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AULA 3 NEUROLIDERANÇA E NEUROCOACHING Prof. Fábio Eduardo da Silva 2 CONVERSA INICIAL Olá! Chegamos ao terceiro texto, no qual você vai rever as teorias clássicas de liderança, conhecer algumas abordagens mais modernas, e explorar o modelo active de neuroliderança, uma proposta atual baseada ne neurociência cognitiva, voltada a maximizar o funcionamento cerebral dos profissionais e, consequentemente, seus desempenhos e resultados. TEMA 1 - TEORIAS CLÁSSICAS DE LIDERANÇA Quando pensamos em liderança, precisamos refletir sobre como a interação de diferentes fatores entre os empregados entre si e entre eles e os líderes acarreta uma influência conjunta de comportamentos e ações, que vão levar a uma maior ou menor eficácia na realização das metas da organização. Passemos a analisar diferentes conceitos de liderança, sem desejar, contudo, esgotar a temática, principalmente em função dos limites deste texto. 1.1 Teoria do Traço Uma das mais antigas tem suas origens no começo dos anos de 1900, graças ao trabalho de Gordon Allport (Allport, 1961, citado por Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012). Está relacionada à psicologia da personalidade e aos instrumentos e testes desenvolvidos para avaliá-la. Aposta que as características dos líderes definem o sucesso de uma organização; dessa forma, não considera o ambiente ou contexto no qual o líder está envolvido. Existe um certo consenso, e pesquisas empíricas dão suporte às seis características (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012): Inteligência – considera habilidade verbal, capacidade decisória, de argumentação, clareza mental e atenção focada, que produziram uma boa capacidade de resolução de problemas. Está relacionada à avaliação do QI (consciente de inteligência), sendo que aqueles líderes com maior QI obtêm maior sucesso na liderança. Confiança – são líderes que confiam em suas decisões e são coerentes com elas, liderando com clareza e sem pesar. Tais características são reconhecidas, aceitas e apreciadas por contribuírem para gerar um ambiente seguro e a própria imagem do líder na corporação. 3 Carisma – relacionado há muitas funções da liderança, permite que os líderes consigam transmitir sentido de direção e motivar seus colaboradores e colaboradoras, gerando visões e objetivos claros e envolventes, capazes de estimular as pessoas a segui-los. Essa característica se correlaciona de forma muito forte com a eficácia da liderança. Determinação – característica relacionada à capacidade de os líderes se manterem firmes em relação aos seus propósitos, mesmo diante de adversidades, oposições e conflitos. Sociabilidade – capacidade de se relacionar com redes de pessoas, lidando com conflitos e problemas de forma eficiente e eficaz. Envolve a habilidade de persuasão e a resolução de problemas pessoais e interpessoais. A capacidade de inter-relação harmoniosa permite estimular um ambiente organizacional marcado por cooperação e colaboração, características necessárias ao sucesso corporativo. Integridade – basicamente, significa que o líder é de confiança, ou seja, é honesto com seus colaboradores e colaboradoras. 1.2 Teoria Comportamental Se contrapondo e criticando a teoria de traços, a perspectiva comportamental entende que o sucesso da liderança se dá por meio de líderes que conseguem aplicar comportamentos adequados. Considera dois eixos principais, um deles relacionado à realização de metas e o outro voltado ao cuidado com as pessoas. Daí, surgem duas dimensões básicas da liderança: Estilo de liderança centrada nas pessoas: os comportamentos do líder estão focados nas pessoas, no funcionário. Eles garantem que se sintam confortáveis e os líderes os apoiarão e terão em consideração suas opiniões e sentimentos. Estilo de liderança centrada na tarefa: o líder centrar-se-á nas tarefas e na consecução dos objetivos e este é o centro da sua atenção (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 102). O desafio colocado nessa perspectiva é o equilíbrio entre o cuidado com as pessoas e foco de atingir os objetivos, gerando a máxima: “os melhores líderes tenho trabalho feito [alcançam os objetivos] e se preocupa com os outros no processo [de alcançar tais objetivos]” (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 102). 4 A perspectiva comportamental também considera como o líder permite ou até mesmo estimula que seus colaboradores e colaboradoras participem da tomada de decisão. Com base nisso, considera dois tipos básicos: a) a liderança participativa, em que há um envolvimento dos colaboradores na tomada de decisão, sendo possível por exemplo que as metas sejam definidas de forma conjunta; e b) a liderança autocrática, na qual a definição de metas é feita exclusivamente pela liderança, que fornece aos colaboradores e colaboradoras as regras e as instruções de como tais metas devem ser alcançadas. Na relação entre fatores humanos (relações) e de trabalho (tarefa), Blake e Mouton (citados por Moscovici, 2003, p. 129-130) criaram a teoria Grid, com os seguintes estilos. Figura 1 – Teoria Grid Fonte: Moscovici, 2003, p. 129-130. 