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Historia em movimento Vol 2-51

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349Manual do Professor
de comercializar as mercadorias vindas da Europa e comprar 
os produtos locais. No entanto, a Companhia não conse-
guiu cumprir suas funções: cobrava preços exorbitantes pe-
los produtos estrangeiros, enquanto comprava os produtos 
da região a preços reduzidos. Em suma, a escassez de mão 
de obra escrava e a crise das atividades comerciais aumen-
taram o descontentamento dos colonos do Maranhão, que 
culminou na Revolta dos Beckman, um conflito armado en-
tre os colonos e o governo metropolitano.
4. A principal divergência entre as elites das duas localidades 
dizia respeito à conquista da autonomia política do Recife 
perante Olinda, sede da capitania, com importantes refle-
xos nas relações econômicas. A autonomia de Recife traria 
liberdade econômica e administrativa aos comerciantes re-
cifenses, os quais se encontravam em ascensão devido ao 
comércio de produtos importados. Eles poderiam, inclusive, 
criar mecanismos legais para cobrar as dívidas em atraso dos 
senhores de engenho de Olinda. Em 1709, o governo por-
tuguês determinou a ascensão de Recife à categoria de vila, 
o que provocou, no ano seguinte, a rebelião dos senhores 
de engenho de Olinda contra o governador e os comercian-
tes de Recife.
5. 1719 – a Coroa portuguesa, para aumentar o controle sobre 
a produção aurífera, estabelece as Casas de Fundição, nas 
quais todo o metal encontrado deveria ser fundido e trans-
formado em barras, e define também que um quinto de 
todo o ouro fundido seria pago como imposto.
junho de 1720 – tem início a rebelião, sob a liderança de Pas-
coal da Silva Guimarães, um proprietário de terras e escravos. 
Os revoltosos negociam as reivindicações com o governador, 
conde de Assumar, que, supostamente, as atende. 
julho de 1720 – o governador ordena a invasão de Vila Rica e 
a prisão dos principais líderes dos revoltosos, os quais seriam 
conduzidos ao Rio de Janeiro e, de lá, a Portugal. No trajeto 
para o Rio, Filipe dos Santos e um grupo de revoltosos ten-
tam libertar os companheiros, mas são subjugados e presos. 
julho de 1720 – Filipe dos Santos é condenado à morte de 
forma sumária.
1725 – as Casas de Fundição começam a funcionar efeti-
vamente.
6. Politicamente, representantes da elite mineira disputavam 
o poder local, interessados no controle de importantes car-
gos administrativos. Assim, opunham-se os interesses do 
governador Pedro de Almeida Portugal, o conde de Assu-
mar, e os do grupo liderado por Pascoal da Silva Guima-
rães, grande proprietário de terras e escravos da região, 
que se encontrava muito endividado com o governo. Os 
rebeldes, liderados por Pascoal da Silva Guimarães, tenta-
ram destituir do cargo o conde de Assumar, durante ma-
nifestações contra a decisão da Coroa portuguesa de criar 
as Casas de Fundição.
7. A Revolta dos Beckman terminou ao serem presos os dois ir-
mãos Beckman. Manuel foi preso, enforcado e decapitado, 
ao lado de outro líder do movimento, Jorge Sampaio; Tho-
mas Beckman foi deportado para Pernambuco. 
A Guerra dos Mascates terminou com a chegada do novo 
governador, nomeado pela Coroa, que determinou a eleva-
ção de Recife à condição de vila. O conflito deixou um saldo 
de 154 mortos, devido aos conflitos entre as tropas dos re-
beldes de Olinda e dos recifenses. 
A Revolta de Filipe dos Santos foi reprimida pelas forças do 
governador, em Vila Rica, que prenderam os líderes rebe-
lados e incendiaram suas casas. Filipe dos Santos foi preso 
quando tentava resgatar os outros revoltosos e foi condena-
do à morte por enforcamento, arrastado pelas ruas por ho-
mens a cavalo e depois ainda esquartejado e exposto para 
os moradores de Vila Rica. Professor(a), se julgar oportuno, 
você pode ampliar a discussão sobre esse resumo, destacan-
do que nos três casos as forças do governo português (na 
Revolta dos Beckman e de Filipe dos Santos) ou que o re-
presentava (na Revolta dos Mascates) conseguiram vencer 
os revoltosos. Também pode ser destacado que o castigo 
exemplar – a forma de execução de Filipe dos Santos – foi 
aplicada apenas a ele, um pequeno comerciante, que não 
representava nenhum setor da elite colonial. 
8. A Revolta da Cachaça foi um conflito liderado por membros 
da elite do Rio de Janeiro que protestavam contra o aumen-
to de impostos e contra a decisão do governo português de 
proibir a fabricação e o consumo da cachaça na colônia, vis-
to que o produto tinha se tornado um forte concorrente do 
vinho português na África e na colônia portuguesa na Amé-
rica. Além disso, a cachaça também era usada como moeda 
para a compra de escravos na costa africana. Essa medida 
protecionista provocou levantes no Rio de Janeiro, um dos 
principais centros de produção de cachaça da colônia na 
época. A Revolta da Cachaça teve vários desdobramentos, 
como a deposição do governador que, posteriormente, re-
cuperou o cargo e mandou prender os envolvidos no movi-
mento. Alguns foram condenados ao degredo, mas Jerôni-
mo Barbalho Bezerra, apontado como o principal líder, foi 
enforcado e esquartejado.
Hora DE rEFlETir
A pesquisa e o resultado final da carta solicitada aos alu-
nos dependem da realidade local, mas é importante oferecer- 
-lhes algumas orientações. As informações sobre a Controla-
doria Geral da União e outros órgãos estaduais e municipais 
de fiscalização podem ser obtidos no Portal da Transparência, 
disponível em: <www.portaldatransparencia.gov.br/> (acesso 
em: 13 dez. 2012). Além disso, a cartilha Olho vivo no dinhei-
ro público pode oferecer algumas orientações sobre o assunto. 
Disponível em: <www.cgu.gov.br/Publicacoes/CartilhaOlhoVivo/ 
Arquivos/CartillhaOlhoVivo_baixa_V2.pdf> (acesso em: 13 dez. 
