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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE PSICOLOGIA ADRIANA DA CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA DOS SANTOS JONI GUILHERME SOUZA DE LIMA MARCELLA CRISTINA ALVES MARCOS ANTÔNIO DA SILVA TAYARA VIANA MAIA DE MELLO TAYNA VIANA MAIA DE MELLO O LUTO QUE PROVÉM DO SUICÍDIO: A posvenção através da Abordagem Centrada na Pessoa RIO DE JANEIRO 2022 ADRIANA DA CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA DOS SANTOS JONI GUILHERME SOUZA DE LIMA MARCELLA CRISTINA ALVES MARCOS ANTÔNIO DA SILVA TAYARA VIANA MAIA DE MELLO TAYNA VIANA MAIA DE MELLO O LUTO QUE PROVÉM DO SUICÍDIO: A posvenção através da Abordagem Centrada na Pessoa Trabalho acadêmico apresentado à disciplina “Produção Avançada de Trabalho Acadêmicos I”, como um dos requisitos parciais para a obtenção do grau de Bacharelado em Psicologia, com a orientação da prof.ª. Liana Furtado Ximenes. RIO DE JANEIRO 2022 SUMÁRIO 1 Introdução 3 1.1 Problema 4 1.2 Justificativa 4 1.3 Objetivo Geral 4 1.4 Objetivos específicos 4 2 Fundamentação Teórica 5 2.1 Breve histórico sobre o suicídio, contextualizando os aspectos culturais, sociopolíticos e religiosos. 5 2.2 Como o impacto de um suicídio atinge os sobreviventes. 6 2.2 A Abordagem Centrada na Pessoa e a posvenção. 9 3 Metodologia 12 4 Cronograma 12 5 Referências 13 3 1. INTRODUÇÃO O luto pelo suicídio não é o mesmo que outras formas de luto. O tabu e a questão antinatural que o ato suicida carrega o acomete de um peso muito maior comparado a outras formas de morte segundo Fukumitsu e Kovács (2016). Trabalhando com expressões como “sobreviventes de um suicídio consumado” e “posvenção”, termos ainda pouco conhecidos e que precisam ser mais bem divulgados entre os profissionais da saúde. Por que chamar de sobreviventes aqueles que foram impactados pelo suicídio consumado? Se não foram eles os que estavam em risco de morte? Segundo Fukumitsu (2019), por uma questão técnica o termo define todas as pessoas que foram impactadas pelo suicídio de alguém próximo, uma vez que o objetivo primordial no acolhimento desta demanda é sobreviver a esta perda. Ou seja, a sobrevivência neste caso, trata-se da busca pela ressignificação da própria vida. Para o termo “posvenção”, traduzido pela expressão utilizada primeiramente por Edwin Shneidman como postvention, onde buscam-se ações para abrandar o abalo da perda por suicídio, sendo qualquer atividade possível de ser realizada após uma morte por suicídio na prevenção do sofrimento das próximas gerações. “Para acolher os enlutados por suicídio, Cândido (2011) recomenda que o psicólogo precisa dar continência à angústia do seu cliente, além de compreender o caráter universal da perda, que afeta profundamente todos os seres humanos” (REZENDE; MORAES; MAIA, 2021, p. 20). O presente projeto visa abordar o acolhimento para aqueles que foram impactados por um suicídio completo. Os que vivenciam a perda de alguém significativo, sendo afetados diretamente ou tendo sua vida alterada após a morte, ao qual chamaremos de sobreviventes. Dentro de um círculo social, as pessoas afetadas pelo suicídio: pais, irmãos, cônjuges, filhos, familiares, amigos, colegas etc. O foco em trabalhos bibliográficos sobre posvenção, através da Abordagem Centrada na Pessoa, em uma perspectiva Existencial Humanista, evidenciando os estudos voltados ao acolhimento e estruturação conceitual do suicídio pelo olhar dos que ficam. Uma condução psicológica do processo de posvenção, de forma a buscar em estudos conceituais e experimentais a fundamentação humanizada do comportamento direcionada à aplicação do luto. 4 1.1 PROBLEMA Como a Abordagem Centrada na Pessoa pode contribuir na posvenção e no acolhimento ao enlutado sobrevivente de um suicídio? 