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W BA 01 93 _V 2. 0 TECNOLOGIA ASSISTIVA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA 2 Flavio Junior Guidotti Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2021 TECNOLOGIA ASSISTIVA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Henrique Salustiano Silva Juliana Caramigo Gennarini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Fernanda Vanessa Lourenço dos Santos Giani Vendramel de Oliveira Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)__________________________________________________________________________________________ Simó, Cristiane Higueras S593a Aprendizagem Criativa e Cultura Maker: aplicações na educação profissional/ Cristiane Higueras Simó, Carolina Abdalla Normann de Freitas – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 30 p. ISBN 978-65-87806-05-1 1. Aprendizagem.2. Cultura I. Simó , Cristiane Higueras. II. Freitas, Carolina Abdalla Normann de. Título. CDD 378.013 ____________________________________________________________________________________________ Jorge Eduardo de Almeida CRB: 8/8753 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Introdução à Tecnologia Assistiva ____________________________ 05 Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA): definição, objetivos e recursos _________________________________________ 20 Tecnologias Assistivas e Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na educação ____________________________ 32 Atendimento Educacional Especializado e Sala de Recursos Multifuncionais ______________________________________________ 45 TECNOLOGIA ASSISTIVA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA 5 Introdução à Tecnologia Assistiva Autoria: Juliana Zantut Nutti Leitura crítica: Nancy Capretz Batista da Silva Objetivos • Apresentar os principais conceitos e definições sobre a Tecnologia Assistiva (TA). • Explicitar as origens e os objetivos da Tecnologia Assistiva na legislação e nas políticas nacionais, com ênfase no trabalho do Comitê de Ajudas Técnicas (CAT). • Especificar a classificação dos recursos e as características dos serviços de Tecnologia Assistiva. 6 1. Conceitos de Tecnologia Assistiva Neste tema, apresentaremos os principais conceitos sobre a Tecnologia Assistiva, explicitando as origens e os seus objetivos. Além disso, discutimos o histórico do surgimento da Tecnologia Assistiva na legislação e nas políticas nacionais, o processo de desenvolvimento das ajudas técnicas e as dos recursos e serviços de Tecnologia Assistiva, como o papel da equipe multi e transdisciplinar. Segundo Bersch (2017), a Tecnologia Assistiva, ou simplesmente TA, é um termo recente utilizado para a identificação do conjunto de recursos e de serviços que podem contribuir para ampliar as habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, assim, promover mais independência e inclusão social em suas vidas. No Brasil, o número de indivíduos com alguma deficiência, segundo o Censo Nacional realizado pelo IBGE em 2012, é de 190.755.799 pessoas, nas quais 45.941.635 pessoas estão na faixa dos 0 a 14 anos (IBGE, 2012 apud TOKARNIA, 2019). Em relação à inclusão escolar, de acordo com Tokarnia (2019), o Censo Escolar de 2018 estima que há cerca de 1,2 milhão de alunos com deficiência, Altas Habilidades/Superdotação e Transtornos Globais do Desenvolvimento matriculados em escolas brasileiras, entre 2017 e 2018, houve aumento de, aproximadamente, 10,8% no número de matrículas de pessoas com deficiência nas escolas de ensino regular. As políticas de inclusão social e educação inclusiva estimularam o desenvolvimento de estudos voltados para o desenvolvimento de recursos e de métodos educacionais, buscando o atendimento das necessidades das pessoas com deficiências em diversos contextos e nas escolas, a fim de superar barreiras da comunicação, melhorando a funcionalidade e a mobilidade, favorecendo a autonomia pessoal e os movimentos sensoriais e mentais. 7 O uso da Tecnologia Assistiva passou por metamorfoses culturais e pedagógicas, fundamentadas em novas maneiras de lidar com as desvantagens sociais e com o conhecimento que é produzido em escala geométrica. O aspecto compensatório da TA, presente no início do século XX, é substituído por um caráter mais potencializador de vínculos sociais dos sujeitos com obstáculos para exercitar os seus direitos à dignidade, ao respeito, à liberdade de expressão, à educação e ao convívio social (CONTE; OURIQUES; BASEGIO, 2017). Em 1988 surgiu pela primeira vez a expressão Tecnologia Assistiva, do inglês Assistive Technology, considerado um importante elemento jurídico na legislação norte-americana conhecida como Public Law 100-407, que compõe em conjunto com outras leis, o ADA (American with Disabilities Act), que regula os direitos dos cidadãos com deficiência nos EUA. Segundo Bersch (2017), essa legislação norte-americana prove a base legal dos fundos públicos para a compra dos recursos que as pessoas necessitam, garantindo o acesso ao benefício de serviços especializados e a todo o arsenal de recursos de que necessitam para favorecer uma vida mais independente, produtiva e incluída no contexto social geral. No Brasil, os estudos, definições e considerações sobre o uso da Tecnologia Assistiva foram realizadas a partir de 2006, pelo Comitê de Ajudas Técnicas, órgão da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, como você verá no próximo item. 1.1 A Tecnologia Assistiva e o Comitê de Ajudas Técnicas A partir de 1990, iniciou-se o investimento científico na área da Tecnologia Assistiva no Brasil. Neste contexto inicial, a Tecnologia Assistiva ainda era denominada como “ajudas técnicas”, termo que ainda é utilizado em alguns contextos como sinônimo de TA (CASTRO; SOUZA; SANTOS, 2011). 8 Como a Tecnologia Assistiva abrange todas as ordens do desempenho humano, desde as tarefas básicas de autocuidado até o desempenho de atividades profissionais, o legislativo brasileiro criou a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que proporciona condições equânimes para todas as pessoas com deficiência. Em 16 de novembro de 2006, foi constituído pela Portaria nº 142, o Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), de caráter permanente e criado no âmbito da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), ligado à Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE). De acordo com Bersch (2017), o CAT se constituiu em um grupo de trabalho composto por especialistas de várias áreas do conhecimento, cujos objetivos foram: a) apresentar propostas para políticas governamentais e parcerias entre a sociedade civil e órgãos públicos referentes à área de Tecnologia Assistiva; b) estruturar as diretrizes da área de conhecimento de TA; c) realizar o levantamento de recursos humanos que trabalham com o tema TA; d) detectar os centros regionaisde referência da área, para estrutura uma rede nacional integrada; e) estimular a criação de centros de referência nas esferas federal, estadual e municipal; f) propor a criação de cursos na área de Tecnologia Assistiva e o desenvolvimento de outras ações para a formação de recursos humanos qualificados e propor a elaboração de estudos e pesquisas, relacionados com o tema da Tecnologia Assistiva. Para elaborar um conceito que fosse utilizado para subsidiar as políticas públicas brasileiras, os membros do CAT realizaram uma revisão profunda no referencial teórico de países como Portugal, Estados Unidos da América e da União Europeia sobre termos como ajudas técnicas, Tecnologia Assistiva e tecnologia de apoio. Em agosto de 2007, por sua vez, o CAT aprovou o conceito nacional de Tecnologia Assistiva, entendendo como sendo esse o mais adequado 9 para a utilização na documentação legal produzida sobre o tema no país e, desde então, o termo passou a ser aplicado nas formações de recursos humanos, nas pesquisas e nos referenciais teóricos brasileiros: A Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. (BRASIL, 2009, p. 9) Portanto, para o CAT, a Tecnologia Assistiva vai além dos artefatos e/ ou produtos que auxiliam a funcionalidade e envolve os serviços, as estratégias, práticas e a aplicação de conhecimentos destinados à promoção da autonomia, participação e inclusão das pessoas com deficiência na sociedade. A oficialização do termo Tecnologia Assistiva pelo CAT levou em consideração a falta de um consenso sobre diferenças conceituais entre os termos pesquisados no referencial teórico internacional, pois os conceitos se assemelhavam, em alguns momentos e, em outros, apresentam diferenças, principalmente na abrangência, pois eram usados para se referir, especificamente, a um artefato apenas ou podem incluir serviços, práticas e metodologias aplicadas ao alcance da ampliação da funcionalidade de pessoas com deficiência. Além disso, o CAT considerou que já havia uma tendência nacional no uso do termo Tecnologia Assistiva no meio acadêmico, nas organizações não governamentais de pessoas com deficiência, nos órgãos governamentais como o MEC e o CNPq e no mercado de produtos da área. Na documentação produzida pelo CAT, indica-se que a expressão Tecnologia Assistiva seja sempre utilizada no singular, por se referir a uma área de conhecimento interdisciplinar que engloba diferentes 10 metodologias e não a uma coleção específica de produtos (BRASIL, 2009). Em 2009, o CAT propôs que os termos Tecnologia Assistiva e ajudas técnicas fossem utilizados como sinônimos, assim a expressão Tecnologia Assistiva seja sempre utilizada no singular, por ser considerada uma área de conhecimento, o que auxiliando a compreensão da amplitude desse conceito (BRASIL, 2009). Na legislação brasileira, ainda é possível encontrar o termo “ajudas técnicas” em textos que tratam das garantias ao cidadão brasileiro com deficiência no acesso aos recursos para a melhoria de suas habilidades funcionais. Esse é o caso do art. 61 do Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, que