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NUTRIÇÃO EM ONCOLOGIA Prof. Iris Lengruber – irislengruber@hotmail.com CÂNCER O câncer é uma doença extremamente complexa. É na verdade, um conjunto de doenças caracterizadas pelo progressivo acúmulo de mutações no genoma de uma célula. As alterações genéticas podem transformar uma célula normal do organismo em uma célula que não responde mais aos sinais de controle, crescimento, diferenciação e morte celular. Podemos dizer que o câncer é uma desordem clonal. A maioria dos tumores se origina de uma única célula que sofreu uma ruptura nos seus mecanismos de controle de proliferação e autodestruição. Todo câncer é uma neoplasia e um tumor, mas a recíproca não é verdadeira. A mudança de um tecido completamente normal para um tumor maligno metastatizante ocorre através de uma série de passos através de um período de tempo. O câncer não é uma doença que aparece de uma hora para outra. O câncer é uma doença crônica, inflamatória e de baixa intensidade. O que significa dizer que uma exposição prolongada e contínua a fatores ambientais (cigarro, má alimentação, álcool, estresse, agrotóxicos, etc.) levam agressões às células. E o organismo do indivíduo pode não conseguir corrigir os defeitos causados por essa exposição crônica. Fatores de risco: Fator de risco, é qualquer situação que aumente a probabilidade de ocorrência de uma doença ou agravo à saúde, a exemplo dos múltiplos fatores causais do câncer. O termo risco, além do sentido de possibilidade ou chance (oportunidade), tem o sentido de perigo. - Fatores intrínsecos mutações espontâneas inevitáveis que surgem como resultado de erros aleatórios em Replicação do DNA relacionada como uma característica de ser humano. - Fatores extrínsecos idade, sexo, fatores ambientais, físico, químico, biológico, questões socioculturais, estilo e hábitos de vida e alimentares. Podemos classificar os fatores de risco ainda de outra forma: - Não modificáveis envelhecimento, etnia ou raça, hereditariedade, sexo - Modificáveis (esses são alvo da atenção primária) tabagismo, má alimentação, infecções, radiação, sedentarismo e obesidade, alcoolismo, poluentes ambientais e alimentos contaminados. Podemos dizer que: para cada tipo de câncer, teremos um ou mais fatores de risco específicos. IARC Maior agência intergovernamental na área de condução e coordenação de pesquisas sobre as causas do câncer. Sediada na França, é responsável por coletar e publicar dados de vigilância sobre a ocorrência de câncer em todo o mundo. A agência possui uma série de monografias sobre os riscos carcinogênicos para os seres humanos. Atualmente existem cerca de 120 compostos classificados pela IARC. A classificação é dividida em cinco categorias. O critério baseia-se na força da evidência da carcinogenicidade, conforme a tabela abaixo: INCA – INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER Órgão brasileiro do Ministério da Saúde (MS), sediado no Rio de Janeiro, responsável por promover ações integradas para a prevenção e controle do câncer no Brasil. Desenvolve projetos, estudos, pesquisas e experiências eficazes de gestão com instituições governamentais e não governamentais, além de manter acordos internacionais de cooperação em várias frentes, formando redes de conhecimento técnico e científico e buscando reduzir o impacto regional e global da doença. Promove ações, campanhas e programas em âmbito nacional, em atendimento à Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, como: - Programa Nacional de Controle do Tabagismo; - Comissão Nacional para Implementação da Convenção - Quadro para o Controle do Tabaco – Conicq; - Controle do Câncer de Mama e Colo de Útero; - Projeto Expande - Expansão da Assistência Oncológica; - Programa de Transplante de Medula Óssea (TMO); - Banco Nacional de Tumores e DNA; - Vigilância do Câncer e seus Fatores de Risco; - Rede Nacional de Câncer Familial; - Programas de Qualidade em Radiações Ionizantes. AGROTÓXICOS “Produtos e componentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento" (Decreto-lei nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002). Em 2018, o Brasil bateu um recorde histórico, do qual não tem que se orgulhar: registro de 450 agrotóxicos novos, sendo apenas 52 de baixa toxicidade. Totalizando 2149 agrotóxicos registrados (https://portal.fiocruz.br/). Cada brasileiro consome, em média, 7,5 litros de agrotóxico ao ano – somos os maiores consumidores do mundo! Os malefícios conhecidos do consumo abusivo de agrotóxico são inúmeros, e com certeza existem muitos outros desconhecidos ainda. Mas dentre os principais malefícios relacionados com o desenvolvimento do câncer, podemos citar: estresse oxidativo, disfunção mitocondrial e disruptores endócrinos. E não adianta apelar para receitas à base de iodo, bicarbonato de sódio ou lugol para retirar o agrotóxico dos alimentos, porque tudo isso é crendice e mito. Infelizmente, nenhuma substância é capaz de limpar um alimento contaminado por agrotóxico. Na lista do IARC, temos 5 agrotóxicos classificados como carcinogênicos: - Glifosato (2A) - Malathion(2A) - Diazinon (2A) - Tethraclorvinphos (2B) - Parathion (2B) https://portal.fiocruz.br/ XENOBIÓTICOS São substâncias não nutritivas, que produzem desiquilíbrio fisiológico nocivo, com sinais clínicos e laboratoriais, ou não, e com capacidade de causar danos – toxicidade. A toxicidade vai variar de acordo com a intensidade da exposição, eu vai depender da concentração do agente, de condições ambientais (temperatura, umidade, ventilação) e do empo e frequência da exposição. DETOXIFICAÇÃO O processo de desintoxicação (detoxificação ou destoxificação) envolve a mobilização, biotransformação e eliminação de tóxicos de substâncias exógenas e endógenas. É realizada em diversas fases e envolve fígado, rins e intestino. Digerimos alimentos, medicamentos, inalamos substancias – geralmente lipossolúveis – e com isso precisamos transformar em hidrossolúveis para serem eliminadas. A digestão tem papel importante nesse processo. As toxinas podem ser acumuladas em tecidos adiposos – quanto mais obeso, maior exposição, mais