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AVA Unidade 2 - Patologia dos sistemas digestório, hepático e urinário

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Unidade 2 – Patologia dos sistemas digestório, hepático e urinário
Patologia do sistema digestório
O sistema digestório, ou alimentar, é um dos mais afetados por doenças em animais domésticos de produção (suínos, ruminantes e equinos) e em animais de companhia (cães e gatos). O trato alimentar compreende órgãos tubulares e glândulas, com funções de quebra mecânica do alimento, digestão e absorção de nutrientes. Anatomicamente, divide-se em trato alimentar superior, compreendendo desde a boca e cavidade oral até a porção final esofágica (cárdia gástrica); e trato alimentar inferior, que se estende do estômago até o reto. 
Diferenças anatômicas consideráveis entre as espécies são observadas no trato digestivo inferior, considerando que ruminantes apresentam pré-estômagos, que atuam como câmaras de fermentação da celulose (rúmen, retículo e omaso) e um estômago verdadeiro (abomaso), ao passo que equinos têm intestino grosso mais desenvolvido voltado à fermentação dos alimentos. 
Microscopicamente, os órgãos tubulares do trato digestivo exibem quatro camadas de dentro para for a: mucosa, submucosa, muscular e serosa ou adventícia. A camada mucosa é variável dependendo do órgão, sendo recoberta por epitélio estratificado na mucosa oral, esôfago, pré-estômagos e porções aglandulares gástricas, enquanto o estômago químico é revestido por glândulas secretoras de muco e ácido clorídrico. O intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo) é revestido por mucosa contendo vilosidades e microvilosidades que favorecem a absorção dos nutrientes, enquanto essas estão ausentes no intestino grosso (ceco, cólon e reto). 
DOENÇAS DO TRATO DIGESTÓRIO SUPERIOR
A cavidade oral pode apresentar malformações congênitas e, até mesmo, processos inflamatórios, os quais têm, comumente, causa infecciosa, mas também podem estar relacionados a processos autoimunes e à uremia por insuficiência renal aguda ou crônica.
Entre as malformações, as fendas labiais (lábio leporino, ou queilosquise) e fenda palatina (palatosquise) são as mais comuns, estando, geralmente, relacionadas à endogamia, e predispõem à aspiração de conteúdo alimentar e pneumonia. A mucosa oral também pode apresentar alterações de coloração, como: melanose em animais de certas raças ou de pelagem escura; icterícia, quando há grande quantidade de bilirrubina; cianose, quando há falha cardíaca ou choque endotóxico; palidez, quando há anemia; e coloração amarronzada, na intoxicação por nitrito/nitrato em bovinos (metahemoglobinemia).
A Inflamação de qualquer mucosa revestindo a cavidade oral é denominada de estomatite, resultando em anorexia e hipersalivação, e pode ser classificada em vesicular, erosiva/ulcerativa, papular e necrotizante. Em gatos, estomatites eosinofílicas (granulomas eosinofílicos) e linfoplasmocíticas são mais comuns. 
Estomatites vesiculares têm causa viral e são caracterizadas pela formação de vesículas (bolhas) preenchidas por fluido seroso que logo rompem, deixando a superfície ulcerada (Figura 1). Nessa categoria, destacam-se a febre aftosa (bovinos, suínos e ovinos), estomatite vesicular (bovinos, suínos e equinos) e infecção por Senecavirus spp. Em suínos. Estomatites erosivas ou ulcerativas são caracterizadas por perda parcial ou total da mucosa, respectivamente. São principalmente causadas por vírus, como: a diarreia viral bovina (BVD); febre catarral maligna (FCM) em bovinos; e língua azul em ovinos. Ainda, essas lesões também podem ocorrer em casos de uremia resultantes de insuficiência renal em cães e gatos, os quais frequentemente envolvem a superfície ventral da língua, causando glossite ulcerativa bilateral. 
Estomatites necrotizantes são mais profundas e o principal exemplo é a necrobacilose oral causada por F. necrophorum, resultante de alimentação fibrosa, que provoca lesão na mucosa oral. Por fim, estomatites papulares são causadas por Parapoxvirus na estomatite papular bovina e ectima contagioso em ovinos e caprinos.
Alterações proliferativas na cavidade oral são frequentes em animais domésticos. Papilomas orais induzidos por Papillomavirus spp. São comuns em cães e bovinos jovens. Em cães, neoplasias de origem dentária podem ser detectadas: ameloblastoma acantomatoso, de comportamento agressivo e infiltrativo e fibroma odontogênico periférico de origem do ligamento periodontal, de comportamento benigno. Além disso, em cães, o melanoma é a neoplasia oral mais comum e invariavelmente maligna, formando áreas nodulares, enegrecidas a pouco pigmentadas (amelanóticas) e que infiltram tecidos adjacentes, comumente causando metástases em linfonodos regionais e pulmões. 
Outra neoplasia oral que merece destaque é o carcinoma de células escamosas (CCE), que é a neoplasia epitelial oral mais comum em felinos (na língua) e em bovinos, sendo a segunda mais comum em cães. Esses tumores têm comportamento agressivo e infiltrativo, e sua metástase atinge os linfonodos regionais, porém metástases distantes são incomuns. Em bovinos, o desenvolvimento de CCE é associado ao consumo prolongado de samambaia-do-campo (Pteridium arachnoideum), planta tóxica que possui ptaquilosídeos com ação radiomimética e carcinogênica. Bovinos adultos (a partir de cinco anos) são afetados, e a formação de tumores (CCE) pode ocorrer na base da língua, faringe, esôfago e na entrada do rúmen. Microscopicamente, a formação de pérolas de queratina é clássica de CCEs.
Processos inflamatórios na língua (glossite) são relativamente incomuns. Em bovinos, a infecção por Actinobacillus lignieresii, bactéria comensal da cavidade oral na espécie, causa a doença “língua de pau” por provocar enrijecimento da língua. A condição está associada à alimentação fibrosa e lesões orais que permitem o acesso da bactéria a superfícies mais profundas, provocando resposta inflamatória crônica. Microscopicamente, observa-se processo inflamatório piogranulomatoso com reação Splendore-Hoeppli circundando as bactérias. Equinos, suínos e cães jovens podem apresentar glossite e esofagite por Candida spp., fungo que provoca a formação de pseudomembranas sobre a mucosa e é associado à imunodepressão.
Entre as doenças que podem envolver as glândulas salivares, destacam-se processos inflamatórios (sialoadenites) e processos degenerativos como dilatações ou ectasias salivares (rânulas e mucoceles). Neoplasias de glândula salivar são raras, porém descritas em cães e gatos senis. A origem é, geralmente, de glândula parótida e mandibular, com comportamento maligno e metastático (carcinomas).
O esôfago conduz o alimento ingerido até o estômago ou rúmen, e distúrbios do crescimento nessa porção do sistema digestório podem ocorrer, como hipertrofia de segmento distal esofágico em equinos, de etiopatogenia desconhecida e considerada achado incidental de necropsia. Obstruções mecânicas esofágicas são comuns em bovinos, associadas à ingestão de frutas, e em cães, após ingestão de alimentos grosseiros ou objetos estranhos. Nesses casos, há reação local necrótica na mucosa próxima à obstrução, e possíveis complicações fatais incluem perfuração e ruptura esofágica. Em bovinos, a obstrução esofágica causa timpanismo ruminal secundário por impedir a eructação. 
A dilatação da porção anterior do ”sôfa’o (megaesôfago) é uma das possíveis consequências da obstrução esofágica, como observado na persistência do arco aórtico direito em cães. Cabe ressaltar que o megaesôfago não está apenas associado à obstrução esofágica, mas também a outras doenças em que há peristaltismo esofágico insuficiente e flacidez muscular, como em doenças autoimunes (miastenia gravis) e na forma de megaesôfago congênito idiopático. 
Alterações inflamatórias também podem ser observadas no esôfago (esofagites), as quais estão frequentemente relacionadas ao refluxo de conteúdo gástrico e são visualizadas como erosões e úlceras lineares. Equinos, cães e gatos com gastrite crônica associada ao uso prolongado de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) são predispostos a esse tipo de lesão. Em bovinos, inúmeros agentes virais podem provocar esofagiteerosiva e ulcerativa, como BVD e FCM. Esofagites granulomatosas por Spirocerca lupi podem ocorrer em caninos, podendo induzir à formação de neoplasias, como fibrossarcomas ou osteossarcomas. Todavia, neoplasias de esôfago em animais domésticos são raras, com exceção àquelas relacionadas à ingestão prolongada de P. arachnoideum em bovinos.
DOENÇAS DO TRATO DIGESTÓRIO INFERIOR
Ruminantes apresentam pré-estômagos aglandulares (rúmen, retículo e omaso) como câmaras de fermentação.
