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Cora M Rocha A expressão “Doença Intestinal Inflamatória” (DII) aplica-se a duas doenças intestinais crônicas e idiopáticas: a Doença de Crohn (DC) e a Retocolite Ulcerativa (RCU). Um distúrbio na regulação da imunidade da mucosa intestinal, que justifica o surgimento de um processo inflamatório espontâneo provavelmente direcionado contra os germes da microbiota fisiológica. - Principal fator de risco é HISTÓRIA FAMILIAR POSITIVA. PRIMEIRO GRAU. - São descritos dois picos de incidência: entre 15-40 anos (principal) e entre 50-80 anos. - A diferenciação entre RCU e DC é feita por critérios clínicos, radiológicos, endoscópicos e histológicos. Síndrome do Intestino Irritável: sua prevalência em pacientes com DII também equivale à da população geral. Assim, pacientes que possuem as duas entidades podem se beneficiar do uso de antiespasmódicos, antidiarreicos, suplementação de fibras ou baixas doses de antidepressivos tricíclicos, além do tratamento anti-inflamatório. Hormônios Femininos: algumas mulheres apresentam piora dos sintomas durante a menstruação. A relação com uso de ACO e TRH é controversa, mas parece que tais fármacos aumentam (discretamente) o risco de DII e a chance de exacerbação em pacientes com doença estabelecida. Uso de Anti-inflamatórios Não Esteroidais (AINEs): estas drogas estão frequentemente associadas com reagudizações das DII e contribuem para o surgimento de doença refratária. Os inibidores específicos da COX-2 (Coxibs), por sua vez, parecem seguros em curto prazo. Gastroenterite Aguda: estudos observacionais sugerem a existência de uma associação entre gastroenterite aguda e posterior surgimento de DII, tanto em adultos quanto em crianças. A explicação é que certas infecções mais graves serviram como “estopim” para a desregulação da imunidade mucosa em indivíduos predispostos. ANATOMOPATOLOGIA: RETOCOLITE ULCERATIVA (1) A RCU é uma doença EXCLUSIVA do Cólon. (2) A RCU é uma doença EXCLUSIVA da Mucosa. (3) A RCU é tipicamente “ascendente” e uniforme - Doença intestinal caracterizada pelo surgimento inexplicado (idiopático) de lesões inflamatórias que ascendem de maneira uniforme pela mucosa do cólon. - restrição à mucosa retal → proctite - mucosa retal e sigmoide → proctossigmoidite - até flexura esplênica → colite esquerda - além da flexura esplênica → pancolite - O aspecto macroscópico da mucosa colônica varia desde o normal até o completo desnudamento: (a) Desaparecimento do padrão vascular típico do cólon (precoce). (b) Hiperemia, edema, mucosa friável, erosões, ulcerações e exsudação de muco, pus ou sangue. (c) Formação de Pseudopólipos: 15 a 30% dos casos. (d) Mucosa pálida, atrófica, com aspecto tubular (cronicidade) - essas alterações da RCU ocorrem de forma uniforme e contínua, sem áreas de mucosa normal entremeadas - Na RCU de longa evolução, são comuns alterações da musculatura colônica, que, ao exame radiológico (figura 3), se mostram com: (1) perda das haustrações (2) espessamento da Cora M Rocha musculatura lisa com aspecto de “cano de chumbo” - Obs.: na RCU de longa duração pode ocorrer displasia epitelial, que tem forte associação com o desenvolvimento de neoplasia maligna do cólon como complicação tardia. ANATOMOPATOLOGIA: DOENÇA DE CROHN - A DC pode acometer qualquer parte do tubo digestivo, desde a boca até o anus; - Alterações microscópicas frequentemente são encontradas à distância dos locais onde estão as alterações macroscópicas, ou seja, a DC não acomete o trato intestinal de forma homogênea, contínua - acometimento descontínuo e focal, acometimento