1.2 JUSTIFICATIVA “O suicídio é um evento que demanda a busca e necessidade prementes de reconstruir novos sentidos para que a pessoa continue sua vida, apesar da morte trágica” (FUKUMITSU; KOVÁCS, 2016, p. 7). Os sobreviventes necessitam de amparo e auxílio na ressignificação dos sentimentos que surgem. A vulnerabilidade associada ao sentimento do luto pode garantir um desequilíbrio neste sistema familiar. E a lembrança trágica pode conferir patologias que inviabilizem a continuidade de suas vidas. A dor solitária e a busca de força constante para seguir podem ser amenizadas por estratégias e acolhimento junto ao enlutado, visando expandir os estudos de formas de atendimento à estas experiências de sofrimento à luz do Humanismo. Traçar linhas de posvenção e definir o olhar apurado para temas silenciados, uma vez que podem se tornar mais graves quando não divulgação, permitindo que nossos estudos possam produzir ensinamentos que contribuam na diminuição do sofrimento dos sobreviventes. 1.3 OBJETIVO GERAL Analisar as ações de posvenção de sobreviventes de um suicídio consumado dentro da perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa. 1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Contextualizar o suicídio nos aspectos culturais, sociopolíticos e religiosos; - Compreender o impacto causado por um suicídio para aqueles que são próximos; - Colaborar na posvenção deste luto, focando na terapia Existencial Humanista e na Abordagem Centrada na Pessoa. 5 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para o desenvolvimento da pesquisa iniciamos com os norteadores teóricos Fukumitsu (2016/2019) e Kovács (1992/2016), Durkheim (2019), Minois (2018), Bertolote (2012), Rocha et al. (2012/2019), além de textos publicados pela Organização mundial de Saúde e do Conselho Federal de Psicologia. Contudo, outros autores foram sendo inseridos no decorrer das leituras, sendo apresentados conforme a divisão dos capítulos descritos abaixo: 2.1 Breve histórico sobre o suicídio, contextualizando os aspectos culturais, sociopolíticos e religiosos. Desde os primórdios da humanidade, o suicídio esteve presente como fenômeno complexo existente em diversas culturas, dentro de diferentes contextos sociais, políticos, jurídicos, teológicos e filosóficos. De acordo com o dicionário, etimologicamente a palavra “suicídio” deriva do latim suicaedes: sui (a si) + caedes (que mata). Em seu livro “O suicídio e sua prevenção” Bertolote (2012) informa que a palavra suicídio foi criada no século XVII pelo médico e escritor inglês Thomas Browne, na obra “Religio Medici”, publicada em 1642: primeiramente escrita em grego autofonos e depois traduzida para o inglês como suicide. “Essa obra, além de haver ‘batizado’ o fenômeno com uma palavra que se firmou em praticamente todas as línguas ocidentais, abriu portas para a consideração sistemática [...] mais particularmente para psiquiatria.” (BERTOLOTE, 2012, p. 29). No mundo antigo, o suicídio é permeado por um histórico que vai desde o misticismo, passando por rituais religiosos, atos heroicos, vingança e condenação. “[...] Em atenas no século IV cortava-se as mãos do cadáver, que era enterrada distante do corpo para privar o morto de uma vingança posterior. Entre os wajagga, na Africa oriental, o cadáver do enforcado era substituído por uma cabra sacrificada, com intuito de tranquilizar seu espírito [...] Entre os índios tlingit, do Alasca uma pessoa ofendida, incapaz de vingar-se, poderia matar-se. Isso alertava seus parentes e amigos de que deveriam encarregar-se da vingança. Entre os chuvaches da Rússia, era costume as pessoas se enforcarem na porta do inimigo.” (CASSORLA, 2021, p. 41-42). Na idade média, sobretudo na cultura cristã ocidental, quando um suicídio acontecia não havia misericórdia pela sociedade, pela igreja e o governo. O historiador George Minois (2018), em seu livro descreve que os corpos dos suicidas eram considerados como amaldiçoados, e, portanto,impedidos de ter um sepultamento digno pois não poderiam ser 6 enterrados em terras consideradas “limpas”. Muitas das vezes, os corpos eram levados para fora da cidade. Na época medieval. Minois (2018) também aponta para uma evidente diferenciação entre classes sociais no tratamento e meios