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PATAC I - O luto que provém do suicídio AV2

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
ADRIANA DA CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA DOS SANTOS 
JONI GUILHERME SOUZA DE LIMA 
MARCELLA CRISTINA ALVES 
MARCOS ANTÔNIO DA SILVA 
TAYARA VIANA MAIA DE MELLO 
TAYNA VIANA MAIA DE MELLO 
 
 
 
 
 
 
O LUTO QUE PROVÉM DO SUICÍDIO: 
A posvenção através da Abordagem Centrada na Pessoa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2022
 
ADRIANA DA CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA DOS SANTOS 
JONI GUILHERME SOUZA DE LIMA 
MARCELLA CRISTINA ALVES 
MARCOS ANTÔNIO DA SILVA 
TAYARA VIANA MAIA DE MELLO 
TAYNA VIANA MAIA DE MELLO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O LUTO QUE PROVÉM DO SUICÍDIO: 
A posvenção através da Abordagem Centrada na Pessoa 
 
 
 
 
 
 
Trabalho acadêmico apresentado à disciplina 
“Produção Avançada de Trabalho Acadêmicos 
I”, como um dos requisitos parciais para a 
obtenção do grau de Bacharelado em Psicologia, 
com a orientação da prof.ª. Liana Furtado 
Ximenes. 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2022 
 
SUMÁRIO 
 
1 Introdução 3 
1.1 Problema 4 
1.2 Justificativa 4 
1.3 Objetivo Geral 4 
1.4 Objetivos específicos 4 
2 Fundamentação Teórica 5 
2.1 Breve histórico sobre o suicídio, contextualizando os aspectos culturais, 
sociopolíticos e religiosos. 
 
5 
2.2 Como o impacto de um suicídio atinge os sobreviventes. 6 
2.2 A Abordagem Centrada na Pessoa e a posvenção. 9 
3 Metodologia 12 
4 Cronograma 12 
5 Referências 13 
 
 
 
 
 
3 
 
1. INTRODUÇÃO 
O luto pelo suicídio não é o mesmo que outras formas de luto. O tabu e a questão 
antinatural que o ato suicida carrega o acomete de um peso muito maior comparado a outras 
formas de morte segundo Fukumitsu e Kovács (2016). 
Trabalhando com expressões como “sobreviventes de um suicídio consumado” e 
“posvenção”, termos ainda pouco conhecidos e que precisam ser mais bem divulgados entre 
os profissionais da saúde. 
Por que chamar de sobreviventes aqueles que foram impactados pelo suicídio 
consumado? Se não foram eles os que estavam em risco de morte? 
Segundo Fukumitsu (2019), por uma questão técnica o termo define todas as pessoas 
que foram impactadas pelo suicídio de alguém próximo, uma vez que o objetivo primordial no 
acolhimento desta demanda é sobreviver a esta perda. Ou seja, a sobrevivência neste caso, 
trata-se da busca pela ressignificação da própria vida. 
Para o termo “posvenção”, traduzido pela expressão utilizada primeiramente por 
Edwin Shneidman como postvention, onde buscam-se ações para abrandar o abalo da perda 
por suicídio, sendo qualquer atividade possível de ser realizada após uma morte por suicídio 
na prevenção do sofrimento das próximas gerações. 
“Para acolher os enlutados por suicídio, Cândido (2011) recomenda que o psicólogo 
precisa dar continência à angústia do seu cliente, além de compreender o caráter universal da 
perda, que afeta profundamente todos os seres humanos” (REZENDE; MORAES; MAIA, 
2021, p. 20). 
O presente projeto visa abordar o acolhimento para aqueles que foram impactados 
por um suicídio completo. Os que vivenciam a perda de alguém significativo, sendo afetados 
diretamente ou tendo sua vida alterada após a morte, ao qual chamaremos de sobreviventes. 
Dentro de um círculo social, as pessoas afetadas pelo suicídio: pais, irmãos, cônjuges, filhos, 
familiares, amigos, colegas etc. 
O foco em trabalhos bibliográficos sobre posvenção, através da Abordagem Centrada 
na Pessoa, em uma perspectiva Existencial Humanista, evidenciando os estudos voltados ao 
acolhimento e estruturação conceitual do suicídio pelo olhar dos que ficam. 
Uma condução psicológica do processo de posvenção, de forma a buscar em estudos 
conceituais e experimentais a fundamentação humanizada do comportamento direcionada à 
aplicação do luto. 
 
