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1 Conteúdo 1 - Sistema Financeiro Nacional: Estrutura do Sistema Financeiro Nacional; Órgãos normativos e instituições supervisoras, executoras e operadoras. 2 - Mercado financeiro e seus desdobramentos (mercados monetário, de crédito, de capitais e cambial). 3 - Moeda e política monetária: Políticas monetárias convencionais e não-convencionais (Quantitative Easing); Taxa SELIC e operações compromissadas; O debate sobre os depósitos remunerados dos bancos comerciais no Banco Central do Brasil. 4- Orçamento público, títulos do Tesouro Nacional e dívida pública. 5 - Produtos Bancários: Noções de cartões de crédito e débito, crédito direto ao consumidor, crédito rural, poupança, capitalização, previdência, consórcio, investimentos e seguros. 6 - Noções de Mercado de capitais. 7 - Noções de Mercado de Câmbio: Instituições autorizadas a operar e operações básicas. 8- Regimes de taxas de câmbio fixas, flutuantes e regimes intermediários. 9 - Taxas de câmbio nominais e reais; 10 - Impactos das taxas de câmbio sobre as exportações e importações. 11 - Diferencial de juros interno e externo, prêmios de risco, fluxo de capitais e seus impactos sobre as taxas de câmbio. 12- Dinâmica do Mercado: Operações no mercado interbancário. 13 - Mercado bancário: Operações de tesouraria, varejo bancário e recuperação de crédito. 14 - Taxas de juros de curto prazo e a curva de juros; taxas de juros nominais e reais. 15 - Garantias do Sistema Financeiro Nacional: aval; fiança; penhor mercantil; alienação fiduciária; hipoteca; fianças bancárias. 16 - Crime de lavagem de dinheiro: conceito e etapas; Prevenção e combate ao crime de lavagem de dinheiro: Lei nº 9.613/98 e suas alterações; Circular nº 3.978, de 23 de janeiro de 2020 e Carta Circular nº 4.001, de 29 de janeiro de 2020 e suas alterações.17- Autorregulação bancária. 18 - Sigilo Bancário: Lei Complementar nº 105/2001 e suas alterações. 19 - Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD): Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018 e suas alterações. 20 - Legislação anticorrupção: Lei nº 12.846/2013 e Decreto nº 8.420/2015 e suas alterações. 21 - Segurança cibernética: Resolução CMN nº 4.658, de 26 de abril de 2018. 22 - Ética aplicada: ética, moral, valores e virtudes; noções de ética empresarial e profissional. A gestão da ética nas empresas públicas e privadas. Código de Ética do Banco do Brasil. 23 - Política de Responsabilidade Socioambiental do Banco do Brasil. 24 - ASG (Ambiental, Social e Governança): Economia Sustentável; Financiamentos; Mercado PJ. Coletâneas de Exercícios pertinentes Conhecimentos Bancários 2 1 - Sistema Financeiro Nacional: Estrutura do Sistema Financeiro Nacional; Órgãos normativos e instituições supervisoras, executoras e operadoras. O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é formado por um conjunto de instituições públicas, privadas e também pelo órgão máximo que é o Conselho Monetário Nacional (CMN). O Sistema Financeiro Nacional – SFN - esta subdivido em entidades normativas, supervisoras e operacionais. As entidades normativas são responsáveis pela definição das políticas e diretrizes gerais do sistema financeiro, sem função executiva. Em geral, são entidades colegiadas, com atribuições específicas e utilizam-se de estruturas técnicas de apoio para a tomada das decisões. Atualmente, no Brasil funcionam como entidades normativas o Conselho Monetário Nacional – CMN, o Conselho Nacional de Seguros Privados - CNSP e o Conselho Nacional de Previdência Complementar – CNPC. As entidades supervisoras, por outro lado, assumem diversas funções executivas, como a fiscalização das instituições sob sua responsabilidade, assim como funções normativas, com o intuito de regulamentar as decisões tomadas pelas entidades normativas ou atribuições outorgadas a elas diretamente pela Lei. O Banco Central do Brasil – BCB, a Comissão de Valores Mobiliários – CVM, a Superintendência de Seguros Privados – SUSEP e a Superintendência Nacional de Previdência Complementar – PREVIC são as entidades supervisoras do nosso Sistema Financeiro. Além destas, há as entidades operadoras, que são todas as demais instituições financeiras, monetárias ou não, oficiais ou não, como também demais instituições auxiliares, responsáveis, entre outras atribuições, pelas intermediações de recursos entre poupadores e tomadores ou pela prestação de serviços. Abaixo, relação dessas instituições, com descrição das principais atribuições de algumas delas. Entidades Normativas Conselho Monetário Nacional - CMN É o órgão deliberativo máximo do Sistema Financeiro Nacional. O CMN não desempenha função executiva, apenas tem funções normativas. Atualmente, o CMN é composto por três membros: Ministro da Fazenda (Presidente); Ministro do Planejamento Orçamento e Gestão; e Presidente do Banco Central. Trabalhando em conjunto com o CMN funciona a Comissão Técnica da Moeda e do Crédito (Comoc), que tem como atribuições o assessoramento técnico na formulação da política da moeda e do crédito do País. As matérias aprovadas são regulamentadas por meio de Resoluções, normativos de caráter público, sempre divulgadas no Diário Oficial da União e na página de normativos do Banco Central do Brasil. Conselho Nacional de Seguros Privados - CNSP O CNSP desempenha, entre outras, as atribuições de fixar as diretrizes e normas da política de seguros privados, regular a constituição, organização, funcionamento e fiscalização das Sociedades Seguradoras, de Capitalização, Entidades Abertas de Previdência Privada, Resseguradores e Corretores de Seguros. Conselho Nacional de Previdência Complementar CNPC O CNPC tem a função de regular o regime de previdência complementar operado pelas entidades fechadas de previdência complementar (Fundos de Pensão). Entidades Supervisoras As entidades supervisoras desenvolvem atividade complementar à realizada pelos órgãos normativos do SFN (Sistema Financeiro Nacional), sendo elas responsáveis pela supervisão das demais instituições que integram o sistema, ou seja, as instituições operadoras. Integram as entidades supervisoras: Banco Central do Brasil - BCB O Banco Central do Brasil foi criado em 1964 com a promulgação da Lei da Reforma Bancária (Lei nº 4.595 de 31.12.64). Sua sede é em Brasília e possui representações regionais em Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. É uma autarquia federal que tem como principal missão institucional assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda nacional e um sistema financeiro sólido e eficiente. 3 A partir da Constituição de 1988, a emissão de moeda ficou a cargo exclusivo do BCB. O presidente do BCB e os seus diretores são nomeados pelo Presidente da República após a aprovação prévia do Senado Federal, que é feita por uma arguição pública e posterior votação secreta. Entre as várias competências do BCB destacam-se: Assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda nacional e da solidez do Sistema Financeiro Nacional; Executar a política monetária mediante utilização de títulos do Tesouro Nacional; Fixar a taxa de referência para as operações compromissadas de um dia, conhecida como taxa SELIC; Controlar as operações de crédito das instituições que compõem o Sistema Financeiro Nacional; Formular, executar e acompanhar a política cambial e de relações financeiras com o exterior; Fiscalizar as instituições financeiras e as clearings (câmaras de compensação); Emitir papel-moeda; Executar os serviços do meio circulante para atender à demanda de dinheiro necessária às atividades econômicas; Manter o nível de preços (inflação) sob controle; Manter sob controle a expansão da moeda e do crédito e a taxa de juros; Operar no mercado aberto, de recolhimento compulsório e de redesconto; Executar o sistema de metas para a inflação; Divulgar as decisões do Conselho Monetário Nacional; Manter ativos de ouro e de moedas estrangeiras para atuação nos mercados de câmbio; Administrar as reservas internacionais brasileiras; Zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras nacionais; Conceder autorização para o funcionamento das instituições financeiras. Comissão de Valores Mobiliários - CVM A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi criada em 07 de dezembro de 1976 pela Lei 6.385 para fiscalizar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no Brasil. A Comissão de Valores Mobiliários é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Fazenda, porém sem subordinação hierárquica. Com o objetivo de reforçar sua autonomia e seu poder fiscalizador, o governo federal editou, em 31.10.01, a Medida Provisória nº 8 (convertida na Lei 10.411 de 26.02.02), pela qual a CVM passa a ser uma "entidade autárquica em regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de autoridade administrativa independente, ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes, e autonomia financeira e orçamentária" (art. 5º). É administrada por um Presidente e quatro Diretores nomeados pelo Presidente da República e aprovados pelo Senado Federal. Eles formam o chamado "colegiado" da CVM. Seus integrantes têm mandato de 5 anos e só perdem seus mandatos "em virtude de renúncia, de condenação judicial transitada em julgado ou de processo administrativo disciplinar" (art. 6º § 2º). O Colegiado define as políticas e estabelece as práticas a serem implantadas e desenvolvidas pelas Superintendências, as instâncias executivas da CVM. Sua sede é localizada na cidade do Rio de Janeiro com Superintendências Regionais nas cidades de São Paulo e Brasília. Essas