carga tóxica. O nosso corpo tem capacidade de detoxificar, mas o perigo é isso não acontecer e as toxinas se tornam agentes mutagênicos. INFLAMAÇÃO CRÔNICA A inflamação está presente nas diferentes etapas da carcinogênese. Nas etapas iniciais pode até combater células transformadas, mas quando se torna crônica, passa a ser é citotóxica e pode funcionar como fator de progressão da doença. Nessa fase de progressão, observa-se um misto de respostas citotóxicas e supressoras no mesmo tumor. A relação de causa e efeito entre a exposição a fatores cancerígenos (substâncias químicas, certos vírus, etc.) e a inflamação crônica está sendo muito estudada, mas a maioria dos mecanismos moleculares e celulares que fazem a ligação continua desconhecida. Estima-se que a exposição aos cancerígenos e a inflamação são duas condições subjacentes ao desenvolvimento do câncer. A proteína denominada "NF-kappa B" ou NF-kB, característica da inflamação é frequentemente encontrada nos tumores. Em ratos, ao desativareste sinal (a proteína), os cientista conseguiram evitar o surgimento do câncer. A proteína NF-kB que aparece essencialmente no período de inflamação associada a uma forma de câncer tornou-se objeto de pesquisa terapêutica. A ativação da proteína NF-kB é observada com frequência no câncer de fígado, principalmente nos casos consecutivos a uma hepatite crônica. Em caso de inflamação, o corpo produz várias substâncias (fatores de crescimento, citoquinas) e a TNFalpha (Tumor necrosis factor) que desempenham um papel essencial na ativação da proteína NF-kappa B e na proteção contra a autodestruição das células hepáticas pré- cancerosas. A NF-κB (factor nuclear kappa B) é um complexo proteico que desempenha funções como fator de transcrição. Pode ser encontrada em quase todos os tipos de células animais e está envolvida na resposta celular a estímulos como o estresse, citocinas, radicais livres, radiação ultravioleta, oxidação de LDL e antígenos virais e bacterianos. Desempenha um papel fundamental na regulação da resposta imunitária à infecção. A regulação incorreta de NF-κB tem sido ligada ao câncer, a doenças inflamatórias e autoimunes, choque séptico, infecção viral e também a desenvolvimento imunitário impróprio. ESTRESSE OXIDATIVO A geração de radicais livres constitui, por excelência, um processo contínuo e fisiológico, cumprindo funções biológicas relevantes. Durante os processos metabólicos, esses radicais atuam como mediadores para a transferência de elétrons nas várias reações bioquímicas. Sua produção, em proporções adequadas, possibilita a geração de ATP (energia), por meio da cadeia transportadora de elétrons; fertilização do óvulo; ativação de genes; e participação de mecanismos de defesa durante o processo de infecção. Porém, a produção excessiva pode conduzir a danos oxidativos. A produção contínua de radicais livres durante os processos metabólicos culminou no desenvolvimento de mecanismos de defesa antioxidante. Estes têm o objetivo de limitar os níveis intracelulares de tais espécies reativas e controlar a ocorrência de danos decorrentes. A instalação do processo de estresse oxidativo decorre da existência de um desequilíbrio entre compostos oxidantes e antioxidantes, em favor da geração excessiva de radicais livres ou em detrimento da velocidade de remoção desses. Tal processo conduz à oxidação de biomoléculas com consequente perda de suas funções biológicas e/ou desequilíbrio homeostático, cuja manifestação é o dano oxidativo potencial contra células e tecidos. A cronicidade do processo em questão tem relevantes implicações sobre o processo etiológico de numerosas enfermidades crônicas não transmissíveis, entre elas a aterosclerose, diabetes, obesidade, transtornos neurodegenerativos e câncer. SÍNTESE DE TELOMERASE Telômeros são filamentos de proteínas que se encontram nas extremidades do DNA, e tem como principais funções impedir o desgaste do material genético, manter a estabilidade estrutural e proteger a integridade dos cromossomos. Os telômeros funcionam como um promotor para os cromossomos, assegurando que toda a informação genética presente no DNA seja corretamente copiada quando a célula se divide. Cada vez que uma célula entra em divisão celular, os telômeros são encurtados e a célula envelhece. Eles não têm capacidade de regenerar e quando ocorre seu esgotamento, a replicação dos cromossomos não acontece mais e a célula perde completamente a capacidade de se dividir. O encurtamento dos telômeros também pode ajudar a remover certos genes que são indispensáveis à sobrevivência da célula ou silenciar genes próximos. Uma teoria que tem sido estudada, é que, uma vez ocorrendo alterações no DNA, o processo carcinogênico se instale no organismo. Pois a célula cancerosa passa a ter capacidade de expressar a enzima chamada “telomerase”. Essa enzima parece ter capacidade de sintetizar novos telômeros. Dessa forma, a célula do câncer não envelhece e não morre. As células cancerosas se mantêm jovens e em intenso crescimento e diferenciação celular, passando a ter uma característica chamada de “sobrevivência maligna”. Esta característica também pode ser relacionada à maior resistência ao tratamento. CICLO CIRCADIANO E SUA RELAÇÃO COM O CÂNCER Latim – circa = ciclo + diem = dia. Termo que se refere a aproximadamente 24 horas. Período em que se baseia o ciclo biológico de quase todo ser vivo, e sofre influência da maré, temperatura e variações de luz. A regulação dos horários do sono é o exemplo mais óbvio da importância do ritmo circadiano para o funcionamento do organismo humano. Ao longo de um período aproximado de 24 horas, genes regulam a liberação do hormônio melatonina. Durante a noite, no escuro, os níveis aumentam e, com a claridade, baixam. Mas o relógio biológico — tema que rendeu a três pesquisadores americanos o Nobel de Medicina em 2017 — é responsável pelas variações diárias no metabolismo e sua alteração crônica está relacionada com graves doenças, incluindo o câncer. O ritmo circadiano está diretamente relacionado com a iluminação do ambiente. Ele é regulado pelo núcleo supraquiasmático, estrutura