 
4 
 
1.1 PROBLEMA 
Como a Abordagem Centrada na Pessoa pode contribuir na posvenção e no 
acolhimento ao enlutado sobrevivente de um suicídio? 
 
 
1.2 JUSTIFICATIVA 
“O suicídio é um evento que demanda a busca e necessidade prementes de 
reconstruir novos sentidos para que a pessoa continue sua vida, apesar da morte trágica” 
(FUKUMITSU; KOVÁCS, 2016, p. 7). 
Os sobreviventes necessitam de amparo e auxílio na ressignificação dos sentimentos 
que surgem. A vulnerabilidade associada ao sentimento do luto pode garantir um 
desequilíbrio neste sistema familiar. E a lembrança trágica pode conferir patologias que 
inviabilizem a continuidade de suas vidas. 
A dor solitária e a busca de força constante para seguir podem ser amenizadas por 
estratégias e acolhimento junto ao enlutado, visando expandir os estudos de formas de 
atendimento à estas experiências de sofrimento à luz do Humanismo. 
Traçar linhas de posvenção e definir o olhar apurado para temas silenciados, uma vez 
que podem se tornar mais graves quando não divulgação, permitindo que nossos estudos 
possam produzir ensinamentos que contribuam na diminuição do sofrimento dos 
sobreviventes. 
 
 
1.3 OBJETIVO GERAL 
Analisar as ações de posvenção de sobreviventes de um suicídio consumado dentro 
da perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa. 
 
 
1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
- Contextualizar o suicídio nos aspectos culturais, sociopolíticos e religiosos; 
- Compreender o impacto causado por um suicídio para aqueles que são próximos; 
- Colaborar na posvenção deste luto, focando na terapia Existencial Humanista e na 
Abordagem Centrada na Pessoa. 
 
 
5 
 
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
Para o desenvolvimento da pesquisa iniciamos com os norteadores teóricos 
Fukumitsu (2016/2019) e Kovács (1992/2016), Durkheim (2019), Minois (2018), Bertolote 
(2012), Rocha et al. (2012/2019), além de textos publicados pela Organização mundial de 
Saúde e do Conselho Federal de Psicologia. 
Contudo, outros autores foram sendo inseridos no decorrer das leituras, sendo 
apresentados conforme a divisão dos capítulos descritos abaixo: 
 
 
2.1 Breve histórico sobre o suicídio, contextualizando os aspectos culturais, sociopolíticos 
e religiosos. 
Desde os primórdios da humanidade, o suicídio esteve presente como fenômeno 
complexo existente em diversas culturas, dentro de diferentes contextos sociais, políticos, 
jurídicos, teológicos e filosóficos. 
De acordo com o dicionário, etimologicamente a palavra “suicídio” deriva do latim 
suicaedes: sui (a si) + caedes (que mata). Em seu livro “O suicídio e sua prevenção” Bertolote 
(2012) informa que a palavra suicídio foi criada no século XVII pelo médico e escritor inglês 
Thomas Browne, na obra “Religio Medici”, publicada em 1642: primeiramente escrita em 
grego autofonos e depois traduzida para o inglês como suicide. 
 “Essa obra, além de haver ‘batizado’ o fenômeno com uma palavra que se firmou 
em praticamente todas as línguas ocidentais, abriu portas para a consideração sistemática [...] 
mais particularmente para psiquiatria.” (BERTOLOTE, 2012, p. 29). 
No mundo antigo, o suicídio é permeado por um histórico que vai desde o 
misticismo, passando por rituais religiosos, atos heroicos, vingança e condenação. 
“[...] Em atenas no século IV cortava-se as mãos do cadáver, que era enterrada 
distante do corpo para privar o morto de uma vingança posterior. Entre os wajagga, 
na Africa oriental, o cadáver do enforcado era substituído por uma cabra sacrificada, 
com intuito de tranquilizar seu espírito [...] Entre os índios tlingit, do Alasca uma 
pessoa ofendida, incapaz de vingar-se, poderia matar-se. Isso alertava seus parentes 
e amigos de que deveriam encarregar-se da vingança. Entre os chuvaches da Rússia, 
era costume as pessoas se enforcarem na porta do inimigo.” (CASSORLA, 2021, 
p. 41-42). 
 