utilizados para o suicídio. Durante as guerras, a alta sociedade composta por soldados que buscava a morte involuntária (ou suicídio indireto), durante as batalhas e em locais que o risco de morrer era real, eram tidos como heróis e, portanto, podiam ser enterrados de forma honrosa, por sua vez os camponeses, que tinham apenas as cordas a sua disposição para tal ato, eram considerados covardes amaldiçoados e condenados ao inferno pela eternidade, tendo seus bens confiscados pelo governo. Ainda hoje existem resquício de condenação social severa em óbitos por suicídio por parte das religiões. No judaísmo, por exemplo, os suicidas são enterrados a parte dos que morrem por qualquer outra forma. E ainda em algumas instituições, o suicídio não é apenas tabu, mas completamente negado. Como por exemplo, as instituições militares, que afirmam não existir morte por suicídio em sua população, provável que seja por uma questão de jurídica uma vez que a família se mantém amparada pelos direitos. Na contramão do que foi apresentado, algumas culturas orientais, onde os ideais sobre a honra são rígidos, o suicídio é visto como um ato honroso. Na tradição milenar da cultura japonesa, eram realizadas cerimonias chamadas de “harakiri”, onde o indivíduo podia se matar com único golpe de espada. “O suicida fantasia que seguindo os cânones culturais, será acolhido pelo grupo ao mesmo tempo que escapa da desonra.” (CASSORLA, 2021, p. 20-21). Na metade do século XIX, a definição do suicídio ganha atenção e amparo científico. Grande parte se deve sobretudo aos estudos de Durkheim, com destaque para obra “O suicídio” publicada em 1897. Nela o autor apresenta através de diferentes tipologias as influências sociais que culminariam no suicídio. É através dos estudos de Durkheim que o suicídio ganha uma perspectiva social, desviando do enfoque meramente individual e pessoal, contribuindo dessa forma para concebermos o suicido não apenas como um ato de desespero, mas, também como um grave problema de saúde pública, que afeta não apenas quem comete o suicídio, mas sobretudo, quem fica: sobreviventes. 2.2 Como o impacto de um suicídio atinge os sobreviventes. Segundo Rezende, Moraes, Maia (2021), para falar sobre os sentimentos, a posvenção, o acolhimento de sobreviventes enlutados se faz necessário se despir de pré- 7 conceitos e tabus sobre a morte, refletir que o suicídio finaliza o sofrimento de quem morreu, mas inicia um processo de dor para os enlutados. Se faz necessário compreender as individualidades para minimizar os impactos decorrentes do suicídio de uma pessoa amada. Ainda segundo os autores, quando falamos de suicídio, sabemos que não tem causa única, que é um ato resultante de inúmeros fatores e de causa pessoal. Não podemos e nem queremos acusar ninguém pelo ato de se suicidar, mas é inegável que quando uma pessoa se suicida, existem algumas outras, que são pessoas muito próximas a que tirou a vida que sofrem por esta morte, pois o suicídio é um evento traumático diferente de outros tipos mortes. O suicídio é uma das mortes mais difíceis de elaborar, pela forte culpa que desperta. Ativa a sensação de abandono e impotência em quem fica. O enlutado, além de lidar com a sua própria culpa, é frequentemente alvo de suspeita da sociedade como sendo o responsável pela morte do outro (KOVÁCS, 1992, p. 156). Muitos dos sobreviventes, se sentem responsáveis pelo ocorrido e são, mesmo que indiretamente olhados como quem pudesse fazer algo para impedir e não fez. Kovács (2002 apud LUZ et al., 2019) descreve algumas manifestações dos enlutados por suicídio como: culpa, vergonha, isolamento, rejeição e comportamentos autodestrutivos, estigmatização entre outros. A culpa pode estar presente em qualquer processo de luto, entretanto, no caso de enlutamento por suicídio, esse sentimento é mais comum e constante. A mágoa por terem sido colocados num contexto de uma transgressão social, ainda que involuntariamente, permeia o caos dentro desse convívio social. Sendo o suicídio um tabu e