Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GESTÃO DE CARGOS, SALÁRIOS E CARREIRAS UNIDADE III Desenho e Classificação dos Cargos Organizacionais Alexsandro Quadros da Silva Desenho e Classificação dos Cargos Organizacionais 3 Introdução Nesta unidade, estudaremos os conceitos e métodos para a detecção do desenho de cargos, um processo estratégico relacionado à descrição e à análise de cargos em um plano de cargos e salários das organizações. Também iremos evidenciar a classificação, a metodologia de pesquisa qualitativa da coleta de dados, praticada com frequência nos processos relacionados a cargos, assim como o posicionamento destes na estrutura e nos processos da empresa, que representam, por sua vez, a hierarquia organizacional. Objetivos de aprendizagem Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de: • Compreender o que é desenhar um cargo, seu conteúdo e modelos. • Analisar os vários métodos e técnicas de coletas dados, a classificação e a posição hierárquica dos cargos nas organizações. 4 Desenhando os Cargos na Organização O processo denominado desenho de cargos é uma importante etapa que compõe a descrição de cargos de qualquer tipo de negócio. Em muitas empresas, esse desenho é geralmente idealizado pelo gestor, que já conhece os processos e as atividades que o cargo em questão deve desempenhar ou já desempenha dentro do negócio. O cargo, se bem estruturado e executado, fornece informações substanciais a um desenvolvimento de qualidade da descrição e, posteriormente, à análise de cargos em uma empresa e/ou organização. Desenho de um cargo Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: ilustração de uma mulher agachada desenhando, em uma parede de cor branca, peças de engrenagem, o que exemplifica um processo da área de produção e o desenho de um cargo. O que é Desenhar um Cargo? O desenho de um cargo nada mais é do que o mapeamento das atividades, métodos e relações desenvolvidas por uma pessoa, geralmente o seu ocupante, que constroem o conjunto de tarefas que irá fundamentar o cargo em questão. O mapeamento utiliza a descrição e a análise de trabalhos, colhidas através de métodos qualitativos de pesquisa. 5 Fundamentos do desenho de cargos Desenho de cargos Recursos Relações Informações Sistemas Tecnologia Fonte: elaborado pelo autor (2023). #pratodosverem: esquema com dois quadros, lado a lado, descrevendo que os desenhos do cargo estão relacionados a recursos, relações, informações, sistemas e tecnologia. Para Chiavenato (2020), o desenho de um cargo, também chamado de job design, refere-se à especificação do conteúdo, métodos e relações de cargos, com o propósito de atender requisitos tecnológicos, organizacionais, sociais e pessoais, orientados pelos objetivos organizacionais. O resultado desse processo deve permitir que a organização entenda como seus cargos se alinham aos cargos similares existentes na concorrência. Além disso, o resultado deve oportunizar a realização de ajustes nos requisitos ou nas competências necessárias aos ocupantes dos cargos. Nesse processo, acompanha-se a tendência de um mercado que se torna global e mais competitivo, segundo Bes e Oliveira (2018). Conteúdo de um cargo São todas as informações que compõem a descrição de um cargo, independentemente da sua classificação ou posicionamento. Métodos de um cargo São todas as estratégias ou formas de execução das atividades que um cargo desenvolve, executa e aperfeiçoa; neste caso, seu ocupante e o seu gestor. 6 Relações de cargos São as interações que cada cargo tem ou executa dentro de uma empresa e/ ou organização. Representam também os níveis hierárquicos e os processos comunicacionais relacionados. Conteúdo do Desenho de um Cargo De acordo com Chiavenato (2020), o desenho de um cargo é composto por oito processos que norteiam a sua excelência: as suas entradas (suprimento de informações, recursos e materiais que proporcionam a operação do trabalho); as informações relacionadas (ordens e instruções sobre as tarefas a serem executadas, conhecimentos, orientação, metas e objetivos a alcançar); as matérias-primas e os recursos manipulados pelo seu ocupante; sua rede de contatos (no sentido vertical, seja do superior ou dos subordinados ou no sentido horizontal, seja dos colegas ou clientes externos); os processos em que o seu ocupante participa (operações); suas saídas (resultados do trabalho) e a sua retroação (monitoramento dos resultados realizados pelo ocupante do cargo e a sua comparação com os padrões de desempenho esperados/visados). Processo de linha de produção ilustrado: compõe o desenho do cargo auxiliar de produção Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: a imagem ilustra um processo de produção de um carro, ativi- dade inerente ao cargo auxiliar de produção. O processo representa o desenho desse cargo. 