Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SIDA: FISIOPATOLOGIA E TERAPIA NUTRICIONAL CONCEITO - SIDA: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida AIDS: Acquired Immunodeficiency Syndrome - Doença do sistema imunológico causada pelo vírus da Imunodeficiência Humana (HIV: Human Immunodeficiency Virus) - Obs.: Ter o HIV não significa ter AIDS (manifestação clínica de um quadro de imunodeficiência ocasionado pelo HIV – 10 a 15 anos) - O vírus infecta preferencialmente os linfócitos T CD4+ (rompimento e morte celular) → Afeta a capacidade do organismo combater infecções e doenças, o que pode levar à morte. FISIOPATOLOGIA - Retrovírus com genoma RNA da família retroviridae. - Grupo: Retrovírus citopáticos (mudanças detectáveis nas células hospedeiras devido à infecção) - Necessita da transcriptase reversa para se multiplicar → A linha principal de fármacos para o tratamento atua no inibidor da transcriptase. Outras linhas podem atuar nos receptores da célula. - Estágios da infecção pelo HIV: I - Soroconversão: Infecção aguda pelo HIV, ocorre 2 a 4 semanas após a infecção pelo vírus. II - Fase assintomática ou latência clínica; replicação ativa do vírus e destruição das células T CD4+, sem manifestação clínica aparente. III - Infecção sintomática; maior declínio imunológico, maior susceptibilidade às doenças oportunistas (dimensão e frequência maior → Causadas por microrganismos que normalmente não provocariam doenças em indivíduos hígidos). IV - Progressão do HIV para AIDS; maiores complicações; paciente é definido como portador da AIDS. - - Os principais biomarcadores para avaliar a progressão: RNA do HIV (carga viral) e contagem de T CD4. DIAGNÓSTICO - Teste de diagnóstico: • ELISA - Busca anticorpos contra o HIV. • Western Blot - Busca fragmentos proteicos do vírus. • Teste rápido - Detecção de anticorpos anti- HIV em até 30 minutos. EPIDEMIOLOGIA • 1981: Identificação do primeiro caso de HIV. • 2008: o 33,4 milhões de pessoas vivendo com a doença o 2,7 milhões de novos casos • 2016: o 36,7 milhões de pessoas vivendo com a doença o 1,8 milhões de novos casos. - No cenário geral, observou-se redução no número de novos casos. • Transmissão vertical: o Estratégia de redução do risco de transmissão: Tratamento da mãe com ARV + Tratamento do RC por 6 semanas + infusão de ARV durante o parto → Redução do risco para <1% o Risco de transmissão é de 7% a 22% e se renova a cada mamada. o Orientação: Uso de fórmulas láctea para a idade. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO • Introdução da terapia antirretroviral altamente ativa (HAART) → Não erradica o HIV: Uso contínuo e prolongado. Conversão de uma doença grave em uma infecção crônica controlável. o Reduz mortalidade o Reduz desnutrição e hospitalização - Obs.: Redução > 80% da incidência anual de infecções oportunistas. Aumento 65 a 70% na sobrevida anual. • Aumento das morbidades secundárias: o Efeitos adversos: Lipodistrofia, dislipidemias, resistência à insulina, osteopenia, alterações renais, hepáticas e cardíacas (patogênese não está completamente elucidada). • 1996 → Terapia antirretroviral (TARV) o Combinação de pelo menos 3 fármacos • Classes de medicações ARV: o Inibidores de transcriptase reversa análogos de nucelosídeos e nucleotídeos (ITRN); o Inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos (ITRNN); o Inibidores de protease (IP); o Inibidores de integrasse (II); o Inibidores de entrada; o Antagonista receptor CCRS; o Potencializadores farmacocinéticos. • Objetivos principais: o Supressão máxima e sustentada da replicação viral; o Preservar e/ou restaurar o sistema imune; o Retardar a progressão da doença; o Reduzir a morbidade e mortalidade; o Melhorar a qualidade de vida dos pacientes. • Quanto iniciar? o Pacientes sintomáticos (Fases 3 ou 4) o Pacientes com CD4 < 200 cel/mm3 independente da CV • Porque não é recomendável a Profilaxia Pré- exposição (PrEP)? o Baixa adesão → Dificuldade posterior em encontrar opções para alteração do tratamento em casos de: ▪ Intolerância a medicação ▪ Resistência ou falha terapêutica ▪ Queda do CD4 e/ou progressão clínica • Dificuldade de adesão ao tratamento: o Efeitos adversos dos medicamentos o Baixo nível de alfabetização o Desafios relacionados a idade o Questão psicossocial o Uso de substâncias o Estigma o Esquemas complexos o Fadiga com o tratamento - A taxa de adesão do