9.1: máxima orientação para tarefa, mínima para pessoas 1.9: máxima orientação para as pessoas, mínima para tarefa 1.1: mínima para a ambas 9.9: máxima para ambas 5.5: conciliação de ambas 1.3 Teoria Situacional Essa teoria não se concentra nem em traços nem em estilos de liderança, mas na adequação de diferentes abordagens e estilos a uma situação específica. Democrático 9.9 Participativo Autocrático 9.1 Espoliativo F a to r h u m a n o ( fo c o n a s p e s s o a s ) Laissez-faire Fator Trabalho (foco no resultado) 5.5 Consultivo 1.1 Precário Autocrático 1.9 Benevolente Paternalista 5 Não existe um estilo ou abordagem que sejam melhores em si. Serão mais ou menos eficazes se estiverem mais ou menos adequados aos diferentes contextos. Essa perspectiva foi influenciada pela teoria de contingência de Fiedler e pela pesquisa de Victor Vroom sobre liderança em diferentes situações (Fiedler, citado por Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012). As situações consideradas envolvem a competência (comportamento ligado a atividade) e o comprometimento (comportamento de relacionamento) do grupo ou dos colaboradores e colaboradoras. A combinação desses dois elementos vai indicar quatro níveis de maturidade, que vão demandar quatro estilos diferentes de liderança, conforme mostra o quadro e a figura a seguir (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 104- 105). Quadro 1 – Níveis de maturidade Nível 1: Baixa competência Alto comprometimento Dizendo - neste caso os empregados têm baixa competência, mas elevado comprometimento ou motivação para realizar a tarefa com sucesso. Então o papel do líder é instruir (dizer como) de forma clara como a tarefa deve ser realizada com sucesso. Nível 2: Alguma competência Baixo comprometimento Vendendo / treinando - nesta situação, os colaboradores têm alguma competência, mas não estão motivados ou comprometidos. O líder precisa tanto ofertar instruções claras para a realização da tarefa como tocar ou estimular as emoções dos indivíduos para a produzir motivação necessária ao comprimento da atividade com sucesso. Nível 3: Alta competência Baixo comprometimento Participando - os funcionários e funcionárias têm as competências adequadas, mas não estão motivados ou comprometidos com a tarefa. A liderança precisa explorar as emoções e motivações do grupo, para que sejam mais solidários e participativos, no sentido de realização da atividade. Nível 4: Alta competência Alto comprometimento Delegando - com colaboradores e colaboradoras altamente motivados e com alta competência, temos o cenário ideal para a abordagem delegativa, ou seja, pata aproveitar tais características e permitir que trabalhem de formaindependente com o mínimo de intervenção. 6 Figura 2 – Teoria situacional Fonte: Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 105. TEMA 2 - CONCEITOS E ESTILOS MODERNOS DE LIDERANÇA 2.1 Liderança Emocional A emoção usualmente é avaliada de forma qualitativa em duas dimensões. Na primeira, é seu valor que é considerado, sua valência. Ela pode ser boa ou ruim. Na segunda dimensão, sua intensidade é considerada, podendo ser forte ou fraca. Naturalmente, existem gradações entre esses dois pares de extremos. As emoções influenciam o humor, estimulam ações e reações. Influem em nosso pensamento, motivação e nas habilidades para colaborar. “Emoções unem praticamente todos os tipos de informações que o cérebro pode codificar... (é) parte da ligação que mantém o sistema inteiro junto" (Watt, 1999, citado por Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 106). Usualmente, são subestimadas e mal compreendidas no meio corporativo, parecendo que um líder emocional é aquele muito sentimental ou sensível. Compreender as emoções é simplesmente um processo humano saudável e é essencial para o funcionamento efetivo da força de trabalho. [...] Sabemos que as emoções e o intelecto ou funções cognitivas mais elevadas são, por vezes, circuitos neurais separados, Baixa competência Alto comprometimento Alguma competência Baixo comprometimento Alta competência Baixo comprometimento Alta competência Alto comprometimento Dizendo Treinando Participando Delegando Comportamento voltado a tarefa/resultado C o m p o rt a m e n to fo c a d o n a s p e s s o a s Baixo Alto Potencial desenvolvido Desenvolvimento de potencial 7 mas que também operam em conjunto (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 106). A chave da liderança emocional está na autoconsciência e também na consciência ou percepção das outras pessoas. Perceber as próprias emoções e aquelas expressas por nossos semelhantes é a base para que se possa lidar, trabalhar de modo eficaz com elas e, consequentemente, construir relacionamentos profundos. É possível avaliar que resultados são produzidos por diferentes estilos de liderança? Um estudo conduzido pela consultoria Hay/McBer selecionou aleatoriamente 3.871 executivos de um conjunto de 20.000 indivíduos. A pesquisa encontrou seis estilos de liderança, cada um deles relacionado a um componente da inteligência emocional (Golemann, 2015, p. 18): a pesquisa indica que líderes com os melhores resultados não dependem de um único estilo de liderança. Eles usam muitos, ou a maioria, em uma determinada semana - de forma consistente e em diferentes graus -, dependendo da situação empresarial. Imagine os estilos, então, como o conjunto de tacos na bolsa de um jogador profissional de golfe. No decorrer de uma partida, o jogador escolhe e pega os tacos baseado nas exigências da tacada. Às vezes precisa refletir em sua escolha, mas normalmente ela é automática. O jogador sente o desafio à frente, rapidamente apanha a ferramenta certa e elegantemente a põe em ação. É assim que líderes de alto impacto operam também (Golemann, 2015, p. 18). Esse estudo trouxe resultados interessantes, como a compreensão da forma como os diferentes estilos de liderança produzem desempenho e resultados. Informa também sobre a mudança de estilo que deveria ser feita por um líder; além disso, talvez o mais importante, os resultados sugerem que a troca de estilos produz melhores resultados. Esses resultados ocorrem porque os estilos de liderança influenciam o clima organizacional. Clima refere-se aos seis fatores-chave que influenciam o ambiente de trabalho de uma organização: sua flexibilidade — ou seja, quão livres os funcionários se sentem para inovar sem serem impedidos pela burocracia; sua sensação de responsabilidade com a organização; o nível dos padrões que as pessoas adotam; a sensação de precisão sobre o feedback de desempenho e adequação das recompensas; a clareza das pessoas sobre missão e valores; e finalmente o nível de compromisso com um propósito comum. Todos os seis estilos de liderança possuem um efeito mensurável sobre cada aspecto do clima. Além disso, quando a equipe examinou o impacto do clima sobre os resultados financeiros — como retorno sobre vendas, crescimento da receita, eficiência e rentabilidade — descobriu uma correlação direta entre ambos. Líderes que usavam estilos que afetavam o clima de forma positiva tinham decididamente melhores resultados financeiros do que aqueles que não usavam (Golemann, 2015, p. 19, grifos do original). 