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REFLUXO GASTROESOFÁGICO Etiologia O esfíncter esofágico inferior regula a passagem de alimentos do esôfago para o estômago e contém tanto o músculo liso intrínseco e quanto músculo esquelético. Os episódios de relaxamento transitório do esfíncter esofágico inferior são um fenômeno normal, mas eles ocorrem com mais frequência na doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), provocando o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago. O relaxamento transitório do esfíncter esofágico inferior é mais comum depois das refeições e é estimulado pela presença de gordura no duodeno. Os pacientes com refluxo grave normalmente têm uma hérnia do hiato e menor pressão do esfíncter esofágico inferior em repouso. No entanto, a pressão pode estar alta no esfíncter esofágico inferior em alguns pacientes com refluxo leve a moderado. Fisiopatologia A gravidade do dano à mucosa depende da duração do contato com o conteúdo gástrico, das características do conteúdo gástrico (ácido, pepsina e sais biliares danificando a mucosa) e da resistência do epitélio ao dano. A duração do contato com o conteúdo gástrico depende do número de episódios de refluxo, da eficácia do peristaltismo esofágico e da neutralização do ácido pela saliva. As contrações esofágicas de baixa amplitude podem ocorrer em refluxo grave, reduzindo a possibilidade de eliminar o ácido do esôfago. Os sintomas laringofaríngeos podem ser causados por refluxo faríngeo intermitente. Isso ocorre principalmente à noite, quando o estado de repouso do esfíncter esofágico superior é reduzido. Definição de Montreal Classifica as síndromes esofágicas. 1. Síndromes com sintomas e sem lesão: • Síndrome do refluxo típica • Síndrome da dor torácica por refluxo. 2. Síndromes com lesão esofágica: • Esofagite de refluxo • Estenose por refluxo • esôfago de Barrett • Adenocarcinoma esofágico. Síndromes extraesofágicas 1. Associações estabelecidas: • Síndrome da tosse por refluxo • Síndrome da laringite por refluxo • Síndrome da asma por refluxo • Síndrome da erosão dental por refluxo. 2. Associações propostas: • Faringite • Sinusite • Fibrose pulmonar idiopática • Otite média recorrente. Manifestações A pirose e a regurgitação são os sintomas mais comuns. Os sintomas de alarme tradicionais são anemia, disfagia, hematêmese, melena, vômitos persistentes e perda de peso involuntária (>5% do peso corporal), que levantam a possibilidade de esofagite, estenose péptica ou câncer. Os sintomas extraesofágicos são rouquidão (laringite ácida), tosse não produtiva persistente, pressão profunda na garganta e pigarro. As manifestações extraesofágicas incluem asma, bronquite, dor torácica, doença oral, sinusite e pneumonias recorrentes .. Endoscopia digestiva alta (EDA) É indicada em pacientes com sintomas atípicos, recorrentes ou persistentes. • pode identificar um diagnóstico alternativo (como neoplasia maligna esofágica ou úlcera péptica) ou identificar complicações da DRGE (como esôfago de Barrett). Se uma endoscopia for realizada para diagnosticar a DRGE, a terapia com IBP deve ser suspensa por 2-4 semanas para avaliar se há exposição esofágica excessiva ao ácido na ausência de um IBP. O esôfago de Barrett pode ser encontrado após a cicatrização dos graus mais altos de esofagite erosiva. Assim, se a endoscopia for realizada devido à preocupação com o esôfago de Barrett (por exemplo, sintomas de longa duração), pode ser melhor realizar o procedimento após um ciclo de tratamento de 8 semanas com IBP. Devem ser realizadas biópsias caso seja realizada endoscopia para DRGE refratária, mesmo que a mucosa aparente estar normal.