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FÉRIAS
Otavio Pinto e Silva
Faculdade de Direito – USP
ORIGENS DA REGULAMENTAÇÃO
Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII sobre a condição dos operários (1891)
É um dever da autoridade pública subtrair o pobre operário à desumanidade de ávidos especuladores, que abusam, sem nenhuma descrição, tanto das pessoas como das coisas
Não é justo nem humano exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso da fadiga embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo 
A atividade do homem, restrita como a sua natureza, tem limites que se não podem ultrapassar
 
ORIGENS DA REGULAMENTAÇÃO
O exercício e o uso aperfeiçoam-na, mas é preciso que de quando em quando se suspenda para dar lugar ao repouso
Não deve, portanto, o trabalho prolongar-se por mais tempo do que as forças permitem
Assim, o número de horas de trabalho diário não deve exceder a força dos trabalhadores, e a quantidade de repouso deve ser proporcionada à qualidade do trabalho, às circunstâncias do tempo e do lugar, à compleição e saúde dos operários
 
ORIGENS DA REGULAMENTAÇÃO
Inglaterra (1872) – primeiro país a aprovar uma lei sobre férias para operários das indústrias (ARNALDO SUSSEKIND)
Literatura
PAUL LAFARGUE – Direito à preguiça (1880)
BERTRAND RUSSEL – O elogio ao ócio (1932)
 
ORIGENS DA REGULAMENTAÇÃO
Brasil (1925) – primeira lei de férias, para empregados e operários de estabelecimentos comerciais, industriais e bancários: 15 dias, sem prejuízo da remuneração, conforme regulamentação pelo Poder Executivo
LUIS WERNECK VIANNA: forte resistência patronal nas reuniões do Conselho Nacional do Trabalho
“Os lazeres, os ócios, representam um perigo iminente para o homem habituado ao trabalho, e nos lazeres ele encontra seduções extremamente perigosas, se não tiver suficiente elevação moral para dominar os seus instinctos subalternos”
 
ORIGENS DA REGULAMENTAÇÃO
“Que fará um trabalhador braçal durante 15 dias de ócio? Ele não tem o culto do lar, como ocorre nos países de clima inóspito e padrão de vida elevado. Para o nosso proletário, o lar é um acampamento – sem conforto e sem doçura. O lar não pode prendê-lo e ele procurará matar as suas longas horas de inação nas ruas. A rua provoca com frequência o desabrochar de vícios latentes e não vamos insistir nos perigos que ela representa para o trabalhador inactivo, inculto, presa fácil dos instintos subalternos que sempre dormem na alma humana, mas que o trabalho jamais desperta” 
 
ORIGENS DA REGULAMENTAÇÃO
Tratado de Versailles: criação da OIT (1919)
Convenção n◦ 52, aprovada na 20ª reunião da Conferência Internacional do Trabalho (1936), ratificada pelo Brasil em 1938
Toda pessoa terá direito, depois de um ano de serviço contínuo, a férias anuais remuneradas de 6 dias úteis, pelo menos
As pessoas menores de 16 anos, incluídos os aprendizes, terão direito, depois de um ano de serviço contínuo, a férias anuais remuneradas de 12 dias úteis, pelo menos
 
ORIGENS DA REGULAMENTAÇÃO
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
Adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 
Artigo 23 - Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego
 Artigo 24 - Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas 
ORIGENS DA REGULAMENTAÇÃO
Convenção n◦ 132, aprovada na 54ª reunião da Conferência Internacional do Trabalho (1970), ratificada pelo Brasil em 1998
Toda pessoa terá direito a férias anuais remuneradas de duração mínima determinada
A duração das férias não deverá em caso algum ser inferior a 3 semanas de trabalho por um ano de serviço
Um período mínimo de serviço poderá ser exigido para a obtenção de direito a um período de férias remuneradas anuais 
CONSTITUIÇÕES DO BRASIL
1934 (art. 121: “férias anuais remuneradas”)
1937 (art. 137: “depois de um ano de serviço ininterrupto em uma empresa de trabalho contínuo, o operário terá direito a uma licença anual remunerada”)
1946 (art. 157: “férias anuais remuneradas”) 
1967 (art. 158: “férias anuais remuneradas”)
1988 (art. 7º: “gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal”)
CONCEITO
Orlando Gomes e Elson Gottschalk
“Direito do empregado interromper o trabalho por iniciativa do empregador, durante um período variável em cada ano, sem perda de remuneração, cumpridas certas condições de tempo no ano anterior, a fim de atender aos deveres da restauração orgânica e de vida social”
  
 
NATUREZA JURÍDICA
Cesarino Júnior
“A natureza jurídica é dupla. Para o empregador é uma obrigação de fazer e de dar, isto é, consentir com o afastamento do empregado e pagar-lhe o salário equivalente. Para o empregado é, ao mesmo tempo, um direito de exigir as obrigações a cargo do empregador e de se abster de trabalhar durante o período de férias”
  
