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Gilberto Pickering - Guerra Espiritual

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O leitor pode estar certo 
de que o doutor Gilberto não 
apresenta suas próprias 
teorias. Ao ler o seu livro, 
fiquei sobremodo feliz ao 
confirmar o fato de que o 
que ele expõe é mesmo o 
ensino de Jesus Cristo. O 
autor aborda assuntos como 
viver em função do Reino de 
Deus, discipulado, e outros, 
que fazem parte da 
estratégia do Evangelho. 
Entre outras coisas, ele 
ensina sobre finanças no 
Reino de Deus, o conceito de 
semente, de plantar, de 
receber para dar, de ser 
canal de bênção materiais 
para outros. Foi muito útil 
para mim mesmo, e o será 
para todos os que lerem este 
livro. Em nosso Brasil, 
temos de proclamar esse 
ensino, o que será de grande 
benefício para as vidas em 
particular, para os lares, 
para as igrejas locais, e para 
o ministério de missões 
exercido por brasileiros. 
Jonathan F. Santos 
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Nesta Batalha, 
a única opção é 
vencer. 
Aprenda a lutar 
corretamente! 
Gilberto Pickering 
Missionário, teólogo, 
doutor em lingüística 
pela Universidade de 
Toronto, Canadá, 
membro da Associação 
Wycliffe para a 
Tradução da Bíblia, 
autor dos livros: The 
Identity of lhe New 
Testament Text e A 
Framework for 
Discouse Analysis 
Gilberto Pickering 
GUERRA 
ESPIRITUAL 
CBO 
Todos os Direitos Reservados. Copyright © 1987 para a lingua portu­
guesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. 
248.4 Pickering, Gilberto, 1934-
PIGg Guerra espiritual; estratégias missionárias de Cristo. 
Rio de Janeiro, CPAD, 1987. 
Iv. 
1. Vida Espiritual. 2. Vida cristã. 3. 
Missão. I. Pickering, Wilbur (Gilberto) 
Norman. II. Título. 
Casa Publicadora das Assembléias de Deus 
Caixa Postal 331 
20001, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 
10.000/1987 
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1. R< . ao S « i o r por obreiros , 
A ir JeiBsaiém... e os confins da Terra H — 17 
ida oa 
; ' " i p ^ ^ não meramente convertidos 
ri. Viver in^Hclo reino, não para si 
p l H e s do poder de Satanás 
w. ^ H H 
Conclusão S m - • •••••• H ^ M 
Apêndice - A HeflBda vinda de Cristo — • • L ™™fll 
' 5 
ÍNDICE DAS ABREVIATURAS 
USADAS NESTE LIVRO 
VELHO TESTAMENTO 
Gn - Gênesis 
Ex - Êxodo 
Lv - Levítico 
Nm - Números 
Dt - Deuteronômki 
Js - Josué 
Jz - Juizes 
Rt - Rute 
1 Sm - 1 Samuel 
2 Sm - 2 Samuel 
1 Rs - 1 Reis 
2 Rs - 2 Reis 
1 Cr - 1 Crônicas 
2 Cr - 2 Crônicas 
Ed - Esdras 
Ne - Neemias 
Et - Ester 
Jo - Jo 
SI - Salmos 
Pv - Provérbios 
Ec - Eclesiastes 
Ct - Can tares 
Is - Isaías 
Jr - Jeremias 
Lm - Lamentações de Jeremias 
Ez - Ezequiel 
Dn - Daniel 
Os - Oséias 
Jl - Joel 
Am - Amos 
Ob - Obadias 
Jn - Jonas 
Mq - Miquéias 
Na - Naum 
He - Habacuque 
Sf - Sofonias 
Ag - Ageu 
Zc - Zacarias 
Ml - Malaquias 
NOVO TESTAMENTO 
Mt - M a t e u s 
Mc - Marcos 
Lc - Lucas 
Jo - João 
At - Atos 
Rm - Romanos 
1 Co - 1 Coríntios 
2 Co - 2 Coríntios 
Gi - Gaiatas 
Ef - Efésios 
Fp - Fiü penses 
Cl - Colossenses 
1 Ts - 1 Tessalonicensea 
2 TB 2 Teasaionicenses 
1 Tm - 1 Timóteo 
2 Tm - 2 Timóteo 
Tt - Ti to 
Fm - Filemon 
Hb - Hebreus 
Tg - Tiago 
1 Pe - 1 Pedro 
2 Pe - 2 Pedro 
1 Jo - 1 João 
2 rJo - 2 João 
3 Jo - 3 João 
Jd - Judas 
Ap - Apocalipse 
Prefácio 
Tenho o mais profundo respeito pelo doutor Gilberto 
Norman Pickering, autor deste livro. Nosso relacionamen­
to vem desde 1975, quando estava se formando a Missão 
Antíoquia, da qual ele é um dos fundadores. Nestes anos 
tenho aprendido muito com ele. Admiro-o por sua serieda­
de em tudo, e, muito especialmente, quando se trata do 
texto bíblico. Ele está sempre querendo saber o sentido 
exato das declarações bíblicas. Admiro-o por sua integri­
dade, por sua fé, por seu espírito de sacrifício ao se dar 
para a obra do Senhor. Admiro-o por sua paixão por mis­
sões. Ele é um dos homens que mais tem batalhado no 
Brasil nestes últimos doze anos para que as igrejas evangé­
licas brasileiras se envolvam de maneira ampla na evange-
lização mundial. Seus ensinamentos sobre este assunto 
têm sido transmitidos em praticamente todas as partes do 
Brasil, e em quase todas as denominações. Na verdade, ele 
tem percorrido o Brasil de ponta a ponta com a mensagem 
de missões. Se há alguém que possa ser chamado de "A-
póstolo de Missões", essa pessoa é o amado irmão Gilberto. 
Seus ensinamentos vêm sendo assimilados por grande nú-
5 
mero de obreiros, estudantes de teologia e membros de 
igrejas. E, então, começou a surgir a pergunta - "Por que 
não colocar estes ensinamentos de forma sistematizada em 
um livro que seria muito útil para os cursos de missões no 
Brasil epara as igrejas em geral?"E o doutor Gilberto res­
pondeu positivamente, brindando-nos com esta obra, que 
considero da maior importância no preparo de obreiros 
transculturais. 
GUERRA ESPIRITUAL - Estratégia Missionária de 
Cristo - é um manual de missões. Deve ser dotado pelas es­
colas teológicas e especialmente pelos cursos de missões. Ê 
um livro texto sobre o assunto. Contudo, o pastor e os cren­
tes em geral serão também grandemente enriquecidos com 
sua leitura. 
Ao tratar da estratégia missionária de Cristo, o autor 
traz o assunto para o seu devido lugar. Podemos ter muitas 
teorias, estratégias, conhecimentos e disposições para fa­
zer a obra do Senhor no campo missionário, mas se não 
guerrearmos segundo as normas estabelecidas pelo nosso 
General, vamos falhar. Na verdade, temos falhado muitas 
vezes, exatamente por fazermos a guerra segundo nossa 
própria sabedoria. Há um inimigo nesta guerra - Satanás. 
Quem o conhece bem é o Senhor Jesus. Quem sabe como 
ele pode ser vencido é também o Senhor Jesus. Se seguir­
mos a estratégia do Grande General, vamos ter a vitória. 
Se não a seguirmos, vamos só nos cansar e ser derrotados. 
E o leitor pode estar certo de que o doutor Gilberto 
não vai dar suas próprias teorias em vez de ensinar a estra­
tégia de Jesus. Garanto que não. Eu o ouvi várias vezes e 
sempre tive a convicção de que ele estava interpretando a 
Palavra de Deus. Agora, ao ler o seu livro, fiquei sobremo­
do feliz ao se confirmar o fato de que o que ele expõe é mes­
mo o ensino da estratégia de Jesus Cristo. 
O autor aborda assuntos como, viver em função do 
Reino de Deus, discipulado, e outros, que fazem parte da 
estratégia de Cristo. Entre outas coisas, ele ensina sobre fi­
nanças no Reino de Deus. O conceito de semente, de plan­
tar, de receber para dar, de ser canal de bênçãos materiais 
para outros, foi muito útil para mim mesmo, e o será para 
6 
todos os que lerem este livro. Em nosso Brasil temos de 
proclamar esse ensino, o que será de grande benefício para 
as vidas em parpicular, para os lares, para as igrejas locais, 
e para o ministério de missões exercido por brasileiros. 
Mas para mim, a chave da estratégia de Cristo está no 
capítulo seis - "Libertar as pessoas do poder de Satanás". 
Este livro mostra que nosso trabalho é prejudicado por não 
sabermos ou não reconhecermos que Satanás prende as 
pessoas em seu domínio. Elas precisam ser trazidas "de 
volta das trevas para a luz, e do poder de Satanás para 
Deus". Para isto é necessário que o "Valente" seja amarra­
do para que os que estão sob seu domínio sejam libertados. 
Antes de pregar ou falar é preciso proibir a ingerência do 
inimigo no pensamento do ouvinte. Ele menciona seu pró­
prio exemplo, trabalhando com a Tribo Apurinã (Rio Pu-
rus, Amazônia), sendo o primeiro a disputar com Satanás 
[e para Cristo) o domínio total sobre essa nação. Confessa 
que apesar do seu mestrado em teologia, ignorava estas 
verdades, e por isto o inimigo causou tremendos males 
para ele e sua família, ao passo que os resultados alcança­
dos com a Tribo Apurinã foram mínimos. 
Com conhecimento de causa, com profundo respeito 
ao texto, e com clareza meridiano, mostra como se trava a 
guerra espiritual e como o servo de Cristo pode estar arma­
do e capacitado para prevalecer. 
Nesse momento em que estamos nos preparando para 
a realização de COMIBAM 87, esse livro vempreencher 
uma lacuna no preparo de obreiros transculturais. 0 alvo 
de COMIBAM é que pelo menos 10.000 missionários trans­
culturais sejam enviados nos próximos anos. Estes missio­
nários precisam receber essa capacitação antes de sair 
para os campos. 
Ao Dr. Gilberto, o nosso reconhecimento pelo seu ex­
celente trabalho. A Deus, o nosso louvor pela inspiração e 
graça para que esta obra fosse produzida. 
Jonathan F. Santos 
São Paulo, 08 de Junho de 1987 
7 
Introdução 
Há quase dois mil anos, nosso Salvador e Soberano Je­
sus Cristo, pouco antes de voltar para o Céu, deixou certas 
ordens para seus súditos: "Fazei discípulos em todas as et­
nias", "Pregai o Evangelho a cada pessoa", "Ser-me-eis 
testemunhas até aos confins da terra". No entanto, "a esta 
altura do campeonato", os seguidores de Jesus nem a me­
tade têm conseguido. Pois provavelmente a metade das et­
nias do mundo está por conhecer o primeiro porta-voz de 
Cristo, e dificilmente nem um terço das etnias contará 
com um verdadeiro discípulo de Cristo entre seus compo­
nentes. Metade das pessoas também (sem pensar na etnia 
à qual possam pertencer) estão por ouvir o Evangelho pela 
primeira vez, Ouvir é entender - nem se comenta. 
