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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI ESCOLA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - ECS CURSO: PSICOLOGIA DISCIPLINA: Psicologia e Saúde do Trabalhador PROFESSOR:Marcia Gisela de Lima ACADÊMICAS: Bárbara Caroline Georg, Bruna Mendes Cardoso, Flávia Marina Venturi e Karoline Henrique. Atuação e Intervenção do Psicólogo do Trabalho em Perícia Judicial no Brasil A Justiça do Trabalho enfrenta um déficit referente às perícias psicológicas, apesar do aumento de processos relacionados a problemas de saúde mental decorrentes do trabalho. A necessidade de esclarecer a ligação entre a saúde mental e o emprego no contexto judicial está se tornando cada vez mais importante para a psicologia. Atualmente, a maioria das avaliações na Justiça do Trabalho é conduzida por médicos e engenheiros, que emitem pareceres sobre doenças e condições perigosas ou insalubres no trabalho. No entanto, a psicologia do trabalho está sendo chamada para lidar com conflitos trabalhistas, destacando a importância de assumir esse papel com responsabilidade e competência (RABELO; SILVA, 2017). No texto “A perícia judicial como atuação do psicólogo do trabalho” (2017), Rabelo e Silva abordam a legitimação da atuação do psicólogo como perito judicial no Brasil. Essa legitimidade é respaldada pelo Decreto nº 53.964 de 21 de janeiro de 1964, que regulamenta a Lei nº 4.112 e estabelece a criação da profissão de psicólogo, permitindo que esses profissionais realizem perícias e emitam laudos e pareceres na área jurídica. Além disso, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) também regula a atuação do psicólogo como perito por meio de resoluções, como a Resolução nº 017/2012 e a Resolução nº 008/2010 (RABELO; SILVA, 2017). Conforme a Resolução nº 008/2010, o psicólogo perito é responsável por assessorar as decisões judiciais de forma imparcial em relação às partes envolvidas, seguindo padrões éticos e utilizando sua competência teórico-técnica, na comunicação com outros profissionais. Na elaboração do laudo o perito deve compartilhar apenas informações relevantes para esclarecer o caso em questão, garantindo o sigilo do periciando (RABELO; SILVA, 2017). Cruz e Maciel (2005) ressaltam que o indivíduo deve ser o objeto do exame na perícia, orientando-se pelas leis trabalhistas e proporcionando subsídios para a tomada de decisão. A perícia psicológica possui papel fundamental nas práticas contemporâneas de administração da justiça. Na qual entende-se ser imprescindível a presença de assistência do perito psicólogo ao analisar os aspectos sujeitos dos processos nos contextos específicos onde eles se tornam visíveis, sejam em situações de trabalho, conflitos familiares e sociais. A justiça considera a perícia como um meio para relatar evidências de prejuízos decorrentes das circunstâncias de trabalho (CRUZ; MACIEL, 2005). A metodologia de realização da perícia envolve uma abordagem multidimensional que considera diversos aspectos. Isso inclui aspectos pessoais do periciado, informações sobre seu cotidiano e experiências nos locais de trabalho. A coleta de dados é feita por meio de entrevistas aprofundadas, investigação de evidências epidemiológicas relacionadas ao caso e análise das condições dos locais de trabalho (RABELO; SILVA, 2017). A escolha de instrumentos e técnicas específicas na construção de cada laudo varia de acordo com as características e necessidades individuais de cada caso, compreendendo que a perícia é uma prova técnica e que toda prova sendo moral ou legalmente produzida, compete levar a realidade dos acontecimentos para interpretação do julgador conforme os limites da consciência, dentro de um conjunto de provas, contanto que o seu entendimento seja adequadamente fundamentado (CRUZ; MACIEL, 2005). Nesse sentido, Cruz e Maciel (2005) apontam para o caráter de vistoria desta perícia, pois cabe o trabalho de avaliar a relação de determinação entre as situações laborais (necessidades, cargo, riscos) e envolvimento nos processos psicológicos (alterações perceptivas, cognitivas e afetivas). Partindo da ideia metodológica citada por Rabelo e Silva (2017), a perícia psicológica nas organizações é decorrente da importância de avaliar as condições de segurança, conforto e eficiência nas tarefas do trabalho, moderando as relações da produtividade no trabalho e os impactos na saúde humana. Em geral, as perícias psicológicas são solicitadas pelas decorrências de acidentes, doenças, afastamento temporário, aposentadoria entre