[ Pacientes com sintomas persistentes sob terapia com IBP Testes adicionais são necessários nos pacientes com sintomas persistentes apesar de terapia com um IBP. A endoscopia deve ser realizada, caso não tenha sido realizada anteriormente. Na ausência de esofagite erosiva (Los Angeles grau B e acima) ou de esôfago de Barrett de segmento longo (≥3 cm), deve-se realizar o monitoramento ambulatorial prolongado do pH, sem medicação (por 7 dias) para confirmar ou descartar DRGE. A manometria esofágica deve ser realizada: • antes de uma cirurgia antirrefluxo • nos pacientes sem resposta clínica aos IBPs, quando a etiologia não pode ser determinada usando-se o monitoramento do pH por impedância. • e nos pacientes com dor torácica não cardíaca, principalmente aqueles sem resposta clínica aos IBPs, para avaliar anormalidades na motilidade. A pHmetria esofágica é um procedimento que mede a quantidade e a duração do refluxo ácido do estômago para o esôfago ao longo de um período de tempo, geralmente 24 horas. Isso é feito usando um pHmetro esofágico, que é conectado a uma sonda inserida no esôfago do paciente. A manometria esofágica é um procedimento que avalia a função motora do esôfago e da musculatura do esfíncter esofágico inferior (EEI), que é a válvula muscular na parte inferior do esôfago. Durante a manometria esofágica, o paciente engole água ou um líquido especial enquanto uma sonda fina e flexível é inserida no esôfago. A sonda registra as contrações musculares do esôfago e do EEI enquanto o líquido é engolido. Ela pode detectar manifestações sutis de distúrbios de motilidade esofágicos, como acalasia ou espasmo esofágico difuso. • Para pacientes com sintomas persistentes que seguem a terapia com IBPs duas vezes ao dia e endoscopia não satisfatória, as diretrizes da American Gastroenterological Association recomendam a manometria como a próxima etapa. • As diretrizes do Reino Unido recomendam que a manometria seja realizada antes da cirurgia anti-refluxo. O teste combinado de pHmetria com impedância pode detectar eventos de refluxo ácido ou não-ácido. Ele detecta o trânsito do bolo anterógrado e retrógrado de líquido e gás. O monitoramento da impedância não consegue detectar o conteúdo ácido nem o volume do conteúdo intraluminal. Desse modo, uma sonda de pH geralmente é incorporada no conjunto. • O monitoramento combinado de impedância e pH pode, assim, detectar refluxo ácido e não ácido, para avaliar a correlação com os sintomas. • Recomenda-se o pH ambulatorial ou a pHmetria com impedância para avaliar os pacientes com suspeita de síndrome de DRGE esofágica que não responderam a um teste empírico da terapia com IBP, que têm achados normais na endoscopia e não têm nenhuma grande anormalidade motora na manometria Resposta incompleta ao IBP = IBP alta dose + testes adicionais Classificação de Los Angeles da esofagite A classificação de Los Angeles da esofagite designa os pacientes aos graus A a D, dependendo dos achados endoscópicos das interrupções da mucosa no esôfago distal indicativas de esofagite: • Grau A: quebras ≤5 mm • Grau B: quebras >5 mm • Grau C: interrupções que se estendem entre os picos ≥2 dobras de mucosa, mas com <75% da circunferência Grau D: interrupções circunferenciais (≥75%). Outras modalidades de imagem A endoscopia por cápsula esofágica é uma alternativa segura menos invasiva para a endoscopia digestiva alta e como uma possível ferramenta de rastreamento e diagnóstico para avaliar a patologia esofágica. Os estudos têm mostrado apenas sensibilidade e especificidade moderadas para o diagnóstico de distúrbios esofágicos, e isso reflete função e aceitação limitadas no rastreamento de doença da mucosa (esofagite erosiva e esôfago de Barrett) Em determinadas circunstâncias, a endoscopia por cápsula é usada para conforto do paciente. Ela é contraindicada na presença de estenose suspeitada (por exemplo, presença de disfagia) ou confirmada ou aderências. A esofagografia baritada pode ser útil nos pacientes com disfagia para os quais a endoscopia for contraindicada ou não estiver disponível. O exame de imagem com bário não deve ser usado como único teste diagnóstico para a DRGE. A presença de refluxo em um esofagograma com bário tem baixa sensibilidade e especificidade para a DRGE, em comparação com a testagem do pH. Tratamentoempírico Não tem necessidade de endoscopia. Critérios: • sintomas típicos • ausência de sinais de alarme: emagrecimento, disfagia, anorexia, hemorragia digestiva, perda ponderar, familiares de primeiro grau com