são algumas de suas atribuições: Estimular a formação de poupança e a sua aplicação em valores mobiliários; Assegurar e fiscalizar o funcionamento eficiente das bolsas de valores, do mercado de balcão e das bolsas de mercadorias e futuros; Proteger os titulares de valores mobiliários e os investidores do mercado contra emissões irregulares de valores mobiliários e contra atos ilegais de administradores de companhias abertas ou de carteira de valores mobiliários; Evitar ou coibir modalidades de fraude ou de manipulação que criem condições artificiais de demanda, oferta ou preço dos valores mobiliários negociados no mercado; Assegurar o acesso do público a informações sobre os valores mobiliários negociados e sobre as companhias que os tenham emitido; Assegurar o cumprimento de práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários; Assegurar o cumprimento, no mercado, das condições de utilização de crédito fixadas pelo Conselho Monetário Nacional. Realizar atividades de credenciamento e fiscalização de auditores independentes, administradores de carteiras de valores mobiliários, agentes autônomos, entre outros; Fiscalizar e inspecionar as companhias abertas e os fundos de investimento; Apurar, mediante inquérito administrativo, atos ilegais e práticas não-equitativas de administradores de companhias abertas e de quaisquer participantes do mercado de valores mobiliários, aplicando as penalidades previstas em lei; 4 Fiscalizar e disciplinar as atividades dos auditores independentes, consultores e analistas de valores mobiliários. Superintendência de Seguros Privados - SUSEP A Susep é o órgão responsável pelo controle e fiscalização dos mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. Criada em 1966 pelo Decreto-Lei 73/66, que também instituiu o Sistema Nacional de Seguros Privados, de que fazem parte o CNSP, o IRB, as sociedades autorizadas a operar em seguros privados e capitalização, as entidades de previdência privada aberta e os corretores habilitados. É uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, administrada por um Conselho Diretor, composto pelo Superintendente e por quatro Diretores. Essas são algumas de suas atribuições: Fiscalizar a constituição, organização, funcionamento e operação das Sociedades Seguradoras, de Capitalização, Entidades Abertas de Previdência Privada e Resseguradores, na qualidade de executora da política traçada pelo CNSP; Atuar no sentido de proteger a captação de poupança popular que se efetua através das operações de seguro, previdência privada aberta, de capitalização e resseguro. Superintendência Nacional de Previdência Complementar - PREVIC A Previc atua como entidade de fiscalização e de supervisão das atividades das entidades fechadas de previdência complementar e de execução das políticas para o regime de previdência complementar operado por essas entidades. É uma autarquia vinculada ao Ministério da Previdência Social. Entidades Operadoras Órgãos Oficiais Banco do Brasil - BB O Banco do Brasil é o mais antigo banco comercial do Brasil e foi criado em 12 de outubro de 1808 pelo príncipe regente D. João. É uma sociedade de economia mista de capitais públicos e privados. É também uma empresa aberta que possui ações cotadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBOVESPA). O BB opera como agente financeiro do Governo Federal e é o principal executor das políticas de crédito rural e industrial e de banco comercial do governo. E a cada dia mais tem se ajustado a um perfil de banco múltiplo tradicional. Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES Criado em 1952 como autarquia federal, hoje é uma empresa pública vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio. É responsável pela política de investimentos a longo prazo do Governo Federal, necessários ao fortalecimento da empresa privada nacional. Com o objetivo de fortalecer a estrutura de capital das empresas privadas e desenvolvimento do mercado de capitais, o BNDES conta com linhas de apoio para financiamentos de longo prazo a custos competitivos, para o desenvolvimento de projetos de investimentos e para a comercialização de máquinas e equipamentos novos, fabricados no país, bem como para o incremento das exportações brasileiras. Os financiamentos são feitos com recursos próprios, empréstimos e doações de entidades nacionais e estrangeiras e de organismos internacionais, como o BID. Também recebe recursos do PIS e PASEP. Conta com duas subsidiárias integrais, a FINAME (Agência Especial de Financiamento Industrial) e a BNDESPAR (BNDES Participações), criadas com o objetivo, respectivamente, de financiar a comercialização de máquinas e equipamentos; e de possibilitar a subscrição de valores mobiliários no mercado de capitais brasileiro. As três empresas, juntas, compreendem o chamado "Sistema BNDES". Caixa Econômica Federal - CEF Criada em 12 de janeiro de 1861 por Dom Pedro II com o propósito de incentivar a poupança e de conceder empréstimos sob penhor. É a instituição financeira responsável pela operacionalização das políticas do Governo Federal para habitação popular e saneamento básico. A Caixa é uma empresa 100% pública e não possui ações em bolsas. Além das atividades comuns de um banco comercial, a CEF também atende aos trabalhadores formais - por meio do pagamento do FGTS, PIS e seguro- desemprego, e aos beneficiários de programas sociais e apostadores das Loterias. As ações da Caixa priorizam setores como habitação, saneamento básico, infraestrutura e prestação de serviços. Demais Entidades Operadoras Instituições Financeiras Monetárias São as instituições autorizadas a captar depósitos à vista do público. Atualmente, apenas os Bancos 5 Comerciais, os Bancos Múltiplos com carteira comercial, a Caixa Econômica Federal e as Cooperativas de Crédito possuem essa autorização. Demais Instituições Financeiras Incluem as instituições financeiras não autorizadas a receber depósitos à vista. Entre elas, podemos citar: Agências de Fomento Associações de Poupança e Empréstimo Bancos de Câmbio Bancos de Desenvolvimento Bancos de Investimento Companhias Hipotecárias Cooperativas Centrais de Crédito Sociedades Crédito, Financiamento e Investimento Sociedades de Crédito Imobiliário Sociedades de Crédito ao Microempreendedor Outros Intermediários Financeiros São também intermediários do Sistema Financeiro Nacional: Administradoras de Consórcio; Sociedades de Arrendamento Mercantil; Sociedades corretoras de câmbio; Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários; Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários. Instituições Auxiliares Também compõem o Sistema Financeiro Nacional, como entidades operadoras auxiliares, as entidades administradores de mercados organizados de valores mobiliários, como os de Bolsa, de Mercadorias e Futuros e de Balcão Organizado. Além das entidades relacionadas acima, também integram o SFN as companhias seguradoras, as sociedades de capitalização, as entidades abertas de previdência complementar e os fundos de pensão. 2 - Mercado financeiro e seus desdobramentos (Mercados monetário, de crédito, de capitais e cambial). O mercado financeiro é composto das operações de aquisição e venda de ativos. Todas essas operações dependem de duas peças fundamentais: o mercado monetário e o de capitais. O mercado monetário é exclusivo para operações de curto prazo, influenciadas pela atuação do Banco Central e que envolve também instituições financeiras. O mercado financeiro é fundamental para o desenvolvimento do país. O que é mercado financeiro? O mercado financeiro é um intermediador entre poupadores e tomadores de recursos. Dessa forma, sem essa intermediação, cada agente que tem dinheiro a emprestar teria muito trabalho para encontrar aqueles que precisam desse dinheiro. Por isso, através do papel do mercado financeiro, os superavitários conseguem multiplicar seu capital e os deficitários conseguem os recursos necessários para financiar suas atividades. Dinâmica do Mercado Financeiro 6 Desse modo, o mercado financeiro viabiliza o desenvolvimento e o crescimento do país, possibilitando o aumento de produtividade, da eficiência e do bem-estar social. Nesse sentido, o conjunto de instituições que integram esse mercado é definido como Sistema Financeiro Nacional (SFN). Portanto, o mercado financeiro tem algumas funções: Estimular a formação de poupanças; Facilitação de transferências de recursos entre os agentes; e Provisão de liquidez aos agentes. Como funciona o mercado financeiro Basicamente, as instituições financeiras captam recursos daqueles que têm poupança e emprestam para aqueles que precisam. Os agentes pegam empréstimos, como empresas que desejam fazer investimentos no seu negócio para expandir suas operações. Nesse processo, o lucro da instituição financeira se dá pela diferença do valor que ela paga ao poupador e cobra do tomador. Divisões do mercado financeiro Contudo, o sistema financeiro não se resume a isso. Na verdade, ele se divide em alguns segmentos: Mercado monetário: O mercado monetário é responsável por fazer financiamentos de curto e curtíssimo prazo. Isto é, os empréstimos têm duração de até um ano. Assim, é o responsável pela liquidez monetária. Esse mercado negocia títulos do tesouro, papéis comerciais e certificado de depósitos. Há três formas das operações acontecerem: Quando o Banco Central faz a venda de títulos públicos para instituições financeiras Quando o Banco Central faz a compra de títulos públicos que eram de instituições financeiras Quando as instituições financeiras fazem compra e venda entre si dos