Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Atendimento educacionalAtendimento educacional de alunos com transtornosde alunos com transtornos globais doglobais do desenvolvimentodesenvolvimento AUTORIA Fabiane Fantacholi Guimarães Greicy Juliana Moreira Bem vindo(a)! Acadêmico(a), olá!!! Seja bem-vindo(a)! A partir de agora, você deu largada em uma jornada de conhecimento por meio do incrível mundo da educação inclusiva, mais especi�camente ao maravilhoso universo do “Atendimento Educacional de Aluno com Transtornos Globais do Desenvolvimento”. Nossa missão será apresentar a você, por meio de dialogismo, novos conhecimentos e descobertas, que proporcionarão re�exões e mudanças signi�cativas no seu modo de pensar e agir, tanto no contexto pessoal, acadêmico e sobretudo na esfera pro�ssional, favorecendo o desenvolvimento de suas competências, habilidades e atitudes. O presente material foi produzido exclusivamente para proporcionar a construção de novos conhecimentos, por meio de quatro unidades curriculares, recheadas de conceitos teóricos e re�exivos, conectando teoria e situações reais, favorecendo o processo de ensino-aprendizagem. A apostila é composta por uma introdução, seguida de quatro unidades, divididas em três tópicos cada uma, criteriosamente analisados e selecionados para dar sustentação às discussões, re�exões e conclusão. Além dos conteúdos abordados no decorrer das unidades curriculares, você também terá acesso à informações extras, como por exemplo novas leituras, a seção #saibamais, #re�ita, #leituracomplementar, e ainda, dicas de livros e �lmes, que contemplam os assuntos em questão na presente disciplina. Na Unidade I, o conteúdo disponibilizado será sobre as Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento e suas Especi�cidades: Classi�cação Internacional de Doenças: CID, o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais e, por último, a De�nição, conceituação e características do TGD. Na Unidade II, a ênfase será exclusivamente sobre os Transtornos Globais do Desenvolvimento – Condutas Típicas: as especi�cações do que envolve as condutas típicas, como o professor e a família podem lidar com essas condutas e também as possíveis estratégias e recursos a serem oferecidos para os alunos com condutas típicas. Na Unidade III, vamos falar sobre as especi�cidades do Autismo, Síndrome de Asperger e Síndrome de Rett e, então, durante nosso diálogo, levá-lo a compreender a de�nição e encaminhamentos relacionados a cada um desses transtornos globais do desenvolvimento. Na Unidade IV, denominada de Interlocução do Atendimento Especializado no Ensino Regular para Alunos com TGD, nosso propósito será apresentar informações sobre os aspectos legais relacionados ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), enfatizando o atendimento ao público em questão dessa disciplina – TGD/TEA. Para tanto, os assuntos abordados serão: fundamentos teóricos, legais e pedagógicos do atendimento especializado, a Institucionalização do atendimento especializado no projeto político pedagógico e, por último, o Desmembramentos do TGD e as ações necessárias a serem seguidas pela escola, família e sociedade. Diante do exposto, desejamos que, a partir desse momento, você inicie a leitura e estudo desse material e que, no decorrer dessa trilha de descobertas, você possa re�etir sobre os aspectos aqui abordados, sobre a importância da sua formação acadêmica e, ainda, como contribuir, enquanto pro�ssional, para a eliminação de barreiras relacionadas ao ensino-aprendizagem do público-alvo da educação inclusiva, especialmente, no que tange a educação dos alunos com TGD/TEA. Boa viagem! Embarque agora nessa trilha de conhecimentos! Até mais!!! Profa. Me. Fabiane Fantacholi Guimarães. Profa. Me. Greicy Juliana Moreira. Sumário Essa disciplina é composta por 4 unidades, antes de prosseguir é necessário que você leia a apresentação e assista ao vídeo de boas vindas. Ao termino da quarta da unidade, assista ao vídeo de considerações �nais. Unidade 1 Dimensões dos transtornos globais de desenvolvimento Unidade 2 Transtorno do espectro autista: conceitos iniciais e disfunção do TEA Unidade 3 Métodos educacionais de intervenção e apoio a inclusão do aluno com TGD-TEA Unidade 4 Interlocução do atendimento especializado no ensino regular para alunos com TGD-TEA Dimensões dos transtornos globais de desenvolvimento AUTORIA Fabiane Fantacholi Guimarães Greicy Juliana Moreira Sumário Introdução 1 - Classi�cação internacional de doenças: CID 2 - Manual de diagnóstico e estatística dos transtornos mentais 3 - De�nição, conceituação e características do TGD-TEA Considerações Finais Introdução Caro(a) acadêmico(a). Seja bem-vindo(a) à Unidade I, intitulada “Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento”, da disciplina de Atendimento Educacional de Aluno com Transtornos Globais do Desenvolvimento do curso de Graduação em Educação Especial. No primeiro momento: conheceremos a Classi�cação Internacional de Doenças (CID). Esse documento é publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa padronizar a codi�cação de doenças e outros problemas relacionados à saúde. No segundo momento: conheceremos o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM). Esse documento se propõe a servir como um guia prático, funcional e �exível para organizar informações que possam auxiliar no diagnóstico preciso e no tratamento de transtornos mentais pelos pro�ssionais da área da Saúde. No terceiro momento: estudaremos a de�nição, conceituação e características do Transtorno Global do Desenvolvimento, que passou por mudanças signi�cativas no decorrer dos tempos. Espero que estes textos colaborem para a sua melhor compreensão sobre o tema de nossa primeira unidade. Boa leitura! Plano de Estudo: 1. Classi�cação Internacional de Doenças: CID 2. Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais 3. De�nição, conceituação e características do TGD-TEA Objetivos de Aprendizagem: 1. Conhecer a Classi�cação Internacional de Doenças 2. Conhecer o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais 3. Estudar a de�nição, conceituação e características do Transtorno Global do Desenvolvimento Classi�cação Internacional de Doenças: CID A Classi�cação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (também conhecida como Classi�cação Internacional de Doenças – CID) é publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e visa padronizar a codi�cação de doenças e outros problemas relacionados à saúde. A CID fornece códigos relativos à classi�cação de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. A cada estado de saúde é atribuída uma categoria única à qual corresponde um código CID. A CID é revista periodicamente e encontra-se na sua décima edição (CID-10). Está prevista a substituição da CID-10 pela décima primeira edição (CID-11). A CID-11 foi lançada em 18 de junho de 2018, tendo sido apresentada para adoção dos Estados membros, em maio de 2019, durante a Assembleia Mundial da Saúde, e deve entrar em vigor em 1º de janeiro de 2022. A versão anterior, a CID-10, foi desenvolvida em 1993 para registar as estatísticas de mortalidade. Atualizações anuais (menores) e trienais (maiores) são publicadas pela OMS. A CID permite que programas e sistemas possam referenciar, de forma padronizada, as classi�cações, auxiliando a busca de informação diagnóstica para �nalidades gerais. É importante também para codi�car e classi�car os dados de mortalidade de atestados de óbito. Deve-se tomar o cuidado para não confundir a “classi�cação” com a “causa” de doenças e lembrar que o objetivo da CID não é oferecer um quadro explicativo da relação entre os agravos, mas apenas listá-las, de forma coerente com as lesões. Caro(a) estudante, a CID-10 trazia vários diagnósticos dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD - sob o código F84), como: Autismo Infantil (F84.0), AutismoAtípico (F84.1), Síndrome de Rett (F84.2), Transtorno Desintegrativo da Infância (F84.3), Transtorno com Hipercinesia Associada ao Retardo Mental e aos Movimentos Estereotipados (F84.4), Síndrome de Asperger (F84.5), Outros TGD (F84.8) e TGD sem Outra Especi�cação (F84.9). A nova versão da classi�cação a CID- 11 une todos esses diagnósticos no Transtorno do Espectro do Autismo (código 6A02 - em inglês: Autism Spectrum Disorder - ASD), as subdivisões passaram a ser apenas relacionadas a prejuízos na linguagem funcional e de�ciência intelectual. A intenção é facilitar o diagnóstico e simpli�car a codi�cação para acesso a serviços de saúde. Imagem 1 - Mudança na classi�cação do CID-10 para CID-11 CID-11 CID-10 Fonte: elaborado pela autora com base na CID-10 e CID-11. Caro(a) estudante, ao longo do nosso material iremos referenciar a CID, �que atento(a)! Vale ressaltar que, por ser a CID-11 um documento novo, ainda iremos encontrar em várias pesquisas a utilização da CID-10, precisamos compreender que na área da pesquisa acadêmica (educação) será aos poucos a mudança da nomenclatura referente ao TGD para TEA. SAIBA MAIS Você sabia, caro(a) acadêmico(a), que a CID-10 foi aprovada pela Conferência Internacional para a Décima Revisão, em 1989, e adotada pela Quadragésima Terceira Assembléia Mundial de Saúde para entrar em vigor em 1o de janeiro de 1993? Segundo o site das Nações Unidas, a CID-11 re�ete as mudanças e os avanços na Medicina e Tecnologia que aconteceram de lá para cá. A estrutura de codi�cação e ferramentas eletrônicas foram simpli�cadas, para permitir que o pro�ssional possa registrar os problemas de maneira mais fácil e e�caz. A nova classi�cação conta com 55 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte versus 14.400 da CID-10. Entre as principais novidades, está a inclusão de distúrbio em games (gaming disorder), que já havia sido anunciado no começo do ano. A OMS de�ne a desordem como um “padrão de comportamento persistente ou recorrente”, de gravidade su�ciente para “resultar em comprometimento signi�cativo nas áreas de funcionamento pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional ou outras”. Fonte: elaborado pela autora com base no CID e OMS. Pela primeira vez, a Organização Mundial da Saúde está classificando o transtorno do jogo como um transtorno de comportamento viciante - agora podemos medir quantas pessoas são afetadas. GAMING DISORDER CODE 6C51 Reprodução/OMS. REFLITA O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que reconhece crianças e adolescentes como sujeitos de pleno direito, classi�ca esses indivíduos como: pessoas em desenvolvimento. Sendo assim, caro(a) acadêmico(a), pense bem antes de realizar qualquer ato, pois você faz parte desse desenvolvimento! Fonte: a autora. Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM, em sua 5ª edição, foi publicado em maio de 2013 (versão em português em 2014). O DSM se propõe a servir como um “guia prático, funcional e �exível para organizar informações que podem auxiliar no diagnóstico preciso e no tratamento de transtornos mentais”. Trata-se de “uma ferramenta para clínicos, um recurso essencial para a formação de estudantes e pro�ssionais e uma referência para pesquisadores da área” (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. xii). O guia representa a base para de�nição de doenças psíquicas, referência para a prática clínica, e, segundo seus autores, contém informações úteis para todos os pro�ssionais ligados à saúde mental, “incluindo psiquiatras, outros médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, consultores, especialistas das áreas forense e legal, terapeutas ocupacionais e de reabilitação e outros pro�ssionais da área da saúde”. (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. xii). O DSM-5 também é um instrumento para a coleta e a comunicação precisa de estatísticas de saúde pública sobre as taxas de morbidade e mortalidade dos transtornos mentais. Embora o DSM-5 continue sendo uma classi�cação categórica de transtornos individuais, reconhecemos que os transtornos mentais nem sempre se encaixam totalmente dentro dos limites de um único transtorno. Alguns domínios de sintomas, como depressão e ansiedade, envolvem múltiplas categorias diagnósticas e podem re�etir vulnerabilidades subjacentes comuns a um grupo maior de transtornos. O reconhecimento dessa realidade fez os transtornos incluídos no DSM-5 serem reordenados em uma estrutura organizacional revisada, com o intuito de estimular novas perspectivas clínicas. Essa nova estrutura corresponde à organização de transtornos planejada para a CID-11, cujo lançamento está programado para 2022. Caro(a) estudante, ao longo do nosso material iremos referenciar o DSM, �que atento(a)! SAIBA MAIS Você, caro(a) acadêmico(a), sabia que, assim como no DSM, o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, a nova CID, Classi�cação Internacional de Doenças, uniu os transtornos do espectro num só diagnóstico? Essa decisão veio para facilitar o diagnóstico e tornar mais simples a codi�cação para acesso a serviços de saúde. Fonte: a autora. De�nição, conceituação e características do TGD-TEA Caro(a) estudante, vamos primeiramente conhecer o percurso histórico trilhado pela área dos transtornos globais do desenvolvimento, conhecido como TGD, contextualizando as diferentes terminologias e enfoques teóricos utilizados para referenciar tal transtorno. O desa�o de compreender as desordens psíquicas esteve presente na sociedade e desprender-se de conceitos enraizados constitui ponto essencial para o conhecimento dos transtornos globais do desenvolvimento. Nesses mais de 75 anos de estudos no campo dos TGDs, é necessário conhecer os pesquisadores e suas alegações fundamentais sobre tal quadro clínico, os parâmetros internacionais para a sua identi�cação e, ainda, as possíveis hipóteses para o seu aparecimento. Na educação, tais conhecimentos se tornam signi�cativos por estarem relacionados, na atualidade, a uma das áreas com identi�cação mais frequente na população infanto-juvenil. A conceituação dos transtornos globais do desenvolvimento passou por mudanças signi�cativas no decorrer dos tempos, e, nem sempre esses conceitos tiveram um ponto de convergência entre o campo da educação e o da saúde. SAIBA MAIS Você já deve ter assistido a algum �lme com passagens bíblicas, independentemente da religião a qual esteja vinculado, retratando uma época em que a ciência era praticamente inexistente. O fato de que não tinham o conhecimento cientí�co para explicar o mundo em que viviam, faz-nos indagar: “de que forma os sujeitos conseguiam explicar os fenômenos da natureza, como o raio e/ou o trovão?”. Para aquele momento, as explicações possíveis provinham de ideias relacionadas às atividades de magia e da religião. Da mesma forma, sujeitos com alguma má formação, ou mesmo com comportamentos que fugiam do esperado para a sociedade, eram vistos como pessoas cuja condição tinha origens demoníacas. Esse ponto de vista evidencia a ação dos aspectos culturais no modo de justi�car e aceitar os acometimentos de ordem física, intelectual e mental (psíquica). Com efeito, as pessoas inseridas em organizações prósperas na sociedade, tais como a justiça e a igreja, eram as que sentenciavam os sujeitos que de alguma forma não eram vistos com afeição, excluídos da convivência da comunidade. Com a ampliação da atuação médica, as crenças perderam força. Entretanto, por mais distante que essas ideologias possam estar, a expressão “ele está possuído” até hoje é ouvida quando um sujeito apresenta alterações de comportamento. No caminho para uma vida mais digna aos sujeitos que eram marginalizados, surge a importante ação do médico Philippe Pinel, o qual apostava numa corrente de tratamento humanitário que resultou na expansão das descrições dos transtornos psíquicos. Podemos citar como marco desse momento histórico o caso conhecido como “o menino selvagem”, quefoi tema cinematográ�co. O cineasta François Truffaut reproduziu em um �lme o trabalho de Jean Itard com um jovem que foi capturado numa �oresta, excluído da convivência em sociedade. Seu comportamento se assemelhava ao que, após anos de estudo, Leo Kanner descreve clinicamente como distúrbio autista. Fonte: Santos (2020). Nesse sentido, para os sujeitos que compõem, atualmente, esse grupo de estudantes, as intervenções clínicas se apresentam como uma primeira opção de intervenção, sendo atribuída, para a educação, um segundo plano possível. As manifestações clínicas de pacientes esquizofrênicos, tais como isolamento e distanciamento da realidade, foram descritas pelo psiquiatra Bleuler (1911 apud SANTOS, 2020) empregando a expressão autismo. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) absorveu as subcategorias do autismo como a síndrome de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância e os transtornos global do desenvolvimento não especi�cado e propõe a classi�cação de Transtornos do Espectro Autista (TEA) em substituição a de Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). No entanto, caro(a) estudante, na educação, até o momento, ainda se denomina a área Transtorno Global do Desenvolvimento, onde está englobado o Transtorno do Espectro Autismo. As patologias com apresentações sintomáticas semelhantes ao espectro do autismo foram denominadas, na educação do DSM-5, de autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo atípico, transtorno global do FICA A DICA Filme O Garoto Selvagem Ano: 1970 O �lme L’Enfant Sauvage traduzido para "O menino (ou garoto) selvagem”, de François Truffaut, retrata o estudo do médico Jean Itard com o jovem Victor (como foi chamado) de Aveyron. Capturado após viver alguns anos na �oresta, privado de relações sociais, Victor demonstrou que o ser humano é um animal social, que precisa, para se constituir como ser humano, viver entre os humanos. O �lme produzido por Truffaut coincidiu com os estudos e a descrição clínica de Leo Kanner (1894-1981) sobre crianças autistas. desenvolvimento sem outra especi�cação, transtorno desintegrativo da infância e síndrome de Asperger, que indica linhas-mestras para a identi�cação do Transtornos do Espectro Autista (TEA). Caro(a) estudante, atenção! O diagnóstico desse transtorno é realizado por um médico, que, na avaliação comportamental, pode utilizar escalas padronizadas para identi�cá-lo. Entre os anos de 1970 e 1980, houve um crescente interesse pelo autismo, o que acarretou o desenvolvimento de pesquisas no campo médico e psicológico. Tais estudos objetivavam o encontro de um quadro descritivo relacionado ao autismo e aos espectros correlatos que repercutiram em muitos países, inclusive, no cenário brasileiro. O conceito transtorno global do desenvolvimento (TGD) foi adotado para de�nir os distúrbios mentais da infância, que apresentam tanto um início muito precoce, quanto uma tendência evolutiva. Os transtornos do espectro autista (TEA) enquadram-se nessa categorização, uma vez que se manifestam na primeira infância e apresentam curso permanente. É válido ressaltar que os TGDs incluem, necessariamente, alterações qualitativas da experiência subjetiva, dos processos cognitivos, da comunicação (linguagem) e do comportamento e não somente alterações quantitativas. Não podemos conceber o TGD somente como um atraso ou uma interrupção do processo de desenvolvimento típico, visto que se trata da manifestação clínica de um processo atípico e prejudicial ao desenvolvimento (BRASIL, 2015). Dessa forma, consideramos fundamental esclarecer que a noção de desenvolvimento aplicada ao conceito nosológico de TGD não diz respeito apenas à questão genética, mas àquela praticada pela perspectiva contemporânea da