no cérebro que recebe informações dos fotorreceptores da retina. Pessoas cegas geralmente apresentam problemas com o relógio biológico, já que não podem obter os sinais de claridade. Ao escurecer, o núcleo supraquiasmático envia um sinal para a glândula pineal secretar melatonina. Essa mecânica também reduz a temperatura corporal e a pressão sanguínea, e tudo é controlado pelos genes. Se estamos falando que o ritmo circadiano é alterado de acordo com a recepção de luz, fica fácil entender o “estrago” que o mau uso da iluminação artificial pode fazer com o nosso ciclo natural. Com a invenção e o uso da luz elétrica, esta organização temporal tem sido dramaticamente alterada. A luz a noite tem significado social, ecológico, comportamental e consequências na saúde que somente agora começaram a aparecer. A exposição à luz a noite atrapalha o ritmo circadiano com alteração no padrão da atividade do sono, supressão na produção da melatonina, e desregulação dos genes envolvidos no aparecimento de câncer. A melatonina, que é produzida naturalmente quando respeitamos nosso ciclo circadiano, pode ser um fator protetor ao aparecimento do câncer, visto que age em todos os “halmarks” do câncer. O ciclo circadiano controla o ciclo celular, e os polimorfismos nos genes do ciclo podem impactar no descontrole desse ciclo. Respeitar o ciclo circadiano é uma mudança importante na qualidade de vida. GENÔMICA NUTRICIONAL Todos os seres vivos são formados por células. Enquanto alguns são formados por apenas uma, como as bactérias, outros são constituídos por trilhões, como os humanos. As células são as unidades funcionais e estruturais dos seres vivos. No caso dos humanos, a maioria das sua células são constituídas por um núcleo que contem 23 cromossomos. Que são estruturas compostas por DNA. Todos os cromossomos contidos em uma célula formam seu genoma – que é o conjunto de todos os seus genes. O DNA é a molécula da vida, responsável por armazenar todas as informações genéticas de um indivíduo como a cor do seu cabelo, o formato do seu corpo, seu sexo, etc. As informações contidas no DNA são “escritas” a partir de um alfabeto de quatro letras (A, T, C e G) conhecidas por Adenina, Timina, Citosina e Guanina – também chamadas de nucleotídeos. O desenvolvimento de novas tecnologias no campo da genética e da biologia molecular, juntamente com os avanços no estudo da nutrição têm permitido a introdução do conceito de genômica nutricional a qual estuda asinterações entre os alimentos (e seus componentes) com o genoma de cada indivíduo, e tem como objetivo avaliar a predisposição do indivíduo para determinada doença e estabelecer um tratamento ou prevenção nutricional com base no genótipo individual. A genômica nutricional tem um futuro muito promissor e seu desenvolvimento é e será ferramenta extremamente útil para o desenvolvimento de dietas individualizadas, terapêuticas e preventivas. A base da nutrigenômica é: • A dieta pode ser um fator de risco para várias doenças. • A dieta pode ter um maior ou menor grau na saúde ou doença, dependendo da constituição genética do indivíduo. • Alguns genes regulados pela dieta podem desempenhar um papel importante em certas doenças crônicas. • Existem componentes alimentares que podem alterar a expressão de genes. Nutrientes e/ou compostos bioativos podem diretamente ou indiretamente, sozinhos ou em sinergia modificarem a estrutura da cromatina, suprimindo ou promovendo a expressão de genes através da modulação da transcrição e transdução, bloqueando ou ativando diferentes vias de sinalização intra e extracelular envolvidas na proliferação, diferenciação e morte celular. A genômica nutricional estuda a interação de componentes dos alimentos com o genoma e é subdividida em Nutrigenômica, Nutrigenética e Epigenômica Nutricional A nutrigenômica é a ciência que estuda o efeito dos componentes da dieta sobre a expressão gênica, e ajuda a compreender os processos fisiológicos que ocorrem no organismo após a ingestão de certos alimentos. Um exemplo de Nutrigenômica vem à tona quando ingerimos certos alimentos no dia a dia, caso da castanha- do-pará (fonte do mineral selênio), o açafrão-da-terra (reduto de curcumina) e o chá-verde (que fornece epigalocatequina-3-galato). Compostos presentes nesses alimentos são capazes de ativar um fator de transcrição que provoca aumento da atividade de genes relacionados à capacidade antioxidante do nosso organismo. Por isso, sabemos que existem tanto alimentos que apresentam diretamente ação antioxidante, mas também aqueles que favorecem a produção pelo corpo de enzimas com ação antioxidante. A nutrigenética estuda o efeito das variações genéticas de pessoas nas interações entre dieta e doenças. Um exemplo de Nutrigenética na prática tem a ver com a fenilcetonúria clássica — um erro inato do metabolismo que pode ser transmitido de uma geração para outra. A doença é causada por mutações no gene de uma enzima, a fenilalanina hidroxilase, responsável por processar o aminoácido fenilalanina (encontrado em diversas fontes de proteína na dieta). A base do tratamento é justamente a redução da ingestão do aminoácido fenilalanina. Epigenômica Nutricional é voltada, entre outras coisas, ao estudo de um processo chamado metilação do DNA. Um bom exemplo é o folato, presente no feijão, espinafre, couve e brócolis. O nutriente participa desse processo de metilação — em química, falamos da adição de radicais “metil” — do DNA, o que serve para controlar a expressão de certos genes. A baixa ingestão de folato está associada a uma redução global na metilação do DNA, situação que pode elevar o risco de câncer. Há cada vez mais estudos investigativos sobre as interações entre os genes e os nutrientes, contribuindo, assim, para o desenvolvimento de nutrição personalizada. A informação genética de cada pessoa determina o seu estado nutricional e metabólico. Cada indivíduo tem características diferentes bioquímicas e metabólicas, devido às suas características genéticas. A dieta personalizada deve ser baseada no conhecimento das necessidades nutricionais individualizadas através de estilos de vida. Em resumo, pode-se concluir que uma intervenção dietética individualizada com base nas necessidades nutricionais, na avaliação do estado nutricional e do genótipo é ferramenta muito útil para prevenir ou tratar doenças crônicas e inclusive câncer. CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO A Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer (IARC, na sigla em inglês) estima que o mundo tenha registrado mais de 18 milhões de novos casos de câncer em 2018, com a morte de mais de 9,6 milhões de pessoas devido à doença. