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AULA 1 ELETRICIDADE E ELETRÔNICA BÁSICA Prof. Alvaro Crovador 2 TEMA 1 – O INÍCIO DA ELETRICIDADE O objetivo da disciplina de Eletricidade e Eletrônica Básica, do Curso de Robótica Educacional, é mostrar aos discentes a origem dos estudos sobre Eletricidade, a evolução das teorias e o uso da eletricidade. Também serão abordados tópicos de eletrônica básica, como alguns componentes e suas formas de conexão. Inicialmente, falaremos sobre a história, a estrutura atômica e as formas de eletrização de corpos (transferências de cargas elétricas). Durante o curso, traremos algumas curiosidades sobre o uso e efeitos de cargas elétricas que muitas vezes passam desconhecidos aos estudantes. Por fim, teremos uma abordagem sobre o uso seguro da eletricidade. Para compreendermos um assunto, sempre é bom recordamos de sua evolução histórica, de como a matéria é constituída. Isso porque o conhecimento é construído por meio de pesquisas e desenvolvimento de teorias para explicar o funcionamento ou a estrutura dos elementos. Às vezes, ocorrem pequenos upgrades nas teorias e grandes quebras de paradigmas, que nos levam a novas teorias que trazem, então, uma explicação mais condizente ao fato. A ciência é assim, uma nova teoria surgindo para suprir falhas das anteriores, por meio de argumentos e experimentos. Mas para mostrar que a nova teoria está correta, é necessário fundamentá-la muito bem. Uma teoria deve ser capaz de ser reproduzida por qualquer pesquisador, que vai corroborar com a teoria formulada ou refutá-la. A nova teoria se mostrará eficiente se todos os que tentarem reproduzi-la encontrarem os mesmos resultados, bastando um diferente para que seja refutada. 1.1 Contexto histórico A história da eletricidade começa na Grécia antiga, com dois filósofos: Leucipo e Demócrito. Aproximadamente em 2400 a.C. Eles foram os primeiros a proporem que a matéria era forma de átomos (unidades indivisíveis), que cada matéria teria seu próprio tipo de átomo e, por este motivo, que tínhamos diferentes matérias no Universo. Por volta do século VI a.C., o filósofo grego Tales de Mileto notou que, ao friccionar uma substância chamada âmbar em um pedaço de lã, esta era capaz de atrair pequenos pedaços de palha. 3 Ainda na Grécia, na região da Magnésia, conta a lenda que um pastor, cuidando de suas ovelhas, observou que algumas pedras grudavam nos pregos da sola de suas sandálias. Estas pedras eram, na verdade, magnetita (Fe3O4), ou imãs naturais, cujo nome deriva da região onde foram encontrados. A magnetita, mais tarde, passou a ser usada como bússola. Estes efeitos isolados só vão ser compreendidos muitos anos depois, quando os estudos sobre as estruturas atômicas são retomados. Em especial, no ano de 1864, quando James Clerk Maxwell une as equações da Eletricidade e do magnetismo. Continuando a história da Grécia antiga, somente em 1803 é proposto o Modelo atômico de Dalton, em que o átomo continuava um ser indivisível, como o proposto Leucipo e Demócrito. Após isto, vão surgir novos modelos em que o átomo deixa de ser um elemento indivisível, são atribuídas cargas elétricas aos componentes átomos, e assim surge a possibilidade de explicar os efeitos eletrostáticos observados até então e o entendimento, por exemplo, da possibilidade de classificação dos materiais entre condutores e isolantes. 1.2 Compreendendo a eletricidade Vemos a necessidade de entender como a matéria é constituída, pois, desta forma, é possível explicar os diferentes materiais existentes, como estes se comportam à passagem da corrente elétrica e as vantagens e aplicações que podemos tirar disso. A constituição dos átomos que formam os elementos é o que define os tipos destes elementos, bem como suas características elétricas. A quantidade de elétrons nas camadas define se um material é isolante ou condutor, se ele tem tendência ou não de fazer ligações com outros elementos e gerar uma nova molécula ou substância. Dessa forma, passaremos a estudar a evolução dos modelos atômicos, com base no Modelo de Dalton, proposto em 1803, até os modelos atuais. TEMA 2 – ESTRUTURA ATÔMICA Como vimos, desde a primeira descrição do átomo, por Leucipo e Demócrito, na Grécia antiga, não tivemos grandes evoluções na teoria que o 4 constituía até 1803, quando começam a surgir novos modelos (não tão novos assim, pois o Modelo de Dalton pouco trouxe de evolução). 