8 Vejamos os seis estilos encontrados na pesquisa. Os líderes visionários são aqueles que envolvem e direcionam as pessoas na direção de uma visão. Também as capacitam para que possam conquistar a visão compartilhada. Tudo isso gera uma atmosfera altamente favorável à coerência grupal, na qual cada pessoa tem contribuição muito valiosa para que a meta seja alcançada. O estudo comentado sugere que o estilo visionário é o mais eficaz de todos, influenciando positivamente cada aspecto do clima. Por outro lado, por mais poderoso que seja esse estilo, não terá efeito em todas as situações. Se, por exemplo, estiver trabalhando com uma equipe de especialistas tão ou mais competentes do que ele, esse tipo de liderança poderá parecer pretensiosa. Outro risco desse estilo ocorre quando um líder se torna dominador, podendo prejudicar o espírito igualitário, característico a uma equipe eficaz (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012; Golemann, 2015). Líderes treinadores (coaching) preparam seus colaboradores para o futuro. Procuram conhecer e compreender os pontos fortes e fracos, otimizando as capacidades das pessoas. Acreditam nelas, delegam e lhe entregam responsabilidade: Os líderes assim ajudam os funcionários a identificarem suas forças e fraquezas únicas e as vinculam às suas aspirações pessoais e profissionais. Encorajam os funcionários a criarem metas de desenvolvimento de longo prazo e os ajudam a conceber um plano para atingi-las. Fazem acordos com seus funcionários sobre seus papéis e suas responsabilidades em cumprir planos de desenvolvimento e dão instruções e feedback abundantes. O líder treinador se distingue em delegar. Dão aos funcionários tarefas desafiadoras, ainda que signifique que estas não serão realizadas rapidamente. Em outras palavras, esses líderes estão dispostos a suportar o fracasso a curto prazo se isso estimula o aprendizado a longo prazo (Golemann, 2015, p. 21, 22). No estudo comentado, esse estilo de liderança é o mais raro. Líderes indicam que não conseguem ter tempo para desenvolver/ treinar individualmente seus funcionários e funcionárias. No entanto, o efeito desse estilo de liderança sobre o clima organizacional é muito positivo; após a primeira sessão, ultimamente mais demorada, esse estilo requer muito pouco tempo para a continuidade das atividades; dessa forma, não deveria ser ignorado, pois trata-se de uma poderosa ferramenta que otimiza o clima corporativo (Golemann, 2015). Líderes afetivos, ou liderança afiliativa, buscam criar vínculos emocionais com harmonia, para mobilizar as pessoas à colaboração em grupo. Buscam integrar impulsos emocionais internos para construir conexões interpessoais fortes, e com isso mobilizar e otimizar o desempenho das pessoas. 9 O líder visionário fala “Venham comigo”, o afetivo afirma: “As pessoas vêm em primeiro lugar”. Ao valorizar as pessoas e suas emoções mais do que as próprias tarefas e objetivos, cria-se harmonia, pertencimento, o que estimula forte fidelidade. O resultado usualmente é muito positivo, não apenas do ponto de vista humano, como de resultados objetivos. Oferece liberdade para que as pessoas possam realizar as tarefas de formas variadas, e também oferece feedback amplo,frequente e positivo, recompensando e valorizando as atividades realizadas. Por valorizar as pessoas, seu feedback de aspectos “negativos” ou limitadores usualmente também é bem aceito, favorecendo o aprendizado e a melhoria constante. Interessante notar que, além de cuidar das pessoas, esse estilo de liderança também permite que líderes exponham a si próprios – por exemplo, suas emoções. Isso favorece ainda mais o clima de intimidade e de conexão emocional entre as pessoas. Como os demais estilos, ainda que seja muito positiva, a liderança afetiva não deve ser utilizada de forma isolada. Ela pode ser integrada ao estilo visionário, produzindo uma combinação muito eficaz (Ghadiri; Habermacher,; Peters, 2012; Golemann, 2015). Líderes democráticos, por meio de métodos participativos, valorizam e estimulam a integração das ideias e perspectivas de seus colaboradores, que são convidados a decidirem de forma democrática. Dessa forma, buscam aproximar o consenso do grupo às suas metas, num processo dialógico extremamente comunicativo (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012; Golemann, 2015). Ao dedicar tempo para ouvir as ideias e obter a adesão das pessoas, um líder desenvolve confiança, respeito e compromisso. Ao deixar que os próprios trabalhadores tenham influência nas decisões que afetam suas metas e como realizam o trabalho, o líder democrático aumenta a flexibilidade e responsabilidade. E ao ouvir as preocupações dos funcionários, o líder democrático aprende o que fazer para manter o moral elevado. Finalmente, por terem influência na definição de suas metas e dos padrões para avaliar o sucesso, as pessoas num sistema democrático tendem a ser bem realistas sobre o que pode ou não ser alcançado (Golemann, 2015, p. 24). Como os demais estilos, a perspectiva democrática também traz desvantagens, em particular seu