institui a Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência, onde se encontra a definição de ajudas técnicas como os “produtos, instrumentos, equipamentos ou tecnologia adaptados ou especialmente projetados para melhorar a funcionalidade da pessoa portadora de deficiência” (BRASIL, 2004, p. 15). Outro aspecto importante a ser compreendido sobre a Tecnologia Assistiva, nos âmbitos nacional e internacional, são os significados de recursos e de serviços. Desse modo, entende-se como recurso todo e qualquer item, equipamento ou parte dele, produtos ou sistemas fabricados em série (ou confeccionados sob medida) que são utilizados para aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência (ADA, 1994 apud BERSCH, 2017). Os recursos podem variar de um simples equipamento, como uma bengala a um complexo sistema de equipamentos informatizados, incluem brinquedos e roupas adaptadas, os equipamentos de informática (notebooks e computadores de mesa), os softwares e os hardwares especiais que atendem aos critérios de acessibilidade, os dispositivos para a adequação da postura sentada, os recursos para a mobilidade manual e elétrica, os equipamentos de Comunicação 11 Alternativa e Aumentativa, as chaves e o acionadores especiais, os aparelhos de escuta assistida, os auxílios visuais, os materiais protéticos e as milhares de itens confeccionados e/ou disponíveis comercialmente (BERSCH, 2017). Figura 1 – Recurso: bengala Fonte: kupicoo/iStock.com. Nos serviços estão incluídos todos aqueles que auxiliam, diretamente ou indiretamente, a pessoa com deficiência a selecionar, comprar ou utilizar recursos (ADA, 1994 apud BERSCH, 2017). Por sua vez, os serviços são prestados, profissionalmente, às pessoas com deficiências visando selecionar, obter ou usar um instrumento de tecnologia assistiva e/ ou os que auxiliam diretamente pessoas com deficiências a selecionar, comprar ou utilizar os recursos definidos; as avaliações, experimentação e treinamento de novos equipamentos também são considerados serviços. Os serviços de Tecnologia Assistiva são interdisciplinares e envolvem profissionais de diversas áreas, como Fisioterapia, Terapia ocupacional, Fonoaudiologia, Educação, Psicologia, Enfermagem, Medicina, Engenharia, Tecnologia da Informação, Arquitetura, dentre outras. 12 Os recursos de Tecnologia Assistiva foram classificados em 1988, por Bersch (2017), a fim de corresponder aos avanços na área a que se destina. Essa classificação tem uma finalidade didática e considera a existência de recursos e serviços em cada categoria (BERSCH, 2017): 1. Auxílios para a vida diária e a vida prática: materiais e produtos que favorecem o desempenho com autonomia e independência em tarefas rotineiras e/ou facilitam o cuidado de pessoas em situação de dependência de auxílio, como para se alimentar, cozinhar, se vestir, tomar banho e executar necessidades pessoais. 2. Comunicação alternativa e/ou aumentativa: são os recursos destinados a atender as pessoas sem fala ou sem escrita funcional ou, ainda, em defasagem entre a sua necessidade comunicativa e a habilidade em falar, escrever e/ou compreender. Por exemplo, os cartões de comunicação com símbolos gráficos representativos de mensagens, organizados por categorias de símbolos, em que cada categoria se distingue por apresentar uma cor de moldura diferente: cor de rosa são os cumprimentos e demais expressões sociais. 3. Recursos de acessibilidade ao computador: são os conjuntos de hardware e software idealizados para tornar o computador acessível às pessoas com privações sensoriais do tipo visual e auditiva, intelectual e motor. Inclui os dispositivos de entrada, como os mouses, teclados e acionadores diferenciados, e os dispositivos de saída como sons, imagens e informações táteis. 4. Sistemas de controle de ambiente: é realizado pelo controle remoto por pessoas com limitações motoras que podem ligar, desligar e ajustar aparelhos eletroeletrônicos, como luz, som, televisores, ventiladores, abrir e fechar portas e janelas, receber e fazer chamadas telefônicas, acionar sistemas de segurança, localizados em cômodos da casa e arredores. 5. Projetos arquitetônicos para acessibilidade: são os projetos de edificação e urbanismo que garantem o acesso, a funcionalidade e 13 mobilidade a todas as pessoas, seja qual for a sua condição física e sensorial. São também as adaptações estruturais e as reformas na casa e/ou ambiente de trabalho, por meio de rampas,elevadores, adequações em banheiros, mobiliário entre outras, que retiram ou reduzem as barreiras físicas. 6. Órteses e próteses: define-se como próteses, as peças artificiais que substituem partes ausentes do corpo. As órteses são as peças colocadas junto a um segmento do corpo, garantindo um melhor posicionamento, estabilização e/ou função daquele segmento. Normalmente, elas são confeccionadas sob medida e auxiliam na mobilidade, nas funções manuais de escrita, digitação, utilização de talheres, manejo de objetos para higiene pessoal, na correção postural, entre outros. Figura 2 – Prótese de membro inferior (perna direita) Fonte: JohnnyGreig/iStock.com. 7. Adequação postural: a postura estável e confortável é fundamental para que se consiga um bom desempenho funcional e a realização de qualquer tarefa é difícil quando a pessoa está insegura em relação às quedas ou se sentindo desconfortável. O projeto de adequação postural se relaciona à seleção de recursos 14 que assegure posturas alinhadas e com boa distribuição do peso corporal. 8. Auxílios de mobilidade: a mobilidade pode ser auxiliada por recursos simples como bengalas, muletas, andadores ou com recursos mais complexos como carrinhos, cadeiras de rodas manuais ou elétricas, scooters e qualquer outro veículo, equipamento ou estratégia utilizada na melhoria da mobilidade pessoal. 9. Auxílios para qualificação da habilidade visual e recursos que ampliam a informação a pessoas com baixa visão ou cegas: auxílios ópticos como lentes, lupas manuais e lupas eletrônicas e softwares ampliadores de tela. Material gráfico como texturas e relevos, mapas e gráficos táteis e softwares OCR em celulares para identificação de texto informativo, dentre outros. 10. Auxílios para ampliação da habilidade auditiva e para autonomia na comunicação de pessoas com déficit auditivo, surdez e surdo-cegueira: auxílios que incluem vários equipamentos (infravermelho e FM), aparelhos para surdez, sistemas com alerta táctil-visual, celular com mensagens escritas e chamadas por vibração, software que favorece a comunicação ao telefone celular transformando em voz o texto digitado no celular e em texto a mensagem falada; livros, textos e dicionários digitais em língua de sinais; sistema de legendas (close-caption/subtitles). 11. Adaptações em veículos e em ambientes de acesso ao veículo: acessórios que possibilitam uma pessoa com deficiência física dirigir um automóvel, facilitadores de embarque e desembarque como elevadores para cadeiras de rodas (utilizados nos carros particulares ou de transporte coletivo), rampas para cadeiras de rodas, serviços de autoescola para pessoas com deficiência. 12. Esporte e lazer: recursos que favorecem a prática de esporte e participação em atividades de lazer. 15 1.2 A ABNT e a Tecnologia Assistiva Uma das parceiras mais importantes do CAT na aplicação da Tecnologia Assistiva no Brasil é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), fundada em 1940, uma entidade privada e sem fins lucrativos (ABNT, 2016). A ABNT é a responsável pela padronização das normas brasileiras concebidas aos portadores de deficiências em recursos, como sinalização de piso tátil, plataformas elevatórias e rampas de acesso veicular para pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida, entre outros recursos e adaptações. A ABNT é membro fundadora da Organização Internacional de Normalização (International Organization for Standardization–ISO), que é amplamente usada em vários países. A ISO (International Organization for Standardization, em português, Associação Internacional de Normalização) é uma federação mundial composta por associações nacionais. Ela prepara as normas internacionais executadas pelos comitês técnicos que a compõem, em que cada representante interessado em um assunto para o qual o comitê técnico foi criado tem o direito de estar representado naquele comitê. Organizações internacionais, governamentais e não governamentais, em colaboração com a ISO, também, tomam parte neste trabalho de elaboração de normas (Isso, 2002 apud BRASIL, 2009). No caso da Tecnologia Assistiva, a ISO estabelece uma classificação de produtos assistivos produzidos ou disponíveis para pessoas com deficiência, assim como os produtos assistivos que requerem o auxílio de outra pessoa para sua operação (ISO, 2002 apud BRASIL, 2009). 