câncer. • abaixo de 40 anos. Medidas comportamentais * evitar cintas modeladoras e cintos apertados * evitar AINEs, cuidados com colinérgicos, teofilina, bloqueadores do canal de cálcio (acabam relaxando o esfíncter esofágico) * perda de peso e não fumar * elevar a cabeceira do leito o refeições fracionadas e pouco volumosas e não comer e deitar (2 horas) * alimentos que devem ser evitados: gordurosos, chocolate, café, álcool, bebidas gasosas, menta, hortelã, bebidas gaseificadas, e aqueles não tolerados Duração da terapia medicamentosa Os pacientes que respondem à terapia normalmente precisarão de tratamento de manutenção em longo prazo. A terapia de manutenção com IBP é recomendada para aqueles com: • sintomas após a descontinuação do IBP • esofagite erosiva e esôfago de Barrett • realizada de 3 a 6 meses A maioria dos pacientes terá recidiva sem a terapia com IBP. No entanto, sempre devem ser realizadas tentativas para interromper ou reduzir a dose até o mínimo necessário para manter o controle sintomático. Algumas pessoas com doença do refluxo não erosiva (DRNE) podem usar a terapia com IBP sob demanda ou intermitente. • Omeprazol 40mg • Lansoprazol 30mg • Pantoprazol 40mg • Rabeprazol 20mg • Esomeprazol 40mg • Dexlanzoprazol 60mg O tratamento inicial: dose plena por 8 semanas. O alívio dos sintomas é presumido como diagnóstico, mas a falha do tratamento com IBP não descarta a DRGE. Tratamento cirúrgico Indicações: • tratamento clínico prolongado e dependente da medicação • Não deve fazer em pacientes que não respondem a IBP seja sintomas típicos ou atípicos. • Necessário manutenção com IBP, principalmente menos de 40 anos. • indivíduos que não podem arcar com custos • pacientes com manifestações atípicas cujo refluxo comprovado.. • DRGE complicada - lesões esofágicas graves, como úlceras, estenose e doença de barret. • Grandes hérnias hiataais sintomáticas • Reavaliar diagnóstico de quem não responde em nada a medicação. Avaliação pré-operatória Deve ser feita EDA para avaliar sinais de malignidade. Manometria: avalia a motilidade do esôfago, ele avalia o esfíncter esofágico inferior, sendo necessário para ver se pode fazer uma válvula anti refluxo e ter disfagia depois. Bons candidatos para cirurgia • Phmétria com escore anormal de Ph de 24h, no caso positiva para refluxo. • Sintomas típicos • Melhora com medicação • IMC <35 • Jovens Maus candidatos para cirurgia • sintomas atípicos (sem refluxo documentado) • Vomitadores • Phmetria normal • Desordens motoras esofágicas severas - o paciente que tem essa condição ao fazer essa cirurgia vai acabar fazendo disfagia, ele não vai conseguir vencer a hipertonia do esfíncter. Procedimento 1- Fundoplicatura: * válvula antirreflexo feito com o fundo gástrico * Por trás do esôfago puxa a parede gástrica e com ela faz uma válvula. * Quando o alimento passa para o estômago a válvula comprime essa região, simulando o esfíncter. + 2- Hernioplastia hiatal: * Tratamento do hiato esofágico que geralmente está alargado. * O hiato é um túnel que da passagem para o esôfago do mediastino até o estômago * Formado pelos pilares direito e esquerdo * Na cirurgia você vai dissecar ele, se tiver hérnia reduz ela e corrige o hiato aproximando ele com ate 1-2 pontos. Os pacientes com DRGE que são obesos podem se beneficiar de um procedimento bariátrico em vez de um procedimento antirrefluxo. » As diretrizes recomendam o monitoramento ambulatorial pré- operatório do pH, quando não existe evidência de esofagite erosiva, e manometria pré-operatória Complicações * mortalidade baixa * Disfagia transitória - 2 a 12 semanas, ocasionada por distúrbio de motilidade esofágico, sendo até mesmo causado pela inflamação do refluxo. * Incapacidade de vomitar e eructar. * Flatulências - o ar deglutido não consegue sair por eructação, deve comer mais devagar. Resultados * 90% de alívio se sintomas típicos * Sintomas atípicos aliviam em 2/3 dos pacientes * Pode haver reivindica soa sintomas após 8 a 10 anos, ainda mais se ganhar peso 3- Esôfago de Barret • Estágio final de DRGE • Inflamação mais grave • Substituição do