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AVA Unidade 3 - Patologia dos sistemas musculoesquelético, nervoso e endócrino

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Unidade 3 – Patologia dos sistemas musculoesquelético, nervoso e endócrino
Patologia do sistema musculoesquelético
O sistema musculoesquelético é composto de músculos, ossos e articulações, sendo, às vezes, subdividido – por alguns autores – em muscular e esquelético. Inicialmente, é importante entender que ambos podem desempenhar funções similares referentes à manutenção da postura, locomoção e proteção de órgãos vitais. Todavia, eles diferem em outras, pois os músculos estão envolvidos, também, na manutenção da temperatura corporal e no metabolismo de glicose e glicogênio, enquanto os ossos desempenham funções relacionadas à homeostase de minerais, sobretudo de cálcio (Ca) e fósforo (P), mediante ação hormonal do paratormônio (PTH) e de calcitonina.
As células musculares esqueléticas são estriadas e caracterizadas por se arranjarem em múltiplos cilindros, sendo chamadas de fibras musculares. Estas são envolvidas por um tecido conjuntivo fibroso, que, de for a para dentro, é denominado de epimísio, perimísio e endomísio (Figura 1). Na extremidade do músculo, os feixes musculares se unem formando os tendões, os quais ligam os músculos aos ossos.
As miofibrilas são células multinucleadas, de citoplasma amplo e estriado, denominado de sarcoplasma, membrana citoplasmática e núcleos periféricos. São evidenciadas, também, células satélite adjacentes às miofibras com função altamente regenerativa. A coloração da musculatura esquelética pode variar conforme a espécie, pois depende da quantidade de pigmento de mioglobina presente no tecido.
As células musculares estriadas esqueléticas podem responder a estímulos de forma fisiológica ou patológica. Como fisiológica, temos a hipertrofia muscular, a qual ocorre pelo aumento do tamanho das fibras em resposta ao esforço, e a atrofia muscular, que pode acontecer por desuso, caquexia e senilidade. A atrofia também se dá de maneira patológica, como na denervação do segmento muscular por causas neurogênicas, e de modo secundário a doenças endócrinas.
Em geral, as alterações degenerativas, ou a necrose de fibras musculares, ocorrem de forma segmentar, afetando partes da fibra, mas, ocasionalmente, podem envolver toda a sua extensão. Caracterizam-se por fibras inicialmente tumefeitas, hipercontraídas, com sarcoplasma homogêneo, hipereosinofílico e perda de estriação (necrose hialina) (Figura 2).
Depois, a fibra muscular passa a se fragmentar e exibe necrose de aspecto flocular, podendo ocorrer, também, influxo de Ca, ou mineralização da fibra necrótica. A partir disso, o segmento muscular necrótico é removido por células inflamatórias com função fagocítica, como macrófagos, para dar início ao processo reparativo, com subsequente proliferação de células satélites e formação de miofibrila em regeneração.
Figura 2. Histologia de musculatura estriada esquelética revela múltiplas fibras musculares tumefeitas, com sarcoplasma homogêneo, hipereosinofílico e perda de estriações transversais, o que caracteriza a necrose hialina, ou necrose de Zenker.
Processos degenerativos musculares podem ser classificados conforme distribuição (focal, focalmente extensa ou difusa), duração (aguda, subaguda ou crônica) e lesão (monofásica ou polifásica). As lesões monofásicas indicam que houve apenas um insulto inicial, podendo ser um trauma local, ou exposição ao composto miotóxico; e as lesões histológicas são síncronas, ou seja, as fibras afetadas estão na mesma fase de lesão, ou reparo. Já as polifásicas resultam de insultos repetidos por períodos prolongados, como em deficiências nutricionais, miopatias inflamatórias e doenças genéticas. Nesse caso, as lesões são disseminadas na musculatura, com fibras em diferentes fases lesionais, ou reparativas.
O sistema esquelético e articular é formado por ossos e articulações, e subdividido em esqueleto axial e apendicular. O axial é constituído de crânio, vértebras, costelas e esterno, além de suas articulações fibrosas (suturas na calota craniana e sindesmoses ósseas) e cartilaginosas (sínfises ósseas e discos intervertebrais). Já o apendicular é formado pelos ossos dos membros torácicos e pélvicos, composto de ossos longos e articulações sinoviais.
Estruturalmente, o tecido ósseo é organizado em animais adultos de forma lamelar, ou trabecular, com fibras colágenas de matriz óssea dispostas de maneira paralela. No tecido ósseo cortical denso, as trabéculas se organizam em ósteons de modo concêntrico, ou sistema haversiano. Por sua vez, na cavidade medular dos ossos, há o osso esponjoso, que é caracterizado por lamelas ósseas arranjadas paralelamente à superfície cortical.
Outra forma de arranjo do tecido ósseo é a não lamelar, ou trançada (woven bone), na qual as fibras colágenas, ou trabéculas, estão arranjadas ao acaso. Ela é típica de fetos em desenvolvimento e de reações de formação rápida de tecido ósseo, como em calos ósseos após fraturas.
O tecido ósseo é formado por osteoblastos, osteócitos, osteoclastos e matriz óssea. Esta, por sua vez, constitui-se de um componente orgânico, ou osteoide, produzido por osteoblastos, e um inorgânico, composto, predominantemente, de cristais de hidroxiapatita. Quando osteoblastos ficam isolados por osteoide, passam a se chamar osteócitos; já osteoclastos são células derivadas da linhagem de macrófagos e têm a função de realizar a reabsorção óssea.
DOENÇAS MUSCULARES
Doenças congênitas e hereditárias envolvendo os músculos podem ser causadas por alterações de neurônios motores inferiores (condições neuropáticas), as quais acabam afetando o músculo esquelético, ou por defeitos próprios da musculatura esquelética, sendo mais observadas em animais neonatos. Um exemplo de condição neuropática é a artrogripose, em que ocorre rigidez articular congênita associada à denervação de segmentos de fibras musculares, que ficam atrofiadas. É mais comum em ruminantes e equinos neonatos e se caracteriza por membros, ou partes deles, rotados em posições anômalas.
Em suínos, a miopatia conhecida como síndrome dos membros abertos (splay leg), ou hipoplasia miofibrilar, é caracterizada, clinicamente, por leitões com membros pélvicos e, por vezes, torácicos em abdução completa. Esses animais apresentam miofibrilas reduzidas em tamanho, o que causa fraqueza muscular.
Alterações circulatórias são comuns na musculatura esquelética, visto que o tecido é altamente vascularizado por capilares, que formam um sistema rico em anastomoses. Portanto, hemorragias musculares são frequentes e associadas, sobretudo, a eventos traumáticos (atropelamento, mordida etc.) e acidente por picada de serpente (Bothrops spp.) em diversas espécies de animais domésticos.
No carbúnculo sintomático (CS) em bovinos, uma doença causada por Clostridium chauvoei, há acentuada hemorragia muscular, bem como intenso enfisema e necrose, provocando o quadro de miosite necro-hemorrágica enfisematosa. Nessa condição, os esporos do agente permanecem em latência na musculatura, multiplicando-se quando são criadas as condições de anaerobiose local, por meio de traumatismo muscular. As lesões envolvem, predominantemente, grandes grupos musculares dos membros torácicos e pélvicos, mas podem afetar língua, coração e diafragma.
O CS deve ser diferenciado de gangrena gasosa e edema maligno, doenças causadas por C. septicum, C. novyi e C. sordelli, que afetam diversas espécies de animais e têm ocorrência esporádica. Ambas diferem por terem relação com lesões penetrantes, como injeções, castração, caudectomia e tosquia, as quais permitem a germinação de esporos desses agentes. Tais lesões envolvem, sobretudo, o tecido subcutâneo, com celulite característica, mas podem se estender por continuidade ao tecido muscular, diferindo do CS.
Já lesões isquêmicas à musculatura esquelética são incomuns, devido à vasta rede de capilares anastomosados do tecido. Ainda assim, a oclusão de vasos maiores – como na trombose em sela na ramificação da artéria aorta, em artérias ilíacas internas, em felinos com cardiomiopatia hipertrófica – pode ter efeitos graves. Nesse caso, notam-separesia posterior aguda, membros pélvicos frios e ausência de pulso femoral. À necropsia, há infartos musculares extensos, com musculatura pálida a brancacenta, e alterações cardíacas características da cardiomiopatia hipertrófica.
Em equinos que se mantêm por longos períodos em decúbito, como em cirurgias com tempos anestésicos prolongados, ou nos animais em curso clínico depauperante e decúbito permanente, a isquemia muscular é induzida por pressão e leva a extensas áreas de necrose muscular e, invariavelmente, à morte.