 
PRINCÍPIOS
1 – Anualidade (art. 129 CLT: “Todo empregado terá direito anualmente ao gozo de um período de férias”)
2 – Remunerabilidade (art. 129 CLT: “sem prejuízo da remuneração”; c/c art. 7º, XVII, CF: “com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal”)
3 – Continuidade (art. 134 CLT: “um só período”. A Lei 13.467/17 alterou o §1º para prever: “Desde que haja concordância do empregado, as férias poderão ser usufruídas em até três períodos, sendo que um deles não poderá ser inferior a quatorze dias corridos e os demais não poderão ser inferiores a cinco dias corridos, cada um”)
PRINCÍPIOS
4 – Irrenunciabilidade (art. 9º CLT)
5 – Proporcionalidade (Art. 130 CLT: após cada período de 12 meses de vigência do contrato de trabalho, o empregado terá direito a férias, na seguinte proporção: I - 30 dias corridos, quando não houver faltado ao serviço mais de 5 vezes; II - 24 dias corridos, quando houver tido de 6 a 14 faltas; III - 18 dias corridos, quando houver tido de 15 a 23 faltas; IV - 12 dias corridos, quando houver tido de 24 a 32 faltas) 
OBS. Lei 13.467/17 revogou proporcionalidade para o trabalho em regime de tempo parcial (art. 130-A)
AQUISIÇÃO E CONCESSÃO
Período aquisitivo: 12 meses (art. 130 CLT)
Período concessivo: 12 meses subsequentes (art. 134 CLT)
Período das férias é computado, para todos os efeitos, como tempo de serviço (art. 130, §2º, CLT)
Concessão “por ato do empregador”, em um só período ou divido em três “desde que haja concordância do empregado” (art. 134 CLT)
Convenção 132 OIT: fracionamento pode ser autorizado, mas uma das frações deve corresponder pelo menos a duas semanas de trabalho ininterruptos (art. 8)
AQUISIÇÃO E CONCESSÃO
Art. 136 CLT - A época da concessão das férias será a que melhor consulte os interesses do empregador
§ 1º - Os membros de uma família, que trabalharem no mesmo estabelecimento ou empresa, terão direito a gozar férias no mesmo período, se assim o desejarem e se disto não resultar prejuízo para o serviço
§ 2º - O empregado estudante, menor de 18 anos, terá direito a fazer coincidir suas férias com as férias escolares
AQUISIÇÃO E CONCESSÃO
Art. 10 da Convenção 132 OIT
1. A ocasião em que as férias serão gozadas será determinada pelo empregador após consulta à pessoa empregada interessada em questão ou seus representantes, a menos que seja fixada por regulamento, acordo coletivo, sentença arbitral ou qualquer outra maneira conforme a prática nacional
2. Para fixar a ocasião de período de gozo de férias, serão levadas em conta as necessidades de trabalho e as possibilidades de repouso e diversão ao alcance da pessoa empregada
AQUISIÇÃO E CONCESSÃO
Art. 135 CLT - A concessão das férias será participada, por escrito, ao empregado, com antecedência de, no mínimo, 30 dias e dessa participação o interessado dará recibo
O empregado não poderá entrar no gozo das férias sem que apresente ao empregador sua CTPS, para que nela seja anotada a respectiva concessão (que será, igualmente, anotada no livro de registro)
É vedado o início das férias no período de 2 dias que antecede feriado ou dia derepouso semanal remunerado - §3º, art.134 CLT (incluído pela Lei nº 13.467/17)
AQUISIÇÃO E CONCESSÃO
Art. 137 CLT - Sempre que as férias forem concedidas após o prazo de que trata o art. 134, o empregador pagará em dobro a respectiva remuneração
SÚMULA Nº 81 DO TST 
FÉRIAS
Os dias de férias gozados após o período legal de concessão deverão ser remunerados em dobro 
REMUNERAÇÃO E ABONO
Art. 142 - O empregado perceberá, durante as férias, a remuneração que lhe for devida na data da sua concessão
SÚMULA Nº 328 DO TST
FÉRIAS. TERÇO CONSTITUCIONAL
O pagamento das férias, integrais ou proporcionais, gozadas ou não, na vigência da CF/1988, sujeita-se ao acréscimo do terço previsto no respectivo art. 7º, XVII
REMUNERAÇÃO E ABONO
Art. 143 CLT - É facultado ao empregado converter 1/3 do período de férias a que tiver direito em abono pecuniário, no valor da remuneração que lhe seria devida nos dias correspondentes
“VENDA DAS FÉRIAS”
O abono de férias deverá ser requerido até 15 dias antes do término do período aquisitivo (§1º do art. 143 da CLT) 
Art. 145 CLT - O pagamento da remuneração das férias e, se for o caso, o do abono, serão efetuados até 2 dias antes do início do respectivo período
EFEITOS DA CESSAÇÃO DO CONTRATO
Art. 146 CLT - Na cessação do contrato de trabalho, qualquer que seja a sua causa, será devida ao empregado a remuneração simples ou em dobro, conforme o caso, correspondente ao período de férias cujo direito tenha adquirido
Férias proporcionais: após 12 meses de serviço, desde que não haja sido dispensado por justa causa, o empregado terá direito à remuneração relativa ao período incompleto de férias, na proporção de 1/12 por mês de serviço ou fração superior a 14 dias 
EFEITOS DA CESSAÇÃO DO CONTRATO
Convenção 132 da OIT
Art. 11 — Toda pessoa empregada que tenha completado o período mínimo de serviços que pode ser exigido de acordo com parágrafo 1º do Artigo 5 da presente Convenção deverá ter direito, em caso de cessação da relação empregatícia, ou a um período de férias remuneradas proporcional à duração do período de serviço pelo qual ela não gozou ainda tais férias, ou a uma indenização compensatória, ou a um crédito de férias equivalente
EFEITOS DA CESSAÇÃO DO CONTRATO
Art. 5º da Convenção 132 da OIT
1 - Um período mínimo de serviço poderá ser exigido para a obtenção de direito a um período de férias remuneradas anuais.
2 - Cabe à autoridade competente e ao órgão apropriado do país interessado fixar a duração mínima de tal período de serviço, que não deverá em caso algum ultrapassar seis meses
EFEITOS DA CESSAÇÃO DO CONTRATO
Art. 147 CLT - O empregado que for despedido sem justa causa, ou cujo contrato de trabalho se extinguir em prazo predeterminado, antes de completar 12 meses de serviço, terá direito à remuneração relativa ao período incompleto de férias
Art. 148 CLT - A remuneração das férias, ainda quando devida após a cessação do contrato de trabalho, terá natureza salarial
EFEITOS DA CESSAÇÃO DO CONTRATO
SÚMULA Nº 171 DO TST
FÉRIAS PROPORCIONAIS. CONTRATO DE TRABALHO. EXTINÇÃO
Salvo na hipótese de dispensa do empregado por justa causa, a extinção do contrato de trabalho sujeita o empregador ao pagamento da remuneração das férias proporcionais, ainda que incompleto o período aquisitivo de 12 meses (art. 147 da CLT)
EFEITOS DA CESSAÇÃO DO CONTRATO
SÚMULA Nº 261 DO TST
FÉRIAS PROPORCIONAIS. PEDIDO DE DEMISSÃO. CONTRATO VIGENTE HÁ MENOS DE UM ANO
O empregado que se demite antes de complementar 12 meses de serviço tem direito a férias proporcionais
PRESCRIÇÃO
Art. 149 CLT - A prescrição do direito de reclamar a concessão das férias ou o pagamento da respectiva remuneração é contada:
 