Na idade média, sobretudo na cultura cristã ocidental, quando um suicídio acontecia 
não havia misericórdia pela sociedade, pela igreja e o governo. O historiador George Minois 
(2018), em seu livro descreve que os corpos dos suicidas eram considerados como 
amaldiçoados, e, portanto,impedidos de ter um sepultamento digno pois não poderiam ser 
6 
 
enterrados em terras consideradas “limpas”. Muitas das vezes, os corpos eram levados para 
fora da cidade. 
 Na época medieval. Minois (2018) também aponta para uma evidente diferenciação 
entre classes sociais no tratamento e meios utilizados para o suicídio. Durante as guerras, a 
alta sociedade composta por soldados que buscava a morte involuntária (ou suicídio indireto), 
durante as batalhas e em locais que o risco de morrer era real, eram tidos como heróis e, 
portanto, podiam ser enterrados de forma honrosa, por sua vez os camponeses, que tinham 
apenas as cordas a sua disposição para tal ato, eram considerados covardes amaldiçoados e 
condenados ao inferno pela eternidade, tendo seus bens confiscados pelo governo. 
Ainda hoje existem resquício de condenação social severa em óbitos por suicídio por 
parte das religiões. No judaísmo, por exemplo, os suicidas são enterrados a parte dos que 
morrem por qualquer outra forma. E ainda em algumas instituições, o suicídio não é apenas 
tabu, mas completamente negado. Como por exemplo, as instituições militares, que afirmam 
não existir morte por suicídio em sua população, provável que seja por uma questão de 
jurídica uma vez que a família se mantém amparada pelos direitos. 
Na contramão do que foi apresentado, algumas culturas orientais, onde os ideais 
sobre a honra são rígidos, o suicídio é visto como um ato honroso. Na tradição milenar da 
cultura japonesa, eram realizadas cerimonias chamadas de “harakiri”, onde o indivíduo podia 
se matar com único golpe de espada. “O suicida fantasia que seguindo os cânones culturais, 
será acolhido pelo grupo ao mesmo tempo que escapa da desonra.” (CASSORLA, 2021, p. 
20-21). 
Na metade do século XIX, a definição do suicídio ganha atenção e amparo científico. 
Grande parte se deve sobretudo aos estudos de Durkheim, com destaque para obra “O 
suicídio” publicada em 1897. Nela o autor apresenta através de diferentes tipologias as 
influências sociais que culminariam no suicídio. É através dos estudos de Durkheim que o 
suicídio ganha uma perspectiva social, desviando do enfoque meramente individual e pessoal, 
contribuindo dessa forma para concebermos o suicido não apenas como um ato de desespero, 
mas, também como um grave problema de saúde pública, que afeta não apenas quem comete 
o suicídio, mas sobretudo, quem fica: sobreviventes. 
 
 
2.2 Como o impacto de um suicídio atinge os sobreviventes. 
Segundo Rezende, Moraes, Maia (2021), para falar sobre os sentimentos, a 
posvenção, o acolhimento de sobreviventes enlutados se faz necessário se despir de pré-
7 
 
conceitos e tabus sobre a morte, refletir que o suicídio finaliza o sofrimento de quem morreu, 
mas inicia um processo de dor para os enlutados. Se faz necessário compreender as 
individualidades para minimizar os impactos decorrentes do suicídio de uma pessoa amada. 
Ainda segundo os autores, quando falamos de suicídio, sabemos que não tem causa 
única, que é um ato resultante de inúmeros fatores e de causa pessoal. Não podemos e nem 
queremos acusar ninguém pelo ato de se suicidar, mas é inegável que quando uma pessoa se 
suicida, existem algumas outras, que são pessoas muito próximas a que tirou a vida que 
sofrem por esta morte, pois o suicídio é um evento traumático diferente de outros tipos 
mortes. 
O suicídio é uma das mortes mais difíceis de elaborar, pela forte culpa que desperta. 
Ativa a sensação de abandono e impotência em quem fica. O enlutado, além de lidar 
com a sua própria culpa, é frequentemente alvo de suspeita da sociedade como 
sendo o responsável pela morte do outro (KOVÁCS, 1992, p. 156). 
 