Alterações degenerativas musculares são as principais lesões que afetam esse tecido e se caracterizam por necrose muscular, a qual, em geral, ocorre de forma segmentar, mas também pode ser difusa. Destacam-se causas nutricionais, intoxicações e lesões musculares após exercício extenuante em equinos (rabdomiólise). Independentemente da causa, é comum haver mioglobinúria, ou seja, urina de cor marrom-avermelhada tingida por mioglobina. Clinicamente, manifestam-se por fraqueza muscular progressiva, aumento de volume da musculatura (inchaço) e decúbito permanente.
Deficiência de vitamina E e selênio, ou doença do músculo branco, é a principal causa nutricional de necrose muscular, ocorrendo em bovinos, ovinos e suínos. Ela acomete, sobretudo, bezerros de dois a quatro meses (em fase de crescimento rápido) nascidos de fêmeas mantidas em pastagens, ou com alimentação pobre em vitamina E e selênio. Macroscopicamente, ela caracteriza-se por músculos brancos de forma segmentar e afeta os de maior exigência do animal, o que varia dependendo da faixa etária. Microscopicamente, há lesão polifásica com todas as fases de necrose segmentar, mineralização e regeneração muscular.
Intoxicações cursando com necrose muscular podem ser causadas pela ingestão de plantas tóxicas, como Senna spp., e pelo uso inadequado de antibióticos ionóforos em espécies sensíveis. A intoxicação por Senna é incomum, mas pode ocorrer na forma de surtos em bovinos e equinos, quando houver baixa oferta de alimentos. Suínos também podem se intoxicar, porém, nesse caso, ocorre contaminação de cereais com sementes ou outras partes da planta. Macroscopicamente, há necrose segmentar muscular na forma de musculatura pálida.
Antibióticos ionóforos são comumente utilizados como promotores de crescimento, em bovinos, e coccidiostáticos, em aves, porém algumas espécies, por exemplo equinos e avestruzes, são muito sensíveis mesmo a baixas doses da substância. Sendo assim, a intoxicação ocorre na forma de surtos, sobretudo em equinos, devido a erros de mistura de ração, mistura não homogênea, uso de ração para espécie não alvo (utilizar de bovino para equino) e ingestão de quantidades excessivas de ração por animais dominantes.
O curso clínico varia de acordo com a dose consumida e o tempo de ingestão, mas, em geral, manifesta-se em equinos com mioglobinúria, dificuldade de se levantar e em decúbito permanente – envolvimento cardíaco e insuficiência cardíaca congestiva também são comuns. Macroscopicamente, as lesões são similares a outras miopatias degenerativas e necróticas; microscopicamente, a lesão é polifásica e multifocal.
Equinos submetidos a exercícios extenuantes podem desenvolver rabdomiólise, a qual se divide em esporádica ou recorrente: a primeira resulta de exaustão muscular, ou depleção de eletrólitos, e a segunda ocorre em equinos predispostos geneticamente. A rabdomiólise era popularmente denominada “doença da manhã de segunda-feira”, pois ocorria em equinos submetidos a exercícios físicos intensos no final de semana e que passavam a ter relutância de se movimentar, enrijecimento, tumefação muscular e mioglobinúria na segunda-feira.
Recentemente, outras formas de miopatia foram identificadas nesses animais, como a miopatia por acúmulo de polissacarídeos em equinos quarto de milha (QM) e cavalos de tração (Percheron, por exemplo), miosite imunomediada em QM, calcinose sistêmica (miopatia mineralizante) em QM e Paint horse. Independentemente da forma da miopatia, as lesões macroscópicas são muito similares; quanto à histologia, há diferenças marcantes.
Alterações inflamatórias envolvendo a musculatura esquelética e direcionadas para as miofibrilas são chamadas de miosite. Apesar de as lesões degenerativas e necróticas induzirem a inflamação à medida que ocorre a reparação tecidual, deve-se evitar o emprego do termo miosite para esses casos, pois o infiltrado inflamatório é secundário à necrose muscular. As miosites são classificadas de acordo com o exsudato e o tipo de infiltrado inflamatório envolvido. O CS em bovinos, por exemplo, provoca miosite necro-hemorrágica.
Em cães, é comum que bactérias piogênicas, como Streptococcus spp., provoquem celulite e miosite supurativa de forma secundária à contaminação de lesões cutâneas com solução de continuidade. Em gatos, Pasteurella multocida causa celulite de forma similar à nos caninos, que se estende à musculatura esquelética. Miosites parasitárias podem também ocorrer, sendo predominantemente eosinofílicas, como na miosite por Sarcocystis cruzi em bovinos.
A cisticercose, doença causada por Cysticercus bovis (estádio larval de Taenia saginata), é outra forma de miosite parasitária frequente em matadouros-frigoríficos de bovinos, envolvendo coração, músculo masseter e língua. Tem importância na saúde pública por oferecer riscos ao consumo de humanos, porém a lesão exibe escassa inflamação associada ao agente.
Alterações proliferativas primárias da musculatura esquelética são incomuns, podendo ocorrer na forma de neoplasias benignas (rabdomioma) ou malignas (rabdomiossarcomas). Outras neoplasias que envolvem a musculatura esquelética são os sarcomas de aplicação em felinos (neoplasias mesenquimais malignas altamente infiltrativas e metastáticas), hemangiossarcomas (em cães e equinos), mastocitomas cutâneos de alto grau em cães e melanomas cutâneos em equinos tordilhos senis.
DOENÇAS ESQUELÉTICAS
Anormalidades congênitas envolvendo o desenvolvimento ósseo são relativamente comuns em animais domésticos, podendo abranger todo o esqueleto (displasias esqueléticas generalizadas) ou ser confinadas a ossos específicos (displasias esqueléticas localizadas).
Como exemplos de displasias esqueléticas localizadas, temos aquelas que envolvem os membros, como o aumento do número de dígitos (polidactilia), aumento do número de membros (polimelia), fusão de dígitos em ruminantes e suínos (sindactilia) e ausência parcial de uma porção distal do membro (hemimelia).
No crânio, essas alterações são principalmente observadas por meio do encurtamento da mandíbula (braquignatia inferior) ou encurtamento da maxila (braquignatia superior), sendo esta frequentemente confundida com prognatismo inferior, no qual a mandíbula é anormalmente aumentada.
Outras alterações localizadas podem envolver as vértebras, com deslocamento dorsal (cifose), ventral (lordose) ou lateral (escoliose) da coluna vertebral.
Displasias esqueléticas generalizadas são principalmente representadas por distúrbios que interferem na formação de cartilagem (condrodisplasias), afetando por consequência todos os ossos que se desenvolvem por ossificação endocondral (ossos longos dos membros, coluna vertebral, pelve e base do crânio).
Animais afetados por condrodisplasia invariavelmente apresentam graus variados de nanismo, que difere do nanismo hipofisário por não ter relação com deficiência de somatotrofina (GH) ou outros hormônios relacionados ao crescimento.
A condrodisplasia é também denominada condrodistrofia e sua etiopatogenia está relacionada a defeitos nos genes que controlam a condrogênese. Algumas raças de cães têm a condrodistrofia como característica própria, como Dachshund, Pequinês e Basset Hound, conferindo aspectos fenotípicos de membros encurtados.
Em bovinos, diversas formas de condrodisplasia hereditária podem ocorrer, as quais são classificadas de acordo com suas características morfológicas em tipo Bulldog, Telemark letal, nanismo braquicefálico e nanismo dolicocefálico. As duas primeiras formas são consideradasletais e incompatíveis com a vida.
O nanismo braquicefálico ocorre principalmente em bovinos Hereford, tem causa genética autossômica recessiva e se manifesta por bovinos anões, com cabeça curta e larga, região frontal saliente, mandíbula protruída, olhos lateralizados e ossos distais dos membros desproporcionalmente curtos. Estes animais também têm a respiração dificultada e ruidosa (“roncadores”) e timpanismo ruminal crônico devido à dificuldade na eructação. Anões dolicocefálicos são um pouco maiores do que anões braquicefálicos e apresentam a cabeça mais alongada.
Outra forma de displasia esquelética generalizada é relacionada a um defeito de síntese de componentes específicos da matriz óssea (como colágeno tipo 1), ocorrendo na osteogenesis imperfecta. Esta condição é rara em animais domésticos, com relatos predominantes em bezerros e cordeiros, e se caracteriza por fragilidade óssea excessiva. Os animais geralmente nascem saudáveis, mas são incapazes de se manter em estação e apresentam múltiplas fraturas. Na necropsia, os ossos têm formato normal, porém são frágeis e calos ósseos são frequentes nas costelas.