epitélio estratificado e escamoso do esôfago por epitélio colunar com células de padrão intestinal, isso é uma metaplasia, essas células tem capacidade pré neoplásica • Detectável ao exame endoscópico e microscópicos do órgão. • Barret curto - < 3cm • Barret longo - > 3cm, mais células, mais possibilidade de degeneração, mais grave a doença. Barret a Adenenicarcinoma -> 5 a 10% progridem para uma displasia. Diagnóstico Tratamento Não há tratamento eficaz, visto que já ocorreu uma metaplasia Deve controlar o refluxo, diminuindo o processo inflamatório e não causando novas atípias. Manter EDA periódicas. Barret sem displasia • EDA e biópsia a cada 12 a 24 meses Barret com displasia de baixo grau • 15 a 25% • EDA a cada 6 meses com biópsias seriadas • Tratamento agressivo antirrefluxo clinico ou cirurgia • Mucosectomia endoscópica: se bem localizada, ressecção cirúrgica • Radioablacao: lesão circunferêncial, cauteriza. Barret com displasia indeterminada • na biópsia não conseguiu avaliar o grau de displasia • Deve fazer IBP 80mg dia por 3 meses e repete a EDA com biópsia • Se refez e viu displasia, tratar como baixo grau Barret com alto grau de displasia • Já existe uma neoplasia intraepitelial, que deve ser confirmada por 2 patologistas. • Se confirmada, deve fazer a esfogactomia ou mucosectomia (ressecção profunda em lesão bem definida). Complicações da DRGE 1- Úlcera esofágica • são quadros de ulcerações na junção esôfago gástrica, onde tem mudança de epitélio (escamoso p colunar) • Deve sempre biópsiar p afastar neoplasia • Pode complicar com hemorragia, perfuração e estenose. • O sangramento costuma ser lento, podendo gerar anemia crônica. • Tratamento clínico: IBP pelo menos 8 semanas • se após o tratamento persiste a úlcera, pode fazer cirurgia. 2- Estenose • mais comum em idosos, tabagistas e etilistas • Ocorre uma inflamação crônica por esofagite, vai ultrapassando as paredes esofágicas e criando um tecido fibroso, perdendo elasticidade e causando constrição. • Tratamento: IBP + dilatações • Não melhorou faz cirurgia antirrefluxo. CÂNCER DE ESÔFAGO Tumores benignos • Raros: 0,5% a 0,8% dos tumores do esôfago • Mais comuns são os leiomiomas • Mais comum em terços médio e distal • Disfagia ou odifofagia só em tumores acima de 5 cm - pelo fato de a distensibilidade do esôfago não estar comprometida, ele não é tão invasivo e infiltrado. • Tem diagnóstico mais tardio, sendo achados de exames. • Pode ser móvel ao toque, as vezes não tem sinal de invasão da mucosa é só está aderida aos planos profundos da mucosa. • Ultrassonografia endoscópica: pode ser feita para avaliar o grau de invasão, tamanho e profundidade. • Tratamento: excisão cirúrgica, quando necessário. Só há indicação de excisão em tumores sintomáticos ou maiores de 2 cm. Atualmente tem uma tendência s ser mais conservador, mesmo com 2cm, mas sem sintomas, faz só o acompanhamento. Tumores malignos • 8º mais incidente no mundo • A sobrevida em cinco anos é baixa, por volta de 15% a 25%, isso quando o diagnostico é precoce. • Mais homens que mulheres (3 a 5:1) • Pico de prevalência: 5a e 6a décadas • Maioria → carcinoma espinocelular (CEC) • No Brasil → região Sul - fatores de risco associados a dieta. Tipos histológicos 1- CARCINOMA EPIDERMOIDE (ESPINOCELULAR) • Mais comum • Terço médio • Mt mais comum, porém nos últimos anos vem mudando para o adenocarcinoma, pela diminuição do etilismo e tabagismo. 2- ADENOCARCINOMA • Associação com refluxo e Barrett • Terço distal • O refluxo estimula a carcinogenese nessa região, fazendo com queas células se proliferem e causem esse tipo de câncer. • Vem aumentando pela obesidade e sobrepeso. Epidemiologia – CEC Diferenças sensíveis de acordo com diferentes regiões demográficas: ੦ Fatores demográficos: homens, áreas urbanas, classes socioeconômicas inferiores ੦ Tilose (hiperceratose palmo plantar e papilomatose de esôfago) ੦ Fumo e álcool ੦ Fatores dietéticos: componentes nitrogenados (carnes processadas), toxinas fúngicas. ੦ Doenças esofágicas prévias: acalasia (megaesôfago) , estenose cáustica (ingestão de produtos químicos, que