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INTRODUÇÃO À ABORDAGEM COMPORTAMENTAL EM NUTRIÇÃO Prof. Simone Maia Martins Email: simonemaia.nutri@gmail.com 1 2 “Alimentação é mais do que a ingestão de nutrientes. Alimentação diz respeito à ingestão de nutrientes, mas também aos alimentos que contêm e fornecem nutrientes, a como alimentos são combinados entre si e preparados, a características do modo de comer e às dimensões culturais e sociais das práticas alimentares. Todos esses aspectos influenciam a saúde e o bem estar”. “Guia Alimentar para a População Brasileira” Ministério da Saúde Abordagem nesta aula: 1. Conceitos e Fundamentos da Nutrição Comportamental 2. Teoria e aplicabilidade das técnicas 3 Nutrição Comportamental • Abordagem científica na Nutrição que considera os fatores fisiológicos, emocionais e sociais do indivíduo na mudanças de seu padrão alimentar. 4 “Nutrição com ciência e consciência” (Sophie Deram) Aplicabilidade da Abordagem Comportamental Modificação do tratamento meramente prescritivo no atendimento, considerando que: Grande parte da clientela de consultório é suscetível a dietas de restrição e seguem prescrições desequilibradas sem embasamento científico, ou sem estratégia definida. 5 Aplicabilidade da Abordagem Comportamental Evitar o foco apenas no controle de peso, e sim no equilíbrio alimentar, a fim de driblar os efeitos danosos à saúde mental e nutricional, tais como: Terrorismo Nutricional – demonização de alimentos, grupos alimentares e refeições. “Nutricionismo” – pseudo-ciência que estabelece práticas e padrões dietéticos, baseados em estudos inconsistentes ou “achismos”, doutrinação da alimentação com foco apenas no nutriente 6 Aplicabilidade da Abordagem Comportamental Padrões estéticos inalcançáveis, sem levar em conta o histórico do paciente. Inabilidade técnica em Nutrição de profissionais (médicos, coaches desabilitados, treinadores) que acompanham/orientam este público, bem como estabelecimento de padrões rígidos e ameaçadores sobre sua composição corporal. Inibição de atitudes coercitivas sobre sua composição corporal, bem como informações conflitantes e dicotômicas acerca da alimentação. 7 romper Dicotomias Alimentares como pode agregar benefícios aos nossos clientes? Planeta Fitness Vida Real Aplicabilidade da Abordagem Comportamental 10 Fortalecer nosso papel como Nutricionista Facilitador do processo de Educação Nutricional Agente da mudança de hábitos Romper dicotomias alimentares COMPORTAMENTO ALIMENTAR – CONCEITO Conjunto de ações e condutas alimentares regidas por um conjunto de cognições (pensamentos) e afetos. 11 Relacionados aos alimentos – sabor, aparência, qualidade e higiene, valor nutricional, cheiro, textura, origem, preço e familiaridade . Comida associada a sentimentos ambivalentes de prazer e culpa. Relacionados ao ambiente: • Fatores Físicos – limpeza, conforto, localização, distrações do ambiente, iluminação • Fatores Socioculturais – família, pares, mídia, cultura local Relacionados ao comedor: • Fatores biológicos – fisiológicos, patológicos, genéticos, idade, sexo, estado nutricional • Fatores socioeconômicos – renda familiar, escolaridade, preço • Fatores Antropológicos e psicológicos – crenças, emoções, expectativas, experiências positivas ou negativas • Impacto da subjetividade no comportamento alimentar 12 FATORES DE INFLUÊNCIA EM ESCOLHA E CONSUMO ALIMENTAR 13 FATORES DE INFLUÊNCIA EM ESCOLHA E CONSUMO ALIMENTAR Impacto da subjetividade no comportamento alimentar Emoções, sentimentos e pensamentos conscientes e inconscientes, opiniões e valores. MENTALIDADE DA DIETA 14 MENTALIDADE DA DIETA Maneira restrita e disfuncional de lidar com a alimentação que impacta o comportamento alimentar. Produzida socialmente, internalizada e regula as relações do homem com a alimentação