As principais doenças ósseas em animais domésticos têm relação com alterações metabólicas e são principalmente caracterizadas por osteopenia, ou seja, redução de tecido ósseo. As causas são distintas de acordo com cada condição, mas as consequências são similares à fragilidade óssea.
A osteoporose é a forma mais comum de doença metabólica óssea em animais e é caracterizada pela redução na quantidade óssea, mas de qualidade normal, resultando em ossos enfraquecidos.
Em animais, a osteoporose tem causa nutricional, estando associada à inanição alimentar relacionada à redução proteica ou energética (doenças gastrointestinais com parasitismo grave, como hemoncose em ovinos e caprinos), as quais interferem na atividade de osteoblastos e, por consequência, há redução da síntese de matriz óssea.
Macroscopicamente, há redução marcada de osso esponjoso em ossos longos e vértebras, e fraturas patológicas secundárias à fragilidade óssea são comuns.
O raquitismo e a osteomalácia são doenças metabólicas ósseas generalizadas relacionadas à menor mineralização da matriz óssea devido à deficiência de fósforo, vitamina D ou de Ca, podendo ocorrer em todas as espécies de animais domésticos.
O raquitismo consiste em uma doença de animais jovens com esqueleto ainda em desenvolvimento e acompanhada por alterações de ossificação endocondral nas placas de crescimento, além de formação óssea deficitária.
Por sua vez, a osteomalácia ocorre apenas em animais adultos, com lesões ósseas similares ao raquitismo, porém não exibe alterações em placas de crescimento. Dessa forma, no raquitismo há espessamento de epífises e junções costocondrais, o que confere o aspecto de rosário raquítico a essas articulações.
A osteodistrofia fibrosa é uma doença metabólica óssea frequente e caracterizada por acentuada reabsorção óssea, proliferação de tecido conjuntivo fibroso e osso desorganizado pobremente mineralizado. A patogênese da condição tem relação com níveis elevados de PTH na circulação por consequência de hiperparatireoidismo primário (neoplasias funcionais de paratireoide – raras) ou secundário.
A forma secundária tem maior relevância em animais domésticos e ocorre como consequência de doença renal crônica ou por causas nutricionais (desequilíbrio de Ca e P). A forma renal de hiperparatireoidismo secundário ocorre em cães e, ocasionalmente, em gatos, como consequência da redução de eliminação de fósforo pelos rins e hiperfosfatemia, o que estimula a liberação de PTH pelas paratireoides. Este hormônio causa aumento da reabsorção óssea por osteoclastos, o que resulta nos achados macroscópicos de ossos da mandíbula frágeis e facilmente dobráveis (“mandíbula de borracha”).
A forma nutricional de hiperparatireoidismo secundário tem relação com dietas contendo baixos níveis de Ca e altas quantidades de P, e, com exceção de equinos, ocorre principalmente em animais jovens em rápido crescimento, como suínos e caprinos. Equinos são particularmente sensíveis aos efeitos de altos níveis de P na dieta, requerendo níveis adequados de Ca:P de 1:1 na dieta, enquanto relações de 1:3 ou mais podem resultar em osteodistrofia fibrosa. Isso é particularmente comum após manutenção do equino em dieta com predomínio de grãos e milho por meses, os quais têm alta quantidade de P.
Equinos mantidos em pastagens com altos níveis de oxalatos também são suscetíveis à osteodistrofia fibrosa, visto que o oxalato se liga ao cálcio provindo da dieta e o torna inabsorvível. Macroscopicamente, há espessamento bilateral de maxila e mandíbula, o que confere o aspecto de “doença da cara inchada”, nome popular da condição. Os ossos se apresentam firmes e facilmente seccionáveis, resultando na reabsorção óssea e substituição por tecido fibroso.
Alterações inflamatórias ósseas são denominadas de formas distintas de acordo com a porção envolvida. Quando o osso é envolvido de forma geral, denomina-se osteíte, ao passo que, quando o periósteo é afetado, o processo é chamado de periostite.
Porém, raramente o processo inflamatório fica restrito apenas a uma porção do osso e o mais comum é que a cavidade medular seja também afetada, caracterizando a osteomielite. Esta geralmente acompanha processos septicêmicos bacterianos e ocorre, principalmente, em ruminantes e equinos jovens.
Durante a bacteremia, os agentes infecciosos têm predileção por locais com ossificação endocondral ativa, como vértebras e metáfises/epífises de ossos longos, sendo estes os locais mais afetados. Os principais agentes relacionados em equinos e ruminantes são Salmonella spp., Trueperella pyogenes e Escherichia coli; já Rhodococcus equi pode causar osteomielite piogranulomatosa característica em equinos.
Em bovinos, Actinomyces bovis é a causa mais importante de osteomielite mandibular piogranulomatosa crônica. Este agente é comensal da cavidade oral de bovinos, e as lesões penetrantes na mucosa oral, causadas por alimentos excessivamente fibrosos, podem induzir periodontite bacteriana, que ao ser drenada por linfáticos chega até o tecido ósseo mandibular.
Como a doença tem curso crônico, há acentuada reabsorção, remodelamento ósseo e exacerbada proliferação periosteal reativa, conferindo um aumento de volume duro característico da actinomicose. Além disso, em meio à lesão, há inúmeros tratos fistulosos que podem drenar para a pele ou mucosas.
Alterações proliferativas ósseas podem ocorrer por hiperostose (formação óssea excessiva) ou processos neoplásicos. A hiperostose é mais observada na forma de osteopatia hipertrófica, a qual ocorre predominantemente em cães adultos e, apesar de denominada outrora de osteopatia pulmonar hipertrófica, por ter sido relacionada a neoplasias pulmonares, hoje se sabe que há relação com a formação de massas tumoriformes no interior da cavidade torácica.
Essas massas podem ser tanto de causa inflamatória quanto neoplásica e, por meio da patogênese pouco elucidada, provocam as lesões esqueléticas.
Macroscopicamente, há neoformações ósseas periosteais difusas, conferindo aspecto de couve-flor às superfícies de ossos longos, predominantemente em diáfise e metáfise. A osteopatia hipertrófica deve ser diferenciada da osteopatia craniomandibular, na qual são afetados apenas os ossos do crânio, principalmente a mandíbula, e ossos temporais e occipitais em cães jovens, com lesões hiperostóticas similares.
Neoplasias ósseas benignas podem ser classificadas como osteomas e fibromas ossificantes, sendo estes principalmente observados na mandíbula e na maxila de equinos, bovinos e ovinos. Por sua vez, neoplasias malignas ósseas são denominadas osteossarcomas e afetam, principalmente, cães de grande porte e, ocasionalmente, gatos.
Em ambos, o osteossarcoma envolve predominantemente o esqueleto apendicular, e, em cães, sabe-se que há uma predileção forte por envolvimento no membro torácico de rádio distal e úmero proximal, ao passo que no membro pélvico são envolvidas aporção distal do fêmur e a porção proximal da tíbia.
DICA Memorize a seguinte frase para se recordar das localizações mais comuns do osteossarcoma em cães: “próximo ao joelho e distante do cotovelo”. Próximo ao joelho, temos a porção distal do fêmur e proximal da tíbia, enquanto o úmero proximal e o rádio distal estão localizados distantes da articulação do cotovelo.
Independentemente do local envolvido, osteossarcomas são altamente invasivos, provocando lise óssea com metástases pulmonares comuns, ao passo que metástases nodais são raras. O aspecto histológico da neoplasia pode variar conforme o tipo celular predominante e o arranjo, caracterizando os subtipos:
· Osteoblástico produtivo e não produtivo;
· Condroblástico;
· Telangiectásico;
· Fibroblástico, rico em células gigantes e pouco diferenciado.
Neoplasias do esqueleto também podem ter origem a partir de condrócitos, representando condromas e condrossarcomas. Condrossarcomas são diferenciados de osteossarcomas por meio da localização, visto que afetam predominantemente ossos chatos, como costelas, endoturbinados e pelve. Além disso, histologicamente, caracterizam-se por formação de cartilagem, matriz fibrilar anfifílica e ausência de osteoide.
Em cães, o tumor ósseo multilobular consiste em uma neoplasia que envolve o crânio e tem crescimento lento, porém é localmente agressivo. Histologicamente, exibe nódulos osteocartilaginosos separados por finos septos de tecido fibroso.
Doenças articulares em animais domésticos podem ocorrer, como alterações degenerativas crônicas, alterações inflamatórias e, raramente, alterações neoplásicas. Em cães, a principal doença articular é a displasia coxofemoral, doença que afeta caninos de raças de grande porte e que se caracteriza por uma falha de conformação entre o acetábulo e a cabeça femoral, o que ocasiona maior frouxidão à articulação e doença degenerativa crônica.
