias ficam temporariamente guardadas no hipocampo são definitivamente registradas ou consolidadas em áreas corticais, ou superiores do córtex. De fato, o momento mais crucial para as memórias serem movidas do hipocampo para o neocórtex é durante as duas últimas horas de sono (por exemplo, da hora 5:30 às 7:30 ou das horas 7 a 9) [...]. Portanto, quando reduzimos a duração do sono, estamos diminuindo a capacidade do cérebro de transferir as lembranças do armazenamento de curto prazo para o armazenamento a longo prazo. Isso efetivamente diminui a aprendizagem que mantemos no dia anterior (Lyman, 2016, p. 40). Uma referência de quantas horas deveríamos dormir por noite foi fornecida pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA, em 2012. 14 Quadro 2 – Recomendação de horas de sono diário por idade Idade Recomendação diária de sono 0–3 16–18 horas 4–5 11–12 horas 6–12 10 horas no mínimo 13–19 9–10 horas Acima de 20 7–8 horas Fonte: Lyman, 2016, p. 40. A falta de sono adequado pode levar à sonolência diurna, especialmente em adolescentes, fator que prejudica várias atividades e pode tornar difícil prestar atenção em determinadas atividades, aumentando a impulsividade, a irritabilidade e a depressão. A utilização de equipamentos eletrônicos (televisão, computador, tablete, celular) à noite e, ainda, no quarto de dormir, reduz quantidade e qualidade do sono, afetando o desempenho escolar. Em síntese, há que se ter ou garantir um programa para dormir e manter os equipamentos eletrônicos desligados (Lyman, 2016). 3.2 Sono & funções cognitivas Durma antes de decidir (durante o sono o cérebro organiza o aprendizado e resolve problemas). A privação do sono afeta a capacidade de planejamento e concentração, a resolução de problemas, o aprendizado, a memória operacional e a atenção. Pessoas não privadas, que cochilam por uma ou duas horas, podem aumentar seu rendimento em atividades que exijam concentração. “A atenção é a base da pirâmide mental”. Vinte e uma horas de privação equivalem ao estado de alcoolismo. Ao dormir, o cérebro reativa conexões que estavam em uso durante a vigília, fixando-as na memória de longo prazo. Ele também acessa conhecimentos anteriores estabelecendo novas conexões e gerando ideias criativas (Douglas et al., 2007). TEMA 4 – EXERCÍCIO E ATIVIDADES FÍSICAS 4.1 Importância do movimento O sistema motor é parte integrante do processo de cognição humano; é o primeiro sistema a se desenvolver, sendo crucial nos primeiros níveis de 15 aprendizado. É base dos sistemas de atenção, ajudando a construir os circuitos frontais do cérebro, essenciais às funções executivas e à atenção. O movimento está relacionado com a nossa intenção. Ele está diretamente ligado à nossa força de vontade e motivação e se liga intimamente com a aprendizagem. As entradas sensorimotoras do corpo passam por uma rede central do cérebro, os gânglios basais, críticos não só para controle motor, mas também centrais para a motivação e as redes de aprendizagem [...]. Além disso, esta rede está envolvida no TDAH [...]. A falta de oportunidade para o movimento leva a diminuição das chances de formar essas importantes conexões neurais, potencialmente causando problemas de motivação, atenção e aprendizado na vida adulta (Lyman, 2016, p. 54). Transpirar pode fortalecer os neurônios (esportes favorecem atividade cortical e combatem stress, depressão e ansiedade). Meia hora de caminhada três vezes por semana aumentam em 15% a capacidade de aprendizado, concentração e raciocínio abstrato. Tais efeitos são mais marcantes em pessoas acima de 60 anos, que apresentam declínio menor em testes cognitivos em relação a outras com a vida sem exercícios. Camila Ferreira-Vorkapic, da UFRJ, realiza estudos que evidenciam os efeitos ansiolíticos e antidepressivos das atividades físicas, que reduzem ansiedade, depressão e stress. Produzindo aumento da circulação sanguínea, os exercícios intensificam atividades corticais, favorecendo as funções cognitivas. Eles facilitama síntese de proteínas indispensáveis à produção de sinapses e à criação de memórias (Douglas et al., 2007). 