títulos do Tesouro Todas essas três formas de operações influenciam na liquidez monetária. Por exemplo, quando o Bacen vende títulos, há a retirada de moeda no mercado. Desta forma, se diminui a liquidez. Da mesma forma, quando são comprados os títulos, há injeção de moeda no mercado e aumento da liquidez. O mercado monetário é considerado a peça fundamental para liquidez em curto prazo. Assim, o governo consegue controlar a quantidade de moeda em circulação e o crédito. Ou seja, a liquidez afeta diretamente a economia. Mercado monetário e liquidez Para manter a liquidez alta, são feitas operações com os título públicos de curto prazo – os vencimentos podem variar de poucos dias até, no máximo, um ano. Além disso, como há um grande número de operações de compra e venda, isso torna mais alta a liquidez desses papéis. O mercado monetário negocia e faz operações com dois tipos de títulos. Eles podem ser: Títulos Públicos: São papéis que devem ser emitidos pelo Tesouro Nacional e servem para custear as despesas do governo. Exemplos: NTN, LTN e LFT. Títulos Privados: Esses papéis são emitidos por instituições financeiras ou empresas e servem para captação de dinheiro para ter reservas. Exemplos: CDB, CDI e debêntures. Cada uma dessas operações altera a oferta de títulos na economia, o que influencia na taxa de juros. Para facilitar o entendimento, confira os seguintes exemplos: Venda de títulos pelo BC Quando o Bacen vende títulos para instituições financeiras, ele oferece o título e recebe capital (moeda) em contrapartida. Por isso, a venda de títulos reduz a liquidez monetária. Destaca-se que essa é uma política monetária contracionista, já que reduz a demanda por títulos. Reduzindo a demanda por títulos, a taxa de juros tende a subir, para compensar a demanda inferior. Compra de títulos pelo BC A compra de títulos pelo BC significa que o Bacen está oferecendo moeda e recebendo, em contrapartida, títulos emitidos anteriormente. Por isso, essa operação injeta moeda na economia e aumenta a liquidez monetária. Por isso, essa operação é uma medida expansionista, visto que a compra de títulos pelo Banco Central aumenta a demanda por títulos. E o aumento na demanda por esses títulos tende a reduzir a taxa de juros. Esses são os tipos de título que são operados no Mercado Monetário. Os outros tipos de papéis fazem parte do mercado de capitais. 7 Diferença entre os mercados monetário e de capital A liquidez é uma das principais diferenças entre o mercado de capital e o monetário. O de capital possui médio e longo prazo para negociações. Isso acaba diminuindo a liquidez destes papéis. Além disso, como o mercado monetário influencia a economia diariamente, ele acaba afetando o mercado de capitais a longo prazo. O mercado de capitais engloba a bolsa de valores, corretoras e instituições financeiras. E serve como um sistema de distribuição de valores mobiliários. As políticas monetárias estabelecidas pelo país estão diretamente ligadas com os Títulos Públicos. Além disso, este mercado influencia as taxas de juros e a concessão de crédito. As taxas de juros usadas para empréstimos de pessoas e empresas tem como base as taxas do mercado. Desta forma, essas taxas de juros tem efeito diretamente na economia do país. Mercado de capitais: O Mercado de Capitais é uma divisão do sistema financeiro, responsável por fazer a intermediação entre aqueles que precisam captar recursos de longo prazo para a implantação de seus projetos, como a expansão de uma empresa, com os investidores, que dispõe desses recursos e desejam investi-los. Mas atenção: não se trata de operações de crédito, na qual a parte tomadora dos recursos fica responsável pelo pagamento de uma dívida. No Mercado de Capitais, a relação existente entre as partes envolvidas é diferente. Ela ocorre por meio da negociação de ativos ou de títulos de dívidas, conhecidas como debêntures. O Mercado de Capitais é o responsável por conferir liquidez aos títulos emitidos pelas empresas, possibilitando a negociação entre vendedores e compradores e, assim, permitindo assim a capitalização das instituições. Dessa maneira, o Mercado de Capitais direciona os recursos financeiros de longo prazo disponíveis para os mais variados segmentos da atividade econômica. Entre eles, agronegócio, comércio, serviços e indústria. Mercado de crédito: O mercado de crédito é uma outra modalidade do sistema financeiro em que ocorrem os processos de tomada e de concessão de crédito. Sendo que essas operações dependem de duas partes, uma credora e outra devedora. Então, a parte credora oferece liquidez à parte devedora em troca de um prêmio de liquidez e de risco. Isto é, em troca de juros. Sendo que o mercado de crédito abrange empréstimos, financiamentos e depósitos à vista. Ressalta-se que o mercado de crédito possui fundamental importância dentro de uma economia. Isso porque é por meio dele que empresas podem se alavancar com capital de terceiros para desenvolverem seus projetos. Esses projetos, construídos com o capital de credores, são responsáveis por gerar empregos e por aumentar a produção da economia. Portanto, conclui-se que o mercado de crédito possui estreito vínculo com o crescimento do PIB. Mercado de câmbio: diz respeito às transações de compra e de venda de moeda estrangeira. O mercado de câmbio é extremamente importante para o mundo contemporâneo pelos seguintes aspectos: por meio dele as pessoas conseguem realizar viagens ao exterior, os capitais estrangeiros são movimentados possibilitando o comércio internacional e ainda é utilizado como meio de investimento e proteção financeira. Tal mercado pode afetar diretamente o sistema econômico do país e, consequentemente, as empresas na comercialização de seus produtos e serviços. Com as variações cambiais, as atividades de importação e exportação acabam sendo impactadas, trazendo um aumento ou redução na venda de produtos nacionais, por exemplo. 8 3 - Moeda e política monetária Políticas monetárias convencionais e não-convencionais (Quantitative Easing); Taxa SELIC e operações compromissadas; O debate sobre os depósitos remunerados dos bancos comerciais no Banco Central do Brasil. Moeda Em termos econômicos, moeda é tudo aquilo que é geralmente aceito para liquidar as transações, isto é, para pagar pelos bens e serviços e para quitar obrigações, ou seja, de acordo com esta definição, qualquer coisa pode ser moeda, desde que aceita como forma de pagamento. Ela é considerada o instrumento básico para que se possa operar no mercado. Pois a moeda atua como meio de troca. Quando um indivíduo vende seu produto, ele receberá moeda pelo produto vendido e, por conseguinte, terá moeda para comprar aquilo que desejar. Além disso, a moeda desempenha a função como unidade de conta (também chamado de denominador comum de valor), isto é, fornece um padrão para que as demais mercadorias expressem seus valores, e forneçam um referencial para que os valores dos demais produtos sejam cotados no mercado. E a terceira função da moeda é a chamada reserva de valor, função que decorre do meio de troca, onde o poder de comprar adquirido ao vender sua mercadoria mantiver-se ao longo do tempo. Em outras palavras, a moeda deve preservar o poder de compra (assim como acontece com os títulos, pois eles tem valor de compra e rentabilidade ao longo do tempo). Resumindo as três funções, temos: Moeda como meio de troca: intermediário entre as mercadorias; Moeda com unidade de conta: ser o referencial das trocas, o instrumento pelo qual as mercadorias são cotadas; e Moeda como reserva de valor: poder de compra que se mantém no tempo, ou seja, forma de se medir a riqueza. Ao longo do tempo, a moeda evoluiu, primeiramente tínhamos a moeda-mercadoria (sal, animais, etc.), passando pela moeda metálica (ouro, prata, metais preciosos) até chegarmos ao que temos hoje, o papel- moeda ou moeda fiduciária, para o qual não existe qualquer tipo de lastro. Isto é, não existe a garantia física sustentando o valor da moeda, e sua aceitação se deve à imposição legal do Governo. Assim como demandamos moeda ao comprar e vender mercadorias, há também a oferta de moeda. Num sistema cuja moeda é lastreada, por exemplo, em ouro, a circulação de moeda depende da quantidade de ouro em estoque no país. Já em um sistema sem lastro, tem- se a moeda fiduciária, e o responsável pelo controle de oferta de moeda é o Banco Central. O Banco Central é o único emissor da moeda nacional, tendo como principal responsabilidade zelar pela quantidade de moeda nacional. O Banco Central é o órgão que controla a oferta monetária no país e os assuntos a ela relacionados. 