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w - / 4 , Nesta a úijiea ôpçáo é vencer. Apíenda a lutar f cofretamentey TrXr T t\*\J* ÍÍ ,V w J / J O leitor pode estar certo de que o doutor Gilberto não apresenta suas próprias teorias. Ao ler o seu livro, fiquei sobremodo feliz ao confirmar o fato de que o que ele expõe é mesmo o ensino de Jesus Cristo. O autor aborda assuntos como viver em função do Reino de Deus, discipulado, e outros, que fazem parte da estratégia do Evangelho. Entre outras coisas, ele ensina sobre finanças no Reino de Deus, o conceito de semente, de plantar, de receber para dar, de ser canal de bênção materiais para outros. Foi muito útil para mim mesmo, e o será para todos os que lerem este livro. Em nosso Brasil, temos de proclamar esse ensino, o que será de grande benefício para as vidas em particular, para os lares, para as igrejas locais, e para o ministério de missões exercido por brasileiros. Jonathan F. Santos t í r>> V Nesta Batalha, a única opção é vencer. Aprenda a lutar corretamente! Gilberto Pickering Missionário, teólogo, doutor em lingüística pela Universidade de Toronto, Canadá, membro da Associação Wycliffe para a Tradução da Bíblia, autor dos livros: The Identity of lhe New Testament Text e A Framework for Discouse Analysis Gilberto Pickering GUERRA ESPIRITUAL CBO Todos os Direitos Reservados. Copyright © 1987 para a lingua portu guesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. 248.4 Pickering, Gilberto, 1934- PIGg Guerra espiritual; estratégias missionárias de Cristo. Rio de Janeiro, CPAD, 1987. Iv. 1. Vida Espiritual. 2. Vida cristã. 3. Missão. I. Pickering, Wilbur (Gilberto) Norman. II. Título. Casa Publicadora das Assembléias de Deus Caixa Postal 331 20001, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 10.000/1987 ífl 3 0 m ü 0 1. R< . ao S « i o r por obreiros , A ir JeiBsaiém... e os confins da Terra H — 17 ida oa ; ' " i p ^ ^ não meramente convertidos ri. Viver in^Hclo reino, não para si p l H e s do poder de Satanás w. ^ H H Conclusão S m - • •••••• H ^ M Apêndice - A HeflBda vinda de Cristo — • • L ™™fll ' 5 ÍNDICE DAS ABREVIATURAS USADAS NESTE LIVRO VELHO TESTAMENTO Gn - Gênesis Ex - Êxodo Lv - Levítico Nm - Números Dt - Deuteronômki Js - Josué Jz - Juizes Rt - Rute 1 Sm - 1 Samuel 2 Sm - 2 Samuel 1 Rs - 1 Reis 2 Rs - 2 Reis 1 Cr - 1 Crônicas 2 Cr - 2 Crônicas Ed - Esdras Ne - Neemias Et - Ester Jo - Jo SI - Salmos Pv - Provérbios Ec - Eclesiastes Ct - Can tares Is - Isaías Jr - Jeremias Lm - Lamentações de Jeremias Ez - Ezequiel Dn - Daniel Os - Oséias Jl - Joel Am - Amos Ob - Obadias Jn - Jonas Mq - Miquéias Na - Naum He - Habacuque Sf - Sofonias Ag - Ageu Zc - Zacarias Ml - Malaquias NOVO TESTAMENTO Mt - M a t e u s Mc - Marcos Lc - Lucas Jo - João At - Atos Rm - Romanos 1 Co - 1 Coríntios 2 Co - 2 Coríntios Gi - Gaiatas Ef - Efésios Fp - Fiü penses Cl - Colossenses 1 Ts - 1 Tessalonicensea 2 TB 2 Teasaionicenses 1 Tm - 1 Timóteo 2 Tm - 2 Timóteo Tt - Ti to Fm - Filemon Hb - Hebreus Tg - Tiago 1 Pe - 1 Pedro 2 Pe - 2 Pedro 1 Jo - 1 João 2 rJo - 2 João 3 Jo - 3 João Jd - Judas Ap - Apocalipse Prefácio Tenho o mais profundo respeito pelo doutor Gilberto Norman Pickering, autor deste livro. Nosso relacionamen to vem desde 1975, quando estava se formando a Missão Antíoquia, da qual ele é um dos fundadores. Nestes anos tenho aprendido muito com ele. Admiro-o por sua serieda de em tudo, e, muito especialmente, quando se trata do texto bíblico. Ele está sempre querendo saber o sentido exato das declarações bíblicas. Admiro-o por sua integri dade, por sua fé, por seu espírito de sacrifício ao se dar para a obra do Senhor. Admiro-o por sua paixão por mis sões. Ele é um dos homens que mais tem batalhado no Brasil nestes últimos doze anos para que as igrejas evangé licas brasileiras se envolvam de maneira ampla na evange- lização mundial. Seus ensinamentos sobre este assunto têm sido transmitidos em praticamente todas as partes do Brasil, e em quase todas as denominações. Na verdade, ele tem percorrido o Brasil de ponta a ponta com a mensagem de missões. Se há alguém que possa ser chamado de "A- póstolo de Missões", essa pessoa é o amado irmão Gilberto. Seus ensinamentos vêm sendo assimilados por grande nú- 5 mero de obreiros, estudantes de teologia e membros de igrejas. E, então, começou a surgir a pergunta - "Por que não colocar estes ensinamentos de forma sistematizada em um livro que seria muito útil para os cursos de missões no Brasil epara as igrejas em geral?"E o doutor Gilberto res pondeu positivamente, brindando-nos com esta obra, que considero da maior importância no preparo de obreiros transculturais. GUERRA ESPIRITUAL - Estratégia Missionária de Cristo - é um manual de missões. Deve ser dotado pelas es colas teológicas e especialmente pelos cursos de missões. Ê um livro texto sobre o assunto. Contudo, o pastor e os cren tes em geral serão também grandemente enriquecidos com sua leitura. Ao tratar da estratégia missionária de Cristo, o autor traz o assunto para o seu devido lugar. Podemos ter muitas teorias, estratégias, conhecimentos e disposições para fa zer a obra do Senhor no campo missionário, mas se não guerrearmos segundo as normas estabelecidas pelo nosso General, vamos falhar. Na verdade, temos falhado muitas vezes, exatamente por fazermos a guerra segundo nossa própria sabedoria. Há um inimigo nesta guerra - Satanás. Quem o conhece bem é o Senhor Jesus. Quem sabe como ele pode ser vencido é também o Senhor Jesus. Se seguir mos a estratégia do Grande General, vamos ter a vitória. Se não a seguirmos, vamos só nos cansar e ser derrotados. E o leitor pode estar certo de que o doutor Gilberto não vai dar suas próprias teorias em vez de ensinar a estra tégia de Jesus. Garanto que não. Eu o ouvi várias vezes e sempre tive a convicção de que ele estava interpretando a Palavra de Deus. Agora, ao ler o seu livro, fiquei sobremo do feliz ao se confirmar o fato de que o que ele expõe é mes mo o ensino da estratégia de Jesus Cristo. O autor aborda assuntos como, viver em função do Reino de Deus, discipulado, e outros, que fazem parte da estratégia de Cristo. Entre outas coisas, ele ensina sobre fi nanças no Reino de Deus. O conceito de semente, de plan tar, de receber para dar, de ser canal de bênçãos materiais para outros, foi muito útil para mim mesmo, e o será para 6 todos os que lerem este livro. Em nosso Brasil temos de proclamar esse ensino, o que será de grande benefício para as vidas em parpicular, para os lares, para as igrejas locais, e para o ministério de missões exercido por brasileiros. Mas para mim, a chave da estratégia de Cristo está no capítulo seis - "Libertar as pessoas do poder de Satanás". Este livro mostra que nosso trabalho é prejudicado por não sabermos ou não reconhecermos que Satanás prende as pessoas em seu domínio. Elas precisam ser trazidas "de volta das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus". Para isto é necessário que o "Valente" seja amarra do para que os que estão sob seu domínio sejam libertados. Antes de pregar ou falar é preciso proibir a ingerência do inimigo no pensamento do ouvinte. Ele menciona seu pró prio exemplo, trabalhando com a Tribo Apurinã (Rio Pu- rus, Amazônia), sendo o primeiro a disputar com Satanás [e para Cristo) o domínio total sobre essa nação. Confessa que apesar do seu mestrado em teologia, ignorava estas verdades, e por isto o inimigo causou tremendos males para ele e sua família, ao passo que os resultados alcança dos com a Tribo Apurinã foram mínimos. Com conhecimento de causa, com profundo respeito ao texto, e com clareza meridiano, mostra como se trava a guerra espiritual e como o servo de Cristo pode estar arma do e capacitado para prevalecer. Nesse momento em que estamos nos preparando para a realização de COMIBAM 87, esse livro vempreencher uma lacuna no preparo de obreiros transculturais. 0 alvo de COMIBAM é que pelo menos 10.000 missionários trans culturais sejam enviados nos próximos anos. Estes missio nários precisam receber essa capacitação antes de sair para os campos. Ao Dr. Gilberto, o nosso reconhecimento pelo seu ex celente trabalho. A Deus, o nosso louvor pela inspiração e graça para que esta obra fosse produzida. Jonathan F. Santos São Paulo, 08 de Junho de 1987 7 Introdução Há quase dois mil anos, nosso Salvador e Soberano Je sus Cristo, pouco antes de voltar para o Céu, deixou certas ordens para seus súditos: "Fazei discípulos em todas as et nias", "Pregai o Evangelho a cada pessoa", "Ser-me-eis testemunhas até aos confins da terra". No entanto, "a esta altura do campeonato", os seguidores de Jesus nem a me tade têm conseguido. Pois provavelmente a metade das et nias do mundo está por conhecer o primeiro porta-voz de Cristo, e dificilmente nem um terço das etnias contará com um verdadeiro discípulo de Cristo entre seus compo nentes. Metade das pessoas também (sem pensar na etnia à qual possam pertencer) estão por ouvir o Evangelho pela primeira vez, Ouvir é entender - nem se comenta. Que pensar diante desse quadro?! Será que o Senhor Jesus não esperava ser obedecido? Falou por falar, pelo prazer de ouvir a própria voz? Não. Certamente Ele falou sério. Tanto assim que a primeira geração, a dos apóstolos, praticamente alcançou o seu mundo: fizeram proezas. (Cabe lembrar que não dispunham de automóveis, aviões, rádio, televisão, computadores, etc.) Mesmo assim alcan- 9 çaram seu mundo, começando com um punhado de gente. Conseguiram tudo isso exatamente porque levaram a sério as ordens de Cristo, inclusive entendendo o efeito estraté gico dessas ordens. Mas, infelizmente, com o passar dos anos a Igreja foi perdendo essa visão das coisas que os apóstolos receberam de Jesus. Como conseqüência trágica, de lá para cá as ordens de