2012). As prefeituras são obrigadas legalmente a fornecer in-
formações sobre gastos dos recursos e parte desses recursos é 
administrada por conselhos municipais com a participação de 
diversos setores da sociedade. O orçamento – documento que 
define como e onde serão gastos os impostos arrecadados – é 
votado anualmente pela Câmara de Vereadores, em plenárias 
abertas e acessíveis aos cidadãos. Professor(a), se julgar opor-
tuno, você pode propor a discussão das questões políticas da 
região ou da cidade para que os alunos conheçam melhor os 
mecanismos administrativos utilizados pela prefeitura na alo-
cação dos recursos. Você pode incentivá-los a identificar efeti-
vamente que medidas refletiriam no aumento da transparên-
cia da gestão pública, aspecto essencial ao fortalecimento da 
democracia. A produção de uma carta endereçada ao poder 
local pode desencadear uma reflexão sobre a gestão pública 
dos recursos no município e pode evidenciar o que os alunos 
consideram importante conhecer sobre a gestão desses recur-
sos. A carta, por exemplo, pode ser entregue pessoalmente ao 
prefeito ou na Câmara dos Vereadores, mediante agendamen-
to de uma audiência. 
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350 Manual do Professor
Capítulo 20
O sonho da emancipação
Conteúdos e procedimentos sugeridos
Esse capítulo aborda a Inconfidência Mineira e a Con-
juração Baiana, dois dos principais movimentos de emanci-
pação política ocorridos na América portuguesa, no final do 
século XVIII, os quais se opunham claramente à forma de ad-
ministração da metrópole, com um caráter predominante-
mente exploratório.
O texto de abertura aborda a homenagem aos líderes 
da Conjuração Baiana, que entraram para a lista dos heróis 
da pátria. Na leitura da seção Patrimônio e diversidade (pá-
gina 171), A presença negra na Bahia, percebe-se também 
o quanto a cultura baiana é resultado da maciça presença 
de africanos e seus descendentes. Ritmos musicais, comidas, 
danças, festas e crenças exemplificam como a cultura africa-
na teve importância fundamental como um dos alicerces da 
cultura brasileira.
Para iniciar a discussão sobre o contexto do Brasil no fi-
nal do século XVIII, pode-se destacar a divulgação das ideias 
iluministas e a influência que elas tiveram entre alguns grupossociais naquela época, especialmente a elite colonial. Pode-se 
também relacionar o aumento da exploração de riquezas na 
colônia com a insatisfação das elites coloniais.
Minas Gerais foi palco de um dos movimentos de con-
testação mais conhecidos na história do Brasil: a Inconfidência 
Mineira. Dentre os condenados pela Coroa portuguesa, Tira-
dentes foi o único que sofreu a pena de morte. Em torno da 
figura de Tiradentes, podem ser desenvolvidas muitas discus-
sões. Uma delas se refere à imagem de herói nacional, criada 
posteriormente. A seção Olho vivo (página 170) pode ser uma 
ferramenta importante ao analisar o quadro Tiradentes esquar-
tejado, feito pelo pintor Pedro Américo quase cem anos após 
o ocorrido. Texto e imagem podem servir como base para um 
debate sobre a utilização política de personagens históricos na 
defesa de ideias, o que demonstra como situações do passado 
podem ser apropriadas de diversas formas pelo presente. Nes-
se momento, pode ser oportuno chamar a atenção, mais uma 
vez, para a necessidade de olharmos criticamente qualquer do-
cumento histórico.
Também as seções Interpretando documentos (página 
173) e Hora de refletir podem ajudar nessa discussão sobre 
a construção dos mitos, ao tratar das diversas formas de re-
presentação das personagens, desde as pinturas e gravuras no 
passado aos meios de comunicação modernos, presentes em 
nosso cotidiano.
Em comparação com a Inconfidência Mineira (na qual a 
presença da elite se destacava), a Conjuração Baiana pode ser 
considerada um movimento no qual se envolveram grupos so-
ciais mais diversificados: além dos membros da elite, os mais 
pobres, os pardos, os libertos e os escravos tiveram destacada 
participação.
Texto complementar
Leia a seguir um dos panfletos que circulou pelas ruas de 
Salvador por ocasião da Conjuração Baiana.
Animai-vos que sereis felizes
Aviso ao Povo Bahiense
Ó vós Homens cidadãos: ó vós Povos curvados e 
abandonados pelo Rei, pelos seus despotismos, pelos 
seus Ministros. 
Ó vós Povo que nascestes para serdes livre e para 
gozares dos bons efeitos da Liberdade, ó vós Povos que 
viveis flagelados com o pleno poder do indigno coroado, 
esse mesmo rei que vós criastes; esse mesmo rei tirano é 
quem se firma no trono para vos vexar, para vos roubar e 
para vos maltratar. [...]
As nações do mundo, todas têm seus olhos fixos na 
França, a liberdade é agradável para todos; [...] o tempo 
é chegado para vós defendêreis a vossa Liberdade; o dia 
da revolução, da nossa Liberdade e de nossa felicidade 
está para chegar; está para chegar, animai-vos que se-
reis felizes. 
PRIORE, Mary Del; NEVES, Maria de Fátima das; ALAMBERT, Francisco. 
Documentos de história do Brasil. De Cabral aos anos 90. São Paulo: 
Scipione, 1997. p. 38. 
Sugestões de leitura
RADEL, Guilherme. A cozinha africana da Bahia. Salvador: Gui-
lherme Radel, 2006.
VIANNA FILHO, Luís. O negro na Bahia. Salvador: EDUFBA, 2008.
Organizando aS iDEiaS
1. As ideias iluministas chegavam à colônia por meio dos jovens 
da elite colonial que retornavam da Europa (aonde tinham 
ido estudar) e dos livros dos iluministas que, embora proibi-
dos, eram vendidos e lidos clandestinamente. Na colônia, as 
pessoas se reuniam para ler esses textos e discutir essas ideias, 
e avaliar o governo português e a relação com a colônia. De-
vido a essas formas de difusão, a princípio, as ideias de liber-
dade se disseminaram entre os membros da elite, mas, com 
o passar do tempo, outras pessoas, inclusive as mais pobres, 
também começaram a se envolver com os ideais iluministas.