psicopatologia do desenvolvimento, que concebe esse processo como resultante de questões multifatoriais, ou seja, genéticas e ambientais (psicossocial). O entendimento sobre o conceito contemporâneo de desenvolvimento envolve, necessariamente, o processo de constituição psíquica, que não é inato e se estabelece por meio da interação recíproca entre o bebê e seu principal cuidador nos primeiros anos de vida. (SANTOS, 2019). REFLITA A�nal, quem são essas crianças que, por alguns educadores, costumam ser adjetivadas como diferentes, agressivas e inquietas, e que quando falam apresentam uma linguagem tão incomum? Fonte: a autora. Até 2007, a nomenclatura utilizada na Educação era Condutas Típicas que começou a ser amplamente divulgada na década de 90, para fazer referência aos alunos que apresentavam distúrbios de comportamentos, substituindo a terminologia anteriormente empregada, distúrbios de comportamento, que muitos prejuízos trouxe, seja pelo preconceito que a expressão sugeria, seja pela interpretação inadequada de qualquer reação do aluno pelo professor, que ocasionava um rótulo e posterior encaminhamento para a Educação Especial. @freepik A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, portaria n. 555, de 07 de janeiro de 2008 (BRASIL, 2008), como documento político norteador, apresenta modi�cações signi�cativas se comparada à política anterior, pois altera o per�l dos estudantes da educação especial. O documento designa como parte dos TGDs os seguintes diagnósticos clínicos: autismo, síndrome do espectro autista (Asperger e Rett), transtorno desintegrativo da infância e transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especi�cação. Esses transtornos têm como característica em comum as funções do desenvolvimento prejudicadas (BRASIL, 2010). Ainda de acordo com o Documento Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), o Transtorno do Dé�cit de Atenção e Hiperatividade é compreendido como Transtorno Funcional Especí�co que será atendido, neste Departamento, nos serviços de apoio especializado da área de De�ciência Intelectual e Transtornos Funcionais Especí�cos, na Rede Pública de Ensino. Assim, esclarece que o Transtorno Bipolar, de Conduta, de Ansiedade, entre outros, deverá ter o acompanhamento da Saúde Mental (tratamento medicamentoso e terapêutico), sem que necessariamente sejam encaminhados aos serviços de apoio educacional especializado da Rede Pública de Ensino. Caro(a) estudante, como podemos veri�car, ainda estamos no aguardo da atualização no campo da educação sobre a nomenclatura utilizada. Digo o documento do Ministério da Educação (MEC), pois como sabemos, na área da saúde, já houve a mudança. Por esse motivo, em nosso material, utilizamos e utilizaremos o que consta na portaria n. 555, de 07 de janeiro de 2008. Quadro 1 - Mudanças em relação a nomenclaturas utilizadas na Educação DE 1994 ATÉ 2007 CONDUTAS TÍPICAS A PARTIR DE 2008 TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO Quadros neurológicos, como por exemplo, Transtorno do Dé�cit de Atenção e Hiperatividade. Síndromes, como por exemplo, Transtorno Bipolar; Transtorno de Conduta; Transtorno de Ansiedade, entre outros. Psiquiátricos Persistentes, como por exemplo, Psicose. Refere-se especi�camente à alunos com diagnósticos de: autismo; síndromes do espectro de autismo, como por exemplo: Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, entre outros; psicose infantil. Fonte: a autora. SAIBA MAIS Você sabia, caro(a) acadêmico(a), que o autismo tornou-se um problema de saúde pública no mundo inteiro, e sua importância se re�ete em dois eventos recentes: em 2007, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou o dia 2 de abril como o dia mundial de conscientização do autismo, e a entidade americana Autism Speaks convocou vários monumentos do mundo, por meio da campanha Light It Up Blue iniciada em 2010, a se iluminarem de azul, no dia em questão, a �m de promover a conscientização do transtorno. Fonte: a autora. REFLITA “Temos o direito de sermos iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de sermos diferentes sempre que a desigualdade nos descaracteriza”(SANTOS, 2006, p. 27). Livro Filme Web Transtorno do espectro autista: conceitos iniciais e disfunção do TEA AUTORIA Fabiane Fantacholi Guimarães Greicy Juliana Moreira Sumário Introdução 1 - Fundamentos conceituais, teóricos e a perspectiva histórica do autismo no século XX 2 - Conceito geral e disfunções do transtorno do espectro do autismo (TEA) 3 - Causas do transtorno do espectro do autismo (TEA) Considerações Finais Introdução Caro(a) acadêmico(a). Seja bem-vindo(a) à Unidade II, intitulada “Transtorno do Espectro Autista: conceitos iniciais e disfunção do TEA”, da disciplina de Atendimento Educacional de Aluno com Transtornos Globais do Desenvolvimento do curso de Graduação em Educação Especial. No primeiro momento: contextualizar os fundamentos conceituais, teóricos e a perspectiva histórica do autismo no século XX, no entanto, independentemente da posição teórica utilizada para compreender o autismo, sabe-se hoje que ele não constitui um quadro único, mas um quadro clínico complexo que precisa ser olhado a partir de cada sujeito, levando-se em conta suas especi�cidades, possibilidades e di�culdades. No segundo momento: estudar o conceito geral e disfunções do transtorno do espectro autista (TEA). Válido ressaltar, como já elencamos anteriormente, antes do conceito de autismo, existiu e ainda existe em alguns documentos legais, o termo Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Os TEA são considerados, atualmente, como transtorno de desenvolvimento de causas variadas. No terceiro momento: conhecer as causas do transtorno do espectro autista (TEA), considerando que em algumas das prováveis causas do TEA, ele é um transtorno de comportamento multifacetado, de base neurológica. Espero que esses textos colaborem para a sua melhor compreensão sobre o tema da nossa primeira unidade. Boa leitura! Plano de Estudo: 1. Fundamentos conceituais, teóricos e a perspectiva histórica do autismo no século XX 2. Conceito geral e disfunções do TEA 3. Causas do TEA Objetivos de Aprendizagem: 1. Contextualizar os fundamentos conceituais, teóricos e a perspectiva histórica do autismo no século XX 2. Estudar o conceito geral e disfunções do transtorno do espectro autista (TEA) 3. Conhecer as causas do transtorno do espectro autista (TEA) Fundamentos conceituais, teóricos e a perspectiva histórica do autismo no século XX A nomenclatura autismo foi empregada pela primeira vez pelo psiquiatra Eugen Bleuler (1857-1939), em 1911, para relatar a fuga da realidade e o retraimento de adultos esquizofrênicos para um mundo interior. A palavra é de origem grega (autós) e signi�ca “por si mesmo”. Trata-se de “um termo, dentro da psiquiatria, para denominar comportamentos humanos que se centralizam em si mesmos, voltados para o próprio indivíduo” (ORRÚ, 2012, p. 17). Quando o médico Jean Itard (1774-1838) relatou informações sobre o menino selvagem de Aveyron, em 1799, o termo autismo não havia sido utilizado. O jovem foi capturado por camponeses de Aveyron, na França, sem vestimentas e movimentando-se como quadrúpede e sem comunicação oral. Ele se balançava sem parar e não demonstrava nenhuma afeição por quem o servia, era indiferente a tudo, não prestava atenção em coisa alguma, nem aceitava mudanças, e lembrava-se com precisão da localização de objetos existentes em seu quarto. Não reagia ao disparo do revólver, mas voltava-se na direção de um estalo de casca de noz (FERRARI, 2012, p. 6-7). A educação desse jovem foi atribuída a Itard, no entanto, o desfecho não foi considerado triunfante nem pelo próprio pesquisador, porque o jovem não saiu do mutismo nem teve “acesso à dimensão simbólica da linguagem, apesar da incontestável melhora nas relações sociais” (FERRARI, 2012, p. 7). Em 1943, em uma interpretação mais de�nida, o psiquiatra austríaco Leo Kanner descreveu o autismo infantil após observar 11 crianças entre 2 e 8 anos que apresentavam características comuns, o que culminou na publicação do artigo intitulado Distúrbios autísticos de contato afetivo (Autistic Disturbances of Affective Contact). Kanner, em sua descrição, destacou que das 11 crianças observadas, 8 adquiriram linguagem, embora com atraso. Em referências às características sintomáticas dos autistas, veri�ca-se que muitos pro�ssionais da educação têm di�culdade em identi�car esses traços no contexto escolar. Esse acontecimento foi muito estudado e deu margem para inúmeros questionamentos sobre a causa das manifestações comportamentais do jovem de Aveyron, entre as quais se destaca a causa de sua debilidade: o abandono do contato humano ao qual fora submetido. A aquisição da linguagem por crianças autistas é muito singular, fato perceptível não só pela irregularidade característica, mas também pela fraca intenção comunicativa. Essa linguagem se apresenta com inversão pronominal e ecolalia. Alguns autistas podem reproduzir uma in�nidade de palavras, letras de música, propagandas conhecidas, trechos de conversas, embora não objetivem uma intenção comunicativa, por terem condições favoráveis quanto à memória verbal (SANTOS, 2019). Ainda que a pesquisa de Kanner passe por algumas alterações no conceito e na de�nição do autismo, o fundamento é sempre o mesmo, pois ele distingue o distúrbio autístico do quadro esquizofrênico, divergindo de Bleuler, que entende essa afecção não como uma doença independente, mas como mais um dos sintomas da esquizofrenia (SANTOS, 2019). Desse modo, a partir de 1943 “os conceitos de autismo, psicose e esquizofrenia se colidiram e foram usados de maneira intercambiável durante muitos anos, contudo, atualmente, foi superado” (BRASIL, 2015, p.18). Após a divulgação dos estudos de Kanner, Hans