9 São funções do Banco Central: Controlar a oferta de moeda (possui o monopólio); Zelar pelo valor da moeda nacional; e Regularizar e fiscalizar o sistema financeiro. Política Monetária Convencional e Não Convencional Política Monetária é um conjunto de medidas adotadas para promover o controle da quantidade de moeda em circulação na economia. As medidas impactam diretamente na inflação e na taxa de juros do país, estimulando ou retraindo a economia dependendo do cenário que se apresenta. Política Monetária Convencional O Banco Central (BC) é responsável por controlar a quantidade de moeda que circula na economia por meio do Comitê de Política Monetária (COPOM). Sendo assim, as medidas de Política Monetária adotadas visam o equilíbrio da economia, alterando a oferta de moeda e definindo as taxas de juros. Definições importantes para conter e superar crises, bem como manter a inflação sob controle. Os instrumentos da política monetária são visto como um conjunto de ações que autoridades econômicas usam para controlar a oferta da moeda e a taxa de juros. Cabe ao Banco Central, emitir moedas, ser o guardião das reservas bancárias, promover empréstimos de liquidez aos bancos comerciais, realizar operações de mercado aberto e o fazer o controle seletivo de crédito. Os instrumentos de Política Monetária são: Recolhimento Compulsório Recolhimento compulsório é um dos instrumentos de Política Monetária utilizado pelo Governo para aquecer a economia. É um depósito obrigatório feito pelos bancos comerciais junto ao Banco Central. Parte de todos depósitos que são efetuados à vista pela população junto aos bancos comerciais vão para o Banco Central. O Banco Central fixa esta taxa de recolhimento. Esta taxa é variável, de acordo com os interesses do Governo em acelerar ou não a economia. O recolhimento compulsório tem por finalidade aumentar ou diminuir a circulação de moeda no País. Quando o Governo precisa diminuir a circulação de moedas no país, o Banco Central aumenta a taxa do compulsório, pois desta forma os bancos comerciais terão menos crédito disponível para população, portanto, a economia acaba encolhendo. Ocorre o inverso quando o Governo precisa aumentar a circulação de moedas no país. A taxa do compulsório diminui e com isso os bancos comerciais fazem um depósito menor junto ao Banco Central. Desta maneira, os bancos comerciais ficam com mais moeda disponível, consequentemente aumentam suas linhas de crédito. Com mais dinheiro em circulação, há o aumento de consumo e a economia tende a crescer. Os bancos comerciais podem fazer transferências voluntárias, porém, o depósito compulsório é obrigatório. Redesconto Bancário Outro instrumento de controle monetário é o Redesconto Bancário, no qual o Banco Central concede “empréstimos” aos bancos comerciais a taxas acima das praticadas no mercado. Os chamados empréstimos de assistência à liquidez são utilizados pelos bancos comerciais somente quando existe uma insuficiência de caixa (fluxo de caixa), ou seja, quando a demanda de recursos depositados não cobrem suas necessidades. Quando a intenção do Banco Central é de injetar dinheiro no mercado, ele baixa a taxa de juros para estimular os bancos comerciais a pegar estes empréstimos. Os bancos comerciais por sua vez, terão mais disponibilidade de crédito para oferecer ao mercado, consequentemente a economia aquece. E quando o Banco Central tem por necessidade retirar dinheiro do mercado, as taxas de juros concedidas para estes empréstimos são altas, desestimulando os bancos comercias a pegá-los. Desta forma, os bancos comerciais que precisam cumprir com suas necessidades imediatas, enxugam as linhas de crédito, disponibilizando menos crédito ao mercado, com isso a economia desacelera. Operações com Títulos Públicos Também conhecido como Open Market (Mercado Aberto), as operações com títulos públicos é mais um dos instrumentos disponíveis de Política Monetária. Este instrumento, considerado um dos mais eficazes, consegue equilibrar a oferta de moeda e regular a taxa de juros em curto prazo. A compra e venda dos títulos públicos se dá pelo Banco Central. De acordo com a necessidade de expandir ou reter a circulação de moedas do mercado, as autoridades monetárias competentes resgatam ou vendem esses títulos. Se existe a necessidade de diminuir a taxa de juros e aumentar a circulação de moedas, o Banco Central 10 compra (resgata) títulos públicos que estejam em circulação. Se a necessidade for inversa, ou seja, aumentar a taxa de juros e diminuir a circulação de moedas, o Banco Central vende (oferta) os títulos disponíveis. Portanto, os títulos públicos são considerados ativos de renda fixa, tornando-se uma boa opção de investimento para a sociedade. Outra finalidade dos títulos públicos é a de captar recursos para o financiamento da dívida pública, bem como financiar atividades do Governo Federal, como por exemplo, Educação, Saúde e Infraestrutura. Controle de Crédito É um dos instrumentos mais difíceis de se conceituar e expor, pois é pouco utilizado devido as constantes mudanças que sofre, pois as regras determinadas pelo Banco Central hoje, podem sofrer mudanças ou até mesmo não existirem mais amanhã. É um instrumento que se refere ao controle direto sobre o crédito. Pode estar relacionado ao volume de transações de crédito, ao prazo ou ainda a que se destina este crédito. É através de mais este instrumento de Política Monetária que as autoridades monetárias têm como controlar o volume de crédito e distribuição das linhas de crédito, impondo taxas, condições e períodos. Acaba por se tornar um instrumento pouco convencional, pois pode gerar distorções no livre funcionamento do mercado e até desestimular a atividade de intermediação financeira, mas às vezes, é utilizado pelo Banco Central de acordo com as necessidades exigidas pelo mercado econômico. Persuasão Moral Os bancos centrais têm como função supervisionar o sistema bancário e financeiro, influenciam os sistemas de liquidação e de pagamentos, principalmente como fornecedores de uma variedade de serviços de liquidação e de pagamentos para outros bancos. Esses serviços devem ser confiáveis, para estarem disponíveis mesmo quando os mercados nos quais eles funcionem estiverem em crise. Eles não devem, nunca, ser a origem de tais crises. Apenas recentemente a vigilância se tornou uma função dos bancos centrais, em que os objetivos de segurança e eficiência são promovidos pelo monitoramento dos sistemas existentes ou planejados, pela avaliação deles contra esses objetivos e, quando necessário, pela indução a mudanças. Entretanto, embora recente, esse desenvolvimento na natureza da vigilância tem sido rápido e a função agora é reconhecida como uma das principais responsabilidades dos bancos centrais. Na prática, a maioria dos bancos centrais usa a persuasão moral em suas atividades diárias de vigilância. A persuasão é uma estratégia de comunicação que consiste em utilizar recursos lógico- racionais ou simbólicos para induzir alguém a aceitar uma ideia, uma atitude, ou realizar uma ação. Existem, por exemplo, formas de pressionar os bancos para que ofereçam linhas de crédito para pequenos empresários e pessoas de baixa renda. Uma delas seria através da persuasão moral implícita, onde o Banco Central influencia a atuação dos bancos por meio de pressão para que o sistema bancário possa ser mais acessível. Uma outra forma seria por meio de leis sobre divulgação financeira. Política Monetária Não Convencional A política monetária não convencional é uma estratégia que pode ser utilizada por um governo para atuar de maneira ativa na economia, reduzindo assim os efeitos de um período econômico negativo. Esse é um cenário comum em momentos de crise. Foi o que aconteceu, por exemplo, nos Estados Unidos durante a Crise do Subprime, em 2008. Vale lembrar, essa foi uma crise causada pelo excesso de confiança e de estímulo ao crédito imobiliário. Uma vez que os clientes dos bancos passaram a não ter condições de honrar seus compromissos, explodiu uma bolha. A Crise do Subprime foi caótica e um dos principais desafios econômicos da história, fazendo com que muitos dos grandes bancos estadunidenses apresentassem proximidade com a falência. Sob certas óticas, sem uma atuação ativa do governo os resultados seriam ainda piores. Essa naturalmente não foi a última crise financeira. Em cenários adversos, muitos governos atuam para manter a economia saudável na medida do possível (ou ao menos reduzir os impactos da situação atravessada). Qual é a importância de uma política monetária não convencional? Como o próprio nome sugere, a política monetária não convencional não deve ser utilizada de maneira frequente. Isto é, ela pode ser considerada como um plano de contingência. O que acontece é que, ao longo de uma crise, o cenário torna-se extremamente desafiador. O consumo é reduzido, pois a população passa a ter medo de perder o seu emprego e, consequentemente, a sua renda. As 11 empresas vendem menos. E tudo parece ir ladeira abaixo. É nesta hora que a política monetária não convencional costuma ser executada. Ela não vai garantir a solução de todos os problemas, mas visa manter o sistema funcionando e, na medida do possível, ajudar na recuperação econômica após o período de crise. Sem uma atuação neste sentido, os efeitos de uma recessão econômica poderiam ser muito mais drásticos e duradouros. Desta forma, a importância da estratégia consiste em atuar para evitar problemas financeiros maiores no longo prazo. O que pode ser executado em uma política monetária não convencional? Durante a aplicação de uma política monetária não convencional, os países acabam aderindo a ações que certamente não estariam em prática se o ambiente econômico fosse positivo. Em 2020, por exemplo, o mundo precisou lidar com uma pandemia. Desta forma, o isolamento social foi necessário, algo que levou a uma crise financeira mesmo em um momento que parecia, em tese, promissor do ponto de vista financeiro. No Brasil, uma das medidas adotadas pelo governo visando a redução dos danos dessa situação foi um benefício emergencial — um pagamento mensal que ajudasse as pessoas com seus gastos. Esse auxílio não seria realizado em condições normais. Outra prática comum da política monetária não convencional está na compra de títulos que estão em propriedade dos bancos comerciais pelo Banco Central. O objetivo aqui é injetar dinheiro na economia e ajudar com a liquidez da moeda (no nosso caso, o real). Os riscos da política monetária não convencional? Embora seja extremamente