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23 Gustavo Urzêda Vitória R1 DE PSIQUIATRIA - Elicitando os sintomas da doença mental: Fonte: Sims – Sintomas da Mente; Femi Oyebode, 2017. Introdução: • Há um verdadeiro conflito de interesses entre o paciente e o entrevistador → paciente descreve vivencias penosas das quais quer se livrar, seja lá qual forem e o médico investiga rumo a um diagnóstico. o É preciso chegar a um acordo. • O médico precisa fazer uma descrição detalhada dos sintomas e de estado mental. o Contexto do histórico de sintomas do paciente. o Histórico de desenvolvimento e sua adaptação ao ambiente social em geral e a seus sintomas em particular. o Não basta ao médico saber que o paciente se sente deprimido, é preciso averiguar a verdadeira natureza da depressão → o que essa palavra significa para o paciente, como a condição afeta sua rotina de vida e a existência ou não de outros sintomas associados. 24 Gustavo Urzêda Vitória • Diversas entrevistas curtas são preferidas a uma sessão maratona. • É importante que o observador faça uma distinção clara entre observação e inferência. Diagnóstico e rótulos: • Classificação médica de doenças permite que um grupo de sintomas seja colocado sob um único termo que engloba a essência de determinada condição. • Desvantagens: falta de confiabilidade de termos diagnósticos, o risco de rótulos indevidos e o estigma associado a um diagnóstico psiquiátrico. • Primeira missão é coletar informações cuidadosamente para que se possa saber exatamente se o problema se encaixa em sua competência profissional → pensar qual ação é adequada. • Os principais transtornos psiquiátricos ainda são vistos como síndrome → grupo de sinais e sintomas reconhecidos como típicos de determinada doença. o O diagnóstico até agora não se refere a qualquer fisiopatologia descrita ou marcadores confiáveis. • Abordagem multifatorial para o entendimento do transtorno é a regra → enfoque biopsicossocial, sendo inadequado um diagnóstico restrito a termos puramente orgânicos ou comportamentais. O histórico psiquiátrico: • De que forma o levantamento do histórico ajuda a elucidar o estado mental. • Geralmente, começa com a descrição dos sintomas atuais, em suas próprias palavras, incluindo a duração de cada sintomas e relato do desenvolvimento. o Lista de queixas. o Paciente conceitua o seu problema e ainda sugere um alvo preliminar de tratamento. o Frequentemente, o histórico da queixa do paciente é literalmente a sua história → pode-se registrar de forma narrativa, desde que seja clara e em ordem cronológica. ▪ Saber a sequência de eventos e os efeitos de cada sintoma. ▪ Quais sintomas o paciente já conhecia, mas não foram levados a um médico e nem tratados. • Descrever, em ordem cronológica: doenças anteriores, cirurgias e acidentes, tratamentos anteriores (datas, duração, natureza do tratamento, local de internação ou de acompanhamento ambulatorial). • Histórico familiar: o Características genéticas, ambientais e patoplásticas. o Histórico de doença mental, suicídio, natureza do tratamento e outros → parentes de primeiro grau (irmãos, pais e filhos) e mais distantes. 25 Gustavo Urzêda Vitória o Qualidade dos relacionamentos familiares, ligação emocional e os conflitos. o Profissão dos membros. o Descrição de personalidades. o Relato de impacto emocional que sua família tem sobre ele. o O relato pode ser complementado por acompanhantes. • Histórico pessoal: o Traça os estágios de desenvolvimento, saúde e formação de relacionamentos do paciente envolvendo sua concepção, nascimento, infância, experiências escolares, adolescência, histórico profissional, conjugal e sexual. o Como influenciaram na personalidade e atitudes do paciente, como ele se sente em relação a isso, como se relacionou com outras pessoas. o Compreender o significado do histórico do paciente, ou seja, a sua história, para que se possa entender como ele se vê em relação ao mundo e como seu desenvolvimento e circunstâncias foram determinantes em provocar, exacerbar ou amenizar a doença atual. Personalidade pré-mórbida, prévia ou usual: • Avaliação de personalidade é a mais complexa e problemática tarefa de um psiquiatra → usa 3 áreas de informação: o Paciente descreve em detalhes seus relacionamentos com outras pessoas, interesses e atividades. o Maneira como o paciente reage ao examinador na situação da entrevista. o Tenta ajudar o paciente a descrever e demonstrar: como ele, o