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HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA Homem com 38 anos chega ao setor de emergência com fezes em borra de café e nas últimas 12 horas teve vertigem. Sua história clínica e cirúrgica prévia nada tem de notável. Ele queixa-se de cefaleias frequentes causadas por estresse relacionado ao trabalho e se automedicou com 4 comprimidos de ibuprofeno por dia nas duas últimas semanas. Consome cerca de três doses de destilado por dia e nega ser fumante ou usar drogas ilícitas. Ao exame, sua temperatura é de 37°C, o pulso é de 105 bpm (em posição supina), a pressão arterial é de 104/80 mmHg e a frequência respiratória de 22 irpm. Seus sinais vitais na posição ortostática são pulso de 120 bpm e pressão arterial de 90/76 mmHg. Ele está desperto, cooperativo, mas pálido. Os exames cardiopulmonares nada revelam de notável. Seu abdome está um pouco distendido e sensível no epigástrio. O exame retal revela fezes com melena, mas ausência de massas na ampola retal. Definição A hemorragia digestiva alta (HDA) se refere ao sangramento gastrointestinal cuja origem é proximal ao ligamento de Treitz na junção duodenojejunal. A hemorragia digestiva alta aguda pode se manifestar de várias maneiras, com ou sem comprometimento hemodinâmico, inclusive hematêmese, vômito em borra de café, retorno de sangue vermelho vivo através de uma sonda nasogástrica, melena e, raramente, hematoquezia (sangue vermelho vivo pelo reto). A hematoquezia é normalmente observada apenas em caso de hemorragia digestiva alta (HDA) extremamente intensa; nesses, pacientes, é comum observar comprometimento hemodinâmico significativo. Etiologia Os pacientes com HDA geralmente podem ser separados em dois grupos: aqueles com lesões varicosas (esofágicas ou gástricas) e aqueles com lesões não varicosas (na maioria das vezes úlceras pépticas). As etiologias da hemorragia digestiva alta mais frequentes são: 1. Úlcera péptica (26%) 2. Gastrite/erosões (16%) 3. Esofagite (17%) 4. Nenhuma causa encontrada (12%) 5. Duodenite erosiva (9%) 6. Varizes (8%) 7. Gastropatia hipertensiva portal (4%) 8. Laceração de Mallory-Weiss (3%) 9. Malignidade (3%) - geralmente crônica e raramente tem sangramento agudo 10. Ectasia vascular (2%). Quadro clínico • Hematemese: vômito de sangue • Melena: evacuação escura e fétida (digestão do sangue- 14h) • Hematoquezia: sangue vermelho vivo pelo reto, não é comum, mas em sangramentos muito volumosos e rápidos não vai dar tempo do sangue ser digerido. • Hipovolemia: desidratado, taquicárdico, hipotensão, má perfusão. Abordagem inicial das hemorragias 1- Estabilização clínica A -> Garantir perviedade das VAs B -> Fornecer oxigênio se necessário C -> 2 acessos periféricos / Reposição volêmica Mas como fazer a reposição de fluidos? • Solução inicial: CRISTALOIDE (SF 0,9% ou RL) • ALVO: PAS > 100 mmHg • Hemotransfusão: Hipotensão refratária / Hemorragia maciça / Hb < 7 2- Laboratório: Hemograma, função renal e eletrólitos, coagulograma. 3- Dieta zero: Nao sabe se vai ter que fazer endoscopia ou cirurgia 4- Passagem de sonda nasogástrica: muito controverso 5- Medicações • Supressão ácida: IBP venoso, como a doença ulcerosa peptica é uma das principais causas, já serve pra ir tratando ela • Se cirrose hepática: Cefriaxona (Atb)/ Terlipressina (vasoconstrição em área esplacnica) - suspeita de varizes 6- Endoscopia digestiva alta: até 24h a admissão (varizes até 12h) • Antes dela deve fazer a estabilização hemodinâmica, se o paciente não estabilizar deve fazer métodos específicos para controle dessa HDA, como angioembolizacao (feito por radiologista intervencionista, no qual coloca substância dentro do vaso e estancar o sangramento) ou cirurgia. Varizes esofagogástricas Anatomia do sistema venoso portal A circulação porta-hepática é uma importante via de drenagem venosa do estômago, do baço e dos