válida do ponto de vista social ou econômico, uma política monetária não convencional precisa ser avaliada com cautela. Os resultados, afinal, serão colhidos no longo prazo. Um excesso de dinheiro em circulação, por exemplo, pode levar a um problema relacionamento ao câmbio, com a desvalorização da moeda no cenário internacional. Os efeitos das decisões também podem atingir outros indicadores. A redução das taxas de juros é outra estratégia comum para enfrentar crises, mas pode trazer aumento de inflação se não for bem utilizada. Portanto, a política monetária não convencional deve ser empregada em momentos realmente críticos e, ainda assim, monitorando todos os impactos de longo prazo para evitar um cenário ainda mais adverso no futuro. Quantitative Easing O quantitative easing, também conhecido como flexibilização quantitativa, é uma estratégia de estímulo monetário que visa, a partir da compra de títulos públicos e privados pelo Banco Central, aumentar a oferta de dinheiro em circulação na economia. A sua aplicação costuma sobrevir a um momento de forte crise ou estagnação econômica, quando a instituição perde o controle sobre a deflação. Japão, Estados Unidos e o bloco da Zona do Euro são alguns dos mais famosos implementadores dessa política. Para se ter uma ideia de sua magnitude, o quantitative easing é considerado a maior forma de intervenção pública já realizada nas economias ocidentais - com exceção, apenas, das grandes guerras mundiais. Como o quantitative easing funciona? O quantitative easing é uma estratégia ligada à Macroeconomia, ou seja, não está direcionado a nenhum setor ou região específica, mas a todos os blocos da nação. Em situações “normais”, o Banco Central, cuja função principal é garantir a estabilidade do sistema econômico, utiliza as taxas de juros como forma de controlar a inflação. Assim, ele é capaz de incentivar ou restringir a tomada de crédito e a circulação monetária de acordo com os objetivos fixados. No entanto, em contextos extremos, as reduções não são capazes de frear a diminuição no índice de preços. O que fazer, então, quando a taxa de juros já está próxima de zero e, ainda assim, mercado financeiro continua em desaquecimento? A resposta encontrada por países como Japão (1990s), Estados Unidos (2008) e Inglaterra (2009) foi criar uma quantidade exorbitante de dinheiro novo, gerando valor expandido e impulsionando o poder de compra. Em situações comuns, o ajuste do mercado passa pela emissão de dinheiro físico. No entanto, nos casos de quantitative easing, o capital criado é eletrônico (ou artificial) e a sua utilização se destina à compra de títulos bancários, de dívidas públicas ou privadas. 12 Como os maiores detentores de títulos são os bancos, o que acontece é uma transferência indireta, com o dinheiro passando das mãos do Banco Central para as das instituições financeiras através dessa transação. O resultado é uma injeção de capital, que diminui as taxas de juros cobradas em empréstimos, financiamentos e cartões. Com o acesso facilitado ao crédito, o cliente (pessoa física ou jurídica) vai às compras e faz o dinheiro circular. O crescimento da procura logo é percebido pelos fornecedores, que, baseados na lei da oferta e da demanda, aumentam os preços cobrados e propiciam a inflação. Por outro lado, o quantitative easing pode ter efeitos também sobre o mercado de investimentos. A aquisição massiva de títulos tende a levar o seu preço para cima, aquecendo as trocas entre investidores e fazendo o capital girar. Quais são os riscos atrelados aos programas de quantitative easing? Na terra da economia previsível, certamente a lógica do quantitative easing funciona perfeitamente. Na vida real, entretanto, nem sempre é assim. A desvalorização da moeda local, frente às moedas estrangeiras, não é um risco na aplicação do quantitative easing, mas sim uma característica inerente. Outros fatores, no entanto, dependem da resposta do mercado às medidas adotadas. Por exemplo, se houver um erro no diagnóstico da demanda, o Banco Central pode inserir um montante superior ao necessário e gerar uma hiperinflação. Se a taxa de juros se manter baixa por um período prolongado, há a possibilidade de surgimento das chamadas bolhas de ativos. Embora, nesses casos, a alta nos valores dos ativos seja insustentável, a bolha se espalha, “contaminando” não somente este país, como outros igualmente influenciados por ele. O resultado é uma complexa conexão de mercados esperando que a bolha “estoure”. Além disso, com o estabelecimento dos programas de quantitative easing há o risco de: - Desvio no seu caráter temporário, sendo usado para financiar de forma permanente a dívida pública e privada; Intenso deslocamento do capital para países emergentes, gerando excesso de liquidez, com subsequente inflação elevada e/ou bolhas; - “Guerra de QEs”: quando vários países adotam o quantitative easing ao mesmo tempo, a desvalorização da moeda tem efeito pífio sobre a melhora da balança comercial, o que os obriga a competir no volume injetado para superarem uns aos outros. Taxa SELIC e operações compromissadas Taxa Selic Para iniciarmos a explicação acerca dos aspectos definidores da taxa Selic, vale destacar qual seja o conceito formulado pelo Banco Central do Brasil sobre referida taxa, uma vez que é este órgão quem define por meio do Comitê de Política Monetária (COPOM) a meta Selic mensal, para que, então, a partir deste conceito tecermos comentários acerca dos aspectos definidores da taxa Selic. Conceitua o Banco Central, com nossos destaques: A taxa Selic “É a taxa apurada no Selic, obtida mediante o cálculo da taxa média ponderada e ajustada das operações de financiamento por um dia, lastreadas em títulos públicos federais e cursadas no referido sistema ou em câmaras de compensação e liquidação de ativos, na forma de operações compromissadas. Esclarecemos que, neste caso, as operações compromissadas são operações de venda de títulos com compromisso de recompra assumido pelo vendedor, concomitante com compromisso de revenda assumido pelo comprador, para liquidação no dia útil seguinte. Ressaltamos, ainda, que estão aptas a realizar operações compromissadas, por um dia útil, fundamentalmente as instituições financeiras habilitadas, tais como bancos, caixas econômicas, sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários e sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários”. Estabelecido o conceito primário da taxa Selic divulgado pelo Banco Central do Brasil, passemos aos comentários pertinentes. Num primeiro momento, diz- se que a taxa Selic é um índice, que é obtido por meio de uma média ponderada, sendo este índice uma referência para a Economia, ou seja, com a fixação deste índice temos a taxa referencial para a política monetária, que serve de base para as demais taxas de juros da economia. É obtido pela seguinte fórmula: Lj: fator diário correspondente à taxa da j-ésima operação; 13 Vj: valor financeiro correspondente à taxa da j-ésima operação; n: número de operações que compõem a amostra. Num segundo momento, verifica-se que a formulação deste índice é manejada diariamente, por meio de operações compromissadas, o que se denomina de overnight. De modo simples, a taxa Selic serve de taxa de juros de pagamento da dívida do Governo representada pelos títulos públicos, que são adquiridas diariamente especialmente pelas instituições financeiras (overnight), ou seja, com a emissão de títulos públicos, o Governo se compromete a pagar, a título de juros, aos adquirentes destes, a taxa diária da Sistema Especial de Liquidação e Custódia. Sendo assim, a taxa Selic tem lastro nos títulos públicos e é modificada diariamente, por meio dessas operações de financiamento. Em outros termos, também é possível dizer que a taxa Selic é usada para operações de curtíssimo prazo entre os bancos, que ao tomarem recursos emprestados de outros bancos por um dia, oferecem títulos públicos como garantia, a fim de reduzir risco e juros na transação. Assim, como o risco final da transação é do Governo, pois seus títulos servem de lastro para a operação e o prazo é o de apenas um dia (prazo mais curto possível), esta taxa acaba servindo de referência para todas as demais taxas de juros da economia. No entanto, ressalta-se que muito embora a taxa Selic modifica-se diariamente de acordo com a overnigth, deve a mesma permear a meta Selic, que é estabelecida mensalmente pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, dela não se distanciando substancialmente. Destarte, do que restou exposto, conclui-se que a taxa Selic é a taxa de financiamento no mercado interbancário para operações de um dia, ou overnight, que possuem lastro em títulos públicos federais, títulos estes que são listados e negociados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia, ou Selic. Taxa Selic / dezembro de 2022 = 13,75% A taxa Selic e sua influência na Economia Passada a primeira fase de nosso trabalho, e entendido quais os aspectos definidores da taxa Selic, faz-se necessário discorrer acerca de sua importância para a Economia, respondendo às questões sobre como que referida taxa tem o poder de regular as finanças do país inteiro. Em termos simples, a taxa básica de juros é o instrumento utilizado pelo Banco Central para manter a inflação sob controle. Isto porque quando a taxa básica de juros Selic é bastante reduzida, os investimentos em aquisição de títulos públicos, que lastreiam a Selic, tornam-se menos atrativos à população, o que faz com que a população tenha maiores sobras de dinheiro, tendo maior acesso ao crédito, aos