afrontando a sobrevivência instintiva inerente ao ser humano, essa morte carrega um estigma de julgamento, pela incapacidade de perceber os sinais e por não atuar impedindo o desfecho. Segundo Fukumitsu e Kovács (2016, p. 9), “no suicídio, a pessoa que morre e a família não têm assegurada a privacidade” e o silêncio e isolamento dos sobreviventes na tentativa de evitar constrangimentos. O fato é que os julgamentos acabam sendo parte dolorosa desse processo, uma vez que o ato de suicídio acaba pertencendo também aos expectadores. No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria (APA) (2014) luto normal e luto complicado são definidos de forma diferentes, onde a distinção entre luto normal e complicado estaria no critério “tempo cronológico”. Depois de doze meses, seis meses no caso de crianças, em que se apresenta um conjunto de sintomas persistentes do luto, a pessoa enlutada passa a ser diagnosticada com o Transtorno do Luto Complexo Persistente. Depois deste prazo as reações 8 relacionadas ao luto são consideradas sintomas que podem estar “interferindo na capacidade do indivíduo de funcionar”. Sobre a questão do tempo cronológico e condições para elaborar o luto, Fukumitsu e Kovács (2016, p.7) abordam que: “A melhor maneira de acolher o sofrimento provocado pelo suicídio deve derivar do próprio enlutado que tem o direito de viver o processo de luto a seu modo e conforme o tempo que for necessário.” Quando falamos de sentimentos, podemos dizer que alguns enlutados por suicídio podem experienciar alguns desafios no enfrentamento dessa perda e vivenciarem o chamado luto complicado. Tendo emoções como desespero, vergonha, culpa, raiva, entre outras, bem como atitudes de acusações, estão muito presentes no luto por morte auto infligida, podendo ocasionar risco à saúde dos sobreviventes. Assim, é fato que os sobreviventes precisam de acolhimento, como o suicídio é fator inesperado precisa-se reequilibrar o sistema familiar, escolar ou institucional, reduzir comportamentos autodestrutivos e minimizar o risco de novos suicídios no grupo, pois muitos sobreviventes colocam que o isolamento, o silenciamento e o sentimento de solidão, são aspectos que se apresentam no processo de luto por suicídio, que se veem impossibilitados de manifestar sua dor, pois pelo suicídio ser um tipo de morte voluntária, carrega preconceitos e desaprovação social, sendo considerada obscura, estigmatizada e carregada de tabus, que foram construídos socialmente e internalizados pelas pessoas, fazendo com que a vivência desse luto se tornasse ilegítima, com isso, muitos sobreviventes mentem o real motivo da morte, segundo Rezende, Moraes, Maia (2021). Tais sentimentos e situações podem acarretar grande sofrimento para os sobreviventes. Assim, o trabalho de posvenção é fundamental no processo encontrar um lugar e/ou um profissional que possibilite um espaço de escuta qualificada, que possam se sentir acolhidos para compartilhar sua dor sem julgamentos e críticas, que possam chorar e falar das suas vivências após o trauma deixado pelo suicídio e receber o apoio que precisam para expressar os sentimentos e ressignificar o luto para continuar construindo a sua história. Shneidman (2008 apud FUKUMITSU, 2019) define o termo posvenção como “toda e qualquer atividade passível de ser realizada depois do incidente trágico” No contexto de trabalharmos os sentimentos e trazermos uma melhor qualidade de vida ao enlutado durante oprocesso, a posvenção vai além da atuação do psicólogo no atendimento individualizado, ressalta-se a contribuição do trabalho desenvolvido em contextos coletivos, com a formação de grupos de apoio, com papel fundamental de acolhimento aos sobreviventes. 