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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA JANAINA BOSQUETTI DE SOUZA COOPERAÇÃO: RELACIONAMENTO INTERPESSOAL E SATISFAÇÃO NO TRABALHO Palhoça 2012 JANAINA BOSQUETTI DE SOUZA COOPERAÇÃO: RELACIONAMENTO INTERPESSOAL E SATISFAÇÃO NO TRABALHO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo. Professor Orientador TCC II: Vanderlei Brasil, Esp. Professor Orientador TCC I: Iúri Luna, Dr. Palhoça 2012 JANAINA BOSQUETTI DE SOUZA COOPERAÇÃO: RELACIONAMENTO INTERPESSOAL E SATISFAÇÃO NO TRABALHO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo. Palhoça, 28 de novembro de 2012 _______________________________________________ Orientador e profº Vanderlei Brasil, Esp. Universidade do Sul de Santa Catarina _______________________________________________ Prof.ª Ana Maria Lima da Luz, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina _______________________________________________ Prof.º Carolina Bunn Bartilotti, Dra. Universidade do Sul de Santa Catarina AGRADECIMENTOS É com muito entusiasmo que concluo este ciclo que me possibilita o título de Psicóloga, sonho este traçado e planejado e por muitas vezes adaptado. Neste espaço agradeço as pessoas especiais que me fizeram bem nesse quase um ano de pesquisa, cada uma com seu jeito; e também aquelas que apenas manifestaram o seu apoio nesta etapa, mas que em todos os outros anos que passaram, foram incríveis comigo. Agradeço aos meus pais que me auxiliaram neste processo, especialmente a minha mãe que me ensinou a buscar os meus desejos, sendo forte estimuladora dos meus objetivos, pode ler e acompanhar esta pesquisa. Ao meu parceiro e namorado, Maickel que me acompanhou em parte significativa desta jornada, pela paciência, compreensão e por ter me ensinado a encarar de forma mais tranquila esta experiência. As Psicólogas, Lú e Adri que me propiciaram ao longo deste período mudanças, crescimento e equilíbrio. Á Vá, Vanusa Cardoso, irmã de alma, que foi uma líder referência, me ensinando na prática os desafios do profissional psicólogo, acreditando no meu potencial, compartilhando intimidades e estimulando meus sonhos. Á equipe Vanusa Cardoso Consultoria, Eduardo e Ana Luíza parceiros queridos. Á Roberta (gerente) e Aline (assistente de RH) da Cooperativa de Crédito que se colocaram a disposição de maneira carinhosa, possibilitando o desenvolvimento desta pesquisa. Ao primeiro orientador, Iúri, forte estimulador, com seu jeito entusiasmado me motivou a pesquisar. Agradeço ao professor Vanderlei, pelo qual tenho imenso carinho e admiração, desde a 1º fase com a História da Psicologia, disciplina que me cativou, posterior com a Orientação Profissional disciplina pela qual me apaixonei, as aulas no núcleo, as excelentes supervisões no campo de estágio, até se tornar também parceiro desta pesquisa, orientador de TCC II, fazendo com eu imprimisse o meu jeito nesta pesquisa. Professor, você foi incrível em suas colocações, por muitas vezes encorajou e descontraiu nosso grupo compreendendo o nosso envolvimento com inúmeras atividades. Ao grupo de TCC, colegas com características tão distintas, seres especiais, Camila com a risada mais hilária e contagiante, Welton com seu tom sarcástico, Marian com seu tom musical e meigo, Mari com os assuntos mais bizarros, parceria constante, compartilhando as angústias e medos desta fase. Nossos encontros marcados por lanches saborosos, cada qual com suas habilidades, muitos envolvendo o carinho da família né Mari! Foi agradável construir pesquisa com vocês! Então Cami, passamos pelas etapas de grupo à equipe! Á banca, professora Ana pela qual me apaixonei ao longo da graduação, com sua sensibilidade e postura ética, desde a disciplina de Processos Grupais, estágio de grupos, estimulou a apresentação de meu trabalho no Congresso na ABOP e durante um ano me preparou no estágio na clínica, momento de vínculo em que choramos, sorrimos e compartilhamos. Á professora Carol forte estimuladora da área, com seu jeito motivador, atualizando sobre os desafios da profissão. Aos amigos que muitas vezes me distancie devido aos compromissos, colegas do grupo de estudos, aos pacientes que me desafiaram, aos grupos de treinamentos desenvolvidos que me possibilitaram amadurecer. Ás amigas Mary, Camila, Karina e Denise que me divertiram e me motivaram muito neste período. Muito obrigada!!! E assim compreendo uma frase que utilizei em muitos trabalhos de grupos “Ninguém muda ninguém e ninguém muda sozinho, mudamos nos encontros” (Anônimo). “... Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!" (Willian Shakespeare) RESUMO A presente pesquisa se refere ao estudo sobre o relacionamento interpessoal e a satisfação no trabalho em uma Cooperativa de Crédito, discutindo o trabalho como uma atividade vital que possibilita ao indivíduo construir sua identidade, sentir-se aceito e reconhecido pelo outro e por sua cultura. Tem como objetivo geral caracterizar a influência do relacionamento interpessoal sobre a satisfação no trabalho de colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito. Como objetivos específicos, a pesquisa elencou: verificar o sentido do trabalho atribuído por colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito; caracterizar os relacionamentos interpessoais de colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito; descrever as percepções de colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito acerca de seus relacionamentos interpessoais, nos seguintes aspectos: liderança, comunicação, autonomia e decisões; identificar a satisfação profissional de colaboradores em uma Cooperativa de Crédito. Este trabalho é classificado como uma pesquisa exploratória e qualitativa, cujo delineamento é o de estudo de caso. Para a coleta de dados foram realizados quatro encontros de grupo focal, com sete colaboradoras. Os dados coletados foram analisados e categorizados, relacionando-os com o referencial teórico apresentado. Ao fim deste processo, constatou-se que as participantes atribuem como sentido do trabalho a responsabilidade e a satisfação; quanto aos relacionamentos interpessoais no grupo de trabalho, constatou-se que estes apresentam características como: compreensão, companheirismo e responsabilidade, evidenciando que as relações são tecidas com solidariedade, ultrapassando as tarefas profissionais. Quanto à liderança foi identificado um contraponto entre centralização e acessibilidade, as participantes demonstram admiração em relação à postura da líder, considerando a mesma como exemplo profissional. A comunicação é revelada como acessível e permeada de afeto. Outro aspecto evidenciado foi a autonomia que se depara com a centralização da liderança, embora haja liberdade para criar e expor opiniões. As participantes percebem que seu trabalho funciona como um processo e suas atitudes afetam o outro e, deste modo, compartilham as decisões. A satisfação é identificada pela utilidade do cargo e reconhecimento profissional. Em contrapartida, o que não satisfaz no trabalho sãoquestões operacionais, como conciliar o tempo e a centralização dos processos. Esta pesquisa ainda apontou a importância do trabalho em equipe, como a cultura da organização pode valorizar os seus profissionais, além do que evidenciou como o fato de sentir-se reconhecido colabora significativamente para o desenvolvimento da identidade individual e coletiva, pois favorece vivências de satisfação, propiciando condições adequadas à saúde do trabalhador. Palavras-chave: Cooperativa de Crédito. Relacionamento interpessoal no trabalho. Satisfação no trabalho. SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO....................................................................................................7 1.1PROBLEMÁTIVA E JUSTIFICATIVA......................................................................8 1.2 OBJETIVOS.........................................................................................................15 1.2.1 Objetivo geral...................................................................................................15 1.2.2 Objetivos específicos......................................................................................15 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................17 2.1 SATISFAÇÃO NO TRABALHO............................................................................17 2.1.1 O sentido do trabalho.....................................................................................20 2.2 GRUPOS E EQUIPES DE TRABALHO...............................................................22 2.2.1Relacionamento Interpessoal..........................................................................25 3 MÉTODO.................................................................................................................29 3.1 TIPO DE PESQUISA............................................................................................29 3.2 