2.1 Modelos atômicos 2.1.1 Modelo de Dalton (1803) O Modelo atômico de Dalton não trouxe grandes evoluções, mas serviu de base e motivação para a investigação dos átomos por parte de outros cientistas. Publicado em seu trabalho Absorption of Gases by Water and Other Liquids, em 1803, postulou1 alguns fatos para a seu modelo, os quais destacamos: os átomos de diferentes elementos são diferentes entre si (explica os diferentes elementos existentes na natureza); o átomo é a menor porção da matéria e são esferas maciças e indivisíveis (conforme já falado por Leucipo e Demócrito); átomos de um mesmo elemento apresentam propriedades iguais; a massa total de um composto é igual à soma das massas dos átomos dos elementos que o constituem. Então, em 1808, ele propôs o modelo conhecido como Bola de Bilhar (figura 1), em que o átomo era uma diminuta esfera maciça, indivisível e sem carga. Figura 1 – Bola de bilhar de Dalton 1 Postulado: Princípio ou fato não demonstrado que se admite como verdadeiro. 5 2.1.2 Modelo de Thomson (1897) O Modelo de Thomson, ou modelo de pudim de passas, surgiu em um experimento com tubo de raios catódicos (inventado em 1897 pelo físico alemão Karl Ferdinand Braun). Este experimento é composto de um tubo de vidro com gás em seu interior e duas placas metálicas em suas extremidades (eletrodos) ligados a uma bateria de alta tensão. No interior do tubo, o gás, em baixa pressão, era energizado ao ligar-se à bateria nas extremidades. O polo negativo era chamado de cátodo e o positivo, de ânodo. Quando a energia era ligada, observava-se um feixe luz no interior do tubo. Este feixe de luz foi chamado de raio catódico, por sair do cátodo em direção ao ânodo, logo, era um feixe de partículas negativas. Estes raios catódicos eram formados por elétrons arrancados do cátodo que iam em direção ao ânodo. Isso foi comprovado colocando-se um campo eletromagnético próximo ao tubo de raios e verificando que o raio catódico era atraído pelo lado positivo do campo. Com base neste experimento, Thomson observa que, independentemente do gás, sempre ocorria o surgimento de raios, então ele conclui que a matéria deveria ser constituída de partes positivas e negativas, apesar de ser eletricamente neutro. Logo, o átomo deixa de ser indivisível, como no modelo de Dalton, e passa a ser composto de duas partes: uma positiva e outra negativa. Além disso, o experimento mostra que as partículas positivas eram mais pesadas que as partículas negativas. Assim, surge o modelo do pudim de passas, em que as partículas negativas estão distribuídas de modo homogêneo nas partes positivas. A figura 2 traz uma representação do Modelo de Thomson. https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Ferdinand_Braun 6 Figura 2 – Pudim de passas Fonte: O autor. 2.1.3 Modelo de Rutherford (1911) Já sabíamos que o átomo era composto de partículas positivas e negativas. Rutherford fez a seguinte experiência: usando um pedaço grande de polônio envolto em chumbo, deixou um pequeno orifício no chumbo por onde saiam partículas alfa (partícula positivas) emitidas pelo polônio. Na frente do orifício, colocou uma folha de ouro muito fina (cerca de 10-4mm). Circundando esta placa de ouro, colocou um anteparo fluorescente2 para observar a incidência das partículas emitidas. Se o Modelo de Thomson estivessecorreto, as partículas não deveriam atravessar o ouro. Mas o que se observou foi que a maioria das partículas atravessava a placa sem sequer desviar a trajetória, e algumas poucas desviam ou refletiam de volta. Com isso, ele concluiu que o átomo era um grande vazio, o que permitia a passagem direta das partículas alfa, com um pequeno núcleo positivo e os 2 Substância emite luz quando exposta à radiações. 7 elétrons circundando ao redor do núcleo, porém bem afastados, propondo, assim, o sistema planetário do átomo em que os elétrons estariam em órbita circular ao redor do núcleo. Para se ter uma noção do tamanho do átomo, consideremos o tamanho de um átomo é de 10.000 a 100.000 vezes maior que o seu núcleo. 