9 Assim, Fukumitsu (2008, apud FUKUMITSU, 2019) propõe ações e comportamentos para apoiar os enlutados por suicídio a passarem de forma menos sofrida e mais realista pelo processo de luto: Usando linguagem respeitosa e sem julgamentos e acusações; Compreendendo os sentimentos e compartilhando com a pessoa o que foi vivido com o morto; Acolhendo em vez de dar explicação; Evitando fornecer teorias sobre o luto; Confirmando a vivência singular de quem morreu; Estar presente para o enlutado, respeitando as suas escolhas; Sugerindo aos familiares e amigos que não impeçam o enlutado de falar sobre o ente querido, pronunciando o nome de quem morreu; Auxiliando o enlutado a estabelecer as diferenças entre ela e o falecido, de forma a mudar os comportamentos transgeracionais e autodestrutivos, evitando assim a repetição de suicídio na família. 2.2 A Abordagem Centrada na Pessoa e a posvenção. A Psicologia Humanista surgiu nos Estados Unidos em contraponto à Psicanálise e ao Behaviorismo, tendo o homem como tema central de suas teorias e atenções, a visão humanista gera maior compreensão sobre o ser humano, compreendendo a pessoa como um todo, em constante evolução e com inúmeras possibilidades, cada ser humano vivência suas experiências de uma forma singular, atos e ações que levam à profunda realização em uma pessoa pode acarretar em grande angústia e tristeza em outra, na abordagem humanista entendemos que uma pessoa é mais que a soma de suas partes; e entendemos também que somos afetados por nossas relações com outras pessoas (ROGERS, 1991). Na visão do humanismo o suicídio pode ser compreendido como uma forma de lidar com a angústia, visando eliminá-la. Acreditando em uma descrença de que a vida possa ser vivida de outra maneira, de uma outra forma. Ao procurar compreender esse ser humano, entendemos que o autoextermínio é um modo desesperado de tomar o controle da vida, mesmo que esse modo venha com o fim da sua existência, a angústia da vivência é entendida e precisa ser conhecida para conseguir chegar ao entendimento que o fim daquela existência foi a forma mais singular que o paciente conseguiu lidar com sua vida (SAFATLE, 2015). Segundo Erthal (2013) muitas pessoas chegam a questionar sobre o sentido da vida ou o vazio existencial e na abordagem centrada na pessoa compreendemos que esse sentido muda de pessoa para pessoa e que cada período de sua existência vem trazendo consigo questões e respostas para suas perguntas, porém a falta de sentido da vida pode ser um elemento significativo na tomada de uma decisão brusca de se matar. 10 Para o autor, a abordagem procura tornar claro que para aquela pessoa a vida já não possui mais valor e significado, e que a tentativa de se livrar do desespero e da angústia que o preenche pode levar ao suicídio e que cada ser é singular e possui suas particularidades e defesas. Para a psicologia humanista o acolhimento dos sentimentos do paciente que tomou a atitude do suicídio, ter consideração positiva incondicional, compreensão empática e congruência para com toda sua história de vida, possibilitando assim o acolhimento da família e amigos enlutados (que são considerados sobreviventes),criar um ambiente favorável para expor sentimentos e emoções sobre a perda tão repentina e ter a escuta empática para entender o sentimento de poder ser feito algo sobre o acontecido ou até o sentimento de remorso, fragilidade e impotência que esse luto pode trazer, trazendo a consciência desse sobrevivente que o luto é um processo e que cada passo vem com novos sentimentos que precisam ser acolhidos (FRANCO, 2011; PARKES, 2009). O luto pós suicídio é um processo diferente para cada familiar pode gerar muitas emoções e diferentes aspectos para cada um, essas fases podem acontecer de maneira gradual ou até ao mesmo tempo e cada afetado lida de uma forma e sente com durações diferentes (PARKES, 1998). Fase do entorpecimento: reação inicial traz consigo o choque e a descrença, confusão e a negação da perda, desejo de prosseguir com a vida como se nada estivesse acontecendo, traz o isolamento. Fase de Anseio e Protesto: essa fase traz a raiva, descrença, tentativa de recuperar a pessoa perdida, vem trazendo fortes emoções, choro e sofrimento psicológico. Fase do Desespero ou desorganização: traz com ela a realidade da perda, com essa fase vem a dor mais