efeito sobre o clima organizacional, que pode não ser tão positivo como em outras perspectivas. Uma dessas situações diz respeito às reuniões frequentes, nas quais existe dificuldade de chegar a um consenso, e novas reuniões são marcadas. Nesses casos, o resultado pode ser confuso e desnorteante para a equipe, podendo inclusive gerar conflitos. Outra limitação ocorre quando os colaboradores não são competentes ou informados no 10 nível adequado. Por vezes, momentos de crise podem também ser desfavoráveis à obtenção de consenso, para os quais um líder visionário pode ser mais oportuno, ao menos até a superação inicial da situação (Golemann, 2015). Líderes modeladores elaboram metas desafiadoras, padrões de desempenho elevados, dando seu próprio exemplo como referência. Buscam fazer as coisas de forma ótima e rápida. Estimulam, ajudam e cobram essa excelência de seus colaboradores e colaboradoras. São exigentes, esperam excelência e, por meio de seu estilo participativo, evocam emoções para criar motivação. “Se eles não correspondem às expectativas, são substituídos por pessoas que correspondem” (Golemann, 2015, p. 25). Esse estilo precisa ser usado com muita moderação, visto seu potencial para destruir o clima corporativo e, consequentemente, não apresentar os resultados desejados (Golemann, 2015). Muitos funcionários se sentem esmagados pelas exigências de excelência do modelador, e seu moral cai. As diretrizes do trabalho podem estar claras na cabeça do líder, mas ele não as enuncia claramente, espera que as pessoas saibam o que fazer e até pensa: “Se eu tenho que explicar, você é a pessoa errada para o serviço.” O trabalho não consiste em dar o melhor de si ao longo de um caminho claro, e sim em adivinhar o que o líder quer. Ao mesmo tempo, as pessoas muitas vezes sentem que o modelador não tem confiança para deixar que trabalhem da sua própria maneira ou tomem iniciativas. A flexibilidade e responsabilidade evaporam. O trabalho fica tão voltado às tarefas e marcado pela rotina que se torna tedioso. Quanto às recompensas, o modelador não dá feedback sobre o desempenho das pessoas e intervém para assumir o controle quando acha que estão ficando para trás. E se o líder tiver de se afastar, as pessoas se sentem perdidas, pois estão acostumadas com “o expert” definindo as regras. Finalmente, o empenho cai sob o regime de um líder modelador, porque as pessoas não têm noção de como seus esforços pessoais se encaixam no quadro mais amplo (Golemann, 2015, p. 25). Essa perspectiva pode funcionar de forma eficaz quando a equipe é altamente competente e motivada, necessitando de pouca orientação e coordenação. Como os demais estilos, é interessante que este também não seja utilizado de forma isolada (Golemann, 2015). Líderes coercitivos, ou liderança de comando, refere-se ao comandante forte que assume o poder e fornece instruções claras e diretas. Informa sobre as ações que devem ser realizadas, sobre o tempo previsto e a qualidade esperada. Como pode ser deduzido, esse estilo de liderança pode ser visto como frio e distante, podendo facilmente prejudicar o clima corporativo. Por essa razão, esse é o estilo menos eficaz dentre todos (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012; Golemann, 2015). 11 O conselho diretor trouxe um novo CEO com a reputação de ser um artista da reviravolta. Ele começou a trabalhar cortando cargos, desfazendo-se de divisões e tomando as decisões duras que deveriam ter sido executadas anos antes. A empresa se salvou, ao menos no curto prazo. Desde o princípio, porém, o CEO criou um reinado do terror, intimidando e humilhando seus executivos, apregoando sua insatisfação ao menor deslize. Os altos escalões da empresa foram dizimados não apenas por suas demissões arbitrárias, mas também por deserções. Os subordinados diretos do CEO, assustados com sua tendência de culpar o portador de más notícias, pararam de trazer quaisquer notícias para ele. O moral atingiu seu ponto mais baixo — fato refletido em outra retração da empresa após a recuperação de curto prazo. O CEO acabou sendo demitido pela diretoria (Golemann, 2015, p. 26). Como podemos ver no exemplo, essa liderança pode ser muito útil em momentos de crise, quando não há tempo para discussões, e medidas rápidas devem ser tomadas, com mensagens fortes sendo transmitidas (Golemann, 2015). A imagem a seguir apresenta os seis estilos, suas repercussões e impactos e as situações em que são apropriados. Quadro 2 – Estilos de liderança Fonte: Goleman, 2014, p. 30. 12 2.2 Gestão por Objetivos Essa perspectiva apresenta recomendações para a liderança. Esse modelo foi elaborado por Peter Drucker (1954, citado por Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012) em sua obra clássica A prática da gestão (The Practice of Management). Seus princípios são: Foco no objetivo em vez de foco no processo: em vez de esperar certos comportamentos, a liderança concordará em objetivos com seus funcionários. Os funcionários podem então decidir sobre quais comportamentos e métodos são melhores para atingir esses objetivos. Monitorização e adaptação a objetivos regulares: os objetivos devem ser continuamente monitorizados e adaptados sempre que necessário. Devido ao ambiente corporativo em constante mutação e à mudança de dinâmicas, será sempre necessário rever e modificar os objetivos. Participação dos colaboradores na formação de objetivos: o acordo mútuo sobre os objetivos garante que as necessidades dos trabalhadores são tidas em conta e também as suas competências, conhecimentos e especialidades pertinentes. Isso leva a objetivos e mais realistas com os quais os funcionários podem se identificar. Controle e avaliação: líderes e funcionários precisam controlar continuamente seus objetivos. Os objetivos formam a base das revisões e classificações de desempenho e isso dará uma visão compartilhada. Isso permitirá uma melhor análise e correção contínua (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 108-109). 