intestinos. A veia porta é formada pela junção da veia mesentérica superior e da veia esplênica (onde desemboca a veia mesentérica inferior), levando todo esse fluxo sanguíneo para o figado, onde se ramifica entre os lobos hepáticos, perfundindo todo o parênquima. Há, também, duas veias menores, gástrica esquerda e gástrica direita, que drenam o fluxo venoso do esôfago diretamente para a veia porta. Após passar pelo fígado, onde várias substâncias são metabolizadas, o fluxo sanguíneo é drenado pelas veias hepáticas, seguindo em direção à veia cava inferior e alcançando, assim, a circulação central. As varizes formam-se quando há resistência ao fluxo de sangue na veia porta (hipertensão portal) ou em alguma veia tributária importante (hipertensão portal segmentar). Como consequência, forma-se um fluxo hepatofugal, ou seja, o sangue “foge do fígado”, procurando outras vias colaterais para alcançar a circulação sistêmica. Com isso, os finos capilares da submucosa do esôfago tornam- se ingurgitados, dilatados e tortuosos. O mesmo pode ocorrer no estômago, no duodeno, no reto e também na parede abdominal. Porém, os locais com maior risco de ruptura desses vasos são o esôfago e o estômago. Causas da hipertensão portal A principal causa de hipertensão portal é a cirrose hepática. Porém essa condição também pode ser causada pela esquistossomose hepatoesplenica e os processos expansivos do pâncreas. Além disso, uma condição de estase do sistema venoso, como no caso da ICC e pericardite podem causar uma congestão nesse sistema. Cirrose hepática O fígado cirrótico tem intensa fibrose no seu parênquima, aumentando sua rigidez, o que provoca aumento da resistência ao fluxo vascular da veia porta. Além disso, o fígado perde a sua capacidade de metabolizar e depurar várias substâncias vasodilatadoras, havendo acúmulo dessas no sistema venoso esplênico e mesentérico, que provoca vasodilatação e aumento do volume de sangue que chega à veia porta. Ou seja, temos uma combinação de dois fatores: 1. maior resistência ao fluxo sanguíneo pelo enrijecimento do parênquima 2. aumento do fluxo sanguíneo que chega à veia porta por vasodilatação esplênica. Conforme a doença avança, esses dois mecanismos acentuam-se progressivamente, piorando a hipertensão portal e aumentando a chance de formação de varizes com alto risco de sangramento. R = · &- ⑯E Investigação de disfunção hepática 1- Enzimas hepáticas elevadas: • Aumento das concentrações de ALT e AST, indicando lesão ou inflamação hepática. • Elevação da fosfatase alcalina (FA) e da gama-glutamil transferase (GGT), que podem estar relacionadas a obstrução biliar ou doença hepática. 2- Bilirrubinas elevadas: • Aumento da bilirrubina total e direta, sugerindo problemas na excreção da bile pelo fígado. 3- Diminuição da albumina sérica, indicando comprometimento na síntese proteica hepática. 4- INR elevado: • O INR é uma medida padronizada do tempo de protrombina e é utilizado para monitorar a anticoagulação em pacientes em uso de varfarina ou para avaliar a função hepática. • Um INR elevado indica que o sangue leva mais tempo do que o normal para coagular, o que pode ser causado pela diminuição da síntese hepática de fatores de coagulação, como a albumina e os fatores II, VII, IX e X. • Na prática clínica, um INR elevado está frequentemente associado à insuficiência hepática, cirrose hepática, hepatite aguda ou crônica, entre outras condições hepáticas. • 5- TAP prolongado: • O TAP é o tempo necessário para a coagulação do sangue através da via extrínseca da coagulação. • Um TAP prolongado está relacionado ao retardo na ativação dos fatores de coagulação dependentes da vitamina K, que são produzidos pelo fígado. 6- Alterações na ultrassonografia abdominal, como aumento do tamanho do fígado, presença de esteatose hepática, lesões focais ou dilatação de vias biliares. 