16 1.3 A inter/multidisciplinaridade nos serviços em TA Um dos aspectos mais importantes da Tecnologia Assistiva é a inter/ multidisciplinaridade nos estudos, a organização e o oferecimento de serviços em TA. Os estudos, a organização e o oferecimento dos serviços da Tecnologia Assistiva têm um forte caráter inter/multidisciplinar, pois esses são resultantes da aplicação dos avanços tecnológicos de áreas de conhecimento já estabelecidas, com a atuação de pesquisadores e profissionais que desenvolvem, fabricam e oferecem serviços específicos para o uso de equipamentos, recursos e/ou estratégias para potencializar as habilidades funcionais das pessoas com deficiência (BRASIL, 2009). Os serviços de Tecnologia Assistiva atuam na avaliação, na seleção de recursos apropriado para cada caso, no treinamento para a utilização do recurso pelo usuário, no acompanhamento durante a implementação da TA em seu contexto de vida real e nas reavaliações e ajustes durante todo o processo. O profissional ou a equipe prestadora de serviços, também, tem como uma de suas atribuições a orientação do usuário quanto ao acesso público e/ou particular aos recursos de TA recomendados por ele ou pela equipe. Portanto, os serviços de TA são, na maioria das vezes, de caráter inter/multidisciplinar, pois envolvem vários profissionais de áreas como Engenharia, Arquitetura, Designer, Medicina, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Educação Especial, Psicologia, Assistência Social, entre outros. A parceria entre esses diferentes especialistas auxilia na busca da resolução de dificuldades das pessoas com deficiência (BRASIL, 2009). A equipe de profissionais envolvidos varia de acordo com as características do serviço, da modalidade de TA a ser orientada e 17 colocada em prática e do local onde a pessoa está inserida, como uma sala de recursos multifuncionais em uma escola, um centro infantil de reabilitação física, uma Universidade com serviço especializado e pesquisa na área da Comunicação Alternativa, um centro formador de paratletas, entre outros. O trabalho desenvolvido em um serviço de TA deve envolver o usuário diretamente, tendo como base o amplo conhecimento do contexto de vida em que se insere, a valorização de suas necessidades funcionais e objetivos pessoais e a identificação de suas habilidades atuais. A equipe de inter/multiprofissionais deve contribuir para a avaliação do potencial global do indivíduo, nas dimensões física, sensorial e cognitiva do usuário, com conhecimento sobre os recursos de TA disponíveis no mercado e/ou que podem ser projetados de acordo com as necessidades particulares da pessoa. Nesse contexto, é importante que o serviço de TA seja voltado à formação do usuário de modo que esse se torne um consumidor consciente, informado e competente no uso do recurso e que ele e seus familiares adquiram as habilidades de: • Definição de problemas, explicitando claramente as dificuldades físicas, sensoriais, de comunicação e/ou cognitivas que se pretende superar. • Participação ativa no processo de seleção do recurso, experimentando várias alternativas tecnológicas, oferecendo informações para a equipe de profissionais com as suas considerações sobre os itens de TA experimentados. O usuário e os familiares devem conhecer profundamente o problema e contexto em que a tecnologia será implementada, pois, essas informações serão essenciais para que a equipe possa definir de forma bem-sucedida a melhor solução em TA para aquele determinado indivíduo. 18 • Definição de soluções, no decorrer da consultoriae quando o usuário adquirir os conhecimentos necessários para estabelecer com a equipe a escolha do melhor tipo de tecnologia que atenderá a sua necessidade problema específica. A participação ativa dos usuários e de familiares no processo de seleção da Tecnologia Assistiva possibilita a tomada de consciência das possibilidades e limitações das tecnologias exploradas no decorrer da avaliação, o que auxilia na decisão sobre o recurso que melhor às necessidades apresentadas pelos usuários. A participação auxilia na compreensão das mudanças de rotina e dos novos desafios que irão ocorrer para todos os envolvidos; o alcance de maior autonomia para o usuário se efetiva quando todos se envolvem no aprendizado e na utilização da TA. Nessa leitura você viu os principais conceitos e definições sobre a Tecnologia Assistiva, um histórico do surgimento desse conceito no mundo e a revisão do termo no contexto nacional pelo Comitê de Ajudas Técnicas, a diferença entre os conceitos de recursos e serviços, a classificação dos recursos e a importância da inter/multidisciplinaridade, a organização e o oferecimento dos serviços em Tecnologia Assistiva. Referências ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Institucional. 2016. Disponível em: http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-abnt. Acesso em: 15 dez. 2020. BERSCH, R. Introdução à tecnologia assistiva. Porto Alegre: Assistiva, 2017. Disponível em http://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf. Acesso em: 26 jan. 2020. BRASIL. Decreto nº 5.296, de 02 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-abnt http://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf 19 Brasília, DF: Presidência da República, [2004]. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm. Acesso em: 15 dez. 2020. BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Brasília, DF: Ministério da Economia, [2000]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l10098.htm. Acesso em: 18 mar. 2021. BRASIL. Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Tecnologia assistiva. Brasília: CORDE, 2009. Disponível em http://www. galvaofilho.net/livro-tecnologia-assistiva_CAT.pdf. Acesso em: 15 dez. 2020. BRASIL. Portaria interministerial nº 362, de 24 de outubro de 2012. Dispõe sobre o limite de renda mensal dos tomadores de recursos nas operações de crédito para aquisição de bens e serviços de Tecnologia Assistiva destinados às pessoas com deficiência e sobre o rol dos bens e serviços. Brasília, DF: Ministério da Economia, [2012]. Disponível em: https://www.gov.br/fazenda/pt-br/acesso-a-informacao/ institucional/legislacao/portarias-interministeriais/2012/portaria-362. Acesso em: 15 dez. 2020. CASTRO, A. S. A.; SOUZA, L. R.; SANTOS, M. C. Proposições Teóricas para a inclusão da tecnologia assistiva no currículo escolar da Educação Básica. 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A Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA): definição e objetivos Neste tema, você conhecerá a Comunicação Alternativa e Aumentativa, que são as formas de comunicação que utilizam língua de sinais, expressões gestuais e faciais, recursos de Tecnologia Assistiva como pranchas de alfabetização com símbolos pictográficos e softwares para diminuir o distanciamento e o sentimento de desamparo das pessoas com deficiência de comunicação e estimular a sua interação com os demais integrantes de uma conversação ou diálogo: o falante e o ouvinte (GLENNEN, 1997). Segundo Miranda e Gomes (2004), a Comunicação Alternativa e Aumentativa diz respeito aos meios de comunicação cujo objetivo seja a suplementação ou a substituição das capacidades de comunicação, por meio da verbalização ou da escrita, e que se estão comprometidas total ou parcialmente em alguns indivíduos. De acordo com Pelosi (2000), a Comunicação Alternativa e Aumentativa começou a ser utilizada na cidade de São Paulo, no final da década de 1970, na Associação Educacional Quero-Quero, que reunia uma escola especial e um centro de reabilitação, utilizando um sistema de comunicação canadense denominado Sistema BLISS. No Rio de Janeiro, a divulgação da Comunicação Alternativa e Aumentativa nas escolas municipais se deu a partir de 1994, por meio de cursos ministrados aos professores itinerantes que acompanhavam os alunos com Paralisia Cerebral e através das pesquisas realizadas no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (NUNES; PELOSI; GOMES, 2007). Após esse período, há um interesse crescentepela área para o uso como recurso e estratégias de ensino para implementação e desenvolvimento da linguagem alternativa. 22 Portanto, nesta leitura você conhecerá os recursos mais conhecidos no contexto escolar para a Comunicação Aumentativa e Alternativa, pois existe uma variedade muito ampla de recursos disponíveis para essa Tecnologia Assistiva. 1.1 A Comunicação Aumentativa e Alternativa: os recursos para o contexto escolar Você deve saber que muitos alunos atendidos no contexto escolar apresentam alterações na fala e/ou na escrita, seja devido às dificuldades motoras, cognitivas, emocionais ou outros fatores. As barreiras para a comunicação falada e escrita afetam a funcionalidade e impedem que esses alunos possam expressar seus conhecimentos, necessidades e sentimentos, sendo comum que as pessoas conhecidas desses alunos acreditem que essas restrições de comunicação os impossibilitem de conhecer, aprender, gerenciar a sua própria vida e de serem autores de sua própria história. Esse é o caso, por exemplo, dos alunos com Paralisia Cerebral sem comunicação, dos alunos com surdocegueira, dos que possuem deficiência intelectual e de outros casos em que há limitações na comunicação com os pares ou quando os indivíduos se tornam mais passivos e dependentes da atenção de adultos. O uso da Comunicação Alternativa e Aumentativa, também, se aplica às pessoas com TEA que apresentam ausência ou dificuldades no usa da fala. Segundo Togashi e Walter (2016), pesquisas sobre o uso da Comunicação Alternativa e Aumentativa com pessoas com TEA vêm apresentado uma melhora significativa no desenvolvimento da comunicação e da linguagem dessa população. 23 Nesses e em outros casos, parece ser comum que as famílias, os cuidadores, os amigos e os professores tenham uma tendência a antecipar e atendam às necessidades dessas pessoas. Além disso, uma decorrência comum da dificuldade de expressar os sentimentos e necessidades é o comportamento agressivo ou a rejeição do conhecimento, pois quando estão compreendendo o que ocorre ao redor, eles não conseguem comunicar os seus sentimentos e opiniões a respeito disso, o que os leva à frustração e à agressividade. Com isso, alunos com barreiras na comunicação, em algumas situações, não participam de atividades com educacionais que envolvem a fala e escrita, porque não são todos os professores conhecem estratégias e alternativas de comunicação para poder adaptar as atividades e os incluir. Logo, para possibilitar que esses alunos tenham condições para expressarem as suas habilidades, sentimentos, dúvidas e necessidades, é necessário pesquisar e construir maneiras de compreender recursos, técnicas e estratégias de comunicação para saber como estão processando e construindo conhecimentos. A área da Tecnologia Assistiva que se destina especificamente à ampliação de habilidades de comunicação das pessoas sem fala, sem escrita funcional ou em defasagem de comunicação, devido às dificuldades para falar e/ou escrever denominada de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA). De acordo com a definição de Bersch e Schimer (2005), a Comunicação Aumentativa e Alternativa é uma das áreas da Tecnologia Assistiva que atende as pessoas com barreiras na comunicação, ou seja, sem fala ou escrita funcional ou em defasagem entre a sua necessidade comunicativa e habilidade em falar e/ou escrever. 