macroscópico em locais diferentes separados por mucosa normal → lesões salteadas; - Alterações patológicas inflamatórias são transmurais → espessamento da parede intestinal com estreitamento do lúmen (formação de estenoses) + potencial de formação de fístula para mesentério e órgão contínuo. **na RCU as alterações estão restritas à mucosa - A DC se inicia com a formação de úlceras aftoides (em mucosa sobre placa de Peyer, no ID, ou sobre aglomerados linfoides no cólon) a) pode evoluir de forma linear, retilínea, “pedras de calçamento” b) pode evoluir com aprofundamento através das camadas da parede intestinal, resultando em fístulas para mesentério e órgãos vizinhos Na DC os aglomerados linfoides são comuns em todas as camadas da mucosa, submucosa e serosa - Granulomas não caseosos podem ser encontrados em até 30% dos casos, fato que diferencia da RCU. Sua presença constitui achado patognomônico desde que outras afecções granulomatosas sejam excluídas e apesar de pouco sensível. - A porção distal do íleo e o cólon ascendente são os mais comprometidos → ileocolite. - 10-20% apresentam acometimento exclusivo do cólon → Colite de Crohn ou colite granulomatosa; - 20% limitada ao ID → ileíte de Crohn, enterite regional; - ⅓ com DC tem doença perianal (fístulas, fissuras, abscessos) - a invasão da serosa por tecido adiposo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS RCU DC Episódios de diarreia invasiva (sangue, muco e pus) intercalados por períodos assintomáticos Diarreia crônica invasiva associada a dor abd Diarreia sanguinolenta e dor abdominal Febre, anorexia, perda de peso Pode haver febre Massa palpável em quadrante inferior direito → alça intestinal edemaciada ou abscesso intra-abd. Início insidioso, diagn após 9 meses do início do quadro: Doença perianal Cora M Rocha 1)urgência para defecar 2) leves cólicas abd baixas 3) sangue e muco nas fezes *SANGUE MISTURADO ÀS FEZES Retossigmoide: fezes normais ou endurecidas, pode haver constipação Os sintomas variam em função de sua localização no TGI - manifestações da colite de crohn é semelhante à RCU - acometimento extenso e crônico do ID - snd disabsortiva grave, desnutrição - DC gastroduodenal imita DUP Se difuso e proximal: fezes amolecidas, cólicas intensas e tenesmo, não há pausa à noite, costumam conter sangue, muco e pus. Anormalidade laboratorial: anemia ferropriva por perda crônica de sangue Colites extensas: pode haver hipoalbuminemia devido à perda de proteína por exsudação por inflamação COMPLICAÇÕES 1 Sangramentos - Hematoquezia na RCU + comum - Sangue oculto em DC 2 Megacólon tóxico/ Perfuração/Peritonite - O megacólon tóxico ocorre quando a inflamação compromete a camada muscular levando à perda de tônus e adelgaçamento da parede intestinal → todo o cólon ou segmento dele pode se dilatar. Uma dilatação colônica com diâmetro superior a 6 cm na radiografia simples de abdome, quando associada à dor abdominal (espontânea ou à descompressão), febre alta e diminuição da peristalse, é diagnóstico de megacólon tóxico. - Com o enfraquecimento da parede intestinal pode evoluir com perfuração e peritonite séptica. - Pode ocorrer em quadro de colite grave, tanto por pcte com RU ou DC 3 Estenoses - comprometimento repetitivo e grave dos planos profundos da parede intestinal → + comum da DC - Predominam os sintomas de uma obstrução parcial, como cólicas e distensão abdominal pós-prandial, constipação/ diarreia paradoxal e massa palpável (refletindo ou uma alça intestinal de diâmetro aumentado, geralmente dolorosa à palpação, ou um abscesso intra-abdominal). 