Que pensar diante desse quadro?! Será que o Senhor 
Jesus não esperava ser obedecido? Falou por falar, pelo 
prazer de ouvir a própria voz? Não. Certamente Ele falou 
sério. Tanto assim que a primeira geração, a dos apóstolos, 
praticamente alcançou o seu mundo: fizeram proezas. 
(Cabe lembrar que não dispunham de automóveis, aviões, 
rádio, televisão, computadores, etc.) Mesmo assim alcan-
9 
çaram seu mundo, começando com um punhado de gente. 
Conseguiram tudo isso exatamente porque levaram a sério 
as ordens de Cristo, inclusive entendendo o efeito estraté­
gico dessas ordens. Mas, infelizmente, com o passar dos 
anos a Igreja foi perdendo essa visão das coisas que os 
apóstolos receberam de Jesus. Como conseqüência trágica, 
de lá para cá as ordens de Cristo nesse sentido caíram no 
desuso e na incompreensão. Sim, na incompreensão, pois 
hoje em dia muitos que imaginam estar obedecendo a uma 
ou a outra ordem não entendem o sentido certo da ordem e 
muito menos o efeito estratégico dela. 
Mas, se os apóstolos conseguiram alcançar seu mun­
do, numa geração, por que não fazermos nós o mesmo? Por 
que não repetimos a façanha? Creio, sinceramente, que 
para tanto bastará recuperarmos a estratégia missionária 
de Cristo, contidas nas suas ordens, e orientarmos nossas 
vidas e nossos ministérios nessa base. Creio que poderemos 
terminar de alcançar o mundo dentro de quinze anos! 
Aliás, tudo me leva a crer que Jesus vem aí e o tempo está 
ficando pouco. Bastaria para tanto, quem sabe, Lucas 
21.24, pois entendo que Jerusalém deixou de ser '"pisada 
pelos gentios", no sentido profético da palavra, no ano de 
1967 quando pela primeira vez desde que Jesus proferiu es­
sas palavras a cidade de Jerusalém voltou ao controle da 
nação de Israel. E, "quando virdes acontecer estas coisas, 
sabei que o reino de Deus está perto. Em verdade vos digo 
que não passará esta geração até que tudo aconteça" (Lc 
21.31,82). (Á interligação entre missões transculturais e a 
volta de Cristo é esmiuçada no Apêndice.) 
Torno a afirmar: Se, de forma geral, a partir de agora, 
o nosso povo evangélico acertar e seguir a estratégia mis­
sionária de Cristo, poderemos terminar de alcançar o mun­
do dentro de 15 anos. Senão, vejamos, 
10 
1 
Rogar ao 
Senhor por Obreiros 
Vamos começar com as palavras do Senhor Jesus 
Cristo que encontramos em Mateus 9.37,38: "A seara é 
realmente grande, mas poucos os ceifeiros. Rogai pois ao 
Senhor da seara que mande ceifeiros para a sua seara." 
A Grande Seara 
Esta palavra, endereçada a seus discípulos, começa 
por comentar a seara que temos pela frente - é muito gran­
de. Se foi grande há dois milênios, calcule agora! Em Ma­
teus 28.19, o Senhor Jesus manda fazer discípulos em "to­
das as nações". Essa palavra "nação" é tradução da pala­
vra grega que serve de base para as nossas palavras "et­
nia", "étnico", "etnólogo". Encontramos a mesma palavra 
em Apocalipse 5.9 associada às palavras "povo", "língua" 
e "tribo". (Ver também Ap 7.9; 11,9; 14.6). Quer dizer exa­
tamente uma etnia, um povo definido em termos étnicos. 
Qualquer povo que se distingue dos demais povos do mun­
do em matéria de línguas e cultura é uma "nação" para 
efeito da grande comissão missionária de Jesus contida em 
Mateus 28.19. 
11 
Pois bem, já que ele manda fazermos discípulos em 
todas elas, quantas será que existem no mundo hoje? De­
pende. A cifra muda, conforme a fonte consultada e os cri­
térios adotados. O grupo de estudiosos do Centro Estadu­
nidense para Missão Mundial, liderado por Ralph Winter, 
que tanto tem feito para conscientizar o povo de Deus 
acerca dos "povos não-alcançados" do mundo, nos afirma 
que deve haver por volta de 16 mil etnias, isso os não-
alcançados. Se acrescentássemos os povos onde já existe 
trabalho evangélico não sei que cifra daria. Sucede que 
esse grupo define "povo" em termos culturais e econômi­
cos. Com isso vários desses povos podem ter o mesmo idio­
ma. Já o grupo para tradução da Bíblia Wycliffe, que já 
trabalhou junto a mais de mil grupos lingüísticos ao redor 
do mundo, prefere definir um povo em termos de língua. 
Assim, o Ethnoloque publicado por eles traz nome por 
nome mais de 5.500 línguas faladas hoje no mundo. Acon­
tece que os colegas que preparam esse catálogo declarada­
mente preferem errar por baixo, trabalhando com dados 
mais ou menos seguros. Mas existe áreas do mundo onde 
faltam tais dados e a tendência é de acrescentar mais 
línguas. Pessoalmente não duvido existirem pelo menos 
6.000 línguas distintas no mundo, das quais umas 200 no 
Brasil. Entendo que para efetivamente cumprirmos Ma­
teus 28.19 teremos de traduzir a Palavra de Deus para to­
das essas línguas, por razões que explico no capítulo IV, e, 
assim, prefiro definir "nação" em termos de língua e cultu­
ra. São, pois, pelo menos 6.000 etnias no mundo hoje. 
Em Marcos 16.15, o Senhor Jesus mandou pregarmos 
o Evangelho a cada pessoa. Em julho de 1986, os jornais 
noticiaram que nesse mês a população do mundo teria 
atingido a casa de cinco bilhões de pessoas. Cinco bilhões; 
é difícil imaginar tanta gente! Mas aí estão. Eis a nossa 
seara. E como é grande! Seis mil etnias e cinco bilhões de 
pessoas. 
Os Poucos Ceifeiros 
Voltando a Mateus 9.37, o Senhor Jesus passa a decla­
rar que os ceifeiros são poucos. Bem, não é difícil imaginar 
que diante de tamanha seara os obreiros não deixariam 
12 
nunca de ser "poucos". Aiiás, parece-me que muitos cren­
tes estão conformados diante da expectativa de nunca al­
cançarmos o mundo: já "entregaram os pontos". 
O fato é que a esta altura dos acontecimentos os obrei­
ros não somente são poucos, mas para muitos lugares e po­
vos não existentes. Simplesmente não há obreiros. Creio 
ser verdade dizer que para a metade das etnias no mundo 
hoje, 3.000 das 6.000, portanto, não há um único porta-voz 
de Cristo sequer, ainda. No Brasil também, das 200 etnias 
indígenas do país, umas 100 não têm trabalho evangélico 
ainda. 
- E quanto às pessoas? - É o mesmo quadro calamito­
so. Os que pesquisam o assunto nos afirmam que a metade 
das pessoas no mundo hoje, dois bilhões e meio, portanto, 
estariam por ouvir o Evangelho de Cristo uma vez. Eis aí 
uma calamidade pública do tamanho do mundo. Quer me-
çamos por indivíduo, quer meçamos por etnia, é isso aí: 
meio mundo por ouvir, metade das nações étnicas sem 
obreiro. E isso após quase dois mil anos de a Igreja de Cris­
to estar na terra. 
É verdade que o quadro vem melhorando. As estatísti­
cas há 200 anos eram muito piores. Os esforços missioná­
rios dos últimos 200 anos têm produzido grande efeito. Na 
África e na Ásia, a Igreja cresce de forma impressionante. 
Só o grupo Wycliffe tem trabalhado junto a mais de mil et­
nias (um sexto do total), e isso nos últimos 50 anos. Atual­
menteo trabalho começa junto a mais uma etnia cada 
quinzena, em média. Embora essa informação possa repre­
sentar uma surpresa agradável para o leitor, temos de me­
lhorá-la, pois nessa marcha ainda vai nos custar mais de 
cem anos para alcançar a última nação. Temos de melho­
rar, pois dificilmente Deus nos dará esse tempo todo. 
A Estratégia Missionária 
Vem ao caso a ordem, a estratégia, que encontramos 
em Mateus 9,38: Rogar ao Senhor da seara por obreiros. É 
totalmente necessário que haja obreiros para cada povo, 
para cada lugar (por razões que explico nos capítulos III e 
VI), e o remédio que Jesus prescreve é rogar ao Senhor da 
13 
seara por obreiros. Observem que estamos diante duma or­
dem. Não é ponto facultativo. Jesus manda rogarmos por 
obreiros. - Mas será que estamos obedecendo a esta or­
dem? Ao menos a esta, pois, aparentemente, é uma ordem, 
à qual qualquer crente pode obedecer. Na sua igreja, vocês 
estão obedecendo a esta ordem? Ao menos dominicalmen­
te? Se não, por que não? - Então, vamos começar agora? E 
na sua vida particular, será que não daria para gastar um 
minuto por dia, digamos quando levanta, ao pentear o ca­
belo, clamar a Deus por obreiros para o mundo perdido, 
para as etnias que nunca foram alcançadas? Vejam que 
ninguém pode dizer que é pobre demais para poder orar, 
que não tem cultura suficiente para poder orar. Qualquer 
crente pode orar, por mais simples que possa ser. - Certo? 
Estamos, pois, diante de pelo menos urna ordem de Cristo 
que está ao alcance de todos, No entanto, parece existir al­
guma dificuldade, pois devem ser relativamente poucos os 
que estão obedecendo a esta ordem. Para entender melhor 
vamos à estratégia. 
Qual será o conteúdo estratégico da ordem? Bem, se 
eu vou rogar a Deus por obreiros eu devo ser sincero, não 
acha? Eu precisava ser coerente, será que não? Pois então, 
se eu, de forma sincera e coerente, clamar a Deus por 
obreiros tenho de estar pronto a ouvir, eu mesmo, a respos­
ta. Pois um belo dia Deus pode dizer para mim: "Está cer­
to, meu filho, estou ouvindo seu clamor. Agora, um dos 
que vou enviar é você!" Será que não? Ou então vem a voz 
de Deus: "Você não irá a outro povo, mas tem de contri­
buir mais do que vem contribuindo para ajudar a sustentar 
os que vão," E certamente Deus vai cobrar mais interces-
são de todos. Aí está o efeito estratégico desta ordem. Se 
cada crente evangélico obedecesse ao menos a esta ordem 
de maneira sincera e coerente, não faltaria obreiro, não fal­
taria dinheiro para sustentar os obreiros e nem faltaria in-
tercessão, apoio espiritual para garantir a obra. Tomaría­
mos o mundo de assalto! Só que não está acontecendo, não 
é? Eis o problema - obedecer a esta ordem requer compro­
misso. Refletindo um pouco, fica claro que nem a esta or­
dem de Jesus podemos obedecer, realmente, sem termos 
compromisso verdadeiro com Ele. 