paciente, entende que é como pessoa, como se sente dentro de si em diferentes situações, seus interesses, metas e paixões. • Não é uma área específica da psiquiatria ou da psicologia → importante competência de muitos profissionais que lidam com pessoas. • Personalidade se revela pelos comportamentos característicos de uma pessoa. • Subjetivamente é demonstrada pela totalidade de aspirações e objetivos de uma pessoa, composta por tudo o que ela valoriza e ambiciona → é uma maneira de enxergar seres humanos, uma abstração. • Multidimensional → dificilmente a descrição verbal irá exaurir a essência de qualquer indivíduo. • Normal e anormal exige um nível adicional de abstração: o Normal: geralmente usado para se referir a uma norma estatística, o que acontece com a maioria das pessoas. ▪ Apresenta suas características e na medida que se desenvolvem em conformidade com a maioria das pessoas. 26 Gustavo Urzêda Vitória o Transtornos de personalidade se baseiam no desvio da norma, mas as definições se baseiam em descrições ideais de tipos de personalidade, em uma tipologia. ▪ Características desenvolvidas ou subdesenvolvidas de tal maneira que são quantitativamente diferentes da massa da população. o Relações sociais são investigadas. o Natureza de seus interesses e atividades é reveladora. o Deve-se perguntar sobre suas preferências e interesses. o É necessário avaliar seu estado de humor predominante, se oscila ou se é estável, reativo a precipitantes ou endógeno. o Traços de caráter → lista de adjetivos, como irritável, reservado, exagerado. o Descrito com o relato de outra pessoa também. o Atitudes e valores, visão que tem de si e de seu corpo, como vê as pessoas próximas, valores sociais mais gerais sobre religião, moral, política e economia, como se sente em eventos que ocorrem e podem ser provocados. o Motivação e energia e como se expressam em ambição, letargia, eficácia e persistência. o Estudar a vida fantasiosa: frequência, duração e conteúdo de seus devaneios, se são dirigidos a um objetivo e realistas ou dissociados de qualquer expectativa de concretização. ▪ Sonhos e outros supostos sinais de atividade psíquica inconsciente são úteis, principalmente quando o sujeito tenta interpretá-los. Diferenciação de transtorno de personalidade: • Atribuir ao paciente um tipo de personalidade sem levar em conta a infinidade de variáveis individuais é inadequado → certas características tendem a aparecer em conjunto e têm importância clínica. • Atribuição a uma determinada categoria de transtorno de personalidade se baseia na predominância relativa destes diversos traços de caráter. • Uma pessoa pode apresentar mais de um tipo anormal de personalidade → não se excluem mutuamente. • Observação sobre a personalidade pré-mórbida, ainda que seja apenas para anotar que devido à devastação da doença mental é impossível avaliar o estado pré-mórbido. • Traços predominantes devem ser descritos, preferivelmente com observações textuais do paciente para ilustrá-los. • Apresentam como anormais → se representa um transtorno (causa prejuízos) → diferenciar o tipo. O exame do estado mental: • Reservado a psiquiatras. 27 Gustavo Urzêda Vitória • Médico utiliza perguntas abertas no começo e fechadas para esclarecer pontos específicos. • Escuta ativa → existem técnicasespecíficas para sinalizar. o Frases introdutórias e que dão contexto. o Frases resumo: sintetizar o que o médico entendeu do que lhe foi relatado e dar a oportunidade para que o paciente corrija qualquer ponto que foi mal interpretado. o Frases de normalização: usadas para introduzir temas mais difíceis. o Afirmações que abordam os aspectos emocionais da comunicação ou comportamento do paciente. o Frases empáticas e de reflexão. o Frases de conclusão. • Enquanto o entrevistador faz cada pergunta, ele deve antecipar as possíveis respostas de uma pessoa sensata dentro daquele contexto. • Entrevistador está buscando caminhos para entrar no modo de pensar do paciente → quando ele diz algo estranho ou descabido, o entrevistador deve mencionar e, sem constranger ou abalar a serenidade do paciente, esclarecer a experiência interna parcialmente revelada → exige o uso de método empático. • Palavras limitam e ao mesmo tempo liberam → não limitar a resposta de seus pacientes impondo jargões técnicos, atenção ao uso da linguagem do paciente e usar uma linguagem reflexiva. • Quase todo termo técnico tem implicações diagnósticas → um sintoma pode não