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29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 1/62 Fratura por �uência Prof. Julio Cesar José Rodrigues Junior Descrição Discussão sobre os principais aspectos do fenômeno da fluência e o seu ensaio, além da curva deformação versus tempo, com ênfase para o estágio secundário e a velocidade mínima de fluência. Aspectos relevantes da influência da temperatura e da tensão no ensaio de fluência, bem como da fratura por fluência. Propósito O fenômeno da fluência é importante para materiais que são submetidos a altas temperaturas, ocorrendo a deformação plástica do componente, mesmo sob tensões abaixo do escoamento, em temperatura ambiente. Dessa forma, engenheiros que projetam peças cujas condições de serviços são de alta temperatura devem conhecer o fenômeno e a curva de fluência. Objetivos Módulo 1 Fases do fenômeno da �uência 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 2/62 Reconhecer as fases do fenômeno da fluência. Módulo 2 O ensaio de �uência Descrever o ensaio de fluência. Módulo 3 Efeitos da tensão e da temperatura Identificar os efeitos da tensão e da temperatura. Módulo 4 Fratura por �uência Reconhecer a fratura por fluência. Introdução Olá! Antes de começarmos, assista ao vídeo e confira os principais pontos que serão abordados neste conteúdo. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 3/62 1 - Fases do fenômeno da �uência Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as fases do fenômeno da �uência. Vamos começar! Entendendo as fases da �uência Veja o fenômeno de fluência, típico de altas temperaturas, e uma apresentação da curva de saída do ensaio de fluência, além da curva deformação versus tempo. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 4/62 Fluência na engenharia Muitos componentes de engenharia serão colocados em serviço em ambientes cuja interação pode ser prejudicial e perigosa, como é o caso de materiais imersos em ambientes corrosivos. Assim, o projeto de uma peça desenvolvido por um engenheiro não deve considerar apenas o carregamento externo, sem considerações particulares como os fenômenos da corrosão, fadiga, fluência etc. A escolha do material ou a utilização de elementos que mitiguem o efeito do ambiente ou do carregamento externo específico, como acontece com os anodos de sacrifício, que protegem a estrutura da corrosão e aumentam a vida útil, são soluções eficientes de engenharia. Outra possibilidade em que o meio externo tem influência na vida útil de um componente ocorre frequentemente em alguns ramos da engenharia (reatores, turbinas, tubulações etc.) em que alguns componentes são submetidos a elevadas temperaturas (maiores que 40% da temperatura de fusão, em Kelvin), durante um período longo e sob a ação de tensões estáticas constantes. A deformação plástica sofrida, que depende do tempo que o material está submetido a essas condições, é denominada fluência. Assim, um componente nas condições de elevadas temperaturas, sob tensão constante e durante intervalo temporal grande, tem sua vida útil limitada. Isso pode ocorrer pelo rompimento da peça ou pelo excesso de deformação plástica, inviabilizando o projeto. Dessa forma, é mais um aspecto que o engenheiro deve considerar durante a fase de projeto. É necessário, ainda, elencar ligas com resistências adequadas à fluência, determinar as condições de trabalho e a vida útil do projeto na engenharia, dentre outros aspectos. Fluência Esse fenômeno ocorre devido à existência de falhas nos materiais cristalinos. A movimentação de discordâncias, dos Ruptura Isso proporciona a deformação da peça, mesmo a tensões inferiores às que levariam a essa movimentação em 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 5/62 escorregamentos de contornos de grão, dos átomos e das vacâncias dentro dos sólidos ocorrem dependendo do tempo e são potencializados pela energia de ativação (temperaturas elevadas). temperatura ambiente. Esse aumento da deformação plástica lento, ao longo do tempo, leva à redução da área da peça, por estricção, culminando na ruptura. Assim, um componente metálico submetido a uma tensão constante e a uma temperatura elevada sofrerá fluência e experimentará um incremento no comprimento (deformação plástica ou permanente), com o decorrer do tempo. Em termos de projeto, o aumento no componente, em virtude da deformação plástica, pode ser o fator limitante para a vida útil do componente. A imagem a seguir traz parte de uma turbina de avião, que, em uso, a alta temperatura pode levar os componentes à fluência. Imagem 1: Turbina de avião – componentes sujeitos à fluência. Ligas metálicas resistentes à �uência – aspectos gerais Conforme Souza (2019), com a finalidade de resistir à deformação plástica em altas temperaturas, novos materiais têm sido desenvolvidos nos últimos anos, principalmente para suprir a demanda das indústrias que projetam foguetes, aviões etc., cuja temperatura não raramente atinge 1000°C. Diversos aços inoxidáveis e superligas (Inconel 718) apresentam boa resistência à fluência e, portanto, são adequados para componentes que estarão em serviço sob condições rigorosas de temperatura, como acontece nos reatores, nas turbinas de motores de aviões a jato etc. Em termos metalúrgicos: 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 6/62 Superligas As superligas têm o limite de resistência à fluência promovido por solução sólida e de precipitados em sua rede cristalina. Taxa de deformação plástica Isso influencia o movimento de discordância e, consequentemente, reduz a taxa de deformação plástica. Segundo Callister (2016), duas técnicas especiais de fabricação se destacam: Solidi�cação direcional É uma variação do processo de solidificação em que a mudança de estado (líquido para sólido) inicia-se na parte inferior do molde e segue até o topo. Nessa técnica, os grãos estão altamente alongados (colunares). Monocristais Apresentam periodicidade perfeita, não possuindo, portanto, contornos de grãos. São processados a partir de diversas técnicas que, em sua maioria, controlam parâmetros, como a temperatura, os reagentes, a pressão etc. A imagem a seguir mostra, de maneira qualitativa, o que foi descrito anteriormente. Nela, três palhetas de um motor de avião, submetidas às mesmas condições de temperatura e tempo de utilização, são apresentadas. É possivel perceber, macroscopicamente, como cada uma delas interagiu com o meio, ou seja, a diferença da resistência à fuência das três palhetas, pelo aspecto final de suas utilizações. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 7/62 Imagem 2: Curvas tensão versus N vidas finita e infinita em fadiga. Na imagem (b) é possível inferir que as palhetas com grãos colunares têm resistência à fluência aumentada, em relação às palhetas processadas por fundição convencional. Na imagem (c), esse aumento da resistência à fluência fica ainda mais evidenciado quando a palheta é um monocristal. Em relação ao tamanho de grão do material, quanto mais refinada for a microestrutura, maior será o escorregamento de discordâncias e, consequentemente, a taxa de fluência aumentará, reduzindo a resistência à fluência. Curva deformação em �uência versus tempo Neste ponto serão apresentados alguns aspectos a respeito da curva de fluência (deformação versus tempo), que tem três estágios a serem explorados e entendidos. Diversas peças, componentes ou estruturas mecânicas trabalham a altas temperaturas (acima de em Kelvin) durante um tempo considerável e, sob ação de tensãoestática constante. É importante ensaiar as peças ou corpos de prova (CP) para conhecer as propriedades mecânicas nas condições de serviço do componente. 