e com seu corpo. Comer com regulações externas e não com os sinais internos de prazer, sabor, fome, saciedade e escolhas livres dos alimentos seguindo estes sinais 15 MENTALIDADE DA DIETA “Moral dietética” – culpa, prazer, punição, proibição. Religião “saúde” Informações produzidas por intermediários como ciência, meios de comunicação, propaganda, moda, indústria, família que criam uma nova moralidade e leva à perda de autonomia do homem em relação a sua alimentação. Tentam enquadrar as pessoas num “manual da boa alimentação”. Premissas Fundamentais Nutrição Comportamental • “Como” se come é tão ou mais importante “do que” se come. • Validação do prazer em comer e o equilíbrio nutricional. • Comunicação positiva, responsável e inclusiva ao paciente/cliente na promoção do comportamento alimentar saudável. • Abordagem ampla: biológica, emocional, social e cultural. • Alimentação como um “meio para um fim”. • Ser inclusiva, podendo ser aplicada por qualquer profissional de Nutrição de qualquer área de atuação. • Priorizar o ser humano e não apenas o funcionamento de seu corpo, a comida, e não apenas o nutriente. 16 17 Quadro 1 - Definições básicas dos aspectos alimentares e nutricionais Conceito Definição Alimentação Criação histórico-cultural, ligada às relações humanas mediadas pela comida Nutrição Ciência com foco no estudo dos nutrientes Alimento Funções destinadas à formação, ao desenvolvimento e à manutenção do organismo Comida Funções nutricionais, mas também culturais e simbólicas Fome Necessidade fisiológica de comer sem relação com um alimento específico Fome hedônica ou apetite Desejo de comer um alimento ou grupo alimentar em particular para satisfação e prazer Saciedade Sensação de plenitude gástrica, sem sensação de fome e com sensação de bem estar Práticas Alimentares Forma como os indivíduos se alimentam em diferentes esferas Motivação alimentar Causa que impulsiona nossa ação de escolher comer ou não determinado alimento/comida 18 Quadro 1 - Definições básicas dos aspectos alimentares e nutricionais Conceito Definição Escolha alimentar Ato dinâmico que determina o consumo alimentar Consumo alimentar Ingestão de alimentos Consumo nutricional Ingestão de energia e nutrientes Padrão alimentar Análises estatísticas ou matemáticas dos alimentos como eles são verdadeiramente consumidos Estrutura alimentar Tipos, horários e regularidade das refeições Atitude alimentar Crenças, pensamentos, sentimentos, comportamentos e relacionamento com os alimentos Comportamento Alimentar Ações em relação ao ato de se alimentar, como, quando e de que forma comemos Hábito alimentar Comportamentos aprendidos e repetidos de forma automática Dieta Padrão de alimentação ou modificações do padrão normal para necessidades específicas 19 FUNDAMENTOS TEÓRICOS UTILIZADOS NA NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL • Terapia Cognitivo-Comportamental – mudanças de pensamentos e crenças disfuncionais • Terapia Social-Cognitiva – aprendizado a partir de modelos com auto reforço ou autorregulação e auto eficácia. • Mindful eating – prática consciente do ato de comer, “atenção plena” • Programação Neurolinguística (PNL) – reprogramação de pensamentos e crenças limitantes • Técnicas de Coaching – ferramentas práticas para a mudança de hábitos • Comer Intuitivo – estimulado para combater o comer disfuncional (pensar em calorias, comer por hábito ou gula...). Rejeitar a mentalidade da “dieta” como restrição 20 HABILIDADES DE COMUNICAÇÃO USADAS NA NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL A Educação Nutricional e a prescrição dietética isoladamente são insuficientes para mudar hábitos e padrões alimentares. Informação apenas não muda comportamento. É preciso reforçar sistematicamente cada passo que leva à mudança de comportamento. Importante observar imagens associadas à dieta e restrição comimagens da Nutrição que promove saúde: fita métrica, balança, maça ou frutas apenas como alimentos, listas de alimentos proibidos e permitidos, imagens “você é o que você come”. 