ser patognomônico de determinada condição. • Para evitar erros de interpretação, é melhor usar descrições longas até que o entrevistador tenha certeza de que o sintoma está realmente presente. • Observação da aparência e comportamento do paciente é um complemento valioso para sua autodescrição. • Real intenção de encontrar o significado por trás das palavras que o paciente usa. • Método empático é fundamental para desvendar o que ele está insinuando assim como a observação aguda e treinada. • Empatia permite que o observador usa sua própria capacidade de emoção como ferramenta terapêutica e de diagnóstico. • Observação e empatia devem sempre ser usadas em conjunto para se abstrair o estado mental. 28 Gustavo Urzêda Vitória Indagação sistemática: • Aparência e comportamento do paciente são observados com base nas informações medicas clínicas. • Observação também é útil para avaliar comunicação não verbal → postura, gestos, expressões faciais, ele pode trair seu estado de emoção, revelar informações sobre sua personalidade e atitude perante o observador e os outros apesar de seu silêncio ou comunicação verbal contraditória. • Obviamente, a observação do comportamento também revela sintomatologias psiquiátricas como tiques, movimentos catatônicos, possíveis alucinações de percepção, transtornos alimentares e de excreção. • Fala revela pensamento → escutar e estudar as declarações do paciente é geralmente a maneira mais importante de avaliar seu estado mental. • Transtornos do pensamento e a interpretação de anormalidades no uso das palavras, sintaxe e fluxo da fala merece atenção. • Máximo que puder ser anotado sobre o discurso do paciente deve ser registrado palavra por palavra → isto proporciona uma visão mais clara do ambiente interno do indivíduo, e os dados de experiencia própria permitem que outra pessoa avalie o diagnóstico. • Quando o entrevistador indaga e forma a sua própria avaliação do humor, há 3 áreas que devem ser exploradas: 29 Gustavo Urzêda Vitória o Descrição subjetiva. o Descrição objetiva. o Avaliação do rapport. • Humor envolve mais do que apenas depressão e euforia. o Direção: depressão e euforia. o Consistência: estável ou instável. o Adequação. o Amplitude. o Grau de discrepância entre descrição subjetiva e objetiva (manifestações de conduta e do tom geral de sua fala durante a entrevista). • Médico observa o paciente e capta as pistas de humor disponíveis, relacionando-as com as suas experiências com outros pacientes e outras pessoas de sua vida e, em última instância, com o conhecimento de seu próprio estado afetivo. • Rapport é uma medida útil da capacidade do paciente de comunicar seus sentimentos para outra pessoa → entrevistar deve se transformar em um parâmetro, um constante construtor de rapport, contra o qual a capacidade de estabelecimento de rapport do paciente é medida. • Ter experiência clínica e objetividade para saber como reage e se comunica com uma grande variedade de pessoas. • Entrevistador deve se conhecer o suficiente para excluir isso da avaliação de rapport para que, tanto quanto possível, apenas a capacidade de comunicação emocional do paciente seja testada. • Ideias e crenças que o paciente adota e as anormalidades de percepção que ele vivencia são verificadas e exploradas. • Há um alto grau de preenchimento ou edição para suprir eventuais deficiências na comunicação. • O paciente não lhe entregará voluntariamente sintomas de delírios ou alucinações pelo motivo óbvio de que eles não são vivenciados de maneira diferente do pensamento ou percepção de qualquer outra pessoa → habilidade de perceber essas alterações. • É importante tentar categorizar o tipo de experiência o mais cedo possível na exposição às perguntas profissionais, porque as explicações dos pacientes tendem a se contaminar pelo questionamento repetitivo. • Avaliação do estado cognitivo inclui, mesmo que superficialmente, testes de orientação, atenção, concentração e memória → Mini Mental. • Insight avalia a consciência da mudança pelo paciente e o correto enquadramento de tal mudança como causada por uma doença mental que demanda tratamento → função extremamente complexa → capacidade de o indivíduo ser autoconsciente e sensível a mudanças subjetivas internas. o Reconhecimento de mudança psicológica subjetiva. o Enquadramento de tal mudança como patológica. o Reconhecimento da necessidade de tratamento e adesão.
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