LOCAL E PARTICIPANTES.................................................................................30 3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS..........................................................31 3.4 SITUAÇÃO E AMBIENTE....................................................................................34 3.5 PROCEDIMENTOS..............................................................................................34 3.5.1 De contato com os participantes...................................................................35 3.5.2. De coleta de dados.........................................................................................35 3.5.3 De organização, tratamento e análise dos dados........................................36 4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS...................................................................37 4.1 O SENTIDO DO TRABALHO ATRIBUÍDO POR COLABORADORAS...............37 4.2 OS RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS DAS COLABORADORAS..........40 4.3 A LIDERANÇA NA COOPERATIVA DE CRÉDITO.............................................43 4.4 A COMUNICAÇÃO DAS COLABORADORAS.....................................................46 4.5 A AUTONOMIA NA COOPERATIVA DE CRÉDITO............................................48 4.6 AS DECISÕES NA COOPERATIVA DE CRÉDITO.............................................49 4.7 A SATISFAÇÃO PROFISSIONAL DAS COLABORADORAS..............................51 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................55 REFERÊNCIAS..........................................................................................................58 APÊNDICES...............................................................................................................62 APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................63 APÊNTICE B – Técnica............................................................................................64 7 1 APRESENTAÇÃO O curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina apresenta, em sua grade curricular, dois Núcleos Orientados com ênfase em dois campos da Psicologia. O primeiro se refere ao Núcleo Orientado em Psicologia e Trabalho Humano, e o outro ao Núcleo Orientado em Psicologia e Saúde; no qual o acadêmico escolhe o núcleo que irá participar até a conclusão do curso. Sendo que o Núcleo Orientado de Psicologia e Trabalho Humano possui dois projetos distintos: Desenvolvimento Humano no Trabalho e Desenvolvimento Humano na Organização. A pesquisa em questão está vinculada ao projeto de Desenvolvimento Humano no Trabalho, o qual tem como objetivo desenvolver o ser humano em seu trabalho; pois o foco se direciona para o individuo, bem como na relação com o seu trabalho. As experiências nos estágios curriculares vinculados ao projeto escolhido têm como proposta contemplar e promover estudos referentes à relação sujeito- trabalho. Após vivenciar experiências em uma consultoria de RH, no período de dois anos, conhecendo diversas culturas organizacionais, revelou-se o interesse nas características de Cooperativas de Crédito, acerca do perfil de cooperação, em relação ao Cooperativismo como um movimento que gera trabalho, renda e inclusão, valorizando as pessoas como mais importantes deste processo. Através de relatos positivos sobre os relacionamentos entre um grupo de trabalho de uma Cooperativa de Crédito, instigou a curiosidade da pesquisadora, pois se diferenciou das demais organizações. Surgiu o interesse em compreender qual o diferencial nos relacionamentos interpessoais entre os colaboradores de uma Cooperativa em relação às demais organizações. Será que o bom relacionamento interpessoal influencia sobre a satisfação no trabalho? A pesquisa se apresenta em capítulos. O primeiro contempla a introdução, problemática e os objetivos da pesquisa, o segundo apresenta a fundamentação teórica, e expõe aspectos pertinentes à satisfação no trabalho, sentido do trabalho, grupos e equipes de trabalho e relacionamento interpessoal no trabalho. O terceiro capítulo refere-se à metodologia, utilizando-se como meio de coleta de dados o grupo focal, e o quarto capítulo apresenta à apresentação e discussão dos resultados. 8 1.1 PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA No transcorrer da história da humanidade alguns homens se destacaram em guerras, política, religião, ciência dentre outros, mas o que seria destes sem a força do trabalho em grupo? É notável que grandes realizações e feitos não foram obras de um homem só. Na década de 80, discutia-se sobre o modelo socioeconômico e político que seria aplicado, como o capitalismo ou socialismo e em meio a esses modelos, houve o fortalecimento do cooperativismo que nasceu em meados do século XIX, com a proposta de extrair o que existe de bom no capitalismo enquanto gerador de negócios e lucros, com o que existe de bom no modelo socialista, que é a preocupação com o atendimento dos interesses sociais (PORTAL COOPERATIVISTA, 2012). De acordo com o site Cooperativa de Crédito (2012), o cooperativismo surgiu em dezembro de 1844 na Inglaterra, a 1º Cooperativa mundialmente reconhecida. Vinte e sete tecelões e uma tecelã fundaram a "Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale" com o resultado da economia mensal de uma libra de cada participante durante um ano. Os tecelões buscavam uma alternativa econômica para atuarem no mercado, frente ao capitalismo que os continham a preços abusivos, exploração da jornada de trabalho (trabalhavam até 16 horas diárias) além do desemprego crescente. Nesse contexto, o cooperativismo foi difundido pelo mundo e as normas definidas pelos tecelões pioneiros desta ideia passaram a nortear as ações das cooperativas em todo o mundo. De modo geral o cooperativismo conforme Osorio (2003, p. 152) é “radicado no reconhecimentoda contribuição de cada setor ou elemento da sociedade pode trazer para a construção coletiva, privilegia a solidariedade e a hierarquiza em relação à rivalidade”. O autor evidencia que as cooperativas se distinguem das demais formas de agrupamentos na sociedade, pois o foco é o bem- estar comum, com tendências político-econômicas que se distanciam da competitividade “agressiva”. Vale ressaltar que existem Cooperativas em diversos segmentos como, crédito, agropecuária, consumo, educacionais, saúde, habitacionais, infra-estrutura dentre outras. Segundo o Portal das Cooperativas de Crédito Brasileiras (2012): 9 Cooperativas de Crédito são associações de pessoas, que buscam através da ajuda mútua, sem fins lucrativos, uma melhor administração de seus recursos financeiros. O objetivo de uma cooperativa de crédito é prestar assistência creditícia e a prestação de serviços de natureza bancária a seus associados com condições mais favoráveis. Como exemplo, uma Cooperativa de Crédito (2012) tem como missão: Promover a satisfação econômico-financeira, social e educativa ao cooperado, com produtos e serviços de qualidade, com ética e profissionalismo, contribuindo para o fortalecimento do cooperativismo e com o desenvolvimento do país. Pinho (2006) afirma que as Cooperativas de Crédito são instituições financeiras que funcionam semelhantes a um banco, fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil. Há inspiração em orientações organizacionais, com hierarquia dos cargos da Cooperativa de caixa, assistente, analista, coordenador e presidente. Seguindo os moldes da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), ou seja, os sujeitos que trabalham na Cooperativa de Crédito são colaboradores, enquanto os clientes são cooperados. Vale ressaltar que Cooperativas de Crédito são as principais instituições financeiras em diversos países. Mas quais seriam as diferenças entre Cooperativas de Crédito e bancos? O portal do Cooperativismo de crédito (2012) elenca alguns aspectos relevantes, como: O poder de decisão está na participação dos sócios, como uma sociedade de pessoas; Objetiva a captação e administração de poupanças, empréstimos e prestação de serviços aos cooperados; As operações estão restritas ao quadro associativo que é constituído de pessoas físicas e jurídicas; Os resultados são distribuídos entre os sócios, num controle democrático. Diferente da relação em bancos entre fornecedor e consumidor, as relações em Cooperativas de Crédito são caracterizadas como atos cooperativos, pois envolvem a participação do cooperado, além do que possuem características peculiares no seu trabalho, não se aplicam os dispositivos do código de defesa do consumidor. Os negócios jurídicos das sociedades cooperativas provém da condição 10 de proprietário e usuário que assume o cooperado. Neste sentido, este cooperado não reclama dele próprio, uma vez que aderiu ao estatuto social da sociedade. Cooperativismo é um movimento que gera trabalho, renda e inclusão, valorizando as pessoas como mais importantes deste processo, a frase citada no informativo do PAC (Posto