causam processo inflamatório crônico) ੦ Alimentos em altas temperaturas Epidemiologia Adenocarcinoma ੦ Doença do refluxo: Barrett, Esofagite de longa data ੦ Tabagismo e etilismo ੦ Obesidade e síndrome metabólica: efeito pró- inflamatório (citocinas), favorecem o refluxo. Clínica • o diagnostico é tardio por poucos sintomas iniciais • EDA com lugol: pode fazer em pacientes com acalasia • Deve sempre fazer EDA com biópsia em indivíduos com Barret e displasia. • Disfagia rapidamente progressiva → sólidos → pastosos → líquidos • Odinofagia • Sialorreia - fases mais avançadas, não consegue engolir saliva • Regurgitação- entala devido à redução do calibre do órgão • Hematêmese, melena - não são comuns • Caquexia, perda de peso - por conta da disfagia, que leva a uma desnutrição proteica importante. • rouquidão - avanço da doença, que sugere invasão de via aérea ou do nervo laríngeo recorrente • Tosse e cornagem - pode vim por fístula esoficobrinquica, mais comum no terço médio. Esôfago de Barret • Substituição do epitélio estratificado e escamoso do esôfago por epitélio colunar com células tubulares (intestinais) • 40x mais chance de câncer do que em pessoas normais. Fisiopatologia O câncer esofágico surge na mucosa do esôfago. A seguir, ele evolui no local para invadir a submucosa e a camada muscular e pode invadir estruturas adjacentes, como a árvore traqueobrônquica, a aorta ou o nervo laríngeo recorrente. Ocorre metástase tipicamente nos linfonodos periesofágicos, fígado e pulmões. O carcinoma de células escamosas afeta principalmente a porção superior e média do esôfago. Os cânceres da porção inferior do esôfago e da junção gastroesofágica são tipicamente adenocarcinomas. Os mecanismos fisiopatológicos de várias causas ainda não estão completamente esclarecidos e são motivo de pesquisa ativa. No entanto, têm sido propostos mecanismos para alguns desses fatores etiológicos. Bebidas alcoólicas • O mecanismo exato pelo qual as bebidas alcoólicas causam câncer esofágico ainda não é conhecido. O álcool, por si só, não se liga ao ácido desoxirribonucleico (DNA), não é mutagênico e não causa câncer em animais. Entretanto, ele pode agir por meio de sua conversão em acetaldeído (um carcinógeno conhecido), agindo como um solvente para outros carcinógenos e causando deficiências nutricionais. • Após a ingestão, o etanol é transformado em acetaldeído pela enzima álcool desidrogenase (ADH) e, em seguida, em acetato pela acetaldeído desidrogenase (ALDH). • Em associação com a absorção sistêmica e o metabolismo, em etilistas pesados (>40 g/dia), o álcool presente na saliva também é oxidado em acetaldeído pelos diversos micróbios da boca e pelas glândulas salivares e mucosas. Esse processo é intensificado em indivíduos com higiene bucal inadequada e alta carga bacteriana. Entretanto, a desintoxicação na boca é limitada, acarretando concentrações extremamente elevadas de acetaldeído carcinogênico. A saliva é deglutida, expondo a mucosa esofágica.[38] • In vitro, o acetaldeído causa mutações pontuais em linfócitos humanos, a troca de cromátides irmãs e a proliferação celular, além de inibir o reparo do ácido desoxirribonucleico (DNA). Tobacco • O tabagismo expõe o corpo a um grande número de carcinógenos, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, nitrosaminas e acetaldeído, que estão presentes na fumaça do tabaco. Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e esôfago de Barrett • A DRGE crônica causa metaplasia (esôfago de Barrett), em que o epitélio escamoso estratificado que reveste normalmente o esôfago distal é substituído por epitélio colunar anormal. Embora isso possa parecer uma adaptação favorável ao refluxo crônico (uma vez que o epitélio colunar parece mais resistente a lesões induzidas por refluxo), essas células metaplásicas podem se tornar displásicas e, por fim, malignas, por meio de alterações genéticas que ativam proto-oncogenes e/ou desativam genes supressores de tumores. • Fatores que aumentam os danos do refluxo gastroesofágico, como hérnia de hiato, acalásia, obesidade ou medicamentos que diminuem o tônus do esfíncter esofágico inferior, podem aumentar ainda mais o risco de carcinoma esofágico.