Cristo nesse sentido caíram no desuso e na incompreensão. Sim, na incompreensão, pois hoje em dia muitos que imaginam estar obedecendo a uma ou a outra ordem não entendem o sentido certo da ordem e muito menos o efeito estratégico dela. Mas, se os apóstolos conseguiram alcançar seu mun do, numa geração, por que não fazermos nós o mesmo? Por que não repetimos a façanha? Creio, sinceramente, que para tanto bastará recuperarmos a estratégia missionária de Cristo, contidas nas suas ordens, e orientarmos nossas vidas e nossos ministérios nessa base. Creio que poderemos terminar de alcançar o mundo dentro de quinze anos! Aliás, tudo me leva a crer que Jesus vem aí e o tempo está ficando pouco. Bastaria para tanto, quem sabe, Lucas 21.24, pois entendo que Jerusalém deixou de ser '"pisada pelos gentios", no sentido profético da palavra, no ano de 1967 quando pela primeira vez desde que Jesus proferiu es sas palavras a cidade de Jerusalém voltou ao controle da nação de Israel. E, "quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto. Em verdade vos digo que não passará esta geração até que tudo aconteça" (Lc 21.31,82). (Á interligação entre missões transculturais e a volta de Cristo é esmiuçada no Apêndice.) Torno a afirmar: Se, de forma geral, a partir de agora, o nosso povo evangélico acertar e seguir a estratégia mis sionária de Cristo, poderemos terminar de alcançar o mun do dentro de 15 anos. Senão, vejamos, 10 1 Rogar ao Senhor por Obreiros Vamos começar com as palavras do Senhor Jesus Cristo que encontramos em Mateus 9.37,38: "A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros. Rogai pois ao Senhor da seara que mande ceifeiros para a sua seara." A Grande Seara Esta palavra, endereçada a seus discípulos, começa por comentar a seara que temos pela frente - é muito gran de. Se foi grande há dois milênios, calcule agora! Em Ma teus 28.19, o Senhor Jesus manda fazer discípulos em "to das as nações". Essa palavra "nação" é tradução da pala vra grega que serve de base para as nossas palavras "et nia", "étnico", "etnólogo". Encontramos a mesma palavra em Apocalipse 5.9 associada às palavras "povo", "língua" e "tribo". (Ver também Ap 7.9; 11,9; 14.6). Quer dizer exa tamente uma etnia, um povo definido em termos étnicos. Qualquer povo que se distingue dos demais povos do mun do em matéria de línguas e cultura é uma "nação" para efeito da grande comissão missionária de Jesus contida em Mateus 28.19. 11 Pois bem, já que ele manda fazermos discípulos em todas elas, quantas será que existem no mundo hoje? De pende. A cifra muda, conforme a fonte consultada e os cri térios adotados. O grupo de estudiosos do Centro Estadu nidense para Missão Mundial, liderado por Ralph Winter, que tanto tem feito para conscientizar o povo de Deus acerca dos "povos não-alcançados" do mundo, nos afirma que deve haver por volta de 16 mil etnias, isso os não- alcançados. Se acrescentássemos os povos onde já existe trabalho evangélico não sei que cifra daria. Sucede que esse grupo define "povo" em termos culturais e econômi cos. Com isso vários desses povos podem ter o mesmo idio ma. Já o grupo para tradução da Bíblia Wycliffe, que já trabalhou junto a mais de mil grupos lingüísticos ao redor do mundo, prefere definir um povo em termos de língua. Assim, o Ethnoloque publicado por eles traz nome por nome mais de 5.500 línguas faladas hoje no mundo. Acon tece que os colegas que preparam esse catálogo declarada mente preferem errar por baixo, trabalhando com dados mais ou menos seguros. Mas existe áreas do mundo onde faltam tais dados e a tendência é de acrescentar mais línguas. Pessoalmente não duvido existirem pelo menos 6.000 línguas distintas no mundo, das quais umas 200 no Brasil. Entendo que para efetivamente cumprirmos Ma teus 28.19 teremos de traduzir a Palavra de Deus para to das essas línguas, por razões que explico no capítulo IV, e, assim, prefiro definir "nação" em termos de língua e cultu ra. São, pois, pelo menos 6.000 etnias no mundo hoje. Em Marcos 16.15, o Senhor Jesus mandou pregarmos o Evangelho a cada pessoa. Em julho de 1986, os jornais noticiaram que nesse mês a população do mundo teria atingido a casa de cinco bilhões de pessoas. Cinco bilhões; é difícil imaginar tanta gente! Mas aí estão. Eis a nossa seara. E como é grande! Seis mil etnias e cinco bilhões de pessoas. Os Poucos Ceifeiros Voltando a Mateus 9.37, o Senhor Jesus passa a decla rar que os ceifeiros são poucos. Bem, não é difícil imaginar que diante de tamanha seara os obreiros não deixariam 12 nunca de ser "poucos". Aiiás, parece-me que muitos cren tes estão conformados diante da expectativa de nunca al cançarmos o mundo: já "entregaram os pontos". O fato é que a esta altura dos acontecimentos os obrei ros não somente são poucos, mas para muitos lugares e po vos não existentes. Simplesmente não há obreiros. Creio ser verdade dizer que para a metade das etnias no mundo hoje, 3.000 das 6.000, portanto, não há um único porta-voz de Cristo sequer, ainda. No Brasil também, das 200 etnias indígenas do país, umas 100 não têm trabalho evangélico ainda. - E quanto às pessoas? - É o mesmo quadro calamito so. Os que pesquisam o assunto nos afirmam que a metade das pessoas no mundo hoje, dois bilhões e meio, portanto, estariam por ouvir o Evangelho de Cristo uma vez. Eis aí uma calamidade pública do tamanho do mundo. Quer me- çamos por indivíduo, quer meçamos por etnia, é isso aí: meio mundo por ouvir, metade das nações étnicas sem obreiro. E isso após quase dois mil anos de a Igreja de Cris to estar na terra. É verdade que o quadro vem melhorando. As estatísti cas há 200 anos eram muito piores. Os esforços missioná rios dos últimos 200 anos têm produzido grande efeito. Na África e na Ásia, a Igreja cresce de forma impressionante. Só o grupo Wycliffe tem trabalhado junto a mais de mil et nias (um sexto do total), e isso nos últimos 50 anos. Atual menteo trabalho começa junto a mais uma etnia cada quinzena, em média. Embora essa informação possa repre sentar uma surpresa agradável para o leitor, temos de me lhorá-la, pois nessa marcha ainda vai nos custar mais de cem anos para alcançar a última nação. Temos de melho rar, pois dificilmente Deus nos dará esse tempo todo. A Estratégia Missionária Vem ao caso a ordem, a estratégia, que encontramos em Mateus 9,38: Rogar ao Senhor da seara por obreiros. É totalmente necessário que haja obreiros para cada povo, para cada lugar (por razões que explico nos capítulos III e VI), e o remédio que Jesus prescreve é rogar ao Senhor da 13 seara por obreiros. Observem que estamos diante duma or dem. Não é ponto facultativo. Jesus manda rogarmos por obreiros. - Mas será que estamos obedecendo a esta or dem? Ao menos a esta, pois, aparentemente, é uma ordem, à qual qualquer crente pode obedecer. Na sua igreja, vocês estão obedecendo a esta ordem? Ao menos dominicalmen te? Se não, por que não? - Então, vamos começar agora? E na sua vida particular, será que não daria para gastar um minuto por dia, digamos quando levanta, ao pentear o ca belo, clamar a Deus por obreiros para o mundo perdido, para as etnias que nunca foram alcançadas? Vejam que ninguém pode dizer que é pobre demais para poder orar, que não tem cultura suficiente para poder orar. Qualquer crente pode orar, por mais simples que possa ser. - Certo? Estamos, pois, diante de pelo menos urna ordem de Cristo que está ao alcance de todos, No entanto, parece existir al guma dificuldade, pois devem ser relativamente poucos os que estão obedecendo a esta ordem. Para entender melhor vamos à estratégia. Qual será o conteúdo estratégico da ordem? Bem, se eu vou rogar a Deus por obreiros eu devo ser sincero, não acha? Eu precisava ser coerente, será que não? Pois então, se eu, de forma sincera e coerente, clamar a Deus por obreiros tenho de estar pronto a ouvir, eu mesmo, a respos ta. Pois um belo dia Deus pode dizer para mim: "Está cer to, meu filho, estou ouvindo seu clamor. Agora, um dos que vou enviar é você!" Será que não? Ou então vem a voz de Deus: "Você não irá a outro povo, mas tem de contri buir mais do que vem contribuindo para ajudar a sustentar os que vão," E certamente Deus vai cobrar mais interces- são de todos. Aí está o efeito estratégico desta ordem. Se cada crente evangélico obedecesse ao menos a esta ordem de maneira sincera e coerente, não faltaria obreiro, não fal taria dinheiro para sustentar os obreiros e nem faltaria in- tercessão, apoio espiritual para garantir a obra. Tomaría mos o mundo de assalto! Só que não está acontecendo, não é? Eis o problema - obedecer a esta ordem requer compro misso. Refletindo um pouco, fica claro que nem a esta or dem de Jesus podemos obedecer, realmente, sem termos compromisso verdadeiro com Ele. 14 Creio que a cada passo vamos verificar que o proble ma essencial é esse: falta compromisso com Jesus e sua causa. Como conseqüência trágica, metade do mundo con tinua a perecer sem ouvir o Evangelho de Cristo Então, ir mãos vamos assumir compromisso total com Jesus e sua causa, no duro, para valer. Eis uma tremenda seara a nos sa espera - dois bilhões e meio de pessoas sem ouvir, J.OUO etnias sem obreiros - E Jesus vem ai! 2 Alcançar Jerusalém.., e os confins da terra Agora vamos atentar para as palavras do Senhor Jesus que encontramos em Atos 1.8: "Recebereis poder, ao vir sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tan to em Jerusalém, como era toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra." São as últimas palavras que proferiu aqui na terra antes de voltar para o Céu, os pés já largando contato com o chão. Será que não escolheu com cuidado essas palavras? Certamente que sim e certamente Ele es pera que prestemos cuidadosa atenção a elas. Mesmo numa leitura superficial fica claro que a preocupação