2.1.4 Modelo de Bohr (1911-1913) Surge devido a falhas no modelo de Rutherford. Uma delas seria que o elétron circulando o núcleo em órbitas circulares perderia energia cinética e potencial, caindo progressivamente sobre o núcleo. Uma partícula negativa caindo sobre uma positiva resultaria na aniquilação das duas, e como isso não era observado, surgiu a necessidade de novas teorias para corrigir este problema. A proposta de Bohr era justificar a estabilidade do átomo, pois a ideia de um núcleo central carregado positivamente em torno do qual circula um elétron carregado negativamente é incompatível com o eletromagnetismo clássico. Desde as equações de Maxwell, já se sabia que uma partícula carregada acelerada emite radiação eletromagnética (obrigatoriamente), portanto perde energia. E ao perder energia, o raio da órbita diminui, a frequência do movimento circular aumenta, então ele perde energia emitindo radiação de frequências cada vez maiores e duraria um curto período. Assim, Bohr faz alguns postulados para explicar seu modelo. Órbitas discretas e estacionárias: o raio da órbita do elétron deve ser uma variável discreta (somente alguns valores de raio podem existir – resolve o problema da irradiação da energia). Quantização do momento angular: para determinar os raios possíveis, cria a imposição do momento angular do elétron (pode calcular o raio das camadas eletrônicas); o modelo considera sete níveis ou camadas de energia (K, L, M, N, O, P, Q – número quântico principal) sendo a camada K = n1; L = n2; M = n3...; onde estariam os elétrons em trajetórias esféricas. Os átomos irradiam energia somente quando um elétron sofre uma transição de um estado estacionário para outro, sendo a frequência da radiação emitida relacionada às energias das órbitas. https://www.infoescola.com/fisico-quimica/niveis-de-energia/ https://www.infoescola.com/fisico-quimica/niveis-de-energia/ 8 2.1.5 Modelo de Schrödinger O modelo de Bohr explicava satisfatoriamente o átomo de Hidrogênio e seus espectros de emissão. Porém, em átomos mais complexos, observa-se discrepâncias entre o postulado e o observado. Para resolver este problema, Arnold. J. W. Sommerfeld, em 1916, institui um segundo nível de energia e, em vez de órbitas circulares, teriam órbitas elípticas (somente a primeira órbita seria circular). Os subníveis foram denominados “s”, “p”, “d” e “f” (número quântico secundário). Outras discrepâncias na emissão do espectro eletromagnético foram explicadas com a proposição de um terceiro número quântico, o número quântico magnético (ml). Ainda, um quarto número quântico, o número quântico de spin (ms) foi necessário para complementar a análise espectral. O número quântico de spin diz que o elétron executa um movimento de rotação sobre seu eixo, que pode ser em dois sentidos: o paralelo e o antiparalelo. Neste período, falava-se muito sobre a dualidade onda-partícula da luz. Então, em 1924, o físico francês Louis de Broglie afirmou que o elétron também apresenta o comportamento “onda-partícula”, ou seja, o movimento do elétron está associado a determinado comprimento de onda. Isso pode ser verificado na famosa experiência da fenda dupla, em que elétrons são lançados por uma e depois por duas fendas, sendo possível observar o comportamento dual do elétron. O trabalho de Louis de Broglie abriu caminho para a física da mecânica ondulatória, ou Mecânica Quântica. Se o elétron se comporta como uma onda, ele pode ser descrito por uma função de onda. Dois físicos, Schrödinger e Heisenberg, propuseram uma descrição para o elétron baseada na mecânica quântica (assim como Bohr, só que Bohr foi por meio de postulados). Heisenberg descreveu a mecânica quântica com base em matrizes (mecânica matricial). Schrödinger desenvolveu a teoria como uma mecânica ondulatória, só que a forma de Heisenberg era muito mais difícil, por isso utilizamos a formulação de Schrödinger. Heisenberg ficou mais conhecido pelo princípio da incerteza, em que dizia que se sabemos a posição do elétron, não sabemos