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença é uma crescente ameaça global à saúde. Um em cada cinco homens e uma em cada seis mulheres em todo o mundo desenvolvem câncer durante a vida e um em cada oito homens e uma em cada 11 mulheres morrem de câncer, de acordo com o primeiro relatório da IARC desde 2012. Mundialmente, estima-se que a Ásia terá quase metade dos novos casos e mais da metade das mortes por câncer em 2018, em grande parte porque a região abriga quase 60% da população mundial. A Europa representa quase um quarto dos casos mundiais de câncer e um quinto das mortes por câncer, embora tenha somente 9% da população global. As Américas têm quase 13% da população global, mas representam 21% dos cânceres e em torno de 14% da mortalidade global. Na Ásia e na África, mortes por câncer (57,3% e 7,3%, respectivamente) são mais altas que os números de casos identificados (48,4% e 5,8%). Isto acontece porque estas regiões possuem uma frequência mais alta de certos tipos de câncer que são associados a piores prognósticos e taxas de mortalidade mais altas, segundo a IARC, além de um acesso limitado a diagnósticos e tratamentos. Câncer de pulmão é a principal causa de morte tanto para homens quanto para mulheres e é a principal causa de morte por câncer em 28 países, segundo a agência. As taxas de incidência mais altas deste tipo de doença em mulheres são na América do Norte, norte e oeste da Europa – especialmente Dinamarca e Holanda – China, Austrália e Nova Zelândia, com a Hungria encabeçando a lista. A IARC afirma que o predomínio crescente do câncer pode ser explicado por muitos fatores, de aumento da população a envelhecimento, embora uma mudança nos tipos de câncer diagnosticados seja ligada a desenvolvimento social e econômico. Isto é particularmente verdadeiro em economias de crescimento rápido, segundo a IARC, destacando uma mudança de cânceres relacionados à pobreza e infecções para cânceres associados a estilos de vida mais típicos de países industrializados. CARCINOGÊNESE CICLO CELULAR Sabe-se que o crescimento celular responde às necessidades específicas do corpo e é um processo cuidadosamente regulado. Esse crescimento envolve o aumento da massa celular, duplicação do ácido desoxirribonucléico (ADN) e divisão física da célula em duas células filhas idênticas (mitose). Tais eventos se processam por meio de fases conhecidas como G1- S - G2 - M, que integram o ciclo celular. Nas células normais, restrições à mitose são impostas por estímulos reguladores que agem sobre a superfície celular, os quais podem resultar tanto do contato com as demais células como da redução na produção ou disponibilidade de certos fatores de crescimento. Fatores celulares específicos parecem ser essenciais para o crescimento celular, mas poucos deles são realmente conhecidos. É certo que fatores de crescimento e hormônios, de alguma forma, estimulam as células para se dividir. Entretanto, eles não têm valor nutriente para as células nem desempenham um papel conhecido no metabolismo. Presumivelmente, apenas sua capacidade de ligar-se a receptores específicos de superfície celular os capacita a controlar os processos celulares. O mecanismo de controle do crescimento celular parece estar na dependência de fatores estimulantes e inibidores, e, normalmente, ele estaria em equilíbrio até o surgimento de um estímulo de crescimento efetivo, sem ativaçãodo mecanismo inibidor. Tal estímulo ocorre quando há exigências especiais como, por exemplo, para reparo de uma alteração tissular. As células sobreviventes se multiplicam até que o tecido se recomponha e, a partir daí, quando ficam em íntimo contato umas com as outras, o processo é paralisado (inibição por contato). Em algumas ocasiões, entretanto, ocorre uma ruptura dos mecanismos reguladores da multiplicação celular e, sem que seja necessário ao tecido, uma célula começa a crescer e dividir-se desordenadamente. Pode resultar daí um clone de células descendentes, herdeiras dessa propensão ao crescimento e divisão anômalos, insensíveis aos mecanismos reguladores normais, que resulta na formação do que se chama tumor ou neoplasia, que pode ser benigna ou maligna. A carcinogênese refere-se ao desenvolvimento de tumores malignos, estudada com base nos fatores e mecanismos a ela relacionados. Nas células que se dividem ativamente, a interfase é seguida da mitose, culminando na citocinese. Sabe-se que a passagem de uma fase para outra é controlada por fatores de regulação - de modo geral proteicos – que atuam nos chamados pontos de checagem do ciclo celular. Dentre essas proteínas, se destacam as ciclinas, que controlam a passagem da fase G1 para a fase S e da G2 para a mitose. Se em algumas dessas fases houver alguma anomalia, por exemplo, algum dano no DNA, o ciclo é interrompido até que o defeito seja reparado e o ciclo celular possa continuar. Caso contrário, a célula é conduzida à apoptose (morte celular programada). Outro ponto de checagem é o da mitose, promovendo a distribuição correta dos cromossomos pelas células-filhas. Perceba que o ciclo celular é perfeitamente regulado, está sob controle de diversos genes e o resultado é a produção e diferenciação das células componentes dos diferentes tecidos do organismo. Os pontos de checagem correspondem, assim, a mecanismos que impedem a formação de células anômalas. A origem das células cancerosas está associada a anomalias na regulação do ciclo celular e à perda de controle da mitose. Alterações do funcionamento de genes controladores do ciclo celular, em decorrência de mutações, são relacionados ao