de Atendimento da Cooperativa) Florianópolis (2011) elucida este aspecto: “ter um lugar confortável, seguro e acolhedor, onde você é respeitado, alguns chamam de lar, nós chamamos de Cooperativa”. Um dos diferenciais é que ultrapassa o modelo de uma instituição financeira e desenvolve valores, ou seja, ser cooperado além de obter soluções financeiras é estimulado a participar de eventos que promovem a qualidade de vida. Deste modo o cooperativismo direciona o homem para a coletividade, propiciando sustentação na geração de riquezas, bem como criação de auto-sustentabilidade para o desenvolvimento. Navarro e Padilha (2007) acrescentam que a centralidade do trabalho não se dá apenas na esfera econômica, mas também na psíquica e na busca da satisfação de necessidades. No decorrer da história houve transformações no mundo do trabalho atreladas ao modelo econômico. No Feudalismo, por exemplo, o artesão executava integralmente sua função, até a conclusão do seu produto. De acordo com as exigências da modernidade, surgiram inovações no processo produtivo, constantes transformações científicas e tecnológicas, logo o trabalhador passa a executar parte da função, com isso surge o fracionamento do trabalho. Neste contexto além das exigências em relação à capacitação técnica surgem as exigências comportamentais que envolvem desenvolver o relacionamento interpessoal. Para Lucena (2004), o processo de transformação das organizações, também é o processo de transformação das pessoas. Como o indivíduo interage constantemente com fatores profissionais, sociais, culturais e pessoais, esses influenciam diretamente em seu desempenho na empresa. O cientista social Elton Mayo (1880 a 1949), mediante a forte tendência mecanicista devido a inadequações da Teoria Clássica da Administração, estudou as questões que envolviam satisfação, o homem social, em face da necessidade de humanizar a relação entre homem e trabalho. Surge então o modelo de Relações Humanas. Esta teoria apresenta foco no grupo, nas relações entre as pessoas no trabalho. 11 Acredita-se que a satisfação no trabalho é um aspecto relevante a ser discutido. A satisfação pode depender de inúmeros fatores psicossociais, de acordo com a própria atividade, o que se recebe em troca do trabalho ou qualquer outro valor que se atribui a esta relação. A letra da música Comida do grupo Titãs (1987), retrata essa discussão “[...] A gente não quer só comida... A gente quer comida diversão e arte... A gente não quer só comida... A gente quer saída para qualquer parte... A gente não quer só dinheiro... A gente quer dinheiro e felicidade [...]”. A fonte de satisfação das pessoas pode variar conforme necessidades, desejos e vontades. Discute-se na atualidade o papel do trabalho na vida das pessoas; contexto contemporâneo, economia, administração do tempo, avanços tecnológicos, otimização dos recursos para tornar a tarefa mais eficiente compõe um ambiente de mercado competitivo. Codo (2006) compreende a atualidade como plena revolução do trabalho, momento em que se espera que a força física seja substituída pela tecnologia, e quanto aos colaboradores, que estes possam ser mais participativos, com a capacidade para desempenhar o trabalho de forma comprometida, numa interação que viabiliza a cooperação e equipes de trabalho. Ventorini e outros (2008, p. 121) acrescentam que “as organizações são formadas por grupos de pessoas que trabalham de maneira estruturada, por meio de divisão de tarefas, visando atingir objetivos predeterminados que dificilmente poderiam ser alcançados por meio do esforço pessoal isolado”. O desempenho dos indivíduos dentro da empresa está ligado ao grupo de trabalho, como eles se agrupam, constroem afinidades e desenvolvem as atividades. Em sua história o homem vive em grupos, constrói relações com pessoas que possuem objetivos semelhantes ao seu, desempenhando papéis diferentes. Deste modo possibilita que o indivíduo construa sua identidade, sinta-se aceito e reconhecido pelo outro e por sua cultura. Cada grupo passa por um processo de institucionalização, com estabelecimentos de regularidades no comportamento da construção social. Sejam regras explícitas em manuais, processos de integração no trabalho, relacionadas ao horário, ou regras implícitas relacionadas à postura. Embora um grupo siga as mesmas normas, o comportamento humano não é programável como enfatiza (MOSCOVICI, 2002). Uma vez que cada indivíduo possui características singulares, as relações interpessoais do grupo também variam conforme a coesão, cooperação e harmonia do mesmo. Moscovici (2007) pontua 12 que o relacionamento interpessoal é um processo complexo que se desenvolve de acordo com o processo de interação.O contexto do mundo empresarial just in time torna-se um desafio, tendo em vista que a convivência humana depende de inúmeros fatores, são exigidos resultados rápidos, constante atualização de conhecimentos técnicos, habilidades em relação a solucionar situações. Um questionamento surge: as pessoas obtém maior satisfação em desempenhar atividades em grupo ou individuais? Existem técnicas e ferramentas que tentam mensurar a satisfação dos colaboradores, como pesquisa de clima utilizada por diversos psicólogos; pesquisa multinível um modelo que visa descrever as variáveis desta satisfação; grupo focal, que não estabelece graus, podendo ser uma possibilidade de compreender a satisfação, por ser um instrumento de coleta de dados capaz de facilitar o processo de discussão entre os membros de um grupo. Um estudo multinível apresentou os seguintes resultados: indivíduos que acreditam que as equipes de trabalho são efetivas, relataram que há maior satisfação em depender dos seus colegas de trabalho para atingir seus resultados. Indivíduos que não acreditam na efetividade das equipes, a elevada dependência de resultados esteve relacionada a níveis mais baixos de satisfação. (ANDRADE; PALACIOS, 2005). Compreender satisfação nas relações interpessoais é uma exigência do processo de trabalho na contemporaneidade, partindo do pressuposto que nos construímos nas relações que estabelecemos. As relações interpessoais no trabalho vão além de atingir os resultados. “Entender o comportamento nas organizações é vital, uma vez que o fator humano está intrinsecamente vinculado a toda tarefa realizada esta é a mola propulsora do sistema organizacional, e por extensão, da sociedade como um todo”. (ANTONIAZZI et al., 2007, p. 12). Neste sentido percebe-se que estudar comportamento organizacional pode desenvolver conhecimento e fornecer subsídios para as temáticas: satisfação no trabalho, absenteísmo, turnover, dentre outros aspectos. Diante do exposto, Spector (2003, p. 221) afirma que “a satisfação no trabalho tem sido apresentada como a causa de importantes realizações das organizações e dos funcionários, do desempenho no trabalho à saúde e longevidade”. Relacionamento interpessoal, salário, cargo, estrutura da organização, dentre outros aspectos no trabalho podem influenciar na satisfação dos colaboradores. 13 Esta pesquisa emerge da necessidade de compreender de modo mais aprofundado entre tantas organizações, qual o diferencial da Cooperativa de Crédito? Quais as características da relação entre os relacionamentos interpessoais e satisfação no trabalho em uma Cooperativa de Crédito? Em organizações específicas existem problemas, limitações estruturais, de relacionamentos e pontos a desenvolver. O foco de pesquisa foi uma Cooperativa de Crédito, devido ao interesse na cultura de cooperação da mesma. Deve-se considerar que Cooperativas de Crédito, segundo o portal do Cooperativismo de Crédito (2012), possuem a seguinte premissa: compartilhamento de conhecimentos, aquisição de novas habilidades, trabalhando em parceria e trabalhando em cooperação. Como onde há relações humanas o profissional psicólogo pode atuar; nesse sentido, surge o interesse em verificar as características dos relacionamentos interpessoais em uma organização que apresenta como proposta a cooperação. Como esses colaboradores percebem os relacionamentos interpessoais no ambiente de trabalho? Caracteriza-se um ambiente agradável, estimulante, desagradável, adverso, neutro ou monótono? O Portal do Cooperativismo de Crédito (2012) indica que o objetivo das Cooperativas de Crédito é fomentar as atividades do cooperado via assistência de créditos. Captar recursos, realizar empréstimos aos cooperados, efetivar aplicações financeiras no mercado, o que resulta em melhores condições de financiamento aos associados. Partindo do pressuposto da centralidade do trabalho na vida das pessoas, a satisfação neste contexto pode alavancar motivações, resultados, qualidade de vida e fortalecimento de relacionamentos interpessoais. Comparar a percepção sobre os relacionamentos interpessoais e identificar a satisfação dos colaboradores que trabalham em uma Cooperativa de Crédito pode ser um “termômetro” para conhecer a satisfação e auxiliá-los a criar estratégias de