de Cristo é com o mundo inteiro. Mas além desse sentido ób vio, esta palavra de Jesus contém uma estratégia, uma tre menda estratégia, uma estratégia capaz de alcançar o mundo dentro de uma geração! A Estratégia Como muitas vezes acontece na Bíblia, o segredo está nas pequenas palavras, no caso "tanto... como., e". Obser ve, por favor, que Jesus não disse: "Ser-me-eis testemu nhas primeiro em Jerusalém, depois em toda a Judéia e 17 Samaria, e finalmente, se um dia sobrar tempo, mão de obra e dinheiro, até aos confins da terra." (Não é assim que estamos conduzindo a coisa, de modo geral?) Não, a expressão é "tanto... como... e", isto é, simultaneamente. Simultaneamente temos que nos esforçar para alcançar a nossa "Jerusalém, Judéia e Samaria" e os confins. Se um dia, de forma geral, as nossas igrejas evangélicas assumi rem efetivamente esta estratégia terminaremos de alcan çar o mundo nesta nossa geração. Se os Apóstolos conse guiram por que nós não podemos? Os Apóstolos, e presumivelmente a geração discípula- da por eles, entenderam e obedeceram esta estratégia de Cristo. Tanto assim que naquela geração, começando com aquele punhado de gente (lembrando também que não dis punham da tecnologia moderna), praticamente consegui ram alcançar o seu mundo. O Apóstolo Paulo fez planos para alcançar a Península Ibérica. Se podemos confiar na tradição da Igreja, o Apóstolo Tome logrou chegar até ao sul da índia! Mas infelizmente após a era apostólica a Igre ja foi perdendo essa visão e assim ficou através dos séculos, até a época das missões modernas. Como conseqüência deplorável da perda dessa visão, de lá para cá, através dos séculos e até hoje a maioria das pessoas nascem, vivem e morrem sem uma vez ouvir falar de Jesus Cristo. É a maior calamidade pública de todos os tempos! Por outro lado, se através dos séculos a Igreja tivesse sempre seguido esta estratégia então sem muita demora a Palavra de Deus teria sido levada a cada povo no mundo, e daí para frente cada geração sucessiva que nascesse teria a opção de receber ou rejeitar o Evangelho. Já pensou que maravilha? Pois através dos séculos cada povo viria tendo acesso efetivo à Palavra de Deus, ao Evangelho de Cristo. E ainda dá, embora tarde (mas antes tarde do que nunca!). Vejam só. Se a partir de hoje, de forma geral, o povo de Deus assumir efetivamente esta estratégia então deve acontecer o seguinte: os muitos jovens que Deus está chamando receberão apoio e sustento de suas igrejas. De verão se preparar adequadamente, inclusive adquirindo as ferramentas para lidar com outras línguas e culturas 18 (lembrar que muitas ainda não foram estudadas). Uma vez preparados serão semeados pelo mundo inteiro, nas á- reas e junto aos povos onde ainda não existe acesso efetivo ao Evangelho. Gastarão uns dois anos adquirindo domínio da língua e cultura local que permita começar a falar de Jesus sem perigo demasiado de promulgar heresias. Daí para frente deve haver conversões e o surgir de novas igre jas onde nunca havia. Agora, essas igrejas devem também abraçar a estratégia de Cristo, e com isso começarão a evangelizar não somente na sua "Jerusalém" mas também na "Judéia" e "Samaria". Dessa forma, dentro de uma ge ração não sobraria povo ou lugar sem acesso efetivo ao Evangelho de Cristo. Para exemplificar, existem tribos indígenas no Brasil que há poucos anos receberam pela primeira vez a Palavra de Deus onde os crentes já se preo cupam não somente com o resto da sua etnia, sua "Ju déia", mas inclusive, querem enviar missionários para ou tras tribos. (Sei que estou deixando de lado as barreiras políticas e religiosas que aí estão para dificultar o em preendimento, vou comentá-las no capítulo IV, mas nosso Chefe é o dono da Chave de Davi - Ap 3.7.) A Situação no Brasil Aqui eu gostaria de tecer algumas observações quanto à situação e ao potencial do Brasil. Será que nossas igrejas e lideranças evangélicas estão entendendo e seguindo esta estratégia missionária de Cristo? - Qual é o enfoque principal das nossas igrejas? - Não seria o evangelismo local, a nossa "Jerusalém"? Tudo bem até aí. E a nossa "Judéia"? Bem, a coisa não anda totalmente mal; está havendo um esforço visível no sentido de abrir novos trabalhos no inte rior dos estados, em lugares onde ainda não tenha igreja da "nossa" denominação, etc. E a nossa "Samaria"? Já que a Samaria representava uma cultura diferente encravada no território judeu, proponho que consideremos os povos indí genas do país como sendo a nossa "Samaria". Assim sen do, como anda nosso desempenho? Para começar, dos mais de 200 grupos indígenas distintos que existem no país peío menos a metade não tem trabalho evangélico ainda (No Brasil, pois existem alguns casos onde uma etnia fronteiri- 19 ça tem trabalho evangélico do outro lado da fronteira.) Se não me engano, até hoje a maioria dos missionários viven do e trabalhando com índios no país são de origem estran geira. Contudo, devem existir mais de 200 obreiros nacio nais agindo dessa forma. Já é alguma coisa, mas será que podemos ficar complacentes diante desse quadro? O in gresso no país de novos missionários estrangeiros vem sen do difícil, e os que já estão aqui muitas vezes encontram restrições diversas. A vantagem que o obreiro nacional leva é óbvia, e deve ser explorada. E os "confins da terra": as 3,000 etnias sem qualquer porta-voz de Cristo ainda, os mais de 15.000 "povos não- alcançados"? - Como anda o empenho brasileiro nessa di reção? - Agora o quadro piora bastante. Pensando em mis sionários de carreira radicados no exterior, deixando de lado os estagiários e turistas diversos, creio que o total atual di ficilmente passará de 400. - E esses 400 estão onde e fazen do o quê? - A grande maioria está ministrando em língua portuguesa ou em espanhol. Quer dizer, ou estão na Amé rica do Norte (incluindo Canadá) ou na Europa pregando para as colônias de fala portuguesa por lá radicadas, ou es tão nos países vizinhos de fala espanhola, onde a língua e cultura é bastante parecida com a nossa. E há vários atuando nas outrora colônias portuguesas, pensando que a língua portuguesa vai resolver por lá. Creio que uma mão dá e sobra para contar os brasileiros que estão no exterior visando alcançar uma etnia até aqui abandonada. Está bom? Quero deixar bem claro que nada tenho contra o al cançar das colônias de fala portuguesa na Europa e na América do Norte, e nem dos países vizinhos. Ê certo e jus to que os brasileiros se preocupem com esses alvos; estou de pleno acordo. Poderíamos, inclusive, incrementar o es forço nessa direção, No entanto, parece-me necessário dar um alerta: "não devíamos enviar obreiros para os países vizinhos sem preparo específico para enfrentar uma situa ção transcultural. Tenho ouvido queixas amargas contra os nossos obreiros que lá ficam sem nunca se darem ao tra balho de realmente dominar a língua e se entrosar na cul tura. Se contentam em falar um "portunhol" qualquer, 20 anos a fio. Estão repetindo os mesmos erros que tanto criti camos da parte dos missionários que trouxeram o Evange lho até o Brasil. O Potencial do Brasil Meus irmãos, temos de mudar esse quadro; temos de nos esforçar no sentido de realizar o grande potencial que o povo evangélico do país representa em prol do Reino de Deus. Tenho ouvido estimativas um tanto variadas quanto ao número absoluto de crentes evangélicos no Brasil; vão de dez a vinte milhões, ou mais. Por formação, gosto de ser um pouco cauteloso com esse tipo de coisa. Vamos come çar pelo piso. Devem existir, sem dúvida razoável, pelo menos dez milhões de crentes evangélicos no país. Mas essa cifra coloca o Brasil no segundo lugar no mundo livre no que diz respeito ao número absoluto de crentes. O único país que tem mais é os E.U.A. (Ouço dizer que na China tem mais, e queira Deus que seja verdade, mas confesso não entender como se podem verificar tais dados.) Já pen sou, dez milhões de crentes? Se pudéssemos mobilizar e engajar todo esse pessoal em torno das estratégias missio nárias de Cristo, encheríamos o mundo de obreiros brasi leiros. Tem mais uma. Quem mais tem feito até aqui no ter reno de missões mundiais, os norte-americanos, já não en contram a mesma facilidade de antes. Andam um tanto "queimados" no conceito de muitos países. Tem país por lá onde o americano quase não entra, sequer como turista. Mas ninguém tem raiva do Brasil, pelo menos ainda. As portas estão abertas para o brasileiro; ele encontra mais fa cilidade do que muitos outros, no momento. Chegou a nos sa vez! Irmãos, vamos colaborar com o Espírito Santo! Va mos levar a sério as ordens de Cristo. Vamos dar respaldo a nossos jovens que Deus está chamando para o trabalho transcultural. Em vez daquele "balde dágua fria" ("O quê!? Pode já tirar da sua cabeça essa idéia boba! Você não vai ser missionário coisa alguma; precisamos de você é por aqui. Quando terminarmos de ganhar todo mundo em Sâo Paulo, aí será tempo suficiente de olhar mais longe", 21 etc.) vamos incentivá-los, incentivá-los a se prepararem adequadamente (dando o sustento necessário), a fim de se guirem efetivamente para os campos do mundo. Vamos ajudá-los a achar a infra-estrutura apropriada para pode rem trabalhar de forma eficiente. Talvez seja preciso, in clusive, colaborar com a manutenção de tais infra- estruturas. Enfim, vamos fazer o necessário para alcançar os confins da terra durante esta nossa geração! 