7 Já para Bes e Oliveira (2018), o conteúdo que fundamenta o desenho de um cargo é logrado considerando quinze pontos que norteiam a atividade analisada, gerados pelo ocupante do cargo em questão. São eles: • instrução; • conhecimento; • experiência; • iniciativa/complexidade; • responsabilidade por supervisão; • responsabilidade por máquinas e equipamentos; • responsabilidade por numerários; • responsabilidade por erros; • responsabilidade por materiais e produtos; • responsabilidade por segurança de terceiros; • esforço mental e visual; • responsabilidade por contatos; • esforço físico; • risco; • condições de trabalho. O desenho de um cargo representa desde cada atividade que envolve o seu processo, bem como pode evidenciar a principal atribuição do cargo em questão. Nesse caso, tudo depende do grau de envolvimento do avaliador e o seu retrato real das informações coletadas/observadas. Curiosidade Os Modelos de Desenhos de Cargos Em relação à contextualização dos modelos de desenhos de cargos, Chiavenato (2020) evidencia que eles são praticados pelas organizações que executam o processo de definição do desenho de cargos por meio de três modelos de desenho do trabalho: o clássico, o humanístico e o contingencial. 8 Carimbo: instrumento identificado em processos de cargos tradicionais Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: a imagem ilustra nove carimbos e um homem, de traje social. Há seis carimbos grandes, outros três pequenos, menores que a imagem do homem. Representam funções obsoletas que, antigamente, eram identificadas nos processos de desenho de cargos. Modelo clássico ou tradicional Funciona sob a abordagem de sistema fechado: excluem-se outras variáveis no sistema para que as restantes funcionem dentro de uma relação determinística de causa e efeito. É a teoria da máquina: a organização e as pessoas são coisas que funcionam dentro de uma lógica simples e mecânica. Aqui o gestor estabelece uma separação funcional: ele planeja e o operário obedece e executa suas tarefas simples e repetitivas, tendo como foco a eficiência, reconhecida pela empresa na forma de recompensa financeira ao colaborador. Modelo humanístico Introduz a abordagem comportamental, totalmente deixada de lado no modelo anterior, substituindo o gestor pelo líder, a organização formal pela informal, o bônus por produtividade pelas recompensas sociais e simbólicas. Contudo, a maior evolução na concepção do desenho nesse modelo está na consideração do comportamento em grupo, aparecendo aqui o conceito de homo social, segundo o qual o indivíduo é motivado pelas recompensas sociais. 9 Modelo contingencial Representa a abordagem mais ampla e complexa pelo fato de considerar, simultaneamente, três variáveis: as pessoas, a tarefa e a estrutura da organização. Nesse modelo, o resultado é relativo e contingente e não mais fixo e nem padronizável. O desenho do trabalho é dinâmico e mutável e se baseia na contínua mudança e revisão do trabalho como uma responsabilidade básica colocada nas mãos do gestor. Busca a eficiência e a eficácia, a produtividade, a qualidadee a satisfação do cliente, neste caso, o ocupante do cargo em questão. Os principais aspectos dos três modelos para desenho de cargo são: Modelo clássico Dependência da máquina, fragmentação, ênfase na eficiência e conservadorismo. Modelo humanista Organização informal, contexto do cargo, condições sociais e interação. Modelo contingencial Variedade, autonomia, significado, identidade e retroação. Classificação, Métodos e Posicionamento dos Cargos Organizacionais A classificação de um cargo, como o método de obtenção de dados deste e o seu posicionamento, já desenhado, descrito e analisado, além de ser uma etapa complexa, depende de fatores internos e externos na obtenção dos dados necessários para que o cargo consiga ter uma identidade conhecida, praticada e posicionada dentro da organização. 