Treinamento e Desenvolvimento. A fim de investigar caracterizar a relação entre relacionamento interpessoal e a satisfação no trabalho de colaboradores de uma Cooperativa de Crédito realizou-se a revisão bibliográfica em base de dados disponíveis on-line pelas bibliotecas da UNISUL e UFSC no período de março a outubro de 2012. Foram utilizadas as seguintes bases de dados on-line: Biblioteca Virtual de Saúde- Psicologia (www.bvs-psi.org.br); Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (http://bdtd.ibict.br); Scielo (http://www.scielo.br); Portal de Periódicos da UFSC 14 (http://www.periodicos.ufsc.br/). Portal do Cooperativismo de Crédito (www.cooperativismodecredito.com.br), Viacred Cooperativa de Crédito (www.viacredi.coop.br) e Transpocred Cooperativa de Crédito (www.transpocred.coop.br). Com a palavra-chave satisfação, localizaram-se os seguintes artigos: Andrade e outros (2005) realizam um estudo multinível sobre o efeito da interdependência na satisfação de equipes de trabalho. Larios e Souza (2010), também abordam um estudo multinível sobre a satisfação no trabalho e responsabilidade social empresarial. Com a palavra-chave relacionamento interpessoal, localizou-se o artigo de Ventorini (2008) que discute a obra de Robert Hinde sobre relacionamento interpessoal de acordo com a gestão de pessoas. As palavras-chaves pesquisadas nas bases de dados foram: trabalho, cooperativa, satisfação, grupo e trabalho, sendo que os resultados mais próximos a temática foram pesquisas administrativas, ou com Cooperativas sem vínculos empregatícios, distintas do ramo de Crédito. Assim, marcou-se a pertinência em estudar a temática em questão. Na literatura foram encontrados materiais sobre satisfação no trabalho que constam na referência e também outras temáticas relacionadas à satisfação, como bem estar e felicidade no trabalho. Como o artigo de Siqueira e Padovan (2008), localizado na base de dados scielo, que discute bases teóricas de bem-estar subjetivo, bem-estar psicológico e bem-estar no trabalho. Devido à influência do gênero feminino nos dados revelados na análise a pesquisadora considerou relevante buscar informações acerca, localizou-se o artigo de Probst (2007) que discute a evolução da mulher no mercado de trabalho. Na revista de estudos feministas de Chies (2010) se localizou uma discussão que aborda a identidade de gênero e identidade profissional no campo de trabalho. Larios e Souza (2010) apontam que após seis décadas de pesquisas, não há consenso na literatura e nem definições claras a respeito das causas e os elementos da satisfação no trabalho. Deste modo, esta pesquisa poderá favorecer a sociedade a compreender mais a respeito da satisfação no trabalho. Há relevância acerca de auxiliar outras organizações a trabalharem os relacionamentos interpessoais e a satisfação dos seus colaboradores. Spector (2003, p.241) indica que “nos últimos anos a satisfação tem sido considerada importante, devido a seus efeitos potenciais nas variáveis que dizem mais respeito aos funcionários do que às http://www.periodicos.ufsc.br/ http://www.viacredi.coop.br/ 15 organizações”. Diante do exposto pode-se auxiliar nos estudos sobre a relação entre satisfação no trabalho e a saúde e o bem-estar. As relações entre organizações e sociedade se transformam e a falta desse conhecimento poderá ter como implicações sociais: empresas com dificuldades em atender as expectativas, cobranças e mudanças de um cenário globalizado. Esta pesquisa tem como foco favorecer interessados nesta temática,estudiosos e profissionais da Psicologia e áreas afins, a desenvolver o relacionamento interpessoal e satisfação no trabalho e proporcionar subsídios à saúde do trabalhador. O baixo nível de satisfação no trabalho pode gerar rotatividade dos colaboradores, dificuldades no desempenho, afetar a saúde, dentre outros fatores. Para identificar a satisfação no trabalho, compreender as relações humanas e colaborar com as organizações, faz-se necessário desenvolver mais pesquisas nesta área. A importância desse conhecimento para a sociedade está relacionada diretamente a investigar os aspectos no trabalho como: sentido, relacionamento interpessoal e satisfação, possibilitando conhecer uma organização com uma realidade distinta do modelo capitalista. Assim ampliar o olhar do psicólogo que desenvolve o trabalho no campo organizacional. 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral Caracterizar a influência do relacionamento interpessoal sobre a satisfação no trabalho de colaboradores de uma Cooperativa de Crédito. 1.2.2 Objetivos Específicos a) Verificar o sentido do trabalho atribuído por colaboradores de uma Cooperativa de Crédito; b) Caracterizar os relacionamentos interpessoais de colaboradores de uma Cooperativa de Crédito; 16 c) Descrever as percepções de colaboradores de uma Cooperativa de Crédito acerca de seus relacionamentos interpessoais, nos seguintes aspectos: liderança, comunicação, autonomia e decisões; d) Identificar a satisfação profissional de colaboradores em uma Cooperativa de Crédito; 17 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A presente pesquisa apresentará na fundamentação teórica aspectos pertinentes à satisfação no trabalho, sentido do trabalho, grupos e equipes no trabalho e relacionamento interpessoal no trabalho, fazendo um paralelo com as exigências do trabalho nas organizações atuais. 2.1 SATISFAÇÃO NO TRABALHO O trabalho faz parte da vida das pessoas, e muito embora possa ter em alguns momentos conotação negativa, assim como a própria origem do termo (tripalium), remete a sentimentos de dor e sofrimento, contudo, ele também pode ser fonte de satisfação, quais seriam os fatores geradores de satisfação no trabalho? Para Shaw (2000 apud Andrade et al., 2005) a satisfação no trabalho não resulta apenas da representação do grupo ou da tarefa, mas sim, das características individuais das pessoas. Neste sentido, apontam que a congruência entre características da tarefa e preferências individuais (preferência pelo trabalho em equipe) causa o impacto na satisfação e no desempenho da equipe. Para os autores citados acima satisfação no trabalho está relacionada às características individuais, ou seja, existem elementos inerentes ao trabalho ou a tarefa desenvolvida que podem ou não gerar satisfação, isto vai depender do grau de congruência destes aspectos e das preferências individuais. A satisfação representa a somatória do quanto o sujeito que trabalha vive experiências que lhe dão prazer na organização (SIQUEIRA, 2008). Diante do exposto a satisfação pode ser considerada uma variável multifatorial, pois se relaciona com: natureza do trabalho, salário, relacionamento com os colegas de trabalho, dentre outros aspectos. A satisfação no trabalho é uma das variáveis relevantes e frequentemente estudadas na psicologia organizacional. Larios e Souza (2010) consideram pertinente a definição de Locke (1976) sobre satisfação como um estado emocional agradável, consequência de um trabalho ou de experiências no trabalho. Em contrapartida Larios e Souza (2010), apontam que após seis décadas de pesquisas, não há consenso na literatura e nem definições claras a respeito das causas e dos elementos da satisfação no trabalho. Uma vez que a satisfação resulta em um 18 sentimento, ou seja, algo subjetivo, que pode variar dependendo do sujeito e do contexto. Percebe-se um desafio para o psicólogo pesquisar mais e obter clareza sobre como as atitudes no trabalho podem afetar não só a organização mais a saúde do colaborador, e assim intervir de maneira assertiva, com treinamentos, criando estratégias e cooperando para melhorar a satisfação no trabalho humano. Por mais que os colaboradores gostem de seu trabalho, não há como afirmar com segurança que os mesmos estejam satisfeitos em sua plenitude. Spector (2003) pontua que certamente em algum momento esses colaboradores já tiveram ou terão sentimentos diferentes com relação aos aspectos do trabalho. Será que o sujeito sente-se satisfeito com a relação que possui com o seu colega de trabalho? A satisfação no trabalho refere-se aos sentimentos das pessoas com relação a esses diferentes aspectos. (SPECTOR, 2003, p. 220). Antoniazzi e outros (2007) e Larios e Souza (2010) complementam Spector no que diz respeito à satisfação no trabalho, considerando-a como respostas afetivas do sujeito sobre o mesmo, ou seja, um sentimento que pode influenciar no comportamento do mesmo. Neste sentido, os sujeitos que vivenciam as mesmas atividades, condições de trabalho, ambiente, salário em uma organização podem variar quanto sua satisfação. Larios e Souza (2010, p.3) “[...] indicam a satisfação como um processo mental de avaliação das experiências no trabalho que resulta em um estado agradável ou desagradável”. Spector (2003) discute a existência de antecedentes da satisfação no trabalho, de acordo com as características do ambiente, como exemplo o trabalho em indústria na década de 1960, ambiente