Macroscopicamente, as alterações variam conforme o estágio da doença, com acetábulo raso de forma aguda, enquanto na forma crônica a cabeça femoral é alterada, bem como a cápsula articular que fica espessa e a superfície sinovial proliferada.
Artrites infecciosas ocorrem frequentemente em equinos, bovinos, ovinos e caprinos, sendo geralmente um resultado de bacteremias neonatais. A artrite pode ser classificada como fibrinosa, quando há fibrina, ou supurativa, quando há pus.
A degeneração de discos intervertebrais (DI) ocorre em todas as raças de cães como um processo natural relacionado ao envelhecimento, contudo, em raças condrodistróficas, como Dachshund e Basset Hound, a composição do núcleo pulposo favorece e predispõe estes animais à degeneração precoce. Isto culmina com extrusão massiva do conteúdo degenerado em direção à medula espinhal (herniação de DI Hansen tipo I), o que provoca dor aguda, paresia ou paralisia, além de mielomalácia hemorrágica progressiva.
Por sua vez, em raças não condrodistróficas, a doença degenerativa de DI se desenvolve lentamente e culmina com protrusão dorsal do núcleo pulposo em direção ao canal medular (herniação de DI Hansen tipo II), porém com danos leves à medula espinhal. As extrusões e protrusões de DI em cães tendem a ocorrer em vértebras de maior mobilidade, ou seja, entre a 12ª torácica e a 2ª lombar.
Outra doença degenerativa de vértebras é a espondilose, que se caracteriza por formar projeções nas porções ventrais das vértebras lombares (“bico de papagaio”), as quais podem se fusionar ou anquilosar, causando espondilite anquilosante.
Patologia do sistema nervoso
O sistema nervoso, embriologicamente, é formado a partir da placa neural e se divide anatomicamente em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP).
O SNC é composto pelo encéfalo e pela medula espinhal, ao passo que o SNP é composto por nervos periféricos, células de Schwann e gânglios. O encéfalo é ainda dividido de forma simples em cérebro, cerebelo e tronco cerebelar, ou de forma complexa em múltiplas regiões neuroanatômicas:
· Prosencéfalo (córtex telencefálico);
· Diencéfalo (tálamo e hipotálamo);
· Mesencéfalo (colículos);
· Rombencéfalo (cerebelo e tronco cerebral).
Já a medula espinhal é dividida em:
· Cervical;
· Intumescência cervical;
· Torácica
· Lombar;
· Intumescência lombar;
· Sacral;
· Cauda equina.
A localização dessas estruturas neuroanatômicas é melhor compreendida se as correlacionarmos com o arranjo do sistema ventricular, que conduz por meio dos ventrículos o líquido cefalorraquidiano (LCF), produzido pelos plexos coroides.
O sistema ventricular consiste em uma estrutura inicialmente tubular no canal central da medula espinhal, que se abre no quarto ventrículo localizado ventralmente ao cerebelo e dorsal ao tronco cerebral, seguindo por meio do aqueduto mesencefálico em meio aos colículos.
Posteriormente, evaginações do sistema tubular formam o terceiro ventrículo de formato anelar, pois em torno deste se desenvolvem o hipotálamo e o tálamo, os quais se conectam por uma adesão intertalâmica na linha média. Rostralmente, duas vesículas do tubo neural dão origem aos ventrículos laterais de formato meia-lua e, a partir destes, são formados o córtex telencefálico e núcleos da base.
Revestindo o encéfalo e a medula espinhal estão as meninges, as quais são divididas em paquimeninges (dura-máter) e leptomeninges (pia-máter e aracnoide). Dependendo da localização neuroanatômica, há um arranjo diferenciado das células, de forma que a substância cinzenta é aquela rica em corpos de neurônios, enquanto a rica em axônios mielinizados é denominada de substância branca.
Estruturalmente, os neurônios são células fundamentais do sistema nervoso e formam uma rede de comunicação com todos os sistemas por meio de seus axônios e dendritos.
Entremeando os neurônios, existem inúmeras células gliais de sustentação do SNC, como astrócitos e oligodendrócitos, células de defesa, como micróglia (macrófagos residentes do SNC), e células de revestimento do sistema ventricular (células ependimárias), que também revestem os plexos coroides. O tecido entre os neurônios e demais células é denominado neurópilo, o qual é formado por uma densa rede de processos celulares neuronais (axônios e dendritos).
A adequada análise do SNC depende da correta técnica de colheita, sem gerar artefatos, estado de autólise e fixação da amostra, bem como clivagem adequada do material. Isto permite que regiões neuroanatômicas específicas afetadas por determinada enfermidade sejam analisadas apropriadamente na lâmina histológica.
DOENÇAS DO ENCÉFALO E DA MEDULA ESPINHA
Antes de abordar as doenças em si, é importante entender alguns mecanismos de lesões e de defesa do SNC.
A presença da barreira hematoencefálica consiste no principal mecanismo de defesa do SNC, caracteriza-se por junções oclusivas entre as células endoteliais e por processos terminais de astrócitos que envolvem os vasos. Esta característica peculiar do SNC é importante para entendermos que processos inflamatórios nesses tecidos são também frequentemente restritos aos espaços perivasculares de Virchow-Robin, formando manguitos perivasculares em diversas doenças. Além disso, a micróglia tem ação fundamental de defesa, podendo reagir por proliferação difusa (microgliose), formando nódulos gliais, ou se transformando em macrófagos com alta capacidade fagocítica (células gitter).
Os astrócitos são capazes de desenvolver resposta reativa, gerando resposta proliferativa (astrogliose) e tumefação citoplasmática eosinofílica (astrócitos gemistocíticos), além de responderem a processos tóxicos, como na encefalopatia hepática (níveis aumentados de amônia), com a formação de astrócitos de Alzheimer tipo II, os quais se arranjam em grupos na substância cinzenta e têm núcleos claros e tumefeitos.
Os neurônios podem apresentar alterações degenerativas, variando de incidentais, como lipofuscinose em animais senis, a graves. Nestas, pode ocorrer vacuolização intracitoplasmática ampla, como em encefalopatias espongiformes em bovinos (doença da vaca louca) e ovinos (scrapie), ou como vacúolos finose múltiplos nas doenças de acúmulo lisossomal (intoxicação por Sida carpinifolia em ovinos, caprinos e equinos e intoxicação por Solanum fastigiatum var. fastigiatum em bovinos).
Processos necróticos neuronais podem ocorrer, como neurônios isquêmicos ou neurônios vermelhos, os quais ficam retraídos e eosinofílicos, assim como cromatólise. Nesta última, os neurônios ficam tumefeitos, arredondados, e a substância de Nissl fica dispersa ou se distribui na periferia (Figura 3).
A cromatólise é um processo patológico frequentemente associado às infecções virais, principalmente as que afetam neurônios motores. Posteriormente, a morte do neurônio provoca o influxo de fagócitos em torno do corpo neuronal (satelitose) e remoção dos debris necróticos (neuroniofagia).
Processos necróticos liquefativos cerebrais caracterizam malácia, um termo macroscópico empregado para descrever áreas amolecidas em meio ao SNC. Estas são frequentemente acompanhadas por células gitter e alterações vasculares.
Outras alterações que podem ser visualizadas em neurônios são corpúsculos de inclusão intracitoplasmáticos (corpúsculo de Negri da raiva) ou intranucleares (inclusões de herpesvírus), que ocasionalmente podem também ser visualizados em astrócitos, oligodendrócitos e células ependimárias, como na cinomose em caninos.
Nessa doença, o vírus atinge inicialmente o SNC por meio do LCF e infecta células ependimárias, chegando aos astrócitos e se dispersando posteriormente aos oligodendrócitos e neurônios. Por afetar oligodendrócitos, há perda de mielina e, por consequência, desmielinização do SNC, o que é visualizado como vacuolização do neurópilo, principalmente no tronco cerebral e no cerebelo.
O termo degeneração Walleriana faz referência às alterações resultantes de lesões a axônios mielinizados. Microscopicamente, caracterizam-se por dilatações eosinofílicas que, no SNP, podem ser envoltas por câmaras de digestão, enquanto no SNC formam dilatações ovais a circulares eosinofílicas denominadas esferoides axonais.
Malformações do SNC são comuns em animais domésticos e podem resultar de condições genéticas ou efeitos teratogênicos de agentes infecciosos e substâncias tóxicas.
Defeitos de fechamento do tubo neural são os mais comuns, sendo principalmente representados por defeitos de fechamento craniano com projeção apenas de meninges (meningocele) ou de meninges e encéfalo (meningoencefalocele). 
Similarmente, a ocorrência de espinha bífida representa a falha de fechamento do tubo neural na região lombossacral envolvendo a medula espinhal, que fica exposta ao meio externo devido à ausência de recobrimento de pele e de porções dorsais das vértebras.