intensa, o vazio, a falta de projeção futura com seu ente querido, nesta fase o familiar ou pessoa enlutada pode se entregar á depois depressão e distúrbios psicossomáticos. Fase de Recuperação e Restituição: É a fase de aceitação da ausência da pessoa querida e ressignificação da vida, reestruturação de uma nova vida. No luto por suicídio o sobrevivente além de lidar com todas as fases precisa lidar com outras emoções traz como: culpa, punição, medo e mágoa, sendo assim, mais difícil lidar com todo o processo, podendo entrar em um processo de trauma (pós perda traumática), estresse e depressão. Ainda segundo Franco (2011), a família que passa por processo de luto ocorrido após um suicídio precisa ser acompanhada por profissionais de psicologia de forma conjunta ou 11 individual, acolhendo assim de forma particular cada membro dessa família, cada sobrevivente teve uma história a ser contada, com a vítima e com isso sentimentos próprios de suas experiências, é preciso estar consciente da saúde mental desses sobrevivente para que não ocorra outro autoextermínio, levando esses sobreviventes voltarem a socializar entre si e também em convívio com outras pessoas, é preciso dar apoio social e psicológico a esses enlutados, acolher e entender o processo de cada um. Rogers e Wood (1978) argumentaram que quando as tendências operam livremente, elas orientam as pessoas para um processo chamado crescimento, maturidade e plenitude de vida, provando que as pessoas são organismos inteiros, verdadeiramente livres em suas ações. A sua própria existência caminha para a integração. De acordo com Rogers e Wood (1978), após anos de experiência com psicoterapia de indivíduos com transtornos mentais, uma das conclusões experimentais ao qual se chegou foi de que o ser humano possui tendência inata no desenvolvimento de todas as habilidades destinadas a manter ou melhorar seu organismo - a pessoa inteira, mente e corpo. Segundo Rigo (2013), o suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial em que a interação de fatores pessoais, sociais e culturais determinará a decisão de cometer suicídio. Em outras palavras, era uma forma terrível de morrer, uma dor intensa e irreparável. Uma das maiores dificuldades com o suicídio é o tabu em torno desse tipo de morte, pois impede que muitas famílias e governos abordem a questão de forma aberta e efetiva, aumentando o estigma, o preconceito e a falta de conscientização. (OMS, 2014). A tentativa de suicídio é um ato incentivado em algumas sociedades orientais para desfechos de questões ideológicas e religiosos. (CASSORLA, 1998, apud Santiago e Ribeiro, 2014) Conforme Dutra (2000), a repercussão da tentativa de suicídio abrange várias reações: pode ser ignorada, negada, encoberta por pessoas que dele tomaram conhecimento, tornando-o mais incompreensível. A autora afirma que tal decisão, embora pareça subjetiva e particular implica na influência de como a cultura pode influenciar a violenta decisão de tirar a própria vida. Supõe-se que a tentativa de suicídio revela o mesmo Rogers ponderou como desacordo vivido pela pessoa entre a estruturação do seu self com sua experiência global, ou seja, para manter a necessidade básica de apreço e consideração-afeto, amor – das pessoas critérios- significativas, a criança introjeta concepções e valores dos outros, tornando assim estas concepções parte do seu autoconceito, ainda que estes não procedam de suas experiências organísmicas, podendo assim manifestar certo falseamento ou distorção daquilo 12 que é experimentado. Em outras palavras Rogers diria que "a pessoa tenta ser o que as pessoas querem que ela seja, em lugar do eu que ela realmente é” (ROGERS; WOOD, 1978, p. 197). Dessa forma, a união entre a tendência atualizante e o self é o que determina o comportamento do indivíduo, sendo a tendência atualizante – fator dinâmico, considerada como a energia e o self – fator regulador, como a direção. (ROGERS; WOOD, 1977). 