3 Pregar a cada pessoa Prosseguindo, vamos atentar para as palavras do Se nhor Jesus que encontramos em Marcos 16.15: "Indo por todo o mundo, pregai o Evangelho a cada pessoa". Nova mente são palavras dirigidas a seus discípulos. O efeito es tratégico é transparente, se de fato pregarmos a cada pes soa então cada pessoa terá recebido sua oportunidade de conhecer Jesus como Salvador e Senhor da vida. O proble ma não seria entender esta ordem, mas sim acreditar. Um Neo-universalismo Recrudescente Deus me tem permitido ministrar em muitas igrejas evangélicas pelo Brasil a fora, em igrejas de mais de vinte denominações. Tenho constatado um fato alarmante. Muitos crentes, e até pastores e líderes, simplesmente não crêem ser necessário pregar o Evangelho a cada pessoa no mundo. Existe um "neo-universalismo" recrudescente em nosso país. Podemos colocar a idéia nas palavras que ouvi de um certo pastor, há vários anos: "Um Deus bom, justo, de amor não poderá nunca condenar o índio inocente". E une eu andava conclamando os.brasileiros a se engajarem no esforço de alcançar os povos indígenas do país, pois o nosso Governo vinha restringindo a ação dos missionários estrangeiros nesse setor. Mas aquele pastor não quis saber. Não era preciso se preocupar com a salvação do índio. Deus iria dar um jeito. Estamos diante de uma hipótese que acarreta conse qüências gravíssimas. Não é necessário ser profeta para enxergar que essa história corta pela raiz qualquer senti mento de urgência, qualquer preocupação maior com a sorte espiritual das pessoas e dos povos que nunca ouviram falar de Jesus. Pois se Deus vai dar um jeito (daí se vê que deve ser brasileiro), então vai dar um jeito e podemos ficar despreocupados. Obviamente um jeito dado por Deus terá que ser adequado. Se o índio é inocente e se portanto não pode ser condenado, então Deus terá que salvá-lo (pois o espírito do ser humano é imortal, e só há dois destinos, ou ficar com Deus, que é vida eterna, ou ficar separado dEle, que é condenação eterna). Se existe "inocência" que impli ca em salvação, devemos reformular a nossa soteriologia, pois aí teria mais de uma maneira de alcançar a vida eter na. Afinal, nosso SENHOR Jesus Cristo mandou fazer mos discípulos em todas as etnias. Vamos obedecer ou não vamos? Mandou pregarmos o Evangelho a cada pessoa, indo pelo mundo inteiro. Vamos obedecer ou não vamos? Quem achar que não precisa obedecer, rejeitando inclusive os termos das ordens, deve ser coerente e pararde se apre sentar como servo de Jesus! Alguma dúvida? Bem, sei que não iremos resolver o problema de uma vez dessa forma, pois as pessoas nem sempre são coerentes. Então, vamos avaliar cuidadosamente essa hipótese neo-universalista. Não há "Inocente" Parece-me que a questão gira em torno da idéia de "i- nocência". É porque o índio (por exemplo) seria "inocen te" que Deus não deveria condená-lo. Muito bem, como poderemos definir essa "inocência"? Vou conduzir a dis cussão em termos do índio por ter conhecimento de causa, por ter experiência íntima. Vivi numa aldeia de índios em plena selva amazônica, um total de 24 meses. (Trata-se da 24 nação indígena Apurinã do Rio Purus, no Amazonas.) Contudo, creio que as observações feitas a respeito do nosso índio são igualmente válidas para os povos indígenas da Á- frica, da Ásia e das ilhas do Oceano Pacífico, onde se en contram as etnias não-alcançadas do mundo. Vamos então à "inocência". Muitos brasileiros duvidam da inteligência, da capa cidade mental e moral do índio, como se não passasse de criança. Aliás, a política federal do país parece retratar essa visão pois a Fundação Nacional do índio (FUNAI), ór gão federal, detém a tutela do índio. Quem precisa de tute la é menor, incapaz perante a lei. No Norte do país é co mum ouvir o índio tratado de "bicho". Já ouvi alguém ex pressar a idéia de que "a língua do índio" seria uma "bes teira" de uns 300 vocábulos, uma coisa pouco mais evoluí da do que o grunhir dos animais. (Observar de passagem que não existe "a língua" dos índios, pois são muitas: cada tribo tem uma língua diferente.) É engano total. São tão inteligentes quanto nós. Não faltam provas disso. Podemos começar pela língua. Tenho doutorado em lingüística. Domino o Português e o Inglês. Já estudei o Grego e o Hebraico, e, em escala bem menor, Latim e o Alemão. Tenho "triscado" em várias línguas ameríndias. Quero dizer que a língua Apurinã é a coisa mais complexa que já vi. Só para exemplificar, um verbo inglês é passível de até cinco flexões diferentes na estrutura interna da pa lavra, na morfologia. Já algum verbo português, dos bem irregulares, é passível de até 66 flexões diferentes na mor fologia da palavra. Mas um verbo Apurinã, com suas três ordens relativas de prefixos e 14 ordens relativas de sufixos (que comportam uns 60 afixos, até onde eu domino, pois existem outros mais), se cada combinação matematica mente possível pudesse ocorrer (existem umas poucas res trições de co-ocorrência), seria passível de pelo menos 20 milhões de flexões diferentes dentro da morfologia da pa lavra. É isso mesmo, 20 milhões, e isso até onde eu domino tão-somente. Daí o leitor poderá entender que eu perco a paciência quando alguém chega perto de mim querendo lLfázer pouco" da inteligência do índio. 25 Queria que você estivesse na minha casinha de palha na aldeia a ouvir os homens discutindo os prós e os contras do Evangelho numa perfeita demonstração de compreen são e raciocínio. Ninguém se iluda, são seres humanos como nós, criados à imagem e semelhança de Deus. Às ve zes eles nos parecem lerdos quando se encontram eríl nosso meio, por não entenderem nossa língua e cultura. Assim como nós pareceríamos igualmente lerdos no meio deles, exatamente por não conhecermos a língua e cultura deles. Enfim, não podemos definir "inocência" em termos de fal ta de inteligência, raciocínio ou capacidade mental. Ou pelo menos, se assim fizermos nem o índio e nem os demais povos indígenas do mundo se enquadram nessa definição. Os povos indígenas do Brasil e, em grande parte, do mundo são animistas, isto é, o culto ou religião deles con siste na tentativa de apaziguar os demônios, os espíritos malignos que entendem ser os responsáveis por todos os males que lhes atingem. (Mesmo as etnias da África apa rentemente convertidas ao islamismo entendo ainda esta rem às voltas com os demônios numa espécie de sincretis- fflo.) Sabem que existem espíritos bons também, mas conscientemente cultuam os maus. Não se trata de crendi ce ou superstição. É uma atitude lógica e inteligente den tro da realidade que eles vivem. São verdadeiramente per seguidos pelos espíritos malignos, pois estes existem e as sim atuam. Ignorando a existência dum poder benéfico maior capaz de livrá-los da perseguição dos demônios ou, no caso dos que sabem existir um Criador bom mas que há muito perderam contato com ele, não sabendo como acio ná-lo em seu favor, fazem o que sobra para fazer. Procu ram diálogo com os espíritos para ver se a coisa melhora, ao menos um pouco. Ora vejam, quem conscientemente cultua os demô nios, e por trás deles Satanás (pois sabem que os demônios têm um chefe), deixando de lado os espíritos bons e o pró prio Criador, não é "inocente" e nem deve ser assim consi derado. Depois têm a consciência, que Deus coloca em cada ser humano (ver Rm 2.14-16). Muito precioso neste sentido é o subsídio trazido por Don Richardson no seu livro, O 26 Fator Melquisedeque (Editora Vida Nova, 1986). Ele ar gumenta que não somente as pessoas, mas inclusive as cul turas trazem aspectos, tipo memória da antigüidade, que preparam os povos para a chegada do Evangelho, e de cer ta forma os predispõem a aceitá-lo. Ele cita um bom nú mero de exemplos bastante interessantes, E tem a luz da criação que deve levar cada ser cons ciente a se curvar diante do Criador (ver Rm 1.18-20), pois todo o processo cognitivo do ser humano parte do princípio de causa e efeito. Observamos um efeito e procuramos iso lar a causa que produziu esse efeito; pela lógica a causa tem de ser igual ou superior ao efeito que produziu, pois caso contrário não seria capaz de produzi-lo. Confesso não entender os cientistas que afirmam ser materialistas, pois toda experiência científica também se baseia no princípio de causa e efeito. Parecem-me incoerentes. Suponho existir apenas uma definição de "inocência" possivelmente capaz de suportar a luz do dia: seria a igno rância, a falta de ouvir. Quer dizer, um Deus justo não po deria condenar uma pessoa que nunca ouviu falar de Cris to. Só tem um pequeno problema: Deus não aceita. Rm 1.18-20 deixa claro que todo ser racional tem a luz da cria ção, e Deus vai cobrar essa luz: "para que fiquem inescu- sáveis" (ver também Salmo 19.1-4). Romanos 3.10-12 é mais do que claro: para Deus não existe "inocente"!! Se gundo Isaías 64.6, até nossas "justiças" Deus tem como "trapos imundos". Deus É Justo Contudo, Deus é justo. Ele reconhece a diferença en tre pouca luz e muita luz. "Para com Deus não há acepção de pessoas, porque todos os que sem lei pecaram sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram pela lei serão julgados" (Rm 2.11,12). Embora todos tenham a luz da criação, certamente ela não se compara com a luz da revelação escrita de Deus. Lucas 12.47,48 diz respeito ao Tribunal de Cristo, e não ao julgamento dos incrédulos, mas também deixa claro que Deus reconhece graus de res ponsabilidade. Observem, no entanto, que os sem lei 27 "perecerão" e os servos que não sabiam a vontade de Deus "serão castigados", embora menos. Agora vamos ao juízo final dos ímpios, o grande trono branco que é descrito em Apocalipse 20.11-15. "Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, pos tos em pé diante do trono. Então se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o Hades entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então a Morte e Hades foram lançados para dentro do Lago de Fogo. Esta é a segunda morte, o Lago de Fogo. E se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do Lagode Fogo." Gostaria de observar de passagem que não deverei comparecer diante do grande Trono Branco, mas se fosse comparecer e