7- Contagem de plaquetas abaixo de 150 mil/mm O fígado desempenha um papel fundamental na regulação da quantidade de plaquetas no organismo, principalmente devido às seguintes funções hepáticas: • Produção de trombopoietina:o fígado é o principal local de produção da trombopoietina, um hormônio essencial para a formação e maturação das plaquetas na medula óssea. Ela estimula a proliferação e diferenciação dos megacariócitos, precursores das plaquetas, contribuindo para a manutenção dos níveis adequados de plaquetas circulantes. • Armazenamento de plaquetas: o fígado atua como um reservatório de plaquetas, podendo liberá-las na circulação sanguínea em resposta a situações de demanda aumentada, como hemorragias ou processos inflamatórios. É importante considerar a função hepática ao avaliar pacientes com trombocitopenia ou distúrbios de coagulação, uma vez que o fígado desempenha um papel crucial na homeostase plaquetária e na cascata de coagulação. Tempo de Protrombina (TP): O TP avalia a via extrínseca e comum da coagulação, medindo o tempo necessário para a formação de coágulos após a ativação da cascata de coagulação. Pode estar prolongado na HDA devido à perda de fatores de coagulação pela hemorragia aguda. A diluição desses fatores de coagulação devido à reposição volêmica também pode contribuir para o prolongamento do TP1. Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPa): O TTPa avalia a via intrínseca e comum da coagulação, medindo o tempo necessário para a formação de coágulos após a ativação da via intrínseca. Assim como o TP, o TTPa pode estar prolongado na HDA devido à perda de fatores de coagulação pela hemorragia aguda. A reposição volêmica e a diluição dos fatores de coagulação também podem contribuir para o prolongamento do TTPa2. Apresentação clínica das varizes Sao identificadas como dilatações das pequenas veias submucosas do esôfago ou do estômago. Podem ser classificadas pelo seu calibre e quanto a presença dos chamados sinais da cor vermelha, que são marcas encontradas sobre as varizes que sinalizam maior fragilidade do vaso e risco de ruptura, como manchas cor de cereja (red spot), vergão vermelho, rubor difuso ou fenômeno do “vaso sobre vaso”. A maioria das hemorragias por varizes apresenta-se com hematêmese importante (vários episódios de vômito com sangue vivo ou em “borra de café”) e/ou melena (fezes enegrecidas e com odor fétido), além de sinais de hipovolemia e instabilidade hemodinâmica. Dificilmente, são sangramentos insidiosos ou assintomáticos. Cabe ressaltar que, na HDA maciça, as varizes de alto risco (grosso calibre ou sinal da cor vermelha), o grau de disfunção hepática e a ocorrência de insultos inflamatórios ao fígado (como a persistência do etilismo) são importantes fatores para predizer o risco de ressangramento após o primeiro episódio. Gastropatia hipertensiva é uma manifestação comum da hipertensão portal na mucosa do estômago. Devido à estase venosa, a mucosa gástrica torna-se "encharcada", congesta e edemaciada, além de exibir pontos de hemorragia subepitelial. Esse quadro pode levar à perda crônica de sangue e, até mesmo, exteriorizar como melena. Raramente provocaria um sangramento volumoso, com instabilidade hemodinâmica. Seu tratamento é o controle da hipertensão portal (propranolol) e não costuma haver benefício no tratamento endoscópico. Conduta na HDA por varizes Além da reposição volêmica, não demore a proceder intubação orotraqueal em todo paciente com hematêmese volumosa e rebaixamento do nível de consciência. É vital proteger as vias aéreas nesses casos. Outro ponto importante no cirrótico é que a restauração volêmica não deve fazer subir muito a pressão arterial. O ideal é manter a PA sistólica entre 90 e 100 mmHg e a FC abaixo de 100 bpm. Há evidências de que níveis pressóricos mais altos estejam relacionados à elevação da pressão portal, aumentando o risco de ressangramento. No atendimento inicial do cirrotico, deve avaliar esses 3 parâmetros: 1- Nível de consciência: rebaixamento do nível de consciência ocorre devido à hipoperfusão cerebral como consequência de uma hipovolemia importante, o que costuma melhorar com a reposição volêmica. Porém, nos pacientes cirróticos, isso também pode ocorrer pela encefalopatia hepática deflagrada pelo sangue no tubo digestivo, um quadro que tende a piorar nas próximas horas e não responde à reposição volêmica. 