2. As medidas administrativas implantadas pelo marquês de 
Pombal que afetaram a região das minas, na colônia, refe-
riam-se à reestruturação na forma de fiscalizar e tributar o 
ouro extraído da colônia, a fim de garantir um volume maior 
de riquezas para a Coroa portuguesa. Como a quantidade de 
100 arrobas anuais de impostos (definida por lei desde 1734) 
não era paga regularmente, foi estabelecida a “derrama”, em 
1765, que consistia na cobrança dos impostos atrasados, os 
quais seriam pagos por toda a população, caso a arrecada-
ção anual não atingisse a quantidade mínima estipulada. Essa 
nova modalidade de tributo era odiada pelos mineradores, 
pois representava a ação exploratória (arbitrária e abusiva, na 
visão dos colonos) da metrópole sobre as elites coloniais.
3. A maioria dos inconfidentes eram homens ricos, entre 40 e 
50 anos, que ocupavam ou haviam ocupado algum cargo 
público. Alguns eram grandes proprietários de terras e es-
cravos. Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga 
e Alvarenga Peixoto eram, também, poetas árcades. Havia 
ainda religiosos, como o padre José da Silva Rolim, e milita-
res, como o tenente-coronel Francisco de Paula de Andrade 
e o alferes, Joaquim José da Silva Xavier, que era também 
dentista e, por isso, era conhecido por Tiradentes. 
4. Os inconfidentes queriam a emancipação das Minas Gerais 
do domínio português, defendiam a criação de uma univer-
sidade e de uma casa da moeda em Vila Rica, queriam tam-
bém o desenvolvimento industrial para a região. Não havia 
consenso quanto ao fim da escravidão, pois muitos líderes 
do movimento eram donos de escravos e não queriam per-
der suas fontes de riquezas.
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351Manual do Professor
5. Em 1798, Salvador possuía aproximadamente 60 mil habi-
tantes, compostos em sua maioria de negros e pardos po-
bres, escravos ou livres. Essa população sofria as mazelas da 
escravidão e da discriminação étnica que limitava as possibi-
lidades de trabalho e ascensão social. Frequentemente, fal-
tavam gêneros alimentícios; a escassez era provocada pelo 
aumento dos preços e pelos elevados impostos e não eram 
raros os saques aos pontos de abastecimento. Devido a essa 
instabilidade, as autoridades baianas permaneciam de so-
breaviso, preocupadas com os riscos de uma revolta. Muitos 
jovens pertencentes à elite colonial retornavam da Europa 
defendendo a liberdade e a igualdade para todos e o fim 
do domínio português, o que provocava certa instabilidade 
política também.
6. Membros da elite local e senhores de engenho da região, 
começaram a se reunir e criaram uma sociedade secreta, 
chamada de Cavaleiros da Luz, disposta a organizar o mo-
vimento republicano na Bahia. Essas ideias se difundiram 
rapidamente entre as camadas médias urbanas e entre as 
pessoas mais pobres. Em 12 de agosto de 1798, folhetos 
manuscritos foram afixados nos principais locais de Salva-
dor. O governador da Bahia mandou prender o soldado Luís 
Gonzaga das Virgens, acusado de ter escrito os folhetos. Em 
26 de agosto, um levante seria realizado para retirar o mili-
tar da cadeia e dar início à rebelião contra o governo. Mas 
a conspiração foi delatada e no dia 26 os principais envol-
vidos foram presos. Em 8 de novembro de 1799, após os 
processos e julgamentos, quatro líderes foram enforcados 
e esquartejados.
7. Várias pessoas foram presas, das quais uma parte foi solta 
por falta de provas ou porque pertencia à elite da cidade. Os 
mais pobres receberam condenações severas: réus escravos 
receberam pena de açoite e outros quatro – dois alfaiates e 
dois soldados – foram condenados à morte.
8. Os dois movimentos nasceram a partir de ideais iluministas 
e republicanos e tinham como objetivo a emancipação do 
domínio português. Ambos se organizaram com a iniciativa 
de membros da elite local, que se reuniam para organizar 
o levante. Em ambos, esperava-se o apoio da maior parte 
da população. No entanto, a Inconfidência Mineira foi for-
mada, sobretudo, por pessoas ricas (proprietários de terras, 
escravos e minas) e não chegou a se disseminar a ponto de 
atrair o apoio da população. Já a Conjuração Baiana contava 
com a organização da elite urbana (médicos e membros da 
Igreja, por exemplo) e dos senhores de engenho e também 
com a participação das camadas médias (como os artesãos, 
pequenoscomerciantes) e populares (brancos pobres, ex-
-escravos e escravos). Por isso, os inconfidentes não tinham 
intenção de pôr fim à escravidão, visto que alguns dos seus 
líderes eram proprietários de escravos, enquanto os conju-
rados da Bahia tinham o propósito de acabar com a escravi-
dão, quando tomassem o poder.
Interpretando DOCUMENTOS
1. Na análise do quadro, podem ser citados alguns aspectos 
que se assemelham a muitas imagens de Jesus Cristo. Em 
primeiro lugar, a barba e os cabelos volumosos e castanhos 
escuros; em segundo lugar, a roupa branca, aparentemente 
uma túnica, perceptível no seu ombro direito e, finalmen-
te, o olhar voltado aos céus, representado em cores fortes.
Professor(a), você pode destacar também que outras carac-
terísticas da pintura contribuem para ampliar essa seme-
lhança entre Tiradentes e Jesus Cristo. Dois aspectos são 
especialmente importantes nesse caso: no quadro, são mos-
trados apenas rosto e ombros do personagem, o que ex-
clui qualquer referência a lugar e a elementos históricos (o 
que seria necessário se o pintor decidisse por um plano mais 
aberto, com algum tipo de cenário); além disso, o pintor op-
tou por uma perspectiva de baixo para cima, e registrou o 
rosto de Tiradentes tendo ao fundo o céu, talvez para refor-
çar a relação com a imagem de Jesus.