0, 4 ⋅ Tfusão, 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 8/62 O ensaio, a ser detalhado no módulo seguinte, apresenta um forno para manter constante a temperatura alta do ensaio, um contador do tempo e um corpo de prova fixado a um peso pendente constante. Esse corpo de prova fica preso na extremidade livre a fim de que a carga do ensaio permaneça a mesma ao longo do todo o período do ensaio que, por vezes, leva um ano. Veja agora um esboço da máquina de ensaio de fluência em que se destacam o forno, o controlador da temperatura, o contador de tempo e a carga suspensa, ligada diretamente ao corpo de prova. Imagem 3: Esboço da máquina de ensaio de fluência. O ensaio é conduzido e a resposta (output) é um gráfico que relaciona a deformação sofrida pelo corpo de prova por fluência versus o tempo de ensaio, que, em geral, tem três estágios: Fluência primária ou transiente Fluência secundária ou constante 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 9/62 Fluência terciária Em seguida, será apresentado esse gráfico que denominaremos curva de fluência e o estudo sob a ótica matemática e metalúrgica. Curva de �uência A fim de se obter a curva de fluência para um material metálico, inicialmente aplica-se uma carga no corpo de prova que se manterá constante durante todo o ensaio. O ensaio ocorre em um forno a altas temperaturas, sempre constantes. Com o fenômeno da fluência, a deformação varia com o tempo. A imagem apresenta uma curva de fluência típica em que se tem, no eixo vertical, as deformações e, no horizontal, o tempo. Imagem 4: Curva de fluência – output do ensaio de fluência. A deformação instantânea que o gráfico da imagem 4 mostra depende da carga inicial aplicada sobre o corpo de prova. Relembrando alguns conceitos de cálculo, temos que, para dada função de uma única variável independente é possível determinar a taxa de variação instantânea de em relação a pela aplicação da derivada no ponto considerado. Assim: Desse modo, aplicando ao caso concreto da imagem, dada a função que determina a deformação com o tempo, isto é, a derivada temporal mede a velocidade de deformação. Podemos chamá-la também de velocidade de fluência. Dessa forma, matematicamente, temos: (ε0) y = f(x), y x Variação instantânea = dy dx ε ε = ε(t), 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 10/62 Estágios de �uência A partir da discussão anterior, da definição de velocidade de fluência e da curva apresentada na imagem 4, podemos fazer um estudo mais detalhado a respeito dos três estágios da fluência. Estágio I ou �uência primária ou transiente A velocidade de fluência vai diminuindo ao longo do tempo. Nesse estágio ocorre o encruamento dificultando, por exemplo, o deslizamento de discordâncias, associado à deformação plástica. Essa é uma explicação metalúrgica para o decrescimento da velocidade de fluência nessa etapa. De acordo com Souza (2019), inicialmente as discordâncias são impedidas de se movimentarem devido a pequenas barreiras. Com a ativação térmica, as discordâncias superam essas barreiras iniciais, mas são impedidas de sofrer novas movimentações por barreiras maiores que, por fim, são superadas. Resumindo No estágio I, o fenômeno que predomina é o de empilhamento de discordâncias, sendo o fenômeno da recuperação coadjuvante. Estágio II ou �uência secundária ou constante O gráfico desse estágio é aproximadamente uma reta crescente, logo, a derivada (velocidade de fluência) é constante e positiva durante esse intervalo. Nesse estágio, os processos de encruamento (empilhamento de discordâncias, por exemplo) e de recuperação (liberação das discordâncias empilhadas por cross-slip) dinamicamente se anulam. Esse estágio é fortemente influenciado pela temperatura. Para valores maiores, o tempo de duração do estágio diminui. Cross-slip Também conhecido por deslizamento cruzado, é o mecanismo de recuperação dinâmica dos metais que ocorre em discordâncias em hélice. Resumindo O estágio II, é fortemente influenciado pela temperatura. Para valores maiores, o tempo de duração do estágio diminui. Estágio III ou �uência terciária Velocidade de fluência = dy dt 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 11/62 A derivada da função aumenta, ou seja, a velocidade de fluência pode ser associada ao grande movimento das discordâncias. Resumindo O estágio III, inicia-se a estricção (empescoçamento) do corpo de prova e o aparecimento de micro trincas, culminando com a ruptura por fluência. É importante notar, a partir da imagem 4, o comportamento da velocidade de fluência em cada estágio do fenômeno. Veja: No estágio I, a velocidade de fluência é inicialmente alta e vai diminuindo. No estágio II a velocidade é aproximadamente constante. No estágio III a velocidade aumenta. É possível, então, escrever um gráfico da derivada /(\frac{d\varepsilon} {dt}/) (ou velocidade de fluência) versus tempo, ratificando o que foi 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 12/62 apresentado de maneira mais intuitiva. A imagem a seguir mostra que a derivada é sempre positiva. Veja: Imagem 5: Gráfico da velocidade de fluência versus tempo. No estágio I, há o decréscimo da derivada. Imagem 5: Gráfico da velocidade de fluência versus tempo. No estágio II, a derivada é praticamente constante (reta horizontal). Imagem 5: Gráfico da velocidade de fluência versus tempo. No estágio III, a derivada (velocidade de fluência) volta a crescer. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 13/62 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 14/62 (Serviço de Seleção do Pessoal da Marinha - SSPM - Corpo Auxiliar de Praças - Área: Técnico em Metalurgia - 2019 - adaptada). Na realização de um ensaio de fluência, um corpo de prova de um determinado material foi aquecido a uma temperatura constante e submetido a uma tensão constante. Os resultados desse ensaio estão representados no gráfico a seguir. Com base nessas informações, marque a opção correta. A A região A do gráfico ilustra o início do ensaio. Assim que a tensão é aplicada, o corpo de prova alonga-se plasticamente, e sua deformação não depende do módulo de elasticidade do material. B A região B do gráfico é conhecida como fluência secundária ou transiente, caracterizada por uma taxa de fluência continuamente crescente, o que sugere redução na resistência do material à fluência. C Na região C do gráfico, verifica-se o aumento contínuo da taxa de fluência do material, que se baseia no equilíbrio de processos concorrentes de encruamento e recuperação. D Na região D do gráfico, há aceleração da taxa de fluência até a ocorrência da falha, devido ao empescoçamento de alguma área deformada e ao consequente aumento da tensão de deformação. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 15/62 Parabéns! A alternativa D está correta. No ensaio de fluência, assim que a carga estática é aplicada ao corpo de prova ocorre também a deformação elástica e, de acordo com a lei de Hooke depende do módulo de elasticidade E do material e de uma dada tensão. As regiões A, B e C do gráfico deformação versus tempo recebem as seguintes denominações: fluência primária ou transiente, fluência secundária ou estacionária e fluênciaterciária. No estágio A, a taxa de crescimento é positiva, porém decrescente. Na fase secundária, a taxa é constante e, em D, a taxa de crescimento é crescente. Na fluência primária, o processo dominante é o do encruamento e na fase secundária ocorre um equilíbrio entre os fenômenos da recuperação e do encruamento. Na última região, a estricção auxilia na ruptura do corpo de prova, e em aspectos metalúrgicos. Ocorrem grande movimentação de discordâncias, formação de microtrincas, deslizamento de contornos de grão etc. Questão 2 (Ministério da Defesa - Aeronáutica - Oficial - Área Engenharia Metalúrgica - 2017 adaptada). Considerando uma curva típica obtida durante a realização do ensaio de fluência, pode-se afirmar que ela é dividida em E O ponto E a temperatura de fratura indicam, no gráfico, a ocorrência de ruptura, a qual não é influenciada por possíveis alterações microestruturais e/ou metalúrgicas do material. tf (σ = E ⋅ ϵ) A quatro estágios denominados inicial, estacionário, fluência terciária e fluência quaternária. B dois estágios denominados fluência inicial, nos quais se determinam a taxa de fluência e a fluência final. C três estágios denominados primário ou fluência primária, secundário ou fluência secundária, terciário ou fluência terciária. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 16/62 Parabéns! A alternativa C está correta. Os ensaios de fluência são conduzidos a altas temperaturas (constantes) e tensões constantes. Devido às temperaturas elevadas, o corpo de prova deforma-se plasticamente, mesmo a tensões abaixo dos valores na temperatura ambiente. O gráfico resposta do ensaio é a deformação versus tempo, com três fases ou regiões bem características: a fluência primária ou transiente, a fluência secundária ou estacionária e a fluência terciária em que ocorre a ruptura do corpo de prova ensaiado. 2 - O ensaio de �uência Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever o ensaio de �uência. D três estágios denominados taxa mínima de fluência, taxa crítica de fluência e relaxação, que são os parâmetros de engenharia obtidos no ensaio. E três estágios, sendo que o inicial é caracterizado pelas marcas de praia, o segundo pela acomodação das discordâncias e pelo aumento do encruamento. O terceiro tem curta duração é caracteriza-se pela ruptura. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 17/62 Vamos começar! Entendendo o ensaio de �uência Conheça os três ensaios de fluência (convencional, de ruptura e de relaxação), seus parâmetros, algumas curvas características dos ensaios e as principais diferenças entre eles. Apresentação do ensaio de �uência Conhecer o fenômeno da fluência é de vital importância para os engenheiros que irão projetar peças que trabalharão sob altas temperaturas (superiores a 40% da temperatura de fusão, em Kelvin). Há alguns anos, as indústrias aeronáutica, petrolífera, nuclear e outras demandam peças que tenham elevada resistência à fluência, o que implica necessidade de novas ligas, processos de fabricações específicos etc. A fluência é a deformação plástica de um corpo, que depende do tempo, em ambiente a altas temperaturas e tensão constante. A tensão atuante pode ser inferior à de escoamento em temperatura ambiente e, mesmo assim, a deformação plástica acontecerá, pois as elevadas temperaturas (energia de ativação) potencializam os mecanismos da deformação plástica. Para avaliar a vida útil em fluência ou a deformação máxima permitida para um componente nas condições de serviço, corpos de prova dos materiais são ensaiados em 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 18/62 fluência. A seguir, serão apresentados alguns aspectos relevantes para o ensaio de fluência. Parâmetros do ensaio de �uência Para a realização do ensaio de fluência, devem ser considerados alguns parâmetros das normas internacionais, como a norma ASTM 139. Veja os principais parâmetros operacionais do ensaio: Temperatura do ensaio Normas internacionais indicam a temperatura para o ensaio de fluência que deve ser utilizada e mantida durante todo o ensaio. Corpos de prova São similares aos corpos de prova (CP) utilizados no ensaio de tração com seções circular ou retangular. É importante o acabamento superficial, evitando-se defeitos superficiais e erros geométricos (concordância). Aquecimento do corpo de prova O corpo de prova deve ser aquecido até a temperatura do ensaio. Extensômetros Utilizados para instrumentação da elongação sofrida pelo corpo de prova no ensaio, podendo ser mecânico ou elétrico. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 19/62 É preciso considerar as seguintes observações: Para materiais com elevada suscetibilidade à oxidação em temperaturas altas, pode-se utilizar o forno com atmosfera inerte ou mesmo com vácuo. A temperatura deve ser controlada frequentemente durante o ensaio, para garantir sua constância. A medida da deformação do CP é aferida em intervalos regulares de tempo. Observe agora um corpo de prova (CP) com seção circular para o ensaio: Imagem 6: Corpo de prova - ensaio de fluência. Ensaio de �uência Em linhas gerais, é realizado em um forno em que a temperatura é mantida constante e o corpo de prova está submetido à tensão constante. Um contador de tempo e um extensômetro determinam o alongamento do corpo, durante o ensaio. Normalmente, a carga é aplicada por um conjunto de pesos suspensos. Agora, observe a ilustração de uma máquina para o ensaio: 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 20/62 Imagem 7: Esboço do aparato experimental do ensaio de fluência. O ensaio mostrado na imagem anterior tem como resposta a curva deformação versus tempo na qual três estágios podem ser destacados (ver imagem 8). No primeiro, a curva apresenta taxa de crescimento do corpo de prova decrescente, enquanto no terceiro, é crescente. No estágio intermediário, a derivada (ou a taxa de crescimento) é aproximadamente constante e positiva. Imagem 8: Curva resposta do ensaio de fluência. São três os ensaios: convencional, de ruptura e de relaxação que, em linhas gerais, mantêm um corpo de prova sob tensão e temperatura 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 21/62 constantes durante um longo período, apresentando como resposta o gráfico deformação versus tempo. Comentário Segundo Garcia (2017), a taxa mínima de fluência (velocidade de fluência ou taxa de deformação temporal, dε/dt, no estágio II) é um parâmetro a ser determinado para projetos de peças de vida útil longa, como peças de reatores. Para peças como as lâminas da turbina de um motor de avião a jato, cujo tempo de vida útil é curto, o parâmetro adequado é o tempo de ruptura. Ensaio convencional de �uência A literatura também o denomina ensaio de fluência propriamente dito ou, ainda, creep test em que a curva deformação versus tempo é o output. Nesse gráfico, conforme apresentados na imagem 4, três estágios se destacam: Fluência primária ou transiente Fluência secundária ou estacionária Fluência terciária Nesse ensaio, nem sempre ocorre a ruptura do material ensaiado, pois os ensaios são interrompidos no estágio II (fluência estacionária). São utilizadas equações matemáticas, muitas vezes empíricas, que auxiliam na extrapolação dos dados para a determinação da estimativa do tempo até a ruptura (tempo de vida útil). Em regra, o ensaio é conduzido várias vezes, mantendo-se sua temperatura constante. Assim, uma família de curvas é obtida, como mostra a imagem 9, para várias tensões distintas atuantes no CP, durante o ensaio, considerando a temperatura constante.29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 22/62 Imagem 9: Curvas de fluência para tensões distintas. A imagem 9 mostra curvas de fluência obtidas pelo ensaio em que a temperatura foi mantida constante. Note que a deformação inicial aumenta devido ao aumento da tensão constante utilizada no ensaio. Ademais, mostra o efeito da tensão aplicada nas curvas de fluência à temperatura constante. É possível que a curva de fluência clássica, com os três estágios bem definidos, só seja verificada para certas combinações de tensão e temperatura. Conforme Dieter (1981), obtém- se uma família de curvas similar para ensaio de fluência a tensão constante e temperaturas diferentes, sendo que, quanto maior a temperatura, maior a taxa de fluência. Comentário A duração do ensaio convencional é longa, podendo ultrapassar 1000 horas e, sendo, por vezes, interrompido no estágio II (linear), pois já é conhecida a velocidade mínima de fluência. Ensaios interrompidos podem utilizar argumentos matemáticos e os dados conseguidos até a interrupção de ensaio para sua extrapolação. É usual que o ensaio de fluência convencional não seja conduzido até a ruptura do corpo de prova. Na retirada da carga, o comportamento, em relação à deformação, do CP é apresentado no gráfico da imagem 10. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 23/62 Imagem 10: Descarregamento durante o ensaio de fluência. A partir dessa imagem, as seguintes observações podem ser feitas: A deformação inicial é composta por deformações elástica e plástica. No momento em que ocorre a interrupção do ensaio, há uma recuperação elástica do CP de maneira instantânea. A deformação vai diminuindo ao longo do tempo até atingir um valor definitivo (plástico). Comentário A resistência à fluência é a tensão que pode atuar sobre o componente a uma temperatura constante de tal forma que a taxa mínima de fluência ou velocidade (no estágio II – região linear) tenha um dado valor. Ensaio de ruptura por �uência Esse ensaio também é conhecido na literatura como stress-rupture test. Ele tem muitas similaridades com o ensaio convencional de fluência, sendo obrigatoriamente conduzido até que ocorra a ruptura do corpo de prova (CP) que, por vezes, leva várias horas. Muitas vezes, para que a velocidade de fluência seja aumentada, isto é, que o tempo de ensaio seja reduzido (lembre-se de que pode levar cerca de um ano!), são utilizadas tensões e temperaturas ainda mais elevadas, entretanto, deve-se mantê-las constantes durante todo o ensaio. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 24/62 Como regra geral, os resultados obtidos em relação ao corpo de prova (CP), são: O tempo para ruptura do CP A deformação plástica do CP A quanti�cação da estricção Segundo Souza (2019), a informação sobre o comportamento do material quando submetido a ensaios que conduzem à ruptura, informa a tensão nominal que o CP suporta em determinada temperatura (constante). A resposta desse ensaio é apresentada num gráfico tensão versus tempo de ruptura do CP. Observe um ensaio conduzido para uma liga de níquel, em três temperaturas distintas: Imagem 11: Curva resposta do ensaio de ruptura por fluência. Analisando essa imagem, é possível inferir que a curva resposta do ensaio de ruptura por fluência avalia o efeito da temperatura na capacidade de um corpo de prova suportar cargas por longos tempos. Exemplo 1 Suponha que uma nova liga tenha sido desenvolvida por meio de modificação de sua composição química e do processo de fabricação 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 25/62 para que um componente, a ser utilizado em reatores nucleares, possa ter maior vida útil em um ambiente de altas temperaturas, diminuindo, assim, o custo associado à substituição da peça na planta nuclear. Considere que o ensaio determinou a velocidade de deformação de (no regime estacionário da fluência, isto é, na fluência secundária), quando a temperatura de trabalho é constante e igual a 480°C e a tensão atuante é trativa e igual a 310MPa. A deformação para ruptura é de 3,0%. Qual é, aproximadamente, o número de anos que esse componente suportará sem fraturar nas condições apresentadas? Na região secundária da fluência, a curva é aproximadamente uma reta crescente. Dessa forma, utilizaremos o valor médio para a velocidade de fluência. Logo, temos que: Exemplo 2 Um material (superliga) foi desenvolvido nas várias instituições universitárias do Brasil. Depois de quase dois anos, foi mostrado à NASA para que um componente de um dos foguetes tivesse sua peça composta do novo material. Os parâmetros apresentados afirmam que, a 660°C a liga suporta tensão constante de 400MPa, tem como velocidade de fluência mínima 8.10-7/h e tempo de vida, antes da ruptura, de 4,5 anos. Por questões mecânicas, o componente a ser utilizado no foguete pode ter acréscimo em seu comprimento de, no máximo, 3,5%. Determine se a liga é adequada para a confecção do componente de acordo com as especificações citadas. 8 ⋅ 10−7h−1 Solução velocidade de fluência = Δε Δt = 8.10−7 Δt = Δε 8.10−7 Δt = 0, 03 8.10−7 = 4, 3 anos Solução 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 26/62 Na região estacionária da fluência, uma boa aproximação é considerar o valor médio para a velocidade de fluência. Dessa forma, temos que: Mas 4,5 anos dias Assim, Conclusão: a superliga é adequada para a situação apresentada. Ensaio de relaxação Também conhecido como stress-relaxation test, esse ensaio de fluência é relativamente diferente dos anteriores que avaliam a deformação plástica do corpo de prova ao longo do tempo podendo, por vezes, chegar à ruptura. No ensaio de relaxação, a deformação do corpo de prova é mantida constante. Vale lembrar que a deformação total é composta das parcelas elástica e plástica, ou seja: Assim, como todos os três ensaios de fluência, as temperaturas são altas, o que favorece os mecanismos de deformação plástica. Dessa forma, a deformação plástica irá aumentando com o tempo. velocidade de fluência = dε dt ≅ Δε Δt = 8 ⋅ 10−7 Δε = Δt ⋅ 8 ⋅ 10−7 = 1642, 5 = 39420h Δε = (39420) ⋅ 8 ⋅ 10−7 Δε = 0, 0315 Δε = 3, 15% εtotal = εelástica + εplástica 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 27/62 Para que a soma das deformações elástica e plástica seja constante, deve-se atuar a fim de que a deformação elástica diminua, o que é conseguido pela diminuição da tensão atuante no CP durante o ensaio. Dessa forma, nesse ensaio de fluência a tensão vai diminuindo com o tempo, mas chegando próximo a um patamar horizontal. Veja agora um ensaio de relaxação para um parafuso de aço-cromo-vanádio a 454°C: Imagem 12: Ensaio de relaxação (fluência) de parafuso. Conforme Souza (2019), o ensaio de relaxação: Apresenta ampla utilização em flanges juntadas por parafusos ou em montagens ajustadas a quente. Quando em serviço, a altas temperaturas, a junção pode se tornar frouxa devido ao alongamento excessivo dos parafusos sendo, portanto, um inconveniente para a engenharia. É realizado em fios, barras e cordoalhas de aço destinados a armaduras protendidas, com ampla utilização na engenharia civil. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 28/62 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (Fundação Getúlio Vargas /FGV - IMBEL - Engenheiro - Metalurgia 2021 - adaptada). A fluência é a deformação plástica que ocorre em um material ao longo do tempo, quando submetido a uma tensão constante ou quase constante. A respeito da fluênciae seus ensaios, assinale a afirmativa correta. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 29/62 Parabéns! A alternativa E está correta. O ensaio de relaxação (fluência) é conduzido de tal forma que a deformação no corpo de prova seja constante, havendo, portanto, uma relaxação na tensão. Ensaios de fluência são extremamente demorados, podendo chegar a um ano. No ensaio de fluência, a temperatura e a tensão são controladas, a fim de que sejam sempre constantes. Na fluência, devido às altas temperaturas, ocorre deformação plástica ou permanente, mesmo para valores de tensão inferiores aos valores de escoamento a temperatura ambiente. A temperatura é a energia de ativação para os processos que levam à deformação plástica. Questão 2 (SELECON: EMGEPRON: 2021 - Engenheiro Mecânico - Usinagem adaptada). Os materiais cerâmicos são largamente utilizados em equipamentos mecânicos que operam em altíssimas temperaturas. Uma consequência dessas condições é o efeito da fluência sobre o material cerâmico. Então, para uma taxa de fluência estacionária de uma cerâmica a 250°C igual a cuja deformação na A O ensaio de relaxação é realizado variando-se a tensão. B Os ensaios de fluência são normalmente realizados em uma semana. C O ensaio de fluência pode ser realizado sem o controle da temperatura. D Um produto operando abaixo do seu limite elástico tem vida útil indeterminada. E Os produtos podem apresentar deformação permanente, mesmo sofrendo solicitações abaixo do seu limite elástico. 