ser julgado segundo minhas obras fatalmen te eu seria lançado no Lago de Fogo. Pois pelas obras nin guém se salva (ver Is 64.6; Jr 17.9; Rm 3.20 e 23 entre ou tras: estou falando de salvação, não galardão). Não irei para o Lago porque pela graça de Deus meu nome está la vrado no livro da Vida. Muito obrigado, Senhor Jesus! Mas gostaria de imaginar que seja possível observar esse julgamento. Suponhamos que chega a vez dum índio e nós podemos acompanhar o caso. Ouve-se a bronca: "Mas Senhor Deus, como pode? Nunca jamais chegou alguém a nossa aldeia, a nosso povo para nos falar de Jesus. Todos nós nascemos, vivemos e morremos sem nenhuma vez ouvir o Evangelho de Cristo. Como poderá me julgar?" É claro que o que segue é mera especulação, mas imagino que a resposta de Deus se ria mais ou menos a seguinte: "É. Sei. Desgraçadamente você nunca ouviu. Através dos séculos cansei de mandar meus supostos servos mas nenhum deles prestou ouvidos e você ficou sem ouvir. Lamento profundamente! Mas quero que você saiba que não vou te julgar por um evangelho que você nunca ouviu. Vou te julgar, sim, segundo as tuas 28 obras." Duas vezes no texto em pauta repete-se a expres são, "foram julgados cada um segundo as suas obras". Agora, como é que se pode avaliar as obras de alguém? Tem de ser dentro do contexto que esse alguém viveu. É preciso saber o que ele estava sentindo, quais as pressões que estava sofrendo. É que cada povo tem lei, tem moral, tem normas de conduta. É claro que sua moral fica aquém da moral da Bíblia, mas tem moral. Eles entendem que certas coisas são boas e que outras são más. Então, Deus vai julgar aquele índio dentro de sua própria cultura, den tro da lei e moral que ele muito bem conhecia, reconhecia e abraçava. E Deus vai provar que mesmo dentro daquele contexto o índio não correspondeu {não esquecer da luz da criação e a consciência que também serão cobradas). Dian te do grande Trono Branco não haverá ninguém a dizer que Deus é injusto. Não, irmãos, que ninguém se iluda! O índio que nun ca ouviu o Evangelho está condenado. Para Deus não exis te "inocente". A Hipótese Neo-universalista Mas essa idéia "neo-universalista" exerce um fascínio tão grande sobre as pessoas em nossos dias que julgo con veniente tecer mais uns comentários a respeito. Vou partir da posição já exposta, que a única definição de "inocên cia" possivelmente válida seria a de ignorância. A saber, um Deus justo não poderia condenar a quem nunca ouviu. Pois bem, nesses termos o "cristão" neo-universalista tem um jesus "monstro" e um deus "sem inteligência". (Sei que o irmão talvez sinta um mal-estar diante desses ter mos, mas os escrevo de propósito pois a repulsa que o pró prio Deus sente diante da hipótese neo-universalista deve ser bem maior.) É claro. Se Deus não pode condenar a quem nunca ou viu (pela hipótese) então o ignorante terá que ser salvo (lembrar que só há dois destinos para o espírito do ser hu mano). Mas ai o Evangelho de Cristo passa a ser uma men sagem de condenação e não de salvação, uma mensagem de morte e não de vida. Pois enquanto alguém o ouvir é sal vo (pela hipótese), mas no momento que ouvir se não acei- 29 tar fíca condenado. Já imaginou tamanha "fria" para o proclamador do Evangelho - andar acabando por aí com a "inocência" da8 pessoas?! Isso é fazer de Jesus um "mons tro", pois Ele mandaria pregar a cada pessoa condenando com isso multidões que, de outra forma, seriam salvas! Já pensou? E é também fazer de Deus um ser sem inteligência, pois enviar o seu Filho para assumir a forma de homem e sofrer tudo o que sofreu seria simplesmente desnecessário (pela hipótese). Mas não podemos cometer a irreverência de fazer de Deus um ser sem inteligência, nem de fazer de Jesus um monstro, assim o que está errado é a hipótese neo-universalista. _ (É estranho como as pessoas se julgam mais justas e mais sábias que o Criador. A Bíblia diz que Deus criou o homem à sua própria imagem e semelhança, mas de lá para cá parece que os homens estão empenhados em devol ver o favor, pois, a exemplo do neo-universalista, não gos tando do Deus da Bíblia, bolam um outro deus mais de seu agrado, um deus sem surpresas indesejadas, um deus bem do tamanho e do jeito deles. Só que, amigo neo- universalista, um deus bolado por você será fatalmente menor que você, um deus pífio, um deus que não é nada.) Conclusão Conclusão: Temos de levar Marcos 16.15 a sério. O Evangelho de Cristo é a única saída para todas as pessoas. Já que não há inocente perante Deus, é totalmente neces sário pregar a cada um. Mas aí vem a pergunta: e se al guém corresponder realmente à luz da criação? Teorica mente é possível, mas na prática é impossível por causa da pressão exercida sobre a pessoa pela cultura. Como diz em 1 Jo 5.19, o mundo "jaz no maligno": há forte influência satânica nas culturas do mundo. E como já expliquei, em geral as culturas das etnias não-alcançadas são exatamen te aquelas que giram em torno do culto aos demônios. Quer dizer, uma criança nascida dentro duma dessas cul turas é "programada" desde cedo com essa visão de mun do. Conseqüência: torna-se impossível para ela refletir li- 30 vremente sobre a criação e tirar as devidas conclusões, cur- vando-se assim diante do Criador. Novamente surge o problema da "justiça" de Deus. Como podia Ele criar uma raça que Ele muito bem sabia iria cair sob o domínio de Satanás, e, como conseqüência, nasceriam pessoas que seriam "programadas" por suas culturas e que ficariam sem condições de corresponder à luz da criação, pagando por isso o preço de passar a eterni dade no Lago de Fogo? Como pode? Não sei. Deus não ex plica. Quando Deus não explica uma coisa dessas temos só duas opções: aceitar ou rejeitar. Rebelar-nos contra Ele ou curvar-nos diante dele. Existem coisas que pertencem à soberania de Deus e quem entre nós for sábio as deixará com Ele! Não é isso que é declarado em Deuteronômio 29.29: "As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nos so Deus"? Não temos o direito de entender tudo e nem a obrigação de explicar tudo. Parece-me ser a mensagem central do livro de Jo: no fim Deus não explicou, não satis fez a perplexidade de Jo. Ele disse em outras palavras, "Eu sou grande e você é pequeno, eu sou o Criador e você não tem condições de discutir comigo" (capítulos 38 a 41). E ficou por isso. Jo saiu-se bem porque reconheceu sua pe quenez e calou a boca (Jo 40.3-5; 42.1-6). Quando introduzimos nossas idéias humanísticas em qualquer questão é para mostrar mais uma vez a "queda" idolatra do nosso coração. Vejamos o caso da criancinha que morre. Vai para o Céu ou para o Inferno? A Bíblia não diz; simplesmente silencia perante esse assunto. (Nossas versões despistam ao traduzir "dos tais é o reino dos céus" em Mateus 19.14; Marcos 10.14,15 e Lucas 18.16,17; a tra dução correta seria "de tais..." Obviamente, não é verdade que só crianças entram no Reino, que parece-me ser o sen tido natural da frase "dos tais..."; adulto também pode. A "Corrigida" despista quando traduz Marcos 10.15 por "re ceber o reino de Deus como menino", a "Atualizada" está melhor quando diz "como uma criança". O que o texto es tá dizendo é que um adulto tem de receber o reino assim como uma criança o recebe, que parece-me ser o sentido natural da frase "de tais..." A criança é simples, a criança é literalista, a criança aceita cegamente a palavra dos pais. 31 No entanto, estou plenamente convicto de que pode mos confiar em nosso Deus: Ele sabe o que faz e um dia, uma vez glorificados, haveremos de entender a razão das coisas. Vejam o que está encravado exatamente no meio dos dez mandamentos, aquilo que foi gravado nas tábuas de pedra: "visito a iniqüidade dos pais no filhos até a ter ceira e quarta geração daqueles que me aborrecem,e faço misericórdia até mil gerações àqueles que me amam e guardam os meus mandamentos" (Êx 20.5,6)! Já parou para pensar? Vale dizer que a misericórdia de Deus é 250 vezes maior que a punição! De Adão até aqui talvez não te nha havido 300 gerações ainda: a misericórdia de Deus é praticamente inesgotável. Pode confiar na justiça de Deus, meu irmão, pode confiar. Já ouvi comentar uns dois ou três casos na história das missões modernas onde Deus fez milagre para garantir que o conhecimento do Evangelho de Jesus chegasse a alguém que aparentemente fazia jus à luz da criação. O caso de Cornélio (Atos 10) quase chega a ser um exemplo bíblico, mas ele estava cercado de judeus e certamente não estava limitado à luz da criação. (Pessoalmente, suponho ser exa tamente assim que Deus faz frente aos eventuais casos onde alguém parece corresponder adequadamente à luz da criação. Remove céu e terra, se preciso, mas faz chegar a luz maior, e necessária, do Evangelho.) Muito bem, mas observe por favor que jamais no mundo devemos basear nossa estratégia missionária em dois ou três raríssimos ca sos. Certamente Jesus, Deus, o Filho, sabia que, eventual mente, poderiam surgir tais raríssimos casos, mas ao dar suas ordens nem sequer mencionou a possibilidade. Ao tra çar sua estratégia missionária, o Senhor Jesus mandou pregar o Evangelho a cada pessoa. Vamos obedecer? 