21 HABILIDADES DE COMUNICAÇÃO USADAS NA NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL Durante a consulta: • Refletir/resumir a fala do paciente • Direcionar, perguntar, escutar e informar/orientar • Comunicação não verbal – sorriso, tom de voz, gestos, posturas. Até mesmo a posição retirando a mesa e sentar-se ao lado do paciente. • Sair do papel puramente prescritivo - Conhecimento e comportamento têm longa distância entre si. • Empatia - contato visual, demonstração de confiança além do conhecimento técnico, disponibilidade para ouvir com atenção. Comunicação não violenta • Perguntas abertas – possibilita o paciente de contar sobre suas experiências e percepções sobre comer e sobre os alimentos (Quadro 2) 22 HABILIDADES DE COMUNICAÇÃO USADAS NA NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL • Manter o foco durante a consulta – ao ouvir sobre emoções e memórias, há tendência a desvirtuar o foco da consulta. • Usar linguagem adequada e compreensível – em atendimentos com crianças, perceber seu nível de linguagem para melhor comunicabilidade. • Tornar específico e executável – Ex.: “coma alimentos frescos, in natura e orgânicos” x “o que acha de deixar potes de vegetais lavados e frutas picadas para facilitar o consumo das saladas de seu cardápio. Se forem orgânicos, melhor • Usar comunicação positiva ao invés da restritiva – Ex.: Substitua doces por frutas x Coma os brigadeiros da festinha com calma, um por vez , e coma as frutas ao longo do seu dia 23 HABILIDADES DE COMUNICAÇÃO USADAS NA NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL • Ser flexível e oferecer opções • Citar exemplos • Ser realista – Ex.:recomendar alimentos de alto custo para pessoas com restrição orçamentária. • Tornar o processo divertido. –utilizar ferramentas lúdicas que fixem o conhecimento • Confrontar percepções equivocadas - lidar com a resistência • Mostre recompensa – Ex.: Aproveite a hora do almoço para dar uma caminhada e melhorar seu nível de energia durante a tarde e evitar o sono habitual. 24 HABILIDADES DE COMUNICAÇÃO USADAS NA NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL Quadro 2 – Exemplos de perguntas abertas usando “como” e “o que” Perguntas Tradicionais Perguntas abertas Por que você não come frutas? O que você não gosta nas frutas? Como foi para você tentar comer frutas? O que acontece quando você coloca uma fruta na boca? Quais suas primeiras lembranças com as frutas? Por que você come exageradamente? O que essa quantidade que você come representa para você? O que você acha da quantidade que come? Como você se sente após o consumo? 25 TEORIAS E APLICABILIDADE DE TÉCNICAS 2.1 - Entrevista Motivacional • Técnica de aconselhamento em saúde para trazer à tona as motivações do paciente em querer mudar. • Vários estudos comprovam melhor adesão às orientações nutricionais Motivações para ir à consulta nutricional: - Intrínsecas (prazer, interesse, curiosidade, valor cultural, satisfação) - Extrínsecas (imposta pela família/medico, recompensa, culpa, recomendações externas) > resistência > taxa de abandono 26 TEORIAS E APLICABILIDADE DE TÉCNICAS Estágios de Mudança • Pré- contemplação – “Não está pronto” apresenta resistências • Contemplação – Pensa a respeito, tem motivos para mudar e não mudar • Decisão – pretende fazer mudanças • Ação – tem alterações positivas de comportamento • Manutenção – mantém e sustenta as mudanças 27 TEORIAS E APLICABILIDADE DE TÉCNICAS 2.2 - Teoria Cognitivo-Comportamental e Nutrição • Propõe uma formulação contínua do paciente • Colaboração e participação ativa • Orientada em