10 Classificação dos Cargos A classificação dos cargos em qualquer empresa e/ou organização é fundamentada primeiramente nos aspectos legais que fundamentam a regulação do trabalho em cada país. Posteriormente, a nomeação ou titulação do cargo é o momento em que ele recebe a sua identificação. A partir deste ponto, é pelo nome definido que ele será referido em todos os processos de gestão de pessoas dentro da organização e, ainda, ao ser utilizado para todos os efeitos legais e/ou trabalhistas relacionados, segundo Bes e Oliveira (2018). Exemplo de cargos nomeados e/ou titulados Cargo: Analista de cargos Cargo: Desenhista Cargo: Secretária Analista de cargos júnior Desenhista A Desenhista I Analista de cargos pleno Desenhista B Desenhista II Analista de cargos sênior Desenhista C Desenhista III Fonte: adaptado de Bes e Oliveira (2018, p. 37). #pratodosverem: quisque purus odio, mollis in nulla ut, elementum cursus neque. Maecenas sit amet dapibus tortor, at lobortis nibh. As nomeações acima são utilizadas para cargos considerados de uma mesma família, em que níveis, letras e números evidenciam maior complexidade, especificações e exigências do seu ocupante em relação às suas competências. Lembramos que é necessário realizar um estudo detalhado para realizar tal classificação e enquadramento. 11 Cargos de nível júnior São geralmente ocupados por profissionais recém-graduados e, na maioria das vezes, com pouca experiência profissional. Possuem menos autonomia em suas funções e precisem de maior orientação dos seus superiores nas atividades e tarefas que executam. Cargo nível júnior supervisionado por um cargo nível sênior Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: a imagem ilustra duas pessoas, um homem idoso e uma jovem mulher. O homem, ocupante de um cargo nível sênior, está atrás da jovem, supervisionando a atividade executada por ela em uma linha de produção. Cargos de nível pleno São cargos que geralmente executam tarefas mais complexas e possuem uma maior autonomia. Contudo, eles ainda necessitam de autorização de seus gestores para tomar decisões. Estes possuem uma maior maturidade e conhecimento na área e, em geral, têm entre 6 e 9 anos de experiência. Jovem com cargo de nível pleno Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: a imagem ilustra um homem, usando traje social com gravata, mas sem paletó. 12 Cargos de nível sênior São geralmente ocupados por profissionais com ampla experiência profissional na sua área de atuação, ocupando uma posição de maior liderança. Possuem um alto nível de responsabilidade na empresa, quando não respondem diretamente pelo setor em que atuam. O líder e seus liderados Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: a imagem ilustra três pessoas, dois homens e uma mulher, todos de traje social. O homem que está no meio da imagem é o líder do setor, enquanto a mulher, à sua direita, e o homem, à sua esquerda, são cargos de nível inferior. Metodologia de Coleta de Dados Vinculada aos Cargos A metodologia de coleta de dados é o fator desencadeante à obtenção dos resultados visados, seja esta utilizada nas fases do desenho, descrição ou análise de cargos. Sua natureza, até mesmo pela população analisada, é no caráter qualitativo, representada pela coleta de dados. Dentro dela, há três métodos utilizados para obtenção de tais informações: a entrevista, o questionário e a observação. Gestor coletando dados para cargos Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: a imagem ilustra um homem em traje social segurando uma prancheta com sua mão direita; com sua mão esquerda, ele segura uma caneta e realiza anotações em um papel que está sob o objeto. Representa-se, assim, o processo de coleta de dados sobre cargos que ele gerencia. Entrevista A entrevista é considerada a metodologia mais indicada para se realizar a coleta de dados, pois, por meio dela, o entrevistador consegue perceber as informações essenciais sobre o cargo diretamente do seu ocupante, eliminando questionamentos que poderiam existir antes da ação proposta. A entrevista pode ser estruturada de três formas: individual; grupal (com pessoas que desempenham o mesmo cargo dentro de uma organização) e com o gestor, que supervisiona os cargos e trabalhos estudados, utilizando um roteiro prévio de entrevista desenvolvido pelo responsável do estudo. Questionário O questionário é compreendido como um formulário cuidadosamente preparado pelo gestor de RH envolvido na coleta de dados para os estudos relacionados aos cargos da organização. Ele deve ser preenchido individualmente pelo objeto de análise, neste caso, o ocupante do cargo em estudo. Segundo Bes e Oliveira (2018), o questionário deve ser estruturado com questões de fácil entendimento, não deve ser muito extenso (contendo muitas questões) e não deve induzir respostas ao participante. Observação A observação significa a análise do ambiente onde o ocupante do cargo analisado desenvolve suas funções, realizada pelo gestor de RH responsável pela pesquisa. É necessário, antes de conduzi-la, definir um roteiro observacional, composto por formulário, questionário ou apenas um bloco para anotações, em que o observante deve apontar todos os