fechado sem iluminação, atividade mecânica e repetitiva foi considerado insatisfatório. Spector (2003, p. 235) destaca “a satisfação com o salário é afetada pela comparação do salário de um indivíduo com o de outros que realizam a mesma função, em vez do salário de outras pessoas em geral”, pois as pessoas que realizam trabalhos diferentes não necessariamente estão mais satisfeitos por ganhar mais dinheiro que outros profissionais. Por mais que ambiente e salário sejam avaliados como meios de satisfação, vale destacar que as características pessoais de cada sujeito também podem influenciar; sejam elas de gênero, idade, diferenças culturais e étnicas. A adequação da pessoa em relação ao trabalho é um aspecto relevante uma vez que existem perfis de profissionais com forte necessidade de 19 crescimento e outros com baixa. Spector (2003), acrescenta que tanto a satisfação na vida como a satisfação no trabalho se afetam, sendo correlatas. Laner e Júnior (2004) apresentam aspectos sobre a cidadania organizacional e felicidade que podem estar atrelados a satisfação no trabalho. Concluem que no contexto globalizado os sujeitos estão mais livres, e também mais responsáveis por si e pela comunidade. Logo, a cooperação entre os colaboradores tem como objetivo a construção social, com intuito de favorecer o desenvolvimento das características do sujeito, como por exemplo, relacionamento interpessoal, comunicação e bem estar. “A satisfação é resultado da percepção de necessidades supridas”. (VENTORINI, 2008, p. 132). Ventorini (2008) destaca a importância de avaliar o relacionamento com o colega de trabalho, seja ele satisfatório ou insatisfatório. A satisfação pode ser tanto resultado da qualidade de um relacionamento, quanto à causa do mesmo. Existem limites que influenciam a satisfação, além dos fatores externos como: apoio emocional do colega, colaboração com a troca de conhecimentos, reconhecimento, dentre outros aspectos. A presença de diferentes graus de compromisso entre os parceiros pode transformar a insatisfação em fonte de conflitos construtivos ou destrutivos. A natureza do compromisso será decisiva: quando o relacionamento é imposto, ou reforçado, por fatores externos, ou motivado por sentimentos de culpa e obrigação, o nível de satisfação tende a ser menor. (VENTORINI, 2008, P. 133) Ventorini (2008) conclui a discussãoafirmando que se houver identificação o grau de satisfação pode ser maior. Mas vale ressaltar que se o colaborador não faz o que gosta, não se sente engajado em suas atividades e não se vincula à organização onde trabalha, dificilmente se sentirá satisfeito no trabalho. (COVACS, 2007). Portanto, considera-se a satisfação no trabalho uma variável de natureza afetiva e multifatorial, pois se relaciona com diversos aspectos tanto individuais como do grupo de trabalho. A partir da revisão de literatura observou-se a necessidade de ampliar conhecimentos acerca da satisfação no trabalho, pesquisar sobre como as atitudes no trabalho podem afetar a organização, a saúde do colaborador e assim criar estratégias para intervir neste contexto. 20 2.1.1 Sentido do trabalho Ao compreender satisfação no trabalho, faz-se necessário desvelar quais os sentidos atribuídos pelo trabalhador ao trabalho que realiza, no caso desta pesquisa com colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito, em relação ao trabalho que desenvolvem, uma vez que o trabalho realizado de forma alienada, poderá trazer prejuízos à saúde de quem o executa, além de repercutir no processo de atendimento aos cooperados. Mas o que é trabalho? Segundo Albornoz (1994), na maioria das línguas trabalhar possui mais de um significado, por exemplo, em português carrega duas definições: segundo o dicionário Priberam (S/D) essa palavra é uma derivação do ato de trabalhar e pode significar “[..] fazer ou preparar algo para determinado fim, causar preocupação ou aflição [...]”. Já no dicionário de Psicologia (2010, p. 967) trabalho é “qualquer atividade física, mental ou emocional dirigida à realização de uma tarefa ou à transformação de insumos na forma de materiais físicos, informação e outros recursos em bens ou serviços”. Pode-se perceber nas definições, uma semelhança no que se refere ao esforço humano para criar e transformar a matéria prima. Na definição da Psicologia, contudo, há a ampliação do esforço humano, capaz de ser físico mental ou emocional. O trabalho é uma atividade vital, que ocupa a centralidade na vida das pessoas, exige conhecimentos técnicos e habilidades comportamentais, propicia experiência psicossocial, a busca da satisfação e o suprimento de necessidades. O homem se torna social por meio do trabalho, uma vez que o mesmo pressupõe uma relação de dupla transformação entre o homem e a natureza, geradora de significado. Assim, pode-se pensar que o trabalho, além de ser meio de satisfação, é também fonte de identificação e desenvolvimento das potencialidades humanas. Para Ferretti (1997, p.83) “o trabalho engendra a vida social e, ao mesmo tempo, é por ela determinado”. Neste sentido, o homem precisa dos demais homens para executar seu trabalho, sendo que as relações entre as organizações e os indivíduos se transformam e mudam de acordo com as expectativas individuais e cobranças da sociedade. Diante do exposto, pode-se perceber que nessa relação ocorre a construção da identidade do sujeito, pois há influência marcante do trabalho enquanto meio que permite reconhecer, manter ou modificar as identidades até então formadas (LUNA, BAPTISTA, 2001). Como reforçado por Luna e Baptista 21 (2001), a identidade dos sujeitos é construída a partir de suas relações com o mundo, e considerando as oito horas trabalhadas pelas colaboradoras nesta Cooperativa de Crédito, é possível compreender a construção de uma representação de si (delas mesmas) e também das demais pessoas com quem trabalham e convivem. Mészaros (1995 apud ANTUNES, 1999) destaca que os seres humanos são parte da natureza, necessitam realizar intercâmbio com a mesma para assim, suprir suas necessidades, uma vez que são regulados por um comportamento instintivo. Muitas vezes o desejo de obter algo pode se relacionar com uma necessidade ou até mesmo carência do sujeito. Deste modo, os sujeitos desenvolvem seus sentidos, capacidades e necessidades através do intercâmbio contínuo com a natureza e suas mediações. E assim, o sentido do trabalho é um aspecto complexo e dinâmico, que está interligado com influências tanto intrínsecas (necessidades, desejos) como extrínsecas (mediação familiar, sociedade). Codo (2006) destaca que os prazeres do trabalho, são sempre preenchidos de significado, assim como comer, por raiva, afeto, prestígio dentre outros motivos. O autor indica que cada caso é um caso, e cada trabalhador é um trabalhador, com interesses singulares. Percebe-se que o trabalho além de promover o prazer é também capaz de promover o sofrimento, mas este último pode ser resolvido através de estratégias, como intervenções nas condições de trabalho, bem como treinamentos. Para o autor, é válido repensar o trabalho além das definições expostas, como esforço humano, capaz de ser físico mental ou emocional, mas como um processo contínuo de mudanças, essencial a vida humana. 22 2.2 GRUPOS E EQUIPES NO TRABALHO O convívio social pressupõe a interação entre sujeitos, entra-se em contato com as pessoas em diversos contextos, começando pela família, na qual nos relacionamos com pais, irmãos, avós, tios, dentre outros. Zanelli, Borges- Andrade e Bastos (2004) destacam que a vida das pessoas é grupal, em cada local há grupos que assumem características diferenciadas de acordo com o seu funcionamento e o objetivo a ser alcançado. Este grupo se torna uma referência e passa a desempenhar um papel normativo no comportamento do indivíduo. (ZANELLI, BORGES-ANDRADE, BASTOS, 2004, p.358). O grupo então funciona para o homem como uma configuração social, uma vez que interage entre o social e individual, o grupo influencia como o sujeito deve se comportar numa festa, igreja, escola ou organização por exemplo. Por mais que se reflita a individualidade, o grupo de referência ao qual se pertence faz com que o sujeito sinta-se apoiado quanto aos seus comportamentos. Lapassade (1989) acrescenta que os grupos são os produtos da divisão do trabalho, e cada sujeito compõe um papel, uma forma de interagir com este grupo de trabalho. Segundo Moscovici (2001), o conhecimento mútuo e a identificação de aspectos servirão de alicerce para a elaboração de normas coletivas, tácitas e explicitas que constituem a dinâmica de um grupo. Para entendermos grupos e equipes é necessário conhecer como se constituem, pois existem semelhanças entre ambos. O funcionamento do grupo exige: objetivos, motivação, comunicação, processo decisório, relacionamento, liderança e inovação. (MOSCOVICI, 2002). A equipe também é composta por estes componentes, portanto equipe é um grupo, porém na equipe estes componentes funcionam