32 4 Fazer discípulos, não meramente convertidos Agora vamos atentar para as palavras do Senhor Jesus que encontramos em Mateus 28.18-20, a chamada Grande Comissão de Cristo, A primeira coisa que nos chama a atenção é a declaração feita no verso 18: "É-me dado todo o poder no céu e na terra." (Outra versão diz "autoridade" que resulta na mesma coisa, pois não há autoridade sem poder.) Em outras palavras, Jesus se declara como Sobera no do Universo, o Maior. Esta declaração tem pelo menos dois reflexos para os seguidores de Cristo. Primeiro, é condição básica de êxito sabermos que nosso Deus é o Maior. É esta certeza inabalável que nos dará as condições de enfrentar o inimigo e as circunstân cias adversas, sem temer e sem vacilar. Segundo, qualquer ordem dada pela Autoridade Má xima do Universo exige atenção e respeito total. Para co meçar, tal atenção e respeito tem de se manifestar numa exata atenção prestada ao exato sentido da ordem. Preci samos definir o conteúdo semântico da ordem de forma completa e perfeita, se possível. Pois, ao proferir uma or dem, nosso Deus obviamente quer ser obedecido, e de for- 33 ma certa e completa. Então, vejamos agora o conteúdo se mântico da ordem. O Sentido da Ordem Uma tradução rigorosa seria mais ou menos a seguin te: "Ao irem, discipulai todas as etnias, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado." (Tam bém poderíamos traduzir "fazei discípulos em todas as et nias".) Constatamos que só tem um verbo no imperativo, a saber "discipulai". Daí se vê que teremos de procurar a es sência da ordem nesse verbo. Sei que nossas principais ver sões traduzem o verbo "ir" como se também estivesse no imperativo, mas não está: está no particípio. Portanto, não pode representar a ação principal; é uma circunstância. Creio que, pensando um pouco, fica claro que o ir não pas sa de circunstância. A gente "vai" para chegar no lugar onde deve trabalhar. Alguém poderia passar o tempo todo indo e nada fazer, um eterno turista. O Senhor Jesus faz de conta que já estaremos indo, ou já teremos ido (ao pé da le tra a tradução seria "tendo ido"). Em outras palavras, onde quer que cada um esteja, conforme a vontade de Deus para cada qual, a ordem é fazer discípulos. A ordem é, fazer discípulos. Infelizmente a versão "Corrigida" despista ao traduzir "ensinai": o verbo ensi nar está, sim, no começo do verso seguinte, mas não no verso 19. (Observe-se, de passagem, que a maioria esmaga dora dos manuscritos gregos que contêm este trecho não tem a palavra "portanto", razão por que não a coloquei na minha tradução.) Já que a ordem é fazer discípulos, antes de mais nada precisamos entender a acepção exata que Je sus tinha do vocábulo "discípulo", pois aí está o cerne da ordem. Então, que entendia Jesus por "discípulo"? O contex to imediato fornece um bom subsídio, pois o verso 20 diz: "ensinando-os a guardaT todas as coisas que vos tenho or denado". Quer dizer que fazer discípulo implica em ensi nar (não meramente pregar). Mas ensinar o quê? Ensinar a guardar, isto é, a obedecer a todas as coisas que Jesus mandou. Mas obviamente ninguém pode obedecer a algu- 34 ma coisa que ignora; daí teremos que ensinar as próprias coisas que Jesus mandou, e todas elas. Será exatamente isso que estamos fazendo nas nossas igrejas? Convido a atenção do leitor para Lucas 14.25-33, úni ca passagem onde se preserva nas próprias palavras de Je sus uma definição de discípulo, e onde Ele emprega a pala vra "discípulo" de sorte que não há como não entender (é claro que discipulado é abordado em outras passagens, mas como a palavra "discípulo" não se encontra aí poderia haver discussão a respeito). Três vezes encontramos a frase "não pode ser meu discípulo". A expressão é enfática, principalmente no texto original. Trata-se de condições absolutas que o Senhor coloca: quem não preencher não tem jeito. Vamos, pois, às condições: Aborrecer. A primeira se encontra no verso 26. "Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mu lher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda também a sua pró pria vida, não pode ser meu discípulo." Mas que palavra difícil! Será que tenho mesmo é que aborrecer (o verbo gre go é "odiar") inclusive aos entes mais queridos? Como po de? Deus não manda amar as pessoas? - Que será que Je sus quer dizer com essa palavra tão dura? - Deve ser en tendida de forma comparativa, assim como está na passa gem paralela, Mateus 10.37: "Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim". Em outras palavras, Jesus exige de mim, caso me pro ponha segui-lo como discípulo, que eu coloque meu relacio na mento com Ele acima de todos os demais relacionamen tos na vida, quer seja com pai, com mãe, com mulher, com filhos ou com o próprio "eu". Jesus exige o primeiro lugar, sem concorrência. Agora, quem sustentar um relaciona mento assim com o Senhor Jesus se verá, vez por outra, "brigado (pelo próprio Jesus) a se comportar de uma ma neira que as pessoas que estão do lado de fora de um tal re lacionamento com Jesus não irão entender. Não saberão interpretar corretamente. Vão interpretar como descaso, desprezo, aborrecimento, ódio até. Senão, vejamos. Mais de uma vez já houve quem me dissesse bem ob- lelivnmente, bem claramente, que eu certamente aborre- olt minha esposa e minhas filhinhas por carregá-las selva 35 adentro, a fim de morarmos em plena aldeia de índios, como fiz, com efeito. Tais pessoas não conseguiam enten der meu comportamento. Não dava para entender que um chefe de família com as minhas condições iria expor essa família à vida difícil, primitiva, até perigosa de plena selva amazônica, inclusive dentro de aldeia indígena, privando- a assim do conforto e das vantagens da cidade. Só podiam interpretar meu procedimento como falta de responsabili dade. E quantos missionários, cujos pais não compartilha vam o ideal do filho, na hora difícil da despedida, prestes a zarparem para outra terra, não têm ouvido dos lábios dos próprios pais palavras mais ou menos assim: "Mas meu fi lho, você odeia a gente, você vai abandonar a gente, vai se lascar sabe lá aonde, não faça isso meu filho!". Naquela hora de angústia os pais lançam mão de exatamente esse tipo de linguagem: interpretam o procedimento do filho como descaso, desprezo, ódio até. Daí se vê que ao fazer uso da palavra "aborrecer" Jesus não estava exagerando, não estava sendo ridículo. É isso mesmo: aborrecer. No entanto, gostaria de avaliar a questão daresponsa bilidade. Será que agi de forma irresponsável ao levar mi nha família selva adentro para morar com índios? Qual se ria melhor, a selva com Jesus ou a cidade sem Ele? Se levo a família para a selva obedecendo à ordem de Jesus, quem responde pelas conseqüências é Ele. Se permaneço na ci dade contra sua vontade aí quem responde sou eu. Sei que a questão é bastante séria como prática, pois conheço ho mens que sabiam perfeitamente ter um chamado missio nário mas não atenderam, alegando a esposa: não pode riam expor a mulher a esse tipo de vida. Aliás, o Antigo Testamento nos traz o relato de certos homens que fizeram opção semelhante. Refiro-me aos guerreiros de Israel em Cades-Barnéia, No cronograma de Deus estava na hora de invadir a Terra Prometida, mas dez dos doze espias desanimaram a turma e se rebelaram contra a ordem de Deus, ordem já dada e conhecida. Como justificativa, alegaram que se obedecessem seriam mortos e aí como seria o caso das suas mulheres e crianças. Não bastasse, ainda, fizeram uma contraproposta a Deus: seria 36 até melhor morrer por ali. (É muito perigoso fazer contra propostas a Deus, pois Ele é capaz de aceitá-las, como no caso em pauta.) Como resultado passaram mais 38 anos vagando no deserto. (Ver Dt 2.14) até que todos os homens que votaram contra Deus em Cades-Barnéia morressem. Não ficou um sequer para atravessar o rio Jordão. Já as mulheres e crianças, a suposta justificativa pela desobe diência, Deus fez entrar na Terra Prometida. Meus irmãos, enfrentemos qualquer perigo menos de sobedecer à vontade conhecida de Deus. Fazer contrapro postas nem se pense! Nosso Deus se responsabiliza pelas conseqüências das suas ordens, quando obedecidas. Privar a família da proteção de Deus, expondo-a às conseqüências da nossa desobediência, isso sim é ser irresponsável. O discípulo verdadeiro de Cristo deve sempre preferir "abor recer" a família, e sua própria pessoa, antes de desobede cer a Deus. É isso mesmo. Levar a cruz. A segunda condição se encontra no ver so 27 (Lc 14). "Qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo." Que será que 0 Senhor entende pela palavra "cruz"? Seria o adorno que alguém leva no pescoço? Algum problema na vida, ou aquele vizinho que você não agüenta? Não. Há dois mil anos cruz significava uma só coisa: morte. Representava maneira de matar, aliás a mais melindrosa da época. Creio que em Lucas 9.23 temos uma palavra que versa sobre o mesmo assunto. Jesus disse a todos: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me." O próprio conteúdo semântico do verbo "le var" (Lc 14.27) dá a idéia de uma ação contínua. Já aqui, em Lucas 9.23, temos de "tomar cada dia" a nossa cruz - parece ser uma morte diária. Aliás, o apóstolo Paulo usa exatamente essa expressão • a 1 Coríntios 15.31, dizendo que ele morria cada dia. Mas como entender essa expressão? Obviamente não se trata de morte física. Como então? Creio que o "negar-se a si mesmo" (Lc 9.23) nos aponta o caminho certo. É uma morte para si, para as próprias idéias, ambições, desejos e qncreres; é um abrir mão do meu suposto direito de man- Otr na própria vida. E esta atitude tem de ser renovada 37 cada dia, e quem sabe cada hora. Parece-me ser o efeito da expressão que achamos em Romanos 12,1 onde fala em apresentarmos os nossos corpos em "sacrifício vivo". - Mas essa expressão não lhe parece um pouco estra nha? No Antigo Testamento, no meio de tantos animais sacrificados, tantos holocaustos, houve alguma vez sacrifí cio vivo? Como e quando passava um animal a ser sacrifí cio? Não era no momento da degola, vertendo seu sangue? Logo, só teria sacrifícios mortos. Mas Paulo fala de sacrifí cio "vivo". Creio ser exatamente o "levar da cruz" que já notamos: é uma morte contínua, viver morrendo. É negar- se a si mesmo a cada passo. E Jesus declara que sem esta disposição é impossível ser discípulo dele. Renunciar tudo. A terceira condição se encontra no verso 33 (Lc 14). "Assim, pois, qualquer de vós que não re nuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo." O "assim, pois" liga este verso às duas ilustrações dadas nos versos 28 a 32. Creio que essas ilustrações dizem mais res peito ao ato de entrar na condição de discípulo, que iremos examinar daqui a pouco, mas interessa observar aqui que se trata duma decisão consciente e estudada, um ato do arbítrio. E não pode ser diferente, pois aqui Jesus exige uma renúncia completa, uma entrega sem reservas - en fim, uma entrega de "tudo quanto tem". Avaliando as três condições juntas, podemos consta tar que, de certa forma, são três maneiras diferentes de di zer a mesma coisa. Embora uma condição focalize os rela cionamentos, outra as ambições e a terceira as coisas, são expressões de uma realidade básica. Nosso Senhor Jesus Cristo exige compromisso total! Agora podemos afirmar a definição que o Senhor deu à idéia de "discípulo". Para Je sus, discípulo é alguém que tem (e mantém) compromisso total com Ele. Voltando a Mateus 28.19, vamos ver se entendemos melhor a ordem. A ordem é fazer discípulos. Discípulos, não meramente "crentes" ou convertidos, mas discípulos, na acepção da palavra que o Senhor Jesus tinha, e tem. Discípulos, pessoas cujas vidas efetivamente giram em torno da causa e da vontade de Cristo, pessoas que vivem em função do Reino. 