4.2 Exercício e o cérebro Ângela Balding, do Reino Unido, observou que crianças entre 10 e 11 anos que fazem exercícios de três a quatro vezes por semana tem médias de notas escolares mais altas. Além disso, exercícios físicos promovem o crescimento de novas células cerebrais (neurogênese). Pesquisas com camundongos mostram que o exercício afeta a construção cerebral, principalmente no hipocampo, associado ao aprendizado e à memória. Esta área é uma das mais sensíveis aos efeitos elevados de cortisol (hormônio do stress). Assim, se alguém estiver exaurido, exercitar-se poderá trazer benefícios para o cérebro. Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em 2004, apresentaram resultados de uma pesquisa sobre os efeitos de posturas de yoga sobre o humor de voluntários. Dentre as várias curvaturas estudadas, a que mais estimulou o ânimo mental foi a curvatura para trás (Douglas et al., 2007). 16 Segundo Mascaro (2018, p. 309), a atividade física é benéfica para o cérebro de muitas formas: Otimiza a neurotransmissão. Promove o incremento de CREB, proteína diretamente ligada à plasticidade neural e a formação de memórias de longo prazo, cuja deficiência está implicada no surgimento de quadros demenciais, como Alzheimer. Aumenta significativamente o fluxo sanguíneo e o aporte energético do cérebro. Aumenta fatores anti- inflamatórios naturais, como o NRf 2 [...] Principal regulador do dano oxidativo. [...] aumenta a biogênese mitocondrial. TEMA 5 – PLASTICIDADE E PRÁTICAS NEURÓBICAS 5.1 Plasticidade O desenvolvimento do sistema nervoso traz modificações sucessivas, que tendem a seguir uma programação interna, genética, que é modelada pela interação ambiental, principalmente após o nascimento. Tais modificações não ocorrem apenas durante o desenvolvimento do sistema nervoso, mas ao longo de toda a vida, ainda que numa proporção menor, como veremos, explorando a plasticidade cerebral: Plasticidade cerebral se refere alterações vitalícias na estrutura do cérebro que acompanham a experiência. Esse termo sugere que o cérebro é maleável, como o plástico, e pode ser moldado em diferentes formas, pelo menos em nível microscópico. Os cérebros expostos a diferentes experiências ambientais, são moldados de forma diferente. Por ser parte de nosso ambiente, a cultura ajuda a moldar o cérebro da espécie humana. Poderíamos, portanto, esperar que pessoas em diferentes culturas adquirissem diferenças na estrutura cerebral cujo efeito sobre os seus comportamentos fosse permanente. A plasticidade cerebral não se deve apenas a resposta a eventos externos ao organismo, mas também a resposta a eventos internos, incluindo efeitos hormonais lesões e genes anormais. O cérebro em desenvolvimento, desde o início da vida, é essencialmente responsivo a esses fatores internos, que, por sua vez, alteram a forma que o cérebro reage às experiências externas (Kolb; Whishaw, 2002, p. 259-60). Pensando em termos de programação genética, vemos que ao longo da infância existe um aumento progressivo das conexões sinápticas, o que é reduzido na adolescência. Esse processo, que conduz à idade adulta, busca otimizar o potencial de aprendizagem, pela redução da taxa de aprendizagem com o aumento da capacidade de refletir sobre os aprendizados anteriores (Cosenga; Guerra, 2011). Complementando, na interação com o ambiente a plasticidade mostra utilidade essencial, visto que a maior parte de nossos comportamentos são apreendidos: 17 O treino e aprendizagem podem levar a criação de novas sinapses e a facilitação do fluxo da informação dentro de um circuito nervoso. É o caso do pianista, que diariamente se torna mais exímio porque o treinamento constante promove alterações em seus circuitos motores e cognitivos, permitindo maior controle e expressão na sua execução musical. Por