Muitos dos sobreviventes, se sentem responsáveis pelo ocorrido e são, mesmo que 
indiretamente olhados como quem pudesse fazer algo para impedir e não fez. Kovács (2002 
apud LUZ et al., 2019) descreve algumas manifestações dos enlutados por suicídio como: 
culpa, vergonha, isolamento, rejeição e comportamentos autodestrutivos, estigmatização entre 
outros. A culpa pode estar presente em qualquer processo de luto, entretanto, no caso de 
enlutamento por suicídio, esse sentimento é mais comum e constante. 
A mágoa por terem sido colocados num contexto de uma transgressão social, ainda 
que involuntariamente, permeia o caos dentro desse convívio social. Sendo o suicídio um tabu 
e afrontando a sobrevivência instintiva inerente ao ser humano, essa morte carrega um 
estigma de julgamento, pela incapacidade de perceber os sinais e por não atuar impedindo o 
desfecho. 
Segundo Fukumitsu e Kovács (2016, p. 9), “no suicídio, a pessoa que morre e a 
família não têm assegurada a privacidade” e o silêncio e isolamento dos sobreviventes na 
tentativa de evitar constrangimentos. O fato é que os julgamentos acabam sendo parte 
dolorosa desse processo, uma vez que o ato de suicídio acaba pertencendo também aos 
expectadores. 
No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) da 
Associação Americana de Psiquiatria (APA) (2014) luto normal e luto complicado são 
definidos de forma diferentes, onde a distinção entre luto normal e complicado estaria no 
critério “tempo cronológico”. Depois de doze meses, seis meses no caso de crianças, em que 
se apresenta um conjunto de sintomas persistentes do luto, a pessoa enlutada passa a ser 
diagnosticada com o Transtorno do Luto Complexo Persistente. Depois deste prazo as reações 
8 
 
relacionadas ao luto são consideradas sintomas que podem estar “interferindo na capacidade 
do indivíduo de funcionar”. 
Sobre a questão do tempo cronológico e condições para elaborar o luto, Fukumitsu e 
Kovács (2016, p.7) abordam que: “A melhor maneira de acolher o sofrimento provocado pelo 
suicídio deve derivar do próprio enlutado que tem o direito de viver o processo de luto a seu 
modo e conforme o tempo que for necessário.” 
Quando falamos de sentimentos, podemos dizer que alguns enlutados por suicídio 
podem experienciar alguns desafios no enfrentamento dessa perda e vivenciarem o chamado 
luto complicado. Tendo emoções como desespero, vergonha, culpa, raiva, entre outras, bem 
como atitudes de acusações, estão muito presentes no luto por morte auto infligida, podendo 
ocasionar risco à saúde dos sobreviventes. Assim, é fato que os sobreviventes precisam de 
acolhimento, como o suicídio é fator inesperado precisa-se reequilibrar o sistema familiar, 
escolar ou institucional, reduzir comportamentos autodestrutivos e minimizar o risco de novos 
suicídios no grupo, pois muitos sobreviventes colocam que o isolamento, o silenciamento e o 
sentimento de solidão, são aspectos que se apresentam no processo de luto por suicídio, que 
se veem impossibilitados de manifestar sua dor, pois pelo suicídio ser um tipo de morte 
voluntária, carrega preconceitos e desaprovação social, sendo considerada obscura, 
estigmatizada e carregada de tabus, que foram construídos socialmente e internalizados pelas 
pessoas, fazendo com que a vivência desse luto se tornasse ilegítima, com isso, muitos 
sobreviventes mentem o real motivo da morte, segundo Rezende, Moraes, Maia (2021). 
Tais sentimentos e situações podem acarretar grande sofrimento para os 
sobreviventes. Assim, o trabalho de posvenção é fundamental no processo encontrar um lugar 
e/ou um profissional que possibilite um espaço de escuta qualificada, que possam se sentir 
acolhidos para compartilhar sua dor sem julgamentos e críticas, que possam chorar e falar das 
suas vivências após o trauma deixado pelo suicídio e receber o apoio que precisam para 
expressar os sentimentos e ressignificar o luto para continuar construindo a sua história. 
Shneidman (2008 apud FUKUMITSU, 2019) define o termo posvenção como “toda e 
qualquer atividade passível de ser realizada depois do incidente trágico” 
No contexto de trabalharmos os sentimentos e trazermos uma melhor qualidade de 
vida ao enlutado durante oprocesso, a posvenção vai além da atuação do psicólogo no 
atendimento individualizado, ressalta-se a contribuição do trabalho desenvolvido em 
contextos coletivos, com a formação de grupos de apoio, com papel fundamental de 
acolhimento aos sobreviventes. 
9 
 