38 O Efeito Estratégico Que estão a fazer as nossas igrejas, em geral? 0 enfo que, quase exclusivo, é no evangelismo. Será que não? Es tamos a fim de "ganhar almas", de ver as pessoas converti das. (Isso nas igrejas que ainda têm compromisso com a Bíblia; certas outras não passam de clubes sociais e já es tão nas mãos do inimigo.) Nas igrejas "tradicionais" ou "históricas" o novo convertido deve freqüentar os cultos e participar da vida da igreja; querendo ser bom mesmo pas sa a ser dizimista. Já nas igrejas "pente eostais" ou "reno vadas" o novo convertido deve também procurar "a segun da bênção"; sendo "batizado no Espírito Santo", aí che gou mesmo. Mas quem está fazendo discípulos no sentido que Jesus mandou? Qual será o resultado prático desse enfoque nosso? É exatamente aquele quadro calamitoso que já comentamos: meio mundo sem ouvir uma vez o Evangelho de Cristo; metade das etnias tem sequer um porta-voz de Cristo ain da. É claro. O enfoque de apenas ganhar almas enche as igrejas de crianças, crianças espirituais (não tem nada a ver com a faixa etária da pessoa). Pois bem, e daí? Daí, criança trabalha? Criança não trabalha, dá trabalho (e como!) Amados irmãos, estamos diante duma questão do tamanho do mundo, literalmente. Embora possa doer, pre cisamos avaliar objetiva e corajosamente este assunto: o destino eterno do mundo está em jogo. Menor abandonado não é negócio. Que devemos pensar de um homem que no âmbito físico anda gerando filhos sem ter a menor preocupação com a alimentação, o abrigo^ a educação, enfim o cuidado desses filhos? Com toda justiça tacharemos este homem de irresponsável, de inimigo da nossa sociedade. Sim, porque ele está introdu zindo menores abandonados na sociedade, e, estatistica mente, muitos deles (provavelmente a maioria) passarão a Ber marginais e criminosos. Menor abandonado não é negó cio! Gostaria de sugerir para a reflexão cuidadosa do leitor que existe uma analogia quase perfeita entre o âmbito físi co e o âmbito espiritual nesta área. 39 Quando trazemos à luz filhos espirituais (por assim falar), mas não os discipulamos, não os levamos a fazer uma entrega sem reservas a Jesus, não os levamos à con dição de adultos na fé, então acarretamos uma série de conseqüências negativas. Que é que mais faz pastor enve lhecer antes da hora? São os incrédulos lá fora, ou é a criancice dentro da igreja? É claro que é a criancice espiri tual na igreja. (Observar de passagem que às vezes a justi ça se faz, pois quando o pastor só prega mensagens evan-gelísticas o maior culpado é ele mesmo, pois não apascenta as ovelhas. Comida de bodes não serve para ovelha.) Ao fazer evangelismo pessoal, qual a desculpa que mais se ouve quando alguém quer se livrar? Ele não apela para a vida do crente Fulano, Beltrano ou Cicrano? E a criancice espiritual na igreja. E depois tem os "gatos escal dados" - são aqueles que dizem, "já fui crente". Que será que aconteceu com ele? Presumivelmente ouviu a prega ção, atendeu ao apelo, seguiu as instruções dadas e deu si nais de vida, participando nas atividades da igreja. Mas aí Satanás deu em cima dele, a vida de crente não foi aquele "mar de rosas", houve mais problemas do que bênçãos. E como ninguém explicou a razão das coisas, como ninguém o discipulou aí ele começou a desanimar, ficar perplexo, sentir-se iludido e abandonado. Daí ele vai se distanciando e quando menos espera já está longe. Agora é "gato escal dado" pois já foi vacinado. Reconquistar uma pessoa as sim dá mão de obra, sem comentar todos os reflexos nega tivos que se espalham pela vizinhança. Quando pensamos nos povos não-alcançados o proble ma da criancice espiritual nas igrejas se faz sentir de forma bem aguda. Precisamos de soldados, e para isso criança não serve. Via de regra, nem vai se oferecer (ainda bem). Mas acontece que nem todos os que se apresentam, e que acabam sendo enviados aos campos missionários, são discípulos - alguns deles pouco passam de crianças. E se criança pega em serviço de homem, por acaso o serviço vai sair bem feito? Dificilmente. A criança, coitada, está fa zendo por onde, mas não tem a força, o saber, a experiên cia e a capacidade dum homem. É criança. O mundo per dido está a espera de adultos, gente grande, discípulos. 40 Amados irmãos, sejamos pais responsáveis! É sim plesmente uma falta de responsabilidade terrível trazer à luz filhos (no âmbito espiritual também) sem assumir as conseqüências naturais e necessárias: alimentar, proteger, educar e levá-los à condição de adultos. Menor abandona do não é negócio. Creio que vem muito ao caso o exemplo do nosso Mestre. O exemplo de Cristo, e de Paulo. - Como fez o Se nhor Jesus durante seus três anos de ministério público aqui na terra? Com quem Ele gastou a maior parte do tem po? Não foi com doze homens? Andaram juntos, comeram juntos, dormiram no mesmo lugar, e estavam a ouvir e ob servar tudo que o Mestre fazia, durante três anos. E Jesus jogou tudo naquele "time", naqueles homens. Quando Ele voltou para o Céu o futuro da Igreja estava nas mãos deles. Se tivessem fracassado, de uma vez a Igreja acabava por lá mesmo, logo no início. Mesmo quando Jesus lidava com o povo, como fazia? Ele promovia campanha evangelística? Não consta. O que o texto sagrado registra é que o que Ele fazia mais era ensi nar o povo, às vezes o dia inteiro. Pois Jesus queria discí pulos. Em qualquer época o bem-estar da Igreja depende dos discípulos que existirem. Parece que o apóstolo Paulo, pelo menos, entendeu o exemplo e a estratégia de Cristo, pois também cuidou de fazer discípulos. Ao despedir-se da igreja de Éfeso ele afir mou, "Nada que de útil seja deixei de vos anunciar e ensi nar, publicamente e de casa em casa" (Atos 20.20), e nova mente: "Nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus" (Atos 20.27). Paulo não se detinha numa mensagem meramente evangelística - queria discípulos. Tudo indica que a motivação maior ao escrever suas cartas era levar os convertidos à condição de discípulos, Só para exemplifi car, podemos citar Colossenses 1.28, Falando de Cristo, Paulo escreve: "A quem anunciamos, admoestando a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus Cristo." Efésios 4.12,13 é ainda mais interessante nesse senti do, pois Paulo atribui o intuito ao próprio Cristo. Foi Ele mesmo que deu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres à Igreja, "visando ao aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao pleno conhecimento do Pilho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura da plenitude de Cristo." Em outras palavras, Cristo quer discípulos, na acepção da palavra que já expli camos. Em 2 Timóteo 2.2 Paulo deixa claro que devem surgir gerações sucessivas de discípulos, presumivelmente até a volta de Cristo. E qual foi o resultado da aplicação desta estratégia pelos Apóstolos? Alcançaram seu mundo na sua geração. Se recuperarmos o mesmo enfoque, será que não podemos também alcançar o nosso mundo nesta geração? Creio que sim. Senão, vejamos: Como funciona. Fazer discípulo leva tempo e pode ser incômodo, mas é a maneira mais rápida, certa e segura de efetivamente alcançarmos o mundo. À primeira vista, pensando superficialmente, pode parecer que não. Aliás, a visão que parece prevalecer no mundo evangélico atual é de evangelismo em massa: temos de ganhar almas em nú mero o mais possível. Quanto mais almas em quanto me nos tempo, melhor. Só que não resolve. Pode dar um cres cimento rápido aparente a curto prazo, mas acaba ruindo por não existir o alicerce e a infra-estrutura para agüentar tamanho peso. Criança não trabalha; dá trabalho. Para fazer discípulos é preciso gastar tempo com eles, assim como fez Jesus. E é preciso "abrir o jogo"; não pode fingir ser um supercrente que não tem problemas, nunca peca, nunca é atacado por Satanás, etc. (É possível chegar a ser um discípulo sozinho, mas costuma ser um processo demorado e dolorido, exatamente por falta de assessor ia.) Ê preciso explicar a razão das coisas, dar assessoria efeti va, fundamentar mesmo. Parece ser demorado, mas acaba sendo mais rápido. Imaginemos que eu seja o único discí pulo verdadeiro de Cristo no mundo hoje (é claro que não é verdade, e graças a Deus por isso), só para efeito de raciocí nio, só para ver até onde a brincadeira leva. Digamos que neste ano de 1987 eu consiga fazer mais um discípulo, não somente ganho a alma, mas seguro, fundamento, doutrino, 42 levo a uma entrega sem reservas a