Uma das alterações mais comuns envolvendo o rúmen e retículo é o timpanismo, que se refere à distensão desses órgãos pelo acúmulo de gases. Esta pode ocorrer de forma primária e tem causa nutricional, estando relacionada à ingestão de leguminosas (trevos), com aumento da formação de espuma e falha na eructação, caracterizando o timpanismo espumoso. O timpanismo secundário, ou timpanismo gasoso, ocorre por falha física ou funcional de eructação do gás ruminal por atonia ruminal, obstruções esofágicas e intoxicação por organofosforados. Independentemente da forma do timpanismo, a morte resulta da anóxia pela elevada pressão intra-abdominal exercida sobre o diafragma e a respiração, levando à formação de linha demarcatória de timpanismo no esôfago. 
DICA O timpanismo ante mortem deve ser diferenciado da distensão ruminal post mortem por meio da visualização de alteração de coloração no esôfago, com porção cranial avermelhada e porção caudal pálida.
Condições inflamatórias envolvendo o rúmen são denominadas como ruminites, e a causa mais comum é a acidose láctica ou ruminal que resulta de sobrecarga alimentar de carboidratos altamente fermentáveis e acomete principalmente bovinos confinados. Nessa condição, a ingestão dos carboidratos leva à produção abundante de ácidos graxos voláteis e redução inicial do pH ruminal, de modo que a microbiota ruminal sofre modificações e Streptococcus bovis passa a predominar, com produção de ácido láctico e redução do pH ruminal para 5-4,5. A queda do pH pode atingir até 4-4,5 e se tornar fatal, com atonia ruminal e consequente timpanismo secundário. À necropsia, o rúmen e retículo estão acentuadamente distendidos por conteúdo líquido com odor de material fermentado, além de variáveis quantidades de grãos, e a mucosa ruminal exibe hiperemia e erosão. 
Possíveis sequelas relacionadas à acidose ruminal incluem ruminite por F. necrophorum, ruminites fúngicas e polioencefalomalácia por deficiência de tiamina (vitamina B1). Além dessas, a ruminite também pode ter causas tóxicas, como nas intoxicações por Baccharis coridifolia e Baccharis megapotamica em bovinos, ovinos e caprinos. Neoplasias envolvendo o rúmen e retículo são principalmente associadas à ingestão prolongada de P. arachnoideum (samambaia-do-campo) em bovinos adultos.
O estômago de monogástricos e o abomaso de ruminantes exibem algumas diferenças, porém, estrutural e funcionalmente, são muito similares. O deslocamento abomasal é uma das principais alterações abomasais e acomete, principalmente, vacas de leite no período puerperal. O deslocamento à esquerda é frequente, porém, na maioria das vezes, não é fatal. Por sua vez, o deslocamento abomasal à direita é acompanhado de torção (vólvulo), o que causa distensão acentuada e, com a progressão da doença, há infarto venoso e úlceras abomasais, que podem romper, causando peritonite. Além dessa condição, doenças inflamatórias envolvendo o abomaso (abomasites) são comumente observadas em associação a infecções virais sistêmicas (BVD, FCM e doença da língua azul), bem como em infecções micóticas e por nematódeos hematófagos, como Haemonchus contortus, em ovinos e caprinos. Na leucose enzoótica bovina em bovinos leiteiros, o abomaso é frequentemente envolvido por massas tumorais brancacentas de linfócitos que ulceram a mucosa.
Em caninos, a síndrome dilatação-vólvulo gástrica é mais observada em cães de raças de grande porte e está relacionada à frouxidão do ligamento hepatogástrico e aerofagia. Inicialmente, há dilatação do estômago e, com a progressão da doença, o estômago pode sofrer rotação de 270 a 360° no sentido horário ao longo do esôfago, que fica totalmente ocluído. Dessa forma, o piloro e o duodeno são deslocados à esquerda e o baço é deslocado à direita e assume uma posição de “V”, podendo sofrer infartos e rupturas. A condição é rapidamente fatal por causar redução do preenchimento cardíaco e choque circulatório. Em matrizes suínas, a síndrome dilatação-vólvulo gástrica pode ser observada de forma similar. 
Em equinos, a dilatação gástrica é importante causa de morte por cursar com ruptura gástrica e peritonite subsequente. Ela pode ser classificada como primária, quando há sobrecarga alimentar principalmente de grãos altamente fermentáveis, ou secundária, quando há obstrução de segmento posterior intestinal ou íleo paralítico. A ruptura ocorre ao longo da curvatura maior do estômago, com bordas da lesão hemorrágicas e edemaciadas, o que os diferencia de ruptura post mortem por autólise.
Úlceras gástricas são comuns em praticamente todas as espécies de animais domésticos e se caracterizam por perda da continuidade da mucosa, podendo se aprofundar até a serosa e romper a parede gástrica (úlcera perfurada). Em cães, úlceras gástricas são comumente relacionadas ao tratamento prolongado com AINEs. As úlceras podem se localizar em região gastroduodenal (úlceras pépticas) e a perfuração associada à peritonite subsequente é comum. 
Em suínos, as úlceras gástricas são predominantemente observadas na porção aglandular, acometem animais de creche e geralmente a granulometria fina da ração favorece sua ocorrência. A maior parte dos casos é subclínica, mas também pode ocorrer de forma aguda e fatal, com hemorragia, sangue digerido (melena) e choque hipovolêmico. Em equinos, úlceras gástricas são frequentemente visualizadas de forma incidental à necropsia, sendo mais severas ao longo da transição entre porção glandular e aglandular (margo plicatus) e comumente associadas ao uso de AINEs. 
Gastrite urêmica ocorre, frequentemente, em cães e gatos como resultado de doença renal crônica e uremia, com mucosa hiperêmica, exibindo erosões e úlceras, odor amoniacal e mineralização. Neoplasias gástricas são incomuns em animais domésticos, mas podem ser detectadas como achados incidentais (leiomiomas). 
Doenças do intestino delgado e intestino grosso podem ser subdivididas em alterações congênitas, doenças não infecciosas ou mecânicas, doenças inflamatórias e doenças infecciosas. Alterações congênitas intestinais são geralmente relacionadas à oclusão intestinal completa por não desenvolvimento (atresia) ou redução do lúmen intestinal (estenose), sendo que ambas resultam em obstrução intestinal e dilatação do segmento intestinal anterior, com posterior ruptura e peritonite. Doenças não infecciosas intestinais são comuns e podem ser classificadas como obstruções, deslocamentos e lesões isquêmicas com infarto. 
As obstruções intestinais podem ser causadas por corpos estranhos ingeridos, corpos estranhos lineares ingeridos, concreções minerais (enterólitos no cólon de equinos), tricobezoares (bolas de pelo em gatos), fitobezoares (restos de fibras de plantas misturados com sais minerais) e, por fim, em parasitoses graves por nematódeos, como Parascaris equorum em equinos.
Deslocamentos intestinais podem ocorrer, como eventrações, em que segmentos do intestino são deslocados para for a da cavidade abdominal, como em casos de anomalias congênitas de falhas da parede abdominal. Em equinos, o deslocamento do intestino grosso é frequente, pois o cólon maior, extremamente desenvolvido, ocupa quase toda a cavidade abdominal, porém é fixado apenas em sua base próxima ao ceco, tornando-o predisposto a deslocamentos e torções. Outras formas de deslocamentos incluem as hérnias internas, pela passagem de alças intestinais por forames naturais ou por falhas no omento ou mesentério, e hérnias externas, geralmente congênitas e caracterizadas por possuírem saco herniário, cobertura cutânea, anel herniário e conteúdo herniário.A Isquemia intestinal causa lesões hipóxicas graves, que são frequentemente irreversíveis, o que é comum em equinos, mas também podem ocorrer em outras espécies. Os infartos são comumente venosos, e, dessa forma, macroscopicamente as lesões são vermelho-escuras e edematosas, com conteúdo sanguinolento. 
Exemplos de isquemia intestinal incluem: torção intestinal mesentérica (vólvulo mesentérico) em equinos e suínos; vólvulo de intestino grosso em equinos; intussuscepção intestinal em animais jovens (Figura 2). Outra causa de isquemia intestinal inclui a endoarterite mesentérica cranial por Strongylus vulgaris em equinos.
Doenças inflamatórias intestinais são denominadas de enterites, mas, dependendo do segmento afetado, termos específicos podem ser empregados, como duodenite, jejunite, ileíte, tiflite e colite para inflamações de duodeno, jejuno, íleo, ceco e cólon, respectivamente. A classificação das enterites leva também em conta o componente inflamatório e se há agente etiológico relacionado. Independentemente da causa da enterite, há diarreia, além de síndrome de má-absorção de nutrientes, alterações no metabolismo de proteínas e anemia, resultando em redução do ganho de peso, queda de índices zootécnicos produtivos e morte.