24 Os objetivos da CAA são: valorizar as formas de expressão do sujeito e de metodologias para construir e ampliar as vias de expressão e compreensão, por meio de recursos variados como pranchas de comunicação com simbologia gráfica, letras e/ou palavras escritas, utilizados para a pessoa expressar os seus questionamentos, desejos, sentimentos e compreensões. A Comunicação Aumentativa e Alternativa, portanto, viabiliza recursos como as pranchas de comunicação construídas com simbologia gráfica, letras e/ou palavras escritas, utilizados pelo usuário para expressar os seus questionamentos, desejos, sentimentos e compreensões. Os meios de comunicação derivados do uso de gestos e de expressões faciais, figuras e símbolos são empregados de forma substitutiva e/ou suplementar para o apoio à fala e para ajudar a desenvolver, se possível, a linguagem oral (NUNES; PELOSI; GOMES, 2007). Entre essas formas expressivas temos os gestos e expressões faciais que denotam as ideias de sim, não, olá, tchau, dinheiro, banheiro, “estou bem”, “tenho dor”, quero (determinada coisa para a qual estou apontando), dentre outras expressões usadas no cotidiano. Dessa forma, a tecnologia avançada permite a utilização de vocalizadores em pranchas com produção de voz sintetizada e o computador com softwares específicos, garantindo mais eficiência na função comunicativa. Assim, os dispositivos e sistemas de Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) permitem uma comunicação significativa e com mais funcionalidade no contexto socioafetivo. Para ampliar o repertório comunicativo que envolve as habilidades de expressão e compreensão, pode-se organizar e construir recursos como cartões e pranchas de comunicação, pranchas alfabéticas e de palavras, vocalizadores e/ou o próprio computador como ferramenta de voz e comunicação. 25 Os recursos para a comunicação de cada pessoa devem ser construídos de forma personalizada, tendo em conta as características que atendem às necessidades daquele usuário. 1.2 O Vocabulário e os Símbolos Gráficos na CAA Nesse contexto, consideram-se como símbolos gráficos imagens que são organizadas por categorias e que possibilitam a expressão de ideias, sentimentos, ações, objetos, lugares, pessoas, temas, dentre outras possibilidades de representação para os alunos. Ao apontar para um determinado símbolo gráfico, o aluno escolhe e expressa a mensagem que deseja comunicar naquele determinado momento e contexto. Desse modo, os sistemas simbólicos conhecidos e aplicados internacionalmente são denominados como BLISS, PIC e PCS, dentre outros. Cada um dos sistemas possui características distintas e corresponde mais adequadamente à uma necessidade específica do aluno/usuário, em particular, como o exemplo na figura a seguir. 26 Figura 1 – Sistemas simbólicos BLISS, PCS e PIC para recursos de Comunicação Alternativa e Aumentativa Fonte: Bersch e Sartoretto (2010, p. 23). No Brasil, o sistema simbólico mais utilizado é o PCS (Picture Communication Symbols), que pode ser traduzido como “símbolos de comunicação pictórica”. Uma das características mais importante do PCS como sistema simbólico é a sua transparência, isto é, a capacidade de apresentar imagens que são facilmente reconhecidas por crianças e adultos, além da grande quantidade de símbolos disponíveis, tanto formato colorido como preto e branco, e a ampla representação de expressões mais abstratas. As pranchas de comunicação com símbolos PCS coloridos contém várias expressões sociais utilizadas para cumprimentar, fazer perguntas e outras imagens que representam sentimentos como feliz, triste, com frio, calor e doente. Na parte inferior da prancha estão os símbolos representativos de tempo verbal (passado, presente e futuro). O aluno, ao associar os 27 últimos símbolos aos demais existentes na prancha, poderá expressar se o conteúdo da sua comunicação está acontecendo, aconteceu ou irá acontecer, conforme a Figura 2. Figura 2 – Prancha com símbolos PCS na versão colorida Fonte: Bersch e Sartoretto (2020, [s.p.]). Na escolha do sistema simbólico do recurso de comunicação é muito importante que o próprio aluno/usuário dê a sua opinião sobre sistema a ser selecionado, pois ele pode manifestar desinteresse por sistemas com imagens mais infantis e/ou de difícil reconhecimento. Além disso, existem alternativas de acesso aos bancos de imagens que podem servir para a criação dos recursos de CAA, como fotografias digitais, escaneamento e digitalização de imagens, biblioteca de figuras ou fotos capturadas em clipartes ou na Internet.As pranchas ainda podem ser feitas sem o uso de símbolos, se essa for a opção do aluno/usuário e, nesse caso, podem ser utilizadas letras e palavras escritas, como é o caso da Figura 3. 28 Figura 3 – Prancha de comunicação alfabética Fonte: Bersch e Sartoretto (2020, [s.p.]). A escolha dos símbolos gráficos, seja qual for a fonte para a sua obtenção, deve ser feita junto com o aluno/usuário ou referendada por ele. Nesse sentido, é essencial que, somente a partir dessa aprovação por parte do aluno/usuário, os símbolos sejam padronizados. Ou seja, se você escolher juntamente com um aluno uma determinada imagem para representar a expressão “família”, essa imagem será ser sempre aplicada toda vez que for construir para uma prancha e incluir a palavra “família” e, se tratando de um mesmo usuário, não se deve usar símbolos diferentes para a mesma expressão. Para os alunos com dificuldades visuais, deve-se usar sistema de símbolos que valorize o contraste de cores preto e branco ou amarelo e preto e para alunos cegos e surdocegos que tenham impedimentos de comunicação, os símbolos gráficos não são indicados. Nesses casos é melhor usar sistemas simbólicos para a confecção das pranchas, como símbolos com textura, com a escrita Braille, miniaturas, partes de objetos ou objetos, como você pode observar a figura a seguir. 29 Figura 4 – Prancha de comunicação com miniaturas de frutas Fonte: Bersch e Sartoretto (2010, p. 27). 1.3 Outros recursos de comunicação Os recursos de comunicação são diversos e variam no formato, tamanho, quantidade de mensagens material utilizado para a confecção (BERSCH; SARTORETTO, 2010) O projeto e a construção de recursos devem considerar as habilidades motoras, sensoriais (visuais e auditivas) e cognitivas do aluno/ usuário, sua portabilidade e praticidade de utilização. Por exemplos, os recursos de comunicação os cartões, as pranchas, as pastas, as carteiras e chaveiros de comunicação, a mesa com prancha, o colete de comunicação, a agenda de comunicação, o calendário e os quadro de atividades, os cartões de comunicação devem ser confeccionados com um vocabulário diversificado e estar à disposição do aluno/usuário e de seus colegas de comunicação. 30 Figura 5 – Cartões de comunicação sobre um arquivo de símbolos Fonte: Bersch e Sartoretto (2020, [s.p.]). O ideal é que, em sala de aula, os cartões possam ser acessados e organizados rapidamente, para que o aluno possa agir e comunicar os temas necessários à medida em que são estão sendo trabalhados pelo grupo. Concluindo, você pode ver como a CAA é importante na vida das pessoas com dificuldade de comunicação e como todos os métodos alternativos que auxiliam na melhoria da interação entre professores e alunos com deficiências e comprometimentos. Nesse caso, a comunicação é de extrema importância, pois fazem com que esses alunos sejam inclusos e as barreiras de comunicação existentes possam ser eliminadas. No caso da CAA, os alunos que não falam e/ou não usam a escrita funcional, poderão expor as suas ideias pensamentos e sentimentos, ao usarem os recursos adaptados para os meios nos quais estão inseridos. 31 Referências BERSCH, R. C. R.; SARTORETTO, M. L. Assistiva: tecnologia e educação, c2020. O que é comunicação alternativa. Disponível em: https://www.assistiva.com.br/ca.html. Acesso em: 17 fev. 2021. BERSCH, R. C. R.; SARTORETTO, M. L. Recursos pedagógicos acessíveis e a comunicação aumentativa e alternativa. Brasília: Ministério da Educação, 2010. v. 6. (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar). Disponível em: https://www.udesc.br/arquivos/faed/id_cpmenu/4477/ fasciculo_6_15841022072542_4477.pdf Acesso em: 27 dez. 2020. BERSCH, R.; SCHIRMER, C. R. Tecnologia assistiva no processo educacional. In: BLANCO, R. et al. Ensaios pedagógicos: construindo escolas inclusivas. Brasília: MEC/SEESP, 2005. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ ensaiospedagogicos.pdf. Acesso em: 27 dez. 2020. GLENNEN, S. L. Augmentative and alternative communication assessment strategies. In: GLENNEN, S. L.; DECOSTE, D. C. (orgs.). The handbook of augmentative and alternative communication. Califórnia: Singular Publishing Group, 1997. p. 149- 192. MIRANDA, L. C.; GOMES, I. C. D. Contribuições da comunicação alternativa de baixa tecnologia em paralisia cerebral sem comunicação oral: relato de caso. Revista CEFAC, São Paulo, v. 6, n. 3, p. 247-252, jul./set. 2004. Disponível em: http://atividadeparaeducacaoespecial.com/wp-content/uploads/2014/09/ comunica%C3%A7%C3%A3o-alternativa-para-paralisados-cerebrais.pdf. Acesso em: 18 mar. 2021. NUNES, L. R. O. P.; PELOSI, M. B.; GOMES, M. (orgs.). Um retrato da comunicação alternativa no Brasil: relatos de pesquisas e experiências. Rio de Janeiro: Quatro Pontos/FINEP, 2007. PELOSI, M. B. A comunicação alternativa e ampliada nas escolas do Rio de Janeiro: Formação de professores e caracterização dos alunos com necessidades Educacionais especiais. 2000. 