sua velocidade, se sabemos sua velocidade, não conseguimos precisar sua posição. https://www.google.com/search?safe=active&rlz=1C1GCEU_pt-BRBR856BR856&sxsrf=ACYBGNSZJGeWmGw9jYQSxUlSdJWofjEuJA:1574100865375&q=Schr%C3%B6dinger&sa=X&ved=0ahUKEwi3lK_XrvTlAhXBGbkGHb8UC5kQ7xYILigA 9 O modelo da mecânica quântica descreve de uma forma mais precisa dos modelos atômicos, mas, para efeitos didáticos da nossa disciplina, o modelo de Bohr é suficiente. Figura 3 – Evolução dos modelos atômicos Fonte: O autor. TEMA 3 – ISOLANTES E CONDUTORES Para dar continuidade ao estudo da eletricidade, precisamos conceituar os tipos de materiais entre bons condutores de eletricidade e maus condutores (isolantes). Essa classificação é feita em relação à facilidade com que as cargas elétricas (no caso, os elétrons) podem se mover no interior do material. As propriedades dos condutores e isolantes se devem à natureza elétrica do átomo. A necessidade de isolamento de um circuito ou um condutor deve ser dimensionada, pois, mesmo um isolante, por meio de determinadas tensões, pode conduzir eletricidade. A diferença básica entre os condutores e isolantes é que, no primeiro, os elétrons fluem livremente (metais, solução iônica etc.), já no segundo, isso não acontece, sendo maus condutores de eletricidade (vidro, plástico, papel, água pura). Qualquer material, seja isolante ou condutor, é composto de átomos (núcleo e elétrons). Nos isolantes, os elétrons que estão circulando pelo núcleo estão fortemente ligados a ele, então é necessária uma grande força para fazê- los se mover. Caso apliquemos a força necessária para o rompimento desse isolante, ocorrerá a condução da corrente elétrica. Dizemos que o elétron conseguiu romper a barreira de potencial. Um exemplo típico é o relâmpago. 10 Apesar de o ar ser um isolante, as energias envolvidas em um raio são tão intensas que ocorre o rompimento do isolante e o surgimento do raio. Materiais com ligação covalente3 são bons isolantes. O ar é um isolante (vide cabos elétricos nos postes que estão separados apenas pelo ar), porém, com o aumento da tensão nos cabos, é necessário aumentar a distância entre eles para que o ar continue isolante. Já para os condutores, os elétrons estão praticamente livres, por isso se movem facilmente quando aplicamos um potencial, pois a barreira de potencial nestes casos é praticamente nula. Os semicondutores são intermediários entre os condutores e isolantes (germânio e silício). Estes funcionam de acordo com as leis da mecânica quântica, ou física do estado sólido (banda de valência, banda de condução), tendo uma barreira de potencial bem definida. São necessárias forças específicas para romper a barreira e os tornar condutores. Com o uso do silício, mais utilizado na indústria eletrônica, é possível criar “chaves” eletrônicas, os chamados transistores, que posteriormente evoluíram para os circuitos integrados. Temos, ainda, os supercondutores que não oferecem qualquer (ouquase nenhuma) resistência à passagem da corrente elétrica. A história dos supercondutores começa em 1911, quando Heike Kamerlingh Onnes, que trabalhava com refrigeração para verificar como os materiais se comportavam, descobriu da supercondutividade. Ele percebeu que, para certos materiais, a resistência desaparece a temperaturas muito baixas4. Ele conseguiu liquefazer o hélio-45 e, com isto, fazer com que um fio de mercúrio chegasse a 4,2Kelvin (~ – 269°C). Nessas circunstâncias, o mercúrio pode conduzir eletricidade sem dissipar calor, ou seja, sem perdas. Em 1913, Onnes recebeu o Prêmio Nobel por suas pesquisas. Percebe-se que a dificuldade em se obter supercondutores está no alto custo do resfriamento dos materiais. Em 1986, isso foi feito com uma temperatura de 77K (–196°C), o que é, ainda, uma temperatura muito baixa. O maior desafio está em conseguir materiais que sejam supercondutores a temperaturas ambiente, pois nas temperaturas muito baixas ele torna-se inviável e muito dispendioso. 3 Ligação química caracterizada pelo compartilhamento de um ou mais pares de elétrons entre átomos. 4 Estamos falando de temperaturas próximas ao zero absoluto, 0K, ou –273,15°C. 5 Isótopo estável do Hélio. 