A maioria das enterites ocorre como consequência de Infecções virais, bacterianas ou parasitárias, sendo raros os casos associados a infecções fúngicas, protistas ou amebas. Na sequência, abordaremos as condições infecciosas mais frequentes de acordo com as espécies acometidas.
Suínos são particularmente afetados por inúmeras condições, as quais tendem a ocorrer em faixas etárias distintas. Suínos de maternidade são afetados por agentes virais, como Rotavirus e Coronavirus, agentes bacterianos, como Escherichia coli enterotoxigênica (ETEC), e agentes parasitários, como Cystoisospora suis. Os agentes virais e C. suis geralmente causam atrofia de vilosidades, enquanto ETEC se adere às microvilosidades do intestino delgado e causa diarreia secretória. Suínos neonatos na primeira semana de vida são também suscetíveis à infecção por Clostridium perfringens tipo C produtor de toxina Beta. Na fase de creche, suínos podem apresentar a doença do edema por E. coli produtora de toxina Shiga, a qual provoca enterotoxemia com lesão endotelial, angiopatia e edema. Nesses casos, há edema da parede do estômago, mesocólon e de linfonodos mesentéricos, além de sinais neurológicos e morte súbita. 
A Infecção por Salmonella spp. Em suínos pode ocorrer com sorovares adaptados à espécie, como Cholerasuis, nos quais a infecção é septicêmica e com lesões de enterocolite ulcerativa botonosa. Entretanto, também podem envolver sorovares adaptados a outras espécies (Dublin e Typhimurium), nos quais as lesões são restritas ao intestino grosso e com formação de membranas diftéricas sobre as mucosas, além de possíveis sequelas como estenose retal. Em suínos de crescimento e terminação, a infecção por Lawsonia intracellularis, bactéria intracelular, provoca enteropatia proliferativa, que provoca espessamento cerebroide da mucosa intestinal. 
Enterites em bovinos neonatos têm etiologias similares a suínos neonatos e patologicamente se apresentam de forma muito parecida, como na infecção por E. coli (ETEC), Rotavírus, Coronavírus e C. perfringens tipo C (produtor de toxina beta). A salmonelose é comum em bovinos neonatos, causada pelo sorovar Typhimurium ou Dublin, os quais são altamente adaptados à espécie e, dessa forma, além de enterocolite fibrinonecrótica, eventos septicêmicos são comuns, com desenvolvimento frequente de colecistite e hepatite fibrinonecrótica. Na BVD, é comum haver enterite com necrose de placas de Peyer em bezerros persistentemente infectados (PI) durante a gestão por cepas não citopáticas e infectados posteriormente por cepas citopáticas, desenvolvendo doença das mucosas, a qual envolve todo o trato digestivo.
A Infecção por Mycobacterium avium subsp. Paratuberculosis em ruminantes adultos causa enterite granulomatosa ou doença de Johne, acarretando morbidade significativa e consideráveis perdas econômicas por causar debilidade crônica. Macroscopicamente, há espessamento da mucosa do intestino delgado, bem como linfonodos mesentéricos aumentados e linfangite granulomatosa. O agente pode ser evidenciado por meio de coloração de Ziehl-Neelsen nos tecidos afetados. 
A coccidiose é doença comum em ruminantes, manifestando-se como tiflocolite hemorrágica em bovinos de até um ano, ao passo que em ovinos e caprinos a doença é caracterizada por diarreia líquida associada à enterite proliferativa e polipoide predominantemente do intestino delgado. Em caprinos e ovinos, cabe destaque, ainda, à enterotoxemia, ou doença do rim polposo, causada por C. perfringens tipo D, que produz as toxinas alpha e épsilon. Animais jovens que recebem subitamente grande quantidade de grãos e concentrados são predispostos a desenvolver a condição, e à necropsia, exibem hidropericárdio, hidrotórax e ascite, porém as lesões intestinais podem ser discretas. O rim polposo (amolecido) é um achado variável e relacionado à autólise acelerada. Lesões de encefalomalácia podem ocorrer.
Em equinos, a salmonelose é infecção que causa diarreia em potros e adultos e é frequentemente associada à S. enterica Typhimurium. Há tiflocolite fibrinonecrótica característica, porém a infecção também pode ser septicêmica. Infecções nosocomiais a partir de ambientes hospitalares contaminados são comumente descritas. A infecção por Rhodococcus equi é comum em potros, ocorrendo de forma endêmica em algumas propriedades. Inicialmente, causa sinais respiratórios devido à pneumonia, porém, à medida que o exsudato respiratório contaminado é expectorado e deglutido pelo animal, pode ocasionar infecção intestinal. As lesões intestinais são caracterizadas por tiflocolite piogranulomatosa com áreas nodulares amareladas preenchidas por conteúdo purulento. Clostridioides difficile é outro agente que pode provocar lesões intestinais necro-hemorrágicas em equinos, envolvendo o intestino delgado de potros e intestino grosso de adultos.
Em cães, a principal causa de diarreia é a infecção por parvovírus canino 2, a qual afeta animais jovens e cursa com enterite fibrinonecrótica hemorrágica, envolvendo predominantemente o intestino delgado. Microscopicamente, há necrose de criptas, com encurtamento e fusão de vilosidades, além de necrose linfoide de placas de Peyer, a qual é macroscopicamente evidenciada por áreas deprimidas. Em felinos, o vírus da panleucopenia felina (também da família Parvoviridae) provoca lesões macroscópicas e microscópicas muito similares à parvovirose canina, sendo a condição denominada de panleucopenia felina. Em ambas as condições, há infecção de criptas intestinais e da medula óssea, com aplasia medular.
Alterações proliferativas intestinais são incomuns em animais domésticos, com distribuição variada dependendo da espécie afetada. Em gatos, todavia, o linfoma intestinal é uma neoplasia comum intestinal, que envolve também o linfonodo mesentérico e fígado, sendo classificado como linfoma alimentar. Neoplasias epiteliais malignas (adenocarcinomas) geralmente afetam o intestino delgado e, apesar de se projetarem levemente ao lúmen, infiltram consideravelmente a parede intestinal, provocando fibrose e, por consequência, estenose e obstrução parcial intestinal. Outras neoplasias que podem ocorrer no intestino incluem aquelas originadas a partir da musculatura lisa (leiomioma e leiomiossarcoma) e tumores estromais gastrointestinais. Macroscopicamente, são muito similares e se apresentam como nódulos, brancos, macios a firmes, que podem provocar obstrução intestinal.
Patologia do sistema hepático
O sistema hepático é composto pelo fígado e trato biliar, com variações quanto à presença ou ausência de um divertículo de armazenamento da bile (vesícula biliar) em animais domésticos – nos equídeos, por exemplo, ela é ausente. O fígado é o maior órgão parenquimatoso de animais domésticos, sendo recoberto pela cápsula de Glisson e localizando-sepredominantemente na região cranial e central do abdômen em íntimo contato com o diafragma e, por vezes, um pouco deslocado para a direita. 
Anatomicamente, o fígado é dividido em lobos hepáticos, os quais podem ser bem demarcados por fissuras (cães, gatos e suínos) ou menos demarcados (equinos e bovinos). Os lobos são subdivididos em lóbulos hepáticos que são melhor identificados por meio da histologia. Lóbulos hepáticos são estruturas hexagonais que contêm uma veia centrolobular ao centro, a qual é circundada por cordões de hepatócitos, formando sinusoides. Na periferia, há os espaços-porta que contêm a tríade portal (ramo da veia porta, ramo da artéria hepática e ducto biliar) (Figura 3). 
O fígado apresenta dupla circulação sanguínea, recebendo sangue principalmente pela veia porta a partir do trato alimentar (70-80% do sangue hepático), mas também a partir da artéria hepática (20-30% do sangue). A partir do alto fluxo venoso, o órgão exerce suas funções de metabolização de nutrientes (carboidratos, lipídios, aminoácidos e vitaminas), detoxificação e excreção biliar de compostos tóxicos, bem como metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas. O fluxo sanguíneo hepático tem origem a partir da veia porta e da artéria hepática, misturando-se nos sinusoides hepáticos e chegando à veia centro-lobular para, posteriormente, ser drenado na veia hepática e cair na circulação sistêmica pela veia cava caudal. 
A excreção de bile permite que com”osto’ de desgaste do organismo, como bilirrubina, ácidos biliares, colesterol e outras substâncias tóxicas metabolizadas pelo fígado, sejam eliminados. O fluxo biliar é conduzido por meio de canalículos biliares localizados entre os hepatócitos e ocorre na direção oposta ao fluxo sanguíneo, ou seja, tem início na região centro-lobular e drena em direção aos ductos biliares nos espaços-porta, os quais, posteriormente, fluem para o ducto hepático comum, vesícula biliar (quando presente) até chegar ao duodeno proximal.