14 
Creio que a cada passo vamos verificar que o proble­
ma essencial é esse: falta compromisso com Jesus e sua 
causa. Como conseqüência trágica, metade do mundo con­
tinua a perecer sem ouvir o Evangelho de Cristo Então, ir­
mãos vamos assumir compromisso total com Jesus e sua 
causa, no duro, para valer. Eis uma tremenda seara a nos­
sa espera - dois bilhões e meio de pessoas sem ouvir, J.OUO 
etnias sem obreiros - E Jesus vem ai! 
2 
Alcançar Jerusalém.., 
e os confins da terra 
Agora vamos atentar para as palavras do Senhor Jesus 
que encontramos em Atos 1.8: "Recebereis poder, ao vir 
sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tan­
to em Jerusalém, como era toda a Judéia e Samaria, e até 
aos confins da terra." São as últimas palavras que proferiu 
aqui na terra antes de voltar para o Céu, os pés já largando 
contato com o chão. Será que não escolheu com cuidado 
essas palavras? Certamente que sim e certamente Ele es­
pera que prestemos cuidadosa atenção a elas. Mesmo 
numa leitura superficial fica claro que a preocupação de 
Cristo é com o mundo inteiro. Mas além desse sentido ób­
vio, esta palavra de Jesus contém uma estratégia, uma tre­
menda estratégia, uma estratégia capaz de alcançar o 
mundo dentro de uma geração! 
A Estratégia 
Como muitas vezes acontece na Bíblia, o segredo está 
nas pequenas palavras, no caso "tanto... como., e". Obser­
ve, por favor, que Jesus não disse: "Ser-me-eis testemu­
nhas primeiro em Jerusalém, depois em toda a Judéia e 
17 
Samaria, e finalmente, se um dia sobrar tempo, mão de 
obra e dinheiro, até aos confins da terra." (Não é assim 
que estamos conduzindo a coisa, de modo geral?) Não, a 
expressão é "tanto... como... e", isto é, simultaneamente. 
Simultaneamente temos que nos esforçar para alcançar a 
nossa "Jerusalém, Judéia e Samaria" e os confins. Se um 
dia, de forma geral, as nossas igrejas evangélicas assumi­
rem efetivamente esta estratégia terminaremos de alcan­
çar o mundo nesta nossa geração. Se os Apóstolos conse­
guiram por que nós não podemos? 
Os Apóstolos, e presumivelmente a geração discípula-
da por eles, entenderam e obedeceram esta estratégia de 
Cristo. Tanto assim que naquela geração, começando com 
aquele punhado de gente (lembrando também que não dis­
punham da tecnologia moderna), praticamente consegui­
ram alcançar o seu mundo. O Apóstolo Paulo fez planos 
para alcançar a Península Ibérica. Se podemos confiar na 
tradição da Igreja, o Apóstolo Tome logrou chegar até ao 
sul da índia! Mas infelizmente após a era apostólica a Igre­
ja foi perdendo essa visão e assim ficou através dos séculos, 
até a época das missões modernas. 
Como conseqüência deplorável da perda dessa visão, 
de lá para cá, através dos séculos e até hoje a maioria das 
pessoas nascem, vivem e morrem sem uma vez ouvir falar 
de Jesus Cristo. É a maior calamidade pública de todos os 
tempos! 
Por outro lado, se através dos séculos a Igreja tivesse 
sempre seguido esta estratégia então sem muita demora a 
Palavra de Deus teria sido levada a cada povo no mundo, e 
daí para frente cada geração sucessiva que nascesse teria a 
opção de receber ou rejeitar o Evangelho. Já pensou que 
maravilha? Pois através dos séculos cada povo viria tendo 
acesso efetivo à Palavra de Deus, ao Evangelho de Cristo. 
E ainda dá, embora tarde (mas antes tarde do que 
nunca!). Vejam só. Se a partir de hoje, de forma geral, o 
povo de Deus assumir efetivamente esta estratégia então 
deve acontecer o seguinte: os muitos jovens que Deus está 
chamando receberão apoio e sustento de suas igrejas. De­
verão se preparar adequadamente, inclusive adquirindo as 
ferramentas para lidar com outras línguas e culturas 
18 
(lembrar que muitas ainda não foram estudadas). Uma 
vez preparados serão semeados pelo mundo inteiro, nas á-
reas e junto aos povos onde ainda não existe acesso efetivo 
ao Evangelho. Gastarão uns dois anos adquirindo domínio 
da língua e cultura local que permita começar a falar de 
Jesus sem perigo demasiado de promulgar heresias. Daí 
para frente deve haver conversões e o surgir de novas igre­
jas onde nunca havia. Agora, essas igrejas devem também 
abraçar a estratégia de Cristo, e com isso começarão a 
evangelizar não somente na sua "Jerusalém" mas também 
na "Judéia" e "Samaria". Dessa forma, dentro de uma ge­
ração não sobraria povo ou lugar sem acesso efetivo ao 
Evangelho de Cristo. Para exemplificar, existem tribos 
indígenas no Brasil que há poucos anos receberam pela 
primeira vez a Palavra de Deus onde os crentes já se preo­
cupam não somente com o resto da sua etnia, sua "Ju­
déia", mas inclusive, querem enviar missionários para ou­
tras tribos. (Sei que estou deixando de lado as barreiras 
políticas e religiosas que aí estão para dificultar o em­
preendimento, vou comentá-las no capítulo IV, mas nosso 
Chefe é o dono da Chave de Davi - Ap 3.7.) 
A Situação no Brasil 
Aqui eu gostaria de tecer algumas observações quanto 
à situação e ao potencial do Brasil. Será que nossas igrejas 
e lideranças evangélicas estão entendendo e seguindo esta 
estratégia missionária de Cristo? - Qual é o enfoque princi­pal das nossas igrejas? - Não seria o evangelismo local, a 
nossa "Jerusalém"? Tudo bem até aí. E a nossa "Judéia"? 
Bem, a coisa não anda totalmente mal; está havendo um 
esforço visível no sentido de abrir novos trabalhos no inte­
rior dos estados, em lugares onde ainda não tenha igreja da 
"nossa" denominação, etc. E a nossa "Samaria"? Já que a 
Samaria representava uma cultura diferente encravada no 
território judeu, proponho que consideremos os povos indí­
genas do país como sendo a nossa "Samaria". Assim sen­
do, como anda nosso desempenho? Para começar, dos mais 
de 200 grupos indígenas distintos que existem no país peío 
menos a metade não tem trabalho evangélico ainda (No 
Brasil, pois existem alguns casos onde uma etnia fronteiri-
19 
ça tem trabalho evangélico do outro lado da fronteira.) Se 
não me engano, até hoje a maioria dos missionários viven­
do e trabalhando com índios no país são de origem estran­
geira. Contudo, devem existir mais de 200 obreiros nacio­
nais agindo dessa forma. Já é alguma coisa, mas será que 
podemos ficar complacentes diante desse quadro? O in­
gresso no país de novos missionários estrangeiros vem sen­
do difícil, e os que já estão aqui muitas vezes encontram 
restrições diversas. A vantagem que o obreiro nacional leva 
é óbvia, e deve ser explorada. 
E os "confins da terra": as 3,000 etnias sem qualquer 
porta-voz de Cristo ainda, os mais de 15.000 "povos não-
alcançados"? - Como anda o empenho brasileiro nessa di­
reção? - Agora o quadro piora bastante. Pensando em mis­
sionários de carreira radicados no exterior, deixando de lado 
os estagiários e turistas diversos, creio que o total atual di­
ficilmente passará de 400. - E esses 400 estão onde e fazen­
do o quê? - A grande maioria está ministrando em língua 
portuguesa ou em espanhol. Quer dizer, ou estão na Amé­
rica do Norte (incluindo Canadá) ou na Europa pregando 
para as colônias de fala portuguesa por lá radicadas, ou es­
tão nos países vizinhos de fala espanhola, onde a língua e 
cultura é bastante parecida com a nossa. E há vários 
atuando nas outrora colônias portuguesas, pensando que a 
língua portuguesa vai resolver por lá. Creio que uma mão 
dá e sobra para contar os brasileiros que estão no exterior 
visando alcançar uma etnia até aqui abandonada. Está 
bom? 
Quero deixar bem claro que nada tenho contra o al­
cançar das colônias de fala portuguesa na Europa e na 
América do Norte, e nem dos países vizinhos. Ê certo e jus­
to que os brasileiros se preocupem com esses alvos; estou 
de pleno acordo. Poderíamos, inclusive, incrementar o es­
forço nessa direção, No entanto, parece-me necessário dar 
um alerta: "não devíamos enviar obreiros para os países 
vizinhos sem preparo específico para enfrentar uma situa­
ção transcultural. Tenho ouvido queixas amargas contra 
os nossos obreiros que lá ficam sem nunca se darem ao tra­
balho de realmente dominar a língua e se entrosar na cul­
tura. Se contentam em falar um "portunhol" qualquer, 
20 
anos a fio. Estão repetindo os mesmos erros que tanto criti­
camos da parte dos missionários que trouxeram o Evange­
lho até o Brasil. 
O Potencial do Brasil 
Meus irmãos, temos de mudar esse quadro; temos de 
nos esforçar no sentido de realizar o grande potencial que o 
povo evangélico do país representa em prol do Reino de 
Deus. Tenho ouvido estimativas um tanto variadas quanto 
ao número absoluto de crentes evangélicos no Brasil; vão 
de dez a vinte milhões, ou mais. Por formação, gosto de ser 
um pouco cauteloso com esse tipo de coisa. Vamos come­
çar pelo piso. Devem existir, sem dúvida razoável, pelo 
menos dez milhões de crentes evangélicos no país. Mas 
essa cifra coloca o Brasil no segundo lugar no mundo livre 
no que diz respeito ao número absoluto de crentes. O único 
país que tem mais é os E.U.A. (Ouço dizer que na China 
tem mais, e queira Deus que seja verdade, mas confesso 
não entender como se podem verificar tais dados.) Já pen­
sou, dez milhões de crentes? Se pudéssemos mobilizar e 
engajar todo esse pessoal em torno das estratégias missio­
nárias de Cristo, encheríamos o mundo de obreiros brasi­
leiros. 
Tem mais uma. Quem mais tem feito até aqui no ter­
reno de missões mundiais, os norte-americanos, já não en­
contram a mesma facilidade de antes. Andam um tanto 
"queimados" no conceito de muitos países. Tem país por 
lá onde o americano quase não entra, sequer como turista. 
Mas ninguém tem raiva do Brasil, pelo menos ainda. As 
portas estão abertas para o brasileiro; ele encontra mais fa­
cilidade do que muitos outros, no momento. Chegou a nos­
sa vez! 
Irmãos, vamos colaborar com o Espírito Santo! Va­
mos levar a sério as ordens de Cristo. Vamos dar respaldo a 
nossos jovens que Deus está chamando para o trabalho 
transcultural. Em vez daquele "balde dágua fria" ("O 
quê!? Pode já tirar da sua cabeça essa idéia boba! Você 
não vai ser missionário coisa alguma; precisamos de você é 
por aqui. Quando terminarmos de ganhar todo mundo em 
Sâo Paulo, aí será tempo suficiente de olhar mais longe", 
21 
etc.) vamos incentivá-los, incentivá-los a se prepararem 
adequadamente (dando o sustento necessário), a fim de se­
guirem efetivamente para os campos do mundo. Vamos 
ajudá-los a achar a infra-estrutura apropriada para pode­
rem trabalhar de forma eficiente. Talvez seja preciso, in­
clusive, colaborar com a manutenção de tais infra-
estruturas. Enfim, vamos fazer o necessário para alcançar 
os confins da terra durante esta nossa geração! 