outros (CRUZ; MACIEL, 2005). O estabelecimento do nexo causal entre o trabalho e o adoecimento é um dos principais objetivos, e são utilizados parâmetros como o Manual de Doenças Relacionadas ao Trabalho do Ministério da Saúde. O laudo psicológico permite identificar e avaliar danos e adoecimento provenientes da atividade laboral, a fim de legitimar o prejuízo ocorrido ao trabalhador e viabilizar uma reparação. É por isso, então, fundamental a fiel e minuciosa representação e caracterização do dano para determinar um valor para a indenização. A possibilidade de compensação poderá ser maior, na medida em que houver também maior informação e produção de provas do evento danoso (CRUZ; MACIEL, 2005). Tais danos podem ser de natureza material ou pessoal - que contempla prejuízo físico, psicológico e/ou moral. Ao avaliar um dano de natureza moral é preciso ressaltar o tipo de relação entre os envolvidos, levando em conta as posições sociais e culturais, assim como o grau de dependência econômica. Já o dano psicológico, de acordo com Cruz e Maciel (2005), é identificado pelo declínio das funções psicológicas de forma repentina após uma atitude culposa de alguém com consequências morais e materiais, limitando tarefas habituais ou laborais. Podendo ser objeto de indenização desde que seja comprovado como uma incapacidade que cause uma lesão de magnitude suficiente para perturbar significativamente o equilíbrio emocional do sujeito, resultando na desestabilização que afete gravemente sua integração na sociedade. É, entretanto, uma valoração de complexa quantificação, já que não é possível mensurar o valor de uma vida, logo, a cifra é determinada com base nas “arguições jurídicas” (CRUZ; MACIEL, 2005). No texto “Perícia de danos psicológicos em acidentes de trabalho” (2017), Cruz e Maciel apresentam hipóteses para clarificar a ideia da perícia psicológica e a dificuldade de valoração da indenização do dano. No caso de um trauma por mutilação, por exemplo, a perda de um dos dedos ainda que aparentemente de pequeno prejuízo, há de se considerar a subjetificação de todo o evento, a estética comprometida, a incapacidade laboral e gestual, o constrangimento e a vergonha, e demais traumas com cirurgias corretivas e exames invasivos, bem como todos os recursos necessários para tratamento. Além disso, as relações (trabalho, família e sociedade) do acidentado também são afetadas por conta do impacto emocional. Não há, portanto, uma quantificação que honre com todo o prejuízo sofrido. Conforme exposto por Cruz e Maciel (2017), não se trata de uma indenização, mas de validar e qualificar o sofrimento vivido e fazer da reparação uma possível justiça. Por fim, os autores enfatizam a importância em determinar uma indenização justamente para indicar os riscos envolvidos em determinada atividade e que qualquer ação humana está sujeita a erros e falhas, o que difere de um maior ou menor risco, são as condições de trabalho e os itens e recursos de segurança. A avaliação psicológica pericial contribui para uma melhor compreensão do caso, favorecendo a tomada de decisão e contribuindo para reduzir implicações negativas. Propostas de Intervenções Modelo de Intervenção 1: Perícia Psicológica na Justiça do Trabalho Objetivo: Este modelo tem como objetivo capacitar psicólogos para atuarem como peritos judiciais em casos relacionados a problemas de saúde mental decorrentes do trabalho, garantindo uma avaliação justa e abrangente. Passos Específicos do Modelo: TreinamentoEspecializado em Psicologia Forense: Fornecer um programa de treinamento especializado em psicologia forense, com foco na aplicação da psicologia em contextos legais e judiciais. Ética e Imparcialidade: Enfatizar a importância de seguir padrões éticos rigorosos, incluindo a imparcialidade na condução de perícias psicológicas. Os psicólogos devem ser instruídos a evitar qualquer viés ou interesse pessoal que possa afetar a objetividade de suas avaliações. Coleta de Dados e Entrevistas Aprofundadas: Treinar os psicólogos na coleta de dados detalhados, que inclui entrevistas aprofundadas com os indivíduos envolvidos no caso. Eles devem aprender a investigar as circunstâncias do adoecimento, os fatores do ambiente de trabalho e as experiências pessoais dos trabalhadores. Elaboração de Laudos e Pareceres Periciais: Instruir os psicólogos na elaboração de laudos periciais que sejam detalhados e bem fundamentados. Os laudos devem conter diagnósticos psicológicos quando aplicáveis, análise do nexo causal entre o trabalho e os danos psicológicos, e evidências