225f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000. TOGASHI, C. M.; WALTER, C. C. de F. As contribuições do uso da comunicação alternativa no processo de inclusão escolar de um aluno com transtorno do espectro do autismo. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v. 22, n. 3, p. 351-366, set. 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttextepid=S1413-65382016000300351elng=enenrm=iso. Acesso em: 5 fev. 2021. https://www.assistiva.com.br/ca.html https://www.udesc.br/arquivos/faed/id_cpmenu/4477/fasciculo_6_15841022072542_4477.pdf https://www.udesc.br/arquivos/faed/id_cpmenu/4477/fasciculo_6_15841022072542_4477.pdf http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ensaiospedagogicos.pdf http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ensaiospedagogicos.pdf http://atividadeparaeducacaoespecial.com/wp-content/uploads/2014/09/comunica%C3%A7%C3%A3o-alternativa-para-paralisados-cerebrais.pdf http://atividadeparaeducacaoespecial.com/wp-content/uploads/2014/09/comunica%C3%A7%C3%A3o-alternativa-para-paralisados-cerebrais.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382016000300351&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382016000300351&lng=en&nrm=iso 32 Tecnologias Assistivas e Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na educação Autoria: Juliana Zantut Nutti Leitura crítica: Nancy Capretz Batista da Silva Objetivos • Apresentar orientações sobre o uso o uso de recursos de Tecnologia Assistiva e de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na educação. • Apresentar alguns recursos de acessibilidade para dispositivos móveis (smartphones que utilizam o sistema operacional Android) e que podem ser utilizados como Tecnologia Assistiva. • Apresentar alguns recursos de acessibilidade para computadores como dispositivos de entrada (mouses e teclados adaptados) e saída de dados e os recursos de acessibilidade do software Windows. 33 1. Orientações gerais sobre o uso de Tecnologia Assistiva e Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na educação Nesta aula, você aprenderá mais sobre as orientações sobre o uso de recursos de Tecnologia Assistiva e de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na educação e o uso de recursos de acessibilidade para dispositivos móveis (smartphones) e para o computador. A Tecnologia Assistiva e as Tecnologias de Informação e Comunicação (comumente chamadas de TICs) são valiosos instrumentos para inclusão e interação das pessoas com deficiências e necessidades educacionais especiais na sociedade. Assim, de acordo com Rodrigues (2012), as Tecnologias de Informação e Comunicação são diversificadas e incluem os recursos tecnológicos como os computadores e as ferramentas existentes na Internet, como os chats e correios eletrônicos, as imagens, vídeos e rádios digitais, a telefonia móvel,o wi-fi, websites e home pages, os ambientes virtuais de aprendizagem para o ensino a distância, dentre outros. A presença das TICs é quase absoluta em nossa sociedade, sendo quase impossível que o professor possa ignorá-las no contexto escolar e evitar o seu uso nas práticas pedagógicas. Assim como a Tecnologia Assistivas, as TICs podem ser incorporadas no processo de ensino-aprendizagem como recursos didáticos, não só para que o aluno seja capaz de obter informações, mas para criar, relacionar, inferir e expressar ideias e conhecimentos. Além disso, segundo Rodrigues (2012), as TICs podem ampliar as possibilidades de interação e a comunicação entre os membros da comunidade escolar, com a vantagem de individualizar o ensino, respeitando o ritmo e o tempo de realização de atividade de cada aluno; 34 flexibilizar o uso de canais sensoriais distintos; avaliar a aprendizagem de forma contínua e dinâmica; possibilitar a auto avaliação e a manutenção da atividade/exercício; estimular a motivação, pelo uso de temas, cores, figuras, formas variadas que atendem aos interesses dos alunos de diferentes maneiras, entre outras vantagens. Ainda de acordo com Rodrigues (2012, p. 36), destacamos alguns exemplos do uso inclusivo das TICs: 1. A existência de modelos que incentivam a comunicação entre os alunos como a Intranet, o Facebook, as plataformas de e-learning tipo Moodle, etc.; 2. A utilização de quadros interativos e meios informáticos para a apresentação das aulas, que permitem que os alunos utilizem apresentações que poderão usar em variados contextos, dentro e fora da sala de aula e da escola; 3. Os meios disponíveis de armazenamento, acesso e troca de documentação como o Drop Box, que proporciona possibilidades acrescidas de colaboração entre os alunos, mesmo em espaços e tempo não escolares. 4. O acesso de alunos aos meios informáticos, computadores e meios de comunicação, como os smartphones (telefones celulares com ligação à Internet) que permitem uma base de comunicação que pode ser usada para o desenvolvimento de ambientes inclusivos. Porém, é importante ressaltar que uma tecnologia somente será assistiva quando for utilizada pelos alunos para superar os obstáculos sensoriais, motores, comunicativos e/ou cognitivos que os impedem de acessar informações, registrar e expressar os seus conhecimentos e experiências, facilitando o seu acesso e a participação nos projetos pedagógicos e na manipulação de objetos de aprendizagem ou, ainda, quando a participação dos alunos é prejudicada pela ausência daquela tecnologia. 35 Portanto, você somente poderá chamar uma tecnologia como assistiva, se as ferramentas tecnológicas existentes puderem ser utilizadas na sala de aula regular e/ou no Atendimento Educacional Especializado, pelos os alunos atendidos por esse serviço nas escolas para reduzir os obstáculos que possuem para aprendizagem e interação. No entanto, de acordo com García Cué (2006), é indispensável que o atendimento às especificidades desses alunos esteja sempre vinculado aos componentes curriculares das séries que estão matriculados, de modo que aprendizagem não se torne apenas uma proposta de correção, ajustamento e adaptação, em uma perspectiva médica. A definição adequada da Tecnologia Assistiva e de outras tecnologias que serão oferecidas pelos educadores nas salas regulares e no Atendimento Educacional Especializado. Ela deve ser feita de acordo com critérios listados a seguir, nos parâmetros propostos por Bersch (2013): • Aluno/usuário: deve-se consultar o aluno/usuário sobre os recursos que serão utilizados, de forma clara e objetiva, a fim de identificar os problemas a serem resolvidos, ampliar a sua participação e o alcance dos objetivos pretendidos. As habilidades e dificuldades globais do aluno no uso das tecnologias devem ser observadas. • Contexto: deve ser analisado o contexto em que os recursos serão utilizados e se há acessibilidade ambiental e de comunicações, conhecimento e capacidade de aplicação dos recursos por parte da equipe. Além de saber qual será o tempo disponível para a utilização dos recursos no contexto, como no caso do AEE, na sala regular e outros espaços da escola e se esse tempo é o suficiente. • Tarefa: deve-se considerar como as tarefas estão planejadas e que tipo de participação possibilitam ao aluno, pois a tecnologia tem como objetivo a ampliação dessa participação, a fim de que o 36 aluno com deficiência realize as mesmas atividades com todos os colegas. Após essas considerações, o professor deverá experimentar as opções de Tecnologia Assistiva e de recursos de tecnologias disponíveis para o aluno no contexto e como podem ser aplicadas. 1.1 Recursos de acessibilidade para dispositivos móveis Neste tópico, você aprenderá um pouco mais sobre os recursos para acessibilidade em dispositivos móveis, como smartphones. Nos dispositivos móveis, como os celulares tipo smartphones, as opções de acessibilidade podem variar de acordo com o dispositivo e, aqui, especificamente, iremos abordar os recursos para os celulares que utilizam o sistema operacional Android. Há algumas configurações de acessibilidade do Android que são encontradas em qualquer tipo aparelho, como o TalkBack, tamanho da fonte, entre outros, e outras são menos conhecidas, como a criação de tema escuro para o aparelho, como você pode ver na Figura 1: 37 Figura 1 – Opções de acessibilidade para smartphones com sistema Android Fonte: captura de tela Android. Você conhece o TalkBack? Essa é uma boa opção para as pessoas que não podem enxergar muito bem. Além disso, você também pode usá-lo se sua tela estiver com problemas de imagem, mas ainda reaja ao toque. Ao ativar essa opção, tudo o que for clicado será primeiro lido em voz alta, após dois cliques na tela. As opções adicionais do TalkBack são variadas e de acordo com as necessidades do usuário; um exemplo é o recurso que inicia a leitura ao se balançar o aparelho e reduz o som dos outros áudios ao falar. O Selecionar Para Ouvir também funciona de forma semelhante a esse recurso. A Figura 2, a seguir, mostra alguns recursos do TalBack. 38 Figura 2 – Recursos do TalkBack Fonte: captura de tela TalkBack. A Conversão de texto em voz é, provavelmente, o recurso de acessibilidade mais conhecido dos aparelhos smartphone que operam com o sistema Android. Para ter esse recurso ativado é preciso fazer o download do pacote para a Língua Portuguesa e procurar os aplicativos compatíveis, solicitando a leitura em voz, que pode ter tom e velocidade ajustados. Esse recurso é muito útil para quando você não pode ou não quer segurar o smartphone ou quando não puder olhar para o aparelho. 39 Figura 3 – Conversão de texto em voz Fonte: captura de tela Android. 1.2 Recursos de acessibilidade para computadores Sobre os recursos de acessibilidade para computadores, há diversos dispositivos de hardware e software que auxiliam o acesso de pessoas com deficiências visuais, auditivas, intelectuais e/ou motoras. Nessa categoria, de acordo com Bersch (2013), encontram-se os mouses adaptados e diferenciados, os teclados virtuais com varreduras e acionadores e dispositivos de entrada e saída de dados que produzem sons, imagens e informações táteis. Sobre os mouses especiais, há diferentes tipos de mouses, com vários formatos, onde o direcionamento do cursor pode ser feito com joystick ou por manuseio de bola colocada sobre o mouse e os botões de ativação do clique e da tecla direita são dispostos no próprio mouse, como você pode observar na figura a seguir. 