5 × 10−7h−1 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 30/62 ruptura é igual a 2,5%, pode-se afirmar que o tempo de trabalho até a ruptura, considerando o ano com 365 dias, está entre Parabéns! A alternativa C está correta. O problema traz a taxa de fluência estacionária ou velocidade de fluência que se apresenta com grande precisão como um valor constante. Dessa forma, utilizando o valor médio para a velocidade de fluência, temos que: A 3,0 e 3,9 anos. B 4,0 e 4,9 anos. C 5,0 e 5,9 anos. D 6,0 e 6,9 anos. E 7,0 e 7,9 anos. velocidade de fluência = Δε Δt = 5.10−7 Δt = Δε 5.10−7 Δt = 0, 025 5.10−7 = 50.000h = 2.083 dias = 5, 7 anos 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 31/62 3 - Efeitos da tensão e da temperatura Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os efeitos da tensão e da temperatura. Vamos começar! Quais são os efeitos da temperatura e da tensão na �uência? Conheça os efeitos que as variações na tensão aplicada ao corpo de prova e/ou a variação da temperatura provocam no ensaio de fluência. Generalidades da �uência: 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 32/62 temperatura e tensão De maneira menos formal, o fenômeno da fluência pode ser definido como a deformação plástica de um componente ao longo do tempo, em condições severas de temperatura (constante) e a dada tensão, também constante. O material vai aumentando sua deformação permanente, mesmo a um nível de tensão menor que a de escoamento para a temperatura ambiente. Assim, temperatura e tensão são variáveis que influenciam o fenômeno da fluência. Resumindo O aumento da tensão aplicada eleva a taxa temporal de deformação na fluência secundária (ou estacionária) e a temperatura potencializa o movimento de defeitos, como as discordâncias. Dessa forma, a temperatura serve como energia de ativação para a deformação plástica. Conforme apresentado, fluência é especialmente importante para as condições de serviço tal que a temperatura seja maior que 40% da temperatura de fusão do material, em Kelvin. Observe agora algumas curvas de fluência para temperaturas e tensões diversas: Imagem 13: Influência da temperatura e da tensão na curva de fluência. A imagem anterior apresenta mudanças na curva de fluência a partir das variáveis temperatura e tensão. Para temperaturas inferiores a 40% da temperatura de fusão a deformação independe do tempo, e só ocorre a deformação instantânea. Perceba que há uma deformação inicial devido à tensão aplicada e, na sequência, a reta é horizontal. Outras inferências, a partir do gráfico, são que: a deformação inicial (ver o início das curvas) aumenta com o aumento da aplicação de tensões de maiores intensidades, cuja taxa de fluência secundária aumenta ( dεdt ) T < 0, 4Tf , 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 33/62 (inclinação da parte linear da curva torna-se mais vertical) e o tempo de ruptura por fluência diminui. Observe o eixo horizontal (tempo). Curiosidade Existem algumas ligas comerciais que têm elevada resistência à fluência. Uma dessas ligas é o aço inoxidável, com alto teor do elemento de liga cromo (Cr). Também estão nessa classe de materiais com boa resistência à fluência, as denominadas superligas, ligas de níquel, (Ni), cobalto (Co) e ferro (Fe). Por exemplo, o aço inoxidável AISI 304 sob tensão constante, de aproximadamente 20kgf/mm2, e temperatura de serviço de 1100°F, tem tempo de ruptura de cerca de 1000 horas. Efeitos da tensão e da temperatura Os três ensaios de fluência, convencional, de ruptura e de relaxação, são influenciados pelos parâmetros do ensaio, ou seja, pela temperatura em que se encontra o corpo de prova e pela tensão aplicada ao CP. Essa análise pode ser feita a partir da curva resposta do ensaio que relaciona a deformação com o tempo, isto é, a curva de fluência. Variação da tensão aplicada A próxima imagem mostra apenas a influência da tensão na curva de fluência. A temperatura T é mantida a mesma (constante) para todos os seis ensaios de fluência realizados. Imagem 14: Curva de fluência para tensões distintas. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 34/62 Analisando essa imagem, é possível perceber que, com o aumento da tensão aplicada ao corpo de prova, a deformação instantânea em é crescente. Ademais, para as tensões e não ocorre a etapa da fluência terciária e, portanto, não há ruptura do corpo de prova. A região linear de cada uma das seis curvas apresentadas corresponde à fluência secundária, na qual a taxa temporal de deformação é constante e mínima, e tem a inclinação aumentada, ou ainda, a velocidade mínima de fluência aumenta. Também é possível perceber, para os CPs que fraturam, que o tempo de ensaio diminui com o incremento da tensão. Variação da temperatura aplicada A mesma análise feita para o ensaio de fluência, sob o efeito da temperatura constante, pode ser realizada mantendo-se constante a tensão ou a carga aplicada no CP, e variando-se a temperatura do ensaio de fluência. Observe na próxima imagem que cinco ensaios de fluência são conduzidos nas mesmas condições, exceto a temperatura aplicada, que varia a cada ensaio. Imagem 15: Curva de fluência para temperaturas distintas. Vamos fazer algumas análise qualitativas e quantitativas da imagem anterior. O par de eixos deformação versus tempo é individualizado em três regiões (retas tracejadas) que correspondem às três fases da fluência, já discutidas: fluência primária ou transiente, fluência secundária ou estacionária e fluência terciária. Os ensaios com temperaturas mais elevadas (os três últimos) mostram, na curva de fluência, os três estágios bem identificados. Os dois primeiros ensaios, conduzidos com temperaturas mais baixas, não têm o estágio em que ocorre a ruptura do CP, o terceiro. Eles apresentam a fluência secundária como uma reta aproximadamente horizontal, o que implica não ocorrer deformação com o tempo. Em termos matemático, tem-se que: (t = 0) σ1 σ2 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html#35/62 Na igualdade final, para os ensaios 1 e 2, a tensão constante, as deformações permanecem iguais à deformação instantânea Resumindo As variáveis temperatura e tensão alteram a curva de fluência e, consequentemente, vários parâmetros que a curva fornece. Observa-se a deformação instantânea, passando pela não ocorrência do estágio III da fluência até o aumento da velocidade mínima de fluência. Outros parâmetros foram abordados até aqui. É frequente apresentar o gráfico resposta do ensaio de fluência com os eixos em logaritmo decimal. Assim, os gráficos terão os dados de maneira, aproximadamente, linear. Observe a imagem com a liga S-590 (ferro, cromo, níquel e cobalto). Imagem 16: Curva Log da tensão versus Log do tempo de ruptura para diversas temperaturas. Note que, para cada temperatura de ensaio, existem alguns segmentos de relações lineares. velocidade de fluência = dε dt = 0 ∫ εF ε0 dε = ∫ 0 ⋅ dt εF − ε0 = 0 εF = ε0 ε0. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 36/62 Aspecto matemático da in�uência da temperatura e da tensão Até este momento, mostramos a influência das variáveis temperatura e tensão utilizadas nos ensaios de fluência de maneira qualitativa. Foi possível observar a diminuição do tempo de ruptura, o aumento ou diminuição da velocidade de fluência estacionária, dentre vários outros parâmetros influenciados por mudanças na temperatura e/ou tensão no ensaio de fluência. Algumas equações empíricas serão utilizadas para o estudo do fenômeno de fluência em materiais. A primeira dessas relações envolve a taxa de deformação temporal no estágio secundário da fluência, ou ainda, a velocidade mínima de fluência, cuja expressão matemática é dada por: A equação que relaciona a tensão e a velocidade mínima de fluência é: Em que e são constantes para o material que, por vezes, é experimentalmente determinado. A partir da expressão matemática anterior, é possível aplicar logaritmo decimal em cada lado da igualdade. Plotando-se os dados de e teremos gráficos lineares, veja: ε̇m = dε dt ε̇m = K1 ⋅ σ n1 K1 n1 ε̇m = K1 ⋅ σ n1 log (ε̇m) = log (K1 ⋅ σ n1) log (ε̇m) = log (K1) + log (σ n1) log (ε̇m) = log (K1) + n1 ⋅ log(σ) log (ε̇m) log(σ), 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 37/62 Imagem 17: Curva Log da tensão versus Log da velocidade mínima de fluência. Os dados dos ensaios de fluência a temperaturas de 650°C, 730°C, 815°C e 925°C, que originaram o gráfico da imagem anterior, foram coletados a partir dos ensaios com a mesma liga S-590 (ferro, cromo, níquel e cobalto). Dica Conforme Garcia (2017), o gráfico da imagem 17 é outra forma de revelar os dados oriundos do ensaio de fluência. Deve ser utilizado em projetos e as taxas podem ser apresentadas, por exemplo, em %/h, h-1, s-1 etc. A fluência tem fenômenos, como o deslizamento de discordâncias, que são ativados termicamente. Assim, é possível utilizar a equação de Arrhenius para escrever a relação entre a velocidade mínima de fluência, a tensão e a temperatura, conforme a equação: Em que: e – são constantes dependentes do material. – é a energia de ativação para o fenômeno. – é a constante universal dos gases. – é a temperatura, em Kelvin É possível confeccionar um gráfico tensão versus temperaturas denominado Mapas de Mecanismos de Deformação (MMD) que é ε̇m = K2 ⋅ σ n ⋅ e ( −Qfluência RT ) K2 n Qfluência R T (K = C + 273). 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 38/62 dividido em regiões com mecanismos dominantes na fluência para condições diferentes. Em resumo, temos que: Veja agora um esboço da curva MMD, também denominada Weertman- Ashby: Região em que a tensão e a temperaturas são baixas Ocorre a deformação elástica, como efeito predominante. Região em que as temperaturas são altas A fluência por difusão é predominante, em relação ao movimento de discordâncias, quando a tensão é baixa. Região em que as temperaturas são baixas O mecanismo de difusão no contorno de grão é mais importante do que a difusão no grão, denominada bulk diffusion. Região em que a tensão é elevada A fluência por movimentação por discordâncias é o fenômeno predominante. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 39/62 Imagem 18: Mapas de Mecanismos de Deformação. Parâmetro de Larson-Miller A fluência é um aspecto fundamental a ser considerado por projetistas quando os componentes e/ou estruturas forem submetidos a condições de serviço em elevadas temperaturas, normalmente maiores que Dentre os principais sistemas em que a fluência tem destaque, podemos citar: As turbinas dos motores a jato de aviões 0, 4 ⋅ Tfusão. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 40/62 As turbinas utilizadas em instalações petrolíferas Os reatores nucleares O projeto para esses sistemas prevê vida útil na ordem de 104 a 105 horas, ou seja, de alguns anos. Dessa forma, é inviável testar experimentalmente (em laboratórios) novas ligas para avaliar a vida útil em fluência, além de se considerar o custo associado. Por esse motivo, muitos ensaios de fluência são interrompidos depois de algumas horas (no estágio de fluência secundária ou estacionária) e modelos matemáticos de extrapolação são aplicados para determinar a vida útil do material para a fluência. Por exemplo, Larson e Miller analisaram o método proposto por Grant e Buckling, e desenvolveram seu modelo, definindo o parâmetro de Larson-Miller, matematicamente expresso por: Em que: – é a temperatura, em Kelvin. – é o tempo de ruptura, dado em horas. – (constante de Larson-Miller) é uma constante com valor em torno de 20, apresentada em horas. A tabela a seguir traz alguns valores da constante de Larson-Miller (C) para algumas ligas ferrosas: Liga C (h) Aço de baixo carbono 18 T ⋅ [C + log (tr)] = constante T tr C 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 41/62 Liga C (h) Aço inoxidável 304 18 Aço inoxidável 18Cr – 8Mo 17 Aço 2,25Cr – 1Mo 23 Aço S-590 20 Aço Cr-Mo-Ti-B 22 Aço inoxidável austenítico 316 com Ti 20 Tabela: Valores para a constante de Larson-Miller. Garcia, Spim e Dos Santos, 2017, p.208. Atenção! c: constante de Larson-Miller parâmetro de Larson-Miller constante Veja o gráfico do logaritmo da tensão versus o parâmetro de Larson- Miller para a liga S – 590. Note que a curva tem três regiões lineares: Imagem 19: Curva do modelo de Larson-Miller. Como utilizar o gráfico proposto pelo modelo de Larson-Miller para estimar o tempo de ruptura para componentes, sob o fenômeno da X (T ⋅ [C + log (tr)] = ) 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 42/62 fluência? Vejamos! Exemplo Um componente constituído da liga S-590 está submetido a uma tensão constante de 140MPa e temperatura, também constante, de 800°C. Estime a vida desse componente até a ruptura por fluência. Inicialmente, a temperatura deve estar em Kelvin. Assim, . Utilizando a imagem 19, é possível determinar, aproximadamente, o parâmetro de Larson-Miller, a partir da tensão de . O valor aproximado é de . Agora temos que: Solução T = 800 + 273 = 1073K 140MPa 24 ⋅ 103 T ⋅ [20 + log (tr)] = 24 ⋅ 10 3 1073. [20 + log (tr)] = 24 ⋅ 10 3 20 + log (tr) = 22, 37 log (tr) = 2, 37 tr = 233 h 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 43/62 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (Petrobras - CESGRANRIO - 2018 - Engenheiro de Equipamentos Júnior Inspeção - adaptada). A imagem abaixo apresentatrês curvas esquemáticas de fluência de um mesmo material policristalino. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 44/62 A taxa de fluência do estágio secundário aumenta da curva I para a III como resultado das seguintes alterações nas condições experimentais: Parabéns! A alternativa C está correta. A temperatura e a tensão aplicadas no ensaio de fluência influenciam a curva de fluência. Em linhas gerais, aumento de temperatura faz com que as curvas tenham maior inclinação. Assim, para uma tensão constante o ensaio que resultou na curva III foi o de maior temperatura. Em relação ao tamanho de grão (TG), a taxa de fluência aumenta com o refino da microestrutura. A Aumento do tamanho de grão médio e redução da tensão aplicada para uma mesma temperatura. B Aumento do tamanho de grão médio e redução da temperatura do ensaio para uma mesma tensão aplicada. C Aumento simultâneo da tensão aplicada e da temperatura do ensaio para um mesmo tamanho de grão. D Redução simultânea da tensão aplicada e da temperatura do ensaio para um mesmo tamanho de grão. E Redução da tensão aplicada para uma mesma temperatura e tamanho de grão. O 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 45/62 aumento do TG e a redução da tensão aplicada aumentam o tempo de fratura. Da mesma forma, para a diminuição da temperatura. O gráfico, a partir da curva I mostra a diminuição do tempo para a ruptura. Questão 2 (GARCIA, A.; SPIM, J. A.; DOS SANTOS, C. A. Ensaios dos Materiais. 2. ed. RJ, LTC, 2017, p. 209 - adaptado ). Um componente é fabricado em liga S-590 e as condições de serviço são tais que o fenômeno da fluência (deformação ao longo tempo) está presente. Suponha que tanto a tensão aplicada quanto a temperatura sejam constantes e valham, respectivamente, e . A seguir é mostrado um gráfico da tensão versus o parâmetro de Larson-Miller. Determine o tempo de ruptura, por fluência, desse componente, nas condições de serviço mencionadas. 400MPa 600∘C A 795 dias B 452 dias C 127 dias D 49 dias 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 46/62 Parabéns! A alternativa E está correta. O eixo das abcissas está em ; logo, a temperatura deve estar em Kelvin. Assim, . Como a tensão de trabalho é de , traçando uma horizontal, a partir desse valor, a interseção com o gráfico é tal que a abscissa é aproximadamente 20. Portanto: 4 - Fratura por �uência Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a fratura por �uência. E 34 dias K − h T = 600 + 273 = 873K 400MPa T. [20 + log (tr)] = 20 ⋅ 10 3 873. [20 + log (tr)] = 20 ⋅ 10 3 20 + log (tr) = 22, 91 log (tr) = 2, 91 tr = 10 2,91 tr = 812h tr = 33, 8 dias 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 47/62 Vamos começar! Entendendo a fratura por �uência Conheça agora os aspectos de formação da trinca que leva à fratura, as micrografias de superfícies fraturadas por fluência, ligas e processos para o aumento da resistência à fluência. Aspectos gerais da fratura Intuitivamente, é possível definir fratura de forma macroscópica, supondo uma peça metálica única que, por uma razão desconhecida, leva à formação de duas ou mais partes denominadas superfícies de fratura. Microscopicamente, pode se imaginar que os átomos têm suas ligações químicas quebradas por ação física ou química. A seguir, vemos dois corpos de prova fraturados após o ensaio mecânico de tração uniaxial. Nota-se o surgimento da superfície de fratura, em virtude da fratura. 