Ainda, cabe salientar que os lóbulos hepáticos podem ser subdivididos em três regiões ou zonas de acordo com o suprimento de sangue: periportal (zona 1), mediozonal (zona 2) e centrolobular ou periacinar (zona 3). Hepatócitos periportais estão localizados mais próximo ao sangue com maior concentração de oxigênio e nutrientes e, dessa forma, têm atividade importante de gliconeogênese, síntese proteica, metabolismo aeróbico, ciclo da ureia e metabolismo de lipídios. Por sua vez, hepatócitos centrolobulares estão expostos ao menor nível de oxigênio e nutrientes, tendo funções primordialmente voltadas à biotransformação de compostos tóxicos e, por esse motivo, têm maiores concentrações de enzimas do citocromo P-450 e outras enzimas detoxificantes. Dessa forma, hepatócitos centrolobulares são mais sensíveis à hipóxia e a substâncias toxicantes metabolicamente ativadas pelo citocromo P-450, enquanto hepatócitos periportais são suscetíveis a toxicantes de ação direta.
DOENÇAS DO FÍGADO
Algumas alterações hepáticas detectadas à necropsia podem ter pouco ou nenhum significado clínico patológico.
A telangiectasia, ou peliose hepática, vista na macroscopia como áreas multifocais deprimidas e vermelho-escuras na superfície capsular e parênquima hepático, corresponde, histologicamente, à dilatação dos sinusoides com preenchimento por hemácias e é alteração comum em bovinos de abatedouro, sendo ocasional em gatos. A lipidose de tensão é alteração incidental, comumente visualizada em equinos e bovinos, vista como área focal amarelada em bordos de lobos, os quais ficam submetidos à tensão ligamentar. 
Em equinos, é comum a formação de placas ou franjas fibrosas na superfície capsular diafragmática associada à migração de Strongylus edentatus em algum ponto da vida do animal, mas isso não causa a morte do animal. Em suínos, a migração de Ascaris suum pelo fígado forma áreas de cicatrização com aspecto de manchas de leite na superfície capsular, o que também é achado incidental. Outra alteração de menor significado são os cistos biliares em meio ao parênquima, os quais são usualmente congênitos, podendo ser múltiplos, mas não interferem na função hepática. Devem ser, todavia, diferenciados de formações císticas tumorais (cistoadenoma biliar) e de formações císticas infecciosas (cisto hidático).
Entre as alterações congênitas, destacam-se as derivações portossistêmicas ou shunts hepáticos. Estas são comunicações diretas entre o sangue portal com a circulação venosa sistêmica (veia cava caudal), desviando o fluxo sanguíneo do fígado. Ocorrem, principalmente, em cães e gatos e podem ser classificadas como intra ou extra-hepáticas, mas a característica típica é a presença de um vaso ou canal comunicando ambas as circulações. Isso as distingue do shunt portossistêmico adquirido, em que as derivações são múltiplas, de paredes finas e de aspecto varicoso, acompanhando processos de hipertensão portal por cirrose hepática.
A principal alteração circulatória observada no fígado é a congestão hepática passiva, a qual pode ocorrer de forma aguda ou crônica, mas que está intimamente relacionada à falha ou insuficiência cardíaca direita. Na congestão aguda, o fígado fica vermelho-escuro e flui sangue ao corte, como, por exemplo, em casos de intoxicação aguda por plantas cardiotóxicas (Palicourea marcgravii) em bovinos. Por sua vez, na congestão hepática crônica, a doença cardíaca também é crônica, e o parênquima hepático vai se adaptando às modificações. Macroscopicamente, o fígado também é vermelho-escuro, mas tem superfície irregular devido à fibrose, e, ao corte, o aspecto de noz-moscada é característico. Além do fígado noz-moscada, nesses casos, também há ascite e shunt portossistêmico adquirido devido à hipertensão portal.
Como o fígado tem dupla circulação (veia porta e artéria hepática), infartos hepáticos são incomuns, mas quando ocorrem, correspondem a áreas bem demarcadas avermelhadas próximo à cápsula hepática. A intoxicação por samambaia-do-campo (P. arachnoideum) na forma de diátese hemorrágica em bovinos pode favorecer a ocorrência desses infartos devido à aplasia de medula óssea. A presença de infarto em foco extenso do parênquima hepático é típica na hemoglobinúria bacilar, doença causada por Clostridium haemolyticum em bovinos. Os esporos do agente são ingeridos e permanecem em latência no fígado até que haja condições de anaerobiose, o que acontece por meio da migração de Fasciola hepatica pelo parênquima hepático. Dessa forma, a doença é mais frequente em bovinos mantidos em áreas alagadas, nas quais o trematódeo completa seu ciclo. C. haemolyticum produz uma toxina beta que tem efeito necrotizante local (infarto hepático) e efeito hemolítico na circulação sistêmica, causando icterícia, colestase hepática, rins enegrecidos e urina tingida pela hemoglobina (hemoglobinúria).
Torções de lobos hepáticos são comuns em coelhos, associadas a manejo inapropriado e podem também ocorrer no lobo lateral esquerdo em suínos, cães, gatos e equinos. O lobo torcido passa por isquemia e infarto venoso, e o animal pode vir a óbito. Rupturas do parênquima hepático ocorrem comumente em traumas devido à fragilidade do órgão relativa à sua massa, sendo mais visualizadas em cães e gatos, e podem ser fatais dependendo da quantidade de sangue perdida na cavidade abdominal. Procedimentos de ressuscitação cardiopulmonar também podem causar rupturas hepáticas, mas, nesses casos, as lesões são mais discretas.
Alterações degenerativas do fígado incluem a atrofia de lobo hepático, a degeneração por glicogênio, a degeneração gordurosa e a amiloidose. A atrofia de lobo hepático lateral direito é mais observada em equinos de forma secundária a episódios recorrentes de cólica, com compactação de cólon dorsal direito e ceco que comprimem esse lobo hepático. A degeneração por acúmulo de glicogênio é comum em caninos tratados com corticoides exógenos ou que apresentem hiperadrenocorticismo, como na síndrome de Cushing. O fígado, nesses casos, fica aumentado e marrom-pálido com bordos arredondados,enquanto à microscopia os hepatócitos ficam tumefeitos e com citoplasma de aspecto rendilhado. 
A degeneração gordurosa hepática o”orre’em diversas espécies (bovinos, ovinos, felinos e caninos) como resultado de desequilíbrio metabólico e acúmulo de triglicerídeos no interior de hepatócitos. Independentemente da espécie afetada, o fígado se apresentará aumentado de forma difusa, amarelo-pálido e, ao corte, tem aspecto friável. Fragmentos colhidos do fígado gorduroso podem boiar na solução de formol devido à alta concentração de lipídios. Microscopicamente, os hepatócitos ficam tumefeitos com citoplasma preenchido por vacúolos de gordura, e os núcleos ficam excêntricos (Figura 4). 
Em ruminantes, a doença ocorre predominantemente na fase puerperal, sendo denominada de cetose em bovinos (predominantemente de aptidão leiteira) e de toxemia da prenhez em ovinos (associada a partos gemelares). Em felinos, a condição é denominada de lipidose hepática e ocorre, principalmente, em fêmeas obesas, nutricionalmente estressadas, cursando com vômito, anorexia, perda de peso e icterícia, além de marcada hepatomegalia. Em cães e gatos, a diabetes mellitus, doença endócrina com redução ou resistência à ação da insulina, cursa com aumento do metabolismo de lipídios periféricos e, por consequência, os hepatócitos metabolizam maior quantidade de triglicerídeos e exibem degeneração gordurosa.
A amiloidose é doença sistêmica que se caracteriza pela deposição de proteínas ou amiloide no fígado, rins ou baço. Pode ter causa familiar (cães Shar-pei e gatos Abissínios) ou ser secundária a doenças inflamatórias crônicas, como na tuberculose em bovinos. O fígado fica aumentado, com bordos arredondados, pálido e firme, e, microscopicamente, o amiloide é depositado ao longo dos sinusoides como material amorfo extracelular eosinofílico, causando atrofia de hepatócitos.
Processos de morte celular envolvendo o fígado podem ser categorizados em apoptose e necrose. A apoptose caracteriza a morte celular programada e individualizada de hepatócitos. Nela, ocorre a remoção de células de forma fisiológica sem inflamação. Microscopicamente, as células exibem citoplasma hipereosinofílico e retraído. Já na necrose, os hepatócitos exibem tumefação, citoplasma homogêneo eosinofílico como resultado de desnaturação de proteínas citoplasmáticas, e núcleos picnóticos ou fragmentados, porém o contorno celular é mantido, caracterizando a necrose de coagulação hepática. Esta pode apresentar padrões de distribuição: focal ou multifocal aleatória, zonal e massiva.