40 Figura 4 – Mouses com formatos diferenciados Fonte: Sartoretto e Bersch (2010, p. 16). Em relação aos teclados especiais, há opções como o teclado de tamanho reduzido com acessório de uma caneta utilizada para facilitar a digitação e seu o objetivo é possibilitar aos alunos com diminuição na amplitude de movimento e pouca força muscular a realização de atividades no computador.Figura 5 –Teclado reduzido com caneta Fonte: Sartoretto e Bersch (2010, p. 16). 41 Como dispositivos de entrada de dados existem, ainda, os softwares de Comunicação Alternativa com reconhecimento de voz, os dispositivos que valorizam os movimentos de cabeça, os movimentos de olhos, as ondas cerebrais (pensamento), as órteses fixas ou moldáveis para a digitação. É o caso do teclado convencional e da órtese moldável. Na Figura 6, você pode ver um aluno digitando em teclado convencional utilizando uma órtese moldável, ajustada e fixada à sua mão. Na ponta da órtese, no local que se toca as teclas, existe uma ventosa de borracha que possibilita a aderência do recurso à tecla. Figura 6 –Teclado convencional com órtese moldável Fonte: Sartoretto e Bersch (2010, p. 15). Os dispositivos de saída de dados do computador são, dentre outros, os softwares leitores de tela, de ajustes de cores e tamanhos das informações (efeito lupa), os leitores de texto impresso (OCR), as impressoras Braile e de impressão em relevo (BERSCH, 2013). Os softwares de acessibilidade dos computadores são os programas especiais que possibilitam a interação do aluno com deficiência com a máquina. Os próprios softwares possuem recursos mais úteis e 42 facilmente disponíveis, porém, às vezes desconhecidos dos usuários como as “Opções de Acessibilidade” do sistema operacional Windows, que estão disponíveis através do Iniciar–Configurações–Painel de Controle–Opções de Acessibilidade. Entre essas opções, você verá que existe a possibilidade de que o usuário ative o recurso Narrador para que uma voz leia o conteúdo da tela, com uma voz masculina ou feminina, com velocidades diferentes e com tipos de conteúdos a serem narrados, conforme ilustrado na Figura 7. Figura 7 – Recurso de Acessibilidade Narrador Fonte: captura de tela Windows. Além disso, temos o recurso Alto Contraste que facilita a visualização do conteúdo para as pessoas com deficiências visuais, permitindo o uso de vários temas de alto contraste, como você pode ver na figura a seguir. 43 Figura 8 – Recurso de Acessibilidade Alto Contraste Fonte: captura de tela Windows. Por meio desses e de outros recursos disponíveis no software do sistema Windows, diversas modificações podem ser feitas nas configurações do computador, de forma que se adapte às diferentes necessidades dos alunos com deficiências, especialmente os com deficiências auditivas e visuais. De modo geral, os computadores podem ser empregados por todos os alunos, com ou sem deficiências, mas, seja qual for a sua necessidade, requerem atenção e planejamento por parte do professor, considerando-se sempre as diferenças existentes entre as TIC e a Tecnologia Assistiva não educacional. 44 Referências BERSCH, R. Recursos pedagógicos acessíveis: tecnologia assistiva (TA) e processo de avaliação nas escolas. Porto Alegre: Assistiva, 2013. Disponível em: http://www. assistiva.com.br/Recursos_Ped_Acessiveis_Avaliacao_ABR2013.pdf. Acesso em: 12 jan. 2021. SARTORETTO, M. L.; BERSCH, R. C. R. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar. Recursos pedagógicos acessíveis e a comunicação aumentativa e alternativa. Brasília: Ministério da Educação, 2010. v. 6. (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar). Disponível em: https://www.udesc.br/arquivos/ faed/id_cpmenu/4477/fasciculo_6_15841022072542_4477.pdf. Acesso em: 12 jan. 2021. GARCÍA CUÉ, J. L. 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Acesso em: 12 jan. 2021. http://www.assistiva.com.br/Recursos_Ped_Acessiveis_Avaliacao_ABR2013.pdf.%20 http://www.assistiva.com.br/Recursos_Ped_Acessiveis_Avaliacao_ABR2013.pdf.%20 https://www.udesc.br/arquivos/faed/id_cpmenu/4477/fasciculo_6_15841022072542_4477.pdf https://www.udesc.br/arquivos/faed/id_cpmenu/4477/fasciculo_6_15841022072542_4477.pdf https://www.marilia.unesp.br/Home/Publicacoes/as-tecnologias-nas-praticas_e-book.pdf https://www.marilia.unesp.br/Home/Publicacoes/as-tecnologias-nas-praticas_e-book.pdf https://www.marilia.unesp.br/Home/Publicacoes/as-tecnologias-nas-praticas_e-book.pdf 45 Atendimento Educacional Especializado e Sala de Recursos Multifuncionais Autoria: Juliana Zantut Nutti Leitura crítica: Nancy Capretz Batista da Silva Objetivos • Conhecer os principais objetivos e características do Atendimento Educacional Especializado, realizado nas Salas de Recursos Multifuncionais. • Identificar os aspectos sobre o Plano de Desenvolvimento Individual para o Atendimento Educacional Especializado da população-alvo a ser atendido por esse serviço. • Apresentar as exigências de formação e as diretrizes para a atuação do professor do Atendimento Educacional Especializado, assim como os desafios para o trabalho pedagógico em uma perspectiva inclusiva, na Sala de Recursos Multifuncionais e na sala de aula do ensino regular. 46 1. O Atendimento Educacional Especializado e a Sala de Recursos Multifuncionais: objetivos e população–alvo do AEE Neste tema, você aprenderá sobre o Atendimento Educacional Especializado realizado nas Salas de Recursos Multifuncionais, suas principais características, objetivos, aspectos gerais sobre metodologias, recursos pedagógicos e Tecnologia Assistiva para a população–alvo a ser atendido por esse serviço. Além disso, abordaremos sobre a formação, as atribuições e os desafios do professor do AEE e do ensino regular na educação inclusiva. O Atendimento Educacional Especializado (AEE) faz parte da política de educação inclusiva brasileira, aprovado, inicialmente, pelo Decreto no 6.571, de 17 de setembro de 2008, e revogado, posteriormente, pelo Decreto no 7.611, e 17 de novembro de 2011. Os serviços do Atendimento Educacional Especializado se definem como um conjunto de atividades, de recursos pedagógicos e de acessibilidade organizados de forma institucional e contínua, que devem ser prestados de forma a complementar a formação dos alunos que fazem parte da população alvo da Educação Especial, na modalidade de apoio permanente e/ou limitado dos alunos às Salas de Recursos Multifuncionais e/ou suplementar a formação de estudantes com Altas Habilidades/Superdotação (BRASIL, 2011) A população-alvo do Atendimento Educacional Especializado, realizado nas Salas de Recursos Multifuncionais, são os alunos com deficiência, com Transtornos Globais do Desenvolvimento (Transtorno do Espectro Autista, Síndrome de Rett e psicose infantil, dentre outros) e com Altas Habilidades/Superdotação (AH/S) http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%207.611-2011?OpenDocument 47 De acordo com o Decreto no 7.611, de 17 de novembro de 2011 (BRASIL, 2011), os objetivos do Atendimento Educacional Especializado são: • Prover as condições de acesso, de participação e de aprendizagem no ensino regular. • Garantir serviços de apoio especializados, de acordo com as necessidades individuais dos alunos. • Garantir a transversalidade de ações da Educação Especial no ensino regular. • Fomentar o desenvolvimento dos recursos didáticos e pedagógicos capazes de eliminar as barreiras existentes no processo de ensino e aprendizagem dos alunos. • Assegurar as condições para a continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino (BRASIL, 2011). Portanto, o objetivo geral do AEE não é substituir a educação no ensino regular, mas oferecer um trabalho conjunto com esse ensino, para possibilitar o desenvolvimento daspotencialidades da população-alvo desse serviço. Nesse sentido, é importante ressaltar que (BRASIL, 2009; 2011): • O Atendimento Educacional Especializado se refere ao que é diferente do que é oferecido na educação regular e ao que é necessário para atender às especificidades dos alunos que fazem parte da população-alvo, complementando a educação escolar, disponibilizada em todos os níveis de ensino. • É um direito de todos os alunos que necessitarem dessa complementação e deve ser aceito pelos seus pais ou responsáveis e pelo próprio aluno. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%207.611-2011?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%207.611-2011?OpenDocument 48 • O atendimento deverá ocorrer, prioritariamente, nas unidades escolares, comuns ou especiais, devidamente autorizadas e regidas pela LDB nº 9.394 (BRASIL, 1996). O Atendimento Educacional Especializado pode ser oferecido fora da rede regular de ensino, pois é um complemento do ensino ministrado na escola comum para todos os alunos. • Esse atendimento deverá ser oferecido em horários distintos das aulas das escolas comuns, com outros objetivos, metas e procedimentos educacionais. • Os professores que atuam no Atendimento Educacional Especializado devem ter formação em Pedagogia e formação específica para atuação com a deficiência a que se propõe a atender, e eles não substituem as funções do professor responsável pela sala de aula das escolas regulares com alunos com deficiência incluídos. 