2. A resposta é pessoal, mas pode-se introduzir uma discus-
são sobre a construção da imagem dessa personagem. Jus-
tamente porque não havia fontes históricas que pudessem 
“orientar” a representação dos traços fisionômicos de Tira-
dentes, foi ainda mais livre a criação de uma imagem mítica, 
que iria reforçar o mito republicano da luta contra a tirania 
monárquica e o domínio de Portugal. Na seção Olho vivo 
(página 170), há uma análise sobre outra imagem de Tira-
dentes, com base no quadro de Pedro Américo. 
Hora DE rEFlETir
Existem diversos tipos de mitos históricos e várias formas 
de construí-los. Há, por exemplo, mitos “fundadores”, isto é, 
de personagens ligados à formação das bases sociais e eco-
nômicas de uma nação: podem ser os fundadores de um país 
(“pais peregrinos” nos Estados Unidos), os desbravadores de 
terras inóspitas (bandeirantes paulistas), os fundadores de uma 
cidade (o primeiro fazendeiro, o primeiro prefeito). Durante os 
períodos de mudança de regime político, também são criados 
os mitos relacionados às transformações sociais (Tiradentes, 
Getúlio Vargas, Tancredo Neves). Há mitos nos esportes, espe-
cialmente vinculados à nacionalidade, como Pelé, Maradona e 
Ayrton Senna.
O que há em comum na construção dos vários mitos 
históricos são dois aspectos, basicamente: em primeiro lu-
gar, a ideia de que essas pessoas foram responsáveis por 
grandes transformações – as quais, do ponto de vista do co-
nhecimento histórico são provocadas pelas forças sociais e 
econômicas, e não por indivíduos –; em segundo lugar, es-
ses mitos são construídos por meio de uma seleção e pro-
dução muito específica de acontecimentos capazes de sus-
tentar os grandes feitos, inseridos na própria biografia do 
indivíduo. No caso de Tiradentes, por exemplo, sua coragem 
diante do tribunal (o que pode ser verificado pela documen-
tação sobre o processo) está na base de sua mitificação, que 
recebeu uma forma definitiva na representação de sua figu-
ra por artistas que procuraram aproximar sua imagem da de 
Jesus (fato criado posteriormente e sem nenhuma funda-
mentação documental). 
Professor, nessa atividade podem surgir muitos outros 
“mitos” com base na pesquisa de imagens realizada pelos 
alunos. Pode ocorrer alguma confusão entre os mitos históri-
cos e as celebridades na televisão (visto que nesses casos, as-
sim como na construção do mito, também existe certa “idea-
lização” das personagens). É importante, portanto, que você 
promova uma discussão sobre a diferença entre os mitos ca-
pazes de mobilizar mudanças relevantes da história (do país 
ou da localidade) e as celebridades que se tornam instanta-
neamente relevantes na mídia, mas desaparecem em alguns 
meses ou semanas sem representar um papel histórico impor-
tante e sem ter contribuído para nenhuma mudança histórica 
mais profunda.
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352 Manual do Professor
Fechando a unidade
Reflita e responda
1. A crônica de Tostão aborda as contradições do comporta-
mento humano. O autor chama a atenção para o descom-
passo entre as atitudes de algumas pessoas na esfera públi-
ca e seu comportamento no cotidiano. Cita o exemplo de 
empresários que participam de atividades sociais e, ao mes-
mo tempo, pressionam políticos para obter benefícios finan-
ceiros; candidatos a cargos políticos que são eleitos alegan-
do “motivos nobres”, mas que cometem os mesmos erros e 
irregularidades de seus antecessores.
2. Embora a resposta seja pessoal, pode-se chamar a atenção 
dos alunos para a crítica de Tostão sobre a impunidade e os 
comportamentos antiéticos no Brasil, reforçados pela práti-
ca do “jeitinho brasileiro”. Essa prática, vista por muitas pes-
soas como um sinal da criatividade do povo brasileiro, “que 
sempre encontra saída para tudo”, é também utilizada para 
burlar leis, desrespeitar os direitos dos outros e obter benefí-
cios de maneira ilegal, o que pode ser entendido como uma 
forma de desrespeito aos direitos dos cidadãos.
3. Professor, embora a resposta seja pessoal, essa questão 
permite uma discussão a respeito da intolerância e do pre-
conceito, de maneira geral. Para iniciar o debate, pode-se 
refletir sobre os motivos que levam algumas pessoas a pra-
ticarem atos de violência contra outras com comportamen-
tos e opções de vida diferentes dos seus (orientação sexual, 
opiniões políticas, crenças religiosas, jeito de se vestir, gos-
tos musicais, etc.). As estatísticas fornecidas por entidades 
ligadas ao movimento LGBT no Brasil mostram que, a cada 
dois dias, um homossexual é morto no país, vítima da in-
tolerância. Além da violência, os homossexuais sofrem dis-
criminação no trabalho e em locais públicos e privados. O 
projeto de lei no 122/06 que tramita no Congresso Nacional 
propõe a alteração da lei 7 716/99, que trata de crimes de 
discriminação por raça, etnia, cor, nacionalidade e religião. 
Sua proposta é estender as punições previstas nessa lei aos 
comportamentos homofóbicos. Assim, atitudes como recu-
sar ou dificultar o acesso ao mercado de trabalho e a am-
bientes públicos e privados por causa da orientação sexual 
passaria a ser crime. Essa proposta (apresentada pela primei-
ra vez em 2001) altera o Código Penal brasileiro e a Consoli-
dação das Leis Trabalhistas (CLT); se aprovada, a dispensa do 
trabalhador em razão de sua orientação sexual poderá ser 
punida com prisão de até cinco anos. Os estabelecimentos 
que se recusarem a receber homossexuais também podem 
ser punidos. Existe, no entanto, um movimento de resistên-
cia à aprovação do projeto, levando ao constante adiamen-
to de sua votação. Alguns deputados e senadores, baseados 
em argumentos religiosos, argumentam que a homossexua- 
lidade é um pecado e um desvio de personalidade. Outros 
argumentam que essa lei é desnecessária, uma vez que a 
Constituição garante a igualdade de direitos para todos, 
sem nenhuma distinção.