investimentos em produção e ao consumo. Com o maior consumo e aumento da demanda, os preços tendem a subir, encadeando o processo inflacionário da moeda. Por outro lado, quando a taxa Selic é aumentada, o que se faz mais atrativo é a aquisição de títulos públicos, pois o Governo pagará mais para a população que adquire tais títulos, ou seja, com o aumento da taxa Selic, o dinheiro tende a ser retido nessas espécies de aplicação, fazendo com que não haja recursos disponíveis no mercado para o consumo e investimentos em produção, por exemplo. Sendo assim, a população consumirá menos e os investimentos em produção também serão menores, a economia irá desacelerar e os preços serão reduzidos, podendo ocorrer o fenômeno inverso ao da inflação. É por esse motivo que os empresários pedem corte nas taxas, pois assim será possível viabilizar investimentos, sendo também por esse motivo que as Bolsas sobem, pois que reduções da taxa de juros também viabilizam a migração de recursos da renda fixa para a renda variável. Portanto, do que restou exposto, possível concluir que o principal instrumento que têm em mãos as autoridades financeiras é a taxa de juros básica da Economia (taxa Selic), haja vista que ao alterá-la, o Banco Central é capaz de aquecer ou desaquecer a economia e influenciar nos principais indicadores de crescimento do país. Operações Compromissadas Operações compromissadas são operações de venda (ou de compra) de títulos com compromisso de recompra (ou revenda) dos mesmos títulos em uma data futura, podendo ser antes ou igual à data de vencimento dos títulos. No entanto, apesar de normalmente vincularmos ao BC, as operações compromissadas podem ser realizadas entre instituições financeiras ou até mesmo entre instituições financeiras e pessoas jurídicas. 14 Os títulos aos quais nos referimos podem ser títulos públicos ou privados. O mais comum são os títulos públicos. Quando uma instituição financeira ou o BC faz uma operação compromissada de venda, é o mesmo que tomar um empréstimo dando como garantia um título (normalmente público). Consegue perceber? Quem “vende” o título, recebe o dinheiro pelo título, mas posteriormente esse título será recomprado. Além disso, quem vendeu o título nessa operação compromissada paga juros ao comprador. Na prática, esse tipo de operação é muito comum entre instituições financeiras ao fim do dia, as quais correm para esse tipo de operação buscando liquidez. Bancos com “caixa negativo” fazem essas operações com aqueles que tiveram “caixa positivo”. Se o título dado como garantia for um título público federal, dá-se o nome a essa taxa de “Selic Over”. Caso a garantia seja um título bancário privado, o nome dado é “CDI”. Mas por que não vender o título diretamente? Isso acontece porque muitas vezes essas operações são curtíssimas e não valeria a pena vender os títulos… Muitas vezes, duram 1 único dia ou poucos dias… Vender títulos não é tão simples, tem o problema de liquidez e também de pagar “pedágio” por vender antes do vencimento. Nesse caso, como é para resolver um problema de liquidez pontual, o mais prático é utilizar essas operações, que tem custo baixo e são bem líquidas. Essas operações compromissadas podem ser registradas em sistemas. Caso o título público dado como garantia seja um título público federal, ela será registrada no Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia). Caso o título dado como garantia seja um título privado, ela será registrada na Cetip (Central de Custódia e Liquidação Financeira de títulos). A taxa Selic que o Banco Central determina chama-se “SELIC META”, ela é uma referência ao mercado e costuma balizar, no caso de liquidez preservada, a SELIC OVER. Mas não são só bancos que participam desse sistema… Fundos de investimento, por exemplo, fazem caixa também utilizado essas operações, consegue imaginar como? Quando um fundo de investimento está com dinheiro disponível e não quer deixar o dinheiro parado, o fundo pode fazer uma operação compromissada de compra com compromisso de revenda com alguma instituição financeira. Nesse caso, o fundo deixa o dinheiro “parado” rendendo algum juros e, quando precisa do dinheiro, desfaz a operação com a instituição financeira. Veja que seria muito mais complicado o fundo pegar o dinheiro, ir ao mercado, comprar títulos, armazenar e depois vender, até porque no momento de venda poderia não encontrar liquidez ou pagar um “pedágio” pela venda do título. No mundo ideal e utópico, haveria plena liquidez entre compradores e vendedores e a taxa seria extremamente bem regulada, tendo uma SELIC OVER muito próxima a SELIC Meta. Na prática, no entanto, distorções de demanda acontecem e, com isso, flutuações da taxa de juros paga nessas operações. Se houver um desequilíbrio com mais players querendo fazer operações compromissadas de venda do que de compra, a taxa de juros dessas operações provavelmente aumentará. O grande problema, nesse caso, é uma falta de liquidez generalizada, até porque essas operações, como dito, acontecem não só entre bancos. Para isso, os Bancos Centrais também fazem uma ponte nesse sistema, podendo fomentar a liquidez, atuando tanto nas operações compromissas de venda, quanto de compra. A parte importante de toda essa discussão é entender como funciona melhor a questão de política monetária brasileira. Na prática, temos o CMN (Conselho Monetário Nacional) que determina uma meta de inflação a ser seguida pelo Banco Central. Essa meta tem um centro, piso (inferior) e teto (superior). O BC, em tese, trabalha para deixar a inflação próxima ao centro da meta. O principal instrumento para tal é através da determinação da taxa básica de juros, a SELIC. Se a taxa básica de juros aumenta, você tende a controlar a pressão inflacionária. Dessa forma, inflação acima da meta fomenta alta de juros; enquanto que inflação abaixo do centro da meta fomenta corte de juros. Essa SELIC determinada, no entanto, é chamada de SELIC Meta e é uma referência para o mercado, principalmente no que tange as operações compromissadas que envolvem títulos públicos federais. A taxa nessas operações se chama SELIC OVER. Caso falte liquidez nessas operações compromissadas de venda, a SELIC Over tende a subir, superando a SELIC Meta. Nesse caso, o BC pode intervir fazendo operações compromissadas de compra com taxa estipulada próximo a SELIC Meta. Dessa forma, as operações estruturadas servem como um meio do BC garantir que a SELIC Meta seja, de fato, incorporada. 15 O debate sobre os depósitos remunerados dos bancos comerciais no Banco Central do Brasil. Na última terça-feira dia 22 de junho a câmara dos deputados aprovou o PL que autoriza o BACEN a receber depósitos voluntários dos Bancos Comerciais, os quais passarão a ser uma alternativa as operações compromissadas na regulação diária da liquidez do mercado interbancário, necessária para permitir a autoridade monetária fixar o valor da taxa Selic na meta definida nas reuniões do Copom. Importante ressaltar que os depósitos remunerados são um instrumento de política monetária utilizado tanto pelo Federal Reserve (o Banco Central dos Estados Unidos) como pelo Banco Central Europeu. Nesse aspecto, o PL está aperfeiçoando a operacionalidade da política monetária no Brasil, emparelhando-a com as melhores práticas existentes nos países desenvolvidos. No entanto, alguns analistas criticaram o PL argumentando de que o mesmo permitiria uma redução artificial, puramente contábil, na dívida bruta do governo geral (DBGG). Isso porque, conforme a metodologia de cálculo da DBGG adotada pelo BACEN, a assim chamada “carteira livre de títulos”, ou seja, os títulos da dívida pública que não estão sendo utilizados pela autoridade monetária nas operações compromissadas não são contabilizados como parte da DBGG. Quando o BACEN precisa enxugar liquidez do mercado interbancário, ou seja, absorver as reservas em excesso dos bancos comerciais, ele vende os títulos da carteira livre para os bancos comerciais por intermédio das operações compromissadas, que nada mais são do que uma venda de títulos da carteira do BACEN com compromisso de recompra dos mesmos pela autoridade monetária ao final de um determinado período de tempo. Ao vender os títulos por intermédio das compromissadas o BACEN está aumentando a quantidade de títulos da dívida pública nas mãos do “mercado” e, dessa forma, aumentando a DBGG. Se o BACEN puder substituir as operações compromissadas pelos depósitos voluntários; então as reservas excedentes dos bancos comerciais poderão ser depositadas diretamente no BACEN, sem que seja necessário a venda de títulos da dívida pública para o “mercado”; ou seja, sem que ocorra um aumento da DBGG. Dessa forma, as operações de regulação de liquidez do Banco Central não terão nenhum impacto na dívida pública, cuja dinâmica passará a depender exclusivamente do déficit nominal do Tesouro Nacional, ou seja, a soma entre o resultado primário do governo geral e o pagamento de juros da dívida pública. Como o leitor já deve ter percebido, não há nada de “contabilidade criativa” no expediente dos depósitos voluntários no BACEN. Pelo contrário, as operações compromissadas, que no Brasil são realizadas pela venda de títulos do Tesouro Nacional que estão na carteira do BACEN, eram a verdadeira jabuticaba na política monetária brasileira. Isso porque a Constituição Federal veda ao BACEN a possibilidade de comprar títulos da dívida pública diretamente do Tesouro; assim para que o BACEN possa ter o volume necessário de títulos públicos para fazer as operações normais de regulação de liquidez era