metas e focada em problemas a serem resolvidos 28 TEORIAS E APLICABILIDADE DE TÉCNICAS 2.3 – Comer Intuitivo, Subjetivo e Competências Alimentares Princípios • Rejeitar a mentalidade da dieta • Honrar a fome • Sentir saciedade • Descobrir o fator satisfação • Fazer as pazes com a comida • Desafiar o policial alimentar • Respeitar o próprio corpo • Honrar a saúde (Nutrição Gentil) DIÁRIO DA FOME Horário Escala de Fome (0 a 10) Qualidade da Fome Alimento/Refeição consumida Observações Prazerosa Desprazerosa Neutra Adaptado de Tribole & Resch. The Intuitive Eating Workbook, 2017, Nutrição Comportamental – 2ª edição Editora Manole e “Comer Intuitivo” do Instituto de Nutrição Comportamental. Material elaborado por Simone Maia Estufado ou empanturrado Estômago muito cheio, sensação de incômodo, vontade de andar ou ficar deitado, sentado é desconfortável Cheio Estômago cheio, sensação de azia ou vontade de evacuar Satisfeito Nem cheio nem com fome, confortável Fome leve ou “fominha” Passou-se um tempo desde a última refeição, fome que seria atendida por pequenas porções de frutas ou castanhas ou um doce pequeno. Sem comida por perto, consegue aguentar sem alterar a rotina alimentar Fome Começa a se distrair e pensar um pouco em comida, a barriga pode começar a dar sinais (ronco, barulho), olhar no relógio para saber o quanto falta para a próxima refeição Faminto Passou da hora de comer, a barriga ronca e dói, a cabeça fica um pouco aérea, ligeira tontura, perda de atenção, irritabilidade e/ou mau humor Escala de Fome HISTÓRICO DE DIETAS Idade Motivo para a dieta Tipo de Dieta/ Tratamento Duração da Dieta/Tratamento Houve perda de peso? De quantos quilos? Se perdeu, quanto tempo manteve? Reganhou mais que perdeu? Observações sobre tratamento Adaptado de Tribole & Resch. The Intuitive Eating Workbook, 2017 e “Comer Intuitivo” do Instituto de Nutrição Comportamental. Material elaborado por Simone Maia FAZENDO AS PAZES COM A COMIDA Objetivos do Exercício • Auxiliar o paciente a comer determinado alimento ou refeição banido de sua rotina por algum motivo: medo de perder o controle e exagerar o consumo, medo de engordar. • Técnica aplicável preferencialmente em pacientes que referem “não conseguir parar” ao comer determinado alimento (em geral, os detonadores costumam ser doces, biscoitos e/ou pães) Como orientar? 1ª etapa • Explique o procedimento na sessão/consulta anterior. • A 1ª vez deve ser realizada no próprio consultório com o alimento de preferência do paciente, que pode ser fornecido pelo nutricionista ou levado pelo paciente de sua marca ou preparo favorito. • Nesta 1a experiência, utilize os exercícios de “Mindful Eating” também em anexo: “Escaneamento Corporal”, “Meditação do chocolate”ou “Meditação da uva-passa” (que o nutricionista deve adaptar para o alimento a ser testado). 2ª etapa • Roteirize a experiência com o paciente para que ele possa fazer fora do consultório (quadro abaixo) • No retorno após a experiência, refletir com o paciente suas sensações, propor continuidade ou adaptações Escolha um momento que não costuma ter muita fome, ou se for uma refeição, que todas as refeições anteriores tenham sido cumpridas para que sua escala de fome não esteja acima de 5 pontos (ver no exercício do diário da fome). Escolha o alimento (marca, sabor – Ex.: Chocolate Kit Kat ou forma de preparo específica - Ex.: Bolo de chocolate feito pela mãe ou o strogonoff feito pelo restaurante que costuma frequentar) Decidir onde comer (o exercício pode ser feito em casa ou em um ambiente em que se sinta confortável) Verificar alguma condição ou suporte que pode ajudá-lo a sentir-se seguro (Ex.: estar em um dia de folga, num dia habitual de trabalho, na presença de alguém de sua confiança ou sozinho). Anotar os sentimentos antes, durante e depois do exercício (Ex.: ansioso, culpado, amedrontado, feliz, relaxado, liberto) Adaptações ou considerações sobre o exercício Adaptado de Tribole & Resch. The Intuitive Eating Workbook, 2017 e “Comer Intuitivo” do Institutode Nutrição Comportamental. Material elaborado por Simone Maia 32 TEORIAS E APLICABILIDADE DE TÉCNICAS 2.4 – Técnicas de Coaching Coaching é uma palavra em inglês que indica uma atividade de formação pessoal em que um instrutor (coach) ajuda o seu cliente (coachee) a evoluir em alguma área da sua vida.Esse treinador tem o objetivo de encorajar e motivar o seu cliente a atingir um objetivo, ensinando novas técnicas que facilitem seu aprendizado. Entender o PROPÓSITO (Por quê), definir o OBJETIVO (O que) e encontrar o melhor MÉTODO (Como) para atingir o que busca, desenvolvendo o autoconhecimento e as competências necessárias durante este processo. 33 TEORIAS E APLICABILIDADE DE TÉCNICAS 2.4 – Técnicas de Coaching A duração do processo é em geral de 3 a 4 meses, dependendo do caso e da resposta de cada indivíduo, podem atingir resultados significativos por meio de sessões de uma hora (que podem chegar a até 2 horas) e podem ser presenciais ou não, dependendo da disponibilidade do cliente e a técnica utilizada pelo coach. Há co-responsabilidade no processo de coaching, enquanto o resultado é de responsabilidade do cliente. Vem fortemente utilizado como substitutos ao tratamento nutricional, ao invés de ser usado como ferramenta para o mesmo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Responsabilidade PROBLEMA CENTRAL NA ALIMENTAÇÃO E ESTILO DE VIDA O que você ganha com isso O que você deixa de ganhar com isso O que pode ser feito para minimizar os contratempos? O que pode ser feito para manter sua motivação? COMPORTAMENTO/SITUAÇÃO ATUAL de incômodo Quais os benefícios de ficar como está? Quais suas preocupações em ficar como está? Quais suas preocupações sobre mudar seus maus hábitos? Quais os benefícios de manter seus hábitos atuais? Escore de resistência Escore de motivação Pontuação de 0 a 10 10 – muito importante MANTER o hábito 0 – não é importante MANTER o hábito Pontuação de 0 a 10 10 – muito importante MUDAR o hábito 0 – não é importante MUDAR o hábito 36 TEORIAS E APLICABILIDADE DE TÉCNICAS 2.5 – Comer com Atenção Plena (Mindful Eating) O Mindful Eating, ou comer com atenção plena, é uma ferramenta na mudança do comportamento alimentar baseada na prática meditativa do Mindfulness, um estado de consciência e percepção atenta ao que estamos fazendo e sentindo. Ao conectar corpo, mente e emoções ao momento presente, sem julgamento e com compaixão, nossas percepções de equilíbrio, autoconfiança e força podem ser alteradas, nos tornando menos reféns dos nossos hábitos. Através dessa prática, o indivíduo é colocado como observador não crítico de seus comportamentos e emoções, sendo capaz de não se fundir a hábitos e atitudes nocivos. Altamente aplicável em crianças e adolescentes que se distraem facilmente no momento de refeições. 37 TEORIAS E APLICABILIDADE DE TÉCNICAS 2.5 – Comer com Atenção Plena (Mindful Eating) Práticas como a varredura corporal e exercícios de respiração-corpo-pensamentos são bastante utilizadas, mas algumas práticas diárias já podem introduzir a prática do Mindful Eating na rotina do paciente: 1 – Reduza a velocidade da mastigação – Mesmo que o tempo para fazer a refeição seja pouco, deve ser feito com ATENÇÃO e vagarosamente. 2 – Sente-se à mesa – Comer enquanto anda, dirige ou de pé e qualquer uma de nossas multitarefas paralelas do dia não nos conecta à refeição e percepção de saciedade. 3 -Desperte a curiosidade e conexões - Ao olhar para o alimento, tente fazer todo o caminho que ele percorreu (desde sua plantação ao preparo) para chegar ao seu prato. 4 – Coma apenas – Tarefa das mais difíceis - perceber tudo que o alimento oferece: cor, textura, proporção e sabor.. 