tratamento é de 60 a 70%. COMPLICAÇÕES RELACIONADAS COM A AIDS - Tuberculose (TB): Acelera a replicação e progressão viral. - O HIV aumenta a progressão de infecção de tuberculose latente, podendo causar resistência de drogas e mortalidade pós tratamento de tuberculose. • Coinfecção mais comum • Principal doença oportunista relacionada ao HIV • Condição de maior impacto na mortalidade de indivíduos infectados pelo HIV • Relação sinérgica com o vírus HIV ALTERAÇÕES NUTRICIONAIS NO HIV/AIDS SÍNDROME LIPODISTRÓFICA - Redistribuição anormal de gordura corporal. • Lipoatrofia → Diminuição da gordura nas regiões periféricas (braços, pernas, nádegas e face). • Lipo-hipertrofia → Acúmulo de gordura abdominal, gibosidade dorsal e ginecomastia. • Forma mista → Ambos os sintomas. - 50 a 80% de pacientes com AIDS em uso de TARV → Efeito adverso - Diagnóstico: Exame físico (desnutrição ≠ redistribuição de gordura corporal) - Não existe tratamento padrão - Desconfigurante • Estigma - autoestima • adesão ao tratamento • Associada à resistência à insulina e dislipidemias Componentes da SLHIV Características Lipodistrofia Lipoatrofia: Redução da gordura periférica e proeminência muscular e venosa; Lipo-hipertrofia: Acúmulo de gordura abdominal, gibosidade dorsal e ginecomastia; Forma mista Alterações glicêmicas Glicemia de jejum (GJ) alterada (100 - 125 mg/dL); Intolerância à glicose 2h (TOTG 2h: 140 - 199 mg/dL); Diabete mellitus (GJ ≥ 126 mg/dL; TOTG 2h ≥ 200 mg/dL) Resistência insulínica Relação com alteração na distribuição de gordura corporal e uso de IP; dano celular causado pela infecção nas células beta pancreáticas e mecanismos de secreção da insulina Dislipidemia Uso de inibidores de protease (IP); Acomete 70% ↑ Colesterol total; ↑ LDL-c; ↓ HDL-c; ↑TG Doença cardiovascular Inflamação crônica e ativação do sistema imune → Processo aterogênico SÍNDROME CONSUMPTIVA - Síndrome de wasting - Processo catabólico multifatorial • Perda de massa muscular significativa o ↑ de moléculas pró-inflamatórias (IGF- 1 e TNF-alfa) o Associada a rápida progressão da doença e ↑ da morbidade - Características: Perda de peso não intencional ≥ 10% do peso usual + Diarreia + Astenia e/ou febre > 30 dias = S - Diagnóstico: Apresentar pelo menos um dos seguintes critérios: • PP não intencional de 10% em 12 meses • PP não intencional de 7,5% em período superior a 6 meses • IMC < 20kg/m2 • 5% de perda de Massa Muscular Corporal (MCC) em 6 meses • Homens: MCC < 35% do peso corporal total e IMC < 27kg/m2 • Mulheres: MCC < 23% do peso corporal total e IMC < 27kg/m2 - Etiologia: • Redução na ingestão e comprometimento dos processos de digestão e absorção o Alterações estruturais da mucosa o Hipercatabolismo o Catabolismo proteico acelerado o Doenças oportunistas associadas o Efeitos adversos dos medicamentos - Desnutrição: • Pior prognóstico • Intolerância medicamentosa • Redução da sobrevida • Comprometimento da função • Redução da capacidade física e qualidade de vida - Estado nutricional: • Eventos associados ao HIV o Desnutrição: Risco nutricional, independente do estágio da doença. Interação entre fármaco e nutrientes → Xerostomia, odinofagia, disfagia, náuseas, anorexia, alteraçõesdo paladar. Fármacos (ARV, antibióticos, antifúngicos) → Nutrientes - Gorduras afetam a absorção, deficiências das vitaminas C e D diminuem a metabolização. TERAPIA NUTRICIONAL - Objetivos: • Detectar, prevenir e reduzir a ocorrência de problemas nutricionais; • Fornecer o aporte adequado de nutrientes, a fim de evitar deficiências ou excessos; • Melhorar a tolerância à TARV; • Auxiliar na melhora da imunidade e alívio de sintomas, e nas complicações relacionadas ao HIV; • Promover educação nutricional em todas as fases da doença; • Contribuir para melhorar a qualidade de vida. - Triagem nutricional: NRS, 2002; em até 48h. - Avaliação do estado nutricional: • Anamnese alimentar: Intolerâncias e alergias; Preferências e aversões; Alterações do paladar; Suplementos; Preparo dos alimentos. • Avaliação bioquímica: Indicadores do estado nutricional e metabólico; Imunológicos (contagem de CD4, CD8, carga viral); Testosterona. • Semiologia e história clínica: Tempo de diagnóstico, estágio da doença e IO; Comorbidades; TARV; Identificar deficiências e depleção. • Antropometria e composição corporal: PP não intencional; IMC e MCC (SC); Distribuição de gordura corporal (SLD); Ângulo