11 TEMA 4 – CARGAS ELÉTRICAS Novamente, precisamos frisar os constituintes da matéria, já definidos nos modelos atômicos. A matéria é composta de prótons, elétrons e nêutrons. Essas partículas subatômicas têm propriedade de carga elétrica. No núcleo do átomo, encontramos os prótons (de carga positiva) e os nêutrons (sem carga elétrica) e, na eletrosfera, os elétrons (de carga negativa). Ao elétron, ē, é chamado de carga elementar, que é a menor carga elétrica encontrada na natureza, também é a carga de um próton. O valor absoluto dessa carga é: ē = 1,6 x 10-19 C. Coulomb (C) é a unidade de medida de carga elétrica. É uma homenagem ao Físico Charles Augustin de Coulomb, do qual falaremos mais adiante. A unidade se refere à quantidade de carga elétrica transportada em 1 segundo por uma corrente elétrica de 1 ampere. 4.1 Propriedades das cargas elétricas Similarmente ao que ocorre em um ímã, em que polos iguais se repelem e polos diferentes se atraem, são as cargas elétricas. Corpos carregados positivamente atraem cargas negativas e vice-versa. Logo, se tentarmos aproximar dois prótons, eles se repelirão, e o mesmo acontecerá se tentarmos aproximar dois elétrons. Já duas cargas de sinais opostos se atrairão. Resumindo: partículas de mesma carga se repelem e partículas de cargas opostas se atraem. É interessante observar que, em condutores esféricos, as cargas se mantêm nas bordas, ou seja, o mais distante possível umas das outras. Figura 4 – Cargas em condutor esférico A carga elétrica em uma esfera condutora, em equilíbrio eletrostático e isolada de outras cargas, distribui-se uniformemente pela sua superfície, devido à 12 repulsão elétrica, pois esta é a melhor posição de equilíbrio de eletrostático de cargas. TEMA 5 – ELETROSTÁTICA A Eletrostática é o estudo das propriedades e dos comportamentos de cargas elétricas que não estão em movimento, ou seja, ainda não estamos falando de equipamentos que usam eletricidade, por exemplo, um chuveiro elétrico ou uma lâmpada. A eletrostática tem dois princípios que norteiam os fenômenos. Princípio da atração e repulsão: cargas elétricas de mesmo sinal se repelem e de sinal contrário se atraem; Princípio da conservação das cargas elétricas: semelhante ao princípio de Lavoisier6, diz que a carga elétrica não pode ser criada nem destruída, ou seja, em um sistema isolado eletricamente, a soma das cargas elétricas é constante. Um exemplo é quando, no inverno, chegamos em casa e tiramos uma blusa de lã que estávamos vestindo. Os estalidos que escutamos consistem na energia estática acumulada pela blusa no decorrer do dia, descarregando para nosso cabelo. Também quando levamos um choque ao tocarmos na maçaneta de uma porta. Este fenômeno acontece porque, ao caminharmos, devido ao atrito, nosso corpo adquire elétrons, deixando de estar eletricamente neutro. Ao tocarmos, a maçaneta o excesso de carga flui por ela, ocasionando o choque. É importante salientar que estes fatos normalmente acontecem no inverno, quando o ar está mais seco, pois as cargas adquiridas por nosso corpo, ou pela blusa de lã, não se dissipam para o ar tão facilmente como quando o ar está com a umidade relativa maior. 5.1 Histórico Conforme já mencionamos, os primeiros relatos sobre eletrização remetem à Grécia antiga, com o Filósofo Tales de Mileto, por volta do século VI a.C. Ele atritava âmbar em pele ou lã de animais e, com isso, conseguia atrair pequenos 6 Químico francês, considerado um dos pais da Química moderna, autor da frase: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. 