outro lado, o desuso, ou uma doença, podem fazer com que ligações sejam desfeitas, empobrecendo a comunicação nos circuitos atingidos (Cosenga; Guerra, 2011, p. 36). Quando aprendemos coisas novas com base nas existentes, aumentamos a complexidade das ligações neuronais anteriores e produzimos ligações novas. A grande plasticidade no fazer e no desfazer as associações existentes entre as células nervosas é a base da aprendizagem e permanece, felizmente, ao longo de toda a vida. Ela apenas diminui com o passar dos anos, exigindo mais tempo para ocorrer e demandando um esforço maior para que o aprendizado ocorra de fato (Cosenga; Guerra, 2011, p. 36). 5.2 Estimulando a plasticidade: práticas neuróbicas Todo aprendizado necessita de plasticidade; então, quanto mais aprendemos, mais modificamos nosso cérebro, que funciona por demanda e por ação. Quanto mais precisamos dele para enfrentar situações, e quanto mais o utilizamos, mais o desenvolvemos. E são as situações ou atividades novas que mais demandam de nosso cérebro e o fazem melhorar. Nossas atividades do dia-dia são compostas por rotinas que se repetem a vão sendo executadas de maneira cada vez mais automática, que apesar de terem a vantagem de reduzir o esforço intelectual e o tempo gasto, escondem um efeito perverso: limitam o cérebro. Com o avanço da idade os neurônios do cérebro vão restringindo a capacidade de formar novas sinapses, e ainda, por falta de estímulos, há o risco de perder as antigas. Para contrariar essa tendência é necessário praticar exercícios “cerebrais” que venha a estimular o maior número de neurônios a funcionarem. Estes estímulos nos neurônios levam as células chamadas de gliócitos, dentre elas o principal é o astrócito, a produzirem neurotrofinas. Estas substâncias produzem reações hipertróficas nos neurônios, fazendo com que seus dendritos se ramifiquem e cresçam em direção a outros neurônios, integrando-os às vias nervosas (Chelles, 2012, p. 1). A plasticidade pode ser estimulada pela realização de atividades diferentes das que estamos acostumados, ou quando fazemos as mesmas atividades de forma diferente. É como se fosse uma ginástica para o cérebro – chamada de neuróbica, expressão desenvolvida pelos neurocientistas Lawrence Katz e Manning Rubin (2010), que relacionaram ao cérebro a expressão “Use-o ou perca- o”. Em síntese, ao nos envolvermos com práticas novas, ou feitas de uma maneira diferente, estimulamos nosso cérebro à criação de novos neurônios e novas sinapses. Um exemplo é a realização de atividades com a mão não dominante, 18 como escrever, usar o mouse do computador. Tomar banho, selecionar roupas para usar e caminhar pela casa com os olhos fechados também são exemplos de atividades neuróbicas. Explorar melhor nossos sentidos menos desenvolvidos (a visão é o nosso sentido dominante), fazer exercícios mentais, como resolver charadas, jogos, cálculos etc. e, por fim, envolvermo-nos em atividades artísticas, sociaisafetivas e físicas diversas. Todos são exemplos de possibilidades neuróbicas. 5.3 Plasticidade: treinamento para aumentar o QI Há cerca de duas ou três décadas, pensava-se que o QI (incluindo aptidões espaciais, como memória e raciocínio verbal) era estável e geneticamente determinado. No entanto, pesquisas recentes indicam que a inteligência tem como função básica a memória operacional (de curto prazo), que se for desenvolvida poderá melhorar a capacidade de resolução de problemas. “A quantidade de informações que poderá ser guardada na memória operacional está fortemente relacionada à inteligência geral”. Torkel Klingberg, do Instituto Karolinska, Suécia, desenvolveu estudos com crianças e adultos treinando a memória operacional, mapeando-a através do RMF, antes e depois do treinamento (5 semanas). Entre os resultados com adultos, verificou que a atividade cerebral havia aumentado nas regiões dessa memória. Já entre as crianças, observou-seuma melhora em várias aptidões cognitivas não ligadas ao treinamento, além de um acréscimo de 8% na pontuação de QI. O pesquisador acredita que o treino em memória operacional poderia ser uma chave para ampliar significativamente o poder do cérebro. “A genética e o período gestacional inicial são bastante importantes, mais não podemos desprezar o fato de existir um percentual (e não sabemos qual é) que pode ser melhorado por estímulos ambientais e pelo treinamento” (Douglas et al., 2007). 