de forma qualificada como aponta Moscovici (2010. p.5) “existe compreensão dos objetivos por parte dos membros, gerando desempenho e responsabilidade compartilhada, a comunicação é verdadeira e as habilidades são complementares.” Além disso, existe um processo de compreensão e avaliação da dinâmica de funcionamento destes elementos. Neste sentido a linha que diferencia grupo e equipe é tênue, tendo em vista que ambos possuem componentes similares. Então como ocorre essa transformação de grupo em equipe? Para Moscovici (2010, p.5) “um grupo transforma-se em equipe quando passa a prestar atenção a sua própria forma de 23 operar e procura resolver os problemas que afetam seu funcionamento.” Este processo de transformação não é tão simples quanto parece, principalmente quando ele ocorre em um ambiente organizacional. Em muitas organizações ele não ocorre, até porque os membros de uma equipe precisam ser treinados e motivados para lidar com as forças e fraquezas dos mesmos. A dificuldade de transformar grupos em equipes nas organizações reside na lógica de funcionamento deste local, e na influência do contexto social, que valoriza a individualidade, desempenho, crescimentoe realização pessoal individualizado. Neste sentido, Moscovici (2010, p.22) afirma que “equipes podem ser uma ameaça na dinâmica organizacional”, ocorrendo uma dificuldade de cumprir seus critérios neste ambiente, pois estes “promovem mudanças profundas na dinâmica interpessoal, nos procedimentos de tarefa, no exercício do poder dos líderes formais, na comunicação, no processo decisório dentre outros.” Nem todas as organizações estão dispostas a esta mudança, pois modifica-se um modo de fazer já instituído. Zanelli (2004) destaca que podem ser encontradas definições divergentes sobre equipe, dependendo dos autores. Esse trabalho compreende que equipe é um grupo que inclui seus objetivos e está implicado em conseguir algo de forma compartilhada, visando sempre o desempenho dos demais e as responsabilidades para a execução das tarefas coletivas. Moscovici (2002, p.15) ressalta que desenvolver uma equipe é ajudar o grupo a aprender e a institucionalizar um processo constante de auto-exame e avaliação das condições que dificultam seu funcionamento efetivo. Transformar um grupo em equipe não é algo simples, faz-se necessário que a mudança inicialmente ocorra na organização, para que possa haver uma sensibilização dos sujeitos no que diz respeito à valorização do desempenho individual e coletivo. No processo de transformação de um grupo faz-se necessário compreender o papel que cada membro ocupa e como o mesmo funciona. Os papéis ocupados pelos membros do grupo podem dificultar ou facilitar a transformação do grupo em equipe. Desde modo, a autora propõe a criação do desenvolvimento de equipe, ou seja, programa educacional para mudar as concepções individuais de trabalho para uma lógica de trabalho coletivo, com a proposta dos colaboradores se unirem para alcançar bons resultados. 24 Embora a adoção do trabalho em equipe possa trazer benefícios para a organização, “segundo alguns especialistas, como incrementar a qualidade e a produtividade, baixar custos e gerar satisfação” (MOSCOVICI, 2010, p.21), em muitos casos ela não parece ser a melhor alternativa para a resolução destes problemas. Moscovici (2010, p.20) aponta que “a falta de apoio por parte da gerência, a falta de habilidades por parte dos membros e a desconfiança dos demais trabalhadores podem levar a frustração, perda de energia, auto-conceito negativo, sentimentos de desamparo, desencorajamento e desagregação.” Diante do exposto estes aspectos podem trazer prejuízos, tanto financeiro quanto psicológico. Demonstrando que a transformação do grupo em equipe é um processo delicado, e demanda tempo e comprometimento da organização, o que nem sempre é possível. O desempenho do indivíduo dentro da empresa está ligado à equipe de trabalho, como eles se agrupam, grau de afinidades, tarefas desenvolvidas e objetivos. Um grupo apresenta coesão quando consegue que seus membros encontrem uma forma de seguir as regras estabelecidas pela organização. Os membros do grupo poderão reagir de maneiras distintas devido a mudanças no dia a dia, resistências ou outros fatores. Quanto mais coeso é um grupo, mais poder ele exerce sobre os demais e maior é a resistência interna às mudanças no próprio grupo (ZANELLI; BORGES; ANDRADE; BASTOS, 2004). Vale enfatizar, diante da coesão, o quanto o grupo influencia significativamente nas decisões e opiniões do sujeito. Spector (2003) indica quatro conceitos importantes para compreender grupos e equipes, são eles: papéis, regras, coesão do grupo e perda no processo. Os sujeitos que fazem parte de grupos ou equipes exercem papéis, papéis formais que são estabelecidos pela organização e os papéis informais que surgem na interação (SPECTOR, 2003). De acordo com a especialização dos papéis do grupo os membros podem trocá-los ou até alterar suas responsabilidades. As normas são as “regras do jogo” no que diz respeito aos comportamentos dos membros do grupo na organização. Spector (2003) aponta que para ser um membro aceito no grupo o mesmo deve se ajustar as normas. Outro conceito importante é a coesão do grupo, considerada a soma das forças que torna os membros do grupo mais unidos. “A coesão, por outro lado, está relacionado à satisfação no trabalho dentro do grupo” (SPECTOR, 2003, p. 314). Quanto à perda no processo, indica todo o tempo e esforço implicados nas 25 atividades que não se relacionam diretamente com o objetivo da organização, como as atividades listadas na descrição de cargos. O autor destaca que a perda no processo pode ter relação com a ineficiência do grupo. Como exemplos as paradas no trabalho para realizar refeições, comemorar datas ou reuniões que promovam o contato entre os membros beneficiam a manutenção e coesão do grupo. No processo de transformação de grupo há necessidade de compreender o estágio desse grupo, o papel que cada membro ocupa e como o mesmo funciona para assim traçar um plano de ação. O processo de mudança se dá quando os sujeitos encaram as situações de conflito com olhar para a resolução dos problemas. Deve- se atentar ao funcionamento do grupo atreladas as regras, coesão e papéis, bem como: objetivos, motivação, comunicação, processo decisório, relacionamento, liderança e inovação (MOSCOVICI, 2002). Diante do exposto considera-se relevante pesquisar sobre grupos e equipes de trabalho, tendo em vista que o convívio social pressupõe a interação entre sujeitos. Torna-se um desafio trabalhar grupos ou equipes, pois cada sujeito traz consigo suas particularidades e assim cada grupo se configura de uma forma singular, faz-se pertinente trabalhar o funcionamento do grupo, além de beneficiar a organização, compreender qual a percepção dos colaboradores sobre a satisfação, desenvolver habilidades dos membros e favorecer sentimentos de cooperação entre os mesmos. 2.2.1 Relacionamento interpessoal no trabalho É indispensável compreender as relações interpessoais, tendo em vista que elas não funcionam como algo mecânico, a interação das relações afeta não só o funcionamento individual, mas também o do grupo, da organização e da sociedade. “O calcanhar-de-aquiles da administração científica moderna está em sua dificuldade de reconhecer os componentes não-racionais, com tudo aquilo que não é resolvido pela tecnologia das máquinas” (MOSCOVICI, 2001, p.43). Deste modo, estudar relacionamento interpessoal pode contribuir para uma gestão mais eficiente nas organizações. Ventorini (2008) afirma que apesar da investigação das relações interpessoais serem incluídas na Psicologia Social, a área tem recebido contribuições de mais disciplinas distintas, como exemplo a Sociologia e a 26 Antropologia. São recentes os estudos sobre o relacionamento interpessoal: a maioria das publicações foram produzidas nos últimos 30 anos (VENTORINI, 2008). Considerando que cada sujeito possui suas necessidades, interesses, é válido questionar qual o melhor modelo de relacionamento interpessoal no trabalho. Uma gestão participativa que oportuniza a democracia no trabalho pode considerar relações interpessoais de coesão, cooperação, harmonia no grupo. Os aspectos de interação tendem a facilitar as atividades em grupo, a produtividade e também a qualidade da mesma (MOSCOVICI, 2001). Em contrapartida, quanto mais coeso é um grupo, mais poder ele exerce sobre os demais e maior é a resistência interna às mudanças no próprio grupo (ZANELLI, BORGES-ANDRADE. BASTOS, 2004). Neste sentido um grupo coeso pode coibir uma mudança mesmo sendo ela favorável. Ventorini (2008) destaca que a colaboração entre os membros do grupo de trabalho, seja relacionada a habilidades, ou conhecimentos diferentes, permite resultados benéficos para os sujeitos e também para a organização. Em contrapartida, as diferenças pessoais, atreladas ao comportamento, cultura, interesses, dentre outros aspectos, podem