5 – Observe suas sensações – Perceba emoções e sentimentos que surgem ao longo da refeição. 6 – Coma o suficiente – Qual seu grau de saciedade? Pense sempre numa escala de zero a dez seu grau. Pare ao percebê-la, mesmo que ainda haja comida no prato. 7 – Elimine a Culpa - Pemita-se aproveitar cada garfada e pedaço. A culpa aumenta o comer sem atenção. 8 – Treine – Exercitar a atenção plena com regularidade vai torna-la um habito 9 – Agradeça – A quem preparou, plantou, transportou. Agradeça sua oportunidade em poder escolher e fazer aquela refeição. A gratidão desenvolvida nos reconecta: corpo, cérebro e emoções VARREDURA/ESCANEAMENTO CORPORAL Roteiro da prática de mindfulness: escaneamento corporal (corpo, mente e coração) Comer com atenção plena envolve tomar consciência dos sinais físicos, pensamentos e emoções enquanto se come. Esta prática pode ser feita logo antes de uma refeição, ou mesmo quando se está na dúvida se o desejo de comer vem da fome física ou de outras necessidades. Pausa: se possível, feche seus olhos por alguns momentos. Respire profundamente algumas vezes. Perceba o que você sente ao pensar na ideia de comer alguma coisa agora. Talvez você se sinta animado, agitado, ou mesmo tranquilo. Apenas perceba, sem julgamento. Corpo: perceba seu corpo de cima a baixo, desde a cabeça até a ponta dos dedos dos pés. Você consegue notar alguma sensação física, quer seja positiva ou desconfortável? Coloque ambas as mãos no seu abdômen e pergunte-se “eu estou com fome?”. Se a resposta for sim, como seu corpo sabe disso? Você consegue sentir o estômago “roncar”, ou alguma sensação de vazio nessa região do corpo? Talvez você nem sequer esteja sentindo seu estômago. Há alguma outra sensação física? Mal-estar, fraqueza? Apenas perceba seu corpo, não há certo ou errado. Mente: sem julgamento, perceba o que está pensando, quais pensamentos estão passando pela sua mente neste momento. Muitas vezes, nossos pensamentos nos dão pistas sobre estarmos ou não com fome. Se você estiver na dúvida se está ou não com fome, provavelmente você não está. Coração: quais emoções estão presentes neste momento? Que sentimentos você consegue perceber? Ao identificar estas emoções, perceba se elas estão influenciando seu desejo ou não de comer Adaptado de Adaptado de: Eat what you love, love what you eat with diabetes. Michelle May & Megrette Fletcher. 2nd edition, 2017 E “Mindful Eating” do Instituto de Nutrição Comportamental. MEDITAÇÃO DO CHOCOLATE Escolha o chocolate de sua preferência, sem julgamentos Sente-se num lugar confortável e silencioso, onde possa permanecer sentado por alguns minutos; Desembrulhe o chocolate. Observe a sua forma, a cor, o brilho; Toque-o com a ponta dos dedos e perceba sua consistência; Coloque o chocolate sobre a palma da mão. Sinta o peso que ele tem. Recite a si mesmo os adjetivos que lhe aparecem na mente para defini-lo; Aproxime o chocolate do nariz e inspire profundamente, por duas ou três vezes. Siga o aroma conforme ele percorre o seu nariz. Expire profundamente por alguns momentos; Leve o chocolate para perto dos lábios. Passe-o pela boca, pelos lábios. Que sensação ele provoca em você? Perceba que o seu corpo se prepara para comê-lo. Sua boca começa a salivar. Esteja presente nessa sensação; Coloque o chocolate sobre a língua. Sinta a reação do seu corpo. Leve o chocolate até o céu da boca; Que pensamentos aparecem na sua mente? Com quais palavras você descreve esse chocolate? Suave? Sensual? Saboroso? Que emoções vêm à tona? Algumas delas são negativas? Algumas são positivas? Culpa? Prazer? Não tente reprimir as sensações. Esteja presente nelas sem julgá-las.; Foque toda a sua atenção na textura e no sabor do chocolate. Escute o som da mastigação; Sinta o chocolate derretendo e indo em direção à garganta. Imagine-o no estômago; Nesse momento, esse alimento está irremediável e irreversivelmente incorporado a você. MEDITAÇÃO DA UVA PASSA Adaptado de Adaptado de: Eat whatyou love, love what you eat with diabetes. Michelle May & Megrette Fletcher. 