surgimento de um câncer. Duas classes de genes, os proto-oncogenes e os genes supressores de tumor são os mais diretamente relacionados à regulação do ciclo celular. Os proto-oncogenes são responsáveis pela produção de proteínas que atuam na estimulação do ciclo celular, enquanto os genes supressores de tumor são responsáveis pela produção de proteínas que atuam inibindo o ciclo celular. Os proto-oncogenes, quando ativos, estimulam a ocorrência de divisão celular e os genes supressores de tumor, quando ativos, inibem a ocorrência de divisão celular. O equilíbrio na atuação desses dois grupos de genes resulta no perfeito funcionamento do ciclo celular. TIPOS E ESTADIAMENTO DOS TUMORES A evolução do tumor maligno inclui várias fases, que dependem, em grande parte, da velocidade do crescimento tumoral, do órgão-sede do tumor, de fatores constitucionais do hospedeiro, de fatores ambientais etc. Os tumores podem ser detectados nas fases microscópica, pré-clínica ou clínica. A história biológica de alguns tumores permite que eles sejam previstos quando ainda a lesão esteja na fase pré-neoplásica. As ações preventivas na área da saúde podem, se bem orientadas, imprimir uma profunda modificação na evolução natural dos tumores, levando a diagnósticos precoces que permitem não só aplicar o tratamento nas fases iniciais das lesões, assim como - o que é mais importante - tratar as lesões pré-neoplásicas e, com isso, evitar o aparecimento do tumor. As etapas sequenciais das neoplasias epiteliais que surgem em epitélio escamoso, como, por exemplo, do colo do útero, são as seguintes: • Carcinoma in situ - a neoplasia se desenvolve no interior do tecido de origem, sem ultrapassar os seus limites, definidos pela membrana basal. • Carcinoma microinvasor - refere-se à neoplasia maligna que ultrapassa a membrana basal e atinge o tecido conjuntivo, mas não alcança profundidade superior a 5 mm. • Carcinoma invasor - é assim definido quando se verifica a infiltração, com invasão mais profunda dos tecidos adjacentes. Essa sequência, no entanto, não é suficiente para permitir uma avaliação mais completa da evolução da lesão. Métodos que possam definir a rapidez do crescimento e a presença ou não de metástases são necessários à avaliação do prognóstico e tratamento a ser instituído. Entre esses métodos, os mais utilizados são a graduação histológica e o estadiamento. Verifica-se que, apesar da sua variedade, os tumores malignos seguem um curso biológico mais ou menos comum a todos eles, que se inicia pelo crescimento e invasão local, segue pela invasão dos órgãos vizinhos e termina com a disseminação regional e sistêmica. Esta evidência levou a União Internacional Contra o Câncer (UICC) a desenvolver um sistema de estadiamento dos tumores que tem como base a avaliação da dimensão do tumor primário (T), a extensão da disseminação em linfonodos regionais (N) e a presença ou não de metástases a distância (M) – Sistema TNM de Classificação dos Tumores Malignos. Na interpretação de cada fator são analisadas as diversas variações que, para o tumor primitivo, vão de T1 a T4, para o comprometimento linfático, de N0 a N3, e, para as metástases a distância, de M0 a M1. A combinação das diversas variantes de T, N e M, finalmente, determina os estádios clínicos que variam entre I e IV na maioria dos casos, isto porque alguns dos tumores só são classificados em três estádios. Hoje, o estadiamento clínico representa o mais importante meio de que dispõe o oncologista para definir o prognóstico e a terapêutica dos pacientes. Para a ação do enfermeiro, o conhecimento do estadiamento é fundamental para traçar o plano de assistência, compreender as bases terapêuticas do tratamento médico instituído, orientar adequadamente o raciocínio clínico diante dos sinais e sintomas apresentados pelo cliente e, finalmente, para poder estabelecer com o cliente uma relação profissional orientada pelo respeito e por critério prognóstico mais realista. NUTRIÇÃO, DIETA E CÂNCER Dos casos de câncer: 4-6% estão associados com o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e 10-20% estão associados com o excesso de peso e obesidade. De 44 a 61% dos casos de câncer estão associados com o hábito alimentar. Em média, 20% dos casos de câncer são causados pela obesidade influenciados pela dieta, variação de peso e a distribuição de gordura corporal, juntamente com a falta de atividade física. Evidência mais forte para uma associação da obesidade com câncer endometrial, adenocarcinoma de esôfago, colo-retal, de mama na pós-menopausa, próstata e renal. A obesidade está correlacionada com os níveis baixos de 25 - hidroxi-vitamina D, pode ser responsável por 20% do risco de câncer associado ao aumento do IMC. ALIMENTAÇÃO DE RISCO Se consumidos regularmente podem favorecer o câncer: carnes vermelhas, frituras, molhos com maionese, leite integral e derivados, bacon, presuntos, salsichas, linguiças, mortadelas. Alimentos com agentes cancerígenos: nitritos e nitratos usados para conservar (picles, salsichas e outros embutidos e enlatados) = nitrosaminas no estômago = câncer de estômago - Classe 1 – IARC E249, E250, E251 e E252. Defumados e churrascos impregnados de alcatrão (fumaça do carvão) = ação carcinogênica conhecida (como cigarro). Alimentos preservados em sal: carne-de-sol, charque e peixes salgados = câncer de estômago. A formaincorreta de preparo dos alimentos também pode torna-los cancerígenos. Ideal, por exemplo, adicionar menos sal na hora de fazer a comida, aumentando o uso de temperos como azeite, alho, cebola e salsa. Ao fritar, grelhar ou preparar carnes na brasa a temperaturas muito elevadas, podem ser criados compostos que aumentam o risco de câncer de estômago e colorretal. Por isso, métodos de cozimento que usam baixas temperaturas são escolhas mais saudáveis, como vapor, fervura, pochê, ensopado, cozido ou assado. FIBRAS X GORDURAS Alimentação pobre em fibras, com altos teores de gorduras e calorias têm relação com câncer de cólon e de reto. As fibras ajudam a regularizar o funcionamento do intestino, reduzindo o tempo de contato de substâncias cancerígenas com a parede do