3 
Pregar a cada pessoa 
Prosseguindo, vamos atentar para as palavras do Se­
nhor Jesus que encontramos em Marcos 16.15: "Indo por 
todo o mundo, pregai o Evangelho a cada pessoa". Nova­
mente são palavras dirigidas a seus discípulos. O efeito es­
tratégico é transparente, se de fato pregarmos a cada pes­
soa então cada pessoa terá recebido sua oportunidade de 
conhecer Jesus como Salvador e Senhor da vida. O proble­
ma não seria entender esta ordem, mas sim acreditar. 
Um Neo-universalismo Recrudescente 
Deus me tem permitido ministrar em muitas igrejas 
evangélicas pelo Brasil a fora, em igrejas de mais de vinte 
denominações. Tenho constatado um fato alarmante. 
Muitos crentes, e até pastores e líderes, simplesmente não 
crêem ser necessário pregar o Evangelho a cada pessoa no 
mundo. Existe um "neo-universalismo" recrudescente em 
nosso país. Podemos colocar a idéia nas palavras que ouvi 
de um certo pastor, há vários anos: "Um Deus bom, justo, 
de amor não poderá nunca condenar o índio inocente". E 
une eu andava conclamando os.brasileiros a se engajarem 
no esforço de alcançar os povos indígenas do país, pois o 
nosso Governo vinha restringindo a ação dos missionários 
estrangeiros nesse setor. Mas aquele pastor não quis saber. 
Não era preciso se preocupar com a salvação do índio. 
Deus iria dar um jeito. 
Estamos diante de uma hipótese que acarreta conse­
qüências gravíssimas. Não é necessário ser profeta para 
enxergar que essa história corta pela raiz qualquer senti­
mento de urgência, qualquer preocupação maior com a 
sorte espiritual das pessoas e dos povos que nunca ouviram 
falar de Jesus. Pois se Deus vai dar um jeito (daí se vê que 
deve ser brasileiro), então vai dar um jeito e podemos ficar 
despreocupados. Obviamente um jeito dado por Deus terá 
que ser adequado. Se o índio é inocente e se portanto não 
pode ser condenado, então Deus terá que salvá-lo (pois o 
espírito do ser humano é imortal, e só há dois destinos, ou 
ficar com Deus, que é vida eterna, ou ficar separado dEle, 
que é condenação eterna). Se existe "inocência" que impli­
ca em salvação, devemos reformular a nossa soteriologia, 
pois aí teria mais de uma maneira de alcançar a vida eter­
na. 
Afinal, nosso SENHOR Jesus Cristo mandou fazer­
mos discípulos em todas as etnias. Vamos obedecer ou não 
vamos? Mandou pregarmos o Evangelho a cada pessoa, 
indo pelo mundo inteiro. Vamos obedecer ou não vamos? 
Quem achar que não precisa obedecer, rejeitando inclusive 
os termos das ordens, deve ser coerente e pararde se apre­
sentar como servo de Jesus! Alguma dúvida? Bem, sei que 
não iremos resolver o problema de uma vez dessa forma, 
pois as pessoas nem sempre são coerentes. Então, vamos 
avaliar cuidadosamente essa hipótese neo-universalista. 
Não há "Inocente" 
Parece-me que a questão gira em torno da idéia de "i-
nocência". É porque o índio (por exemplo) seria "inocen­
te" que Deus não deveria condená-lo. Muito bem, como 
poderemos definir essa "inocência"? Vou conduzir a dis­
cussão em termos do índio por ter conhecimento de causa, 
por ter experiência íntima. Vivi numa aldeia de índios em 
plena selva amazônica, um total de 24 meses. (Trata-se da 
24 
nação indígena Apurinã do Rio Purus, no Amazonas.) 
Contudo, creio que as observações feitas a respeito do nosso 
índio são igualmente válidas para os povos indígenas da Á-
frica, da Ásia e das ilhas do Oceano Pacífico, onde se en­
contram as etnias não-alcançadas do mundo. Vamos então 
à "inocência". 
Muitos brasileiros duvidam da inteligência, da capa­
cidade mental e moral do índio, como se não passasse de 
criança. Aliás, a política federal do país parece retratar 
essa visão pois a Fundação Nacional do índio (FUNAI), ór­
gão federal, detém a tutela do índio. Quem precisa de tute­
la é menor, incapaz perante a lei. No Norte do país é co­
mum ouvir o índio tratado de "bicho". Já ouvi alguém ex­
pressar a idéia de que "a língua do índio" seria uma "bes­
teira" de uns 300 vocábulos, uma coisa pouco mais evoluí­
da do que o grunhir dos animais. (Observar de passagem 
que não existe "a língua" dos índios, pois são muitas: cada 
tribo tem uma língua diferente.) É engano total. São tão 
inteligentes quanto nós. Não faltam provas disso. 
Podemos começar pela língua. Tenho doutorado em 
lingüística. Domino o Português e o Inglês. Já estudei o 
Grego e o Hebraico, e, em escala bem menor, Latim e o 
Alemão. Tenho "triscado" em várias línguas ameríndias. 
Quero dizer que a língua Apurinã é a coisa mais complexa 
que já vi. Só para exemplificar, um verbo inglês é passível 
de até cinco flexões diferentes na estrutura interna da pa­
lavra, na morfologia. Já algum verbo português, dos bem 
irregulares, é passível de até 66 flexões diferentes na mor­
fologia da palavra. Mas um verbo Apurinã, com suas três 
ordens relativas de prefixos e 14 ordens relativas de sufixos 
(que comportam uns 60 afixos, até onde eu domino, pois 
existem outros mais), se cada combinação matematica­
mente possível pudesse ocorrer (existem umas poucas res­
trições de co-ocorrência), seria passível de pelo menos 20 
milhões de flexões diferentes dentro da morfologia da pa­
lavra. É isso mesmo, 20 milhões, e isso até onde eu domino 
tão-somente. Daí o leitor poderá entender que eu perco a 
paciência quando alguém chega perto de mim querendo 
lLfázer pouco" da inteligência do índio. 
25 
Queria que você estivesse na minha casinha de palha 
na aldeia a ouvir os homens discutindo os prós e os contras 
do Evangelho numa perfeita demonstração de compreen­
são e raciocínio. Ninguém se iluda, são seres humanos 
como nós, criados à imagem e semelhança de Deus. Às ve­
zes eles nos parecem lerdos quando se encontram eríl nosso 
meio, por não entenderem nossa língua e cultura. Assim 
como nós pareceríamos igualmente lerdos no meio deles, 
exatamente por não conhecermos a língua e cultura deles. 
Enfim, não podemos definir "inocência" em termos de fal­
ta de inteligência, raciocínio ou capacidade mental. Ou 
pelo menos, se assim fizermos nem o índio e nem os demais 
povos indígenas do mundo se enquadram nessa definição. 
Os povos indígenas do Brasil e, em grande parte, do 
mundo são animistas, isto é, o culto ou religião deles con­
siste na tentativa de apaziguar os demônios, os espíritos 
malignos que entendem ser os responsáveis por todos os 
males que lhes atingem. (Mesmo as etnias da África apa­
rentemente convertidas ao islamismo entendo ainda esta­
rem às voltas com os demônios numa espécie de sincretis-
fflo.) Sabem que existem espíritos bons também, mas 
conscientemente cultuam os maus. Não se trata de crendi­
ce ou superstição. É uma atitude lógica e inteligente den­
tro da realidade que eles vivem. São verdadeiramente per­
seguidos pelos espíritos malignos, pois estes existem e as­
sim atuam. Ignorando a existência dum poder benéfico 
maior capaz de livrá-los da perseguição dos demônios ou, 
no caso dos que sabem existir um Criador bom mas que há 
muito perderam contato com ele, não sabendo como acio­
ná-lo em seu favor, fazem o que sobra para fazer. Procu­
ram diálogo com os espíritos para ver se a coisa melhora, 
ao menos um pouco. 
Ora vejam, quem conscientemente cultua os demô­
nios, e por trás deles Satanás (pois sabem que os demônios 
têm um chefe), deixando de lado os espíritos bons e o pró­
prio Criador, não é "inocente" e nem deve ser assim consi­
derado. 
Depois têm a consciência, que Deus coloca em cada 
ser humano (ver Rm 2.14-16). Muito precioso neste sentido 
é o subsídio trazido por Don Richardson no seu livro, O 
26 
Fator Melquisedeque (Editora Vida Nova, 1986). Ele ar­
gumenta que não somente as pessoas, mas inclusive as cul­
turas trazem aspectos, tipo memória da antigüidade, que 
preparam os povos para a chegada do Evangelho, e de cer­
ta forma os predispõem a aceitá-lo. Ele cita um bom nú­
mero de exemplos bastante interessantes, 
E tem a luz da criação que deve levar cada ser cons­
ciente a se curvar diante do Criador (ver Rm 1.18-20), pois 
todo o processo cognitivo do ser humano parte do princípio 
de causa e efeito. Observamos um efeito e procuramos iso­
lar a causa que produziu esse efeito; pela lógica a causa 
tem de ser igual ou superior ao efeito que produziu, pois 
caso contrário não seria capaz de produzi-lo. Confesso não 
entender os cientistas que afirmam ser materialistas, pois 
toda experiência científica também se baseia no princípio 
de causa e efeito. Parecem-me incoerentes. 
Suponho existir apenas uma definição de "inocência" 
possivelmente capaz de suportar a luz do dia: seria a igno­
rância, a falta de ouvir. Quer dizer, um Deus justo não po­
deria condenar uma pessoa que nunca ouviu falar de Cris­
to. Só tem um pequeno problema: Deus não aceita. Rm 
1.18-20 deixa claro que todo ser racional tem a luz da cria­
ção, e Deus vai cobrar essa luz: "para que fiquem inescu-
sáveis" (ver também Salmo 19.1-4). Romanos 3.10-12 é 
mais do que claro: para Deus não existe "inocente"!! Se­
gundo Isaías 64.6, até nossas "justiças" Deus tem como 
"trapos imundos". 
Deus É Justo 
Contudo, Deus é justo. Ele reconhece a diferença en­
tre pouca luz e muita luz. "Para com Deus não há acepção 
de pessoas, porque todos os que sem lei pecaram sem lei 
também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram pela 
lei serão julgados" (Rm 2.11,12). Embora todos tenham a 
luz da criação, certamente ela não se compara com a luz 
da revelação escrita de Deus. Lucas 12.47,48 diz respeito 
ao Tribunal de Cristo, e não ao julgamento dos incrédulos, 
mas também deixa claro que Deus reconhece graus de res­
ponsabilidade. Observem, no entanto, que os sem lei 
27 
"perecerão" e os servos que não sabiam a vontade de Deus 
"serão castigados", embora menos. 