1.1 O Plano de Desenvolvimento Individual para o Atendimento Educacional Especializado de alunos com deficiência auditiva, física, intelectual e visual As ações do Atendimento Educacional Especializado devem ser definidas conforme o tipo de deficiência que se propõe a atender. Por exemplo, para alunos com deficiência auditiva, deve-se implementar o ensino da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) de Português como segunda língua; para os alunos com deficiência visual, o ensino do código “Braille”, de mobilidade e locomoção, ou o uso de recursos de informática, entre outros (BRASIL, 2009). Assim, o Plano de Desenvolvimento Individual para o Atendimento Educacional Especializado de alunos com deficiência deve ser feito de acordo com as necessidades e potencialidades do aluno, respeitando 49 as diretrizes estabelecidas para o atendimento para cada tipo de deficiência. O trabalho pedagógico com alunos com deficiência auditiva e surdez, nas escolas regulares, deve ser realizado a partir da comunicação bilíngue, isto é, utilizando-se Língua de Sinais e Língua Portuguesa concomitantemente. Esse tipo de Atendimento Educacional Especializado deve ser planejado e desenvolvido pelos professores que ministram aulas em Libras, na classe regular, assim como de Língua Portuguesa, para pessoas com surdez (BRASIL, 2007a). O planejamento para as aulas em Libras deve levar em consideração a necessidade de se pesquisar termos científicos do conteúdo a ser estudado, ampliando e aprofundando o vocabulário. Em seguida, todos os professores devem selecionar e elaborar os recursos didáticos para o Atendimento Educacional Especializado em Libras e em Língua Portuguesa, pensando nas diferenças entre os alunos com surdez e nos momentos didáticos-pedagógicos. O Atendimento Educacional Especializado em Libras deve oferecer a base conceitual da língua e do conteúdo curricular estudado na sala de aula regular, favorecendo o aluno com deficiência auditiva. Por sua vez, os professores devem utilizar imagens visuais e, se o conceito for muito abstrato, como no caso de ideia, recorrer a outros recursos, como a dramatização. Os recursos didáticos utilizados na sala de aula regular para a compreensão dos conteúdos curriculares também devem ser utilizados no Atendimento Educacional Especializado em Libras (BRASIL, 2007a). Os aspectos que devem ser observados por todos que atuam direta ou indiretamente trabalham com alunos com surdez são: sociabilidade, cognição, linguagem (oral, escrita e viso espacial), afetividade, motricidade, aptidões, interesses, habilidades e talentos. 50 Sobre a deficiência física, encontram-se vários alunos com esse tipo de deficiência na escola. Portanto, é essencial que os professores do AEE conheçam os quadros de cada um dos alunos com deficiência física e diferenciar as lesões neurológicas não evolutivas (paralisia cerebral ou traumas medulares) dos casos progressivos (distrofias musculares ou tumores do Sistema Nervoso), pois, nesses casos, há a possibilidade das limitações da pessoa diminuírem quando são introduzidos recursos e estimulações específicas; enquanto, nos casos de quadros progressivos, se espera o aumento das limitações e incapacidades funcionais (BRASIL, 2007b). Há, ainda, casos em que estão associadas privações sensoriais visuais ou auditivas, à deficiência intelectual e Transtorno do Espectro Autista, o que implica que o educador deva conhecer essas situações de forma a propor um Atendimento Educacional Especializado mais adequado. Além disso, existe a associação entre a deficiência física e as limitações de comunicação, especialmente no caso de alunos com paralisia cerebral, pois, o tônus muscular alterado pode alterar a fala ou torná-la ausente, o que faz com que a avaliação cognitiva desse aluno seja mais complexa, levando à necessidade do uso de Comunicação Aumentativa e Alternativa. No caso de alunos com deficiência intelectual, a escolarização desses alunos é um assunto polêmico, em razão dela ainda ser realizada em um contexto indefinido, devido à falta de clareza sobre o conceito de deficiência intelectual e à indeterminação sobre a intervenção específica para esses alunos nas escolas regulares, pois, a Educação Especial manteve, por muito tempo, práticas adaptativas e não inclusivas, limitando o trabalho desenvolvido nessa modalidade ao chamado “treino”, nos quais os alunos eram subdivididos nas categorias educacionais como treináveis e educáveis, limítrofes e dependentes. 51 Atualmente, entende-se que o Atendimento Educacional Especializado deve criar condições para que eles sejam capazes de alcançarem o nível da ação reflexiva diante do conhecimento e da experiência. Assim, a acessibilidade, no caso da pessoa com deficiência intelectual, implica a saída da passividade e automatização da aprendizagem para o acesso à apropriação ativa do conhecimento (BRASIL, 2007c) O Atendimento Educacional Especializado pode ser realizado em grupos, mas sem deixar de atentar para as especificidades de cada um dos alunos para se relacionar com o conhecimento. Sobre os alunos com deficiência visual, em uma sociedade predominantemente vidente, os conteúdos escolares irão privilegiar a visualização, por utilizarem os símbolos gráficos, imagens, letras e números. Apesar disso, as necessidades decorrentes de limitações da visão não podem ser ignoradas nem confundidas com concessões. Para incluir as necessidades desses alunos, o Atendimento Educacional Especializado para alunos com deficiência visual requer o uso de recursos óticos e não óticos, como lentes de uso especial, lupas, óculos e telescópios manuais e adaptação de material didático, como a impressão a Braile e o uso de recursos de Comunicação Aumentativa e Alternativa (BRASIL, 2007d). 1.2 O Plano de Desenvolvimento Individual para o Atendimento Educacional Especializado de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Altas Habilidades/Superdotação (AH/S) O Atendimento Educacional Especializado é uma das estratégias para auxiliar a inclusão dos alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Altas Habilidades/Superdotação (AH/S) na escola regular. Inicialmente, é importante ressaltar que a sala de aula regular deve ter um número reduzido de alunos para que o professor possa atender 52 a todos adequadamente, logo, toda a comunidade escolar deve estar preparada paraacolher e atender o aluno com TEA. As estratégias e recursos para os alunos com TEA na escola regular ainda estão sendo desenvolvidas, mas é possível estabelecer algumas diretrizes que podem orientar os professores na sala de aula e no AEE para o trabalho com esses alunos. Segundo Belisário e Cunha (2010), alunos com TEA apresentam prejuízos variados nas áreas de comunicação, compartilhamento social e flexibilidade mental, as quais implicam diretamente a construção do trabalho em sala de aula. Geralmente, esses alunos apresentam bom desempenho nas atividades e avaliações, especialmente no caso da Síndrome de Asperger, mas ainda são presentes dificuldades de compartilhamento social, o interesse restrito e os comportamentos estereotipados e repetitivos. No Ensino Fundamental, o trabalho conjunto entre o professor do Atendimento Educacional Especializado e o professor da sala comum é essencial para que o sujeito supere as dificuldades iniciais e participe da rotina escolar (BELISÁRIO; CUNHA, 2010). De acordo com esses autores, o Atendimento Educacional Especializado para o aluno com TEA deve observar os seguintes aspectos: • Flexibilizar o tempo para a realização das atividades propostas. • Usar estratégias variadas para alcançar meios de comunicação com o aluno e atender às suas necessidades. • Dirigir-se diretamente ao aluno, durante a realização das atividades na sala comum, para que todos possam percebê-lo como parte integrante da turma. 53 • Apresentar atitudes positivas em relação à presença e à realização das atividades pelo aluno. • Incentivar a realização de atividades e a participação do aluno nos eventos da instituição, de forma independente e autônoma. Os alunos com TEA devem frequentar o AEE se forem identificadas necessidades educacionais específicas para o uso das atividades e dos recursos pedagógicos disponibilizados nas Salas de Recursos Multifuncionais. No caso de aluno com Altas Habilidades/Superdotação (AH/S), o Atendimento Educacional Especializado oferece estratégias, recursos e organiza a rotina para o atendimento das peculiaridades desses estudantes na escola regular. Porém, é necessário que a escolarização e o Atendimento Educacional Especializado para alunos com AH/S sejam articulados com a proposta pedagógica global da instituição (BRASIL, 2006). O Atendimento Educacional Especializado para os alunos com Altas Habilidades deve ser capaz de identificar, elaborar e organizar atividades pedagógicas que eliminem ou minimizem os obstáculos relacionados à aprendizagem desses educandos. A crença de que os alunos com Altas Habilidades conseguem aprendem sozinhos e sem dificuldades é equivocada e leva ao descaso com a prática pedagógica voltada para essas pessoas. Para o atendimento das necessidades específicas relacionadas às Altas Habilidades/Superdotação podem ser desenvolvidas atividades de enriquecimento curricular nas escolas de ensino regular, em articulação com as instituições de educação superior, profissional, tecnológica, de pesquisa, de artes, de esportes, entre outras (BRASIL, 2006). 54 Além disso, existem os programas de aceleração dos estudos previstos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394 (BRASIL, 1996), que propõem a aceleração para superdotados. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394 (BRASIL, 1996), a aceleração de estudos pode ser realizada mediante a avaliação de conhecimentos, na própria escola, e documentada em registros administrativos. Além disso, há o art. 59 da LDB nº 9.394 (BRASIL, 1996), que assegura aos alunos com necessidades especiais, currículos, métodos, recursos educativos específicos para atender às suas necessidades. E, apontadas as características do aluno com Altas Habilidades/Superdotação, novas formas de organização escolar poderão ser realizadas. O quadro a seguir contém uma síntese das orientações para o Atendimento Educacional Especializado, de acordo com a população- alvo, de forma que você possa consolidar o entendimento os objetivos desse serviço para cada tipo de aluno atendido. Quadro 1 – Síntese das orientações para o AEE de alunos com deficiência auditiva e surdez, deficiência física, deficiência intelectual, deficiência visual, Transtornos do Espectro Autista e Altas Habilidades/Superdotação Deficiência auditiva e surdez Oferecimento de aulas em Libras e de Língua Portuguesa, para pessoas com surdez; utilização de metodologias com imagens visuais e outros recursos, como a dramatização. 