intestino grosso. Em relação a cânceres de mama e próstata, a ingestão de gordura pode alterar os níveis de hormônio no sangue, aumentando o risco da doença. ADITIVOS ALIMENTARES Substâncias que são adicionadas aos alimentos com a intenção de manter ou modificar o sabor e outras características sensoriais, melhorar a aparência assim como aumentar o tempo de prateleira. Dentre os corantes permitidos como aditivo na indústria de alimentos, o corante caramelo ocupa lugar de destaque, sendo um dos mais antigos aditivos utilizados para coloração do produto final, para se conseguir uma cor que pode variar da amarelo-palha ao marrom escuro ou quase negro. Pesquisa sobre a toxicidade de caramelos ajudou a mostrar que a cor de caramelo de classe III e IV são mais perigosos que outros caramelos pela presença de nitrogênio em seus promotores de caramelização. Há a formação de imidazol, reconhecido como tóxico. Os primeiros conservantes permitidos pela FDA, devido ao baixo custo foram: Benzoato de sódio; Benzoato de potássio; Benzoato de cálcio o ácido benzóico e seus sais - são um dos conservantes alimentícios mais usados. O problema é que em contato com vitamina C (alimentos, frutas etc) resulta na quebra do ácido benzoico em BENZENO em pequenas proporções. Sendo assim, bebidas que contém vitamina C e utilizam ácido benzoico como conservante em sua composição, podem conter também benzeno como resultado dessa reação. E o benzeno é considerado cancerígeno classe 1 pelo IARC. Os alimentos industrializados são uma realidade da “vida moderna”. O que significa maior exposição a mutagênicos e maior risco de desenvolvimento de câncer. 12 DICAS PARA SE PROTEGER DO CÂNCER A prevenção do câncer engloba ações realizadas para reduzir os riscos de ter a doença. O objetivo da prevenção primária é impedir que o câncer se desenvolva. Isso inclui evitar a exposição aos fatores de risco de câncer e a adoção de um modo de vida saudável. O objetivo da prevenção secundária é detectar e tratar doenças pré-malignas (por exemplo, lesão causada pelo vírus HPV ou pólipos nas paredes do intestino) ou cânceres assintomáticos iniciais. Por essa razão, o INCA lançou esse Resumo, e nele, contém as 12 dicas para se proteger contra o câncer. 1. Não fume! Essa é a regra mais importante para prevenir o câncer, principalmente os de pulmão, cavidade oral, laringe, faringe e esôfago. Ao fumar, são liberadas no ambiente mais de 4.700 substâncias tóxicas e cancerígenas que são inaladas por fumantes e não fumantes. Parar de fumar e de poluir o ambiente é fundamental para a prevenção do câncer. 2. Alimentação saudável protege contra o câncer. Uma ingestão rica em alimentos de origem vegetal como frutas, legumes, verduras, cereais integrais, feijões e outras leguminosas, e pobre em alimentos ultraprocessados, como aqueles prontos para consumo ou prontos para aquecer e bebidas adoçadas, pode prevenir o câncer. A alimentação deve ser saborosa, respeitar a cultura local, proporcionar prazer e saúde e incluir alimentos regionais. 3. Mantenha o peso corporal adequado. Manter um peso saudável ao longo da vida é uma das formas mais importantes de se proteger contra o câncer. Uma alimentação saudável favorece a manutenção do peso saudável e a recomendação é evitar alimentos ultraprocessados, como aqueles prontos para aquecer ou consumir, e fazer dos alimentos in natura e minimamente processados como as frutas, legumes, verduras, feijões e outros grãos, sementes, castanhas a base da alimentação. A criação de ambientes que incentivem a alimentação saudável e ser fisicamente ativo ao longo da vida é fundamental para o controle do câncer. 4. Pratique atividades físicas. Você pode, por exemplo, caminhar, dançar, trocar o elevador pelas escadas, levar o cachorro para passear, cuidar da casa ou do jardim ou buscar modalidades como a corrida de rua, ginástica, musculação, entre outras. Experimente, ache aquela modalidade que você goste, aproveite e busque fazer dessas atividades um momento coletivo, prazeroso e divertido, com a família e amigos, ou faça da atividade física um momento introspectivo no qual você se conecta consigo, enfim, é possível encaixar a atividade física na rotina de cada um, seja através do deslocamento ativo indo ao trabalho ou outras atividades caminhando ou de bicicleta, são diferentes possibilidades. 5. Amamente. O aleitamento materno é a primeira ação de alimentação saudável. A amamentação até os dois anos ou mais, sendo exclusiva até os seis meses de vida da criança, protege as mães contra o câncer de mama e as crianças contra a obesidade infantil. A partir de seis meses da criança, deve-se complementar a amamentação conforme a dica sobre Alimentação saudável e proteção contra o câncer. 6. Mulheres entre 25 e 64 anos devem fazer o exame preventivo do câncer do colo do útero a cada três anos. As alterações das células do colo do útero são descobertas facilmente no exame preventivo (conhecido também como Papanicolau), e são curáveis na quase totalidade dos casos. Por isso, é importante a realização periódica deste exame. Tão importante quanto fazer o exame é saber o resultado, seguir as orientações médicas e o tratamento indicado. 7. Vacine contra o HPV as meninas de 9 a 14 anos e os meninos de 11 a 14 anos. A vacinação contra o HPV, disponível no SUS, e o exame preventivo (Papanicolau) se complementam como ações de prevenção do câncer do colo do útero. Mesmo as mulheres vacinadas, quando chegarem aos 25 anos, deverão fazer um exame preventivo a cada três anos, pois a vacina não protege contra todos os subtipos do HPV. 8. Vacine contra a hepatite B. O câncer de fígado está relacionado à infecção pelo vírus causador da hepatite B e a vacina é um importante meio de prevenção deste câncer. O Ministério da Saúde disponibiliza nos postos de saúde do País a vacina contra esse vírus para pessoas de todas as idades. 9. Evite a ingestão de bebidas alcoólicas. Seu consumo, em qualquer quantidade, contribui para o risco de desenvolver câncer. Além disso, combinar bebidas alcoólicas com o tabaco aumenta a possibilidade do surgimento da doença. 