Outras malformações menos comuns incluem a ausência de cérebro (anencefalia) e defeitos na formação do córtex cerebral, os quais incluem a microencefalia (cérebro diminuto, hipoplásico, porém com giros presentes) e a lisencefalia ou agiria (quando não há circunvoluções e giros cerebrais). Cabe salientar que algumas espécies de animais domésticos, como coelhos, têm a lisencefalia como condição normal.
Outra malformação se refere à falha na divisão do cérebro em dois hemisférios, o que caracteriza a holoprosencefalia, que muitas vezes também está associada a alterações faciais, como a presença de um olho único (ciclopia).
Malformações envolvendo o cerebelo também podem ocorrer, como agenesia (incomum) ou hipoplasia, sendo esta uma das alterações congênitas mais comuns em animais domésticos.
As células germinativas da camada granular externa, em fetos, têm alto índice mitótico, o que as torna vulneráveis aos efeitos teratogênicos de diversos agentes infecciosos, como o vírus da diarreia viral bovina, vírus da panleucopenia felina e vírus da peste suína clássica. Estes causam a necrose das células, o que gera hipoplasia da camada granular e desorganização de células de Purkinje.
A hidrocefalia se refere ao acúmulo de LCR no sistema ventricular, que pode ocorrer de forma congênita ou adquirida, sendo comum em animais domésticos.
Na forma congênita, como as suturas cranianas ainda estão abertas, há aumento marcado de volume do crânio, ao passo que na forma adquirida o sistema ventricular exibe dilatações.
A hidrocefalia pode ainda ser classificada como não obstrutiva ou obstrutiva. Em animais adultos, a forma obstrutiva é comum e decorre de obstrução do fluxo do LCR, sendo frequentemente associada à inflamação do aqueduto mesencefálico ou a neoplasias. Na forma congênita, muitas vezes não se consegue determinar a causa para o acúmulo, porém sabe-se que algumas raças de cães braquicefálicos e toys são mais afetadas por uma malformação do aqueduto mesencefálico.
CURIOSIDADE A hidrocefalia em cães braquicefálicos pode ser um achado incidental de necropsia, ao passo que hidrocefalias obstrutivas adquiridas após o nascimento tendem a ser progressivas, causando aumento de pressão intracraniana e sinais neurológicos.
Em cabritos e cordeiros, os efeitos da deficiência de cobre materno têm consequências in utero e no período neonatal, caracterizando as condições denominadas swayback e ataxia enzoótica, respectivamente.
Macroscopicamente, há extensas cavitações nos hemisférios cerebrais envolvendo, principalmente, a substância branca. Essas cavitações ficam revestidas por uma fina camada de substância cinzenta e meninges, o que caracteriza o processo de hidranencefalia.
Alterações circulatórias no encéfalo incluem edema, infartos decorrentes de isquemia, embolização e alterações hemorrágicas. O edema encefálico se caracteriza por aumento de volume do órgão, que fica tumefeito, com achatamento de giros e circunvoluções devido ao acúmulo de fluido, o que invariavelmente leva ao aumento da pressão intracraniana, sinais neurológicos e, ocasionalmente, há conificação de vérmis cerebelar pelo forame magno (hérnia cerebelar).
O edema encefálico pode ter causa citotóxica quando ocorre lesão às células neurais e endoteliais, provocando desequilíbrio osmótico e acúmulo de líquido intracelular, ou vasogênico. Nesta, há dano ao endotélio vascular que permite extravasamento de plasma a espaços extracelulares, como, por exemplo, na doença do edema em suínos causada por E. coli produtora de toxina Shiga A (Stx2e).
Lesões isquêmicas no SNC são relativamente incomuns em animais domésticos, ao passo que processos embólicos infecciosos são comuns. Estes ocorrem principalmente em uma variedade de doenças septicêmicas bacterianas, como na infecção por Histophilus somni e por E. coli em bovinos, por Streptococcus equi em equinos e por Streptococcus spp. Em cães. Nesses casos, é comum haver a formação de abscessos e inflamação supurativa associada.
Hemorragias envolvendo o SNC são comuns e principalmente associadas a eventos traumáticos com contusão encefálica, o que ocasiona hemorragias dispostas principalmente em leptomeninges e, por vezes, distribuídas predominantemente no lado oposto ao choque (efeito de contragolpe), com fraturas ósseas concomitantes frequentemente observadas. Lesões hemorrágicas e traumáticas na medula espinhal são incomuns, mas podem ocorrer em associação à doença do DI em cães ou na síndrome de Wobbler em equinos, a qual também é denominada mielopatia estenótica cervical e resulta de instabilidade por subluxação vertebral cervical.
Além de distúrbios circulatórios e hemorragias, outras doenças podem ser caracterizadas por alterações degenerativas no SNC. Em cães senis, é comum o achado incidental de paquimeningite ossificante, na qual há mineralização da dura-máter com aspecto de placa rígida, podendo conter, inclusive, medula óssea em meio à lesão. Em equinos senis, hemorragias crônicas intermitentes no plexo coroide dos ventrículos laterais predispõem ao desenvolvimento de formações de aspecto tumoral, denominadas colesteatomas ou granulomas de colesterol. Estes são geralmente achados incidentais de necropsia, mas, dependendo de suas dimensões, podem causar obstrução do fluxo do LCF e hidrocefalia. 
A encefalopatia hepática é uma doe”ça degenerativa encefálica, que ocorre a partir da menorcapacidade do fígado de exercer seu papel detoxificante e, portanto, da autointoxicação devido aos altos níveis de amônia na circulação sanguínea.
O excesso de amônia é convertido por astrócitos em glutamina, o que induz ao edema citotóxico, além de vacuolização esponjosa da mielina (status spongiosus) na transição da substância cinzenta com a branca e formação de astrócitos de Alzheimer tipo II. Este tipo de reação pode ocorrer em casos de insuficiência hepática aguda e crônica em diversas espécies, mais observados em bovinos intoxicados de forma crônica pela ingestão de Senecio spp., mas também ocorrendo em intoxicações agudas após a ingestão de Cestrum spp. E Xanthium spp.
Alterações degenerativas podem cursar com necrose do encéfalo ou da medula espinhal e, quando visualizadas macroscopicamente, caracterizam um processo de malácia.
A malácia pode envolver a substância cinzenta ou a substância branca, sendo a lesão denominada polioencefalomalácia ou leucoencefalomalácia, respectivamente. A polioencefalomalácia é a doença mais comum em bovinos, apesar de também ocorrer em pequenos ruminantes, e tem causa principalmente relacionada à deficiência de tiamina (vitamina B1), o que pode ocorrer como sequela de episódios de acidose ruminal com proliferação de bactérias produtoras de tiaminase.
Macroscopicamente, a condição afeta as porções dorsais dos hemisférios cerebrais de forma simétrica, com aspecto que varia conforme o curso da doença. Em casos agudos, há apenas tumefação e edema cerebral, ao passo que, em casos subagudos, a superfície dos giros cerebrais fica de amarela a amarronzada e irregular. Por meio da análise com luz ultravioleta, a substância cinzenta emite fluorescência devido à presença de metabólitos de lipídeos resultante da necrose laminar de neurônios.
Em equinos, a leucoencefalomalácia é uma doença decorrente da ingestão de milho mofado contendo micotoxina fumonisina B1, produzida por Fusarium verticillioides por pelo menos um mês. A fumonisina interfere com o metabolismo de esfingolipídios e acredita-se que isso tenha relação com o desenvolvimento do edema cerebral vasogênico.
Macroscopicamente, há amolecimento (malácia) da substância branca dos hemisférios cerebrais, que pode ser bilateral, mas não simétrico, circundado por petéquias e edema amarelado na periferia da lesão.
Doenças infecciosas envolvendo o SNC são comuns em praticamente todas as espécies domésticas, tendo causas bacterianas, virais, parasitárias e, ocasionalmente, fúngicas. Dependendo do local afetado, a denominação do processo patológico será distinta, de forma que, se apenas a meninge for afetada, haverá meningite; se for a meninge e o encéfalo, haverá meningoencefalite; se for apenas o encéfalo, haverá encefalite; já quando a medula espinhal é afetada, o processo é o de mielite. 
As bactérias podem chegar ao SNC por diferentes vias, como extensão direta de estruturas adjacentes (otites bacterianas e síndrome do abscesso de pituitária ou empiema basilar), disseminação de infecções por via hematógena (onfaloflebites e septicemias) e por via retrógrada por meio de nervos cranianos (listeriose). 