necessário que o Tesouro Nacional fizesse uma emissão de títulos públicos, não para financiar o déficit nominal, mas para “capitalizar” o BACEN. Dessa forma, o Tesouro poderia emitir, digamos, R$ 300 bilhões em títulos públicos, os quais seriam contabilizados no balanço do BACEN no seu passivo como “aumento de capital próprio” e no seu ativo como “carteira livre de títulos”. Enquanto esses títulos não forem vendidos ao mercado por intermédio das operações compromissadas, eles não seriam contabilizados na DBGG; assim que os mesmos fossem vendidos, então a dívida aumentaria na magnitude da venda. Desde meados dos anos 2000 o volume das operações compromissadas do BACEN vem aumentando sistematicamente, alcançando um valor próximo de 20% do PIB. Isso ocorreu basicamente devido ao acumulo de reservas internacionais, as quais passaram de pouco mais de US$ 60 bilhões em 2005 para quase US$ 400 bilhões em 2016. A compra de reservas internacionais é um fator de expansão da base monetária e das reservas bancárias. Para manter a taxa de juros na meta definida pelo Copom, o BACEN precisou enxugar essa liquidez com a venda de títulos públicos. Dado o volume gigantesco de base monetária criada, o Tesouro teve que emitir 20% do PIB em títulos públicos, apenas para enxugar a liquidez criada pelo acumulo das reservas internacionais; ou seja, a DBGG aumentou em 20 p.p do PIB sem que isso tenha resultado de uma operação “acima da linha”, ou seja, da necessidade de financiar o déficit nominal do setor público. Até 2012, isso não era um problema para a formulação de política econômica porque tanto o governo como o mercado financeiro acompanhavam apenas a evolução da dívida líquida do setor público, a qual já desconta o valor das reservas internacionais, anulando assim o impacto das operações compromissadas sobre a dinâmica da dívida pública. Contudo, devido as trapalhadas do Ministério da Fazenda durante o primeiro governo Dilma Rouseff com as “pedaladas fiscais”, o mercado passou a olhar para o comportamento da dívida bruta, ao invés da dívida líquida. O problema é que as “pedaladas fiscais” foram resolvidas no final de 2015, mas o mercado e os analistas econômicos continuam olhando apenas para a dívida bruta, não para a dívida líquida, como era a praxi até 2011. Qual a razão desse comportamento? 16 Minha hipótese é de que focar na dívida bruta, ao invés da dívida líquida, dá mais credibilidade para o discurso do “abismo fiscal” que o país estaria a ponto de cair, caso não se aprove a agenda de reformas. Dessa forma, a “consistência com o erro” tem uma explicação muito clara na Economia Política: o “mercado” quer uma redução de impostos e para isso cria um “dragão debaixo da cama” que seria uma situação de insolvência do Estado Brasileiro devido a uma dívida bruta muito elevada. A adoção dos depósitos voluntários põe “água no chope” dessa narrativa pois permitiria uma redução significativa da dívida bruta (não da dívida líquida), atenuando assim a situação de “emergência fiscal” que o mercado quer vender para os políticos e para a sociedade brasileira. Em suma, a criação dos depósitos voluntários é bem- vinda do ponto de vista da melhoria da operacionalidade da política monetária no Brasil, além de tornar mais transparente a situação das contas públicas no Brasil, separando o aumento da dívida pública que resulta do déficit nominal, daquele que foi gerado unicamente para permitir ao BACEN conduzir as operações normais de política monetária. Isso não tem nada de contabilidade criativa. Trata-se de bom senso, temperado pela boa teoria econômica. 4 - Orçamento público, títulos do Tesouro Nacional e dívida pública. Orçamento Público Orçamento público é o instrumento utilizado pelo Governo Federal para planejar a utilização do dinheiro arrecadado com os tributos (impostos, taxas, contribuições de melhoria, entre outros). Esse planejamento é essencial para oferecer serviços públicos adequados, além de especificar gastos e investimentos que foram priorizados pelos poderes. Essa ferramenta estima tanto as receitas que o Governo espera arrecadar quanto fixa as despesas a serem efetuadas com o dinheiro. Assim, as receitas são estimadas porque os tributos arrecadados (e outras fontes) podem sofrer variações ano a ano, enquanto as despesas são fixadas para garantir que o governo não gaste mais do que arrecada. Uma vez que o orçamento detalha as despesas, pode- se acompanhar as prioridades do governo para cada ano, como, por exemplo: o investimento na construção de escolas, a verba para transporte e o gasto com a saúde. Esse acompanhamento contribui para fiscalizar o uso do dinheiro público e a melhoria da gestão pública e está disponível aqui, no Portal da Transparência do Governo Federal. Elaboração do Orçamento O processo de elaboração do orçamento é complexo, pois envolve as prioridades do Brasil, um país com mais de 200 milhões de habitantes. Se já é difícil planejar e controlar os gastos em nossa casa, imagine a complexidade de planejar as prioridades de um país do tamanho do Brasil. No entanto, o planejamento é essencial para a melhor aplicação dos recursos públicos. O processo de planejamento envolve várias etapas, porém três delas se destacam: a aprovação da Lei do Plano Plurianual (PPA), da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA). Cada uma dessas leis é proposta pelo Poder Executivo, a partir de objetivos específicos, e depende da aprovação do Congresso Nacional. Isso permite que os deputados e senadores eleitos como nossos representantes influenciem o orçamento, adequando as leis às necessidades mais críticas da população que representam. Para organizar e viabilizar a ação pública, o PPA declara as políticas e metas previstas para um período de 4 anos, assim como os caminhos para alcançá-las. A LDO e a LOA devem estar alinhadas às políticas e metas presentes no PPA, e, por sua vez, são elaboradas anualmente. A LDO determina quais metas e prioridades do PPA serão tratadas no ano seguinte - além de trazer algumas obrigações de transparência. A partir daí, a LOA é elaborada, detalhando todos os gastos que serão realizados pelo governo: quanto será gasto, em que área de governo (saúde, educação, segurança pública) e para que. A ideia é terminar cada ano com a LOA aprovada para o ano seguinte, ou seja, com todo o detalhamento dos gastos e receitas. A LOA é o que chamamos, de fato, de orçamento anual. A lei por si só também é grande e complexa, por isso é estruturada em três documentos: orçamento fiscal, orçamento da seguridade social e orçamento de investimento das estatais. No Portal da Transparência do Governo Federal, você consegue consultar dados sobre a execução do orçamento fiscal e da seguridade social, uma vez que esses são os investimentos e gastos que afetam diretamente o seu dia a dia. 17 Títulos do Tesouro Nacional O Tesouro Direto é um programa criado em 2002 pelo Tesouro Nacional em parceria com a BM&F Bovespa (atual B3) que permite a venda de títulos públicos federais a pessoas físicas por meio da internet. O principal objetivo é o de democratizar o acesso da população aos títulos públicos, antes acessíveis somente por meio de fundos de renda fixa que, na época, cobravam dos investidores altas taxas de administração. Hoje, o Tesouro Direto é considerado uma das mais importantes opções de investimento do Brasil, isso porque conta com uma rentabilidade atrativa, liquidez e um baixo nível de risco. Quais são os tipos de Tesouro Direto Existem três tipos de Tesouro Direto mais populares entre as pessoas físicas, são eles: Prefixados; Pós-fixados indexados ao IPCA e, Pós-fixados indexados à taxa Selic. Recentemente, o Tesouro Nacional promoveu uma mudança nas nomenclaturas dos títulos públicos, isso com o intuito de melhorar a comunicação com os investidores. Agora, é possível identificar as principais características de um título diretamente por meio de seu nome. Vale lembrar que as novas nomenclaturas continuam vinculadas aos nomes antigos e resumem os principais atributos dos títulos, que são: tipo de rentabilidade, fluxo de remuneração e data de vencimento. A principal vantagem dessa mudança para o investidor é não mais precisar decorar essa verdadeira “sopa de letrinhas” que formava os nomes dos títulos. Abaixo, uma breve explicação sobre cada um dos tipos de Tesouro Direto. Tesouro Prefixado (LTN) Esse título conta com uma taxa que já predefinida no momento da compra. Dessa forma, se você optar por investir no Tesouro Prefixado já saberá imediatamente qual será a taxa de juros a ser paga pelo Tesouro Nacional ao término da aplicação. Uma estratégia muito utilizada por especialistas nesse tipo de investimento é a compra dos títulos nos momentos em que a taxa de juros do país esta alta, mas com tendências de recuo. Isso faz com que o investidor “trave” a sua rentabilidade em um momento em que a taxa básica de juros (Selic) está elevada. Assim, mesmo que posteriormente a Selic acabe caindo, a rentabilidade maior no final do prazo do investimento está garantida! Tesouro IPCA+ (NTN-B) Esse título possui a sua rentabilidade vinculada à variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é utilizado para medir a inflação oficial do país. Nesse sentido, o investidor não consegue saber exatamente qual será a sua remuneração ao final do período de validade do título, uma vez que o IPCA é um índice que apresenta uma ampla volatilidade ao longo dos meses. Além do IPCA, a remuneração também é acrescida dos juros. Se você pretende investir nesse tipo de título é importante observar se existe uma expectativa de aumento