Necroses focais ou multifocais aleatórias se caracterizam por envolver, ao acaso, porções distintas do lóbulo hepático. Macroscopicamente, as lesões são discretas e puntiformes, e, microscopicamente, há necrose e inflamação associada, sendo o processo muitas vezes denominado como hepatite necrotizante aleatória. Esse padrão de lesão é típico de agentes infecciosos, como bactérias (Salmonella spp., Listeria spp.), vírus (herpesvírus canino 1) e protozoários (Toxoplasma gondii).
Necroses zonais se caracterizam por afetar porções específicas do lóbulo hepático. A necrose centrolobular é a mais comum, pois esses hepatócitos são os mais suscetíveis à hipóxia de nutrientes por estarem mais afastados da tríade portal, bem como compostos exógenos podem ser ativados em metabólitos reativos capazes de lesar ou necrosar os hepatócitos devido aos altos níveis de citocromo P-450. Macroscopicamente, casos de necrose zonal exibem evidenciação do padrão lobular hepático, e a microscopia permite a diferenciação da distribuição das lesões, em que há marcada necrose de coagulação de hepatócitos centrolobulares. Em ruminantes, o consumo de plantas tóxicas, como Xanthium spp. E Cestrum spp., é causa de necrose hepática centrolobular. Em felinos e caninos, a intoxicação por paracetamol pode causar necrose hepática, e a intoxicação por Cycas revoluta tem sido também reportada em caninos. Sinais neurológicos podem ser observados por encefalopatia hepática devido a níveis aumentados de amônia.
Uma variação da necrose centrolobular é a necrose paracentral, em que uma região em formato de cunha junto à veia centrolobular é afetada. Esse padrão de lesão é comum em quadros de anemia, como na hemoncose em ovinos e tristeza parasitária em bovinos. A necrose mediozonal afeta os hepatócitos localizados entre a região centrolobular e periportal e pode ser observada em alguns casos de intoxicação. A necrose periportal é incomum e ocorre em hepatócitos próximos ao espaço porta, resultando de ação direta de toxinas. Quando todo o lóbulo hepático é afetado, a necrose é massiva e pode resultar de doses maiores de insultos tóxicos. A hepatose dietética em suínos relacionada à deficiência de vitamina E e selênio é um exemplo de necrose massiva hepática.
Após a lesão necrótica hepática, o fígado pode reagir por regeneração hepatocelular ou fibrose. O fígado tem uma grande capacidade de reparar lesões por regeneração, porém isso depende da manutenção do arcabouço de reticulina hepático, fluxo venoso e arterial, bem como drenagens venosa e biliar apropriadas. Todavia, quando a lesão é grave e essas estruturas são perdidas, há regeneração desordenada, que pode assumir formato nodular, além de intensa fibrose. A fibrose hepática é a última resposta de reparo tecidual a uma lesão hepática crônica e seu padrão varia conforme o insulto, bem como duração de exposição ao mesmo. A fibrose pode ocorrer inicialmente como resposta à inflamação crônica em espaços-porta e ductos biliares, formando pontes entre os espaços-porta (Figura 6), como em casos de colangiohepatite em felinos.
A fibrose frequentemente sucede eventos necróticos hepáticos, sendo uma lesão irreversível e denominada como cirrose hepática. Esta caracteriza o fígado em estágio terminal, em que toda a arquitetura do órgão é perdida. Macroscopicamente, o órgão fica diminuído, firme, pálido e pode exibir nódulos de regeneração na superfície. A cirrose hepática pode ainda culminar com ascite e hidrotórax por hipoproteinemia, bem como shunts portossistêmicos devido à hipertensão portal, além de caquexia.
As causas de cirrose hepática podem ser diversas, mas, muitas vezes, o insulto inicial não pode ser determinado. A intoxicação por plantas contendo alcaloides pirrolizidínicos, em especial Senecio spp., é importante causa de cirrose hepática e a principal causa de morte por plantas tóxicas em bovinos no Sul do Brasil. Nesses casos, pode haver também diarreia, perda de peso, encefalopatia hepática e lesões cutâneas por fotossensibilidade hepatógena. Microscopicamente, há fibrose acentuada, hiperplasia de ductos biliares e megalocitose. Em cães, destaca-se o tratamento prolongado com fenobarbital. A cirrose também pode ser de causa biliar, quando há obstrução biliar por cálculos biliares (colelitíases) ou infecções do trato biliar, como na fasciolose.
Alterações inflamatórias hepáticas são comuns e podem ter origem da circulação sistêmica por via hematógena, por via ascendente biliar ou por penetração direta, como em casos de reticuloperitonite traumática em bovinos. A inflamação do parênquima hepático é denominada de hepatite, quando também envolve os ductos biliares é colangiohepatite e quando envolve apenas os espaços portais é colangite.
Bactérias como Salmonella, Trueperella pyogenes, Actinobacillus equuli e E. coli, que se disseminam de forma hematógena ao fígado, causam hepatite supurativa ou neutrofílica e frequentemente estão associadas à necrose aleatória de hepatócitos. Por sua vez, Mycobacterium bovis, o agente causal da tuberculose, pode causar hepatite granulomatosa crônica em bovinos tanto por via digestória como por disseminação de lesões respiratórias na tuberculose miliar. Em gatos, processos de colangite ou colangiohepatite são importantes causas de insuficiência hepática e três formas são observadas: supurativa, linfocítica e esclerosante. Esses processos estão frequentemente associados a infecções bacterianas ascendentes pela via biliar, assim como lesões depancreatite e enterite, caracterizando a tríade felina.
Alterações proliferativas hepáticas incluem a hiperplasia nodular e os adenomas hepatocelulares, os quais são comuns em cães velhos e macroscopicamente similares. Ainda assim, neoplasias hepáticas malignas são mais comuns, principalmente em cães e gatos, podendo ter origem em hepatócitos (carcinoma hepatocelular), vias biliares (colangiocarcinoma) ou interstício (hemangiossarcoma e fibrossarcoma). 
O carcinoma hepatocelular, macroscopicamente, forma massa única, que envolve e substitui um dos lobos hepáticos, sendo macio e de coloração variável (amarelo a vermelho-escuro). O colangiocarcinoma forma massas tumorais multifocais, envolvendo todos os lobos hepáticos, com aspecto umbilicado ou deprimido, consistência firme e coloração brancacenta. O hemangiossarcoma, geralmente, não é primário do fígado, mas reflexo de um processo neoplásico multicêntrico, em que baço, coração, pulmões, pele e cérebro são também afetados por múltiplas estruturas nodulares a císticas vermelhas e preenchidas por sangue. Outras neoplasias hepáticas incluem as metastáticas e multicêntricas, como carcinomas de mama e linfomas, respectivamente.
DOENÇAS DA VESÍCULA BILIAR E VIAS BILIARES 
Doenças envolvendo exclusivamente a vesícula biliar e vias biliares são incomuns, mas desordens envolvendo o fluxo biliar podem ter reflexos sistêmicos.
O mais importante deles é a icterícia, devido à concentração aumentada de bilirrubina na circulação. Ela pode ser: pré-hepática ou hemolítica por aumento de bilirrubina não conjugada; hepática por redução na conjugação e excreção de bilirrubina; ou pós-hepática por obstrução dos ductos biliares extra ou intra-hepáticos e acúmulo de bile nos canalículos biliares, o que é denominado de colestase.
A obstrução biliar pode ocorrer pela presença de cálculos biliares ou colélitos na vesícula biliar ou em ductos biliares. Todavia, em animais domésticos, a obstrução biliar resulta, geralmente, de colangite (inflamação dos ductos biliares) ou colecistite (inflamação da vesícula biliar), com fibrose e estenose de ductos biliares. A obstrução biliar pode, por fim, levar à ruptura do trato biliar ou da vesícula biliar e peritonite química aguda fatal, visto que os sais biliares são altamente nocivos.
Processos inflamatórios de colecistite são incomuns em animais domésticos, com exceção de bezerros infectados por Salmonella Dublin, nos quais é frequente colecistite fibrinonecrótica em associação a quadros de septicemia com lesões hepáticas (nódulos paratifoides), esplênicas e pulmonares concomitantes. A colangite é comum em gatos, mas cursa com colangiohepatite, como já descrito anteriormente.
Em bovinos e ovinos, a doença causada pelo trematódeo F. hepatica ocorre principalmente em áreas úmidas. A doença ocorre de duas formas: aguda e fatal ou crônica. A forma aguda está relacionada à migração de grande quantidade de formas imaturas ou metacercárias de F. hepatica pelo parênquima hepático e ocorre principalmente em ovinos. Bovinos são mais resistentes e apresentam a forma crônica, na qual formas adultas de F. hepatica causam ectasia de ductos biliares.