Asperger (1906-1980), médico e pesquisador, escreveu o artigo Psicopatia autística na infância. Nele, o austríaco também tomou de empréstimo de Bleuler o termo “autismo” para descrever quatro crianças que apresentavam como questão central o transtorno no relacionamento com o ambiente ao seu redor, por vezes compensado pelo alto nível de originalidade no pensamento e nas atitudes. Em alguns momentos, no entanto, o desempenho das crianças pesquisadas (pensamentos e atitudes) foi percebido como mais ameno (BRASIL, 2015). A respeito desses sintomas, foi constatado seguinte: As características autistas apareceriam a partir do segundo ano de vida e seriam persistentes. Haveria pobreza de expressões gestuais e faciais e, quando as crianças eram inquietas, sua movimentação era estereotipada e sem objetivo, podendo haver movimentos rítmicos repetitivos. Suas falas seriam arti�ciais, mas teriam atitude criativa em relação à linguagem, exempli�cada pelo uso de palavras incomuns e neologismos [...] (BRASIL, 2015, p. 21-22). SAIBA MAIS Caro(a) acadêmico(a), em relação à importância da linguagem, o embasamento recai sobre o livro intitulado Pensamento e Linguagem, de Lev Semenovich Vygotsky. Esse autor apresenta um estudo detalhado sobre o desenvolvimento intelectual, orientado para a psicologia evolutiva, educação e psicopatologia. ACESSAR http://www2.uefs.br/filosofia-bv/pdfs/vygotsky_01.pdf Até �ns da década de 1970, o autismo era considerado uma forma de esquizofrenia infantil e classi�cado dentro da categoria das psicoses (APA, 1952/1968). Em 1979, Wing e Gould foram os primeiros a propor a tríade diagnóstica que abrangia de�ciências especí�cas na comunicação, socialização e imaginação (CAMINHA et al., 2016). Em 1980, com a publicação da 3ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-3), o autismo se converteu no protótipo de um novo grupo de transtornos do desenvolvimento reunidos sob o título de transtornos globais do desenvolvimento (TGD) (APA, 1980). A expressão amplamente utilizada, “transtornos invasivos do desenvolvimento”, não é apropriada. O DSM-4, publicado em 1994, pela primeira vez incluiu o termo “qualitativo” para descrever as de�ciências dentro da tríade de manifestações clínicas, de�nindo a extensão das de�ciências em vez da presença ouausência absoluta de um determinado comportamento como su�ciente para satisfazer o critério diagnóstico. Na classi�cação do DSM-4 (APA, 1994), os “transtornos globais do desenvolvimento” abarcavam o amplo espectro de distúrbios com as características citadas acima, incluindo cinco subtipos comportamentais: SAIBA MAIS Você sabia, caro(a) acadêmico(a), que as pesquisas de Hans Asperger eram públicas nos países em que o idioma alemão era dominante? Na década de 1970, foram realizadas as primeiras aproximações com os escritos de Kanner, especialmente por pesquisadores holandeses, tal como Van Krevelen, que tinha domínio dos idiomas inglês e alemão. As iniciativas de assemelhar ambos foram difíceis, em virtude das diferenças entre os pacientes estudados por cada pesquisador, uma vez que os descritos por Kanner eram mais jovens e apresentavam maior prejuízo cognitivo. Fonte: a autora (2020). Figura 1 - Organograma O topo da pirâmide, o Grau 1, caracteriza o grau mais severo, e o Grau 5, o mais leve. Todavia, essa caracterização não existe mais e, a partir do DSM 5, a compreensão se transformou. Autismo Clássico Síndrome de Rett Transtorno desintegrativo da Infância Transtorno Global do Desenvolvimento não específico Síndrome de Asperger Fonte: Bacarin (2020, p. 29). Na Figura 1 percebe-se pela pirâmide que a caracterização do autismo hierarquizava os indivíduos, porém não apresentava um elo que justi�casse esse ranqueamento para além dos sintomas neurológicos. Para melhor compreensão da mudança entre o DSM-4 e o DSM-5, retoma-se o conceito conforme a metodologia elaborada pela Associação de Amigos do Autista (AMA). Na de�nição atual do conceito, o autismo é uma síndrome, ou seja, um conjunto de sintomas, que causa transtorno de neurodesenvolvimento e, como consequência, alterações comportamentais, que não o caracterizam como uma doença. O salto de qualidade na compreensão se encontra em entender que essas características não são estanques e assimétricas, porém, necessariamente são pertinentes à mesma síndrome, porque se caracteriza sempre por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da imaginação (BACARIN, 2020). Caro(a) estudante, estes três desvios, que ao aparecerem juntos caracterizam o autismo, foram chamados por Lorna Wing e Judith Gould, em seu estudo realizado em 1979, de “Tríade”, como relatado anteriormente. A Tríade é responsável por um padrão de comportamento restrito e repetitivo, nas condições de inteligência que podem variar do retardo mental aos níveis acima da média (CAMINHA et al., 2016). Em 2013, a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (APA, 2014) propôs uma nova classi�cação, com novas orientações sobre o diagnóstico e algumas mudanças conceituais importantes. Os subtipos comportamentais descritos no DSM-5, excetuando todos os diagnósticos anteriores (Figura 1), reunidos numa única denominação e passam a receber o diagnóstico único de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Entretanto, entende-se que podem coexistir três grupos de situações que di�cultam o diagnóstico clínico, sendo eles: 1. O TEA pode ser a síndrome principal, que coexiste com traços ou aspectos de outras síndromes secundárias; 2. O TEA pode ser a síndrome secundária, pois apenas alguns traços ou aspectos se fazem presentes em relação a uma outra síndrome principal; 3. O TEA pode ser a única síndrome, porém com espectros variados conforme cada indivíduo. Tomando por base a análise conceitual elencada, o DSM-5 apresenta a seguinte classi�cação do TEA: Figura 2 - Classi�cação Severo Moderado Leve Fonte: Bacarin (2020, p. 30). Na Figura 2, observa-se que o Autismo Clássico, o Transtorno Desintegrativo da Infância e o Transtorno Global do Desenvolvimento não especí�co foram dissolvidos nessa nova classi�cação do DSM-5. Se por um lado a mudança na classi�cação de autismo ou autismos facilitou a identi�cação da síndrome a partir da categorização como suave, moderado ou severo, por outro lado, essa transformação requer um maior tempo de observação e investigação para de�nir o espectro em que classi�ca o grau da criança com TEA. Essa é a primeira consequência decorrente da nova maneira de se diagnosticar o TEA (BACARIN, 2020). Caro(a) estudante, mesmo com novas descobertas a respeito do TEA, ainda vivemos uma época de incertezas, uma vez que no meio de várias incertezas, é que se percebem características do TEA, no indivíduo, precocemente. Os primeiros sinais se apresentam ainda nos primeiros anos, e, com um olhar mais apurado, podem-se perceber características em bebês. O TEA afeta o desenvolvimento do ser humano de forma intensa, incidindo na construção da personalidade (SILVA; ROZEK, 2020). As causas do TEA ainda não são consideradas únicas, não existindo, assim, uma de�nição do que, na realidade, causa o autismo. Temos diferentes abordagens e estudos que convergem ou divergem nos resultados de suas pesquisas, mas que vão transitando, basicamente, entre fatores “psicológicos, disfunções cerebrais e alterações de neurotransmissores, fatores ambientais, aspectos genéticos, questões alimentares, entre outros” (SILVA; ROZEK, 2020, p. 6). Independentemente da posição teórica utilizada para compreender o autismo, sabe-se, hoje, que ele não constitui um quadro único, mas um quadro complexo que precisa ser olhado a partir de cada sujeito, levando-se em conta suas possibilidades e di�culdades. SAIBA MAIS Você sabia que a mudança da classi�cação de TGD para TEA se justi�ca porque nos Estados Unidos o tratamento é �nanciado pelo governo, e todos os pormenores são elementos usados para não disponibilizar a gratuidade do tratamento ou a inclusão do sujeito em um plano de saúde? O diagnóstico de autismo, por exemplo, para resolver o problema e propiciar o direito desses sujeitos a serem acompanhados nas clínicas e nas instituições escolares, uniformizou-se todos como portadores de TEA. O DSM-4 considerava o autismo como um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento e incluía os quadros de Transtorno de Rett, Transtorno de Asperger e Transtorno Desintegrativo da Infância, já não representando mais o entendimento e classi�cação dos “autistas”. Fonte: Bacarin (2020). REFLITA “As crianças com necessidades especiais, assim como as aves, são diferentes em seus vôos. Mas todas são iguais em seu direito de voar.” Fonte: a autora (2020). Conceito geral e disfunções do transtorno do espectro do autismo (TEA) Caro(a) estudante, para ser compreendido, o TEA precisa ser muito bem estudado. Segundo Silva, Gaiato e Reveles (2012), o Transtorno do Espectro do Autismo é considerado um transtorno de neurodesenvolvimento, no qual a criança tem di�culdade na comunicação social e mantém um interesse restrito e estereotipado. Isso signi�ca que se trata de uma alteração ocorrida dentro do cérebro, em que as conexões entre os neurônios se dão de forma diferente, ocasionando di�culdade em interagir com as outras pessoas de maneira adequada. Os TEA são considerados atualmente como transtorno de desenvolvimento de causas variadas. Entretanto, como já estamos estudando acerca de como o TEA se apresenta legalmente, constatamos que antes do conceito de autismo, existiu e ainda existe em alguns documentos legais o termo Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Para Morais (2012), essa síndrome é entendida como uma das perturbações contínuas e gerais, designadas de “perturbações globais do desenvolvimento”. O autismo caracteriza-se pela existência de disfunções sociais, perturbações na