de fase < 5,3 (↑ mortalidade). - Avaliação do consumo alimentar: Avaliar quantitativamente e qualitativamente o consumo alimentar. • Registro alimentar • Recordatório de 24h • QFA RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS • Energia • Macronutrientes e fibras • Micronutrientes • Terapia nutricional enteral e parenteral RECOMENDAÇÕES DE ENERGIA - Indivíduos com HIV possuem um maior gasto energético (hipercalórica). Harris e Benedict Fator de injúria de 1,0 a 1,75 Projeto Diretrizes (2011) Assintomático → 30 a 35 kcal/peso Sintomático (AIDS e CD4 < 200 células/mm3) → 40 kcal/kg/dia Falco & Silveira (2018) Assintomático e CD4 > 500 células/mm3 → 30 a 35 kcal/kg/dia Sintomático e CD4 < 350 células/mm3 → 35 a 40 kcal/kg/dia Deiró, Sampaio & Jesus. In: Cuppari (2019) Estágio Energia Estágio A - Assintomático, peso estável 30 a 35 kcal/kg de peso atual/dia Estágio B - Sintomático com complicações do HIV, necessidade 35 a 40 kcal/kg de peso atual/dia Efeitos adversos da terapia medicamentosa Anorexia, disfagia, náuseas Insegurança alimentar Aspectos psicossociais Infecções oportunistas de ganho de peso Estágio C - Infecção oportunista e/ou AIDS (CD4 < 200) 40 a 50 kcal/kg de peso atual/dia Com desnutrição grave Iniciar com 20 kcal/kg atual/dia, aumento gradualmente para evitar a síndrome de realimentação Obesidade 20 a 35 kcal/kg/dia de peso ajustado/dia RECOMENDAÇÕES DE MACRONUTRIENTES - Proteínas Projeto Diretrizes (2011) Fase estável → 1,2 g/kg/dia Fase aguda → 1,5 g/kg/dia Falco & Silveira (2018) Assintomático e CD4 > 500 células/mm3 → 0,8 a 1,25 g/kg/dia Sintomático e CD4 < 350 células/mm3 → 1,5 a 2,0 g/kg/dia Deiró, Sampaio & Jesus. In: Cuppari (2019) Estágio Proteínas Estágio A - Assintomático, peso estável 1,1 a 1,5 g/kg de peso atual Estágio B - Sintomático com complicações do HIV, necessidade de ganho de peso 1,5 a 2,0 g/kg de peso atual Estágio C - Infecção oportunista e/ou AIDS (CD4 < 200) 2,0 a 2,5 g/kg de peso atual Com desnutrição grave Aumentar a oferta gradativamente, conforme a evolução das calorias Obesidade Utilizar o peso ajustado para cálculo das necessidades proteicas - Carboidratos • 45 a 65% do VET → A seleção das fontes e a necessidade de restrição de carboidratos simples. - Lipídeos • 20 a 35% do VET → Visando controlar o perfil lipídico, devido ao risco para DCV. Atenção para as fontes de gorduras trans simples. - Fibras • 25 a 30 g/dia → Ajustar quantidade e tipo, de acordo com a presença de diarreia ou constipação. RECOMENDAÇÕES DE MICRONUTRIENTES - As deficiências são comuns e são causadas por: • Má absorção • Ingestão insuficiente • Aumento de demandas nutricionais - Nutrientes como zinco, selênio, vitaminas do complexo B, C e E. • Papel importante na manutenção do sistema imune e redução da mortalidade. • Seguir as DRI - Não existem evidencias para recomendação de suplementação (avaliação individual!). INDICAÇÃO DA TNE/TNP - Perda de peso > 5% em meses. - IMC < 18,5 kg/m². - Início precoce → Impacto que o EM tem sobre a morbidade e mortalidade. - Pacientes desnutridos ou em risco de desnutrição que não conseguem, não podem ou não querem se alimentar. Oral → Enteral → Parenteral (indicada quando a nutrição oral ou enteral não for tolerada em quantidades adequadas para atingir as necessidades nutricionais, casos de diarreia) RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS PARA EFEITOS ADVERSOS - Diarreia - Úlceras na boca, esôfago e estômago - Náuseas e vômitos - Distúrbios neurológicos - Dispneia - Falta de apetite ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL - Fazer parte dede o diagnóstico até todo o seguimento do paciente. • A importância e os princípios de uma alimentação saudável. • A segurança higiênica e sanitária da água e dos alimentos. • O manejo dos sintomas clínicos e efeitos colaterais de medicações. • O manejo nutricional de morbidades. • A interação drogas-nutrientes e uso de suplemento. CONSIDERAÇÕES FINAIS - Principais diretrizes para a TN: • AN completa e precoce (PP, massa magra e distribuição de gordura corporal). • Auxiliar no manejo e minimização dos sintomas e alterações metabólicas associadas à TARV. • Fornecer terapia nutricional adequada a comorbidades e condições clinicas que possam se desenvolver no indivíduo. • Realizar aconselhamento nutricional visando maior sobrevida e melhor qualidade de vida para o indivíduo.
Compartilhar