registros inerentes. A observação como método para coleta de dados tem a sua efetividade em qualquer pesquisa em que o seu executor tenha como propósito evidenciar, de forma clara, detalhada e sem interferências, a realidade do ambiente, pessoa, processo etc., deixando de lado seus preconceitos ou predefinições. Atenção Posicionando os Cargos na Hierarquia Organizacional Qualquer estudante de administração, no início da faculdade, vai saber que a estrutura organizacional é composta por áreas, setores e os cargos. Ela representa a orientação estratégica do negócio, o seu modelo de gestão e demonstra a hierarquia dos cargos, que é o grau, o nível ou posicionamento em que cada cargo, que compõe um setor, se encontra dentro da organização. Nesse sentido, o posicionamento do cargo será atrelado diretamente à estrutura e à hierarquia de qualquer empresa e/ou organização, onde os cargos são classificados conforme classe, nível ou grupo (operacional, administrativo e operacional). Pessoas, cargos e a hierarquia organizacional Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: a imagem ilustra um organograma humano cujas pessoas estão posiciona- das conforme suas relações e níveis de poder. O esquema representa a hierarquia de cargos em uma organização. Conforme apontam Bes e Oliveira (2018), dividir os cargos em grupos ou níveis tem o propósito de classificá-los. Assim, o seu posicionamento será realizado conforme área de atuação, porte da empresa, atribuição e responsabilidade que envolvem o cargo em questão, preceitos que envolvem e compõem a hierarquia organizacional, que será representada pelos cargos que compõem a empresa. Com a hierarquização, definem-se os níveis de poder de cada um, assim como para quem este se dirige e quem é seu subordinado(a). Ou seja, o desenho, a descrição e a análise completa do cargo são cruciais para a definição e o posicionamento estratégico de um negócio,que tem estruturado políticas e gestão de cargos e salários. Esses aspectos propiciam à empresa inúmeros benefícios que podem otimizar os resultados da organização como um todo (pessoas e processos internos e externos). Para aprofundar seus conhecimentos sobre o desenho e a classificação de cargos, leia o artigo de Batista (2014) Gestão de pessoas: o processo de sistematização da política salarial alinhada ao desenho de cargos em uma empresa importadora. Saiba mais http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/2128/1/G%c3%a9ssica%20Boeng%20Batista.pdf http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/2128/1/G%c3%a9ssica%20Boeng%20Batista.pdf http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/2128/1/G%c3%a9ssica%20Boeng%20Batista.pdf CONCLUSÃO A abordagem conceitual sobre o desenho e a classificação de cargos tem tanto as suas funcionalidades quanto suas particularidades. Na maioria das organizações, o desenho pode ser negligenciado, caso os profissionais de RH ou os gestores diretos do cargo evidenciado já tenham o desenho definido, muitas vezes fundamentado pelas rotinas do cargo, suas tarefas e funções corriqueiras. A abordagem contingencial, já evidenciando a gestão de competências atrelada aos processos de desenho, descrição e análise de cargos, necessita que o processo de desenho aconteça, pois as competências do ocupante do cargo, que devem ser relacionadas a ele, devem ser exemplificadas, até mesmo as que não possuem relação nem funcionalidade a atividade que está sendo estudada. Dessa forma, pode-se identificar novos talentos, bem como aperfeiçoar os processos do cargo em questão. Já a classificação de cargos segue o modelo tradicional de estrutura, onde as descrições definem o grau, nível, a atribuição, responsabilidade e poder, respectivamente, fundamentos que norteiam não apenas a hierarquia organizacional, mas definem áreas, setores e processos sob a ótica do cargo de quem executa os processos inerentes. REFERÊNCIAS BATISTA, G. B. Gestão de pessoas: o processo de sistematização da política salarial alinhada ao desenho de cargos em uma empresa importadora. 2014. Trabalho conclusão de curso (Bacharelado em Ciências Contábeis) – Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2013. Disponível em: http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/2128/1/G%c3%a9ssica%20Boeng%20Batista.pdf. Acesso em: 26 set. 2023. BES, P.; OLIVEIRA, L. Y. M. Administração de cargos, salários e benefícios. Porto Alegre: Saga Educação, 2018. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel da gestão do talento humano. São Paulo: Atlas, 2020. http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/2128/1/G%c3%a9ssica%20Boeng%20Batista.pdf
Compartilhar