comunicação e no jogo imaginativo, tal como por interesses e atividades restritas e repetitivas. O autismo, para ser considerado em termos de diagnóstico, tem de ter presentes estas manifestações, desde o nascimento até aproximadamente aos 36 meses de idade, persistindo e evoluindo de diferentes maneiras ao longo da vida. Nesse sentido, quando o docente, o pedagogo, o especialista na educação especial, ou a equipe escolar solicitarem um laudo diagnóstico em decorrência das limitaçõese especi�cidades dessas pro�ssões, geralmente a escola só consegue entender, que naquele laudo, constam informações sobre uma criança com características autísticas, quando se faz referência, neste documento, ao termo Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Assim sendo, é preciso questionar: o que especi�camente signi�ca dizer que uma criança tem TGD? Ao observar a Figura 3 a seguir, infere-se alguns pontos para essa problemática: Figura 3 - Alteração cognitiva no TEA TEA Preservação Cognitiva Retardo Mental Bom Funcionamento Asperger Baixo Funcionamento Fonte: Bacarin (2020, p. 13). A alteração em comunicação social no TEA apresenta ou pode apresentar os elementos listados a seguir, de acordo com Silva, Gaiato e Reveles (2012): Di�culdade no contato visual; Di�culdade no uso de gestos e expressões faciais; Di�culdades em fazer amizades e no brincar, entender emoções e sentimentos relacionados ao outro; Falta de interesse por coisas ou atividades que as outras crianças propõem; Foco em brinquedos ou brincadeiras apenas seja do seu interesse; Aproximação com os demais de uma forma arti�cializada, robotizada ou “aprendida” e fracasso nas conversas interpessoais. Demonstrações de pouco interesse no que outra pessoa está dizendo ou sentindo; Di�culdade em iniciar ou responder a interações sociais; Di�culdade de entender a linguagem não verbal das outras pessoas; Di�culdade em se adaptar a diferentes situações sociais. O interesse restrito e estereotipado pode aparecer, de acordo com Silva, Gaiato e Reveles (2012), nas seguintes situações: Movimentos repetitivos ou estereotipados com objetos e/ou fala; Na fala, repetições de trechos de �lmes ou desenhos, falando sozinhos numa linguagem “própria”, sem função de interação social; Insistência em rotinas, rituais de comportamentos padronizados, �xação em temas e interesses restritos; Hiper ou Hiporreação a estímulos do ambiente, como sons ou texturas; Estereotipias motoras, movimentos repetitivos com o corpo ou com as mãos; Extrema angústia com pequenas mudanças na rotina; Forte apego a objetos, gastando muito tempo observando ou usando um mesmo brinquedo ou segurando o dia todo algo que caiba nas mãos; Sensibilidade a barulhos, cheiros, texturas de objetos ou extremo interesse em luzes, brilhos e determinados movimentos repetitivos; Alteração na sensibilidade à dor. As autoras mencionadas ressaltam que, em decorrência das individualidades, as crianças com TEA podem apresentar especi�cidades diversas quanto à alteração em comunicação social e ao interesse restrito e estereotipado. Acerca dessa questão, Morais (2012) observa que ao nível comportamental as características que distinguem as crianças com autismo das que sofrem de outro tipo de perturbações do desenvolvimento, baseiam-se sobretudo na sociabilidade, no jogo, na linguagem, na comunicação a nível global, a nível de atividade, do repertório de interesses, e as atitudes dos demais não assumem para elas a mesma importância que por norma assume para outras crianças. Deste modo as crianças autistas representam um grande desa�o para os pro�ssionais, pelas vastas características que reúnem. “É importante e signi�cativo entender que o autismo é uma disfunção no desenvolvimento cerebral que tem origem na infância, que persiste ao longo de toda a vida e que pode dar origem a uma grande variedade de expressões clínicas” (MORAIS, 2012, p. 12). Conforme estudamos até o momento, o transtorno do espectro autista caracteriza-se por dé�cits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo dé�cits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de SAIBA MAIS Caro(a) acadêmico(a), para ampliar o seu conhecimento entre o autismo em relação à fala, linguagem e comunicação, o livro intitulado Autismo: fala, linguagem e comunicação, da autora Silvia Dias Caldas, elabora discussões sobre diferentes aspectos do autismo, especialmente a relação com a comunicação. Dessa forma, aborda os tipos do Transtorno do Espectro do Autismo, o desenvolvimento de linguagem, níveis de análise da fala e cognição social. A obra ainda trata de di�culdades semânticas, linguagem não verbal, sistemas aumentativos e alternativos de comunicação, bem como questões sobre brincadeira e música. Fonte: Caldas (2020). comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, estas informações são baseadas nos dados do DSM-5. Os indivíduos com TEA apresentam um processamento perceptivo centrado nos detalhes, o que determina que a exploração dos objetos não aconteça de uma forma típica, sendo, muitas vezes, não vinculada às funções do objeto, mas a seus detalhes. Por exemplo: ao brincar com um carrinho, a criança não faz explorando a ação do brinquedo, mas desmontando, en�leirando, classi�cando por cor ou tamanho, ou sem uma prévia classi�cação, e mantendo-se atento às rodinhas, fazendo-as girar por horas sem um objetivo especí�co (SILVA; ROZEK, 2020, p. 9). A American Psychiatric Association (APA, 2014) traz os principais sintomas que caracterizam a gravidade baseada em prejuízos na comunicação social e em padrões de comportamento restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades – ATENÇÃO! Os exemplos são ilustrativos, e não executivos –, sendo eles: Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas). Insistência nas mesmas coisas, adesão in�exível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (por exemplo, sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, di�culdades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente). Os principais sintomas que caracterizam a di�culdade de integração, segundo a American Psychiatric Association (2014), são: Dé�cits na reciprocidade sócio emocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e di�culdade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a di�culdade para iniciar ou responder a interações sociais. Dé�cits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou dé�cits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal. Dé�cits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de di�culdade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a di�culdade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares. Interesses �xos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (por exemplo, forte apego a ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos). Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (por exemplo, indiferença aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas especí�cas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento). Para melhor compreensão, a tabela a seguir retirada do DSM-5 ilustra as gravidades citadas anteriormente. Tabela 1 – Níveis de gravidade para transtorno do espectro autista Nível de gravidade Comunicação social Comportamentos restritos e repetitivos Nível 3 “Exigindo apoio muito substancial” Dé�cits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal causam prejuízos graves de funcionamento, grande limitação em dar início a interações sociais e resposta mínima a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa com fala inteligível de poucas palavras que raramente inicia as interações e, quando o faz,tem abordagens incomuns apenas para satisfazer as necessidades e reage somente a abordagens sociais muito diretas. In�exibilidade de comportamento, extrema di�culdade em lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/repetitivos interfere acentuadamente no funcionamento em todas as esferas. Grande sofrimento/di�culdade para mudar o foco ou as ações. Nível 2 “Exigindo apoio substancial” Dé�cits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal; prejuízos sociais aparentes mesmo na presença de apoio; limitação em dar início a interações sociais e resposta reduzida ou anormal a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa que fala frases simples, cuja interação se limita a interesses especiais reduzidos e que apresenta comunicação não verbal acentuadamente estranha. In�exibilidade do comportamento, di�culdade de lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/repetitivos aparecem com frequência su�ciente para serem óbvios ao observador casual e interferem no funcionamento em uma variedade de contextos. Sofrimentos e/ou di�culdade de mudar o foco ou as ações. Nível 1 “Exigindo apoio” Na ausência de apoio, dé�cits na comunicação social causam prejuízos notáveis. Di�culdade para iniciar interações sociais e exemplos claros de respostas atípicas ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros. Pode parecer apresentar interesse reduzido por interações sociais. Por exemplo, uma pessoa que consegue falar frases completas e envolver-se na comunicação, embora apresente falhas na conversação com os outros e cujas tentativas de fazer amizades são estranhas e comumente malsucedidas. In�exibilidade de comportamento causa interferência signi�cativa no funcionamento em um ou mais contextos. Di�culdade em trocar de atividade. Problemas para organização e planejamento são obstáculos à independência. Fonte: American Psychiatric Association (2014, p. 52). REFLITA “As pessoas com autismo não mentem, não julgam, não manipulam. Talvez possamos aprender alguma coisa com elas.” Fonte: a autora (2020). Causas do transtorno do espectro do autismo (TEA) Caro(a) estudante, buscaremos neste último tópico compreender algumas das prováveis causas do Transtorno do Espectro Autista (TEA), que é um transtorno de comportamento multifacetado, de base neurológica. Para a construção dessa investigação acerca das possíveis causas do TEA, faremos um resgate de suas características centrais, ou seja, a tríade de identi�cação dessa síndrome que possui rami�cações e camadas díspares, variáveis de indivíduo. São elas, de acordo com a American Psychiatric Association (APA, 2014): 1. Prejuízos na interação social 1. 