Alterações proliferativas de vesícula biliar podem ser incidentais à necropsia, como na hiperplasia cística mucinosa em cães. Outra alteração proliferativa é a mucocele biliar, que se caracteriza por dilatação da vesícula biliar com acúmulo de material mucoide esverdeado. Neoplasias primárias da vesícula biliar são raras, com exceção de adenomas biliares em bovinos de abatedouro.
Patologia do sistema urinário
Anatômica e funcionalmente, o sistema urinário é subdividido em trato urinário superior, o qual compreende os rins, e trato urinário inferior (TUI), o qual é composto pelos ureteres, bexiga e uretra.
Os rins são órgãos pareados localizados na cavidade abdominal em região retroperitoneal, próximo aos corpos das vértebras lombares. Esses órgãos apresentam diferenças anatômicas entre as espécies, principalmente com relação à lobação. Rins de cães, gatos, pequenos ruminantes e equinos são unilobares (unipiramidais), ou seja, só há um lobo. Por sua vez, em bovinos e suínos os rins são multilobares (multipiramidais), porém apenas bovinos apresentam lobação marcada na superfície externa do órgão. 
Os rins são recobertos por uma cápsula de tecido conjuntivo fibroso e, ao corte, são divididos em córtex, mais externamente, e medula renal, mais internamente e próximo à pelve renal, onde a urina desemboca antes de chegar aos ureteres. A relação da espessura do córtex para a medula é de 1:2 a 1:3 para animais domésticos, porém pode ser de 1:4 em neonatos. Os néfrons compõem a unidade funcional dos rins, consistindo em corpúsculo renal (glomérulos e cápsula de Bowman), túbulo proximal, alças de Henle e túbulos distais, que desembocam nos túbulos coletores. 
Os rins exercem múltiplas funções, mas a principal delas é relacionada à filtragem sanguínea, com formação de urina e excreção de resíduos metabólicos, manutenção de concentrações normais de sais e água no organismo e regulação do equilíbrio ácido-básico. Além dessas funções, os rins também têm papel endócrino, com produção de eritropoietina, renina e prostaglandinas, e estão envolvidos na ativação da vitamina D, promovendo melhor absorção de cálcio por meio do intestino.
No TUI, todos os órgãos são revestidos por epitélio pseudoestratificado não queratinizado ou urotélio. Os ureteres têm diâmetro uniforme e correm paralelos, conduzindo a urina por peristaltismo em direção à bexiga, a qual armazena a urina e, dessa forma, tem uma ampla capacidade de dilatação. A partir do reflexo de micção, a contração do músculo detrusor da bexiga bombeia a urina através da uretra. 
DOENÇAS RENAIS
Doença renal se refere a qualquer distúrbio que altere a estrutura ou função renal, podendo ocorrer de forma subclínica.
Doenças renais graves podem levar à falha renal, a qual é tipicamente dividida em insuficiência ou falha renal aguda (IRA) e insuficiência ou falha renal crônica (IRC).
Convém-se denominar como insuficiência renal quando a taxa de filtração glomerular está entre 25-50%; de falha renal quando essa taxa está entre 20-25%; e de rim terminal quando a taxa de filtração é menor do que 5%. 
A IRA se caracteriza por doença de curso rápido causada por lesão glomerular, intersticial ou tubular necrótica aguda, de caráter reversível, que leva à redução ou ausência de produção de urina (oligúria ou anúria) e azotemia (aumentos de ureia sanguínea e creatinina sem manifestações sistêmicas de doença renal). A IRC, por sua vez, é o resultado final de muitas doenças crônicas, irreversível e caracterizada por fibrose do parênquima (Figura 7), glomérulos escleróticos e uma mistura de túbulos atróficos e dilatados, além de sinais ou lesões extrarrenais associados à uremia. Essas são observadas principalmente em cães e gatos, consistindo em lesões necróticas e ulcerativas na cavidade oral (estomatite e glossite ulcerativas), gastrite ulcerativa e hemorrágica com odor amoniacal e mineralização da parede do estômago (gastrite urêmica), mineralização de tecido conjuntivo subpleural intercostal, endocardite atrial ulcerativa e mineralização pulmonar (pneumopatia urêmica). 
Figura 7. À esquerda, histologia do rim com inúmeros túbulos e glomérulos normais. À direita, rim terminal com intensa proliferação de tecido conjuntivo fibroso (fibrose) evidenciado em azul, substituindo os túbulos renais.
Além dessas, quando há redução da taxa de filtração glomerular para menos de 25% em animais com IRC, há retenção de fosfato, causando hiperfosfatemia e hipocalcemia agravada pela menor capacidade de ativação da vitamina D pelo rim lesado. Dessa forma, em cães e gatos com IRC, a hipocalcemia estimula as paratireoides a aumentarem a produção de paratormônio (hiperparatireoidismo secundário), levando ao aumento macroscópico dessas glândulas endócrinas. Consequentemente, há maior reabsorção óssea, que leva à osteodistrofia fibrosa, ou seja, substituição do tecido ósseo por tecido fibroso,o que é mais comum em ossos da face (mandíbula e maxila) e costelas, conferindo aspecto de borracha ou de galho verde a esses ossos, bem como maior fragilidade aos demais ossos. Em animais de produção (ovinos, caprinos e equinos), a alimentação inadequada com alto teor de fósforo (milho), favorece a ocorrência de hiperparatireoidismo secundário de forma similar, com osteodistrofia fibrosa visualizada por meio do aumento de volume na mandíbula e/ou maxila, conferindo o aspecto da “doença da cara inchada”.
Anomalias do desenvolvimento renal podem configurar importante causa de doenças renais ou achados incidentais de necropsia. Se um animal apresentar agenesia (não desenvolvimento) ou hipoplasia (desenvolvimento incompleto) renal unilateral, porém com rim contralateral estrutural e funcionalmente normal, esses serão meros achados de necropsia. Por sua vez, na displasia renal há um desenvolvimento anormal do parênquima renal como resultado de um distúrbio da nefrogênese e persistência de estruturas histológicas imaturas ou fetais separadas por tecido fibroso. Consequentemente, ambos os rins apresentam-se diminuídos, firmes, pálidos e com superfície irregular. Essa condição afeta, principalmente, cães jovens, levando-os à insuficiência renal, e deve ser diferenciada da nefropatia juvenil progressiva, que representa doenças de causa familiar ou hereditária em cães jovens.
Cistos renais podem ser classificados como congênitos ou adquiridos de forma secundária à fibrose renal. Cistos congênitos podem ser focais e localizados no córtex renal, como em suínos e bezerros, porém sem significado clínico patológico. Todavia, quando os cistos são múltiplos, a doença é denominada como doença renal policística, a qual ocorre frequentemente em gatos persa como resultado de alteração autossômica dominante nos genes PKD1 e PKD2, que codificam policistina 1 e 2, respectivamente. A doença é usualmente bilateral, os cistos crescem progressivamente, envolvendo túbulos proximais e distais, e, por fim, o animal desenvolve insuficiência renal. Cistos hepáticos e pancreáticos também podem ser observados nesses casos. Em ovinos, a doença renal policística ocorre na forma autossômica recessiva, com doença congênita grave, e o animal morre no útero ou logo após o nascimento. 
Alterações circulatórias renais são principalmente representadas por infartos e hemorragias, apesar de hiperemia e congestão também ocorrerem na forma de rins difusamente vermelho-escuros que fluem sangue ao corte. Infartos renais ocorrem como resultado de oclusões de ramos arteriais renais por tromboêmbolos sépticos ou estéreis, que causam necrose de coagulação do parênquima renal tipicamente em formato de cunha. As sequelas dos infartos dependem da extensão da lesão e da causa, sendo que, em infartos sépticos, geralmente bacterianos, podem ser formados abscessos. Subsequentemente, se o animal sobreviver, ocorrerá resolução das lesões por meio de fagocitose, com remoção do tecido necrótico e substituição por tecido fibroso, o que irá conferir ao órgão superfície irregular, com áreas deprimidas, firmes e brancacentas. Importantes causas de infartos renais incluem endocardites valvulares vegetativas e neoplasias metastáticas.
EXPLICANDO Os infartos têm formato de cunha devido à anatomia vascular do órgão. Se a artéria arqueada for obstruída, o infarto envolverá as regiões cortical e medular. Por sua vez, se a artéria interlobular for obstruída, apenas a região cortical será afetada.
Hemorragias renais na forma de petéquias multifocais em córtex renal indicam doenças sistêmicas e são principalmente relacionadas à bacteremia ou viremia, como na salmonelose e peste suína clássica, respectivamente. Também podem ocorrer em quadros de intoxicação por rodenticidas em cães e gatos. Traumatismos contundentes em cães e gatos podem levar a extensas hemorragias subcapsulares.