[26] [59] [60] Estudos não conseguiram demonstrar de maneira consistente o aumento do risco associado com medicamentos específicos.[26] Classificação de Siewert O tipo de tumor de Siewert deve ser avaliado em todos os pacientes com adenocarcinoma esofágico que envolve a junção gastroesofágica. A classificação pode ser realizada ao resumir todas as informações disponíveis da radiografia por contraste, endoscopia e achados intraoperatórios. A classificação de Siewert possibilita a comparação de dados entre várias centrais e facilita a escolha da terapia cirúrgica. Os tumores são classificados em três tipos: • Siewert Tipo 1: adenocarcinoma esofágico na porção inferior do esôfago com epicentro localizado de 1 cm a 5 cm acima da junção gastroesofágica anatômica. • Siewert Tipo 2: carcinoma real da cárdia com epicentro do tumor até 1 cm acima e 2 cm abaixo da junção gastroesofágica. • Siewert Tipo 3: carcinoma subcárdico com epicentro do tumor entre 2 cm e 5 cm abaixo da junção gastroesofágica, que infiltra a junção gastroesofágica e a porção inferior do esôfago a partir de baixo. Abordagem O câncer esofágico tipicamente se apresenta tardiamente, o que, em parte, contribui para o prognóstico geralmente desfavorável. Os médicos precisam permanecer vigilantes e investigar os pacientes por completo para determinar o diagnóstico na primeira oportunidade possível. Características clínicas Os primeiros sinais mais comuns de carcinoma de células escamosas ou de adenocarcinoma localmente avançado são disfagia e odinofagia. Para pacientes com esôfago de Barrett e adenocarcinoma do esôfago e da junção gastroesofágica em estádio precoce, refluxo é o primeiro sinal mais comum. Geralmente ocorre intensa perda de peso após o início das dificuldades de deglutição.. Tumores da parte superior do esôfago podem envolver o nervo laríngeo recorrente, causando rouquidão. O comprometimento do nervo frênico pode desencadear soluços. Uma tosse pós-prandial ou paroxística pode indicar a presença de uma fístula traqueoesofágica ou broncoesofágica resultante de invasão local por um tumor. Investigações iniciais Se houver suspeita de câncer esofágico, a primeira investigação é geralmente uma endoscopia digestiva alta. Isso permite a avaliação de qualquer obstrução e biópsia, para confirmar a histologia das lesões da mucosa. O número mínimo de biópsias recomendadas não está definido. A diferenciação entre carcinoma de células escamosas e adenocarcinoma é de relevância clínica e prognóstica. A endoscopia pode identificar causas benignas de sintomas obstrutivos, além de permitir uma oportunidade para dilatação e o alívio imediato dos sintomas. EDA com biópsia • consegue enxergar todas lesões no esôfago. • Ao observar a lesão central elevada com ulceração central, o examinador pode ver que ela é endurecida e friável, no caso sangra quando é tocada Broncoscopia e laringoscopia • importante para lesões de terço médio, pois nesse local está em íntimo contato com as vias aéreas, e podem invadir broncofonte ou brônquios principais. • Terço médio e superior. TC cervical, torácica e abdominal A TC desempenha uma função importante na avaliação da massa tumoral e no monitoramentoda resposta do tumor à terapia. A TC pode definir se o tumor se espalhou do esôfago para os linfonodos regionais e/ou estruturas adjacentes e pode indicar a presença de metástases à distância. Deve ser usado material de contraste oral e intravenoso para garantir a opacificação ideal do lúmen e a visualização do coração, dos vasos do mediastino e do fígado. Uma espessura de parede esofágica >5 mm é anormal, independentemente do grau de distensão. A TC não diferencia com precisão a doença T1a (sem comprometimento da submucosa) e a doença T1b (com comprometimento da submucosa) Ultrassonografia endoscópica ± aspiração com agulha fina (AAF) Os achado da USE que indicam que um tumor não pode ser removido incluem a invasão do átrio esquerdo, da parede da aorta descendente, do corpo vertebral, da veia ou artéria pulmonar