dificultara comunicação, a percepção adequada do outro, além de gerar conflitos de opiniões. Similaridades e diferenças pessoais podem ter efeitos, positivos ou negativos, no relacionamento interpessoal e na vida da organização. As similaridades podem se referir ao comportamento, à personalidade, às percepções (do mundo e dos relacionamentos), às habilidades, aos cargos ocupados e às atividades desempenhadas. Tais semelhanças facilitam a comunicação, melhoram os resultados do trabalho em equipe, possibilitam uma melhor percepção do outro, diminuem os conflitos de opinião e aumentam a satisfação com o relacionamento. Por outro lado, similaridades de objetivos profissionais, por exemplo, podem gerar competição por recursos, cargos, posições, reconhecimento ou status, ou conflitos quanto à distribuição de poder. (VENTORINI, 2008, p. 123). Moscovici (2001) enfatiza que o comportamento humano desafia a compreensão por ser complexo, resultado da inter-relação de variáveis tanto internas como externas. A autora pontua que desde a infância os sujeitos são treinados a seguir normas de conduta da sua rede de relacionamentos, bem como pais, professores, chefias, dentre outros. Moscovici (2001) defende que quanto maior o vínculo afetivo com outro sujeito com o qual se relaciona, maior a motivação para atender às expectativas do mesmo. Ou seja, a identificação com o membro do grupo de trabalho, é proporcional a sua motivação para tecer essa relação. Neste 27 sentido, as variáveis externas de punições ou recompensas podem influenciar diretamente no comportamento e também o relacionamento interpessoal dos sujeitos. Os contextos nos quais os sujeitos se inserem envolvem relações de afetividade e poder. Há hierarquias nas organizações, assim como na família, na educação e demais instituições, cada qual com seus critérios. Moscovici (2001) pontua que o clima de respeito, harmonia e cooperação no trabalho depende também do relacionamento interpessoal entre o líder e os membros do grupo. Tendo em vista aspectos da organização, Schein (1982, p.12) observa: Uma organização é a coordenação planejada das atividades de uma série de pessoas para a consecução de algum propósito ou objetivo comum, explicito, através da divisão de trabalho e função e através de uma hierarquia de autoridade e responsabilidade. Mesmo contendo afetividade na relação de trabalho pode haver conflitos, opiniões e comportamentos divergentes entre os membros da equipe de trabalho nas organizações. Os conflitos afetam o bem-estar e a satisfação dos sujeitos. Embora o conflito seja visto como algo ruim, o mesmo pode ter efeitos construtivos, como o fortalecimento da confiança entre os membros, que se respeitam diante de suas diferenças. O conflito pode tornar-se construtivo ou destrutivo e isso implicará nas características tanto individuais como da relação. Ventorini (2008) apresenta que o fracasso no enfrentamento dos conflitos, pode ser uma causa constante de insatisfação no relacionamento, possibilitando o enfraquecimento de laços afetivos, a perda de confiança e também percepção distorcida do membro do grupo de trabalho. Ventorini (2008) afirma que o poder é como uma propriedade do relacionamento interpessoal, sendo que o poder, em um relacionamento, raramente é absoluto: é limitado pela habilidade dos membros, e envolve a influência de um sujeito sobre as ações do outro. A autora acrescenta que cada membro do grupo de trabalho detém o poder em determinados contextos, conforme suas características individuais, seja este, poder de informação, conhecimentos, habilidades, dentre outros. Mas se o comportamento humano não é algo mecânico e depende de variáveis não há como prever o melhor modelo de relacionamento, porque cada grupo possui sua configuração e especificidades. Neste contexto por mais que a 28 eficiência de um grupo de trabalho dependa de diferentes fatores, o fator que se destaca é a solidariedade das relações interpessoais. 29 3 MÉTODO Um dos aspectos que diferencia os demais conhecimentos do conhecimento científico é a verificabilidade dos fatos (GIL, 1999). Neste sentido esta pesquisa baseia-se num método, que direciona o caminho metodológico percorrido para alcançar os seus objetivos. O caráter científico da pesquisa é proporcionado pelos procedimentos metodológicos, e estes foram orientados e garantidos pelos princípios éticos, sendo submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da UNISUL. Marconi e Lakatos (2003, p.83) nas seguintes palavras: [...] o método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. Nos próximos subtítulos será apresentado o caminho metodológico que foi empregado na presente pesquisa. 3.1 TIPO DE PESQUISA Com a finalidade de responder ao objetivo geral, a presente pesquisa foi efetuada em caráter exploratório, como fim proporcionar uma visão geral acerca do que se pesquisa (GIL, 2002). E caracterizada como qualitativa, com o intuito de caracterizar a influência do relacionamento interpessoal sobre a satisfação no trabalho de colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito. Portanto é possível dizer que a pesquisa qualitativa se relaciona com um universo de significados, valores, crenças, costumes, atitudes, correlacionados as percepções dos sujeitos pesquisados acerca da situação ou problemas tendo o entendimento para interpretar os dados propriamente ditos, tendo o foco no olhar do sujeito, para garantir confiabilidade nos resultados. O pesquisador envolve-se diretamente analisando as informações coletadas sem a preocupação de generalizações para a totalidade dos sujeitos envolvidos (BAPTISTA, 2000). Quanto ao corte, a pesquisa é transversal, pois desejou estudar o fenômeno num momento determinado. Em relação ao delineamento, a pesquisa se caracteriza por ser um estudo de caso, considerado a forma mais adequada para 30 alcançar dados mais concretos a partir das falas das colaboradoras da Cooperativa de Crédito. Gil (1999) caracteriza-o como um estudo profundo de objetos que pode propiciar o conhecimento amplo e detalhado comparando com os outros tipos de delineamentos. Neste sentido o estudo de caso pode explorar situações da vida real quando os limites não estão tão claros. Sendo capaz de descrever o contexto da influência do relacionamento interpessoal sobre a satisfação no trabalho de colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito. 3.2 LOCAL E PARTICIPANTES O local escolhido para a pesquisa foi uma Cooperativa de Crédito, localizada em Florianópolis. Existem Cooperativas de Crédito nos mais variados setores, como: transporte, turismo, educação, mineração, trabalho, consumo, habitacional dentre outros. A pesquisa em questão aconteceu em uma das Cooperativas de Crédito do sistema Cecred, tendo como o critério de escolha a Cooperativa na qual a pesquisadora obteve relatos positivos sobre os relacionamentos interpessoais entre o grupo de trabalho. Este sistema é composto por quinze Cooperativas singulares, presentes em Santa Catarina e Paraná e uma Cooperativa Central sediada em Blumenau - Santa Catarina. O critério estabelecido para selecionar as colaboradoras foi a disponibilidade para contribuir com a pesquisa com o intuito de caracterizar as influências dos relacionamentos interpessoais sobre a satisfação no trabalho. Houve o cuidado para que a gerente geral não participasse do grupo focal, devido a sua posição hierárquica de liderança, que poderia impactar na coleta de dados. A pesquisadora iniciou o contato com a gerente geral que apresentou a estrutura física, alguns documentos de comunicação interna e foi possível compreender algumas características dacultura da Cooperativa de Crédito que não estavam documentadas. Posteriormente a isso houve divulgação, na qual a pesquisadora se apresentou para os colaboradores, esclarecendo o critério de seleção quanto à participação do grupo focal, com o intuito de motivá-los a colaborar com a pesquisa científica. Na Cooperativa de Crédito escolhida existem seis filiais distribuídas no estado de Santa Catarina totalizando trinta e cinco colaboradores, foram convidados 31 onze colaboradores de uma unidade, ou seja, todos colaboradores do local exceto a gerente geral para participar como voluntários em quatro encontros de grupo focal. Participaram desta pesquisa sete colaboradoras que trabalhavam na sede da Grande Florianópolis, devido ao número expressivo de mulheres que compõe o quadro de colaboradores. As sete participantes do grupo focal exerciam os seguintes cargos: Operador de negócios e caixa, Auxiliar Administrativo, Assistente Administrativo e Coordenador. Com faixa etária de 20 a 31 anos, grande maioria cursando nível superior e trabalhando na Cooperativa de Crédito no período de quatro meses a quatro anos. 3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS A fim de coletar os dados para esta pesquisa inicialmente foi realizado o contato com a gerente geral para conhecer características da Cooperativa de Crédito que não estavam