Jesus, enfim: discípulo. Aí no final do ano seremos dois. Certo? (Talvez alguém esteja duvidando da possibilidade de fazer um discípulo dentro dum ano. O segredo maior está na entrega sem reservas a Jesus. Enquanto alguém não fi zer essa entrega, seu crescimento espiritual será paulatino, quando tem. É aquele quadro tão costumeiro: três passos para frente e dois e meio para trás, quando não são três ou três e meio para trás. A entrega total dá ao Espírito Santo o direito de agir livremente na vida da pessoa e com isso ela pode crescer rapidamente, alcançando patamares espi rituais que a maioria dos crentes sequer chega a vis lumbrar.) Muito bem. Durante o ano de 1988 cada um faz mais um discípulo: ganha e segura, fundamenta, doutrina, en fim discípula. Aí seremos quatro (dois mais dois). Certo? Durante o ano de 1989 repetimos a façanha: cada um ga nha mais um, e discípula. Aí seremos oito. (Você não tem que ser um evangelista de renome internacional; você não tem que ganhar 300 almas por ano; basta ganhar uma, des de que segure, discipule mesmo.) Durante 1990 dobramos de novo e aí seremos 16. Repetindo a dose, ano por ano, chegaremos ao final do ano de 1996 com nada menos que 1.024 discípulos! Já pensou? Haverá algum pastor que não se daria por satisfeito se durante dez anos de ministério conseguisse criar uma igreja com 1.000 membros? Mas va mos em frente, vamos ver a segunda década. Prosseguindo no mesmo ritmo, terminaríamos o ano de 1997 com 2,048 discípulos. Dobrando cada ano termi naríamos a segunda década (isto é, em 2006) com nada menos que 1.048.576 discípulos! Pois bem, aí terminaría mos o ano de 2007 com 2.097.152 discípulos, e assim por diante até completar a terceira década com 1.073.741.824 discípulos. É isso mesmo, mais de um bilhão como resul tado de apenas trinta anos de fazer discípulos, nabase de um por ano! Se continuássemos assim por mais quatro anos, alcançaríamos a cifra de mais de 17 bilhões de discí pulos. Sucede que só (?) temos cinco bilhões de pessoas no mundo hoje, de sorte que poderíamos perder a metade a caminho e ainda alcançar o mundo inteiro dentro de 34 anos! Que tal, vamos lá? Mas, espere aí. Isso tudo começando com apenas um; mas não sou o único. Será que existem um milhão de discí pulos verdadeiros (não meros crentes) no mundo hoje? Creio que sim, e até mais. Muito bem, nesse caso podemos subtrair vinte anos dos 34 que seriam necessários para al cançar o mundo. É claro, pois segundo o modelo sugerido levaria vinte anos para chegar à casa de um milhão. Se já somos mais de um milhão poderemos terminar de alcançar o mundo dentro de 14 anos! Será que não? Sei que várias objeções já se apresentaram a seu pen samento. Esse quadro é muito idealizado; não leva em conta as barreiras diversas que existem: barreiras ideológi cas, políticas e religiosas, barreiras geográficas e de língua e cultura, a barreira da fraqueza humana com manifesta ções várias, e principalmente a barreira da atuação satâni ca e demoníaca no mundo. E agora, "José", como fica? Bem, reconheço existirem todas essas barreiras, e de fato são grandes, mas nosso Deus é maior. As barreiras de ideo logia, política e religião poderemos destruir usando as ar mas de 2 Coríntios 10.4,5, ao passo que a atuação de Sata nás e os demônios poderemos vencer fazendo uso dessas e das outras armas espirituais que o Senhor Jesus coloca à nossa disposição (ver capítulo VI). Não esquecer também da "chave de Davi" (Ap 3.7). Já as barreiras de geografia, língua e cultura deverão ceder diante da tecnologia moder na - temos ferramentas cada vez melhores para fazer fren te a esses problemas. E as fraquezas humanas? Bem, aí vem ao caso exatamente o discipulado e o poder e a capaci tação do Espírito de Deus. Um alerta se faz necessário aqui: por "discipulado" refiro-me ao processo de sermos e fazermos discípulos de Jesus, não de nós mesmos. Muitas vezes os "grilos" dum discipulador ou do fundador dum movimento passam a ser "doutrina" para os seguidores, e com isso vão parar no "brejo", mais dia menos dia. Faça mos discípulos de Jesus; levemos as pessoas a depende rem diretamente do Espírito Santo e da Palavra de Deus, e não de nós; com isso os nossos discipulandos poderão se li vrar dos nossos erros, pois todos os temos. 44 E ainda há algumas outras considerações que mere cem menção. Por exemplo, o modelo visa fazer só um discí pulo por ano, mas de fato podemos fazer mais: pensemos imediatamente nos muitos milhões de crentes que pode riam ser díscipulados com alguma rapidez. A estratégia apresentada no capítulo II vai ao encontro da má distribui ção geográfica dos discípulos atuais. É bom lembrar tam bém que nunca iremos ganhar todo mundo; sempre existi rão pessoas que conscientemente rejeitam o Evangelho de Jesus Cristo. Jesus não manda ganhar todo mundo (seria violar o arbítrio das pessoas), e sim fazer com que cada um ouça e tenha opção consciente. O modelo falou em ganhar o mundo inteiro dentro de 14 anos, o que não será o caso. Segundo a ordem em Mateus 28.19 e Marcos 16.15 o alvo é ver discípulos verdadeiros em cada etnia e cada pessoa com a opção consciente de abraçar o Evangelho. Então, com essas ressalvas todas, será que não podemos assumir o desafio de cumprir as ordens do nosso Mestre até o final deste século? Vamos para frente! A Implementação da Estratégia Agora vamos atentar para a implementação da estra tégia. Existem pelo menos três questões que devem ser consideradas, mas primeiro quero voltar à ordem em Ma teus 28.19: "Fazei discípulos em todas as etnias". A partir do que constatamos ao considerar o exato sentido da or dem, entendo duas coisas. Primeiro, a ordem é fazer discí pulos, nada mais e nada menos. Segundo, parece-me ób vio que para poder fazer discípulos é necessário primeiro ser discípulo (ou será que não?). Acaso eu teria condições de levar outrem a entregar-se sem reservas a Jesus se eu me recuso a fazê-lo? E como poderei assessorar alguém no discipulado se nunca andei por lá? Assim sendo, enquanto eu não for discípulo fico marginalizado: dificilmente pode rei ter ação efetiva para cumprir a Grande Comissão de Cristo. E você também. Daí a primeira coisa que devemos verificar é se somos de fato discípulos. E isso nos leva à pri meira questão: como ser discípulo. Como ser discípulo. A questão se divide naturalmen te em duas partes: como ingressar na condição de discípulo IS e como manter em pé essa condição. Como, então, ingres sar na condição de discípulo? Se podemos comparar o dis cipulado a um caminho a ser trilhado (diariamente) então ingressar seria como que passar pelo portão que dá acesso ao caminho. Entendo que ingressar na condição de discípulo de pende de uma entrega deliberada, um ato do arbítrio. Ima gino ser possível alguém se converter quase por impulso, tipo pulo no escuro. Está desesperado; alguém chega perto e explica por aíto o plano da salvação e ele aceita, sem en tender muito. Já ingressar na condição de discípulo é dife rente. Creio que as duas ilustrações que estão em Lucas 14.28-32 vêm ao caso. Lembre-se que no verso 33, dando início à terceira condição, Jesus disse, "assim, pois". Ele referia-se aos dois casos que acabava de relatar. Uma pes soa queria construir uma torre, Um rei ouviu dizer que o vizinho já vinha contra ele com 20 mil soldados e ele só ti nha 10 mil. Que fizeram os dois? Em ambos os casos a pes soa estuda a situação, avalia suas próprias condições, cal cula quanto deverá custar, procura antever as prováveis conseqüências. Feito tudo, toma sua decisão; finca o pé. Ou vai construir, ou não vai; ou vai guerrear, ou não vai. Em qualquer das hipóteses ele tem que arcar com as conse qüências da sua decisão. É assim com o discipulado - o in gresso tem de ser um ato pensado, uma tomada de posição. Creio que é disso que Paulo escreve em Romanos 12.1 quando fala em apresentar os nossos corpos em sacrifício vivo. A palavra "corpos" deve ser um caso de sinédoque, onde o corpo representa a vida (se dou o corpo acaso a alma pode ficar para trás?). O "apresentar" deve ser a en trega consciente, sem reservas. Meu irmão, você já se en tregou sem reservas a Jesus? Senão, não é discípulo dele, e nem pode fazer discípulos, Sei que esta discussão pode suscitar alguma inquieta ção no leitor. Parece que estou sendo um tanto radical. Re conheço. Ê que estou partindo duma definição radical de "discípulo"; exatamente a definição dada pelo Senhor Je sus conforme constatamos em Lucas 14.25-33. "Discípulo" tem compromisso total com Ele. 46 Gostaria de enfatizar novamente que a entrega abso luta é a chave do crescimento espiritual. Sem essa entrega o crente permanece criança (espiritualmente) e tem um crescimento paulatino (se é que tem). A. entrega, que deve ser renovada cada dia, permite ao Espírito Santo ação li vre na sua vida, e com isso ele pode crescer rapidamente. Tudo depende da entrega, pois Deus respeita o nosso arbí trio. Essa entrega sem reservas é também o fator principal no enchimento e capacitação do Espírito, indispensável para que possamos efetivamente alcançar o mundo perdi do. Ingressar na condição de discípulo é uma coisa, man tê-la em pé é outra. Não é nada automático. Já comenta mos o tomar da cruz cada dia e o sacrifício vivo. É total mente necessário renovarmos cada dia nossa disposição de abraçar a vontade de Deus em tudo. É uma atitude a ser renovada a cada hora, sempre que preciso. Agora, escrever estas palavras é fácil, mas fazer é outra coisa! A luta diária do discípulo está justamente aí, manter em pé o relaciona mento. O fato é que a gente precisa de ajuda. Um dos maiores benefícios de compartilhar o discipulado com ou tros é o exemplo e estímulo que os participantes recebem mutuamente. O compartilhar
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