13 pedaços de palha e pena. A palavra elétron tem sua origem na palavra âmbar, que, em grego, significa elektron. Também na Grécia tivemos a descoberta da magnetita (chamada de pedras mágicas devido ao fato de se atraírem), que mais tarde veio a ser usada como bússola e foi essencial para as navegações. Muito tempo se passou até que, por volta de 1600, Willian Gilbert, estudando o atrito, percebeu que diferentes materiais tinham diferentes comportamentos quando atritados, sendo uns mais facilmente atritado que outros. Gilbert foi o primeiro a dizer que a Terra era um grande ímã. Coube, no entanto, a Charles Du Fay (1698-1739) classificar a diferença dos materiais vista por Gilbert. Essa classificação nós chamamos de Série Triboelétrica, e nos diz quais materiais têm maior facilidade em perder ou ganhar elétrons. Figura 5 – Materiais e sua relação com os elétrons MAIOR FACILIDADE EM OBTER CARGA POSITIVA NEUTROS MAIOR FACILIDADE EM OBTER CARGA NEGATIVA Pele humana seca Algodão Madeira Couro Aço Âmbar Pele coelho Borracha dura Vidro Níquel e cobre Cabelo humano Prata e latão Nylon Ouro e platina Lã Poliéster Chumbo Isopor Pele de gato Filme de PVC Seda Polietileno Alumínio PVC Papel Teflon Outro nome importante a ser citado é o de Benjamim Franklin, que deu os nomes de carga elétrica e bateria. Mas o feito pelo qual ele é mais famoso é o experimento da pipa, em 1752, em que empinou uma pipa com uma chave presa à linha e pôde observar que as cargas elétricas desciam pelo fio. O objetivo era 14 demonstrar a natureza elétrica do relâmpago. Exte experimento serviu de base para que ele desenvolvesse o para-raios. Por fim, não podemos deixar de citar Charles August Coulomb, que formulou a Lei de Coulomb, estabelecendo a relação de forças entre duas cargas elétricas. Esta lei será vista com detalhes nas próximas aulas. 5.2 Tipos de eletrização Eletrização é o processo no qual transferimos cargas (elétrons) de um corpo para outro. Podemos transferir cargas entre corpos de diversas maneiras. Este processo de deixá-los carregados, positiva ou negativamente, chamamos de eletrização. Os principais processos são: eletrização por contato, por atrito e por indução. 5.2.1 Eletrização por atrito Ao friccionarmos dois materiais distintos, porém neutros, vemos que eles podem atrair outros materiais, como pequenos pedaços de papel. Isto acontece porque um dos materiais acaba recebendo elétrons do outro, tornando-se mais negativo, ou cedendo elétrons, tornando-se mais positivo. Essa característica de qual elemento vai ceder e qual vai receber elétrons pode ser indicada pela Tabela da Série Triboelétrica. Por exemplo, ao friccionarmos um PVC em um pedaço de lã, o PVC vai adquirir elétrons da lã, tornando-se carregado negativamente, enquanto a lã, que cedeu elétrons, ficará carregada positivamente.Um exemplo tradicional para ser apresentado aos alunos é friccionar dois balões de festa em lã, ou no cabelo, de maneira que os dois fiquem carregados negativamente. Penduramos um deles por um fio e aproximamos o outro. O efeito de repulsão entre os dois é visível. 5.2.2 Eletrização por contato Esta ocorre quando, por exemplo, temos um corpo carregado e tocamos em outro que esteja neutro, as cargas migrarão entre eles, fazendo com que o segundo fique carregado. A quantidade de carga transferida dependerá das características físicas do corpo, por exemplo, tamanho e constituição do material. 15 5.2.3 Eletrização por indução Para explicarmos o processo de eletrização por indução, usaremos a figura 6 a seguir. Inicialmente, precisamos eletrizar um corpo (o bastão), quer seja por atrito ou por contato, para que ele fique carregado (no caso, negativamente). Agora, aproximamos este corpo, já carregado, de outro corpo (a esfera) inicialmente neutro, porém sem tocá-lo. As cargas positivas da esfera serão atraídas para o lado da esfera em que está o bastão, e as negativas se concentrarão do outro lado. Em seguida, ligamos um fio terra no lado da esfera. Com isto, as cargas negativas da esfera migrarão para a terra, em seguida, abrimos a conexão. Podemos afastar o bastão da esfera, pois já teremos finalmente a esfera carregada positivamente (cargas opostas ao do bastão) pelo processo de eletrização por indução. Figura 6 – Processo de eletrização por indução 16 REFERÊNCIAS CAVALCANTI, P. J. M. Fundamento de Eletrotécnica. 22. ed., Rio de Janeiro: Freitas de Bastos, 2015. GASPAR, A. Física: eletromagnetismo e física moderna. São Paulo: Ática, 2000. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física Volume 3: Eletromagnetismo. Rio de Janeiro: LTC Editora S.A, 2106. SILVA, C. E. et al. Eletromagnetismo: fundamentos e simulações. São Paulo: Person, 2014.
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