1 Prejuízo no uso de comportamento não verbais a) Contato visual direto b) Expressão facial c) Gestos comunicativos 1. 2 Di�culdade para estabelecer relacionamentos com colegas 1. 3 Di�culdades para compartilhar prazer, interesses ou desconforto 1. 4 Falta de reciprocidade social/emocional 2. Prejuízos na comunicação a) Atraso ou ausência da fala expressiva b) Di�culdade para iniciar ou manter uma conversação c) Uso estereotipado e repetitivo da linguagem, linguagem pedante d) Di�culdade na compreensão, na contextualização e)Alterações na prosódia e articulação f) Di�culdades para compreender metáforas g) Di�culdades para compreender �guras de linguagem h) Tendência para compreensão literal 3. Padrões restritos de comportamento, interesses e atividades. 3. 1 Preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse 3. 2 Maneirismos estereotipados e repetitivos 3. 3 Apego excessivo a rotinas 3. 4 Preocupação persistente com partes de objetos Resgatamos as características principais do TEA, uma vez que as di�culdades encontradas pelos pro�ssionais das mais diversas áreas para desenvolverem suas práticas e voltá-las aos autistas. Isso porque, mesmo com a presença desses sintomas, em todos os diagnósticos clínicos neurológicos e multidisciplinares, cada indivíduo – ou, no jordão médico, cada quadro clínico – apresenta variáveis graus de gravidade. Existe uma vasta bibliogra�a sobre as várias teorias que procuram explicar o problema da etiologia ou a causa do quadro clínico do autismo, no entanto serão elencadas aqui as hipóteses que se mostraram mais relevantes em relação à importância das investigações, bem como aos avanços que proporcionaram no contexto da American Psychiatric Association (APA, 2014), são elas: 1. Teoria psicológica 2. Teoria cognitiva 3. Fatores biológicos evidentes: gêmeos, história familiar e síndromes 4. Ausência de marcador biológico 5. Diagnóstico clínico Dessa forma, apresentaremos no quadro a seguir um esboço sobre as principais teorias: Quadro 1 - As principais teorias da causa do TEA Teoria psicológica Durante muito tempo a abordagem predominante foi a psicológica. Muitos teóricos defendiam a hipótese de que o autismo seria o resultado de progenitoras ou mães frias. Essa teoria foi combatida e superada em seus fundamentos, não sendo mais referência para o debate. Teoria cognitiva Essa teoria trabalha com distúrbios na formação e na cognição cerebral, que levariam a um quadro. É uma das mais aceitas na comunidade acadêmica que estuda o TEA, pois as evidências das pesquisas nacionais e internacionais demonstraram, em um contínuo processo de amadurecimento cientí�co, que o indivíduo com autismo. Fatores biológicos evidentes É consenso entre a comunidade acadêmica que os fatores biológicos são muito presentes em crianças com TEA. Cite-se os casos de autismo em gêmeos e os casos de mulheres que gestaram uma criança autista e, na segunda gravidez, geraram outra criança também autista, ou seja, o histórico familiar é considerável, pois aumenta o risco de nascimentos de crianças com TEA. As síndromes também são probabilidades, visto que uma criança com uma síndrome apresenta alteração neurológica e que existe uma grande associação entre síndromes e comportamentos autísticos. Ausência de marcador biológico Biomarcadores ou marcadores biológicos são entidades que podem ser medidas experimentalmente e indicam a ocorrência de determinada função normal ou patológica de um organismo ou uma resposta a um agente farmacológico. A falta de um exame de sangue, uma tomogra�a ou um eletroencefalograma, por exemplo, que demonstra que a pessoa tem TEA, faz com que o diagnóstico se paute na observação clínica. Diagnóstico clínico No âmbito do raciocínio clínico do especialista que avalia a criança, a investigação deverá ser realizada com bases nas teorias anteriores citadas, ou melhor, tomando os elementos contidos nas “tendências hipotéticas” anteriores que, dentro da gama de indícios, elementos e linhas de possibilidades, mantiveram-se como pressuposto ou como base para que a tendência hipotética que usamos hoje caminhe em direção a um hipótese cientí�ca, podendo elevar a possibilidade de acerto quanto às especi�cidades de cada caso. Fonte: Bacarin (2020). Nos últimos 60 anos de produções e estudos sobre as possíveis causas do autismo criaram uma rotina em que várias teorias foram aparecendo e posteriormente dando espaço a outras teorias, sendo as cinco listadas anteriormente as mais signi�cativas. Sobre o TEA, a causa do autismo permanece desconhecida, entretanto, existe um conjunto de elementos a se considerar, sendo elas: evidências cientí�cas; pesquisas nas mais diversas áreas; evidências em neuroimagens e neurocomportamento; avaliações neuropsicológicas. Pesquisados ao analisarem os elementos evidências citados anteriormente, inferiram que até o presente momento o problema do TEA é neurobiológico. Nesse sentido, o TEA não é um problema emocional, ele é gerado por alterações na biologia do cérebro. Contudo, a causa dessa alteração é desconhecida, bem como o que desencadeia esse processo (BACARIN,2020). O que se sabe é que alguns fatores do ambiente podem ter relação causal, a saber, sendo: prematuridade; intercorrências como anoxia neonatal; problemas relacionados ao nascimento da criança; alguns distúrbios metabólicos (BACARIN, 2020). Todavia, apesar dos fatores ambientais mais precisos, não se sabe qual é a causa principal e, no geral, não se sabe qual é o gatilho que desencadeia o transtorno. No entanto, existem alguns fatores de risco que estão relacionados ao aparecimento de uma criança autista em uma família. Isto é: quando se deve suspeitar que uma família corre risco maior de ter um �lho autista? Basicamente, quando já existe uma criança TEA e em prematuros. Caro(a) estudante, para �nalizarmos e não deixar de expor todas as teorias que envolvem a discussão das causas do TEA, apresentaremos a teoria da mente. Como vimos as causas não são corretas, uma das teorias mais aceitas, no domínio cientí�co, associa os múltiplos fatores mais prováveis a uma alteração nos processos ativação e desativação controlados por genes de determinadas regiões cerebrais associadas à linguagem, à cognição social e à criatividade. Isso con�rma as narrativas apresentadas no Quadro 1, que relacionam o TEA a @freepik Sobre o TEA, a causa do autismo permanece desconhecida, entretanto, existe um conjunto de elementos a se considerar, sendo elas: evidências cientí�cas; pesquisas nas mais diversas áreas; evidências em neuroimagens e neurocomportamento; avaliações neuropsicológicas. Pesquisados ao analisarem os elementos evidências citados anteriormente, inferiram que até o presente momento o problema do TEA é neurobiológico . Nesse sentido, o TEA não é um problema emocional, ele é gerado por alterações na biologia do cérebro . Contudo, a causa dessa alteração é desconhecida, bem como o que desencadeia esse processo (BACARIN, 2020). um distúrbio na formação e na cognição cerebral, isto é, desvio no desenvolvimento do cérebro em decorrência de uma combinação de fatores genéticos e ambientais – nem todos conhecidos –, conforme �gura a seguir: Figura 4 - Autismo - possível origem do problema Crianças normais Crianças autistas Corpo celular diminuído Corpo celular normal Células da pele Célula reprogramadora Neurônio Neurônio com menos extensões Células da pele Célula reprogramadora Neurônio O material colhido foi revertido em estágio semelhante ao de células-tronco embrionárias Após a reprogramação das células em neurônios, ficou constatado que as células de pessoas autistas tinham menos extensões para fazer ligações com outras Cientistas agruparam em dois grupos distintos crianças normais e com autismo Foram extraídas células da pele dos voluntários Fonte: Bacarin (2020, p. 71). Para uma corrente de pesquisadores, o conjunto desses fatores, ainda muito imprecisos, di�culta o desenvolvimento de habilidades de compreensão e dedução da gama de estados mentais, imaginativos e emocionais, de crenças, desejos e intenções. A essa hipótese se denomina Teoria da Mente (Theory of Mind - TM) (BACARIN, 2020). Silva, Gaiato e Reveles (2012, p. 84) observam que “o ser humano desenvolveu, ao longo de sua existência, habilidades de comunicação e de linguagem tão so�sticadas que aprendeu a se relacionar de maneira muito complexa. Às vezes, a comunicação é tão rica que nem é preciso falar para se fazer entender”. Caro(a) estudante, para compreender melhor essa colocação, o exemplo irá auxiliar na compreensão, se estamos em uma conversa e o interlocutor começa a bocejar, podemos ter a sensação de que nosso papo está desagradável ou cansativo e tendemos, naturalmente, a mudar o rumo da conversa. Ou ainda, quando uma pessoa faz uma brincadeira irônica, percebemos que por trás da sua fala existe um deboche, a pessoa não falou, mas passou a mensagem através do seu jeito de falar, da entonação da voz e da expressão facial. Já o autista tem di�culdades de perceber estados mentais, o que faz com que avaliem, de forma equivocada, uma série de situações sociais, ou ainda, simplesmente não conseguem entendê-las. As pessoas com autismo levam mais tempo para aprender o signi�cado de certas atitudes e demoram para interagir, já que não compreendem as sensações e emoções dos outros. Por exemplo, podem falar