ou do sistema traqueobrônquico. Esta última deverá ser confirmada por broncoscopia com aspiração com agulha fina (AAF) transbrônquica. A estenose pode limitar a utilidade clínica da USE. A precisão da USE no especificidade do câncer esofágico avançado parece ser maior, em comparação com o câncer em estádio inicia A USE combinada à AAF (USE/AAF) é a modalidade de exame de imagem mais precisa para o estadiamento locorregional de câncer esofágico antes da terapia. PET-CT O PET-CT, ou Tomografia por Emissão de Pósitrons - Tomografia Computadorizada, é um tipo de exame de imagem médica que combina duas tecnologias diferentes: PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons): é uma técnica de imagem molecular que utiliza uma pequena quantidade de substância radioativa chamada radiotraçador. Essa substância é injetada na corrente sanguínea e é absorvida pelos tecidos do corpo em uma taxa que depende do metabolismo das células. O radiotraçador emite partículas chamadas pósitrons, que colidem com elétrons nos tecidos e produzem fótons de luz. Os detectores de PET registram esses fótons para criar uma imagem tridimensional da distribuição do radiotraçador no corpo. Isso permite a visualização de processos metabólicos e moleculares, como o metabolismo da glicose. CT (Tomografia Computadorizada): A tomografia computadorizada é uma técnica de imagem que utiliza raios-X para criar imagens detalhadas de estruturas internas do corpo. Durante um exame de CT, o paciente é colocado em uma mesa que desliza para dentro de um scanner, onde uma série de raios-X é projetada através do corpo em diferentes ângulos. Os detectores de raios-X medem a quantidade de radiação absorvida pelos tecidos do corpo, e um computador processa essas informações para criar imagens transversais (axiais) detalhadas do interior do corpo. Ao combinar PET e CT em um único exame, o PET-CT oferece várias vantagens: • Permite correlacionar informações metabólicas e moleculares do PET com imagens anatômicas detalhadas do CT. • Ajuda na localização precisa de áreas com atividade metabólica anormal, como tumores. • Auxilia na avaliação de resposta ao tratamento em pacientes com câncer, permitindo aos médicos visualizar mudanças na atividade metabólica das lesões ao longo do tempo. • exame para ver evolução e se há lesões a distância, além do marcador de imagem, tem marcadores metabólico, conseguindo ver células que estão produzindo ou se proliferando. Tratamento paliativo Indicação: • Irressecáveis • Inoperáveis • Metástases • Envolvimento da aorta • Nervo laríngeo recorrente • Fístula esofagotraqueal/brônquica • Aliviar a disfagia • Nutrir e limitar a hospitalização • Dilatação/prótese: fístula traqueoesofágica. -é colocado um stent autoexpansivo metálico por endoscopia, empurra a parada pra o lado, porém pode comprimir estruturas adjacentes, pode migrar. • Radioterapia: alivia a disfagia em 80%,, ela diminui o tamanho do tumor. Tratamento cirúrgico A cirurgia é o principal tratamento Avaliar o estado nutricional Suporte nutricional prévio por SNE, mínimo 15 dias. Avaliar funções pulmonar e cardíaca (fisioterapia respiratória) p ele aguentar o procedimento. Etilistas e tabagistas → patologias respiratórias, cardíacas e hepáticas associadas No tumor precoce: • faz esofagectomia • Ou mucosectomia endoscópica, se for muito superficial. Tumor não avançado: • Esofagectomia + quimioradioterapia adjuvante (pós) Tumor avançado: • avaliar se é ressecável. • Quimorradioterapia neoadjuvante (antes) • Reestadiamento do tumor com TC • esofagectomia com linfadenectomia • Se inoperável ou inoperável: faz a quimiorradioterapia isolada, e depois reavalia. Esofagectomia em 3 Campos: • aborda todas as regiões do esôfago. • padrão ouro • Laparotomia / laparoscopia mediana • Toracotomia direita • Cervicotomia esquerda • Linfadenectomia -> agressiva Cirurgia (esofagectomia) A cirurgia é a base do tratamento para o câncer esofágico. A cirurgia é realizada visando a cura. As principais abordagens cirúrgicas são: • Esofagectomia radical • Esofagectomia transtorácica (procedimentos de Ivor