Assim, Fukumitsu (2008, apud FUKUMITSU, 2019) propõe ações e 
comportamentos para apoiar os enlutados por suicídio a passarem de forma menos sofrida e 
mais realista pelo processo de luto: Usando linguagem respeitosa e sem julgamentos e 
acusações; Compreendendo os sentimentos e compartilhando com a pessoa o que foi vivido 
com o morto; Acolhendo em vez de dar explicação; Evitando fornecer teorias sobre o luto; 
Confirmando a vivência singular de quem morreu; Estar presente para o enlutado, respeitando 
as suas escolhas; Sugerindo aos familiares e amigos que não impeçam o enlutado de falar 
sobre o ente querido, pronunciando o nome de quem morreu; Auxiliando o enlutado a 
estabelecer as diferenças entre ela e o falecido, de forma a mudar os comportamentos 
transgeracionais e autodestrutivos, evitando assim a repetição de suicídio na família. 
 
 
2.2 A Abordagem Centrada na Pessoa e a posvenção. 
A Psicologia Humanista surgiu nos Estados Unidos em contraponto à Psicanálise e 
ao Behaviorismo, tendo o homem como tema central de suas teorias e atenções, a visão 
humanista gera maior compreensão sobre o ser humano, compreendendo a pessoa como um 
todo, em constante evolução e com inúmeras possibilidades, cada ser humano vivência suas 
experiências de uma forma singular, atos e ações que levam à profunda realização em uma 
pessoa pode acarretar em grande angústia e tristeza em outra, na abordagem humanista 
entendemos que uma pessoa é mais que a soma de suas partes; e entendemos também que 
somos afetados por nossas relações com outras pessoas (ROGERS, 1991). 
Na visão do humanismo o suicídio pode ser compreendido como uma forma de lidar 
com a angústia, visando eliminá-la. Acreditando em uma descrença de que a vida possa ser 
vivida de outra maneira, de uma outra forma. Ao procurar compreender esse ser humano, 
entendemos que o autoextermínio é um modo desesperado de tomar o controle da vida, 
mesmo que esse modo venha com o fim da sua existência, a angústia da vivência é entendida 
e precisa ser conhecida para conseguir chegar ao entendimento que o fim daquela existência 
foi a forma mais singular que o paciente conseguiu lidar com sua vida (SAFATLE, 2015). 
Segundo Erthal (2013) muitas pessoas chegam a questionar sobre o sentido da vida 
ou o vazio existencial e na abordagem centrada na pessoa compreendemos que esse sentido 
muda de pessoa para pessoa e que cada período de sua existência vem trazendo consigo 
questões e respostas para suas perguntas, porém a falta de sentido da vida pode ser um 
elemento significativo na tomada de uma decisão brusca de se matar. 
10 
 