2.3 Coaching O coaching busca estimular as pessoas a realizaremtodo seu potencial, ou seja, a expressarem a sua melhor versão, potencializando suas habilidades, com limites ou bloqueios que podem estar impedindo este desenvolvimento. Ele pode se dar por uma consultoria externa à organização ou fazer parte da sua cultura, por meio de programas de coaching (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 110): Coaching por definição é individual, pois está lidando com o potencial pessoal de um indivíduo e seus objetivos individuais. Aqui devemos também distinguir entre um coach e um treinador - embora muitos treinadores também funcionam como coaches, há uma diferença fundamental que é importante notar. Um técnico trabalha com um indivíduo e permite que o indivíduo cresça - isto é conduzido pelo coachee. É um processo de dentro para fora. Um instrutor é o perito e dá ou infunde o conhecimento e as ferramentas. É um alguém externo a promover um processo. Há também uma diferença fundamental entre um mentor e um coach. Um mentor deve ter experiência, guiar e apoiar. Um coach auxilia nos processos internos e no poder de um indivíduo. Se pensarmos no líder como um coach, devemos assumir que ele tenha desenvolvido inteligência emocional, bem como a confiança total no potencial da pessoa com a qual está interagindo, o coachee. Existem vários modelos de coaching. Um deles, ligado ao ambiente corporativo, apresenta três passos: a) 13 estado atual, b) o estado preferencial; e c) as ações para chegar a este estado preferencial (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012). Tal como essa proposta, outras têm a mesma lógica: compreender a situação atual e elaborar perspectivas para avançar a uma situação desejada. Com base na compreensão das necessidades básicas, Ghadiri, Habermacher e Peters (2012, p. 111) propõem o modelo UP: “[Undestanding] - Entender o que está acontecendo na situação atual. Especialmente a pessoa, as necessidades básicas e o ambiente atual. [Project and plan] - Projetar e planejar o futuro com base nesse entendimento e nas necessidades pessoais do indivíduo”. TEMA 3 – AVALIAÇÃO DOS ESTILOS DE LIDERANÇA Os conceitos de liderança podem ser observados sob o prisma de atenderem ou não a quatro necessidades básicas. Isso permite que possam ser mais bem adequados as situações, conforme veremos no modelo Active, apresentado no próximo tema. Quadro 3 – Avaliação dos estilos de liderança Conceitos de liderança Conexão Orientação e Controle Autoestima Prazer Teoria do traços ● Teoria Comportamental ● ● Teoria Situacional ● ● ● Liderança Emocional ● ● ● ● Gerenciamento por Objetivos ● ● ● Coaching ● ● ● ● Fonte: Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 113. TEMA 4 – MODELO ACTIVE 4.1 Apresentação do modelo ACTIVE Após termos observado os principais estilos de liderança, considerando-os sobre o prisma de quatro necessidades básicas humanas, passamos ao modelo 14 Active, proposto por Ghadiri, Habermacher e Peters (20121). Ele se constitui em uma ferramenta para que líderes consigam construir um ambiente de trabalho saudável, baseado na neurociência. Active é sigla de palavras em língua inglesa: A - Analysis: análise; C - Consistency profile: perfil de consistência; T - Transformation: transformação; I - Inconsistency avoidance: evitação da inconsistência; VE - VErification: Verificação: Análise: analisando e coletando a informação que mostra a situação "atual" e a situação "preferida" em relação às necessidades básicas dos funcionários. Perfil de consistência: criação de um perfil de consistência para o local de trabalho. Transformação: colocar os funcionários nos dois tipos de "GO- Tipo" e "NO-Tipo" com base em seu perfil de consistência e seus esquemas motivacionais. Evitação de inconsistência: escolha de instrumentos de desenvolvimento organizacional e pessoal e conceitos de liderança para evitar a inconsistência e promover a consistência dentro das quatro necessidades básicas. Verificação: concordância entre os empregados dos resultados e os próximos passos a serem tomados (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 116). Esses elementos representam as fases do modelo, como veremos a seguir. 4.2 Análise Nessa primeira etapa do modelo, são levantadas informações que representam a realidade do grupo de trabalho e dos empregados, de forma individual, tomando como base suas próprias perspectivas. Como cada colaborador percebe a sua interação com o ambiente de trabalho, de acordo com seus esquemas? Como prefere ser liberado e sob quais condições? Aqui, a consistência do funcionário é o foco de análise, segundo o modelo de consistência apresentado anteriormente. Isso permitirá ao líder verificar as deficiências de cada colaborador e criar condições para melhorar a sua experiência no ambiente de trabalho. Ao trazer o nível pessoal de consistência em equilíbrio, o líder e a corporação estará colocando o indivíduo no potencial de ter uma experiência mais satisfatória, gratificante e ressonante no local de trabalho, e isso vai conduzir o ser humano para maiores níveis de motivação, processos de pensamento mais eficientes, melhor 1 O modelo Active é de autoria dos pesquisadores Ghadiri, Habermacher e Peters (2012), e assim toda a explicativa desse modelo foi retirada da obra desses autores. Assim sendo, não mais a indicaremos, salvo as citações diretas nas quais se indicará a referida obra e as páginas citadas. 