4. As charges representam os limites da cidadania no Brasil, 
pois mostram que nem sempre são cumpridas as leis que 
garantem os direitos dos cidadãos. A atual Constituição bra-
sileira é considerada avançada no que diz respeito à garan-
tia desses direitos; no entanto, uma série de fatores impede 
que muitas dessas leis sejam postas em prática. A primeira 
charge, por exemplo, mostra como a desigualdade econô-
mica não permite que os direitos assegurados pelo Estatuto 
da Criança e do Adolescente sejam aplicados a todos os jo-
vens do país. A segunda charge retrata outro caso em que 
os direitos do cidadão muitas vezes não saem do papel. No 
caso, mostra que não é cumprida a lei que assegura acessoe 
transporte aos deficientes físicos. Pretende-se que esses limi-
tes sejam percebidos pelos alunos e que sejam associados à 
impunidade e ao desrespeito à legislação (presentes no Do-
cumento 1) e à importância das mobilizações da sociedade 
para garantir essas conquistas (Documento 2). Para auxiliar 
na reflexão, o(a) professor(a) pode investigar o conhecimen-
to dos alunos sobre as leis citadas na charge e sobre a criação 
de leis voltadas para os chamados grupos socialmente vulne-
ráveis (idosos, crianças, deficientes físicos, mulheres, negros, 
homossexuais, etc.) e se essas leis funcionam na prática.
4Unid
a
d
e
Política e participação
Começo de conversa
1. Para muitas pessoas, a política não só é algo desinteres-
sante e monótono, mas também totalmente dispensável. A 
percepção de que muitas de nossas decisões são reguladas 
pela política (que estabelece as regras para a vida em so-
ciedade) pode ajudar na compreensão da sua importância 
no cotidiano. Para auxiliar nessa reflexão, o(a) professor(a) 
pode lembrar que quaisquer ações e decisões não afetam 
somente a esfera privada da vida das pessoas, mas tam-
bém a esfera pública. Um episódio comum pode ser cita-
do: um condomínio de apartamentos com várias famílias, 
cada uma ocupando o espaço privado de seus apartamen-
tos e decidindo individualmente sobre as questões que lhe 
dizem respeito. No entanto, o condomínio também tem 
áreas comuns, como salão de festas, área de esportes, por-
taria, lavanderia, etc. A manutenção dessas áreas cabe ao 
condomínio e não a cada morador individualmente. Mas o 
condomínio é formado por representantes dos moradores, 
portanto, representa o morador na esfera pública. Essa di-
mensão pública (juntamente com a dimensão privada) faz 
parte da vida em sociedade, onde compartilhamos decisões 
a todo o momento. Pretende-se que os alunos percebam 
que a participação política é algo intrínseco à vida em socie-
dade: não é possível conviver com outras pessoas sem par-
ticipar de algum modo das decisões que afetam a vida em 
sociedade. Além disso, quanto mais as pessoas participam 
e compartilham ações, maior será a tendência de se conse-
guir atender aos desejos e necessidades da maioria (o que, 
de certa forma, é viver democraticamente).
2. Segundo a concepção “política é somente para políticos”, 
a “pessoa comum” não seria capaz de compreender a lin-
guagem política, cabendo somente a um determinado gru-
po (de políticos profissionais) a responsabilidade de tomar 
as decisões. Essa ideia traz em si um viés conservador e re-
trógrado, pois considera que, se a política é para poucos, 
então resta à maioria apenas obedecer às decisões tomadas 
por essa minoria. Junto aos alunos, podem ser discutidas as 
diferentes formas de atuação política, além da participação 
efetiva no sistema eleitoral, como eleitor. Podem ser citados 
exemplos como: participação em campanhas comunitárias 
por determinada causa; filiação a entidades estudantis ou 
sindicatos; participação em ONGs; participação em associa-
ções que realizam atividades voluntárias, etc.
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353Manual do Professor
3. Resposta pessoal. Professor, os alunos podem ser informa-
dos sobre os canais de televisão dos poderes legislativos 
federal, estaduais e municipais, por exemplo, a TV Senado 
e a TV Câmara que podem ser acessadas por antena pa-
rabólica ou pelos sites <www.senado.gov.br/tv/> e <www.
camara.gov.br/internet/tvcamara/> (acesso em: 1 dez. 
2012), e sobre os sites do Senado <www.senado.gov.br> 
e da Câmara Federal <www.camara.gov.br> (acesso em: 
1 dez. 2012), das Assembleias de cada um dos estados 
e de várias Câmaras Municipais. A atuação do parlamen-
tar é pública e as sessões podem ser acompanhadas por 
qualquer cidadão, exceto se a presença popular obstruir 
os trabalhos. Algumas Assembleias e Câmaras Municipais 
mantêm serviços de visitas com acompanhamento de mo-
nitores para estudantes.
Capítulo 21
De colônia a sede 
do Império Português
Conteúdos e procedimentos sugeridos
Este capítulo trata da transferência da Corte portuguesa 
para sua colônia na América no início do século XIX e dos des-
dobramentos históricos provocados por essa mudança.
Para introduzir o assunto, podem ser reforçadas as re-
lações entre alguns processos – a Revolução Industrial na In-
glaterra; a ascensão de Napoleão Bonaparte no governo da 
França e a imposição do Bloqueio Continental da França con-
tra a Inglaterra (já tratados em capítulos anteriores) –, discutin-
do como tais processos relacionam-se, por sua vez, com a vin-
da da família real portuguesa para a colônia americana e com 
a abertura dos portos coloniais a outras nações, tratados na 
abertura do capítulo.
Ao longo dos séculos de colonização portuguesa na 
América, muitas mudanças ocorreram nas relações político-
-econômicas e na organização social da colônia, até que, no fi-
nal do século XVIII e início do século XIX, estivesse estruturado 
um modo de vida e uma dinâmica econômica. Assim, as entra-
das e bandeiras, a descoberta de ouro nas Minas Gerais, a cria-
ção de gado, por exemplo, entre outros aspectos, promoveram 
a interiorização da colonização, a maior integração entre as re-
giões e uma crescente diversificação da produção econômica. 
Com uma análise detalhada dos mapas, Povoamento da co-
lônia no século XVIII e A economia colonial em fins do século 
XVIII (páginas 179 e 180, respectivamente), pode-se perceber 
esses aspectos relacionados à diversificação da produção eco-
nômica e ao povoamento do interior.