Independentemente da etiologia, a inflamação nesses casos será predominantemente supurativa e poderá, por vezes, formar abscessos. Meningites e meningoencefalites bacterianas de aspecto supurativo são comuns em ruminantes, afetando principalmente animais jovens, sendo que as causas importantes incluem E. coli e T. pyogenes com lesões concomitantes em outros órgãos, indicando processos septicêmicos. Em ovinos (cordeiros), após caudectomia, é comum a ocorrência de infecção no local que ascende pela medula espinhal, provocando mielite abscedativa bacteriana.
Outra doença bacteriana em ruminantes que merece destaque aqui é a listeriose, a qual é causada por Listeria monocytogenes, bactéria Gram-positiva intracelular em macrófagos e neutrófilos.
A condição é associada ao consumo de silagem de baixa qualidade com pH alcalino e pobremente fermentada. A L. monocytogenes transpassa a barreira oral por feridas locais na boca e invade o nervo trigêmeo, pelo qual migra de forma retrógrada nos axônios, chegando ao SNC e afetando predominantemente o tronco cerebral. Neste local, haverá meningoencefalite supurativa com formação de abscessos microscópicos em meio ao neurópilo (microabscessos). Além da forma neurológica, a listeriose pode provocar abortos e septicemia em fetos e neonatos.
Doenças infecciosas do SNC em suínos podem ser causadas por bactérias, como Streptococcus suis e Glaesserella parasuis, e por vírus, como na doença de Aujeszky causada por herpesvírus suíno tipo 1 e na polioencefalomielite por Teschovirus.
A infecção por S. suis afeta predominantemente animais jovens e cursa com doença septicêmica, artrite e meningite supurativa (Figura 4). Glaesserella parasuis é o agente causador da doença de Glässer e provoca inflamação fibrinossupurativa de todas as serosas (poliserosite), como meningite, peritonite, pleurite e pericardite, além de artrite, e é um achado comum de matadouro-frigorífico.
Doenças virais envolvem diversas espécies de animais domésticos, e uma característica importante a ser considerada é que muitas famílias de vírus têm neurotropismo marcado, podendo atingir o SNC por vias distintas. Alguns vírus replicam em células endoteliais, chegando ao SNC por meio de vasos sanguíneos, como herpesvírus equino tipo 1 (EHV-1); outros replicam em células mononucleares e atravessam a barreira hematoencefálica, como o vírus da cinomose (Morbillivirus canino); e, por fim, alguns ingressam em junções neuromusculares do SNP e realizam migração retrógrada ao SNC, como o vírus da raiva (Lyssavirus).
A raiva é uma doença frequente em animais domésticos e de muita importância por ter caráter zoonótico. A doença é mais comum em herbívoros, como bovinos, equinos e ovinos, ocorrendo na forma de surtos. Nestes, provoca a forma paralítica, com sinais clínicos relacionados a incoordenação motora, paresia e paralisia flácida, opistótono e movimentos de pedalagem. Pode ocorrer também na forma furiosa em cães, apresentando mudança de comportamento, mas esta é incomum.
Macroscopicamente, os achados são escassos, enquanto na microscopia são observadas meningoencefalite, mielite e ganglioneurite não supurativas, com manguitos perivasculares linfocíticos e presença de corpúsculos de Negri intracitoplasmáticos em neurônios. É essencial que seja realizada a imunofluorescência direta a partir de amostras colhidas do SNC para confirmação do diagnóstico.
EXEMPLIFICANDO Em equinos, as lesões causadas pela raiva podem estar predominantemente localizadas na medula espinhal. Assim, é imprescindível sua colheita na necropsia, visto que resultados falso-negativos podem ser obtidos se apenas o encéfalo for analisado.
A infecção por herpesvírus bovino tipo 5 (BHV-5) é causa importante de meningoencefalite necrotizante não supurativa em bezerros, ocorrendo na forma de surtos. O agente permanece em latência no gânglio trigeminal e, após eventos de estresse, pode invadir o encéfalo, provocando malácia acentuada e bilateral na região do córtex telencefálico frontal. 
Em felinos, a peritonite infecciosa felina por coronavírus felino provoca doença sistêmica de forma efusiva, com acúmulo de fluido peritoneal rico em proteína, ou seca, sendo esta geralmente crônica. Nestes casos, geralmente há envolvimento do encéfalo, com meningite piogranulomatosa em região ventral ao tronco cerebral, além de envolvimento de plexo coroide e epêndima. Isso caracteriza o processo patológico de ventriculite e, devido ao acúmulo de exsudato, pode haver hidrocefalia obstrutiva. Felinos também podem apresentar meningoencefalite por Cryptococcus neoformans, a qual leva à formação de estruturas nodulares gelatinosas no encéfalo.
Doenças parasitárias envolvendo o SNC são principalmente causadas por protozoários, mas também podem ser causadas por formas larvais de tênias, como na cenurose em ovinos. Esta cursa com formação de estruturas císticas de Coenurus cerebralis (forma larvalde Taenia multiceps) no encéfalo que atingem grandes proporções e comprimem o parênquima nervoso. 
A infecção causada pelo protozoário Toxoplasma gondii é muito similar à infecção por Neospora caninum em animais domésticos, nos quais frequentemente causa abortos. A infecção por N. caninum ocorre principalmente em bovinos e, ocasionalmente, em caprinos e ovinos. Em animais adultos, a infecção é restrita à forma reprodutiva com abortos, ao passo que nos fetos é visualizada encefalite necrótica multifocal não supurativa entremeada por taquizoítos e cistos parasitários. A infecção por T. gondii se manifesta de forma grave principalmente em animais afetados por doenças concomitantes com imunodepressão, como cinomose e infecção pelo vírus de leucemia felina (FeLV). Nesses casos, taquizoítos e cistos de T. gondii podem ser visualizados em diversos tecidos, provocando necrose e inflamação.
Em bovinos, Babesia bovis, um dos agentes causadores da tristeza parasitária bovina, pode provocar, além de hemólise intravascular, acentuada congestão vascular cerebral, o que leva ao desenvolvimento de sinais neurológicos. Macroscopicamente, as lesões são típicas de cser_educacional hemolítica intravascular (icterícia ou palidez de mucosa, hemoglobinúria e rins enegrecidos) e o encéfalo fica vermelho-cereja. Para confirmação do diagnóstico, deve ser realizado esfregaço a partir de vasos do córtex para visualização de eritrócitos parasitados.
Outras condições neurológicas em equinos incluem a infecção por Trypanosoma evansi (“mal das cadeiras”), que provoca meningoencefalite linfoplasmocítica com amarelamento (edema) e malácia acentuados da substância branca do cérebro, e a infecção por Sarcocystis neurona, que provoca a mieloencefalite equina por protozoário (MEP). Esta se caracteriza por envolver principalmente a medula espinhal e o tronco cerebral, e as estruturas parasitárias intralesionais são de difícil visualização.
Neoplasias envolvendo o SNC ocorrem principalmente no encéfalo e em cães e gatos de idade avançada, podendo ser tanto primárias quanto metastáticas. Apesar de muitas dessas neoplasias terem comportamento benigno e crescimento lento, elas acabam por comprimir estruturas do SNC e provocam sinais neurológicos. A neoplasia primária mais comum é o meningioma, que tem origem nas meninges. Outras neoplasias primárias incluem as de origem de astrócitos (astrocitomas), oligodendrócitos (oligodendrogliomas), de células ependimárias (ependimomas) e de células do plexo coroide (papiloma ou carcinoma de plexo coroide).
DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO
O SNP tem em sua composição os nervos periféricos, com núcleos neuronais localizados no SNC, que são mielinizados ou não. Essa característica é conferida pelas células de Schwann, que têm função de revestir, proteger, controlar e estimular o desenvolvimento de nervos periféricos. O SNP é composto ainda pelos gânglios periféricos, ou seja, agrupamentos de corpos neuronais localizados for a do SNC. 
Condições patológicas envolvendo o SNP são escassas quando comparadas ao SNC, porém essas fibras nervosas estão constantemente expostas a riscos traumáticos, como avulsões e rupturas de nervos. Quando lesados, os nervos sofrem degeneração Walleriana, formando esferoides axonais e câmaras de digestão, as quais contêm debris necróticos das fibras nervosas (Figura 5).
Em cães e gatos, os processos degenerativos envolvendo múltiplos nervos (polineuropatia) são associados ao diabetes mellitus, com sinais clínicos de reflexos espinhais diminuídos e fraqueza de membros pélvicos. A patogênese da condição é incerta, mas sabe-se que há ciclos de degeneração e regeneração de nervos acompanhados por desmielinização e remielinização, respectivamente. Quadros similares de neuropatia periférica têm sido evidenciados em cães com hipotireoidismo.