55 Deficiência física Identificação das características das deficiências, diferenciando as lesões neurológicas não evolutivas dos casos progressivos; utilização de recursos de Comunicação Aumentativa e Alternativa, quando a fala do aluno estiver comprometida, como na Paralisia Cerebral. Deficiência intelectual Alcançar o nível da ação reflexiva sobre o conhecimento e promover a saída da passividade e da automatização da aprendizagem. Deficiência visual Utilizar recursos óticos e não óticos (lentes de uso especial, lupas, óculos e telescópios manuais); adaptação de material didático (impressão a Braile) e utilização de recursos de Comunicação Aumentativa e Alternativa. Transtorno do Espectro Autista Flexibilização do tempo para a realização das atividades propostas; uso de estratégias variadas para se comunicar com o aluno; comunicação direta e frequente com o aluno, durante a realização das atividades na sala comum. Altas Habilidades/ Superdotação Elaboração de atividades pedagógicas para eliminar e/ ou minimizar obstáculos para a aprendizagem; oferecimento de atividades de enriquecimento curricular, em articulação com outras instituições. Fonte: elaborado pela autora. 56 1.3 Atribuições do professor do Atendimento Educacional Especializado e da Educação Inclusiva O professor da Sala de Recursos Multifuncional do Atendimento Educacional Especializado deve ter uma formação inicial que o habilite legalmente para o exercício da docência e uma formação específica na Educação Especial, em cursos de formação inicial ou continuada, em especializações lato ou stricto sensu. Essa formação possibilita a sua atuação no Atendimento Educacional Especializado, possibilitando um caráter interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas Salas de Recursos, nos centros de Atendimento Educacional Especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de Educação Especial. O preparo dos professores pode ser realizado a partir das habilitações dos cursos de Pedagogia e nas especializações em pós-graduação e na formação continuada oferecida por redes de ensino, clínicas e/ou instituições que atendem às pessoas com deficiência. De acordo com as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, algumas das atribuições do professor do AEE são: Identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da educação especial; [...] acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola; [...] orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno; [...] ensinar e usar recursos de Tecnologia Assistiva, tais como: as tecnologias da informação e comunicação, a comunicação alternativa e aumentativa, a informática acessível, o soroban, os recursos ópticos e não ópticos, os 57 softwares específicos, os códigos e linguagens, as atividades de orientação e mobilidade entre outros; de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia, atividade e participação; [...] estabelecer articulação com os professoresda sala de aula comum, visando a disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares. (BRASIL, 2009, p. 4) O professor da sala de aula regular também tem um papel muito importante diante da inclusão. O acolhimento dos alunos com deficiências depende da atuação dos professores das salas regulares, que devem interpretar as dificuldades de relacionamento entre os alunos com e sem deficiências, não obrigando a aceitação superficial uns dos outros, mas trabalhar e mostrar as diferenças e igualdades entre eles, fazendo-os, por exemplo, realizar as atividades em conjunto, facilitando o processo de interação. A interação e comunicação entre professores e alunos é essencial para que o educador entenda as necessidades de cada estudante e o trabalho em equipe deve ser incentivado sempre, por ser benéfico para todos os alunos, com ou sem deficiências. Desse modo, é essencial que o professor domine as teorias sobre o funcionamento psíquico do ser humano, a dinâmica de grupos, experiências relacionais com pessoas e com o mundo material, as experiências escolares e o contato com recursos e a tecnologia. Somente assim, os conhecimentos e as experiências no exercício docente poderão ser articulados, compostos e arranjados de formas criativas e atender às demandas singulares dos alunos. Quanto aos aspectos relacionados à atitude, o professor que não mantém um permanente estado de observação em relação aos alunos, corre o risco de não ter sucesso. Portanto, é necessário que o professor avalie o aluno e seu próprio trabalho constantemente, para verificar como o conhecimento está sendo construído, se o aluno está 58 conseguindo construir os conceitos que estão sendo trabalhados. Por fim, é fundamental que o professor tenha oportunidade de compartilhar suas experiências, dúvidas e angústias com seus pares de equipe pedagógica e com coordenadores e orientadores. Referências BELISÁRIO FILHO, J. F.; CUNHA, P. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar: transtornos globais do desenvolvimento. Brasília: Ministério da Educação; Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2010. v. 9. (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar). Disponível em: http://portal.mec. gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=7120-fasciculo-9- pdf&category_slug=novembro-2010-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 21 jan. 2021. BRASIL. Decreto nº 7.611, de 17 de Novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2011]. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7611.htm#art11. Acesso em: 21 jan. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes operacionais da Educação Especial para o atendimento educacional especializado na Educação Básica. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ docman&view=download&alias=428-diretrizes-publicacao&Itemid=30192. Acesso em: 21 jan. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Formação continuada a distância de professores para o atendimento educacional especializado: deficiência auditiva. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2007a. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf. Acesso em: 21 jan. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Formação continuada a distância de professores para o atendimento educacional especializado: deficiência física. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2007b. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_df.pdf. Acesso em: 21 jan. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Formação continuada a distância de professores para o atendimento educacional especializado: deficiência mental. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2007c. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dm.pdf. Acesso em: 21 jan. 2021. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=7120-fasciculo-9-pdf&category_slug=novembro-2010-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=7120-fasciculo-9-pdf&category_slug=novembro-2010-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=7120-fasciculo-9-pdf&category_slug=novembro-2010-pdf&Itemid=30192 http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%207.611-2011?OpenDocument http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=428-diretrizes-publicacao&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=428-diretrizes-publicacao&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf%20Acessado%20em%2024/11/2020 http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf%20Acessado%20em%2024/11/2020 http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_df.pdf http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dm.pdf 59 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Atendimento educacional especializado: deficiência visual. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2007d. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf. Acesso em: 21 jan. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com altas habilidades/ superdotação. 2. ed. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2006. (Série: Saberes e práticas da inclusão). Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ altashabilidades.pdf. Acesso em: 21 jan. 2021. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de Bons estudos! 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, [1996]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 21 jan. 2021. http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf%20Acessado%20em%2024/11/2020 http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf%20Acessado%20em%2024/11/2020 http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/altashabilidades.pdf http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/altashabilidades.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm 60 BONS ESTUDOS! Sumário Introdução à Tecnologia Assistiva Objetivos 1. Conceitos de Tecnologia Assistiva Referências Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA): definição, objetivos e recursos Objetivos 1. A Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA): definição e objetivos Referências Tecnologias Assistivas e Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na educação Objetivos 1. Orientações gerais sobre o uso de Tecnologia Assistiva e Tecnologias de Informação e Comunicação Referências Atendimento Educacional Especializado e Sala de Recursos Multifuncionais Objetivos 1. O Atendimento Educacional Especializado e a Sala de Recursos Multifuncionais: objetivos e popula Referências