A economia colonial em expansão foi de grande impor-
tância para sustentar a estrutura do governo português. Esse 
aspecto econômico, aliado ao contexto político europeu envol-
vendo Inglaterra, França e também Portugal, motivou a trans-
ferência da família real para sua colônia na América.
Um aspecto significativo resultante da transferência da 
Corte portuguesa para a colônia foi a implantação de uma es-
trutura burocrática e administrativa que, de certa forma, incen-
tivou o povoamento do interior e a vinda das missões cientí-
ficas e artistas pelo território colonial. Isso pode ser percebido 
na seção Patrimônio e diversidade (página 183), que trata de 
alguns aspectos da colonização de Santa Catarina.
Com o texto da seção Enquanto isso..., Franceses em Por-
tugal (página 184), pode-se aprofundar algumas discussões so-
bre o conceito central da Unidade – Política e participação –, 
uma vez que, mesmo com a transferência da família real para a 
colônia americana, a população portuguesa enfrentou, duran-
te seis anos, os exércitos franceses pela defesa de seu território. 
Com esse mesmo objetivo – discutir o conceito Política e Parti-
cipação – pode-se propor a atividade da seção Hora de refletir 
(página 185), a respeito de formas de controle da sociedade 
sobre os poderes do presidente, na atualidade.
Texto complementar 1
Não são raros os estudos que vinculam a abertura dos 
portos, em 1808, à subserviência portuguesa junto aos ingle-
ses, com a consequente transformação do Brasil em “colônia 
informal” da Inglaterra. Em oposição a essa tese, leia os ar-
gumentos do professor João Paulo Pimenta, do Departamen-
to de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Hu-
manas da USP.
Abertura dos portos: 28 de janeiro de 1808
Com a transferência da Corte para o Brasil, ficava 
clara a caducidade da relação colônia-metrópole que ar-
ticulara, durante tanto tempo, Brasil e Portugal [...].
É costume conceber-se essa nova fase da história 
do Império português como caracterizada pelo início de 
um processo no qual, supostamente, o Brasil começava a 
deixar de ser uma colônia de Portugal para se tornar “co-
lônia informal” da Grã-Bretanha. Nessa ótica, os aconte-
cimentos de 1808 apontariam para uma simples “trans-
ferência de dominação” [...].
Essa é uma versão muito simplista da história e 
não dá conta de sua devida complexidade.Não se pode 
negar que a abertura dos portos do Brasil ao comércio 
estrangeiro atendia aos interesses britânicos [...] e que 
ela reafirmava a aliança político-econômica estabelecida 
entre Portugal e Grã-Bretanha contra a França de Bona-
parte. No entanto, há que se salientar que, ao contrário 
do que se costuma afirmar, durante a segunda metade 
do século XVII e todo o século XVIII, Portugal manteve 
uma política externa formalmente neutra, sem aliar-se 
incondicionalmente à Inglaterra a despeito de algumas 
aproximações circunstanciais com a Corte londrina. Essa 
aliança só seria definida às vésperas da partida da Cor-
te portuguesa para o Brasil, quando o gabinete joanino 
finalmente avaliou que a neutralidade se tornara insus-
tentável, e que o Império português dependia do apoio 
britânico para sobreviver.
Além disso, não se pode equivaler o que represen-
tara, para a América, a dominação portuguesa e o que 
representaria, a partir daí, a influência britânica. Até fi-
nais do século XVIII, a Grã-Bretanha era uma força políti-
ca que competia, no cenário mundial, na mesma condi-
ção que outras, como a França e a Holanda. A sua condição 
de potência hegemônica mundial começou a se delinear 
com a Revolução Industrial, mas na primeira década do 
século XIX ela ainda não estava plenamente consolidada. 
Nos novos padrões mundiais que começavam a ser esta-
belecidos por um sistema capitalista no qual a fonte fun-
damental de enriquecimento dos Estados se encontrava 
não mais apenas na esfera da circulação, mas sobretudo 
na da produção de bens, o Império britânico construía 
sua força com base em mecanismos bem mais comple-
xos do que a tradicional colonização de tipo mercantilista 
sobre a qual Portugal erigira o seu próprio Império. [...]
Portanto, o pleno significado da abertura dos por-
tos do Brasil ao comércio internacional deve ser buscado 
em meio a um grande processo de redefinições estru-
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354 Manual do Professor
turais que atingia todo o mundo ocidental desde mea-
dos do século XVIII. Parte integrante desse movimento, 
a América portuguesa observa, a partir de 1808, o início 
da liquidação de algumas de suas estruturas coloniais que 
resultará, em 1822, na Independência do Brasil.
PIMENTA, João Paulo. Abertura dos portos: 28 de janeiro de 1808. 
In BITTENCOURT, Circe (Org.). Dicionário de datas da história do Brasil. 
São Paulo: Contexto, 2007. p. 41-44.
Texto complementar 2
A obra A vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil é 
uma cópia do relato do conde irlandês Thomas O’Neil, publica-
do em Londres, em 1810. No trecho selecionado e reproduzido 
a seguir, há algumas observações do autor sobre o modo como 
a colônia era governada antes da chegada da família real e so-
bre os escravizados que viviam no Rio de Janeiro.
A vinda da Família Real para o Brasil
Por motivos políticos, os vice-reis, praticamente 
absolutos em seu modo de governar, sempre impedi-
ram os habitantes de um intercâmbio com outras na-
ções, a tal ponto que nenhum europeu, a não ser por-
tuguês, jamais chegou aqui sem que uma sentinela o 
acompanhasse [...].
Os negros são quase as únicas pessoas emprega-
das na venda das diferentes mercadorias expostas no 
mercado, e, nas horas vagas, eles fiam algodão e fazem 
chapéus de palha: numa palavra, todo tipo de trabalho 
manual é realizado por eles, e aos que têm donos bons 
é permitido se divertirem numa parte de determinados 
dias, o que sem dúvida é feito com muito entusiasmo.
Quando cessa o calor do dia eles se encontram num 
terreno espaçoso nos arredores da cidade, onde se dis-
põem formando grupos de danças, divertimento que eles 
apreciam. Seus instrumentos de música são uma espécie 
de flauta e tambores de vários tamanhos, tudo fabricado 
por eles mesmos.