Em suínos, a deficiência de ácido pantotênico (vitamina B5) na ração é associada à neuropatia periférica, com ataxia, incoordenação de membros pélvicos e andar de ganso. Histologicamente, há cromatólise de neurônios sensoriais da medula espinhal e degeneração de fibras de nervos periféricos. 
Intoxicações por organofosforados, de forma geral, inibem a atividade da acetilcolinesterase presente nas junções sinápticas colinérgicas, provocando estimulação excessiva de receptores nicotínicos e muscarínicos. Porém, a exposição a pequenas doses cumulativas pode provocar neuropatia periférica tardia, com fraqueza muscular progressiva e diminuição de reflexos. 
Em equinos, a neurite da cauda equina ou polirradiculoneurite é condição frequente e caracterizada por resposta inflamatória granulomatosa autoimune na região da medula espinhal da cauda equina. Os animais manifestam incontinência urinária, retenção fecal, paralisia da cauda e atrofia dos músculos glúteos. 
O botulismo é uma doença comum em ruminantes e aves após a ingestão de toxinas botulínicas produzidas por Clostridium botulinum. Cursa clinicamente com paralisia flácida, devido ao bloqueio da liberação de acetilcolina nas junções neuromusculares. Macroscópica e microscopicamente, não há lesões observáveis, sendo necessários exames complementares para confirmação.
Por sua vez, o tétano acomete mais equinos e é causado por toxinas produzidas por Clostridium tetani em meio a feridas contaminadas. A principal delas é a tetanoespasmina, que provoca bloqueio da liberação do neurotransmissor inibitório glicina. Isso resulta em contração muscular tônico-clônica, enrijecimento de membros e paralisia espástica. Não há lesões específicas à necropsia, tampouco no exame histológico.
Alterações neoplásicas no SNP são incomuns quando comparadas ao SNC. Todavia, cabe destaque ao tumor de bainha de nervos periféricos (antigamente schwannoma), que pode ter características benignas ou malignas. Essas neoplasias são mais comuns em cães senis, envolvendo plexos ou ocorrendo como massas neoplásicas no tecido subcutâneo de membros torácicos ou pélvicos.
Patologia do sistema endócrino
O sistema endócrino tem a função de coordenar atividades metabólicas de diversos tecidos, por meio de ação direta sobre os órgãos-alvo não endócrinos ou de ação indireta (ação trófica) sobre glândulas endócrinas, promovendo modulação de suas atividades.
Fazem parte do sistema endócrino: órgãos, tecidos e células dispostas isoladamente em tecidos. Os órgãos endócrinos propriamente ditos são a hipófise (ou glândula pituitária), glândula pineal, tireoide, paratireoide e adrenal. Como exemplos de tecidos endócrinos, temos as ilhotas de Langerhans (porção endócrina do pâncreas). Células endócrinas individualizadas ocorrem nos tratos digestivo e respiratório. 
A hipófise tem função central e primordial no sistema endócrino, visto que produz diversos hormônios tróficos e libera hormônios provindos do hipotálamo. É localizada na sela túrcica craniana, ventralmente ao encéfalo e ao hipotálamo e é dividida em adeno-hipófise e neuro-hipófise. A adeno-hipófise se divide ainda em pars distalis, pars intermedia e pars tuberalis, produzindo somatotropina (GH), hormônio luteotrófico (LH), hormônio folículo-estimulante (FSH), hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e hormônio tireoestimulante (TSH). Por meio da neuro-hipófise, são secretados o hormônio antidiurético (ADH) e a ocitocina. Por sua vez, a regulação da hipófise se dá por meio de hormônios hipotalâmicos hipofisiotróficos.
O pâncreas tem função endócrina exercida por meio de células localizadas nas ilhotas de Langerhans, porém o maior volume do órgão tem função exócrina, com liberação de enzimas digestivas no intestino. As ilhotas são compostas, principalmente, por células alfa e beta, que liberam glucagon e insulina, respectivamente. 
As adrenais são órgãos pares localizados cranial e medialmente aos rins, sendo divididas em região cortical e medular. A região cortical é subdividida em zona glomerulosa, fasciculada e reticular, as quais produzem, respectivamente, mineralocorticoides (aldosterona), glicocorticoides (cortisol) e hormônios sexuais. A região medular apresenta células cromafins,que secretam adrenalina e noradrenalina.
A tireoide (Figura 6) é o órgão localizado em região lateral e cranial da traqueia, sendo dividido em dois lobos que, em algumas espécies, estão conectados por um istmo. É um órgão parenquimatoso composto por inúmeros folículos que contêm coloide (rico em tireoglobulina). Essas células foliculares promovem a iodação da tireoglobulina e a produção de triiodotironina (T3) e tetraiodotironina ou tiroxina (T4), que passam a atuar nos demais tecidos. As paratireoides são geralmente encontradas junto à tireoide em cães e gatos, porém em outras espécies podem estar localizadas na entrada do tórax. São compostas predominantemente por células principais, as quais produzem PTH, com função de restabelecer níveis adequados de cálcio no organismo.
A regulação da secreção de hormônios se dá principalmente por meio de mecanismos de retroalimentação ou feedback, que pode ser negativo, com inibição do hormônio regulador, ou positivo, com o estímulo desse hormônio. Ainda assim, a maior parte das doenças endócrinas tem relação com a diminuição de função da glândula endócrina (hipofunção) ou aumento de função (hiperfunção). Estas podem ser primárias ou secundárias, ou seja, são resultantes de alterações na própria glândula ou de alterações em órgãos endócrinos que regulam sua função.
DOENÇAS DA HIPÓFISE E DO PÂNCREAS
As doenças hipofisárias em animais domésticos são relativamente incomuns. A condição denominada pan-hipopituitarismo, ou nanismo hipofisário, ocorre principalmente em cães da raça Pastor Alemão, devido à deficiência na produção e liberação de GH, TSH, prolactina e gonadotrofinas (FSH e LH) por falha de diferenciação da adeno-hipófise (hipoplasia de pituitária).
O cão afetado pode ter desenvolvimento normal até os dois meses, mas a partir disso tem crescimento lento e alopecia bilateral simétrica, além de, geralmente, expectativa de vida baixa.
Condições inflamatórias envolvendo a hipófise são principalmente observadas em bovinos, na síndrome do abscesso pituitário, que ocorre em animais jovens e adultos e frequentemente está associada ao uso de argolas ou tabuletas nasais para desmame interrompido – estas podem provocar lesões locais na cavidade nasal, permitindo o acesso de bactérias à circulação sanguínea. Um fator importante é que, em bovinos, a hipófise é circundada por um rico leito vascular denominado de rete mirabile carotídea, o que a torna suscetível à deposição embólica de bactérias. Dessa forma, nesses casos, há intensa supuração em torno da hipófise, que frequentemente se estende às meninges do encéfalo, provocando empiema basilar.
Alterações neoplásicas na hipófise são principalmente representadas por adenomas, tendo origem a partir da pars intermedia em equinos e da pars intermedia ou distalis em caninos. Em equinos, provocam uma síndrome denominada disfunção pituitária da pars intermedia, que ocorre predominantemente em animais senis, e é distinta da síndrome de Cushing em cães por não cursar com aumento de cortisol. Os equinos apresentam hirsutismo (hipertricose), com pelos alongados e ondulados, além de sudorese excessiva, fraqueza muscular, letargia, polidipsia e polifagia. Macroscopicamente, a hipófise é substituída por massa neoplásica uniforme que pode vir a comprimir o hipotálamo e outras estruturas nervosas.
Em caninos, adenomas de hipófise são geralmente corticotróficos e funcionais, produzindo ACTH, o que acaba provocando a síndrome de Cushing relacionada a níveis excessivos de cortisol ou hiperadrenocorticismo hipófise-dependente. Os tumores podem ser diminutos ou de maiores proporções, mas, independentemente disso, produzem níveis aumentados de ACTH que estimulam as adrenais, provocando hiperplasia cortical bilateral desses órgãos e secreção excessiva de cortisol. Dessa forma, as lesões observáveis serão resultado do desbalanço hormonal, com atrofia muscular abdominal (abdômen pendular) e de extremidades, hepatomegalia por acúmulo de glicogênio e gordura, além de marcadas alterações cutâneas, como alopecia bilateral simétrica a difusa, adelgaçamento da pele, formação de comedões (folículos distendidos por queratina) e calcinose cutânea.
O pâncreas é um órgão misto com porção exócrina e endócrina, que é composta unicamente pelas ilhotas de Langerhans. A principal condição patológica envolvendo o pâncreas endócrino é o diabetes mellitus (DM), que ocorre em caninos e felinos. DM pode ser classificado em tipo I ou insulino-dependente, no qual há destruição autoimune das células beta que produzem insulina, com consequente queda plasmática desse hormônio, e em tipo II ou não dependente de insulina, no qual os níveis de insulina no pâncreas são normais, porém sua liberação é diminuída, ou há resistência dos tecidos periféricos à ação da insulina. 