15 colaboração e menos erros (Ghadiri; Habermacher,; Peters, 2012, p. 117). A avaliação da consistência é possível por dois meios: o questionário de consistência ou a entrevista de consistência. O questionário é apresentado a seguir. Ele é composto de duas partes. Uma se refere ao estado atual (is state), e a outra é relativa a uma situação futura preferida, ou seja, como o colaborador gostaria que fosse o ambiente de trabalho (should situation). Ambos são baseados nas 4 necessidades básicas apresentadas, tendo cada uma delas quatro questões avaliativas, totalizando 16 questões para cada cenário, o presente e o desejado. 4.2.1 Questionário de consistência no local de trabalho O questionário permite empresas médias e maiores obter compreensão sobre a consistência de seus/suas funcionários(as), utilizando poucos recursos e pouco tempo. No entanto, o questionário precisa ser explicado detalhadamente aos funcionários, para que possam compreendê-lo e respondê-lo corretamente. Ele contém 16 questões (em cada parte), que devem ser respondidas entre as 5 opções. A avaliação e a interpretação dos resultados serão comentadas adiante. Também é possível utilizar outros levantamentos e questionários juntamente ao questionário de consistência. Quadro 4 – Questionário de consistência parte 1 (estado atual) F a ls o P a rc ia lm e n te v e rd a d e G e ra lm e n te v e rd a d e V e rd a d e n a m a io ri a d a s v e z e s V e rd a d e 1. Nós trabalhamos em grupos ou equipes □ □ □ □ □ 2. Meus colegas me dá um suporte e eu tenho um bom relacionamento com meu superior □ □ □ □ □ 3. Eu posso conversar com meu superior quando eu tenho problemas □ □ □ □ □ 4. Eu tenho um bom relacionamento com meu superior □ □ □ □ □ 5. Temos a responsabilidade e espaço livre para operar no local de trabalho □ □ □ □ □ 6. Meu superior me mantém informado sobre o status do meu trabalho e as metas a serem alcançadas □ □ □ □ □ 7. Eu posso influenciar meu ambiente de trabalho para alcançar meus objetivos □ □ □ □ □ 8. Eu me sinto bem no local de trabalho e tenho controle sobre o meu ambiente. □ □ □ □ □ 16 9. Eu me sinto respeitado na minha companhia. □ □ □ □ □ 10. No meu ambiente de trabalho eu sou respeitado e apreciado (valorizado) □ □ □ □ □ 11. Eu tive sucesso no minha função na empresa □ □ □ □ □ 12. Minhaautoestima é estimulada/impulsionada dentro da empresa □ □ □ □ □ 13. Meu trabalho é desafiador. □ □ □ □ □ 14. Eu gosto do meu trabalho. □ □ □ □ □ 15. Minhas tarefas são variadas. □ □ □ □ □ 16. Eu posso me desenvolver e aprender através do meu trabalho □ □ □ □ □ Fonte: Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 118. Quadro 5 – Questionário de consistência parte 2 (estado desejado) F a ls o P a rc ia lm e n te v e rd a d e G e ra lm e n te v e rd a d e V e rd a d e n a m a io ri a d a s v e z e s V e rd a d e 1. Eu gosto de trabalhar em grupos e equipes. □ □ □ □ □ 2. Eu gostaria de ter uma relação de trabalho mais próxima com meus colegas e o superior. □ □ □ □ □ 3. Com tarefas desafiadoras eu procuro cooperar com meu superior e colegas □ □ □ □ □ 4. É importante para mim ter um bom relacionamento com meu superior. □ □ □ □ □ 5. Eu gosto mais de trabalhar quando tenho mais espaço livre e flexibilidade. □ □ □ □ □ 6. Eu trabalho melhor quando tenho objetivos e instruções claras. □ □ □ □ □ 7. Se eu puder influenciar meu ambiente, me sinto mais satisfeito. □ □ □ □ □ 8. Importante para mim ser capaz de influenciar o meu ambiente de trabalho para atingir minhas metas/objetivos. □ □ □ □ □ 9. Eu me sinto melhor se sou tratado respeitosamente. □ □ □ □ □ 10. Meus pontos positivos são apreciados □ □ □ □ □ 11. A empresa trata minhas conquistas de forma tão importante quanto trata a mim pessoalmente □ □ □ □ □ 12. Se estou feliz, tenho um alto nível de autoestima. □ □ □ □ □ 13. Eu gosto de desafios no trabalho. □ □ □ □ □ 14. Eu me sinto melhor como pessoa se eu gosto do meu trabalho □ □ □ □ □ 15. Fico mais feliz se meu trabalho tiver mais variedade. □ □ □ □ □ 16. Eu quero melhorar e me desenvolver através do meu trabalho □ □ □ □ □ Fonte: Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 119. 17 4.2.2 Entrevista de consistência no local de trabalho A entrevista é uma abordagem qualitativa para obter informações de forma sistemática sobre os funcionários e suas necessidades básicas relacionadas ao local de trabalho. Toma como referência as questões sobre as necessidades básicas presentes no questionário de consistência. Porém, é possível que os itens possam ser substituídos por questões específicas, relacionadas ao contexto dos colaboradores. Mesmo com essa substituição, é importante manter o mesmo número de perguntas e a mesma proporção relacionada às necessidades básicas, visando garantir um equilíbrio nos resultados. Também as ponderações, ou escalas utilizadas no questionário, devem ser mantidas, ainda que registradas de forma mais discreta. Entrevistas trazem várias vantagens sobre o questionário: Principalmente nas situações em que um líder consegue estabelecer com seu funcionário uma conversa aberta e autêntica. As questões específicas não são necessárias, visto que podem interromper um fluxo de conversação e autenticidade que vai permitir ao líder receber a situação real de como o funcionário se sente. Isso permite uma visão mais ampla e profunda das necessidades básicas de um colaborador. Se as perguntas não forem compreendidas pelo funcionário, o líder pode intervir contextualizando e orientando sobre a questão de forma mais precisa. A entrevista é particularmente importante para os funcionários novos, pois permite conhecê-los de forma individualizada e compreender melhor suas necessidades básicas. Complementando, é importante notar que a presença do líder influencia, consciente ou inconscientemente, as respostas, se comparadas a uma situação de anonimato. Entrevistadores externos poderiam auxiliar nesta situação. 