O’NEIL, Thomas. A vinda da família real para o Brasil. Rio de Janeiro: 
Prefeitura do Rio de Janeiro/José Olympio, 2007. p. 81-87.
Sugestões de leitura
LIGHT, Kenneth. A viagem marítima da família real: a transfe-
rência da Corte portuguesa para o Brasil. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 2008. 
NORTON, Luis. A corte de Portugal no Brasil: notas, alguns do-
cumentos diplomáticos e cartas da imperatriz Leopoldina. São 
Paulo: Ibep, 2009. 
SCHULTZ, Kirsten. Versalhes tropical. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 2008.
WILCKEN, Patrick. Império à deriva: a Corte portuguesa no Rio 
de Janeiro, 1808-1821. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
Organizando aS iDEiaS
1. Em fins do século XVIII, praticamente depois de três séculos 
de domínio português, em boa parte da colônia já havia vi-
las e cidades; as atividades econômicas se diversificaram e o 
mercado interno se expandiu, com a abertura de estradas e 
o uso mais frequente de moeda para as trocas comerciais; a 
economia colonial chegou a ficar maior que a da metrópole. 
O Sul tornou-se fornecedor de carne e de artigos de couro; 
a região de São Paulo passou a ser fonte de abastecimen-
to de produtos agrícolas; o porto do Rio de Janeiro intensi-
ficou seu movimento comercial; Minas Gerais tornou-se um 
polo agropecuário, após a diminuição da extração do ouro; 
a zona da Mata do Nordeste continuava a produzir açúcar, 
o principal produto de exportação da colônia; o Norte e al-
gumas regiões nordestinas cultivavam algodão, arroz, fumo, 
cacau e anil. No entanto, ainda não havia atividade manufa-
tureira ou industrial na colônia, o que era proibido pela po-
lítica mercantilista de Portugal.
2. Vilas e cidades concentradas em regiões onde predominou 
alguma atividade econômica voltada para exportação po-
dem ser identificadas: no Nordeste, onde se sobressaiu o 
cultivo da cana, especialmente na faixa litorânea entre as 
cidades de Natal e Porto Seguro; no atual estado de Minas 
Gerais, em um pequeno trecho dominado pela extração de 
ouro e diamantes, em torno das cidades de Mariana, Dia-
mantina, Sabará, Vila Rica (atual Ouro Preto) e São João Del 
Rei; em uma extensa área da Amazônia, em torno do rio 
Amazonas ou de seus afluentes, voltada à extração das dro-
gas do sertão, em que, no entanto, o povoamento era rela-
tivamente escasso. 
3. Em 1806, Napoleão Bonaparte, imperador da França, decreta o 
Bloqueio Continental à Inglaterra, com a intenção de enfraque-
cê-la política e economicamente, o que deixou a Coroa portu-
guesa em situação difícil: se não aderisse ao bloqueio, as tropas 
de Napoleão invadiriam o território português; caso aceitasse 
as condições francesas, Portugal seria atacado pela Inglaterra. 
Com a demora de dom João em tomar uma decisão, a França 
iniciou uma invasão em 17 de novembro de 1807. Diante des-
se quadro, a Corte e a família real transferiram-se para a colô-
nia portuguesa na América, com a ajuda da marinha britânica 
que escoltou as embarcações portuguesas.
4. Com a Corte, boa parte da elite portuguesa – altos fun-
cionários, magistrados, nobres, sacerdotes, militares de alta 
patente, etc. – veio morar no Rio de Janeiro. Essa situação 
alterou a relação entre metrópole e colônia, pois era preci-
so incentivar o desenvolvimento da colônia como forma de 
atender às necessidades do governo, nesse momento se-
diado em terras americanas. Efetivamente, o monopólio co-
mercial foi quebrado com a abertura dos portos às nações 
amigas, em 28 de janeiro de 1808. Por meio do decreto de 
abertura, dom João liberava o comércio da colônia com ou-
tros países, definindo inclusive as tarifas alfandegárias que 
tornavam o comércio exterior viável e lucrativo. Poucos me-
ses depois, o príncipe regente revogou o alvará de 1785, 
que proibia a instalação de manufaturas na colônia.
5. No início do século XIX, o Rio de Janeiro era uma cidade 
com cerca de 50 mil habitantes, que não possuía estrutu-
ra – em virtude até mesmo das limitações impostas pela 
Coroa portuguesa à sua colônia americana – para receber, 
de uma única vez, todas as pessoas que chegaram junto 
com a família real.Foi necessária uma reforma urbanística 
para que a cidade se tornasse sede do império luso: ruas 
foram pavimentadas e equipadas com iluminação pública, 
novos chafarizes e prédios públicos e residenciais foram cons-
truídos. A abertura do comércio internacional dinamizou e 
ampliou a circulação de mercadorias na cidade, inclusive 
com artigos de luxo.
6. Os acordos firmados entre Portugal e Inglaterra, naquele 
contexto, atendiam aos interesses econômicos britânicos 
que, em troca, davam proteção militar aos portugueses na 
luta contra Napoleão. Assim, a Coroa britânica impôs acor-
dos, assinados em 1810, que favoreciam abertamente a In-
glaterra: o Tratado de Comércio e Navegação definia a taxa 
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355Manual do Professor
alfandegária para produtos ingleses em 15% (inferior até 
mesmo à taxa dos produtos portugueses que era de 16%). 
Professor, também foi assinado o Tratado de Amizade e 
Aliança que garantia, aos cidadãos britânicos habitantes da 
colônia, a liberdade de culto religioso e o direito de julga-
mento especial no caso de delito, de acordo com as leis in-
glesas e por magistrados ingleses. Além disso, esse trata-
do estabelecia o fim gradativo do tráfico negreiro, mas esse 
item não chegou a ser cumprido.
7. Dom João criou diversos órgãos – como o Conselho de Esta-
do; o Erário Real; o Conselho Militar e de Justiça; o Banco do 
Brasil, o Real Hospital Militar e o Jardim Botânico – para ins-
taurar na colônia uma estrutura burocrática adequada ao rei-
no. Também foi criada a Impressão Régia para imprimir a le-
gislação e os papéis diplomáticos e foi autorizado também o 
funcionamento de tipografias e a publicação de jornais. Para 
interligar a capital, onde estavam sediadas todas essas institui-
ções, com outras regiões e povoar o interior, o governo doou 
sesmarias aos colonos que pretendiam fixar-se nessas regiões, 
inclusive concedendo crédito para financiar plantações e cria-
ção de gado.