Agora vamos ao juízo final dos ímpios, o grande trono 
branco que é descrito em Apocalipse 20.11-15. "Vi um 
grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja 
presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para 
eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, pos­
tos em pé diante do trono. Então se abriram livros. Ainda 
outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram 
julgados segundo as suas obras, conforme o que se achava 
escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A 
morte e o Hades entregaram os mortos que neles havia. E 
foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então 
a Morte e Hades foram lançados para dentro do Lago de 
Fogo. Esta é a segunda morte, o Lago de Fogo. E se alguém 
não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado 
para dentro do Lagode Fogo." 
Gostaria de observar de passagem que não deverei 
comparecer diante do grande Trono Branco, mas se fosse 
comparecer e ser julgado segundo minhas obras fatalmen­
te eu seria lançado no Lago de Fogo. Pois pelas obras nin­
guém se salva (ver Is 64.6; Jr 17.9; Rm 3.20 e 23 entre ou­
tras: estou falando de salvação, não galardão). Não irei 
para o Lago porque pela graça de Deus meu nome está la­
vrado no livro da Vida. Muito obrigado, Senhor Jesus! 
Mas gostaria de imaginar que seja possível observar esse 
julgamento. Suponhamos que chega a vez dum índio e nós 
podemos acompanhar o caso. 
Ouve-se a bronca: "Mas Senhor Deus, como pode? 
Nunca jamais chegou alguém a nossa aldeia, a nosso povo 
para nos falar de Jesus. Todos nós nascemos, vivemos e 
morremos sem nenhuma vez ouvir o Evangelho de Cristo. 
Como poderá me julgar?" É claro que o que segue é 
mera especulação, mas imagino que a resposta de Deus se­
ria mais ou menos a seguinte: "É. Sei. Desgraçadamente 
você nunca ouviu. Através dos séculos cansei de mandar 
meus supostos servos mas nenhum deles prestou ouvidos e 
você ficou sem ouvir. Lamento profundamente! Mas quero 
que você saiba que não vou te julgar por um evangelho que 
você nunca ouviu. Vou te julgar, sim, segundo as tuas 
28 
obras." Duas vezes no texto em pauta repete-se a expres­
são, "foram julgados cada um segundo as suas obras". 
Agora, como é que se pode avaliar as obras de alguém? 
Tem de ser dentro do contexto que esse alguém viveu. É 
preciso saber o que ele estava sentindo, quais as pressões 
que estava sofrendo. É que cada povo tem lei, tem moral, 
tem normas de conduta. É claro que sua moral fica aquém 
da moral da Bíblia, mas tem moral. Eles entendem que 
certas coisas são boas e que outras são más. Então, Deus 
vai julgar aquele índio dentro de sua própria cultura, den­
tro da lei e moral que ele muito bem conhecia, reconhecia e 
abraçava. E Deus vai provar que mesmo dentro daquele 
contexto o índio não correspondeu {não esquecer da luz da 
criação e a consciência que também serão cobradas). Dian­
te do grande Trono Branco não haverá ninguém a dizer 
que Deus é injusto. 
Não, irmãos, que ninguém se iluda! O índio que nun­
ca ouviu o Evangelho está condenado. Para Deus não exis­
te "inocente". 
A Hipótese Neo-universalista 
Mas essa idéia "neo-universalista" exerce um fascínio 
tão grande sobre as pessoas em nossos dias que julgo con­
veniente tecer mais uns comentários a respeito. Vou partir 
da posição já exposta, que a única definição de "inocên­
cia" possivelmente válida seria a de ignorância. A saber, 
um Deus justo não poderia condenar a quem nunca ouviu. 
Pois bem, nesses termos o "cristão" neo-universalista tem 
um jesus "monstro" e um deus "sem inteligência". (Sei 
que o irmão talvez sinta um mal-estar diante desses ter­
mos, mas os escrevo de propósito pois a repulsa que o pró­
prio Deus sente diante da hipótese neo-universalista deve 
ser bem maior.) 
É claro. Se Deus não pode condenar a quem nunca ou­
viu (pela hipótese) então o ignorante terá que ser salvo 
(lembrar que só há dois destinos para o espírito do ser hu­
mano). Mas ai o Evangelho de Cristo passa a ser uma men­
sagem de condenação e não de salvação, uma mensagem 
de morte e não de vida. Pois enquanto alguém o ouvir é sal­
vo (pela hipótese), mas no momento que ouvir se não acei-
29 
tar fíca condenado. Já imaginou tamanha "fria" para o 
proclamador do Evangelho - andar acabando por aí com a 
"inocência" da8 pessoas?! Isso é fazer de Jesus um "mons­
tro", pois Ele mandaria pregar a cada pessoa condenando 
com isso multidões que, de outra forma, seriam salvas! Já 
pensou? 
E é também fazer de Deus um ser sem inteligência, 
pois enviar o seu Filho para assumir a forma de homem e 
sofrer tudo o que sofreu seria simplesmente desnecessário 
(pela hipótese). Mas não podemos cometer a irreverência 
de fazer de Deus um ser sem inteligência, nem de fazer de 
Jesus um monstro, assim o que está errado é a hipótese 
neo-universalista. 
_ (É estranho como as pessoas se julgam mais justas e 
mais sábias que o Criador. A Bíblia diz que Deus criou o 
homem à sua própria imagem e semelhança, mas de lá 
para cá parece que os homens estão empenhados em devol­
ver o favor, pois, a exemplo do neo-universalista, não gos­
tando do Deus da Bíblia, bolam um outro deus mais de seu 
agrado, um deus sem surpresas indesejadas, um deus bem 
do tamanho e do jeito deles. Só que, amigo neo-
universalista, um deus bolado por você será fatalmente 
menor que você, um deus pífio, um deus que não é nada.) 
Conclusão 
Conclusão: Temos de levar Marcos 16.15 a sério. O 
Evangelho de Cristo é a única saída para todas as pessoas. 
Já que não há inocente perante Deus, é totalmente neces­
sário pregar a cada um. Mas aí vem a pergunta: e se al­
guém corresponder realmente à luz da criação? Teorica­
mente é possível, mas na prática é impossível por causa da 
pressão exercida sobre a pessoa pela cultura. Como diz em 
1 Jo 5.19, o mundo "jaz no maligno": há forte influência 
satânica nas culturas do mundo. E como já expliquei, em 
geral as culturas das etnias não-alcançadas são exatamen­
te aquelas que giram em torno do culto aos demônios. 
Quer dizer, uma criança nascida dentro duma dessas cul­
turas é "programada" desde cedo com essa visão de mun­
do. Conseqüência: torna-se impossível para ela refletir li-
30 
vremente sobre a criação e tirar as devidas conclusões, cur-
vando-se assim diante do Criador. 
Novamente surge o problema da "justiça" de Deus. 
Como podia Ele criar uma raça que Ele muito bem sabia 
iria cair sob o domínio de Satanás, e, como conseqüência, 
nasceriam pessoas que seriam "programadas" por suas 
culturas e que ficariam sem condições de corresponder à 
luz da criação, pagando por isso o preço de passar a eterni­
dade no Lago de Fogo? Como pode? Não sei. Deus não ex­
plica. Quando Deus não explica uma coisa dessas temos só 
duas opções: aceitar ou rejeitar. Rebelar-nos contra Ele ou 
curvar-nos diante dele. Existem coisas que pertencem à 
soberania de Deus e quem entre nós for sábio as deixará 
com Ele! Não é isso que é declarado em Deuteronômio 
29.29: "As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nos­
so Deus"? Não temos o direito de entender tudo e nem a 
obrigação de explicar tudo. Parece-me ser a mensagem 
central do livro de Jo: no fim Deus não explicou, não satis­
fez a perplexidade de Jo. Ele disse em outras palavras, 
"Eu sou grande e você é pequeno, eu sou o Criador e você 
não tem condições de discutir comigo" (capítulos 38 a 41). 
E ficou por isso. Jo saiu-se bem porque reconheceu sua pe­
quenez e calou a boca (Jo 40.3-5; 42.1-6). 
Quando introduzimos nossas idéias humanísticas em 
qualquer questão é para mostrar mais uma vez a "queda" 
idolatra do nosso coração. Vejamos o caso da criancinha 
que morre. Vai para o Céu ou para o Inferno? A Bíblia não 
diz; simplesmente silencia perante esse assunto. (Nossas 
versões despistam ao traduzir "dos tais é o reino dos céus" 
em Mateus 19.14; Marcos 10.14,15 e Lucas 18.16,17; a tra­
dução correta seria "de tais..." Obviamente, não é verdade 
que só crianças entram no Reino, que parece-me ser o sen­
tido natural da frase "dos tais..."; adulto também pode. A 
"Corrigida" despista quando traduz Marcos 10.15 por "re­
ceber o reino de Deus como menino", a "Atualizada" está 
melhor quando diz "como uma criança". O que o texto es­
tá dizendo é que um adulto tem de receber o reino assim 
como uma criança o recebe, que parece-me ser o sentido 
natural da frase "de tais..." A criança é simples, a criança 
é literalista, a criança aceita cegamente a palavra dos pais. 
31 
No entanto, estou plenamente convicto de que pode­
mos confiar em nosso Deus: Ele sabe o que faz e um dia, 
uma vez glorificados, haveremos de entender a razão das 
coisas. Vejam o que está encravado exatamente no meio 
dos dez mandamentos, aquilo que foi gravado nas tábuas 
de pedra: "visito a iniqüidade dos pais no filhos até a ter­
ceira e quarta geração daqueles que me aborrecem,e faço 
misericórdia até mil gerações àqueles que me amam e 
guardam os meus mandamentos" (Êx 20.5,6)! Já parou 
para pensar? Vale dizer que a misericórdia de Deus é 250 
vezes maior que a punição! De Adão até aqui talvez não te­
nha havido 300 gerações ainda: a misericórdia de Deus é 
praticamente inesgotável. Pode confiar na justiça de Deus, 
meu irmão, pode confiar. 
Já ouvi comentar uns dois ou três casos na história das 
missões modernas onde Deus fez milagre para garantir que 
o conhecimento do Evangelho de Jesus chegasse a alguém 
que aparentemente fazia jus à luz da criação. O caso de 
Cornélio (Atos 10) quase chega a ser um exemplo bíblico, 
mas ele estava cercado de judeus e certamente não estava 
limitado à luz da criação. (Pessoalmente, suponho ser exa­
tamente assim que Deus faz frente aos eventuais casos 
onde alguém parece corresponder adequadamente à luz da 
criação. Remove céu e terra, se preciso, mas faz chegar a 
luz maior, e necessária, do Evangelho.) Muito bem, mas 
observe por favor que jamais no mundo devemos basear 
nossa estratégia missionária em dois ou três raríssimos ca­
sos. Certamente Jesus, Deus, o Filho, sabia que, eventual­
mente, poderiam surgir tais raríssimos casos, mas ao dar 
suas ordens nem sequer mencionou a possibilidade. Ao tra­
çar sua estratégia missionária, o Senhor Jesus mandou 
pregar o Evangelho a cada pessoa. Vamos obedecer? 
