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1 CONCEITO Perda da imunidade celular com supressão dos linfócitos T-CD4, aumentando o risco de infecções oportunistas, tumores, complicações neurológicas. Agente etiológico: HIV (Human Immunodeficiency Virus ou Vírus da Imunodeficiência Humana). Meios de transmissão: Sangue, sêmen, fluído pré- seminal, fluído vaginal, leite materno e outros fluídos que contenham sangue. Podem transmitir o HIV: Fluído cerebroespinhal, líquido sinovial e o líquido amniótico. Saliva, lágrimas e urina não contêm HIV suficiente para a infecção. Os principais reservatórios da infecção são o Sistema Nervoso Central e o Trato Gastrointestinal. DIAGNÓSTICO Os testes realizados são: Teste imunoenzimático (ELISA): mais utilizado em razão de sua sensibilidade, especificidade, praticidade, baixo custo e facilidade de automação, podendo ser por: -Imunofluorescência indireta: utilizado em laboratórios de pesquisa clínica, principalmente; -Imunoeletrotransfência (Western blot): técnica de escolha para confirmação do ELISA, pelo volume de informações que fornece e pela relativa objetividade do resultado. CONTROLE LABORATORIAL DA INFECÇÃO Os testes realizados são: - Quantificação da carga viral: possibilita o acompanhamento e a determinação da velocidade de debilitação do sistema imunológico do paciente. O objetivo do tratamento antirretroviral é a negativação da carga viral/indetectabilidade (valores acima 10.000 cópias por bDNA ou 20.000 cópias por PCR/Nasba são consideradas elevadas); - Quantificação de subpopulações de linfócitos: contagem de linfócitos T auxiliares CD4 e T supressores CD8. A redução relativa (ou principalmente absoluta) de T CD4 está associada ao aparecimento de infecções oportunistas. ESTÁGIOS DA INFECÇÃO PELO HIV 1.Período aparente de estado de latência: Pode durar em torno de 8 a 10 anos. 40-90% das pessoas desenvolvem uma síndrome aguda com sintomas gripais caracterizada por febre, mal-estar, cefaléia, mialgia, síndrome da linfadenopatia, úlceras orais, artralgia, perda de apetite e peso, faringite e erupção cutânea que podem durar de poucos dias a 01 mês. A carga viral e extremamente alta e os indivíduos apresentam-se bastante suscetíveis à infecções. Até que a replicação do HIV reduza novamente as células CD4+ e aumente o risco de Infecções Oportunistas. 2. Estágio inicial da doença: Poucos sintomas perceptíveis (HIV assintomático). Contagem de células CD4 > 500 células / mm³ Declínio da contagem de CD4 de 50 células/mm³ por ano Sintomatologia: -Dermatites e linfadenopatia. -Alterações subclínicas: Diminuição da massa magra sem perda de peso, deficiência de vitamina B12 e susceptibilidade a patógenos oriundos da água e dos alimentos. 3. Estágio intermediário da doença: É quando os primeiros sintomas aparecem (HIV sintomático). Contagem de células CD4 entre 200 e 500 células/mm³ Sintomatologia: -Candidíase oral e vaginal, neuropatia periférica, displasia cervical, herpes zoster e febre. -Febre, sudorese, problemas cutâneos, fadiga e outros sintomas que não são considerados definidores da AIDS. -Pode ocorrer também declínio no status nutricional ou na composição corporal. 4. Estágio final de doença: AIDS sintomático Diagnóstico reservado a indivíduos com pelo menos uma das condições clínicas bem definidas e com ameaça de vida associada à imunossupressão induzida pelo HIV. Contagem de células CD4< 200 células/mm³. COMPLICAÇÕES 1 – Infecções oportunistas: Comuns por bactérias, fungos e protozoários ou vírus. Causam freqüentemente febre, diarréia, má absorção, perda de peso Devem ser prevenidas e controladas no indivíduo imunodeficiente. Podem levar a depleção nutricional aumento das necessidades metabólicas diminuição da ingestão protéico-calórica. 