por horas e horas sobre o mesmo tema, sem perceber que o interlocutor está entediado. A di�culdade do autista em mentir ou enganar também está relacionada à teoria da mente, ele não consegue imaginar que a outra pessoa esteja pensando de forma diferente dele (SILVA; GAIATO; REVELES, 2012). Assim sendo, enquanto pessoas neurotípicas (é um neologismo amplamente utilizado na comunidade autística como um rótulo para pessoas que não estão no espectro do autismo) têm uma capacidade inerente à sua espécie de entender estados psíquicos e perceber intencionalidades da outra pessoa (Figura 5), o indivíduo TEA não possui essa capacidade (BACARIN, 2020). Figura 5 - Compreensão dos estados psíquicos e intencionalidades Fonte: Bacarin (2020, p. 71). Caro(a) estudante, um dos erros recorrentes no processo de análise de uma possível criança com TEA acontece na fase de investigação, quando, ao serem levantadas as possíveis incidências, o grupo de pro�ssionais ou o diagnóstico clínico foca sua busca em encontrar associações. Para isso, a importância de uma avaliação multidisciplinar, como: pedagogo, psicopedagogo, pro�ssional da área da educação especial, fonoaudiólogo, entre outros, reúnem informações para o médico, no qual tenha elementos para fazer o diagnóstico. Em resumo, o diagnóstico depende da avaliação multidisciplinar e da família, com relatórios detalhados da instituição escolar, fotos e vídeos da família, bem como a importância do DSM é que o manual ajuda a padronizar o que se deve comparar. SAIBA MAIS Você, caro(a) acadêmico(a), sabia que o Manual da Classi�cação Internacional da Organização Mundial de Saúde (OMS), é um importante manual, pois está no fato de apresentar a classi�cação das tipi�cações das síndromes e como compreendê-las? Fonte: a autora (2020). REFLITA “A vida é como um quebra-cabeças. Deveríamos parar de tentar encaixar as pessoas onde elas não cabem.” Fonte: Google. Livro Filme Web Métodos educacionais de intervenção e apoio a inclusão do aluno com TGD-TEA AUTORIA Fabiane Fantacholi Guimarães Greicy Juliana Moreira Sumário Introdução 1 - Método TEACCH 2 - PECs – sistema de comunicação por troca de �guras 3 - ABA – análise aplicada do comportamento 4 - Outras técnicas de apoio educacional Considerações Finais Introdução Caro(a) acadêmico(a), Seja bem-vindo(a) à Unidade III, intitulada “Métodos Educacionais de Intervenção e apoio a inclusão do aluno com TGD-TEA”, da disciplina de Atendimento Educacional de Aluno com Transtornos Globais do Desenvolvimento do curso de Graduação em Educação Especial. No primeiro momento: conhecer o Método Tratamento e Educação de Criança Autistas e com Desvantagens na Comunicação (TEACCH), no qual este método de tratamento e educação é um dos mais importantes métodos de tratamento educacional para crianças com autismo e distúrbios correlatos de comunicação. No segundo momento: aprender sobre o PECs (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras), no qual trata-se de um procedimento para o processo de ensino e aprendizagem de pessoas com distúrbios de comunicação, muito utilizado também com pessoas com TEA, que estimula a funcionalidade da comunicação por intermédio da troca de �guras. No terceiro momento: entender sobre a Análise Aplicada do Comportamento (ABA), em que seu método se refere à intervenção e ao ensino de aptidões necessárias para viver em uma sociedade, bem como é responsável por aplicar princípios comportamentais a situações sociais realmente relevantes. No quarto momento: consultar outras técnicas de apoio educacional, algumas das possibilidades de apoio educacional que são usualmente utilizadas para o processo de aprendizagem da criança com TEA, apenas para dar uma ideia a pais e pro�ssionais.Espero que estes textos colaborem para a sua melhor compreensão sobre o tema de nossa primeira unidade. Boa leitura! Plano de Estudo: 1. Método TEACCH 2. Pecs – Sistema de Comunicação por Troca de Figuras 3. ABA – Análise Aplicada do Comportamento 4. Outras técnicas de apoio educacional Objetivos de Aprendizagem: 1. Conhecer o Método TEACCH - Tratamento e Educação de Criança Autistas e com Desvantagens na Comunicação. 2. Aprender sobre o PECs – Sistema de Comunicação por Troca de Figuras. 3. Entender sobre a ABA – Análise Aplicada do Comportamento. 4. Consultar outras técnicas de apoio educacional. Método TEACCH Um dos mais importantes métodos de tratamento educacional para a pessoa com TEA é conhecido como método TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handicapped Children – traduzido: Tratamento e Educação de Criança Autistas e com Desvantagens na Comunicação). Ele constitui-se em um método de tratamento e educação para crianças com autismo e distúrbios correlatos de comunicação. Segundo as autoras Marques e Mello (2005), o objetivo máximo do TEACCH é apoiar o autismo em seu desenvolvimento para ajudá-lo a conseguir chegar à idade adulta com o máximo de autonomia possível. Isto inclui ajudá-lo a compreender o mundo que o cerca através da aquisição de habilidades de comunicação que lhe permitam relacionar- se com outras pessoas, oferecendo-lhes, até onde for possível, condições de escolher de acordo com suas próprias necessidades (MARQUES; MELLO, 2005, p.145). Sendo que a meta fundamental é o desenvolvimento da comunicação e da independência e o meio principal para isto é a educação. Assim, a avaliação é a ferramenta para a seleção de estratégias, que deverão ser estabelecidas individualmente. Com o avanço das pesquisas cientí�cas, essa ideia foi abandonada, e novos elementos foram considerados para o tratamento das pessoas com TEA, o que ampliou a visão e colaborou para mudanças no método TEACCH para enfatizar a importância do processo educacional a essas pessoas (DEFENDI, 2016). O TEACCH, ao contrário de métodos comportamentais, não ataca os problemas de comportamento diretamente, mas tenta analisar e eliminar as suas causas. Isso não quer dizer que técnicas de modi�cação de conduta sejam completamente eliminadas do método, mas que elas são utilizadas em situações de risco, nos casos em que as medidas tomadas, de acordo com o critério anteriormente descrito, não tenham sido e�cazes (MARQUES; MELLO, 2005). Em suma, o método TEACCH tem como foco promover competências adaptativas que são necessárias para desenvolver uma vida mais independente, buscando modi�car o ambiente para que se adapte às necessidades das crianças com TEA. @freepik Os primeiros estudos que originaram o método remontam à década de 1960 através do estudioso psicólogo americano, Eric Schopler, sendo uma abordagem psicanalítica, no qual surgiu no desenvolvimento de um projeto de investigação no Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Carolina do Norte nos Estados Unidos. Um grupo de pro�ssionais da área da saúde mental atendia às crianças com TEA em uma visão psicanalítica e oferecia terapia para elas e seus pais. Nesse período, acreditava-se que havia uma forte in�uência dos pais, que, em parte, eram considerados responsáveis pelo quadro de autismo dos seus �lhos (DEFENDI, 2016). O TEACCH é um modelo de intervenção chamado generalista e transdisciplinar, que respeita às características do indivíduo, adaptando-se a elas. Assim, todos aqueles que participam do processo educativo são envolvidos, diminuindo as di�culdades a um nível da linguagem receptiva, aumentando as possibilidades de comunicação e permitindo a diversidade de contextos. Tem por objetivo facilitar a aprendizagem, partindo do arranjo ambiental. Um ensino estruturado, que tem como alternativa promover a adaptação de cada indivíduo, dando e recebendo o apoio não só dos terapeutas como também dos pais, que se tornam co-terapeutas (SIMÃO, 2020). O TEACCH baseia-se na organização do ambiente e das tarefas a serem desempenhadas pela criança para facilitar que ela compreenda as expectativas que se tem acerca do seu desempenho escolar e para desenvolver sua independência. Desse modo, a intervenção do professor torna-se necessária apenas para a aprendizagem de novas atividades (DEFENDI, 2016). O método TEACCH também prioriza a organização de sala de aula em outras cinco áreas diferentes, sendo elas (SIMÃO, 2020, p. 54): Acolher: o planejamento das atividades é muito importante, já que a criança com TEA têm di�culdades em lidar com alterações de rotina. Aprender: o treino individualizado de competências em cada uma das áreas. Brincar: o estímulo de questões psicomotoras e relaxantes. Computador: destinado ao trabalho e à produção individual, de acordo com o plano diário. Por meio de uma avaliação denominada Per�l Psicoeducacional Revisado (PEP-R) é possível identi�car os pontos fortes e de maior interesse da criança, bem como suas di�culdades, de modo que se possa elaborar um programa educacional adequado à sua realidade. O PEP-R foi desenvolvido para se obter o coe�ciente de desenvolvimento das crianças com TEA, expresso por um número, a exemplo dos testes de inteligência. Tendo como meta a acuidade da avaliação, o PEP-R utiliza um sistema de comunicação essencialmente visual, em razão da di�culdade de compreensão característica das crianças com TEA (DEFENDI, 2016). SAIBA MAIS Você sabia, caro(a) acadêmico(a), que, no Brasil, o TEACCH é muito disseminado pelas professoras Maria Elisa Granchi Fonseca e Viviane Costa de Leon, habilitadas a dar formações e treinamentos no país? Fonte: a autora. O PEP-R avalia o nível de desenvolvimento em sete áreas de desenvolvimento, sendo: “imitação, performance cognitiva, cognitiva verbal, coordenação olho-mão, coordenação motora grossa, coordenação motora �na e percepção”. O PEP-R também fornece o coe�ciente de desenvolvimento geral e uma avaliação dos problemas de comportamento (BRASIL, 2004, p. 25). O método TEACCH considera que a criança com TEA desenvolve uma cultura própria. Nesse