32 
4 
Fazer discípulos, não 
meramente convertidos 
Agora vamos atentar para as palavras do Senhor Jesus 
que encontramos em Mateus 28.18-20, a chamada Grande 
Comissão de Cristo, A primeira coisa que nos chama a 
atenção é a declaração feita no verso 18: "É-me dado todo 
o poder no céu e na terra." (Outra versão diz "autoridade" 
que resulta na mesma coisa, pois não há autoridade sem 
poder.) Em outras palavras, Jesus se declara como Sobera­
no do Universo, o Maior. Esta declaração tem pelo menos 
dois reflexos para os seguidores de Cristo. 
Primeiro, é condição básica de êxito sabermos que 
nosso Deus é o Maior. É esta certeza inabalável que nos 
dará as condições de enfrentar o inimigo e as circunstân­
cias adversas, sem temer e sem vacilar. 
Segundo, qualquer ordem dada pela Autoridade Má­
xima do Universo exige atenção e respeito total. Para co­
meçar, tal atenção e respeito tem de se manifestar numa 
exata atenção prestada ao exato sentido da ordem. Preci­
samos definir o conteúdo semântico da ordem de forma 
completa e perfeita, se possível. Pois, ao proferir uma or­
dem, nosso Deus obviamente quer ser obedecido, e de for-
33 
ma certa e completa. Então, vejamos agora o conteúdo se­
mântico da ordem. 
O Sentido da Ordem 
Uma tradução rigorosa seria mais ou menos a seguin­
te: "Ao irem, discipulai todas as etnias, batizando-as em 
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a 
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado." (Tam­
bém poderíamos traduzir "fazei discípulos em todas as et­
nias".) Constatamos que só tem um verbo no imperativo, a 
saber "discipulai". Daí se vê que teremos de procurar a es­
sência da ordem nesse verbo. Sei que nossas principais ver­
sões traduzem o verbo "ir" como se também estivesse no 
imperativo, mas não está: está no particípio. Portanto, não 
pode representar a ação principal; é uma circunstância. 
Creio que, pensando um pouco, fica claro que o ir não pas­
sa de circunstância. A gente "vai" para chegar no lugar 
onde deve trabalhar. Alguém poderia passar o tempo todo 
indo e nada fazer, um eterno turista. O Senhor Jesus faz de 
conta que já estaremos indo, ou já teremos ido (ao pé da le­
tra a tradução seria "tendo ido"). Em outras palavras, 
onde quer que cada um esteja, conforme a vontade de Deus 
para cada qual, a ordem é fazer discípulos. 
A ordem é, fazer discípulos. Infelizmente a versão 
"Corrigida" despista ao traduzir "ensinai": o verbo ensi­
nar está, sim, no começo do verso seguinte, mas não no 
verso 19. (Observe-se, de passagem, que a maioria esmaga­
dora dos manuscritos gregos que contêm este trecho não 
tem a palavra "portanto", razão por que não a coloquei na 
minha tradução.) Já que a ordem é fazer discípulos, antes 
de mais nada precisamos entender a acepção exata que Je­
sus tinha do vocábulo "discípulo", pois aí está o cerne da 
ordem. 
Então, que entendia Jesus por "discípulo"? O contex­
to imediato fornece um bom subsídio, pois o verso 20 diz: 
"ensinando-os a guardaT todas as coisas que vos tenho or­
denado". Quer dizer que fazer discípulo implica em ensi­
nar (não meramente pregar). Mas ensinar o quê? Ensinar 
a guardar, isto é, a obedecer a todas as coisas que Jesus 
mandou. Mas obviamente ninguém pode obedecer a algu-
34 
ma coisa que ignora; daí teremos que ensinar as próprias 
coisas que Jesus mandou, e todas elas. Será exatamente 
isso que estamos fazendo nas nossas igrejas? 
Convido a atenção do leitor para Lucas 14.25-33, úni­
ca passagem onde se preserva nas próprias palavras de Je­
sus uma definição de discípulo, e onde Ele emprega a pala­
vra "discípulo" de sorte que não há como não entender (é 
claro que discipulado é abordado em outras passagens, 
mas como a palavra "discípulo" não se encontra aí poderia 
haver discussão a respeito). Três vezes encontramos a frase 
"não pode ser meu discípulo". A expressão é enfática, 
principalmente no texto original. Trata-se de condições 
absolutas que o Senhor coloca: quem não preencher não 
tem jeito. Vamos, pois, às condições: 
Aborrecer. A primeira se encontra no verso 26. "Se 
alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mu­
lher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda também a sua pró­
pria vida, não pode ser meu discípulo." Mas que palavra 
difícil! Será que tenho mesmo é que aborrecer (o verbo gre­
go é "odiar") inclusive aos entes mais queridos? Como po­
de? Deus não manda amar as pessoas? - Que será que Je­
sus quer dizer com essa palavra tão dura? - Deve ser en­
tendida de forma comparativa, assim como está na passa­
gem paralela, Mateus 10.37: "Quem ama o pai ou a mãe 
mais do que a mim não é digno de mim". 
Em outras palavras, Jesus exige de mim, caso me pro­
ponha segui-lo como discípulo, que eu coloque meu relacio­
na mento com Ele acima de todos os demais relacionamen­
tos na vida, quer seja com pai, com mãe, com mulher, com 
filhos ou com o próprio "eu". Jesus exige o primeiro lugar, 
sem concorrência. Agora, quem sustentar um relaciona­
mento assim com o Senhor Jesus se verá, vez por outra, 
"brigado (pelo próprio Jesus) a se comportar de uma ma­
neira que as pessoas que estão do lado de fora de um tal re­
lacionamento com Jesus não irão entender. Não saberão 
interpretar corretamente. Vão interpretar como descaso, 
desprezo, aborrecimento, ódio até. Senão, vejamos. 
Mais de uma vez já houve quem me dissesse bem ob-
lelivnmente, bem claramente, que eu certamente aborre-
olt minha esposa e minhas filhinhas por carregá-las selva 
35 
adentro, a fim de morarmos em plena aldeia de índios, 
como fiz, com efeito. Tais pessoas não conseguiam enten­
der meu comportamento. Não dava para entender que um 
chefe de família com as minhas condições iria expor essa 
família à vida difícil, primitiva, até perigosa de plena selva 
amazônica, inclusive dentro de aldeia indígena, privando-
a assim do conforto e das vantagens da cidade. Só podiam 
interpretar meu procedimento como falta de responsabili­
dade. 
E quantos missionários, cujos pais não compartilha­
vam o ideal do filho, na hora difícil da despedida, prestes a 
zarparem para outra terra, não têm ouvido dos lábios dos 
próprios pais palavras mais ou menos assim: "Mas meu fi­
lho, você odeia a gente, você vai abandonar a gente, vai se 
lascar sabe lá aonde, não faça isso meu filho!". Naquela 
hora de angústia os pais lançam mão de exatamente esse 
tipo de linguagem: interpretam o procedimento do filho 
como descaso, desprezo, ódio até. Daí se vê que ao fazer 
uso da palavra "aborrecer" Jesus não estava exagerando, 
não estava sendo ridículo. É isso mesmo: aborrecer. 
No entanto, gostaria de avaliar a questão daresponsa­
bilidade. Será que agi de forma irresponsável ao levar mi­
nha família selva adentro para morar com índios? Qual se­
ria melhor, a selva com Jesus ou a cidade sem Ele? Se levo 
a família para a selva obedecendo à ordem de Jesus, quem 
responde pelas conseqüências é Ele. Se permaneço na ci­
dade contra sua vontade aí quem responde sou eu. Sei que 
a questão é bastante séria como prática, pois conheço ho­
mens que sabiam perfeitamente ter um chamado missio­
nário mas não atenderam, alegando a esposa: não pode­
riam expor a mulher a esse tipo de vida. 
Aliás, o Antigo Testamento nos traz o relato de certos 
homens que fizeram opção semelhante. Refiro-me aos 
guerreiros de Israel em Cades-Barnéia, No cronograma de 
Deus estava na hora de invadir a Terra Prometida, mas 
dez dos doze espias desanimaram a turma e se rebelaram 
contra a ordem de Deus, ordem já dada e conhecida. Como 
justificativa, alegaram que se obedecessem seriam mortos 
e aí como seria o caso das suas mulheres e crianças. Não 
bastasse, ainda, fizeram uma contraproposta a Deus: seria 
36 
até melhor morrer por ali. (É muito perigoso fazer contra­
propostas a Deus, pois Ele é capaz de aceitá-las, como no 
caso em pauta.) Como resultado passaram mais 38 anos 
vagando no deserto. (Ver Dt 2.14) até que todos os homens 
que votaram contra Deus em Cades-Barnéia morressem. 
Não ficou um sequer para atravessar o rio Jordão. Já as 
mulheres e crianças, a suposta justificativa pela desobe­
diência, Deus fez entrar na Terra Prometida. 
Meus irmãos, enfrentemos qualquer perigo menos de­
sobedecer à vontade conhecida de Deus. Fazer contrapro­
postas nem se pense! Nosso Deus se responsabiliza pelas 
conseqüências das suas ordens, quando obedecidas. Privar 
a família da proteção de Deus, expondo-a às conseqüências 
da nossa desobediência, isso sim é ser irresponsável. O 
discípulo verdadeiro de Cristo deve sempre preferir "abor­
recer" a família, e sua própria pessoa, antes de desobede­
cer a Deus. É isso mesmo. 
Levar a cruz. A segunda condição se encontra no ver­
so 27 (Lc 14). "Qualquer que não levar a sua cruz, e não 
vier após mim, não pode ser meu discípulo." Que será que 
0 Senhor entende pela palavra "cruz"? Seria o adorno que 
alguém leva no pescoço? Algum problema na vida, ou 
aquele vizinho que você não agüenta? Não. Há dois mil 
anos cruz significava uma só coisa: morte. Representava 
maneira de matar, aliás a mais melindrosa da época. Creio 
que em Lucas 9.23 temos uma palavra que versa sobre o 
mesmo assunto. Jesus disse a todos: "Se alguém quer vir 
após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, 
e siga-me." O próprio conteúdo semântico do verbo "le­
var" (Lc 14.27) dá a idéia de uma ação contínua. Já aqui, 
em Lucas 9.23, temos de "tomar cada dia" a nossa cruz -
parece ser uma morte diária. 
Aliás, o apóstolo Paulo usa exatamente essa expressão 
• a 1 Coríntios 15.31, dizendo que ele morria cada dia. Mas 
como entender essa expressão? Obviamente não se trata 
de morte física. Como então? Creio que o "negar-se a si 
mesmo" (Lc 9.23) nos aponta o caminho certo. É uma 
morte para si, para as próprias idéias, ambições, desejos e 
qncreres; é um abrir mão do meu suposto direito de man-
Otr na própria vida. E esta atitude tem de ser renovada 
37 
cada dia, e quem sabe cada hora. Parece-me ser o efeito da 
expressão que achamos em Romanos 12,1 onde fala em 
apresentarmos os nossos corpos em "sacrifício vivo". 
- Mas essa expressão não lhe parece um pouco estra­
nha? No Antigo Testamento, no meio de tantos animais 
sacrificados, tantos holocaustos, houve alguma vez sacrifí­
cio vivo? Como e quando passava um animal a ser sacrifí­
cio? Não era no momento da degola, vertendo seu sangue? 