A necrose tubular aguda (NTA), ou necrose cortical renal, é uma lesão necrótica que envolve os túbulos proximais ou distais renais, ocorrendo ocasionalmente em animais domésticos e podendo levar à IRA. A lesão pode ser reparada apropriadamente se a membrana basal tubular permanecer intacta; caso contrário, ocorrerá cicatrização por fibrose. A NTA pode ter causa isquêmica ou tóxica, sendo a primeira associada à hipotensão por hemorragias intensas, desidratação e anemia, nas quais a perfusão da camada cortical fica reduzida, mas também pode ser causada por choques endotóxicos bacterianos, que provocam coagulação intravascular disseminada, com formação de microtrombos e necrose renal hemorrágica. 
As causas tóxicas de NTA podem ser classificadas como exógenas ou endógenas. Como causas exógenas, destacam-se alguns antimicrobianos (gentamicina), sulfas, antifúngicos (anfotericina B), metais pesados (chumbo e mercúrio inorgânico), acidentes ofídicos e por picadas de abelhas. Nesses casos, os rins podem ficar levemente aumentados de volume, pálidos e com evidenciação de estrias transversais corticais. Como causas tóxicas endógenas, destacam-se a deposição tubular de hemoglobina secundária à cser_educacional hemolítica intravascular (babesiose e hemoglobinúria bacilar em bovinos, intoxicação por cobre em ovinos) e a deposição de mioglobina associada à necrose muscular (deficiência de vitamina E e selênio em ruminantes, rabdomiólise e intoxicação por ionóforos em equinos). Em ambas as formas, os rins ficam vermelho-escuros a enegrecidos e a urina fica tingida por hemoglobina (hemoglobinúria) ou por mioglobina (mioglobinúria).
A necrose renal também pode afetar”a região medular, sendo chamada de necrose papilar renal por ocorrer em região muito próximo à pelve renal nas aberturas das papilas renais. Essa forma de necrose é comum em equinos submetidos a tratamentos com alguns anti-inflamatórios não esteroidais, como fenilbutazona, mas também pode ocorrer em caninos e ruminantes. Esses fármacos inibem de forma geral a síntese de prostaglandinas, fazendo com que haja perda dos efeitos vasodilatadores em arteríolas justamedulares renais e, portanto, isquemia da região medular, com necrose subsequente. Somado a isso, geralmente há também desidratação, o que contribui para maior hipotensão e agravamento da condição. 
As lesões necróticas renais podem ser, muitas vezes, confundidas macroscopicamente com processos de amiloidose por esta se caracterizar por rins aumentados, pálidos a acastanhados e firmes. Essa doença é causada pela deposição de uma proteína extracelular insolúvel (amiloide) que pode ocorrer de forma primária à discrasias plasmocitárias, com produção de amiloide de cadeia leve por plasmócitos, como em mielomas ou plasmocitomas, mas também pode ocorrer de forma secundária ou reativa a processos inflamatórios crônicos, com produção de proteína associada ao amiloide, como em associação à leishmaniose e tuberculose, sendo essa a mais comum em animais domésticos. Outra forma de amiloidose é a familiar, ou hereditária, que ocorre em cães Shar-pei e gatos Abissínios. 
A deposição de amiloide pode ocorrer em diversos tecidos, mas o rim é o mais acometido, podendo levar à IRC. Histologicamente, o amiloide tem aspecto homogêneo e eosinofílico e é depositado, principalmente, no mesângio e subendotélio do glomérulo, mas também pode envolver as membranas basais tubulares e paredes vasculares. Ao envolver o glomérulo, geralmente ocorre aumento de volume dessa estrutura, o que ocasionalmente pode ser visualizado como pontilhado amarelado na cortical à macroscopia, e a coloração de vermelho-congo pode confirmar a condição. Devido ao envolvimento glomerular, a proteinúria pode ser severa, com cilindros hialinos intratubulares observados à microscopia.
Alterações inflamatórias que envolvem os rins são denominadas de acordo com a região que afetam. Dessa forma, se os glomérulos são envolvidos, ocorre glomerulite; se o parênquima tubular e o interstício renal são envolvidos concomitantemente, há glomerulonefrite ou nefrite tubulointersticial; e se o processo se origina na pelve renal e se estende até o parênquima renal,ocorre pielonefrite. 
Doenças glomerulares exclusivamente afetando os glomérulos (glomerulites) ocorrem em processos de septicemia bacteriana, como na infecção por Actinobacillus equuli em potros, e em doenças virais, como na hepatite infecciosa canina. Todavia, a doença glomerular primária frequentemente é acompanhada por alterações secundárias tubulointersticiais e vasculares, caracterizando um processo de glomerulonefrite (GN). A apresentação clínica da doença glomerular pode ser não específica, com hematúria, oligúria e azotemia, mas a presença de proteína na urina (proteinúria) e ausência de inflamação é altamente sugestiva de dano glomerular, o qual pode levar à hipoalbuminemia e edema generalizado (síndrome nefrótica).
A GN tem causa Imunomediada, ocorrendo por meio da deposição de imunocomplexos nas membranas basais dos capilares glomerulares, usualmente de forma secundária a processos infecciosos prolongados, como na hepatite infecciosa canina, piometra, leishmaniose e erliquiose em cães, e na síndrome de dermatite e nefropatia por circovírus em suínos, na qual se visualizam pontos avermelhados na cortical. Morfologicamente, é dividida em: GN proliferativa, quando há proliferação de células mesangiais; GN membranosa, quando há espessamento de membranas basais dos capilares do tufo glomerular e da cápsula de Bowman; GN membranoproliferativa, quando estão presentes concomitantemente características de GN proliferativa e membranosa; e, por fim, em glomeruloesclerose, quando o glomérulo fica diminuído, hialinizado e fibrosado (esclerótico), ou seja, se torna afuncional. Macroscopicamente, se a GN for aguda, as lesões são discretas, ao passo que se for crônica, os rins ficam diminuídos, pálidos, com superfície irregular, consistência firme e cápsula aderida. Ao corte, esses rins apresentam diminuição do córtex e presença de pequenos cistos por consequência de obstrução tubular.
Nefrites tubulointersticiais se caracterizam por inflamação no interstício renal, fibrose intersticial e dilatação, e atrofia tubular. Podem ocorrer de forma aguda ou crônica, sendo as primeiras geralmente associadas a processos infecciosos bacterianos ou virais, e mais comuns em cães e gatos. Por sua vez, na nefrite intersticial crônica, há também fibrose acentuada associada à inflamação e, dessa forma, os rins ficam pálidos, com cápsula aderida, superfície cortical irregular e com cistos adquiridos. É importante diferenciar, microscopicamente, se o processo patológico reflete uma doença primária tubulointersticial ou ocorreu de forma secundária à doença glomerular, caracterizando uma GN.
Em cães, a infecção por Leptospira interrogans serovar canicola e icterohaemorrhagiae é importante causa de nefrite intersticial aguda, levando à insuficiência renal, icterícia e hepatite. Herpesvírus canino 1 causa em filhotes nefrite necrotizante e hemorrágica aguda como parte de doença sistêmica e macroscopicamente se caracteriza por rins com áreas multifocais de hemorragia na superfície cortical. Felinos podem apresentar nefrite piogranulomatosa severa na peritonite infecciosa felina quando a forma não efusiva é observada, mas essas lesões tendem a afetar outros órgãos concomitantemente, como baço, fígado, pleura pulmonar, meninges e pericárdio.
Em suínos, na síndrome do definhamento multissistêmico pós-desmame por circovírus suíno tipo 2, é comum a ocorrência de nefrite intersticial, visualizada macroscopicamente por áreas esbranquiçadas multifocais na superfície capsular. Em bovinos, a febre catarral maligna é importante causa de nefrite intersticial, bem como processos infecciosos oriundos de outros locais, como endocardites valvulares, podem embolizar e causar nefrite embólica supurativa. Da mesma forma, em equinos a infecção por A. equuli, e a infecção por Streptococcus equi subsp. Equi (garrotilho) podem causar nefrite ou GN embólica. 
Pielonefrites se referem à inflamação unilateral ou bilateral da pelve renal e parênquima renal e ocorrem como resultado de infecções bacterianas ascendentes oriundas do TUI, como cistites em cadelas ou cistites enfisematosas em cães com diabetes mellitus. Na pielonefrite aguda, o processo inflamatório é supurativo, com exsudato preenchendo a pelve renal, e a inflamação frequentemente se estende ao parênquima renal adjacente, principalmente nos polos renais. Já na pielonefrite crônica, a fibrose substitui a inflamação e, dessa forma, o rim exibe formato irregular.