8. 1815-1817: liderada pelo príncipe alemão Maximilian von 
Wied, produziu um registro botânico e linguístico, um gran-
de acervo iconográfico e informações sobre os índios Puri, 
Botocudo e Pataxó.
1816: Jean-Baptiste Debret, Nicolas-Antoine Taunay e ou-
tros artistas franceses chegam ao Rio de Janeiro para fundar 
uma escola de artes no Brasil.
1817: Missão Austríaca, integrada, entre outros, pelo zoó-
logo Johann von Spix e pelo botânico Karl von Martius que 
percorreram mais de vinte mil quilômetros em três anos, re-
gistrando informações da flora e da fauna brasileiras.
1824: Expedição Langsdorff, organizada pelo cônsul da Rús-
sia no Brasil, o barão Georg von Langsdorff. Eles viajaram du-
rante três anos e meio pelo território brasileiro e o trabalho 
dessa expedição é considerado um tesouro científico.
Hora DE rEFlETir
O Estado democrático republicano baseia-se em princí-
pios e práticas bem diferentes dos do absolutismo. Nele, ao 
contrário do absolutismo, o poder do presidente é limitado 
por um conjunto de mecanismos políticos e sociais. Na pró-
pria estrutura do Estado, o poder Executivo é controlado por 
dois outros poderes, o Legislativo e o Judiciário (que, por sua 
vez, também têm suas atribuições delimitadas pelos dois ou-
tros poderes). A intenção dessa forma de controle triplo é jus-
tamente manter o equilíbrio entre os poderes, de tal forma 
que um não se imponha de forma absoluta sobre os outros. 
Além disso, dois órgãos específicos fiscalizam todas as ações 
do Estado: o Ministério Público, que defende o cidadão con-
tra as injustiças cometidas pelo próprio Estado, e o Tribunal 
de Contas da União (TCU), responsável pelo controle dos gas-
tos do Estado. E, também, num regime democrático, há di-
versas formas de a sociedade civil pressionar, controlar e criti-
car qualquer um dos poderes. Os diversos movimentos sociais 
organizados, as ONGs e as associações de classe (sindicatos, 
confederações, etc.) contam com mecanismos de expressão 
das suas opiniões, seja por meio de manifestações de rua, co-
mícios, passeatas, ou por intermédio de comunicados formais 
de protesto. Finalmente, a imprensa também tem cumprido 
um papel relevante na fiscalização das ações do Executivo, do 
Legislativo e do Judiciário.
Capítulo 22
O Brasil torna-se independente
Conteúdos e procedimentos sugeridos
Esse capítulo trata da independência do Brasil, cuja data 
simbólica oficial é 7 de setembro de 1822, como um proces-
so histórico que envolveu não só acontecimentos anteriores a 
essa data, como a transferência da Corte portuguesa para o 
Brasil e a transformação do Brasil em Reino Unido a Portugal e 
Algarves, mas também posteriores, como as lutas e os arranjos 
financeiros pela sua consolidação.
Para iniciar o estudo do capítulo, podem ser propostas al-
gumas reflexões para orientar a abordagem do tema: A quais 
grupos sociais a independência do Brasil interessava? Após 
romper com Portugal, qual forma de governo e qual sistema 
político foram definidos no novo Estado e quais os motivos 
dessa escolha? Como foi possível manter a integridade de um 
território tão extenso quanto o brasileiro? Após a independên-
cia, quais mudanças foram importantes para a maioria da po-
pulação brasileira?
O texto de abertura do capítulo trata de um conflito às 
margens do rio Jenipapo, no atual estado do Piauí, que envol-
veu forças e interesses divergentes com relação à emancipa-
ção brasileira. As lutas pela consolidação da independência são 
abordadas no miolo do capítulo e, no caso da luta em Piauí, 
esse conflito é retomado na seção Patrimônio e diversidade 
(página 192), que também trata de outros aspectos desse es-
tado brasileiro. 
A imagem da seção Olho vivo (página 190), com a análise 
do quadro Independência ou Morte (ou O grito do Ipiranga), de 
Pedro Américo, permite identificar alguns aspectos desse mo-
mento da história do Brasil: independentemente das circuns-
tâncias reais em que dom Pedro se encontrava ao proclamar a 
independência, o ato, em si, envolveu muito pouco os grupos 
mais populares da sociedade, ou seja, a proclamação da inde-
pendência foi muito mais uma tentativa bem-sucedida da eli-
te político-econômica e intelectual brasileira em defesa de seus 
próprios interesses. 
Se o 7 de setembro foi um arranjo orquestrado por mem-
bros da elite brasileira em aliança com o príncipe regente, a 
consolidação da independência e a respectiva manutenção da 
integridade do território só ocorrerá após a participação popu-
lar nos conflitos contra os portugueses.
Sobre essa participação popular na luta pela integridade 
do território, pode-se retomar o texto de abertura do capítulo 
ou a seção Patrimônio e diversidade (página 192), já mencio-
nados, que, entre outros aspectos, destaca a participação de 
vaqueiros e agricultores no episódio conhecido como Batalha 
do Jenipapo.
O item Guerras pelo país (página 189), com informações 
sobre Maria Quitéria, permite ampliar ainda mais a discussão 
sobre a participação de vários grupos sociais no processo de 
consolidação da independência ao tratar da presença feminina 
nos conflitos ocorridos naquele momento. A seção Hora de re-
fletir (página 193) propõe justamente que se ampliem a visão e 
o conhecimento que se tem sobre a participação feminina em 
vários setores sociais nos dias de hoje.
O texto do boxe A identidade nacional (página 189) abor-
da um aspecto relacionado ao significado do termo nação, 
destacando que a noção de “pertencer a uma pátria” (perten-
cimento) e a ideia de “sentir-se brasileiro (sentimento) foram 
incorporadas e assimiladas pela maioria da população de for-
ma lenta e gradual.
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