relevantes que ajudem a esclarecer o caso.Colaboração Interdisciplinar: Enfatizar a importância da colaboração entre psicólogos e outros profissionais, como médicos e engenheiros, para garantir uma avaliação completa dos casos. A comunicação eficaz entre especialistas de diferentes áreas é essencial para entender a complexidade dos problemas de saúde mental no trabalho. Atualização Contínua: Incentivar a atualização contínua dos psicólogos em relação a regulamentações, diretrizes legais e avanços na psicologia forense. Isso garantirá que eles estejam preparados para lidar com casos em constante evolução. Modelo de Intervenção 2: Aconselhamento e Apoio Psicológico no Ambiente de Trabalho Objetivo: Fornecer apoio psicológico no local de trabalho para promover a saúde mental dos funcionários e prevenir danos psicológicos. Identificação de Necessidades: Realizar avaliações de necessidades para identificar áreas de risco e estresse no ambiente de trabalho. Desenvolvimento de Programas de Apoio: Colaborar com empresas na criação de programas de apoio psicológico, incluindo aconselhamento individual, grupos de apoio e treinamentos de gerenciamento de estresse. Assessoria a Líderes e Gerentes: Oferecer orientações a líderes e gerentes sobre como identificar sinais precoces de estresse e problemas de saúde mental entre seus subordinados. Monitoramento e Avaliação: Implementar sistemas de monitoramento para avaliar a eficácia dos programas de apoio e fazer ajustes conforme necessário. Modelo de Intervenção 3: Promoção da Saúde Mental no Ambiente de Trabalho Objetivo: Trabalhar proativamente para criar um ambiente de trabalho saudável que minimize a ocorrência de problemas de saúde mental. Avaliação de Condições de Trabalho: Realizar avaliações regulares das condições de trabalho para identificar fatores de risco que podem afetar a saúde mental dos funcionários. Desenvolvimento de Políticas de Saúde Mental: Colaborar com empresas na criação de políticas e diretrizes que promovam um ambiente de trabalho saudável e apoiem a saúde mental dos funcionários. Programas de Conscientização: Implementar programas de conscientização sobre saúde mental no trabalho, abordando o estresse, gerenciamento de conflitos e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Treinamento para Funcionários: Oferecer treinamento para funcionários sobre estratégias de autocuidado e habilidades para lidar com o estresse no trabalho. Promoção de Liderança Consciente: Enfatizar a importância de liderança consciente, na qual líderes e gerentes estejam atentos às necessidades de saúde mental de suas equipes. Monitoramento e Avaliação Contínuos: Realizar avaliações regulares para medir o impacto das políticas e programas de promoção da saúde mental no ambiente de trabalho. Em resumo, a psicologia organizacional do trabalho desempenha um papel vital na abordagem das questões de saúde mental no ambiente de trabalho. As intervenções propostas, desde a perícia psicológica na Justiça do Trabalho até a promoção da saúde mental no ambiente de trabalho, são peças essenciais para abordar esses desafios de maneira eficaz. A capacitação de psicólogos como peritos judiciais, a promoção da saúde mental e a prevenção de danos psicológicos são pilares que sustentam a construção de locais de trabalho mais equitativos e saudáveis. A colaboração interdisciplinar entre especialistas garante uma compreensão abrangente e uma abordagem holística à saúde mental no trabalho. A adesão a essas intervenções é crucial para promover a justiça, saúde mental e bem-estar no trabalho, beneficiando tanto os trabalhadores quanto as organizações. Em um mundo onde a saúde mental no trabalho está cada vez mais em foco, a aplicação de abordagens baseadas na psicologia organizacional representa um passo significativo, demonstrando seu valor para o futuro das organizações e da sociedade como um todo. REFERÊNCIAS RABELO, Lais Di Bella; SILVA, Julie Amaral. A perícia judicial como atuação do psicólogo do trabalho. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro , v. 69, n. 2, p. 230-237, 2017 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672017000200016&ln g=pt&nrm=iso>. acessos em 28 out. 2023. CRUZ, Roberto Moraes; MACIEL, Saidy Karolin. Perícia de danos psicológicos em acidentes de trabalho. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro , v. 5, n. 2, p. 120-129, dez. 2005 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812005000200012&ln g=pt&nrm=iso>. acessos em 28 out. 2023.
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