caso, o professor atuaria como um intérprete, conectando duas culturas diferentes. As principais áreas do atendimento educacional das pessoas com TEA, segundo o método TEACCH, são: “envolvimento dos pais, avaliação de ensino estruturado, manejo de comportamento, habilidades de comunicação, habilidades sociais e de lazer e treinamento pré-vocacional e de independência” (DEFENDI, 2016, p. 27). Figura 1 - Material de apoio - Método TEACCH Fonte: Apoio Autista (2019). Figura 2 - Material de apoio - Método TEACCH Fonte: Mara (2015). SAIBA MAIS Caro(a) acadêmico(a), para conhecer de maneira mais profunda esse método de trabalho com pessoas com TEA, sugerimos a leitura dos seguintes artigos: ARTIGO 1 ARTIGO 2 http://www.unisalesiano.edu.br/biblioteca/monografias/62122.pdf https://sapientia.ualg.pt/bitstream/10400.1/7874/1/A%20import%c3%a2nia%20do%20M%c3%a9todo%20TEACCH%20na%20inclus%c3%a3o%20de%20uma%20crian%c3%a7a%20autista.pdf PECs – sistema de comunicação por troca de �guras PECs (Picture Exchange Communication System - traduzido: Sistema de Comunicação por Troca de Figuras), desenvolvido nos EUA por Andy Bondy e Lori Frost, trata-se de um procedimento para o processo de ensino e aprendizagem de pessoas com distúrbios de comunicação, muito utilizado também com pessoas com TEA, que estimula a funcionalidade da comunicação por intermédio da troca de �guras. PECs é considerado como modelo alternativo e aumentativo da comunicação, em que o indivíduo aprende a se comunicar utilizando a troca de �guras. É um modelo que proporciona muitos progressos nas habilidades de comunicação, apresentando maior independência e redução dos comportamentos inadequados, e buscando uma melhoria na abordagem social e interação com os demais (SIMÃO, 2020). O treino com o PECs se dá em seis fases e deve ser feita após uma boa avaliação do nível de comunicação da pessoa por um fonoaudiólogoespecializado, pro�ssional habilitado para identi�car, diagnosticas e tratar indivíduos com distúrbios da comunicação oral e escrita, e com a participação de todos os envolvidos na sua vida, as fases são (BONDY; FROST, 1994): 1. Fazer pedidos através da troca de �guras pelos itens desejados; 2. Ir até a tábua de comunicação, apanhar uma �gura, ir a um adulto e entregá-la em sua mão; 3. Discriminar entre as �guras; 4. Solicitar itens utilizando várias palavras em frases simples, �xadas na tábua de comunicação; 5. Responder à pergunta “O que você quer”; 6. Emitir comentários espontâneos. O objetivo do sistema PECs “é ensinar o indivíduo a comunicar-se através de troca de �guras. Mais especi�camente, aproximar-se de outro indivíduo e oferecer-lhe a �gura de um item na tentativa de obter tal item” (MIGUEL; BRAGA-KEYON; KENYON, 2005, p. 178). Assim, por meio deste sistema é possível ensinar a criança diagnosticada com autismo (ou outros transtornos de desenvolvimento) a expressar aquilo que ela deseja de uma forma espontânea e em um contexto social (por meio da interação com outro indivíduo). Com o PECs, o indivíduo adquire o comportamento verbal não vocal, isto é, aprende a se comunicar funcionalmente emitindo respostas através de consequências mediadas por outra pessoa e por meio de �guras, fazendo a troca de imagens pelos objetos de interesse ou por algum outro reforçador generalizado (BONDY, 2001). O treino do PECs, inicialmente, ensina o indivíduo a pedir algo que lhe interessa: pode ser um objeto ou até mesmo uma situação (um intervalo, ir ao banheiro, ir para casa etc.). O sujeito aprende a dar uma �gura para outra pessoa (representação de um objeto ou de uma situação), que, por sua vez, lhe entregará o que foi pedido. Indivíduos nessa fase do treino aprendem rapidamente novos comportamentos, pois são imediatamente reforçados pelas consequências de suas respostas (BONDY, 2001). O PECs tem sido bem aceito em vários lugares do mundo, pois não demanda materiais complexos ou caros, é relativamente fácil de aprender, pode ser aplicado em qualquer lugar e quando bem aplicado apresenta resultados inquestionáveis na comunicação através de cartões em crianças que não falam, e na organização da linguagem verbal em crianças que falam, mas que precisam organizar esta linguagem. (MELLO, 2007). Figura 3 - Exemplo de PECs Fazer cama Brincar Mãe lê história Forte Molhado Seco Dela Dele Nosso DelesTeu MeuMeu Esquerda DiretaTeu Magro Feia Muito Grande Muito Pequeno Fraco Lavar Cabelo Casa Bicicleta Lavar Mãos Casa Banho Ligar Pôr Mesa Regar as plantas Lavar Dentes Lixo Despejar lixo Levantar Mesa Arrumar quarto Vestir Dormir Cortas unhas Banho Banho Bonita XL XS Fonte: Vieira (2019). Figura 4 - Exemplo de PECs Fonte: Autismo em dia (2020). Figura 5 - Exemplo de PECs Fontes: Pyramid Educational Consultants (2019). REFLITA “Que os vossos esforços desa�em as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível”. (Charles Chaplin) Fonte: Google. ABA – análise aplicada do comportamento ABA (Applied Behavior Analysis - traduzido: Análise do Comportamento Aplicada), é um método que se refere à intervenção e ao ensino de aptidões necessárias para viver em uma sociedade. Ela é responsável por aplicar princípios comportamentais a situações sociais realmente relevantes. A aplicação da ABA demonstrou sua e�cácia no que concerne à utilização em diferentes meios, como escola, empresas e situações diferenciadas. Depois, ela foi empregada com diversos tipos de indivíduos, como as crianças típicas e as que apresentavam comportamento atípico, bem como adolescentes, jovens, adultos e idosos com e sem doenças crônicas (TAVARES, 2020). ABA é empregada com diferentes públicos, no caso do autista, sugere-se que o início do tratamento seja prioritariamente utilizado em crianças pequenas, uma vez que o cérebro desses indivíduos está mais aberto a receber as informações e a modi�car comportamentos, devido à ação da neuroplasticidade entre os neurônios (TAVARES, 2020). CONCEITUANDO ABA é um termo do campo cientí�co do behaviorismo que observa, analisa e explica a associação entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem. (TAVARES, 2020). Alguns princípios são essenciais para que a dinâmica da ABA dê certo e é preciso saber que princípios são esses. A seguir, caro(a) acadêmico(a), estão elencados pontos sugeridos por Brites e Brites (2019), que correspondem a atitudes que devem ser pensadas quando se trata da aplicação da ABA. Deve ser aplicada por pro�ssionais capacitados e qualquer pessoa pode receber treinamento para cumprir essa função. Os pro�ssionais que trabalham com crianças nas áreas de saúde e educação devem conhecer e se capacitar na ABA. Os pais devem saber sobre a ABA e manter, nos diferentes ambientes que frequenta, as ações orientadas pela clínica. As ações devem ser integradas entre a clínica e a escola, para que funcionem em consonância com a proposta. Diante de tais recomendações dos autores supracitados, pode-se a�rmar que todos os envolvidos no trabalho devem conhecer a aplicação da mesma forma que a ABA, para que realmente tenha resultados. Caso um dos eixos falhe, a criança irá perceber essa brecha e o comportamento não será modelado adequadamente. @freepik ABA tem sido aplicada na área de saúde (a psicologia, a terapia ocupacional, e fonoaudiologia etc.) e na educação . Essa é a maior abordagem de tratamento empregada em autistas. “Os pro�ssionais que aplicam essa abordagem precisam conhecer os princípios básicos e �car atentos para, na aplicação, avaliar a e�cácia das intervenções pensadas para cada indivíduo” (TAVARES, 2020, p. 53). Dessa forma, é possível observar se atingiram os resultados esperados. Dessa forma, espera-se a modelagem adequada dos padrões de comportamento, que tende a acontecer mais rápido caso a criança seja mais nova. Para que a aplicação da ABA ocorra da melhor forma possível, é necessário que alguns pontos sejam trabalhados e vistos como parte do processo de aprendizagem. Para isso destacamos alguns pontos, sendo eles (TAVARES, 2020): Torne o ambiente de aprendizagem reforçador. Prepare o ambiente de aprendizagem. Combine e varie demandas de ensino. Intercale tarefas fáceis e difíceis. Aumente gradualmente o número de demandas. Agilize o ritmo de instrução. Ensine �uência das habilidades. Cartões de dicas para professores. Contato visual. Técnicas comportamentais usadas em ABA. Exemplo de currículo, espaço de trabalho e aulas. Diante de tais dicas, caro(a) estudante, é imprescindível alinhar os procedimentos com os demais terapeutas. Objetiva-se modi�car o comportamento conforme o padrão para que o aprendizado seja generalizado. Dessa forma, o sujeito pode aplicar aquilo que aprendeu em diferentes contextos e colher os benefícios gerados pela adequação comportamental. “Nesse processo, podem-se adotar modelos de observação verbal do comportamento e uma descrição detalhada de pequenos atos por tentativas discretas empreendidas entre terapeuta e cliente” (BRITES; BRITES, 2019, p. 112). Essa abordagem possibilita que o sujeito possa identi�car as relações comportamentais que precisam ser alteradas e buscar “de�nir os procedimentos de modo completo, preciso e sistemático a �m de construir um padrão que possa ser replicado pelos terapeutas e pelos pais” (BRITES; BRITES, 2019, p. 111). Para colaborar com a implementação do programa, primeiramente é necessário observar o comportamento da criança em situações ambientais e diante de seus familiares, ou então no âmbito escolar. “Nesse processo, identi�cam-se situações negativas e positivas e descrevem-se as reações da criança nesse contexto. Delineiam-se, a partir daí, estratégias sequenciais de respostas que a criança poderia ter com o uso de motivações e reforços positivos” (BRITES; BRITES, 2019, p. 110). Assim, o processo terapêutico é aplicado e vivenciado em diferentes contextos, modelando funcionalmente
Compartilhar