2- Hipotensão: nível de pressão arterial sistólica (PAS) abaixo de 100 mmHg deve ser interpretada como evidência de hipovolemia, bem como a hipotensão postural, caracterizada pela queda de pelo menos 20 mmHg na PAS quando o paciente assume posição sentado ou postura ereta (ortostática). No cirrótico com hemorragia, o alvo é manter a PAS entre 90 e 100 mmHg para evitar o aumento da pressão portal e a recidiva do sangramento. 3. Taquicardia: muitos cirróticos já fazem uso de propranolol ou carvedilol e sua frequência cardíaca (FC) pode não ultrapassar 100 bpm. Em pacientes que deveriam estar betabloqueados, uma FC entre 80 e 100 já deve ser encarada como taquicardia. Se estiver acima de 100, significa uma taquicardia muito importante! · Aqui há uma grande diferença em relação à terapia farmacológica do HDA não varicosa, em que o único medicamento obrigatório é o inibidor da bomba de prótons (IBP). Diante da suspeita de sangramento por varizes, há três medicações que devem ser consideradas: • Vasoconstritor esplênico (obrigatório em todo sangramento varicoso); • Profilaxia antibiótica (apenas nos cirróticos); • Eritromicina (efeito procinético; recomendada, mas não obrigatória). 1- Vasoconstritor esplênico O objetivo dessas drogas é diminuir o fluxo de sangue na circulação portal, ajudando a controlar o sangramento. Estão indicadas no sangramento varicoso, tanto em cirróticos quanto em não cirróticos (esquistossomose, por exemplo). Existem três drogas usadas com essa finalidade: • A terlipressina é um análogo sintético da vasopressina, porém, com meia-vida mais longa (3 a 4 horas) e bem menos efeitos colaterais cardiovasculares. Seu mecanismo de ação é aumentar o tônus da musculatura lisa, provocando aumento da resistência das arteríolas terminais, o que leva a uma hipoperfusão do baço e redução do fluxo sanguíneo na veia esplênica. Também se atribui à Terlipressina, uma redução do fluxo intestinal, o que diminui a circulação pelas veias mesentéricas e faz chegar menos sangue à veia porta. 📍 Dose de ataque: 2 mg IV (lentamente), seguida de 1-2 mg, 4/ 4 horas, durante 2 a 5 dias. • A somatostatina e seu análogo sintético de ação prolongada, o octreotide também podem ser usados como vasoconstritores esplênicos. Há vários mecanismos de ação. Um deles é provocar vasoconstrição por estimular o influxo de cálcio intracelular no músculo liso dos vasos, efeito mediado pelos receptores SSTR1 e SSTR4, amplamente distribuídos no tubo digestivo. Outro mecanismo age pelo bloqueio da liberação do glucagon, substância que faz vasodilatação mesentérica. 📍 Somatostatina -> ataque de 250 mcg IV, seguida por manutenção (infusão contínua) de 250 a 500 mcg/kg/hora, por2 a 5 dias. 📍 Octreotide -> dose de ataque de 50-100 mcg, seguida por manutenção (infusão contínua) de 25-50 mcg/hora, por 2-5 dias. Tratamento da HDA varicosa Antibiótico profilaxia A presença do sangue no tubo digestivo dos cirróticos pode precipitar, além da encefalopatia hepática, uma translocação bacteriana para o líquido ascítico, causando peritonite bacteriana espontânea (PBE), um quadro infeccioso grave que aumenta a mortalidade nesses casos. Além disso, existe a estimativa de que 20% dos cirróticos que sangram possam ter infecções não peritoneais (urinária, respiratória) no momento da admissão e que, em torno de 50%, poderão desenvolver infecção no curso da internação. Por isso, todo cirrótico com hemorragia deve iniciar