A) do término do prazo concessivo (mencionado no art. 134)
B) se for o caso, da data da cessação do contrato de trabalho 
NEGOCIAÇÃO COLETIVA 
Art. 611-B, CLT (incluído pela Lei nº 13.467/17)
Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos: 
XI - número de dias de férias devidas ao empregado 
XII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal
  
 
FÉRIAS COLETIVAS 
Art. 139 CLT - Poderão ser concedidas férias coletivas a todos os empregados de uma empresa ou de determinados estabelecimentos ou setores da empresa
As férias poderão ser gozadas em 2 períodos anuais desde que nenhum deles seja inferior a 10 dias corridos
O empregador comunicará ao órgão local do Ministério do Trabalho, com a antecedência mínima de 15 dias, as datas de início e fim das férias, precisando quais os estabelecimentos ou setores abrangidos pela medida
FÉRIAS COLETIVAS 
Em igual prazo de 15 dias o empregador enviará cópia comunicação aos sindicatos representativos da respectiva categoria profissional, e providenciará a afixação de aviso nos locais de trabalho
Possibilidade de negociação coletiva com o sindicato para instituição de férias coletivas, embora não se faça referência no art. 611-A da CLT
Art. 140 CLT - Os empregados contratados há menos de 12 meses gozarão, na oportunidade, férias proporcionais, iniciando-se, então, novo período aquisitivo. 
FÉRIAS COLETIVAS 
Art. 141 CLT - Quando o número de empregados contemplados com as férias coletivas for superior a 300 a empresa poderá promover, mediante carimbo, anotações de que trata o art. 135, § 1º
§ 1º - O carimbo, cujo modelo será aprovado pelo Ministério do Trabalho, dispensará a referência ao período aquisitivo a que correspondem, para cada empregado, as férias concedidas 
§ 2º - Adotado o procedimento indicado neste artigo, caberá à empresa fornecer ao empregado cópia visada do recibo correspondente à quitação mencionada no parágrafo único do art. 145
§ 3º - Quando da cessação do contrato de trabalho, o empregador anotará na Carteira de Trabalho e Previdência Social as datas dos períodos aquisitivos correspondentes às férias coletivas gozadas pelo empregado. 
FIM
Muito obrigado!
otavio@siqueiracastro.com.br
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