2 - Doença Maligna: Determinantes da AIDS para um indivíduo HIV. TERAPIA NUTRICIONAL NO HIV E NA AIDS Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br 2 A. Sarcoma de Kaposi: Doença maligna das células mononucleares periféricas . Nódulos púrpura na pele, membranas mucosas ou linfonodos ou por todo GI. Lesões de SK na cavidade oral e esôfago Dor e dificuldade de mastigação, deglutição, náuseas e vômitos Lesões no TGI Diarréia e obstrução intestinal. B. Linfomas: Podem envolver o intestino delgado Má absorção, diarréia, ou obstrução intestinal. 3 - Doenças Neuromusculares 4 - Doença Hepática por HIV Hepatite C (HCV): Considerada, atualmente, como uma infecção oportunista de HIV. Causa predominante de morte por HIV/AIDS. Indivíduos que apresentam simultaneamente HIV e HCV evidenciam curso mais rápido da AIDS e de óbito. 5 - Tuberculose (TB) e Doenças Pulmonares 6 - Nefropatia associada ao HIV 7 - Distúrbios Gastrointestinais Enteropatia da AIDS diarréia crônica persistente na ausência de patógenos entéricos identificáveis. Atrofia de vilosidades e testes anormais de função do intestino delgado. TERAPIA ANTIRRETROVIRAL (TARV) Objetivo: Prevenção da replicação viral, suprimindo o vírus ao nível mais baixo possível e assim a progressão da doença por HIV. Utilização de diferentes drogas que agem em vários estágios de replicação do HIV. Associação de, pelo menos 2 agentes anti-retrovirais (uma só droga não suprime a atividade viral e não é recomendada). É necessário ao menos 95% de adesão à terapia medicamentosa para que ela apresente a eficácia adequada. Efeitos GI são os mais precoces: Náuseas, vômitos, desconforto abdominal; Neuropatia periférica, tonturas e efeitos sobre o SNC. Efeitos adversos comuns no início do tratamento incluem: Febre e sudorese noturna; Náuseas, anorexia, perda de peso, diarréia; Outros: Disestesia, cefaléia grave, sintomas vaginais, sinusite, problemas oculares, tosse, falta de ar, “sapinho”, e dor oral. Classes: A. ação da enzima transcriptase reversa que age convertendo o RNA viral em DNA, inibindo a replicação do vírus. Exemplos: Zidovudina (AZT), didanosina, zalcitabina, lamivudina, estavunida, nevirapina, delavirdina. B. Inibidores da Protease Agem no último estágio da formação do HIV impedindo a ação da enzima protease, fundamental para a clivagem das cadeias protéicas produzidas pela célula infectada em proteínas virais estruturais e enzimas que formarão cada partícula do HIV. Exemplos: Ritonavir, indinavir, saquinavir, nelfinavir. Terapias anti-HIV potentes (inibidores de proteases) efeitos adversos incluem obesidade, resistência à insulina, DM2, hipercolesterolemia, pancreatite, hipertrigliceridemia e lipodistrofia. Os suplementos geralmente recomendados para essas condições são: w-3 , ácido alfa-lipoico e L- carnitina. 3 4 5 6 7 ESTRATÉGIAS PARA MINIMIZAR OS EFEITOS COLATERAIS DOS ANTIRRETROVIRAIS 8 9 RELAÇÃO ENTRE SUBNUTRIÇÃO E AIDS A desnutrição desempenha papel independente e significante na morbidade e mortalidade. Modelos de Subnutrição: Desnutrição protéico-calórica (DPC) Decorrente de diminuição da ingestão alimentar e/ou má absorção e que com a oferta calórica promove-se aumento do peso e anabolismo; Wasting Syndrome (Síndrome Consumptiva ou Síndrome da emaciação pelo HIV) Complicação que pode ocorrer em todos os estágios da infecção pelo HIV (é diagnóstica para AIDS nos indivíduos HIV positivos em que não foi identificada outra causa para os sintomas). Definição de Síndrome Consuptiva: - Perda de peso não intencional de 10% ou mais do peso usual; - Diarréia (> 02 evacuações líquidas por > 30 dias), - Fraqueza crônica, - Febre por mais de 30 dias intermitente ouconstante e - Perda de massa celular corpórea. ATENÇÃO! Deve-se monitorizar as alterações a fim de identificar dados preocupantes relativos à emaciação e ao peso: peso < 90% do peso Ideal ou IMC < 18,5 kg/m²; perda de peso > 10% do peso anterior a doença; perda de peso > 5% nos últimos 6 meses. Sintomas Causa Recomendações Perda de peso • Inadequada ingestão calórica • Má absorção • Elevação do Gasto