Lewis ou Mckeown) • Esofagectomia trans-hiatal. Geralmente, as esofagectomias radical e transtorácica são as opções de primeira escolha, pois estão associadas com a melhora na sobrevida, em comparação com a esofagectomia trans-hiatal em pacientes com adenocarcinoma esofágico ressecável. A esofagectomia radical requer laparotomia (para a preparação do estômago ou cólon, que será usado como conduto), linfadenectomia retroperitoneal, toracotomia (para dissecar o esôfago e os linfonodos mediastinais) e incisão cervical para gastroesofagostomia ou colonoesofagostomia. Na esofagectomia transtorácica, a reconstrução do tubo gástrico é realizada com uma anastomose intratorácica (Ivor Lewis) ou uma anastomose cervical (McKeown). O procedimento de Ivor Lewis é mais adequado para lesões torácicas distais, enquanto o procedimento de McKeown pode ser usado para tumores nas regiões superior, média e torácica do esôfago. A esofagectomia trans-hiatal envolve uma incisão supraumbilical e dissecção esofágica distal. Pode ser usada para lesões em qualquer localização torácica; no entanto, a dissecção trans-hiatal de grandes tumores esofágicos médios adjacentes à traqueia é difícil e pode estar associada a um risco considerável. O tipo de ressecção é determinado pela localização do tumor e pelas opções disponíveis para conduto, bem como pela experiência e preferência do cirurgião, levando em consideração também a preferência do paciente. Radioterapia A radioterapia (pré-operatória, pós-operatória ou paliativa) pode ser usada tanto para tumores esofágicos como gastroesofágicos. Geralmente, o tratamento para tumores de Siewert Tipos 1 e 2 seguem as diretrizes para tumores esofágicos e gastroesofágicos, enquanto o tratamento para tumores de Siewert Tipo 3 geralmente segue as diretrizes para radioterapia de câncer gástrico. Isolada é apenas paliativa, melhora na obstrução Pré-operatória reduz o volume do tumor, controla invasão local, reduz risco de disseminação na cirurgia Pós-operatória destrói células residuais se margens positivas Quimioterapia A quimioterapia pré-operatória e perioperatória só deve ser usada para adenocarcinoma do esôfago torácico ou da junção gastroesofágica. Como tratamento único, é a menos eficaz Mais utilizada no pré-operatório, isolada ou com radioterapia para tratar micrometástases e melhorar ressecabilidade Quimiorradioterapia A quimiorradiação pré-operatória com paclitaxel e carboplatina associados a radioterapia é a abordagem de primeira escolha para doença localizada ressecável. Uma revisão Cochrane constatou que a quimioterapia pré-operatória seguida por esofagectomia melhorou a sobrevida, em comparação com a cirurgia isolada em pacientes com câncer esofágico torácico ressecável. A quimiorradioterapia definitiva deve ser reservada para casos de doença irressecável ou para pacientes que recusam a cirurgia. CEA (Antígeno Carcinoembrionário): • O CEA é uma glicoproteína que pode ser encontrada em quantidades muito pequenas no sanguede adultos saudáveis. No entanto, os níveis de CEA podem aumentar em casos de câncer, especialmente câncer colorretal, mas também em outros tipos de câncer, como câncer de pulmão, pâncreas, mama, fígado, estômago e ovário. • O CEA é frequentemente utilizado para monitorar a resposta ao tratamento e detectar recorrências em pacientes com câncer colorretal. No entanto, seus níveis também podem aumentar em outras condições, como inflamação intestinal, doença hepática e tabagismo. • CA-19-9 (Antígeno Carbohidratado 19-9): • O CA-19-9 é um marcador tumoral específico para o câncer de pâncreas e outros cânceres do trato gastrointestinal, incluindo câncer colorretal, gástrico e hepatobiliar. • Assim como o CEA, os níveis de CA-19-9 podem ser elevados em pacientes com câncer. O CA-19-9 é frequentemente utilizado para avaliar a resposta ao tratamento, monitorar a progressão da doença e detectar recorrências. • É importante notar que os níveis de CA-19-9 também podem aumentar em condições não cancerígenas, como pancreatite, colestase e doença hepática.
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