Em cães, é mais comum DM tipo I com destruição de células beta, ao passo que, em gatos, é mais comum DM tipo II com deposição de amiloide em ilhotas pancreáticas, e sabe-se que, na espécie, a obesidade é um fator de risco. Na necropsia, o principal achado é de hepatomegalia gordurosa, e a obesidade pode ser um achado concomitante na DM tipo II. Manifestações oculares de catarata são comuns em cães, devido ao metabolismo da glicose no cristalino, e pode ocorrer polineuropatia periférica.
As neoplasias pancreáticas são principalmente de origem exócrina e são representadas por carcinomas pancreáticos, sendo comuns em cães e gatos. São caracterizados pela formação de massas firmes e irregulares, que frequentemente se estendem aos tecidos adjacentes, com extensas áreas de aderência, além de metástase por implantação. 
As neoplasias de origem endócrina pancreática são incomuns, mas podem ser originadas de células beta (insulinomas), que ocorrem principalmente em cães, como nódulos únicos, medindo de um a três centímetros de diâmetro. Insulinomas podem ser funcionais, com produção de insulina, e, consequentemente, causam hipoglicemia, podendo levar a sinais neurológicos graves e morte.
DOENÇAS DA ADRENAL, DA TIREOIDE E DA PARATIREOIDE
Distúrbios envolvendo a adrenal são relativamente comuns em animais domésticos e representados por hemorragias, atrofias, hiperplasias e neoplasias. A hemorragia de córtex adrenal (síndrome Waterhouse-Friderichsen) pode ocorrer como uma resposta ao estresse, mas é mais comum em casos de toxemia bacteriana e septicemia. Por sua vez, processos inflamatórios na adrenal são incomuns.
Os processos de atrofia bilateral do córtex adrenal ou hipoadrenocorticismo podem ter causa idiopática quando todas as camadas do córtex são destruídas e especula-se que isso tenha relação com doença autoimune de forma similar à doença de Addison em humanos. Outras causas incluem inflamações severas, hemorragia e necrose com substituição por tecido fibroso, infartos da adrenal decorrentes de trombose e neoplasias metastáticas. Macroscopicamente, os achados de necropsia são pouco específicos e observa-se acentuado adelgaçamento do córtex adrenal.
Processos de hiperplasia da adrenal podem ocorrer de duas formas: relacionadas ao hiperadrenocorticismo hipófise-dependente ou à senilidade. A forma de hiperplasia relacionada à senilidade é comum em equinos, cães e gatos, e, macroscopicamente, visualizam-se múltiplos nódulos diminutos na cortical compostos por células normais de qualquer uma das três zonas corticais. Por sua vez, a hiperplasia relacionada ao hiperadrenocorticismo hipófise-dependente é difusa com aumento da região cortical por hiperplasia das zonas fasciculada e reticular. 
Formações neoplásicas benignas (adenomas) ou malignas (carcinomas) da adrenal podem ser funcionais, produzindo cortisol, o que induz hiperadrenocorticismo adrenal-dependente (síndrome de Cushing). Adenomas são mais comuns do que carcinomas, ocorrendo principalmente em cães adultos a senis e, ocasionalmente, em gatos. Macroscopicamente, são caracterizados por nódulos únicos e bem delimitados uni ou bilaterais e de coloração amarelada a avermelhada. As alterações sistêmicas relacionadas ao aumento de cortisol são similaresàs observadas na forma de hiperadrenocorticismo hipófise-dependente. Gatos podem apresentar também síndrome de fragilidade cutânea associada ao Cushing. O Cushing também pode ocorrer de forma iatrogênica por uso excessivo de corticosteroides exógenos.
Neoplasias da adrenal também podem se originar da região medular, sendo denominadas feocromocitomas por terem origem de células cromafins. São mais comuns em bovinos (achados de frigorífico) e caninos, nos quais podem causar hipertensão e arritmias cardíacas, devido à produção de noradrenalina e adrenalina. Esses tumores podem ser uni ou bilaterais e geralmente invadem a veia cava caudal.
Doenças envolvendo a tireoide podem causar diminuição ou aumento de função da glândula. O hipotireoidismo é uma síndrome clínica relacionada à deficiência de hormônios tireoidianos que ocorre principalmente em cães. As causas principais têm relação com lesões primárias da glândula, como, por exemplo, tireoidite linfocítica e colapso folicular idiopático. A tireoidite linfocítica é uma doença autoimune voltada a antígenos da tireoide que se caracteriza, microscopicamente, por infiltrado difuso de linfócitos, plasmócitos e macrófagos, além de fibrose quando a condição se torna crônica. Por sua vez, no colapso folicular idiopático, o processo patológico é de atrofia folicular com mínima resposta inflamatória, de forma que a tireoide passa a ser composta majoritariamente por tecido adiposo e células C (produtoras de calcitonina).
O hipotireoidismo provoca distúrbios funcionais em praticamente todo o organismo por reduzir a taxa de metabolismo, com ganho de peso sem, todavia, haver mudança no apetite. Posteriormente, são desenvolvidas inúmeras lesões cutâneas, como alopecia bilateral simétrica que pode também afetar a cauda, provocando o aspecto de “cauda de rato”, além de mixedema facial, conferindo aspecto de face trágica, e hiperpigmentação no plano nasal e na cauda. Outras possíveis lesões têm relação com hipercolesterolemia, como aterosclerose e lipidose glomerular. 
Alterações de hiperplasia e hipertrofia da tireoide com aumento nodular e difuso do órgão caracterizam o bócio. Essa condição tem relação com dietas deficientes em iodo, ingestão de compostos bociogênicos (contidos na planta Leucaena leucocephala) ou defeito genético na síntese de hormônios tireoidianos, o que ocorre em fetos ou neonatos de ruminantes. Essa falha na produção de T3 e T4 causa elevação de TSH, estímulo para hiperplasia e hipertrofia folicular e aumento da glândula. 
Neoplasias tireoidianas benignas ou adenomas podem ser funcionais e ocorrer de forma unilateral ou bilateral. São mais comuns em gatos senis e cursam com hipertireoidismo, resultando, muitas vezes, em alterações relativas ao coração, como hipertrofia cardíaca, com arritmia e taquicardia. Em cães, por sua vez, carcinomas são mais comuns, formando massas grandes e palpáveis que invadem estruturas adjacentes e frequentemente metastatizam para os linfonodos regionais e pulmões.
Doenças envolvendo as paratireoides são incomuns, com exceção de processos de hiperplasia secundária à insuficiência renal em cães e a desequilíbrios nutricionais em equinos e ruminantes. Em ambos os casos, há hiperparatireoidismo secundário com aumento de secreção de PTH e reabsorção óssea subsequente. Neoplasias originárias da paratireoide são raras em animais domésticos.
SINTETIZANDO
Doenças do sistema musculoesquelético são diversas entre si, ou seja, os mecanismos de lesão e de respostas às lesões são distintos em cada um desses tecidos. Dessa forma, devemos ter isso em mente ao analisar casos de doenças envolvendo o sistema musculoesquelético em animais domésticos, visto que os achados clínicos, por vezes, podem ser similares, mas os achados patológicos serão distintos caso haja lesão óssea ou muscular. De forma geral, doenças musculares são mais comuns em animais de produção, como ruminantes, suínos e equinos, ao passo que doenças ósseas e articulares afetam igualmente essas espécies e pequenos animais (cães e gatos). 
Doenças do sistema nervoso afetam predominantemente o SNC, tendo inúmeras causas, mas as infecciosas, tóxicas e nutricionais se sobressaem especialmente em ruminantes, suínos e equinos, causando perdas econômicas consideráveis quando ocorrem na forma de surtos, como na raiva e no botulismo. Em cães e gatos, doenças envolvendo o SNC são também causadas por agentes infecciosos, como na cinomose e na peritonite infecciosa, mas neoplasias assumem importância considerável envolvendo principalmente o SNC e, por vezes, o SNP.
As doenças endócrinas afetam inicialmente os órgãos endócrinos, como hipófise, pâncreas, adrenal, tireoide e paratireoide, porém provocam também danos consideráveis ao causarem lesões em outros sistemas, visto que o sistema endócrino funciona por meio de mecanismos de retroalimentação, ou feedback, para ter maior controle sobre os órgãos-alvo ou sobre órgãos endócrinos tróficos. Dessa forma, lesões cutâneas, como alopecia bilateral simétrica em cães, são comuns.

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