Logo, só teria sacrifícios mortos. Mas Paulo fala de sacrifí­
cio "vivo". Creio ser exatamente o "levar da cruz" que já 
notamos: é uma morte contínua, viver morrendo. É negar-
se a si mesmo a cada passo. E Jesus declara que sem esta 
disposição é impossível ser discípulo dele. 
Renunciar tudo. A terceira condição se encontra no 
verso 33 (Lc 14). "Assim, pois, qualquer de vós que não re­
nuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo." O 
"assim, pois" liga este verso às duas ilustrações dadas nos 
versos 28 a 32. Creio que essas ilustrações dizem mais res­
peito ao ato de entrar na condição de discípulo, que iremos 
examinar daqui a pouco, mas interessa observar aqui que 
se trata duma decisão consciente e estudada, um ato do 
arbítrio. E não pode ser diferente, pois aqui Jesus exige 
uma renúncia completa, uma entrega sem reservas - en­
fim, uma entrega de "tudo quanto tem". 
Avaliando as três condições juntas, podemos consta­
tar que, de certa forma, são três maneiras diferentes de di­
zer a mesma coisa. Embora uma condição focalize os rela­
cionamentos, outra as ambições e a terceira as coisas, são 
expressões de uma realidade básica. Nosso Senhor Jesus 
Cristo exige compromisso total! Agora podemos afirmar a 
definição que o Senhor deu à idéia de "discípulo". Para Je­
sus, discípulo é alguém que tem (e mantém) compromisso 
total com Ele. 
Voltando a Mateus 28.19, vamos ver se entendemos 
melhor a ordem. A ordem é fazer discípulos. Discípulos, 
não meramente "crentes" ou convertidos, mas discípulos, 
na acepção da palavra que o Senhor Jesus tinha, e tem. 
Discípulos, pessoas cujas vidas efetivamente giram em 
torno da causa e da vontade de Cristo, pessoas que vivem 
em função do Reino. 
38 
O Efeito Estratégico 
Que estão a fazer as nossas igrejas, em geral? 0 enfo­
que, quase exclusivo, é no evangelismo. Será que não? Es­
tamos a fim de "ganhar almas", de ver as pessoas converti­
das. (Isso nas igrejas que ainda têm compromisso com a 
Bíblia; certas outras não passam de clubes sociais e já es­
tão nas mãos do inimigo.) Nas igrejas "tradicionais" ou 
"históricas" o novo convertido deve freqüentar os cultos e 
participar da vida da igreja; querendo ser bom mesmo pas­
sa a ser dizimista. Já nas igrejas "pente eostais" ou "reno­
vadas" o novo convertido deve também procurar "a segun­
da bênção"; sendo "batizado no Espírito Santo", aí che­
gou mesmo. Mas quem está fazendo discípulos no sentido 
que Jesus mandou? 
Qual será o resultado prático desse enfoque nosso? É 
exatamente aquele quadro calamitoso que já comentamos: 
meio mundo sem ouvir uma vez o Evangelho de Cristo; 
metade das etnias tem sequer um porta-voz de Cristo ain­
da. É claro. O enfoque de apenas ganhar almas enche as 
igrejas de crianças, crianças espirituais (não tem nada a 
ver com a faixa etária da pessoa). Pois bem, e daí? Daí, 
criança trabalha? Criança não trabalha, dá trabalho (e 
como!) Amados irmãos, estamos diante duma questão do 
tamanho do mundo, literalmente. Embora possa doer, pre­
cisamos avaliar objetiva e corajosamente este assunto: o 
destino eterno do mundo está em jogo. 
Menor abandonado não é negócio. Que devemos 
pensar de um homem que no âmbito físico anda gerando 
filhos sem ter a menor preocupação com a alimentação, o 
abrigo^ a educação, enfim o cuidado desses filhos? Com 
toda justiça tacharemos este homem de irresponsável, de 
inimigo da nossa sociedade. Sim, porque ele está introdu­
zindo menores abandonados na sociedade, e, estatistica­
mente, muitos deles (provavelmente a maioria) passarão a 
Ber marginais e criminosos. Menor abandonado não é negó­
cio! Gostaria de sugerir para a reflexão cuidadosa do leitor 
que existe uma analogia quase perfeita entre o âmbito físi­
co e o âmbito espiritual nesta área. 
39 
Quando trazemos à luz filhos espirituais (por assim 
falar), mas não os discipulamos, não os levamos a fazer 
uma entrega sem reservas a Jesus, não os levamos à con­
dição de adultos na fé, então acarretamos uma série de 
conseqüências negativas. Que é que mais faz pastor enve­
lhecer antes da hora? São os incrédulos lá fora, ou é a 
criancice dentro da igreja? É claro que é a criancice espiri­
tual na igreja. (Observar de passagem que às vezes a justi­
ça se faz, pois quando o pastor só prega mensagens evan-gelísticas o maior culpado é ele mesmo, pois não apascenta 
as ovelhas. Comida de bodes não serve para ovelha.) 
Ao fazer evangelismo pessoal, qual a desculpa que 
mais se ouve quando alguém quer se livrar? Ele não apela 
para a vida do crente Fulano, Beltrano ou Cicrano? E a 
criancice espiritual na igreja. E depois tem os "gatos escal­
dados" - são aqueles que dizem, "já fui crente". Que será 
que aconteceu com ele? Presumivelmente ouviu a prega­
ção, atendeu ao apelo, seguiu as instruções dadas e deu si­
nais de vida, participando nas atividades da igreja. Mas aí 
Satanás deu em cima dele, a vida de crente não foi aquele 
"mar de rosas", houve mais problemas do que bênçãos. E 
como ninguém explicou a razão das coisas, como ninguém 
o discipulou aí ele começou a desanimar, ficar perplexo, 
sentir-se iludido e abandonado. Daí ele vai se distanciando 
e quando menos espera já está longe. Agora é "gato escal­
dado" pois já foi vacinado. Reconquistar uma pessoa as­
sim dá mão de obra, sem comentar todos os reflexos nega­
tivos que se espalham pela vizinhança. 
Quando pensamos nos povos não-alcançados o proble­
ma da criancice espiritual nas igrejas se faz sentir de forma 
bem aguda. Precisamos de soldados, e para isso criança 
não serve. Via de regra, nem vai se oferecer (ainda bem). 
Mas acontece que nem todos os que se apresentam, e que 
acabam sendo enviados aos campos missionários, são 
discípulos - alguns deles pouco passam de crianças. E se 
criança pega em serviço de homem, por acaso o serviço vai 
sair bem feito? Dificilmente. A criança, coitada, está fa­
zendo por onde, mas não tem a força, o saber, a experiên­
cia e a capacidade dum homem. É criança. O mundo per­
dido está a espera de adultos, gente grande, discípulos. 
40 
Amados irmãos, sejamos pais responsáveis! É sim­
plesmente uma falta de responsabilidade terrível trazer à 
luz filhos (no âmbito espiritual também) sem assumir as 
conseqüências naturais e necessárias: alimentar, proteger, 
educar e levá-los à condição de adultos. Menor abandona­
do não é negócio. Creio que vem muito ao caso o exemplo 
do nosso Mestre. 
O exemplo de Cristo, e de Paulo. - Como fez o Se­
nhor Jesus durante seus três anos de ministério público 
aqui na terra? Com quem Ele gastou a maior parte do tem­
po? Não foi com doze homens? Andaram juntos, comeram 
juntos, dormiram no mesmo lugar, e estavam a ouvir e ob­
servar tudo que o Mestre fazia, durante três anos. E Jesus 
jogou tudo naquele "time", naqueles homens. Quando Ele 
voltou para o Céu o futuro da Igreja estava nas mãos deles. 
Se tivessem fracassado, de uma vez a Igreja acabava por lá 
mesmo, logo no início. 
Mesmo quando Jesus lidava com o povo, como fazia? 
Ele promovia campanha evangelística? Não consta. O que 
o texto sagrado registra é que o que Ele fazia mais era ensi­
nar o povo, às vezes o dia inteiro. Pois Jesus queria discí­
pulos. Em qualquer época o bem-estar da Igreja depende 
dos discípulos que existirem. 
Parece que o apóstolo Paulo, pelo menos, entendeu o 
exemplo e a estratégia de Cristo, pois também cuidou de 
fazer discípulos. Ao despedir-se da igreja de Éfeso ele afir­
mou, "Nada que de útil seja deixei de vos anunciar e ensi­
nar, publicamente e de casa em casa" (Atos 20.20), e nova­
mente: "Nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de 
Deus" (Atos 20.27). Paulo não se detinha numa mensagem 
meramente evangelística - queria discípulos. Tudo indica 
que a motivação maior ao escrever suas cartas era levar os 
convertidos à condição de discípulos, Só para exemplifi­
car, podemos citar Colossenses 1.28, Falando de Cristo, 
Paulo escreve: "A quem anunciamos, admoestando a todo 
homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, 
para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus 
Cristo." 
Efésios 4.12,13 é ainda mais interessante nesse senti­
do, pois Paulo atribui o intuito ao próprio Cristo. Foi Ele 
mesmo que deu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores 
e mestres à Igreja, "visando ao aperfeiçoamento dos santos 
para a obra do ministério, para a edificação do corpo de 
Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao pleno 
conhecimento do Pilho de Deus, a varão perfeito, à medida 
da estatura da plenitude de Cristo." Em outras palavras, 
Cristo quer discípulos, na acepção da palavra que já expli­
camos. Em 2 Timóteo 2.2 Paulo deixa claro que devem 
surgir gerações sucessivas de discípulos, presumivelmente 
até a volta de Cristo. 
E qual foi o resultado da aplicação desta estratégia 
pelos Apóstolos? Alcançaram seu mundo na sua geração. 
Se recuperarmos o mesmo enfoque, será que não podemos 
também alcançar o nosso mundo nesta geração? Creio que 
sim. Senão, vejamos: 
Como funciona. Fazer discípulo leva tempo e pode 
ser incômodo, mas é a maneira mais rápida, certa e segura 
de efetivamente alcançarmos o mundo. À primeira vista, 
pensando superficialmente, pode parecer que não. Aliás, a 
visão que parece prevalecer no mundo evangélico atual é 
de evangelismo em massa: temos de ganhar almas em nú­
mero o mais possível. Quanto mais almas em quanto me­
nos tempo, melhor. Só que não resolve. Pode dar um cres­
cimento rápido aparente a curto prazo, mas acaba ruindo 
por não existir o alicerce e a infra-estrutura para agüentar 
tamanho peso. Criança não trabalha; dá trabalho. 
Para fazer discípulos é preciso gastar tempo com eles, 
assim como fez Jesus. E é preciso "abrir o jogo"; não pode 
fingir ser um supercrente que não tem problemas, nunca 
peca, nunca é atacado por Satanás, etc. (É possível chegar 
a ser um discípulo sozinho, mas costuma ser um processo 
demorado e dolorido, exatamente por falta de assessor ia.) 
Ê preciso explicar a razão das coisas, dar assessoria efeti­
va, fundamentar mesmo. Parece ser demorado, mas acaba 
sendo mais rápido. Imaginemos que eu seja o único discí­
pulo verdadeiro de Cristo no mundo hoje (é claro que não é 
verdade, e graças a Deus por isso), só para efeito de raciocí­
nio, só para ver até onde a brincadeira leva. Digamos que 
neste ano de 1987 eu consiga fazer mais um discípulo, não 
somente ganho a alma, mas seguro, fundamento, doutrino, 
42 
levo a uma entrega sem reservas a Jesus, enfim: discípulo. 