Hidronefrose se refere ao acúmulo de urina na pelve renal por obstrução urinária que leva à dilatação da pelve e cálices renais, além de atrofia progressiva do parênquima renal. A obstrução urinária pode se dar em qualquer nível do TUI, como em ureteres, bexiga e uretra, sendo unilateral ou bilateral e de desenvolvimento rápido ou lento. A principal causa de hidronefrose é a presença de cálculos ou urólitos, obstruindo ureteres ou a uretra, mas processos inflamatórios e neoplasias vesicais também podem ser causas. Macroscopicamente, os rins ficam aumentados, com formato arredondado e macio. Se a lesão for muito avançada, todo o parênquima renal pode estar atrofiado, com rim de aspecto sacular repleto de urina. 
Processos neoplásicos renais primários são incomuns, com exceção de cães da raça Pastor Alemão, os quais têm predisposição genética autossômica dominante para o desenvolvimento de cistoadenocarcinoma renal, que frequentemente está associado à dermatofibrose nodular e leiomiomas uterinos. Carcinomas renais também podem ser detectados em bovinos e equinos, enquanto nas demais espécies são esporádicos. Outra neoplasia primária renal é o nefroblastoma. Este é o tumor renal mais comum em suínos e galinhas de abatedouro, podendo ocorrer também em cães e bezerros. O tumor tem origem embrional a partir do blastema nefrogênico e, dessa forma, ocorre em animais jovens, sendo usualmente unilateral, porém metástases pulmonares e hepáticas são comuns. No entanto, a maioria das neoplasias renais ocorre como resultado de metástases de outros órgãos. Linfomas renais são comuns em felinos e bovinos, como neoplasias multicêntricas. Metástases de carcinomas de mama aos rins em cadelas e gatas também são comuns.
DOENÇAS DO TRATO URINÁRIO INFERIOR
Embora doenças do trato urinário inferior (TUI) sejam menos comuns do que aquelas que afetam os rins, algumas podem ter efeitos catastróficos, levando o animal à morte.
Alterações congênitas do TUI são raras em animais domésticos, mas podem ocorrer como na agenesia ureteral, em que há ausência de formação de ureter de forma unilateral ou bilateral, geralmente em associação à agenesia renal. Outra alteração congênita é o ureter ectópico, ou seja, o ureter desemboca em local incorreto, seja diretamente na uretra, colo da bexiga, vagina ou próstata, e, dessa forma, o animal perde o controle da micção e manifesta incontinência urinária. É mais comum em cadelas, e animais com ureter ectópico têm predisposição a apresentar infecções bacterianas ascendentes e pielonefrite, bem como outras malformações concomitantes são frequentes. Na bexiga, a persistência do úraco (patência do úraco) é a alteração congênita mais comum e consiste na falha de fechamento do úraco fetal, com manutenção da comunicação entre o ápice da bexiga e o umbigo. Animais afetados, especialmente potros, gotejam urina pelo umbigo, e complicações como ruptura do úraco com uroperitônio, cistites bacterianas e septicemias podem ocorrer.
A urolitíase ou formação de cálcul”s (urólitos) nas vias urinárias é uma das principais doenças do TUI, envolvendo desde a pelve renal, ureteres, bexiga e uretra. Os urólitos podem ser compostos por diversos minerais, como sílica, estruvita, oxalato, ácido úrico, uratos, xantina e cistina. Podem ser observados em todas as espécies, mas são mais comuns em ruminantes machos, e a castração precoce é um fator de risco. Nesses casos, os cálculos se alojam na uretra no arco isquiático ou flexura sigmoide, podendo causar ruptura vesical, ruptura da uretra, enquanto urólitos localizados nos ureteres podem causar hidrouretere hidronefrose. A patogênese de formação dos urólitos é complexa e influenciada por múltiplos fatores: pH urinário, infecções bacterianas e inflamação, fatores nutricionais, consumo de água reduzido, defeitos hereditários (metabolismo do urato em cães Dálmata). Independentemente da localização do cálculo, há também reação local com necrose, hemorragia e ulceração da mucosa, caracterizando ureterite, cistite ou uretrite.
Processos inflamatórios no TUI envolvem, principalmente, a bexiga, caracterizando cistites. É importante considerar que o trato urinário é mantido estéril de bactérias por eliminação repetida e cíclica da urina, de forma que a retenção urinária é um dos maiores fatores de risco para a ocorrência de cistites. Isso pode ocorrer devido à urolitíase e a traumas mecânicos na pelve que causem obstrução do fluxo da urina, bem como por traumas às vértebras, compressão medular e a qualquer lesão neurológica infecciosa ou não. Outro fator de risco é a uretra curta de fêmeas, que se constitui em uma barreira mais curta para infecções bacterianas ascendentes. 
Cistites são geralmente de causa bacteriana (E. coli, Corynebacterium, Klebsiella e Proteus) e podem ocorrer de forma aguda ou crônica. A forma aguda é a mais comum e pode se apresentar morfologicamente como fibrinopurulenta, hemorrágica e necroulcerativa. Em gatos, tem importância a doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF), a qual pode resultar de infecções do TUI, urolitíase, plugues uretrais ou outras causas congênitas e iatrogênicas. Essa doença cursa com hematúria e disúria, e à necropsia a bexiga fica repleta, avermelhada e preenchida por conteúdo sanguinolento. À histologia, há hemorragia severa na submucosa vesical. Cistites crônicas se caracterizam por parede vesical espessa, podendo apresentar aspecto polipoide, folicular ou enfisematoso. A cistite polipoide apresenta espessamento da mucosa com projeções em formato de pólipos. A cistite folicular, comum em cães, caracteriza-se por apresentar na mucosa múltiplas áreas nodulares brancacentas circundadas por zona hiperêmica e, microscopicamente, correspondem a agregados linfoides. A cistite enfisematosa ocorre comumente em cães e gatos com diabetes mellitus devido à glicosúria, o que propicia um substrato adequado para a proliferação de bactérias fermentadoras de açúcar, levando à produção de gás e crepitação da parede vesical. Adicionalmente, a presença de cistites bacterianas predispõe a ocorrência de pielonefrite.
Alterações proliferativas no TUI são incomuns em animais domésticos, com exceção de bovinos e caninos, e geralmente envolvem a bexiga, o que pode ter relação com o maior contato com substâncias carcinogênicas presentes na urina. Em bovinos, uma das formas da intoxicação por samambaia do campo (P. arachnoideum) é a hematúria enzoótica, a qual ocorre em animais adultos que ingerem quantidades reduzidas (10 g/kg/dia) da planta por um ou mais anos. A condição tem evolução lenta por cursar com o desenvolvimento de neoplasias na bexiga, sendo essas principalmente representadas por hemangiomas ou hemangiossarcomas vesicais que sangram facilmente, provocando hematúria intermitente, mas neoplasias epiteliais também podem ocorrer. Em caninos, as neoplasias vesicais ocorrem em animais senis e são principalmente de origem epitelial, sendo usualmente malignas e metastáticas, com carcinomas uroteliais como os mais comuns.
SINTETIZANDO
Doenças do sistema digestório são comuns em praticamente todas as espécies domésticas, com relevância maior em ruminantes e suínos por causarem perdas econômicas consideráveis, principalmente devido às doenças infecciosas, mas também em equinos por cólicas manifestadas por doenças não infecciosas (mecânicas) do trato digestório inferior. Por sua vez, em cães e gatos, as condições podem afetar diferentes segmentos do trato digestório, bem como podem ser infecciosas, mecânicas, inflamatórias ou neoplásicas.
Doenças hepáticas são importantes em animais domésticos, visto que o fígado é órgão central para a metabolização de nutrientes e processamento de substâncias potencialmente tóxicas. Lesões necróticas hepáticas podem ser fatais e ter causas diversas dependendo da espécie afetada: em bovinos, a ingestão de plantas tóxicas é a principal causa; enquanto em cães e gatos, a intoxicação por paracetamol tem grande importância. Embora o fígado tenha uma alta capacidade de regeneração, lesões graves com perda de hepatócitos e de estrutura reticular do parênquima serão invariavelmente sucedidas por fibrose, caracterizando a cirrose hepática, cuja causa inicial, muitas vezes, não poderá mais ser identificada.
Doenças do sistema urinário são principalmente representadas por doenças renais, apesar de ocasionalmente processos inflamatórios ou neoplásicos serem detectados na bexiga, bem como casos fatais de formação de cálculos urinários (urólitos) com obstrução de vias urinárias resultando em machos. As doenças renais podem representar desde processos infecciosos septicêmicos, cursando com nefrite ou glomerulite, bem como alterações circulatórias resultando em doenças sistêmicas, como infartos e hemorragias renais, até processos cicatriciais (fibrose) e proliferativos (neoplasias). A insuficiência renal crônica é doença grave que, além de indicar perda de função renal, pode provocar lesões extrarrenais associadas à uremia e ao desequilíbrio de minerais (cálcio e fósforo).

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