4.3 Perfil de consistência A segunda etapa é analisar os dados das duas partes do questionário de consistência, integrando os resultados do estado atual (parte 1) àquele desejado ou preferencial (parte 2) em um diagrama. Isso indicará o perfil de consistência, mostrando de forma gráfica e objetiva aos líderes se as necessidades básicas dos funcionários são supridas no estado atual, e qual é a sua preferência/desejo 18 individual quanto a essas necessidades. A figura a seguir serve de exemplo, pois nela é possível observar e contrastar o estado atual das necessidades em relação àquele que é preferido/desejado. Figura 3 – Exemplo de perfil de consistência Fonte: Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 119. Nesse caso, o colaborador valoriza e busca muito o vínculo/conexão, atribuindo o valor máximo à situação desejada e metade da escala à situação atual. Não lhe é tão cara a orientação e controle, ficando em último lugar em termos de intensidade atual e estado desejado. Autoestima aparece em terceiro lugar, e em segundo lugar o prazer. Observe que por meio da representação gráfica é possível traçar um planejamento individualizado, considerando as quatro necessidades básicas apresentadas. O questionário de perfil de consistência utiliza três itens com peso/ponderação simples e um item com peso duplo, conforme o quadro a seguir. As questões com peso simples indagam de forma indireta sobre nuances das necessidades básicas, ao passo que os itens com peso duplo fazem perguntas diretas sobre essas necessidades. Prazer Orientação e controle Autoestima Situação atual Situação desejada / preferida Conexão vínculo 19 Quadro 6 – Escala para o perfil de consistência Ranking Peso simples Peso duplo Itens: 1-3, 5-7, 9-11,13-15 Itens: 4, 8, 12, 16 Nunca / Falso 0 0 Ocasionalmente / Parcialmente verdadeiro 1 2 Algumas vezes / Geralmente Verdadeiro 2 4 Principalmente / Principalmente Verdadeiro 3 6 Sempre / Verdadeiro 4 8 Fonte: Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 121. Com base nesta escala e pesos, as somas são feitas para cada necessidade básica. Em seguida, são plotadas em uma escala 0-20, como é mostrado no Quadro 7, no eixo relativo a cada necessidade básica. O resultado é um diagrama de rede que apresenta ambas as partes do questionário, ilustrando as diferenças entre o cenário presente e aquele desejado. Ainda, é possível observar a importância individual atribuída a cada necessidade básica, e o quanto cada uma delas é suprida no ambiente de trabalho. Aquelas que não são supridas merecem mais atenção dos líderes para que sejam equilibradas. Quadro 7 – Avaliações do perfil de consistência Bloco Item Subtotais Total (∑ Mín. / ∑ Máx.) I 1 - 3 0/1/2/3/4 ∑ Mín. = 0 + 0 + 0 + 0 = 0 4 0/2/4/6/8 ∑ Máx. = 4 + 4 + 4 + 8 = 20 II 5 - 7 0/1/2/3/4 ∑ Mín. = 0 + 0 + 0 + 0 = 0 8 0/2/4/6/8 ∑ Máx = 4 + 4 + 4 + 8 = 20 III 9 - 11 0/2/4/6/8 ∑ Mín. = 0 + 0 + 0 + 0 = 0 12 0/2/4/6/8 ∑ Máx = 4 + 4 + 4 + 8 = 20 IV 13 - 15 0/1/2/3/4 ∑ Mín. = 0 + 0 + 0 + 0 = 0 16 0/2/4/6/8 ∑ Máx = 4 + 4 + 4 + 8 = 20 Fonte: Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 121. 20 4.4 Transformação Nessa terceira etapa, o objetivo é comparar o perfil de consistência com aspectos comportamentais concretos dos funcionários. Isso pode ser feito de três formas: Observação do líder – a interação e a experiência com seus colaboradores permitem que um líder identifique aqueles com tendências predominantes de aproximação/abordagem ou esquiva/evitação, em relação aos seus esquemas motivacionais. Autoavaliação dos funcionários – em conversa direta com um funcionário, este poderá se autoclassificar entre essas duas tendências principais. Naturalmente que o líder pode auxiliá-lo com exemplos de ambas as categorias. Teste de personalidade – se tais tendências não puderem ser percebidas ou autoavaliadas, um teste de personalidade adicional pode ser a solução. Testes que avaliam os cinco fatores principais (Big Five) podem ser úteis. Essa avaliação deve permitir ao líder classificar seus colaboradores entre as duas categorias (aproximação/abordagem ou esquiva/evitação),como é mostrado no modelo da teoria de consistência. O colaborador, orientado para a aproximação – abordagem, busca cumprir suas necessidades básicas ativamente. Gosta de desafios e é capaz de processar falhas de forma rápida, trabalhar bem e colaborar com seus colegas. Essa categoria é chamada de “GO-type”. De forma complementar, aqueles colaboradores orientandos pela esquiva/evitação serão mais cautelosos e fortemente impactados por experiências negativas, como falhas. Eles tendem a proteger suas necessidades básicas contra ameaças, não sendo uma prioridade buscar supri-las. Serão chamados(as) de “NO-type”. A Figura 4 mostra um exemplo de GO-type, que não conseguiu suprir suas necessidades básicas e, apesar dos valores elevados da escala, tenta fazê-lo de forma proativa. É esperado que a maior parte dos funcionários seja GO-type. 21 Figura 4 – Exemplo de GO-type Fonte: Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 122. Complementando, quase sempre haverá colaboradores NO-type. Eles serão inconsistentes nos seus perfis e ainda serão diferentemente representados neles. A figura a seguir apresenta três variações possíveis (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 122-3): Variação 1: o indivíduo é esquivo e gostaria de proteger suas necessidades básicas no lugar de tentar estendê-las. A situação atual e preferencial são, portanto, apresentadas como iguais - embora a satisfação das necessidades não seja realmente muito alta, o que normalmente implica que haveria um impulso para satisfazê-las. Este não é o caso. Variação 2: também é viável que um indivíduo esquivo tenha uma classificação preferencial menor do que a classificação atual. Aqui veremos um conflito motivacional para alcançar e satisfazer as necessidades básicas. Nós potencialmente veremos um padrão de compensação aqui significando que outra necessidade