10. Evite comer carne processada. Carnes processadas como presunto, salsicha, linguiça, bacon, salame, mortadela, peito de peru e blanquet de peru podem aumentar a chance de desenvolver câncer. Os conservantes (como os nitritos e nitratos) podem provocar o surgimento de câncer de intestino (cólon e reto) e o sal provocar o de estômago. 11. Evite a exposição ao sol entre 10h e 16h, e use sempre proteção adequada, como chapéu, barraca e protetor solar, inclusive nos lábios. Se for inevitável a exposição ao sol durante a jornada de trabalho, use chapéu de aba larga, camisade manga longa e calça comprida. 12. Evite exposição a agentes cancerígenos no trabalho. Agentes químicos, físicos e biológicos ou suas combinações são causas bem conhecidas de câncer relacionado ao trabalho, e evitar ou diminuir a exposição a estes agentes seria o ideal e desejável. Mas para que isto ocorra de maneira satisfatória, é necessário o comprometimento de todos os envolvidos nos diversos processos de trabalho, visando a elaboração de planos para evitar o adoecimento dos trabalhadores. Também é fundamental a implementação de leis que obriguem e fiscalizem a substituição dos agentes causadores câncer no trabalho por outros mais saudáveis, quando já houver esta alternativa. TRATAMENTOS PARA OS DIVERSOS TIPOS DE CÂNCER Após o diagnóstico da doença, o médico discutirá com o paciente as opções de tratamento, que dependerão do tipo e estágio do tumor, localização, estado de saúde geral do paciente e dos possíveis efeitos colaterais. Os principais tipos de tratamentos contra o câncer são: Cirurgia A cirurgia oncológica é o mais antigo tipo de terapia contra o câncer. É o principal tratamento utilizado para vários tipos de câncer e pode ser curativo quando a doença é diagnosticada em estágio inicial. A cirurgia também pode ser realizada com objetivo de diagnóstico, como na biopsia cirúrgica, alívio de sintomas como a dor e em alguns casos de remoção de metástases quando o paciente apresenta condições favoráveis para a realização do procedimento. Quimioterapia O tratamento quimioterápico utiliza medicamentos anticancerígenos para destruir as células tumorais. Por ser um tratamento sistêmico, atinge não somente as células cancerosas como também as células sadias do organismo. De forma geral, a quimioterapia é administrada por via venosa, embora alguns quimioterápicos possam ser administrados por via oral e pode ser feita aplicando um ou mais quimioterápicos. A quimio de acordo com seu objetivo, pode ser curativa (quando usada com o objetivo de obter o controle completo do tumor), adjuvante (quando realizada após a cirurgia, com objetivo de eliminar as células cancerígenas remanescentes, diminuindo a incidência de recidiva e metástases à distância), neoadjuvante (quando realizada para reduzir o tamanho do tumor, visando que o tratamento cirúrgico possa ter maior sucesso) e paliativa (sem finalidade curativa, é utilizada para melhorar a qualidade da sobrevida do paciente). Radioterapia É o uso das radiações ionizantes para destruir ou inibir o crescimento das células anormais que formam um tumor. Existem vários tipos de radiação, porém as mais utilizadas são as eletromagnéticas (Raios X ou Raios gama) e os elétrons (disponíveis em aceleradores lineares de alta energia). Embora as células normais também possam ser danificadas pela radioterapia, geralmente elas podem se reparar, o que não acontece com as células cancerígenas. A radioterapia é sempre cuidadosamente planejada de modo a preservar o tecido saudável, tanto quanto possível. No entanto, sempre haverá tecido saudável que será afetado pelo tratamento, provocando possíveis efeitos colaterais. Existem vários tipos de radioterapia e cada um deles têm uma indicação específica dependendo do tipo de tumor e estadiamento da doença: radioterapia externa, radioterapia conformacional 3D, radioterapia de intensidade modulada (IMRT), radiocirurgia estereotáxica (Gamma Knife) e braquiterapia. A radioterapia pode ser utilizada como o tratamento principal do câncer, como tratamento adjuvante (após o tratamento cirúrgico), como tratamento neoadjuvante (antes do tratamento cirúrgico), como tratamento paliativo, para alivio de sintomas da doença como dor ou sangramento e para o tratamento de metástases. Hormonioterapia É uma modalidade terapêutica que tem como objetivo impedir a ação dos hormônios em células sensíveis. Algumas células tumorais possuem receptores específicos para hormônios, como os de estrógeno, progesterona e andrógeno e em alguns tipos de câncer, como o de mama e de próstata, esses hormônios são responsáveis pelo crescimento e proliferação das células malignas. Portanto a hormonioterapia é uma forma de tratamento sistêmico que leva à diminuição do nível de hormônios ou bloqueia a ação desses hormônios nas células tumorais, com o objetivo de tratar os tumores malignos dependentes do estímulo hormonal. A hormonioterapia pode ser usada de forma isolada ou em combinação com outras formas terapêuticas. Terapia Alvo É um tipo de tratamento sistêmico que utiliza medicamentos alvo moleculares que atacam especificamente ou ao menos preferencialmente determinados elementos encontrados na superfície ou no interior das células cancerosas. Cada tipo de terapia alvo funciona de uma maneira diferente, mas todos alteram a forma como uma célula cancerígena cresce, se divide, se auto repara, ou como interage com outras células. Os medicamentos alvo moleculares podem ser utilizados de forma isolada ou em combinação com outras formas terapêuticas. Imunoterapia É um tratamento biológico cujo objetivo é potencializar o sistema imunológico, utilizando anticorpos produzidos pelo próprio paciente ou em laboratório. O sistema imunológico é responsável por combater infecções, além de outras doenças. Atuando no bloqueio de determinados fatores, a imunoterapia provoca o aumento da resposta imune, estimulando a ação das células de defesa do organismo, fazendo que essas células reconheçam o tumor como um agente agressor. Transplante de Medula Óssea A medula óssea é encontrada no interior dos ossos e contêm as células-tronco, responsáveis pela formação dos componentes