energético • perda de peso usual > 5% já morbi-mortalidade Adequações da dieta oral, uso de suplementos ou TNE. Indicação da terapia Nutricional: • Perda de peso > 5% em 3 m ou • Perda de MCC >5% em 3 m e • Redução do IMC para < 18,5 Kg/m² Anorexia Deficiência de vitamina A, B6 ou Zn Medicações (Uso de AZT ageusia) Ação das citocinas Distúrbios neuropsiquiátricos (depressão, isolamento social, perda da vontade de viver) Anormalidades endócrinas (insuficiência da adrenal, causada por citomegalovírus causa apetite e perda de peso, mas a terapia com corticóide reverte anorexia e promove peso) Conseqüência da RT e QT Avaliação Nutricional e cálculo ingestão nutricional Elaborar cardápio com fracionamento e volume Usar estimulantes de apetite, se necessário Verificar necessidade de suplementos orais e TNE Ver outras dicas em terapia nutricional Alterações Cavidade Oral e Esofágica Candidíase Oral dor, odinofagia, diafagia, disgeusia Herpex simples vírus, citomegalovírus (CMV) disfagia odinofagia Herpes-zóster dor unilateral, erupção vesicular Criptosporidiose disfagia Periodontite destruição óssea Gengivite halitose, sangramento gengival Úlcera esofágica --. odinofagia Lesões de sarcoma de Kaposi, Linfoma Não- Hodgin disfagia, obstrução Disgeusia deficiência nutricional Drogas Produção excessiva de muco Falta de salivação Considerar NE quando lesão oral impedir alimentação por 03 dias Considerar NPP (7-10 dias) em pacientes com úlceras esofágicas, hospitalizados, que não podem passar sonda Considerar Gastrostomia endoscópica em pacientes domiciliares ou para períodos de jejum > 10 dias. Má absorção Radioterapia, Terapia medicamentosa Infecção TGI, Hipoalbuminemia Correlaciona-se com grau de supressão imune e com mudanças no IMC • Monitorar e repor albumina sérica, que se baixa, pode contribuir para piora da diarréia. 10 Sintomas Recomendações Xerostomia (boca seca) • Utilizar alimentos umedecidos ou servidos com molho • Ingerir líquidos durante e entre as refeições • Realizar boa higiene oral • Considerar uma terapia profilática anti-fúngica • Mastigar gomas de mascar sem açúcar ou balas de menta Dificuldade de respiração • Usar alimentos concentrados em nutrientes e energia e fáceis de serem ingeridos Fadiga • Sono, relaxamento e exercícios adequados • Dieta adequada, especialmente ricos B12, A, C, folato caroteno e zinco • Evitar o uso de cafeína, álcool, fumo e drogas • Evitar estresse e fazer tratamento para ansiedade e depressão • Identificar e tratar as possíveis causas da anemia Perda de massa celular corpórea • Corrigir a deficiência de testosterona • Exercício de resistência • Considerar uso de agentes anabólicos • Amenizar os sintomas associados: identificar os alimentos que exacerbam e melhoram Diarréia sintoma GI inicial em AIDS e pode estar associada a: Anormalidades nas vilosidades Alterações na barreira mucosa 11 Microbiota, probióticos e HIV/AIDS 12 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HIV E NA AIDS Utilizar os métodos convencionais de avaliação nutricional Não usar CTL e teste cutâneo de sensibilidade retardada funções prejudicadas Avaliação da massa celular por bioimpedância (observar ângulo de fase) fator prognóstico para morbidade e mortalidade no estágio inicial da doença. Características: Mulheres perdem + gordura que massa magra durante estágios iniciais e avançados da consumpção/emaciação,; Homens perdem > quantidades de massa corpórea magra e poupam gordura corpórea. Medidas Úteis: Peso e altura Circunferências da cintura, quadril e pescoço Cálculos de massa Magra (PCT e CMB) 13 Massa celular corpórea (BIA) avaliar ângulo de fase (5 a 15º) Avaliar redistribuição de gordura corporal através da CC Objetivo manter e recuperar o peso e a massa magra corporal, que requer: (1) eliminar ou amenizar os efeitos deletérios do agente infeccioso; (2) fornecer ampla ingestão calórica nutricional; e (3) realizar quantidade suficiente