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Processos Infecciosos em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial Rebeca R. M. Pontes - ODONTOLOGIA - Universidade Federal da Bahia Microbiologia da Infecção Odontogênica Na região bucomaxilofacial podemos ter o desenvolvimento de variados processos infecc iosos, dentre e les: processos infecciosos bacterianos (sífilis, tuberculose); processos infecciosos fúngicos (protozoários - candidíase, toxoplasmose); processos infecciosos virais; processo infeccioso pós trauma (trauma de face); infecção pós contaminação de processos patológicos (cisto d e r m o i d e ) ; l e s õ e s c o m i n f e c ç õ e s secundárias, entre outros. obs.: a possibilidade de colonização de um processo infeccioso é grande, principalmente na região oral, onde passa alimentos. Devido a altíssima frequência e a uma associação com odontologia e cirurgia mais forte do que todas as outras citadas, t r a t a r e m o s a p e n a s d a s i n f e c ç õ e s odontogênicas. INFECÇÃO = nº de bactérias X virulência bacteriana / resistência do hospedeiro Se houver grande quantidade de bactérias, mas com pouca virulência, não haverão problemas. Casos com muita ou pouca quant idade de bactér ias, v irulência considerável e baixa resistência (alcoolismo, doença imunossupressora), a possibilidade de infecção é maior. A infecção odontogênica é endógena (ocasionada pelo própria flora do indivíduo), tem característica polimicrobiana (não é ocasionada apenas por um único organismo) e caráter aeróbio-anaeróbio (no início do processo infeccioso, ocorre a predominância das bactérias aeróbicas, contudo, o ambiente possui seu pH alterado e, consequentemente, s e u a m b i e n t e é a l t e r a d o e h á a predominância das bactérias anaeróbicas). obs.: a importância de se saber o caráter aeróbio-anaeróbico contribui para a melhor escolha do uso de antibiótico. A a l t e ra ç ã o d o a m b i e n t e c a u s a o desequilíbrio do meio e gera a possibilidade de controlar mais eficientemente a infecção, além do que o antibiótico faria sozinho. Etiologia da Infecção Odontogênica * periapical: proveniente do periápice; * periodontal: proveniente do periodonto. Geralmente, quando a infecção é periapical possui o potencial de gravidade é mais elevado, visto que a infecção periodontal é mais “superficial” (presente, geralmente no sulco gengival), com maior chance de drenagem espontânea. obs.: a pericoronarite acontece com frequência, podendo ser em qualquer dente, mas sua predominância é no 3MI e tem potencial de gravidade significativa (apesar de ser periodontal), pois sua possibilidade de drenagem é dificultada, gerando maior disseminação para espaços mais profundos. A extração do dente que possui a pericoronarite é feita mediante o quadro do paciente. Em casos brandos, o tratamento pode ser feito apenas com antiinflamatório e remoção da causa, contudo, quando o caso é mais grave, é necessária a associação antibiótico+antiinflamatório. Bem como, a profilaxia antibiótica é uma opção em casos como esse. História Natural da Progressão das Infecções Odontogênicas Contribui para saber como o processo aconteceu e, consequentemente, como intervir. * origem: local onde inicia a manifestação da infecção; * disseminação: por onde a infecção está presente. Va l e r e s s a l t a r a i m p o r t â n c i a d o reconhecimento das inserções musculares presentes na região onde há o quadro da infecção, pois é essa relação com a musculatura que irá indicar a origem e disseminação do processo infeccioso. Diagnóstico da Infecção Odontogênica Página de 1 3 É predominantemente clínico, podendo ser osteíte periapical, celulite e abcesso. * celulite: “…inflamação difusa dos tecidos moles, que não está circunscrita ou confinada a uma área, mas que, ao contrário do abscesso, tende a espalhar-se pelos espaços teciduais e ao longo dos planos fasciais.” * abscesso: “coleção purulenta circunscrita e localizada” Esses processos doem pela presença da inflamação e, principalmente, pela pressão existente através de grande secreção purulenta, causando distensão na região. Ao drenar, a dor rapidamente desaparece, pois não há mais a pressão. Importante a boa anamnese e exame físico, será nessa etapa que teremos acesso a informações como a história completa da infecção, bem como seu início, rapidez da evolução, sintomas presentes e história médica pregressa, contribui para identificar o potencial de gravidade da infecção. Além da aferição dos sinais vitais, inspeção e palpação. obs.: existem casos que a infecção odontogênica pode levar à óbito. Sinais vitais - temperatura, frequência cardíaca, frequência respiratória, pressão sanguínea. A dor pode gerar a alteração (elevação) de todos os sinais vitais no paciente. obs.: a temperatura é o sinal vital mais importante no que diz respeito ao processo infeccioso através da presença de febre. Exames laboratoriais e exames de imagem tem valor secundário no que diz respeito ao diagnóstico da infecção odontogênica. obs: radiografias para definir o diagnóstico de processos infecciosos tem pouco