Para o autor, a abordagem procura tornar claro que para aquela pessoa a vida já não 
possui mais valor e significado, e que a tentativa de se livrar do desespero e da angústia que o 
preenche pode levar ao suicídio e que cada ser é singular e possui suas particularidades e 
defesas. 
 Para a psicologia humanista o acolhimento dos sentimentos do paciente que tomou a 
atitude do suicídio, ter consideração positiva incondicional, compreensão empática e 
congruência para com toda sua história de vida, possibilitando assim o acolhimento da família 
e amigos enlutados (que são considerados sobreviventes),criar um ambiente favorável para 
expor sentimentos e emoções sobre a perda tão repentina e ter a escuta empática para entender 
o sentimento de poder ser feito algo sobre o acontecido ou até o sentimento de remorso, 
fragilidade e impotência que esse luto pode trazer, trazendo a consciência desse sobrevivente 
que o luto é um processo e que cada passo vem com novos sentimentos que precisam ser 
acolhidos (FRANCO, 2011; PARKES, 2009). 
O luto pós suicídio é um processo diferente para cada familiar pode gerar muitas 
emoções e diferentes aspectos para cada um, essas fases podem acontecer de maneira gradual 
ou até ao mesmo tempo e cada afetado lida de uma forma e sente com durações diferentes 
(PARKES, 1998). 
Fase do entorpecimento: reação inicial traz consigo o choque e a descrença, confusão 
e a negação da perda, desejo de prosseguir com a vida como se nada estivesse acontecendo, 
traz o isolamento. 
Fase de Anseio e Protesto: essa fase traz a raiva, descrença, tentativa de recuperar a 
pessoa perdida, vem trazendo fortes emoções, choro e sofrimento psicológico. 
Fase do Desespero ou desorganização: traz com ela a realidade da perda, com essa 
fase vem a dor mais intensa, o vazio, a falta de projeção futura com seu ente querido, nesta 
fase o familiar ou pessoa enlutada pode se entregar á depois depressão e distúrbios 
psicossomáticos. 
Fase de Recuperação e Restituição: É a fase de aceitação da ausência da pessoa 
querida e ressignificação da vida, reestruturação de uma nova vida. 
No luto por suicídio o sobrevivente além de lidar com todas as fases precisa lidar 
com outras emoções traz como: culpa, punição, medo e mágoa, sendo assim, mais difícil lidar 
com todo o processo, podendo entrar em um processo de trauma (pós perda traumática), 
estresse e depressão. 
Ainda segundo Franco (2011), a família que passa por processo de luto ocorrido após 
um suicídio precisa ser acompanhada por profissionais de psicologia de forma conjunta ou 
11 
 
individual, acolhendo assim de forma particular cada membro dessa família, cada 
sobrevivente teve uma história a ser contada, com a vítima e com isso sentimentos próprios de 
suas experiências, é preciso estar consciente da saúde mental desses sobrevivente para que 
não ocorra outro autoextermínio, levando esses sobreviventes voltarem a socializar entre si e 
também em convívio com outras pessoas, é preciso dar apoio social e psicológico a esses 
enlutados, acolher e entender o processo de cada um. 
Rogers e Wood (1978) argumentaram que quando as tendências operam livremente, 
elas orientam as pessoas para um processo chamado crescimento, maturidade e plenitude de 
vida, provando que as pessoas são organismos inteiros, verdadeiramente livres em suas ações. 
A sua própria existência caminha para a integração. De acordo com Rogers e Wood (1978), 
após anos de experiência com psicoterapia de indivíduos com transtornos mentais, uma das 
conclusões experimentais ao qual se chegou foi de que o ser humano possui tendência inata 
no desenvolvimento de todas as habilidades destinadas a manter ou melhorar seu organismo - 
a pessoa inteira, mente e corpo. 
 Segundo Rigo (2013), o suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial em que a 
interação de fatores pessoais, sociais e culturais determinará a decisão de cometer suicídio. 
Em outras palavras, era uma forma terrível de morrer, uma dor intensa e irreparável. 
Uma das maiores dificuldades com o suicídio é o tabu em torno desse tipo de morte, 
pois impede que muitas famílias e governos abordem a questão de forma aberta e efetiva, 
aumentando o estigma, o preconceito e a falta de conscientização. (OMS, 2014). 
A tentativa de suicídio é um ato incentivado em algumas sociedades orientais para 
desfechos de questões ideológicas e religiosos. (CASSORLA, 1998, apud Santiago e Ribeiro, 
2014) 
Conforme Dutra (2000), a repercussão da tentativa de suicídio abrange várias 
reações: pode ser ignorada, negada, encoberta por pessoas que dele tomaram conhecimento, 
tornando-o mais incompreensível. A autora afirma que tal decisão, embora pareça subjetiva e 
particular implica na influência de como a cultura pode influenciar a violenta decisão de tirar 
a própria vida. 
Supõe-se que a tentativa de suicídio revela o mesmo Rogers ponderou como 
desacordo vivido pela pessoa entre a estruturação do seu self com sua experiência global, ou 
seja, para manter a necessidade básica de apreço e consideração-afeto, amor – das pessoas 
critérios- significativas, a criança introjeta concepções e valores dos outros, tornando assim 
estas concepções parte do seu autoconceito, ainda que estes não procedam de suas 
experiências organísmicas, podendo assim manifestar certo falseamento ou distorção daquilo 
12 
 
que é experimentado. Em outras palavras Rogers diria que "a pessoa tenta ser o que as 
pessoas querem que ela seja, em lugar do eu que ela realmente é” (ROGERS; WOOD, 1978, 
p. 197). Dessa forma, a união entre a tendência atualizante e o self é o que determina o 
comportamento do indivíduo, sendo a tendência atualizante – fator dinâmico, considerada 
como a energia e o self – fator regulador, como a direção. (ROGERS; WOOD, 1977). 
 