de exercício físico Intervenções para corrigir a inadequada ingestão oral de nutrientes: 1) Orientação nutricional; 2) Uso de orexígenos e 3) Uso de suplementos orais. TERAPIA NUTRICIONAL NO HIV E NA AIDS Pontos importantes: Usar TCM, em casos de má absorção; Administrar W-3 pode melhorar a função imunológica; Paciente com dislipidemia, seguir recomendações para esta patologia; Se DM seguir recomendações específicas para esta patologia; Líquidos e eletrólitos, recomenda-se 30 a 35 ml/Kg (atentar-se aos quadros de diarreia, náusea, vômito, febre prolongada e sudorese noturna). RECOMENDAÇÕES DE MICRONUTRIENTES PARA PACIENTES SOROPOSITIVOS 14 Aspectos práticos para segurança alimentar de pacientes soropositivos A ênfase na higiene de mãos é indispensável para evitar as infecções oportunistas; Orientar o pacientes sobre a importância de higiene oral adequada; A água deve ser mineral e filtrada quando não for possível, deve ser fervida e clorada; Os legumes, verduras e frutas devem ser lavadas em água corrente e depois deixadas de molho em solução clorada por cerca de 15 minutos; Carnes cruas ou mal passadas e peixes crus devem ser evitados. SÍNDROME LIPODISTRÓFICA OU LIPODISTROFIA NO HIV Descrita nos anos 90 como complicação da Terapia antirretroviral, ainda sem definição de caso; Taxas de prevalência variam de 8 a 83%; Inicialmente associada aos Inibidores de Protease (mais comum) e depois aos Inibidores da Transcriptase Reversa; Nova face: estigma, discriminação, abandono de tratamento, isolamento social; Prováveis Causas: o HIV, a TARV, tempo de infecção, estilo e hábitos de vida, alimentação, predisposição genética. Principais agentes envolvidos com a lipodistrofia são: Estavudina e Zidovudina. Síndrome complexa: Alterações metabólicas Alterações anatômicas Alterações de composição corporal: Medidas de CC, CQ e RCQ, CB, C busto e C pescoço, além de peso, devem ser realizadas a cada 3 a 6 meses. BIA: útil para identificar emaciação, mas não é útil na identificação de redistribuição de gordura (lipodistrofia). Alterações anatômicas: Lipohipertrofia: acúmulo de gordura nas mamas, na região dorsocervical (giba), abdome (dentro ou fora). Lipoatrofia: perda do tecido gorduroso subcutâneo na face, glúteos, membros superiores e inferiores, com diminuição de massa muscular e veias aparentes. Alterações metabólicas: Aumento do LDL-colesterol e VLDL-colesterol, triglicerídeos (especialmente no uso de ritonavir); Diminuição de HDL-colesterol; Hiperglicemia e resistência insulínica; Alterações de pressão arterial; Baixas concentrações de testosterona sérica em mulheres e homens; Alterações no metabolismo ósseo (perda óssea, osteopenia e osteoporose) atribuídos a pouca massa corporal, definhamento, nutrição precária, uso de corticóide e deficiência hormonal, além da própria terapia antiretroviral. Necrose avascular ou osteonecrose atribuídos à hiperlipidemia, abuso de álcool, pancreatite, uso de corticóide e hipercoagulabilidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. AMB - Projeto Diretrizes - Terapia Nutricional na Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (HIV/AIDS) 2. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos. 2018. 3. Clark WA, Cress EM. Nutritional Issues and Positive Living in Human Immunodeficiency Virus/AIDS. Nurs Clin North Am. 2018 Mar;53(1):13-24. doi: 10.1016/j.cnur.2017.10.002. Review. 4. Triant VA, Grinspoon SK. Epidemiology of ischemic heart disease in HIV. Curr Opin HIV AIDS. 2017 Nov;12(6):540- 547. doi: 10.1097/COH.0000000000000410. Review. 5. Kamitani E, Sipe TA, Higa DH, Mullins MM, Soares J; CDC HIV/AIDS Prevention Research Synthesis (PRS) Project. Evaluating the Effectiveness of Physical Exercise Interventions in Persons Living With HIV: Overview of Systematic Reviews. AIDS Educ Prev. 2017 Aug;29(4):347- 363. doi: 10.1521/aeap.2017.29.4.347. Review.
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