valor. Mas, em caráter de exceção, existem casos que não apresentam manifestações clínicas significativas, os exames de imagens podem definir o diagnóstico. Em 1940, dr. Ashebel Wiliams publicou uma serie de 31 casos de Angina de Ludwig onde 54% dos pacientes morreram. Três anos após, o mesmo autor e dr. Walter Guralnick publicaram uma série de casos prospectivos com apenas 10% de óbitos. Atualmente temos um índice de mortalidade de 4%, graças principalmente ao princípio de segurança para as vias aéreas. Princípios do Tratamento da Infecção Odontogênica * determinar a severidade da infecção: deve- se analisar a localização anatômica, v e l o c i d a d e d e e v o l u ç ã o e comprometimento das vias aéreas. * avaliar as defesas do hospedeiro: são fa tores d i re tamente assoc iados a capacidade de defesa do sistema imune c o m o d i a b e t e s , t e r a p i a c o m corticoesteroides, transplante de órgãos, idoso, abuso de álcool, malignidade, quimioterapia, doença renal crônica, subnutrição, AIDS em estágio avançado; * decidir sobre o ambiente do tratamento: ambulatorial ou hospitalar. obs.: as indicações para a hospitalização são temperatura maior que 38,3ºC, desidratação, ameaça das vias aéreas, infecção em espaços anatômicos com severidade moderada ou alta, necessidade de anestesia geral, necessidade de controle hospitalar da doença sistêmica. * t r a t a r c i r u r g i c a m e n t e : a b s c e s s o d iagnost icado , abscesso drenado . Drenagem cirúrgica e remoção da causa Página de 2 3 obs.: dependendo do caso, a remoção da causa é feita anteriormente a drenagem cirúrgica. Abscesso crônico - possui fístula e drena espontaneamente Abscesso agudo - sem fístula e drenagem espontânea Quando a drenagem do abscesso crônico é lento, é interessante que realize a drenagem cirúrgica afim de acelerar o processo. o b s . : e m p r o c e s s o s a g u d o s , é importantíssimo que haja a profilaxia antibiótico antes de realizar o procedimento. Em casos de celulites, o tratamento cirúrgico é feito para que se estabeleça a manutenção das vias aéreas pérvias, localização anatômica que determina a gravidade, envimento de múltiplos espaços fasciais, infecção de progressão muito rápida, necessidade de anestesia geral. * dar suporte médico: hidratação, nutrição adequada, calor úmido, analgésicos e ant i térmicos, repouso, escolha do antibiótico, controle de doenças sistêmicas; * escolher e prescrever terapia antibiótica: não necessariamente o antibiótico será prescrito, depende da gravidade da infecção, e não apenas porque existe secreção. obs.: as indicações para o uso de antibiótico são a presença de infecção aguda, tumefação difusa, comprometimento das defesas do hospedeiro, envolvimento dos espaços fasciais, pericoronarite grave, osteomielite.obs.: em situações como abscesso crônico bem localizado, abscessos reduzidos situados ao lado vestibular, alveolite, e pericoronarite branda, o uso de antibiótico se faz desnecessário. A seleção do antibiótico se dá de acordo com a microbiologia da infecção em questão, terapia inicial (uso empírico), bactericida ou bacteriostático, amplo ou pequeno espectro, estágio da infecção, toxicidade e efeitos colaterais, custo. * administrar antibióticos adequadamente: * avaliar o paciente com frequência Critérios de Gravidade * infecção de progressão muito rápida; * taquipneia ou progressão muito rápida: é a respiração acelerada, o paciente evita certas posições pela dificuldade de respirar; * dificuldade de deglutição: há a compressão na região cervical; * envolvimento dos espaços fasciais: ESPAÇOS PRIMÁRIOS DA MAXILA - canino, bucal, infratemporal ESPAÇOS PRIMÁRIOS DA MANDÍBULA - submentoniano, bucal, submandibular, sublingual ESPAÇOS SECUNDÁRIOS - massetérico, pterigomandibular, temporal superficial e profundo, faríngeo lateral, retrofaríngeo, pré- vertebral obs.: uma vez que a infecção atinge esses espaços, ela pode avançar. Quanto mais superficial a estrutura atingida, mais fácil é a sua drenagem. * hipertermia: febre; * trismo: dificuldade de abrir a boca, podendo ser ocasionada por trauma de face, quadro infeccioso e outros fatores; * aparência tóxica: aparência de prostrado, cansado, geralmente quando o paciente está com dor; * compromet imento das defesas do hospedeiro: Causas de Falha no Tratamento Cirurgia inadequada, defesas do hospedeiro deprimidas, corpo estranho ou permanência da causa, falta de colaboração do paciente, a dose é baixa e o diagnóstico bacteriano está errado. A Angina de Ludwig “…é uma celulite aguda que invade os espaços submandibular, sublingual e submentoniano bilateralmente." O tratamento é realizado através de um diagnóstico precoce, manutenção de vias aéreas desobstruídas, antibioticoterapia em altas doses e com associação de antibióticos, remoção do agente causador, drenagem cirúrgica precoce, terapia de suporte. Suas complicações são a possível evolicao para o mediastino (mediastinite), sepse generalizada, fascite necrotizante cérvico- facial, obstrução das vias aéreas, morte. Página de 3 3
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