Aí no final do ano seremos dois. Certo? 
(Talvez alguém esteja duvidando da possibilidade de 
fazer um discípulo dentro dum ano. O segredo maior está 
na entrega sem reservas a Jesus. Enquanto alguém não fi­
zer essa entrega, seu crescimento espiritual será paulatino, 
quando tem. É aquele quadro tão costumeiro: três passos 
para frente e dois e meio para trás, quando não são três ou 
três e meio para trás. A entrega total dá ao Espírito Santo 
o direito de agir livremente na vida da pessoa e com isso 
ela pode crescer rapidamente, alcançando patamares espi­
rituais que a maioria dos crentes sequer chega a vis­
lumbrar.) 
Muito bem. Durante o ano de 1988 cada um faz mais 
um discípulo: ganha e segura, fundamenta, doutrina, en­
fim discípula. Aí seremos quatro (dois mais dois). Certo? 
Durante o ano de 1989 repetimos a façanha: cada um ga­
nha mais um, e discípula. Aí seremos oito. (Você não tem 
que ser um evangelista de renome internacional; você não 
tem que ganhar 300 almas por ano; basta ganhar uma, des­
de que segure, discipule mesmo.) Durante 1990 dobramos 
de novo e aí seremos 16. Repetindo a dose, ano por ano, 
chegaremos ao final do ano de 1996 com nada menos que 
1.024 discípulos! Já pensou? Haverá algum pastor que não 
se daria por satisfeito se durante dez anos de ministério 
conseguisse criar uma igreja com 1.000 membros? Mas va­
mos em frente, vamos ver a segunda década. 
Prosseguindo no mesmo ritmo, terminaríamos o ano 
de 1997 com 2,048 discípulos. Dobrando cada ano termi­
naríamos a segunda década (isto é, em 2006) com nada 
menos que 1.048.576 discípulos! Pois bem, aí terminaría­
mos o ano de 2007 com 2.097.152 discípulos, e assim por 
diante até completar a terceira década com 1.073.741.824 
discípulos. É isso mesmo, mais de um bilhão como resul­
tado de apenas trinta anos de fazer discípulos, nabase de 
um por ano! Se continuássemos assim por mais quatro 
anos, alcançaríamos a cifra de mais de 17 bilhões de discí­
pulos. Sucede que só (?) temos cinco bilhões de pessoas no 
mundo hoje, de sorte que poderíamos perder a metade a 
caminho e ainda alcançar o mundo inteiro dentro de 34 
anos! Que tal, vamos lá? 
Mas, espere aí. Isso tudo começando com apenas um; 
mas não sou o único. Será que existem um milhão de discí­
pulos verdadeiros (não meros crentes) no mundo hoje? 
Creio que sim, e até mais. Muito bem, nesse caso podemos 
subtrair vinte anos dos 34 que seriam necessários para al­
cançar o mundo. É claro, pois segundo o modelo sugerido 
levaria vinte anos para chegar à casa de um milhão. Se já 
somos mais de um milhão poderemos terminar de alcançar 
o mundo dentro de 14 anos! Será que não? 
Sei que várias objeções já se apresentaram a seu pen­
samento. Esse quadro é muito idealizado; não leva em 
conta as barreiras diversas que existem: barreiras ideológi­
cas, políticas e religiosas, barreiras geográficas e de língua 
e cultura, a barreira da fraqueza humana com manifesta­
ções várias, e principalmente a barreira da atuação satâni­
ca e demoníaca no mundo. E agora, "José", como fica? 
Bem, reconheço existirem todas essas barreiras, e de fato 
são grandes, mas nosso Deus é maior. As barreiras de ideo­
logia, política e religião poderemos destruir usando as ar­
mas de 2 Coríntios 10.4,5, ao passo que a atuação de Sata­
nás e os demônios poderemos vencer fazendo uso dessas e 
das outras armas espirituais que o Senhor Jesus coloca à 
nossa disposição (ver capítulo VI). Não esquecer também 
da "chave de Davi" (Ap 3.7). Já as barreiras de geografia, 
língua e cultura deverão ceder diante da tecnologia moder­
na - temos ferramentas cada vez melhores para fazer fren­
te a esses problemas. E as fraquezas humanas? Bem, aí 
vem ao caso exatamente o discipulado e o poder e a capaci­
tação do Espírito de Deus. Um alerta se faz necessário 
aqui: por "discipulado" refiro-me ao processo de sermos e 
fazermos discípulos de Jesus, não de nós mesmos. Muitas 
vezes os "grilos" dum discipulador ou do fundador dum 
movimento passam a ser "doutrina" para os seguidores, e 
com isso vão parar no "brejo", mais dia menos dia. Faça­
mos discípulos de Jesus; levemos as pessoas a depende­
rem diretamente do Espírito Santo e da Palavra de Deus, e 
não de nós; com isso os nossos discipulandos poderão se li­
vrar dos nossos erros, pois todos os temos. 
44 
E ainda há algumas outras considerações que mere­
cem menção. Por exemplo, o modelo visa fazer só um discí­
pulo por ano, mas de fato podemos fazer mais: pensemos 
imediatamente nos muitos milhões de crentes que pode­
riam ser díscipulados com alguma rapidez. A estratégia 
apresentada no capítulo II vai ao encontro da má distribui­
ção geográfica dos discípulos atuais. É bom lembrar tam­
bém que nunca iremos ganhar todo mundo; sempre existi­
rão pessoas que conscientemente rejeitam o Evangelho de 
Jesus Cristo. Jesus não manda ganhar todo mundo (seria 
violar o arbítrio das pessoas), e sim fazer com que cada um 
ouça e tenha opção consciente. O modelo falou em ganhar 
o mundo inteiro dentro de 14 anos, o que não será o caso. 
Segundo a ordem em Mateus 28.19 e Marcos 16.15 o alvo é 
ver discípulos verdadeiros em cada etnia e cada pessoa 
com a opção consciente de abraçar o Evangelho. Então, 
com essas ressalvas todas, será que não podemos assumir o 
desafio de cumprir as ordens do nosso Mestre até o final 
deste século? Vamos para frente! 
A Implementação da Estratégia 
Agora vamos atentar para a implementação da estra­
tégia. Existem pelo menos três questões que devem ser 
consideradas, mas primeiro quero voltar à ordem em Ma­
teus 28.19: "Fazei discípulos em todas as etnias". A partir 
do que constatamos ao considerar o exato sentido da or­
dem, entendo duas coisas. Primeiro, a ordem é fazer discí­
pulos, nada mais e nada menos. Segundo, parece-me ób­
vio que para poder fazer discípulos é necessário primeiro 
ser discípulo (ou será que não?). Acaso eu teria condições 
de levar outrem a entregar-se sem reservas a Jesus se eu 
me recuso a fazê-lo? E como poderei assessorar alguém no 
discipulado se nunca andei por lá? Assim sendo, enquanto 
eu não for discípulo fico marginalizado: dificilmente pode­
rei ter ação efetiva para cumprir a Grande Comissão de 
Cristo. E você também. Daí a primeira coisa que devemos 
verificar é se somos de fato discípulos. E isso nos leva à pri­
meira questão: como ser discípulo. 
Como ser discípulo. A questão se divide naturalmen­
te em duas partes: como ingressar na condição de discípulo 
IS 
e como manter em pé essa condição. Como, então, ingres­
sar na condição de discípulo? Se podemos comparar o dis­
cipulado a um caminho a ser trilhado (diariamente) então 
ingressar seria como que passar pelo portão que dá acesso 
ao caminho. 
Entendo que ingressar na condição de discípulo de­
pende de uma entrega deliberada, um ato do arbítrio. Ima­
gino ser possível alguém se converter quase por impulso, 
tipo pulo no escuro. Está desesperado; alguém chega perto 
e explica por aíto o plano da salvação e ele aceita, sem en­
tender muito. Já ingressar na condição de discípulo é dife­
rente. Creio que as duas ilustrações que estão em Lucas 
14.28-32 vêm ao caso. Lembre-se que no verso 33, dando 
início à terceira condição, Jesus disse, "assim, pois". Ele 
referia-se aos dois casos que acabava de relatar. Uma pes­
soa queria construir uma torre, Um rei ouviu dizer que o 
vizinho já vinha contra ele com 20 mil soldados e ele só ti­
nha 10 mil. Que fizeram os dois? Em ambos os casos a pes­
soa estuda a situação, avalia suas próprias condições, cal­
cula quanto deverá custar, procura antever as prováveis 
conseqüências. Feito tudo, toma sua decisão; finca o pé. 
Ou vai construir, ou não vai; ou vai guerrear, ou não vai. 
Em qualquer das hipóteses ele tem que arcar com as conse­
qüências da sua decisão. É assim com o discipulado - o in­
gresso tem de ser um ato pensado, uma tomada de posição. 
Creio que é disso que Paulo escreve em Romanos 12.1 
quando fala em apresentar os nossos corpos em sacrifício 
vivo. A palavra "corpos" deve ser um caso de sinédoque, 
onde o corpo representa a vida (se dou o corpo acaso a 
alma pode ficar para trás?). O "apresentar" deve ser a en­
trega consciente, sem reservas. Meu irmão, você já se en­
tregou sem reservas a Jesus? Senão, não é discípulo dele, e 
nem pode fazer discípulos, 
Sei que esta discussão pode suscitar alguma inquieta­
ção no leitor. Parece que estou sendo um tanto radical. Re­
conheço. Ê que estou partindo duma definição radical de 
"discípulo"; exatamente a definição dada pelo Senhor Je­
sus conforme constatamos em Lucas 14.25-33. "Discípulo" 
tem compromisso total com Ele. 
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Gostaria de enfatizar novamente que a entrega abso­
luta é a chave do crescimento espiritual. Sem essa entrega 
o crente permanece criança (espiritualmente) e tem um 
crescimento paulatino (se é que tem). A. entrega, que deve 
ser renovada cada dia, permite ao Espírito Santo ação li­
vre na sua vida, e com isso ele pode crescer rapidamente. 
Tudo depende da entrega, pois Deus respeita o nosso arbí­
trio. Essa entrega sem reservas é também o fator principal 
no enchimento e capacitação do Espírito, indispensável 
para que possamos efetivamente alcançar o mundo perdi­
do. 
Ingressar na condição de discípulo é uma coisa, man­
tê-la em pé é outra. Não é nada automático. Já comenta­
mos o tomar da cruz cada dia e o sacrifício vivo. É total­
mente necessário renovarmos cada dia nossa disposição de 
abraçar a vontade de Deus em tudo. É uma atitude a ser 
renovada a cada hora, sempre que preciso. Agora, escrever 
estas palavras é fácil, mas fazer é outra coisa! A luta diária 
do discípulo está justamente aí, manter em pé o relaciona­
mento. O fato é que a gente precisa de ajuda. Um dos 
maiores benefícios de compartilhar o discipulado com ou­
tros é o exemplo e estímulo que os participantes recebem 
mutuamente. O compartilhar

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