do sangue: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas. O transplante de medula óssea (TMO) é a coleta da medula óssea para o tratamento de alguns tipos de câncer, por exemplo, leucemias, linfomas e mieloma múltiplo. Após quimioterapia em altas doses, associada ou não à radioterapia, o paciente (receptor) recebe a medula óssea por meio de uma transfusão, provenientes do próprio paciente ou de um doador. O transplante de medula óssea pode ser: alogênico (quando a medula ou as células precursoras provêm de outro indivíduo (doador), o doador e o receptor são pessoas diferentes) ou autólogo (quando a medula ou as células precursoras provêm do próprio indivíduo transplantado, o doador e o receptor são a mesma pessoa). É importante que todas as opções de tratamento sejam sempre discutidas com o médico, bem como sua eficácia e seus possíveis efeitos colaterais, para ajudar a tomar a decisão que melhor se adapte às necessidades de cada paciente. O CÂNCER E A DESNUTRIÇÃO Nutrição é o processo que consiste na absorção e utilização dos nutrientes dos alimentos ingeridos para a realização das funções vitais do organismo. Uma boa nutrição é fundamental para uma boa saúde. Comer determinados tipos de alimentos antes, durante e depois do tratamento do câncer, ajuda a fortalecer o organismo, fazendo com que o paciente se sinta melhor e mais disposto. Uma dieta saudável significa comer e beber alimentos que contenham nutrientes importantes que o corpo precisa, para seu funcionamento, como vitaminas, minerais, proteínas, carboidratos, gorduras e água. Uma boa alimentação pode ajudar não só à manutenção de um corpo saudável, como também pode minimizar os efeitos colaterais durante e após o tratamento. Os sintomas da doença junto com os efeitos colaterais dos tratamentos, acabam dificultando a realização de uma dieta saudável. Quimioterapia, hormonioterapia, radioterapia, cirurgia, imunoterapia e o transplante de medula ósseasão terapias frequentemente utilizadas no tratamento do câncer e que afetam a nutrição dos pacientes. Quando a cabeça e o pescoço e órgãos como esôfago, estômago, intestino, pâncreas ou fígado são afetados pela doença e pelos os efeitos colaterais do tratamento do câncer, acaba se tornando difícil a absorção de nutrientes suficientes para a preservação das funções do organismo do paciente. O câncer e seus tratamentos podem afetar o paladar, o olfato, o apetite e a capacidade do paciente de se alimentar ou absorver os nutrientes dos alimentos. Isso pode, consequentemente, causar desnutrição, que é provocada pela falta dos nutrientes essenciais. A desnutrição pode fazer com que o paciente se sinta fraco, cansado e se torne incapaz de combater as infecções e, em alguns casos, de realizar e concluir o tratamento do câncer. Sabe-se que a desnutrição pode contribuir com a progressão da doença. ANOREXIA E CAQUEXIA: CAUSAS COMUNS DA DESNUTRIÇÃO EM PACIENTES COM CÂNCER Anorexia é a perda de apetite ou da vontade de comer, é um distúrbio alimentar que provoca a perda de peso acima do que é considerado saudável para a idade e altura. A anorexia é sintoma comum em pacientes com câncer, podendo se manifestar já no início da doença, ou conforme a doença avança e se dissemina. É a causa mais comum de desnutrição em pacientes com câncer. Caquexia se caracteriza pela perda de peso do paciente, além da perda de massa corpórea e tecido adiposo, normalmente relacionada a doenças crônicas, como o câncer. Na caquexia a massa corporal não pode ser reposta com alimentação. No entanto, alguns pacientes até conseguem se alimentar corretamente, mas não conseguem armazenar gordura nem manter massa muscular devido à doença. Alguns tipos de câncer mudam a maneira como o corpo absorve determinados nutrientes. Tumores na região do estômago, intestino, cabeça e pescoço podem afetar a absorção de proteínas, carboidratos e gorduras pelo organismo. Um paciente pode estar se alimentando bem, porém o corpo não consegue absorver corretamente os nutrientes necessários dos alimentos. CÁLCULO PARA NECESSIDADE NUTRICIONAL Calorimetria indireta – padrão ouro: mede consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono para calcular catabolismo de energia. Porém, devido ao alto custo, é inviável em ambiente ambulatorial. O que se usa na prática clínica são as Fórmulas preditivas – Harris-Benedict. Foi avaliada como a mais precisa quando multiplicada pelo fator 1,1. Ainda assim foi encontrado erro em 39% dos pacientes em comparação com calorimetria indireta. RECOMENDAÇÃO NUTRICIONAL DO PACIENTE ONCOLÓGICO Segundo o Consenso Nacional de Nutrição Oncológica (INCA 2015), o método mais simples de estimativa de energia é a relação quilocaloria por quilograma de peso (Kcal / Kg). No quadro abaixo, o recomendado para paciente cirúrgico: Sempre respeitando individualidades, função renal, doenças associadas, etc. As recomendações para pacientes em quimio ou radio, são bastante similares: RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA PÓS TRANSPLANTADOS - TCTH Checar data de fabricação e validade dos produtos; Observar odor, presença de insetos e corpos estranhos em embalagens danificadas; Selecionar vegetais e frutas mais frescos e sem injúrias; Evitar salgadinhos e sobremesas não refrigeradas; Evitar estocar alimentos por longo tempo; Evitar restaurantes do tipo “self-service”. REFERÊNCIAS: ABC do Câncer – INCA – online Barrére, Ana Paula Noronha et al. Guia Nutricional de Oncologia - Atheneu, 2017 BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS Dal Bosco, S.M. , Genro, J.P. Nutrigenética e |Implicações na Saúde Humana. Ed Atheneu, 2014. Estimativa 2019: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2017. 118p. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/estimativa/2019 Garófolo, A. Nutrição clínica, funcional e preventiva aplicada à oncologia. 2012. Ed Rubio. Pinho, A. Nutrição e câncer: da prevenção ao tratamento (Bases científicas e Prática clínica) . Ed.PoloBooks, SP, 2018. Waitzberg, Dan Linetzky, et al. Manual de terapia nutricional em oncologia do ICESP. 2011.
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