básica será impulsionada ao custo dos outros. Variação 3: o estado preferencial de um indivíduo de esquiva pode estar moderadamente acima de seu estado atual. No entanto, é perceptível que ambos estão em níveis baixos. Isso representa um funcionário que tem medo de mudança. Prazer Orientação e controle Autoestima Situação atual Situação preferida Conexão vínculo 22 Figura 5 – Três diferentes NO-types Fonte: Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 123. Em todas as possibilidades NO-type é importante para líderes identificar a necessidade básica particular que recebe maior esquiva ou evitação. Uma pessoa com forte esquiva à conexão/vínculo pode ter tido uma experiência anterior negativa com outro superior ou com seus colegas. Já uma pessoa com a esquiva forte em relação à orientação e controle pode ter uma forte propensão a trabalhar de forma independente e ter mais liberdade para organizar seu espaço e seu trabalho. Por isso, é importante para líderes identificar essas necessidades e focos de esquiva para, de forma individualizada, criar um ambiente ideal para cada colaborador. 4.5 Evitação de inconsistência Após identificar o perfil de consistência relativo às necessidades básicas, deve-se compará-lo com o tipo de motivação, se aproximação (GO-type) ou esquiva (NO-type). Nesta etapa, de posse dessas informações, o líder vai escolher os instrumentos para regular de forma específica as necessidades básicas, evitando a inconsistência. Tem ao seu dispor vários instrumentos de desenvolvimento organizacional e pessoal, e ainda uma diversidade de conceitos de liderança, apresentados previamente. Tais instrumentos são especialmente válidos para os colaboradores GO-types, pois são aqueles que vão buscar de forma proativa suprir suas necessidades básicas. De forma característica, os GO- Types apresentam em seu perfil de consistência a situação preferencial acima da atual, ou seja, têm evidente desejo de suprir as necessidades básicas. A - Conexão vínculo O - Orientação e controle S - Autoestima P - Prazer 23 O quadro a seguir apresenta uma visão geral dos instrumentos e modelos em uma avaliação genérica – se suprem ou não as necessidades básicas aqui consideradas. Quadro 8 – Visão geral dos instrumentos e modelos Conexão Orientação e Controle Autoestima Prazer Instrumentos de desenvolvimento pessoal e organizacional Ampliação do trabalho ● Rotatividade do trabalho ● ● ● Enriquecimento do trabalho ● ● Grupos de trabalho autônomos ● ● Características do trabalho ● ● ● Modelo de fluxo ● ● Conceitos de liderança Teoria do traços ● Teoria Comportamental ● ● Teoria Situacional ● ● ● Liderança Emocional ● ● ● ● Gerenciamento por Objetivos ● ● ● Coaching ● ● ● ● Fonte: Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 124. Além desses instrumentos, Ghadiri, Habermacher e Peters (2012, p. 124) apresentam outros exemplos: Trabalho em equipe Projeto de grupos Intercâmbio internacional Coaching Mentoring Delegação Rituais de recompensa (por exemplo, funcionário do mês) Home Office Partilha de trabalho 4.6 Verificação Nessa quinta etapa, o líder busca verificar se suas estratégias são apropriadas ao colaborador, conversando diretamente com ele e verificando se está de acordo com a escolha. Essa interação permite verificar se as análises 24 realizadas são apuradas e apropriadas à situação (Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 124-5): Depois que o líder escolheu os instrumentos e modelos o empregado será convidado à conversação - cujo objetivo explícito é melhorar as condições de trabalho do funcionário com base em suas necessidades básicas. O funcionário deve então ser informado dos instrumentos e dos próximos passos que estes irão prever. O funcionário deve entender o que isso significa para ele pessoalmente e quais ações vão, como um indivíduo, ser obrigados a fazer. Os objetivos específicos também serão discutidos. No caso ideal, o funcionário estaria e deveria estar entusiasmado com isso, se isso realmente se liga as suas necessidades básicas. É importante que cada pessoa tenha comunicado suas expectativas e objetivos claramente. Isto deve ser feito sempre que possível por escrito. Depois que os objetivos mensuráveis foram formulados, então o processo de implementação pode começar. Isso implicará a realização de todas as alterações necessárias ao ambiente para que os conceitos sejam implementados adequadamente. TEMA 5 – PERFECT – AS CARACTERÍSTICAS DO NEUROLÍDER Para que o líder consiga aplicar com sucesso o modelo Active, precisa desenvolver certas habilidades, que são expressas na palavra Perfect, como é indicado figura abaixo. Figura 6 – Perfect: as características do neurolíder Potencial: desenvolver e apoiar o potencial de cada empregado(a) Encorajar: incentivar funcionários a assumir novos desafios e desenvolver Resposta: dar feedback regular e consistente Freedom - Liberdade: permitir tanta liberdade quanto possível Emoções: Liderança emocional Comunicação: comunicação regular ao mesmo nível Transparência: ser transparente no comportamento e na comunicação Fonte: Ghadiri; Habermacher; Peters, 2012, p. 128. Conexão Orientação e Controle Autoestima Prazer 25 REFERÊNCIAS ALLPORT, G. Pattern and Growth in Personality. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1961. DRUCKER, P. F. The Practice of Management. New York: Butterworth- Heinemann, 1954. GHADIRI, A.; HABERMACHER, A.; PETERS, T. Neuroleadership: a Journey Through the Brain for Business Leaders (Management for Professionals). New York: Springer, 2012. GOLEMANN, D. Liderança: a inteligência emocional na formação do líder de sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. MOSCOVICI, F. Desenvolvimento Interpessoal: treinamento em grupo. São Paulo: José Olympio, 2003.
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