2nd edition, 2017 E “Mindful Eating” do Instituto de Nutrição Comportamental. • Pegue alguma cerca de 3 uvas passa (que podem ser trocadas por castanhas ou outras frutas desidratadas pequenas). • Coloque apenas uma em sua mão e observe-a com detalhe. Concentre-se e no amplo leque de cores e tonalidades, de como a luz incide em suas dobras, em sua textura rugosa. Suas formas irregulares aos nossos olhos. A ideia é captar tudo o que possa ser visto. • Depois, é preciso fechar os olhos e tocar a uva passa. Fazer com que ela dance entre os dedos para sentir sua textura e o nosso tato, de como sua pele se mescla com a nossa. • Depois sentimos o aroma dela. • Ainda com os olhos fechados, colocamos a passa na boca. Não a mordemos, mas a acariciamos com os dentes primeiro, para depois notar que cai em nossa língua, acomodando-a. Agora a exploramos com a língua, da mesma maneira que fizemos com os dedos. Lentamente. Sem pressa. Desfrutando de tudo o que um alimento pequeno e ordinário como uva passa pode nos oferecer. • Só depois de toda essa avaliação pelos sentidos de visão, textura e aroma, a mordemos. • Ficamos conscientes de uma explosão magnífica produzida em nossos sentidos. Percebemos seu sabor, como se funde e confunde com o nosso, com a saliva, com o gosto. Tratamos de encher toda a boca com essa mescla, chegando a todos os cantos. • Apenas então engolimos a uva passa e notamos como cai pela garganta, como abandona a boca e se integra em nosso interior. • Uma vez finalizado o exercício, esperaremos alguns segundos para abrir os olhos e comemorar que desfrutamos de uma uva passa, talvez pela primeira vez na vida, em vez de engoli-la. • Exploramos todas as possibilidades que tinha para nos oferecer. 41 TEORIAS E APLICABILIDADE DE TÉCNICAS 2.6 – Aconselhamento Nutricional • Gradual • Não necessariamente em uma ordem exata – depende da demanda/incômodo observada na entrevista/anamnese • Treinar a solução de problemas: Levantar alternativas • Reversão de hábitos: treinar novo padrão de resposta para eliminar hábito disfuncional, identificando episódios, buscando parceiros que lembrem o paciente da mudança de hábito Ex.: Trocar o doce depois do almoço por um café. • Redefinir termos: Reduzir culpa e Julgamento, aumentando a consciência. Trocar expressões como “dia do lixo” por exceção controlada, “Jacar” por saída da rotina, “gordice” por comida gostosa 42 TEORIAS E APLICABILIDADE DE TÉCNICAS 2.6 – Aconselhamento Nutricional Abordagem com compaixão e empatia Como o paciente/cliente chega à consulta? Sensação frequente de fracasso, injustiça, baixa auto estima, vergonha, culpa e cansaço frente às dietas Evitar rotular/julgar o paciente 43 Bibliografia Recomendada Nutrição Comportamental 2ª edição – Marle Alvarenga, Manoela Figueiredo , Fernanda Timmerman e Cynthia Antonaccio – Editora Manole Em defesa da Comida – Um Manifesto – Michael Pollan – Editora Intrínseca Cozinhar – uma história natural da transformação - Michael Pollan – Editora Intrínseca O dilema do onívoro - Michael Pollan – Editora Intrínseca Mindful Eating – Comer com atenção plena - Cynthia Antonaccio e Manoela Figueiredo - Editora Abril Guia Alimentar para a População Brasileira” - Ministério da Saúde O peso das Dietas – Sophie Deram O Poder do Hábito – Charles Dihigg Atenção Plena – Mindfulness – Mark Williams e Danny Penman Por que fazemos o que fazemos – Mario Sergio Cortella Pequenas Atitudes Grandes Mudanças – Caroline Arnold A Arte da Imperfeição – Brené Brown
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