profilaxia antibiótica. São duas as drogas de escolha: • Norfloxacina → 400 mg, 12/12 horas a partir da admissão, mantendo por 7 dias, para pacientes que podem usar a via oral. • Ceftriaxona → 1g/dia, intravenosa, por 7 dias, para pacientes com, pelo menos, dois critérios de alto risco de complicações, como ascite,encefalopatia, bilirrubina > 3 mg/dL e desnutrição A profilaxia antibiótica é recomendada apenas para pacientes cirróticos, não havendo evidências de benefício para outras causas de hipertensão portal, como esquistossomose ou hipertensão portal esquerda. Eritromicina Em pacientes com hematêmese volumosa, pode-se fazer uso da eritromicina, um antibiótico agonista do receptor da motilina, que acelera o esvaziamento gástrico e facilita a migração dos coágulos, melhorando o rendimento da endoscopia digestiva e diminuindo a permanência do sangue no tubo digestivo. • É administrada em dose única de 250 mg IV. • Embora não seja uma medicação obrigatória, seu uso é recomendado nos principais consensos. · Doença ulcerosa peptica Fatores de risco 1- AINES: • substâncias como o ácido acetilsalicílico (AAS), diclofenaco, ibuprofeno, cetoprofeno, nimesulida e meloxicam. • O uso abusivo e disseminado dessas medicações, especialmente em idosos, vem aumentando a sua importância como etiologia, tanto de úlcera péptica quanto de hemorragia digestiva alta. • Causa mais úlceras gástricas. 2- H. Pylori: • A principal causa de DUP é a infecção crônica, provocada pela bactéria Helicobacter pylori. • Essa bactéria tem sua maior incidência em populações de nível socioeconômico mais baixo, com condições de saneamento inadequadas. • É importante destacar que o H. pylori é responsável por 90% das úlceras duodenais e, no máximo, 70% das úlceras gástricas. O sangramento é a complicação mais comum da doença ulcerosa péptica, tanto da gástrica quanto da duodenal, podendo ocorrer em 25 a 30% desses pacientes ao longo da vida, mas a maioria dos sangramentos é de pequena monta e tem resolução espontânea. Porém, úlceras localizadas na parede posterior do bulbo duodenal são responsáveis por sangramentos maciços e vultuosos, pois esse é o trajeto da calibrosa artéria gastroduodenal. A parede do bulbo é delgada, de forma que uma úlcera pode, facilmente, tornar-se profunda e lesar essa artéria, provocando sangramento de grande volume. Observe na imagem a seguir que a artéria gastroduodenal desce verticalmente, pela parede posterior do bulbo antes de se bifurcar. O sangramento pode ser tão vultuoso que o sangue desce rapidamente pelo intestino, manifestando-se como hematoquezia ou enterorragia, com grande instabilidade hemodinâmica. Classificação de Forrest IA -> sangramento pulsátil - alto risco IB -> sangramento “babando” - devagar - alto risco IIA -> Vaso visível no interior da úlcera - alto risco IIB -> Coágulo - risco intermediário IIC -> presença de hematina - estágio posterior do coágulo, é uma mancha plana de sangue. - baixo risco III -> Base clara e limpa - baixo risco Alto risco: terapia endoscópica -> Clipagem / Coagulação térmica / Injeção de epinefrina Risco intermediário -> Tratar como alto ou baixo risco Baixo risco: sem terapia endoscópica, reintroduzir dieta, erradicar H. Pylori se (+) / suspender AINE, uso de IBP via oral e alta precoce. Doença ulcerosa péptica (DUP) é a etiologia mais comum de HDA não varicosa, correspondendo a cerca de 60 a 70% dos episódios, percentual que supera todas as outras causas juntas. Na verdade, mesmo em pacientes cirróticos, você deve, sempre, suspeitar de DUP como uma das causas mais prováveis do sangramento. Tratamento • IBP: Omeprazol ou esomeprazol- 40 a 80mg IV 12/12h. • Endoscópico: deve fazer classificação de forrest, ela indica a chance de sangrar novamente. · Síndrome de Malorry- Weiss Essa é a segunda causa mais comum de hemorragia digestiva alta não varicosa, correspondendo a cerca de 7 a 10% dos