da inflação. Dessa forma, além de proteger seu patrimônio, você também poderá elevar seu poder aquisitivo. Tesouro Selic (LFT) Esse título possui rentabilidade diária e é vinculado à taxa Selic, que é a base dos juros do país. Assim como no caso do Tesouro IPCA+, a pessoa que investe no Tesouro Selic não saberá exatamente qual será a sua rentabilidade no vencimento do título, pois dependerá da variação da Selic (quanto mais alta, maior a remuneração e vice-versa). Especialistas recomendam que esse título seja adquirido caso exista uma expectativa de alta na taxa Selic ou quando ela permanecer em um patamar mais elevado. Contudo, entre as principais vantagens desse título está a possibilidade de resgate do dinheiro a qualquer tempo, sem perdas, o que o faz muito indicado para as pessoas que desejam criar uma reserva de emergência ou mesmo fugir da antiga poupança. Vantagens e desvantagens de investir no Tesouro Direto Assim como qualquer outro tipo de investimento, o Tesouro Direto também conta com as suas vantagens e desvantagens. Entre as principais vantagens podemos destacar a boa rentabilidade, liquidez e a segurança para o investidor. Já entre as principais desvantagens estão a cobrança de taxas e alguns riscos que envolvem esse tipo de investimento. Quando se analisa a rentabilidade, os títulos do Tesouro Direto levam grande vantagem quando são mantidos até o seu vencimento, isso se comparado a outros tipos de aplicações financeiras de renda fixa disponíveis no mercado. A liquidez dos títulos também é garantida, uma vez que o Tesouro Nacional garante a recompra dos títulos quando for necessário, o que acontecerá em D+1. 18 Já a segurança se refere ao fato de que os títulos do Tesouro Direto são 100% garantidos pelo Tesouro Nacional, ou seja, quem garante o pagamento dos investidores é nada menos que o Governo Federal, considerado o melhor “pagador” de todos. Apesar de poder se enquadrar como uma desvantagem, a cobrança de taxas no Tesouro Direto nem se compara aos valores cobrados em outros investimentos de renda fixa. Recentemente, o Tesouro Nacional reduziu a taxa de custódia dos títulos de 0,30% para 0,25%, o que garante rendimentos maiores ao investidor. Além da taxa de custódia, instituições financeiras também podem cobrar uma taxa de administração. Vale lembrar que algumas corretoras, como é o caso da XP investimentos, isentam os investidores dessa cobrança, que pode chegar a 0,5% ao ano nos grandes bancos. O Tesouro Direto se sujeita a dois tipos de riscos: de crédito e de mercado. Contudo, o risco de crédito desse tipo de investimento é considerado muito baixo, visto que o país precisaria “quebrar” para que os rendimentos deixassem de ser pagos pelo governo. Já o risco de mercado é algo que requer uma certa atenção, pois os títulos públicos possuem uma certa volatilidade (uns mais que os outros), o que faz com que o preço de cada um dos tipos de Tesouro Direto possa oscilar durante o seu período de validade. Dessa forma, se você precisa resgatar o papel antes de sua data de vencimento, então poderá conseguir um valor menor ou maior do que o aplicado inicialmente. Nesse sentido, podemos citar como exemplo um título do Tesouro IPCA+ (NTN-B), pois o seu valor de face tende a registrar uma queda caso a taxa de juros da economia aumente. Como escolher títulos do Tesouro Direto A escolha de um título no Tesouro Direto envolve muito o perfil de cada investidor. Os mais conservadores, por exemplo, podem encontrar o seu “porto seguro” no Tesouro Selic, já os que desejam poupar para a aposentadoria encontram melhores condições nos títulos do Tesouro IPCA+ (NTN-B). Contar com o auxílio de uma corretora pode ser importante no momento da escolha, pois pode evitar prejuízos no futuro. O Tesouro Selic (LFT), por exemplo, paga um rendimento equivalente ao da taxa Selic e por isso é o mais popular entre os investidores de perfil conservador. Além disso, outra vantagem desse papel é que ele pode ser resgatado a qualquer momento, sem perdas para o investidor. Isso o torna uma alternativa bastante atrativa para aqueles que desejam criar uma reserva de emergência e antes utilizavam a poupança – que já foi considerada como o “pior” investimento do Brasil. Contudo, em momentos em que a Selic esteja em alta, outras opções de investimento de renda fixa podem se tornar mais interessantes que o Tesouro Selic. Esse é o caso, por exemplo, de alguns Fundos DI que possuem taxa de administração de até 0,3% e dos CDBs que paguem mais que 100% do CDI. Para os que desejam poupar para a aposentadoria, os papéis do Tesouro IPCA+ (NTN-B) são os mais indicados, pois possuem vencimentos muito longos (por exemplo, 2035 e 2050). Dessa forma, o investidor pode escolher um título cuja data de vencimento seja próxima a da expectativa de sua aposentadoria. Além disso, como o rendimento desses títulos possui como base a inflação acrescida de juros, o poder aquisitivo é garantido mesmo com o passar dos anos, visto o ganho real que é obtido. Já em um cenário em que os juros estiverem em um patamar mais elevado, os títulos do Tesouro Prefixado (LTN) se tornam mais interessantes. Isso acontece porque, nesses momentos, você poderá manter uma taxa de juros mais atraente para o papel durante alguns anos. Contudo, cabe o alerta para uma possível perda de rendimentos no curto prazo caso os juros subam ainda mais. Pensando nisso, o Tesouro Nacional evita emitir novos título do Tesouro Prefixado dotados de um longo prazo de vencimento nos momentos em que a Selic se encontra em um patamar elevado. Dívida Pública A Dívida Pública Federal (DPF) é a dívida contraída pelo Tesouro Nacional para financiar o déficit orçamentário do Governo Federal, nele incluído o refinanciamento da própria dívida, bem como para realizar operações com finalidades específicas definidas em lei. Ela pode ser classificada de distintas formas, sendo as principais: i) quanto à forma utilizada para o endividamento, e ii) quanto à moeda na qual ocorrem os fluxos de recebimento e pagamento da dívida. Em relação à forma, o endividamento por ocorrer por meio da emissão de títulos públicos ou pela assinatura de contratos. Quando os recursos são captados por meio da emissão de títulos públicos, a dívida daí decorrente é chamada de mobiliária. Quando a captação é feita via celebração de contratos, a dívida é classificada como contratual. Os títulos públicos federais são instrumentos financeiros de renda fixa emitidos pelo Governo Federal via oferta pública (leilão) ou diretamente ao detentor. Já 19 os contratos são usualmente firmados com organismos multilaterais, tais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, com agências governamentais, como o Japan Bank For International Cooperation e o KfW, e com bancos privados. Em relação à moeda na qual ocorrem seus fluxos de recebimento e pagamento, a Dívida Pública Federal pode ser classificada como interna ou externa. Quando os pagamentos e recebimentos são realizados na moeda corrente em circulação no país, no caso brasileiro o real, a dívida é chamada de interna. Por sua vez, quando tais fluxos financeiros ocorrem em moeda estrangeira, usualmente o dólar norte-americano, a dívida é classificada como externa. Atualmente, toda a Dívida Pública Federal em circulação no mercado nacional é paga em real e captada por meio da emissão de títulos públicos, sendo por essa razão definida como Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi). Já a Dívida Pública Federal existente no mercado internacional é paga em outras moedas que não o real e tem sido captada tanto por meio da emissão de títulos quanto por contratos, sendo por isso definida como Dívida Pública Federal externa (DPFe). Objetivos e diretrizes O objetivo da gestão da Dívida Pública Federal é suprir de forma eficiente as necessidades de financiamento do governo federal, ao menor custo no longo prazo, respeitando-se a manutenção de níveis prudentes de risco e, adicionalmente, buscando contribuir para o bom funcionamento do mercado brasileiro de títulos públicos. Para o alcance desse objetivo, as seguintes diretrizes qualitativas norteiam a elaboração das estratégias de financiamento da DPF: - Substituição gradual dos títulos remunerados por taxas de juros flutuantes por títulos com rentabilidade prefixada e títulos remunerados por índice de preços; - Suavização da estrutura de vencimentos, com especial atenção para a dívida que vence no curto prazo; - Aumento do prazo médio do estoque; - Desenvolvimento da estrutura a termo de taxas de juros; - Aumento da liquidez dos títulos públicos federais no mercado secundário; - Ampliação da base de investidores; Necessidade de Financiamento e Metas As necessidades de financiamento projetadas, cujo montante reflete os vencimentos da dívida do Governo Federal em mercado, são as seguintes: O Tesouro Nacional provê ao público referência quantitativa de sua atuação por meio do estabelecimento de metas para os principais indicadores da Dívida Pública Federal ao final do ano, em termos de montante, composição e estrutura de vencimentos. Estas metas são explicitadas sob a forma de limites mínimos e máximos, sinalizando elementos importantes do planejamento da gestão da dívida sem, contudo, perder a flexibilidade para efetuar ajustes em sua execução diante de mudanças no cenário macroeconômico ou nas condições do mercado de títulos públicos. Considerando a necessidade e a estratégia de financiamento traçadas, as metas almejadas para os principais indicadores da Dívida Pública Federal são: 20
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