 
3. METODOLOGIA 
Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizada uma metodologia bibliográfica, cuja 
pesquisa se deu em base de dados científicas como Capes, Google Acadêmico e Scielo, 
selecionando materiais de conteúdo científico, tais como, livros, artigos e documentos 
normativos vigentes. 
Em nossa busca, utilizamos como filtro o tema suicídio, rebuscando subtemas como 
“posvenção”, “luto”, “abordagem centrada na pessoa”, “humanismo”, “suicídio consumado”. 
Como recorte de tempo, nossa pesquisa abrange os períodos entre 1977 e 2022, localizando os 
materiais a partir dos autores abaixo. 
Sendo este um estudo descritivo e qualitativo, onde, para alcançar os objetivos 
propostos através do levantamento de material bibliográfico, possibilitando uma visão 
panorâmica e final na conclusão da teoria apresentada. 
 
 
4. CRONOGRAMA 
Desde a definição do projeto de pesquisa à apresentação do texto final do artigo, o 
estudo bibliográfico do tema será abrangente, conforme os fichamentos do referencial teórico 
já pré-definidos forem reportando a novos textos. 
Devido a esta formulação e aquisição de novas fontes, a análise inicial e formulação 
de uma estrutura serão concomitantes à leitura e análise de todo o conteúdo adquirido. 
Já o desenvolvimento dos textos e a revisão como parte final da criação, serão 
precedidos pela finalização do trabalho em editoração, reprodução, encadernação e 
apresentação sejam seguidos conforme o cronograma abaixo. 
 
 
13 
 
 Meses 
Etapa F
E
V
 
M
A
R
 
A
B
R
 
M
A
I 
JU
N
 
Definição do projeto X 
Pesquisa do Referencial Bibliográfico X X X 
Fichamento de textos X X 
Redação da Fundamentação Teórica X X 
Leitura X X 
Análise X X 
Desenvolvimento dos textos, resultados da análise X X 
Revisão X X 
Editoração eletrônica, reprodução, encadernação e apresentação 
do artigo. 
 
X X 
 
 
4. REFERÊNCIAS 
Associação Americana de Psiquiatria. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos 
mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Disponível em: 
http://www.institutopebioetica.com.br/documentos/manual-diagnostico-e-estatistico-de-
transtornos-mentais-dsm-5.pdf. Acesso em: set/2022. 
 
BERTOLOTE, J. M. O suicídio e sua prevenção. São Paulo: Unesp, 2012. 137 p. 
 
CARSSOLA, R. M. S. Estudos sobre o suicídio: Psicanálise e saúde mental. São Paulo: 
Blucher, 2021. 192 p. 
 
CARVALHO-RIGO, S. C. A importância da capacitação. Trabalho apresentado no V 
Congresso Brasileiro de Toxicologia Clínica. Salvador: Abracit, 2013. 
 
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. O Suicídio e os Desafios para a Psicologia. 
Brasília: CFP, 2013. 152 p. Disponível em: https://site.cfp.org.br/publicacao/suicidio-e-os-
desafios-para-a-psicologia/. Acesso em: set/2022. 
 
DURKHEIM, E. O suicídio: estudo de sociologia. 3 ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 
2019. 513 p. 
14 
 
 
DUTRA, E. M. S. Compreensão de tentativas de suicídio de jovens sob o enfoque da 
abordagem centrada na pessoa. 2001. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São 
Paulo, 2001. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/001180864. Acesso em: set/2022. 
 
ERTHAL, T. C. S. Trilogia da existência: teoria e prática da psicoterapia vivencial. Curitiba: 
Appris, 2013. 
 
FRANCO, M. H. P. Luto: a morte do outro em si. In: FRANCO, M. H. P. et al. Vida e morte: 
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