casos. A síndrome de Mallory-Weiss se caracteriza por sucessivos episódios de vômito que acabam por causar lacerações profundas na junção esofagogástrica, ocasionando sangramento agudo e hematêmese. Ocorre em pessoas que tiveram vários episódios de vômitos (vômitos incoercíveis), normalmente etilistas (ou após libação alcoólica), grávidas no primeiro trimestre (devido à hiperêmese gravídica), durante episódios de gastroenterite aguda (especialmente em crianças), pacientes em quimioterapia, usuários de drogas ou medicações, cujo efeito colateral inclui vômitos. A laceração é longitudinal (vertical), profunda, e surge no final do esôfago, estendendo-se pela cárdia (junção esofagogástrica). O sangramento pode ser bastante volumoso, mas costuma cessar espontaneamente, não havendo necessidade de tratamento endoscópico, na maioria das vezes. A maior parte dos casos não requer hemostasia endoscópica, sendo conduzida com suporte clínico apenas (hidratação, antieméticos e IBO). Apenas quando a lesão exibir sangramento ativo, durante a endoscopia, é que se realiza tratamento endoscópico, através de cauterização, esclerose ou aplicação de clipes metálicos. Se o sangramento já tiver cessado durante o exame, não há necessidade de terapia endoscópica. Lesão de Dieulafoy A lesão de Dieulafoy é a causa menos frequente de hemorragia digestiva alta (no máximo 6% dos casos). Caracterizada por uma arteríola submucosa patologicamente dilatada e aberrante. Como é um vaso muito superficial, pode sofrer erosão e provocar um sangramento maciço e grave. Na maioria das vezes, essa lesão está localizada na pequena curvatura do corpo gástrico proximal entre 5 e 10cm da junção esofagogástrica, embora possa ocorrer, com menor frequência, em qualquer outro local do tubo digestivo, como intestino delgado e cólon. Fatores de risco • homem com comorbidades (diabetes, hipertensão, insuficiência renal) • Doença cardiovascular • AINES Diagnóstico e tratamento Mesmo durante um episódio de sangramento, é uma lesão difícil de ser diagnosticada, pois o estômago se enche de coágulos, dificultando sua localização. Embora possa haver sangramento autolimitado, é comum haver recorrência com sangramento de alto fluxo. Nesse caso, se nenhum tratamento for feito, o paciente pode morrer por choque hipovolêmico. Quando a lesão é identificada pela endoscopia digestiva, o tratamento envolve injeção de uma substância esclerosante (adrenalina) ou, melhor ainda, aplicação de hemoclipes metálicos. Hemobilia Sangramento originado da via biliar Fatores de risco: • trauma recente • Procedimento biliar • Neoplasia hepatobiliar Clínica: • hemorragia • Dor em HCD • Icterícia * Chamada de síndrome Sanblom/ Quincke Diagnostico e tratamento: • Sangramento se exterioriza através da papila duodenal • Maioria das vezes não é necessária nenhuma conduta invasiva, pois o sangramento cessa espontaneamente. • Quando há acúmulo de coágulos na via biliar, além dos sintomas característicos da hemobilia (icterícia e dor abdominal), pode ocorrer, secundariamente, uma inflamação do colédoco, com febre e aumento dos parâmetros inflamatórios, revelando a necessidade de drenagem da via biliar e lavagem do colédoco, o que pode ser feito através de uma CPRE (colangiopancreatografia retrógrada endoscópica). • Embolização arterial Fístula aortaenterica • comunicação entre aorta abdominal e intestino delgado Fatores de risco • aunerisma de aorta abdominal • Próteses aorticas (tratamento de aorta, ocorreu infecção e predispões a fístula) Clínica • sangramento catastrófico (melena grave) • Hipotensão muito grave • Pode demorar a exteriorizar é só ter um quadro de choque. • Hemorragia sentinela (quadro de hemorragia pequena antes) Diagnóstico: • Angio- TC Tratamento: • reparo cirúrgico Ectasia vascular antral gástrica (GAVE) • Dilatavao de vênulas no antro gástrico “em melancia” Fatores de risco • mulheres idosas • Esclerodermia • Cirrose Tratamento: hemostasia endoscópica Câncer Os tumores do tubo digestivo alto (esôfago, estômago ou duodeno) podem provocar sangramento agudo ou crônico, mas, felizmente, são uma causa incomum, correspondendo a 3 - 4% dos casos. Esofagites, gastrites e bulbítes As lesões inflamatórias superficiais da mucosa esofágica (esofagite), gástrica (gastrite) e nobulbo duodenal (bulbites) podem exibir mínima perda de sangue, mesmo quando são bastante acentuadas, não figurando entre as causas mais comuns de hemorragia digestiva alta. Não provoca hematêmese ou sinais de hipovolemia grave. Quando muito, podem provocar perda crônica de sangue ou melena. Esses três tipos de lesão, juntas, representam, no máximo, 8% dos sangramentos altos e não necessitam de tratamento endoscópico, sendo suficiente a terapia medicamentosa com inibidores da bomba de prótons (IBPs). Uma gastrite hemorrágica mais importante poderia acontecer após uso abusivo de álcool ou de anti-inflamatórios não esteroidais, provocando um quadro conhecido como lesão aguda da mucosa gástrica (LAMG). Em relação à esofagite, ela precisa ser muito acentuada para provocar sangramento, que, mesmo assim, seria em pequena quantidade, insuficiente para justificar exteriorização importante. · Manejo terapêutico e clínico da HDA 1- Nível de consciência: paciente que teve síncope ou chegou ao pronto-socorro com rebaixamento do nível de consciência deve ter hipoperfusão cerebral como consequência de uma hipovolemia importante. É necessário entubar paciente muito rebaixado, para proteger via aérea, evitando a boncoaspiração que pode ser causada pela hematemese. 2- Hipotensão: nível de pressão arterial sistólica (PAS) abaixo de 100mmHg deve ser interpretado como evidência de hipovolemia. Lembre-se de avaliar, também, hipotensão postural, pois pacientes jovens podem chegar com PAS acima de 100mmHg, mas quando colocados em posição ortostática, observa-se queda de, pelo menos, 20mmHg, configurando sinal de instabilidade hemodinâmica. 3. Taquicardia: frequência cardíaca acima de 100bpm. Fique atento, pois muitos idosos usam betabloqueadores (propranolol, atenolol, carvedilol, metoprolol) e sua frequência cardíaca pode não se elevar a níveis superiores a 100bpm, mas esses pacientes referem sintomas como tonturas, vertigem, lipotimia e síncope. Além disso, podem apresentar hipotensão postural. 4- O volume da hematêmese ou da melena, assim como a palidez e a desidratação cutaneomucosas reforçam o diagnóstico de sangramento e hipovolemia, mas não são parâmetros confiáveis para estimar o grau de perda volêmica. Condutas gerais • estabelecer 2 acessos venosos perifericos calibrosas • infusão de solução cristalóides • Deve avaliar a hidratação pelos sinais vitais, não fazendo hidratação excessiva. • Dieta zero • repouso no leito Terapia medicamentosa Todo paciente admitido com suspeita de HDA deve receber um inibidor da bomba de prótons (IBP), já que grande parte das causas de sangramento se beneficia de terapia antiácida. No caso da doença ulcerosa péptica, em especial, já foi demonstrado que o IBP estabiliza o coagulo e reduz o risco de ressangramento. Isso acontece porque, ao alcalinizar em poucas horas a luz do estômago, o IBP facilita a formação do trombo plaquetário (que requer um pH neutro) e reduz a ativação da pepsina, que, normalmente, rompe o coágulo recém- formado. Portanto, em todas as etiologias de HDA, a administração do IBP tem efeito favorável. Diante de um sangramento vultoso, com instabilidade hemodinâmica, recomenda-se o pantoprazol ou omeprazol venosos, na dose de 80mg em bolus, com manutenção dessa dose durante, pelo menos, os três primeiros dias. Em pacientes sem sangramento ativo, recomenda-se o IBP na dose habitual de 40mg IV. Nos casos de sangramento pela sindrome de Mallory-Weiss, além do IBP, está indicado um antiemético para controlar os episódios