5.4 Plasticidade & memória: técnica mnemônica propõe invenção de narrativas para fixar informações Através de estratégicas mnemônicas, é possível memorizar séries com milhares de dígitos, sem ter um QI particularmente alto. Uma dessas estratégias é a rota visualizada, utilizada para lembrar os itens, a que são atribuídas identidades, seja de um objeto ou pessoa, e para as quais inventam-se histórias 19 relacionadas à sequência das interações entre os personagens e os objetos. Noutra técnica, atribui-se significado emocional aos itens. Alguns atores também relacionam palavras a movimentos, o que foi evidenciado como vantajoso num estudo realizado pela psicóloga Helga Noic, de Illinois. Ter duas representações mentais aumenta a chance de relembrar. Barry Gordon sugere que hábitos como colocar objetos num mesmo lugar, fazer anotações em papel ou focar a atenção podem auxiliar na quantidade de informações que guardamos. Para memorizar nomes de pessoas, pode ser útil fazer associações mentais, como a invenção de pequenas narrativas com o nome a ser memorizado, ou associações a um personagem de filme ou romance (Douglas et al., 2007). 5.5 Neurofeedback e emoções positivas Neurofeedback é o controle de reações fisiológicas pela vontade. Desenvolvida através da terapia de biofeedback, o neurofeedback é utilizado como auxílio para o controle de ondas cerebrais, medidas EEG (exemplo: onda alfa, associada a estados de calma e concentração). Num estudo, utilizou-se um jogo de computador no qual a velocidade de um carro foi associada ao tamanho da onda alfa, sendo que a tarefa solicitada aos participantes era acelerar o movimento do carro usando a mente. Muitos conseguiram, mostrando-se mais alertas e concentrados. Esta prática tem sido usada como terapia alternativa do TDHH, epilepsia, depressão, ansiedade e recuperação motora pós-AVCs. Equipamentos mais modernos, como scanners, também têm sido utilizados, permitindo aos pacientes ver e controlar atividades de partes específicas do cérebro. John Gruzelier, de Londres, trabalha com estudantes, cirurgiões, músicos e dançarinos, com o objetivo de verificar se conseguem, através desse recurso, aumentar suas capacidades nessas áreas. Neils Bierbaumer, da Alemanha, estuda o neurofeedback como forma de ajudar criminosos psicopatas no controle de sua impulsividade. Esta técnica parece melhorar a criatividade, o humor, o orgasmo e a autoconfiança. “Tudo com a força do pensamento. Parece ficção mais é neurociência” (Douglas et al., 2007, p. 39). 5.6 Generosidade e alegria: bom humor afasta sinais de senilidade Num estudo neurológico do Prof. David Snowdon, da Universidade de Kentucky, participaram 678 freiras católicas entre 75 e 107 anos. O pesquisador 20 descobriu que algumas religiosas que não apresentavam senilidade em vida, quando tiveram seus cérebros examinados “post-mortem”, evidenciaram características de um cérebro com demência. Entre as características comuns encontradas como justificativa para este fato: a. quantidade certa da vitamina folato (ácido fólico) encontrada na laranja, espinafre e soja; b. aptidão verbal precoce na infância; c. posturas generosas tanto consigo como para com os outros, alegria e gratidão pela vida; d. exercícios físicos, palavras cruzadas, leitura e tricô (Douglas et al., 2007, p. 39). 21 REFERÊNCIAS CARREIO, D. M. Alimentação e distúrbios do comportamento. 3. ed. São Paulo: Denise Madi Carreiode, 2017. _____. 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