4 Fístulas - transmural. Podem resultar em massas inflamatórias e abscessos. 5 Câncer MANIFESTAÇÕES EXTRAINTESTINAIS 1 Manifestações articulares 2 Manifestações cutaneomucosas 3 Manifestações oculares 4 Manifestações hepáticas e biliares 5 Manifestações ósseas 6 Distúrbios nutricionais e metabólicos 7 Manifestações renais 8 Manifestações tromboembólicas Cora M Rocha DIAGNÓSTICOS RCU - A retossigmoideoscopia com biópsias -Praticamente todos os pacientes apresentam lesão inflamatória do reto (proctite), e a maioria também do cólon sigmoide (proctossigmoidite). - Encontraremos um comprometimento uniforme e contínuo, manifesto por perda do padrão vascular da mucosa, exsudatos, friabilidade, ulcerações, granulosidade e, nos casos de doença de longa data, os pseudopólipos. - A colonoscopia com biópsias é indicada na suspeita de doença grave (mais de 6 evacuações diáriasou sinais sistêmicos). DC - Ileocolonoscopia com biópsias; - A grande maioria dos pacientes com doença de Crohn apresenta acometimento do íleo terminal e do cólon ascendente ou ceco. Os dois exames de imagem mais utilizados no passado eram o clister opaco e o trânsito de delgado. Nos dias de hoje, entretanto, métodos mais acurados como a entero-TC ou a entero-RNM (TC ou RNM com contraste oral + venoso, respectivamente) são preferíveis. Tais métodos identificam áreas de parede intestinal “doente” (aumento de espessura, hipercaptação focal de contraste), sendo obtidos de forma mais rápida do que um trânsito de delgado, além de garantir a visualização de TODO o tubo digestivo (delgado + cólon). TRATAMENTO - A despeito das diferenças que existem entre as duas DII (DC e RCU), os mesmos medicamentos são usados no tratamento de ambas. Como se tratam de patologias idiopáticas, não existe uma terapia específica, haja vista que não conhecemos sua exata etiologia... Assim, as principais drogas úteis para o controle geral do processo inflamatório associado a essas doenças são: (1) derivados do ácido 5-aminosalicílico (5-ASA); (2) glicocorticoides; (3) imunomoduladores; e (4) agentes “biológicos”. - O ácido 5-aminosalicílico é um anti-inflamatório de ação TÓPICA na mucosa intestinal. Ele é prontamente absorvido ao longo do delgado, porém, não possui absorção colônica significativa; - Logo, diferentes formulações do 5-ASA (os “derivados” do 5-ASA) foram criadas com o intuito de “entregar” o medicamento especificamente ao cólon, ao íleo terminal ou então a todo o intestino, tentando minimizar sua absorção sistêmica. - Os glicocorticoides DEVEM SER USADOS APENAS PARA INDUÇÃO DA REMISSÃO NAS DII MODERADAS A GRAVES, VISANDO A RÁPIDA MELHORA DA INFLAMAÇÃO. Hidrocortisona, metilprednisolona. - Os imunomoduladores principais são as tiopurinas: azatioprina e mercaptopurina. Essas drogas são empregadas em portadores de DII moderada a grave (DC ou RCU) em combinação com um agente anti-TNF (ver adiante, em “biológicos”) ou em pacientes que não conseguem reduzir a dose de glicocorticoide sem apresentar exacerbação (“corticodependência”). Neste último caso, os imunomoduladores são prescritos para permitir o desmame do glicocorticoide, garantindo a manutenção da remissão (sendo posteriormente mantidos em monoterapia). Cora M Rocha - Agentes “Biológicos” é composto por anticorpos monoclonais quiméricos ou humanizados que têm como alvo moléculas essenciais para a cascata inflamatória. Atualmente, existem duas classes em uso clínico nas DII: (1) agentes anti-TNF e (2) agentes anti-integrina. DC: dieta equilibrada e adequada pelo risco de desnutrição. RCU: chance de cura com proctocolectomia total
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