de vômito. Em pacientes com hematêmese volumosa, pode-se fazer uso da eritromicina, um antibiótico agonista do receptor da motilina, que acelera o esvaziamento gástrico e facilita a migração dos coágulos, melhorando o rendimento da endoscopia digestiva. A dose é de 250mg IV.Transfusão de hemoderivados Nafase aguda do sangramento, os valores da hemoglobina e do hematócrito podem não traduzir o nível real da perda de sangue, pois o paciente está hipovolêmico e hemoconcentrado. Pacientes de alto risco que se apresentam com hemorragia digestiva aguda volumosa, acompanhada de sinais clínicos de grave instabilidade hemodinâmica, devem ser considerados para receber transfusão de, pelo menos, uma bolsa de sangue, independentemente de seus níveis hematimétricos iniciais. ➡ Hemostasia endocoscopica Escleroterapia • injeta substâncias esclerosantes ao redor da lesão • A substância vai causar uma isquemia no tecido e reduzir fluxo sanguíneo. • A principal substância é adrenalina • Úlceras e lesões vasculares respondem bem a esse tratamento Hemostasia térmica • Faz uma cauterização através da transmissão de energia térmica (calor) ao tecido. • Muito úteis para cauterizar pequenas lesões vasculares, associadas ou não a úlcera peptica • Deve ser evitada em vasos mais calibrosos (> 2-3mm), pois é mais difícil conseguir o colapso vascular Hemostasia mecânica • ocorre aplicação de matérias que aproximam as margens da lesão, ocluindo o sítio de sangramento. • Hemoclipes metálicos são utilizados em lesões vasculares mais calibrosas, com sangramento arterial de maior intensidade, como ocorre nas úlceras com sangramento em jato (forrest IA) e no sangramento de dieulafoy. • Além disso, também são utilizados em vários outros tipos de lesão, como na síndrome de Mallory-Weiss com sangramento ativo ou na úlcera com vaso visível (Forrest IIA), desde que disponível no serviço. Terapia de resgate A terapia endoscópica é capaz de intervir e tratar as causas de sangramento alto em até 90% das vezes. Porém, eventualmente, o sangramento é muito vultoso, não dando chance ao endoscopista de sequer conseguir localizar a lesão. Outras vezes, apesar da hemostasia endoscópica adequada, o paciente volta a sangrar, vultuosamente, em menos de 48 horas, com instabilidade ou necessidade de múltiplas transfusões de sangue. Nesses casos, consideramos o sangramento como refratário ou recidivante, sendo necessário mudar a técnica de hemostasia para outros métodos, o que chamamos de terapia de resgate. E quais são os métodos disponíveis? São o método radiológico e o cirúrgico. • O método radiológico é a arteriografia seletiva com embolização do vaso. Nesse procedimento, o ponto de sangramento é identificado através da injeção de contraste arterial e controle radioscópico. Tem a vantagem de ser diagnóstico e terapêutico, por meio da injeção de vasopressina no vaso sangrante ou embolização arterial seletiva. A desvantagem é que requer sangramento ativo a um fluxo mínimo de 0,5 a 1mL/min. • O tratamento cirúrgico deve ser o mais econômico possível, consistindo apenas na rafia da lesão que sangra. Então, fique atento aos critérios que indicam a necessidade de um método de resgate (não endoscópico): • Paciente de alto risco (idoso com comorbidades) que se apresenta com hemorragia grave e instabilidade hemodinâmica difícil de ser tratada. Partir diretamente para a cirurgia é a melhor escolha nesse caso. • Paciente já submetido a dois ou mais tratamentos endoscópicos, voltando a sangrar, sem instabilidade hemodinâmica. Esse paciente pode ser submetido ao tratamento radiológico (arteriografia) ou conduzido diretamente para a cirurgia. • Paciente já submetido ao tratamento endoscópico, mas que volta a sangrar precocemente (< 48 horas), com instabilidade hemodinâmica. O ideal, nesse caso, também seria o tratamento cirúrgico.
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