3. METODOLOGIA Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizada uma metodologia bibliográfica, cuja pesquisa se deu em base de dados científicas como Capes, Google Acadêmico e Scielo, selecionando materiais de conteúdo científico, tais como, livros, artigos e documentos normativos vigentes. Em nossa busca, utilizamos como filtro o tema suicídio, rebuscando subtemas como “posvenção”, “luto”, “abordagem centrada na pessoa”, “humanismo”, “suicídio consumado”. Como recorte de tempo, nossa pesquisa abrange os períodos entre 1977 e 2022, localizando os materiais a partir dos autores abaixo. Sendo este um estudo descritivo e qualitativo, onde, para alcançar os objetivos propostos através do levantamento de material bibliográfico, possibilitando uma visão panorâmica e final na conclusão da teoria apresentada. 4. CRONOGRAMA Desde a definição do projeto de pesquisa à apresentação do texto final do artigo, o estudo bibliográfico do tema será abrangente, conforme os fichamentos do referencial teórico já pré-definidos forem reportando a novos textos. Devido a esta formulação e aquisição de novas fontes, a análise inicial e formulação de uma estrutura serão concomitantes à leitura e análise de todo o conteúdo adquirido. Já o desenvolvimento dos textos e a revisão como parte final da criação, serão precedidos pela finalização do trabalho em editoração, reprodução, encadernação e apresentação sejam seguidos conforme o cronograma abaixo. 13 Meses Etapa F E V M A R A B R M A I JU N Definição do projeto X Pesquisa do Referencial Bibliográfico X X X Fichamento de textos X X Redação da Fundamentação Teórica X X Leitura X X Análise X X Desenvolvimento dos textos, resultados da análise X X Revisão X X Editoração eletrônica, reprodução, encadernação e apresentação do artigo. X X 4. REFERÊNCIAS Associação Americana de Psiquiatria. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Disponível em: http://www.institutopebioetica.com.br/documentos/manual-diagnostico-e-estatistico-de- transtornos-mentais-dsm-5.pdf. Acesso em: set/2022. BERTOLOTE, J. M. O suicídio e sua prevenção. São Paulo: Unesp, 2012. 137 p. CARSSOLA, R. M. S. Estudos sobre o suicídio: Psicanálise e saúde mental. São Paulo: Blucher, 2021. 192 p. CARVALHO-RIGO, S. C. A importância da capacitação. Trabalho apresentado no V Congresso Brasileiro de Toxicologia Clínica. Salvador: Abracit, 2013. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. O Suicídio e os Desafios para a Psicologia. Brasília: CFP, 2013. 152 p. Disponível em: https://site.cfp.org.br/publicacao/suicidio-e-os- desafios-para-a-psicologia/. Acesso em: set/2022. DURKHEIM, E. O suicídio: estudo de sociologia. 3 ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2019. 513 p. 14 DUTRA, E. M. S. Compreensão de tentativas de suicídio de jovens sob o enfoque da abordagem centrada na pessoa. 2001. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/001180864. Acesso em: set/2022. ERTHAL, T. C. S. Trilogia da existência: teoria e prática da psicoterapia vivencial. Curitiba: Appris, 2013. FRANCO, M. H. P. Luto: a morte do outro em si. In: FRANCO, M. H. P. et al. Vida e morte: laços da existência, 2ª ed., 99-119. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. FUKUMITSU, Karina Okajima. Sobreviventes enlutados por suicídio: cuidados e intervenções. São Paulo: Summus, 2019. FUKUMITSU, K. O.; KOVACS, M. J. Especificidades sobre processo de luto frente ao suicídio. Psico. v. 47, n. 1, p. 03-12. Porto Alegre, 2016. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-53712016000100002. Acesso em: set/2022. KOVÁCS, M. J. Capítulo 9 - Morte, separação, perdas e o processo de luto. p. 149-164. In: M. J. Kovács (Org.), Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992. LIMA, C.; et al. A abordagem centrada na pessoa e o luto após o suicídio. 2018. 23 p. Trabalho de conclusão de curso (graduação). UNIVAG. Disponível em: https://www.repositoriodigital.univag. com.br/index.php/Psico/article/view/410/411. Acesso em: set/2022. LUZ, L.; SANCHEZ, L. A. S.; BARRAL M.; SOUSA, R. 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