0 estudo dessa superfície é conhecido como fractografia. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 48/62 Imagem 20: Corpos de prova fraturados, após execução do ensaio de tração. O nosso objetivo é compreender a fratura que ocorre quando as condições de fluência são favoráveis, ou seja, quando a temperatura em serviço é alta, superior a 40% da temperatura de fusão do material, em Kelvin. Porém, antes de se fazer uma suscinta descrição de alguns tipos de fratura, lembramos que a separação das partes (a fratura) pode ocorrer com apreciável deformação plástica ou com pouca ou nenhuma deformação plástica. No primeiro caso, estão as fraturas dúcteis e, no segundo, as fraturas frágeis. Aprederemos mais sobre tais fraturas a seguir! Fratura dúctil Nessa fratura há uma apreciável deformação plástica, ocorrendo uma redução acentuada na seção reta do componente. Com a redução da seção reta e, supondo que a carga aplicada seja constante, a tensão aumentará a um nível no qual ocorrerá a fratura. Nesse tipo de fratura, três regiões são características: a fibrosa, a radial e a cisalhada. Observe, sob duas vistas, as regiões citadas: Imagem 21: Fratura dúctil e suas regiões. Corpos de prova dúcteis ensaiados sob tração apresentam a denominada fratura taça-cone. Observe a imagem em que as duas partes do CP remetem à ideia de uma taça e de um cone: Imagem 22: Fratura taça-cone em CP de ensaio de tração. Fratura frágil Nessa fratura há pouca deformação plástica e a trinca pode percorrer os contornos dos grãos cristalinos (intergranular) ou por meio do grão, transgranular. Observe as imagens: 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 49/62 Imagem 23: Fratura frágil transgranular. Transgranular Ocorre o fenômeno da clivagem, ou ainda, a separação dos planos cristalinos. Na imagem 23(a) a trinca se propaga por dentro do grão ocorrendo a separação dos planos cristalinos por clivagem. A imagem 23(b) é de microscopia eletrônica de varredura da superfície de fratura. Imagem 24: Fratura frágil intergranular. Intergranular Pode ocorrer a fragilização do contorno de grão depois de algum processo que reduz ou fragiliza a coesão entre os grãos, como soldagem, tratamentos térmicos etc. Na imagem 24(a), a trinca se propaga por entre os grãos. A imagem 24(b) mostra a superfície de fratura em que se destaca o aspecto tridimensional dos grãos cristalinos (decoesão). A fratura frágil é a mais preocupante, uma vez que não dá sinais para que o engenheiro possa intervir e fazer a correção ou a substituição de um ou mais componentes. Conforme Cassio (2021), dois exemplos históricos revelam o comportamento catastrófico das fraturas frágeis. O navio Titanic, em 1912, e o navio Liberty. Observe as imagens: 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 50/62 Imagem 25: Fratura frágil no navio Titanic. Imagem 26: Fratura frágil no navio Liberty. Alguns metais dúcteis se comportam como frágeis a baixas temperaturas. É a transição dúctil-frágil. Conforme Cassio (2021), as duas fraturas mostradas nas imagens 25 e 26 ocorreram devido à transição dúctil-frágil, nas águas geladas do Atlântico Norte. Fratura por fadiga O fenômeno da fadiga está associado a ciclos de tensões a que um componente mecânico fica submetido. Em regra, apresenta três fases: Nucleação da trinca Propagação da trinca Fratura catastró�ca 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 51/62 Eixos de automóveis, molas do comando de válvula de motores, componentes aeronáuticos etc. estão sob condições de fadiga. A análise da superfície da fratura por fadiga tem alguns aspectos peculiares, como as marcas de praia, estrias etc. As duas próximas imagens são superfícies de fratura por fadiga em componentes mecânicos. Veja: Imagem 27: Superfície de fratura por fadiga - macro. A partir da imagem 27, é possível inferir que houve a nucleação de uma trinca na região branca da imagem. O ciclo de carregamento potencializou a propagação da trinca que culminou comuma falha catastrófica, indicada na imagem pela região fibrosa e cinza. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 52/62 Imagem 28: Superfície de fratura por fadiga - estrias. A imagem 28 foi feita por meio do microscópio eletrônico de transmissão (MET) com aumento de 9000 vezes, destacando as estrias de fadiga em uma peça de alumínio. Fratura por �uência Nesse ponto, será feita a abordagem da superfície de fratura de um componente que fraturou em decorrência das condições de serviço, propícias ao fenômeno da fluência. A fluência é a deformação plástica com o tempo, mesmo quando o componente está sujeito a tensões abaixo da tensão de escoamento. Uma das condições é que a temperatura de serviço seja alta, ou seja, superior a 40% da temperatura de fusão do material e carregamento constante. A altas temperaturas, as deformações plásticas decorrem da movimentação de discordância e do escorregamento de contornos de grão. Portanto, sob uma carga constante e em condições de serviço em alta temperatura (constante), uma trinca pré-existente crescerá lenta e gradualmente devido aos mecanismos ligados à fluência até que ocorra 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 53/62 a falha final, a fratura por fluência que, em regra, é um processo dúctil, que envolve crescimento e coalescência de microvazios. A fratura por fluência (temperaturas acima de ) pode ocorrer por três modos distintos, veja: Imagem 29: Modos de fratura a altas temperaturas - fluência. A imagem 29 (a) mostra a fratura devido à redução excessiva da seção resistente. Em regra, nessa situação o fenômeno de recristalização dinâmica evita a nucleação interna de micro vazios. Imagem 29: Modos de fratura a altas temperaturas - fluência. Na imagem 29 (b) ocorre o crescimento de vazios e a fratura por fluência é tipicamente transgranular. Imagem 29: Modos de fratura a altas temperaturas - fluência. 0, 4 ⋅ Tf 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 54/62 Na imagem 29 (c) ocorre a nucleação de microvazios nos contornos de grão e a fratura por fluência é tipicamente intergranular, ocorrendo em níveis de tensões e taxas de deformações inferiores às da fratura transgranular. De acordo com o que afirma Garcia (2017), as principais etapas do processo de fratura a temperaturas elevadas (fluência) podem ser resumidas em: Formação de microcavidades nos contornos de grão (CG), principalmente em pontos triplos (encontro de três grãos cristalinos); Aumento das microcavidades; Formação e coalescimento de microtrincas; Formacão de macrotrincas e, por fim, a ruptura. Normalmente, a fratura por fluência ocorre de maneira dúctil. Há a nucleação de microvazios em contornos de grão ou nos pontos triplos. A falha final do material, devido às condições de fluência, se dá por fratura intergranular, pois ocorre a junção de microfissuras ou vazios ao longo dos contornos de grão. Observe a superfície de fratura nas seguintes imagens: Imagem 30: Microvazios em pontos triplos - fluência. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 55/62 Na micrografia da imagem 30, é possível observar microvazios em pontos triplos do encontro de grãos cristalinos. Imagem 31: Trinca intergranular na fluência. A imagem 31 revela o caminho percorrido por uma trinca em material policristalino sob condições de fluência. É claro observar a propagação da trinca de maneira intergranular, ou seja, pelos contornos de grão. Para reforçar os conceitos descritos a respeito da fratura por fluência, a próxima imagem mostra o mecanismo de nucleação de microvazios em contornos dos grãos, bem como o percurso da propagação da trinca intergranular. A imagem foi feita por microscopia eletrônica de varredura em liga Nimonic 105 (liga de Ni , Cr , Mo , Co) , submetida a 800°C. Imagem 32: Trinca intergranular na fluência. Ligas metálicas resistentes à �uência A engenharia tem demandado cada vez mais ligas, metálicas ou não, para condições de serviço em que altas temperaturas são exigidas. Por exemplo, a turbina do motor a jato de um avião tem seus componentes submetidos a temperaturas extremamente elevadas. Os reatores 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 56/62 nucleares também têm essa demanda com o agravante de que manutenções não devem ocorrer com grande frequência. Assim, os engenheiros e pesquisadores da área de Ciência dos Materiais têm desenvolvido ligas com elevada resistência à fluência. Na fluência, a temperatura potencializa o movimento de discordâncias. Portanto, o endurecimento de uma liga por solução sólida ou por meio de precipitados eleva sua resistência à fluência. De acordo com Souza (2019), os aços ferríticos com altos teores de cromo e molibdênio foram os primeiros desenvolvidos para resistir à fluência. Contudo, são usados a temperaturas da ordem de 550°C, pois apresentam grande suscetibilidade à oxidação. Uma liga de níquel-cromo-titânio-molibdênio-cobalto, denominada de Nimonic, tem grande aplicação em componentes mecânicos, nas condições de operação de fluência. É uma matriz de níquel endurecida com os precipitados intermetálicos dissolvidos, sendo conhecida como uma superliga. Muitas outras ligas foram desenvolvidas com o intuito de aumentar a resistência à fluência, mas um enorme campo de pesquisas ainda pode ser explorado com a mesma finalidade. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 57/62 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Muitas são as indústrias que demandam ligas que possam ser operadas em ambientes em que as temperaturas são elevadas, sem que ocorram falhas. Um fenômeno típico de altas temperaturas é a fluência. A respeito das fraturas por fluência, são feitas as seguintes afirmações: I. As fraturas por fluência ocorrem a partir de uma trinca preexistente no componente, e as altas temperaturas potencializam o crescimento e a coalescência de microvazios, levando a uma fratura frágil e catastrófica. II. É comum, no processo que culminará com a fratura por fluência, o coalescimento de microporosidades em pontos triplos da estrutura do material, ou seja, no encontro de três grãos cristalinos. III. O aspecto da superfície de um componente que fraturou devido à fluência é semelhante à superfície de fratura por fadiga, pois 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 58/62 ocorrem as marcas de praia, indicando a fase lenta e gradual da propagação da trinca intragranular. Parabéns! A alternativa B está correta. A fratura por fluência tem comportamento dúctil e inicia-se com a nucleação de microvazios que coalescem formando microtrincas que gradualmente se propagam. As microporosidades em decorrência da fluência coalescem nos contornos de grão ou nos pontos triplo. fractografia de uma fratura por fluência não são observadas marcas de praia, característica do carregamento cíclico que ocorre no fenômeno da fadiga. Questão 2 A imagem a seguir, obtida por meio do microscópio eletrônico de varredura (MEV), mostra a superfície de um componente que operou em condições severas de temperatura e tensão constante (fluência). Analisando a imagem é possível inferir que A Apenas a afirmativa I. B Apenas a afirmativa II. C Apenas a afirmativa III. D Apenas as afirmativas I e II. E Apenas as afirmativas II e III. Na 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 59/62 Parabéns! A alternativa B está correta. A micrografia da imagem revela nitidamente os contornos de grão do material policristalino.Está evidenciado o coalescimento de vazios em um ponto triplo da estrutura cristalina. Não há evidências de trincas na imagem nem de marcas de praia, típicas de fratura por fadiga. A a imagem apresenta um material monocristalino que é uma das maneiras de aumentar a resistência à fluência. B a imagem revela um material policristalino que, na união de três grãos cristalinos (ponto triplo), fica evidenciado um vazio. C a imagem mostra um material policristalino e as marcas de praia, típicas de materiais submetidos às condições de fluência. D a imagem apresenta uma trinca intergranular, possivelmente devido à fratura por fluência. E a imagem mostra um material monocristalino com pequenos vazios visíveis e uma região com grande precipitação de segunda fase. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 60/62 Considerações �nais O ponto central deste conteúdo foi o fenômeno da fluência. Inicialmente, foram introduzidas situações de engenharia em que os componentes e/ou estruturas trabalham em condições de serviço que potencializam a fluência. Foi feita uma abordagem do fenômeno e das condições de ocorrência (temperaturas elevadas e tensão constante) da fluência. Também foram apresentadas algumas ligas de alta resistência à fluência, bem como a solidificação direcional que possibilita aumentar a resistência. Em seguida, foi mostrada a curva resposta do ensaio de fluência que relaciona a deformação do corpo de prova com o tempo. Nesse gráfico foi feita uma abordagem dos três estágios: fluências primária, secundária e terciária, sendo levantados alguns aspectos matemáticos e metalúrgicos de cada região. Os três ensaios de fluência foram discutidos: o convencional, o de ruptura e o de relaxação. Ademais, fizemos uma abordagem qualitativa da influência da variação de temperatura ou da tensão nas curvas de fluência, destacando-se os principais parâmetros que sofrem influência. A partir de equações empíricas, foi mostrado o modelo de Larson-Miller, em que o parâmetro, de mesmo nome, possibilita estimar o tempo de ruptura de um componente, sob as condições de fluência (temperatura e tensão dadas). Por fim, trouxemos a abordagem da fratura em decorrência da fluência e apresentamos as ligas com alta resistência à fluência. Podcast Para encerrar, ouça os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 61/62 Explore + Confira a indicação separada especialmente para você! Aproveite para ler o trabalho apresentado no 67º Congresso ABM – Internacional, Estudo de Fluência e Mecanismos de Fratura da Superliga Inconel 718 Envelhecida , 2012, Rio de Janeiro, disponível na internet. Referências ASHBY, M. F.; BROWN, L. M. . Perspectives in creep fracture. 1. ed. UK, Pergamon Press Ltd, 1983. CALLISTER, W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e engenharia de materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. CASSIO, B. Fundamentos da análise fractográfica de falhas de materiais metálicos. São Paulo, Blucher, 2021. CHAWLA, K. K.; MEYERS, M. A. Princípios de metalurgia mecânica. 8. ed. São Paulo: Blucher, 1982. DIETER, G. E.Metalurgia Mecânica. 2. ed. [s.l]: Guanabara Dois, 1981. DOWD, NOEL O’. Advanced fracture mechanics. Imperial College London, Department of Mechanical Engineering, 2002. GARCIA, A.; SPIM, J. A.; SANTOS, C. A. Ensaios dos materiais. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. SOUZA, S.A. Ensaios mecânicos de materiais metálicos. 5. ed. São Paulo: Blucher, 2019. 29/03/2024, 15:02 Fratura por fluência https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212en/04341/index.html# 62/62 Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()
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