documentadas. A coleta de dados foi possível através do grupo focal. Como o interesse da pesquisa consiste em caracterizar a influência do relacionamento interpessoal sobre a satisfação no trabalho de colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito, optou-se por realizar grupo focal, por ser uma técnica de coleta de dados capaz de facilitar o processo de discussão entre os membros de um grupo, possibilitando assim que o grupo discutisse suas visões e valores a respeito da realidade na qual estão inseridas como colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito. O grupo focal foi proposto com duração de uma hora cada encontro, dentro do horário de trabalho para que não houvesse evasão no decorrer deste. Sendo combinado o horário de menor fluxo de atividades, como segunda-feira no primeiro horário de trabalho as 08h30 para não impactar na rotina de trabalho. Em síntese, pode-se dizer que o grupo focal é uma técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas, apropriada para avaliação de produtos e serviços; pré-testes de embalagens, mensagens e programas promocionais; identificação de necessidades e expectativas de grupos minoritários ou de parcelas do público alvo; avaliação de usabilidade de interfaces; definição de novos requisitos de produtos e serviços; geração de novos conceitos e idéias; e entendimento de motivações (DIAS, 2000, p.10). Diante do exposto pode-se compreender que as intervenções de grupo focal são pontuais, esclarecedoras das opiniões emitidas e favorecem a conclusão 32 dos tópicos de discussão, como os aspectos pertinentes a pesquisa: relacionamento interpessoal e satisfação no trabalho. Romero (2000) destaca a importância de filmar ou gravar o grupo focal, pois facilita a observação, a análise e também o relato das informações. O autor acrescenta que através do recorte das falas dos participantes, é possível identificar discursos, comportamentos e outras formas de comunicação não-verbal. A cada encontro do grupo focal foi utilizada a técnica com frases para completar apresentada originalmente por Rodolfo Bohoslavsky (APÊNDICE A e B) e adaptada pela pesquisadora de acordo com os objetivos da pesquisa, com intuito de promover a participação de todas as participantes de forma dinâmica e realizar a coleta de dados. Baptista (2000) pontua que o uso de instrumentos técnicos é imprescindível, pois os mesmos viabilizam o desenvolvimento do trabalho. O instrumento de coleta de dados foi elaborado para promover a discussão de um grupo com sete colaboradoras, com o intuito de revelar as percepções delas a respeito das características entre relacionamento interpessoal e satisfação no trabalho em uma Cooperativa de Crédito, considerando o objetivo e o perfil das participantes pesquisadas. A partir da criação do instrumento houve o interesse da pesquisadora em compreender inicialmente qual o sentido do trabalho para depois identificar a satisfação profissional das colaboradoras, deste modo houve a inclusão do seguinte objetivo específico: a) Verificar o sentido do trabalho atribuído por colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito. Já o objetivo específico “c” foi aperfeiçoado devido à influência das discussões no grupo focal, ao invés de descrever as percepções acerca dos relacionamentos interpessoais nos aspectos de coesão e papéis, foi alterado para: c) Descrever as percepções de colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito acerca de seus relacionamentos interpessoais, nos seguintes aspectos: liderança, comunicação, autonomia e decisões. Foram problematizados no grupo focal os temas relacionamento interpessoal e satisfação no trabalho, tendo em vista a especificidade do mesmo, através da técnica com frases para completar pôde-se estimular as discussões nos três encontros. Na consigna do primeiro encontro cada participante escolhia aleatoriamente qual sentença a “outra participante” iria responder e de maneira espontânea era apresentada e discutida a percepção sobre sentido e satisfação no trabalho, essa decisão foi tomada pelo fato de serem questões mais individuais. No segundo e terceiro encontro foi proposto que todas as participantes interagissem, 33 expressando suas opiniões sobre cada frase para completar. No quarto encontro a pesquisadora estimulou a participação solicitando que as participantes avaliassem sobre o que havia sido discutido nos três encontros, trazendo exemplos. Embora as questões fossem abertas, sendo livres algumas das colaboradoras mesmo com estímulo da pesquisadora não se pronunciaram mais puderam discorrer numa folha em branco a respeito. Vale ressaltar que o instrumento foi um estímulo inicial para as discussões, conforme as colaboradoras se expressavam a pesquisadora solicitava exemplos e explorava as falas. Os dados foram coletados em quatro encontros conforme objetivos no Quadro 1. Quadro 1. Temáticas a serem desenvolvidas no grupo focal GRUPO FOCAL 1º ENCONTRO 2º ENCONTRO 3º ENCONTRO 4º ENCONTRO Apresentação, objetivos, estabelecer vínculo, rapport; Sentido do trabalho; Satisfação no trabalho; Relacionamento interpessoal; Relacionamento interpessoal; Comparar e avaliar as percepções sobre satisfação no trabalho e relacionamento interpessoal; ASPECTOS NORTEADORES Contrato para promover o sigilo; Apresentação da pesquisadora; Apresentação dos objetivos da pesquisa; Verificar o sentido do trabalho; O que significa satisfação no trabalho para cada membro do grupo; Quais aspectos no ambiente de trabalho que mais as satisfaz? E o que menos as satisfaz? Discutir a percepção sobre a satisfação no trabalho; Características do relacionamento interpessoal dos colaboradores na Cooperativa de crédito; Discutir a percepção de cada membro do grupo sobre relacionamento interpessoal nos seguintes aspectos: liderança, comunicação, autonomia e decisões. Características do relacionamento interpessoal dos colaboradores na Cooperativa de crédito; Ampliar a discussão sobre a percepção de cada membro do grupo sobre relacionamento nos seguintes aspectos: liderança, comunicação, autonomia e decisões. Discutir a percepção de cada membro do grupo sobre a influência do relacionamento interpessoal sobre a satisfação no trabalho; Fonte: Elaboração da autora, 2012. 34 Inicialmente foi apresentado às participantes o termo de consentimento livre e esclarecido, bem como orientações a respeito do processo de pesquisa eanálise de dados, ressaltando o sigilo desta pesquisa. Participaram do grupo focal colaboradoras de setores distintos. Foram discutidas as temáticas da pesquisa de acordo com os aspectos listados no Quadro 1. Utilizaram-se duas câmeras filmadoras em ângulos distintos e um gravador para facilitar a coleta de dados com o consentimento dos colaboradores pesquisados. Vale ressaltar que anterior à coleta de dados foi realizado um estudo piloto com três colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito com segmento distinto ao da Cooperativa de Crédito da coleta de dados, a fim de verificar se as questões propostas estavam adequadas para alcançar os objetivos da pesquisa, o que possibilitou alterar e avaliar em ampliações quanto à técnica de completar frases. 3.4 SITUAÇÃO E AMBIENTE O grupo focal foi organizado com as participantes em uma sala disponibilizada pela Cooperativa de Crédito. Este local foi apropriado e pôde propiciar os quatro encontros de grupo focal sem interrupções. Estavam presentes no local apenas a pesquisadora e as colaboradoras selecionadas conforme o critério disponibilidade para participar da pesquisa. No primeiro e terceiro encontro compareceram sete participantes, já no segundo e quarto compareceram seis, sendo que nestes, à ausência das participantes foi distinta. Foram posicionadas duas câmeras filmadoras, em ângulos diferentes da sala para propiciar segurança e revelar mais detalhes nas filmagens. Apenas um encontro não ocorreu na data prevista, pois duas participantes não estavam presentes e deste modo a pesquisadora reagendou conforme a disponibilidade das demais para semana seguinte os dois encontros. 3.5 PROCEDIMENTOS 3.5.1 De contato com os participantes 35 Ao submeter o projeto desta pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa da UNISUL, foi contatada a gerente geral e assistente administrativa da Cooperativa de Crédito da Grande Florianópolis sendo possível a autorização para proceder à seleção dos participantes para o grupo focal. Foram solicitados colaboradores voluntários para participar da pesquisa, para retratar elementos significativos e promover a discussão sobre a temática entre colaboradores, obtendo uma visão de setores distintos, com a intenção de obter resultados de modo global da Cooperativa de Crédito. Neste contato inicial foi possível esclarecer os objetivos da pesquisa e como a coleta de dados iria proceder. Por fim foi feito o convite para a participação da pesquisa, assim obtendo o contato via e-mail e telefônico da assistente administrativa com o retorno sobre as sete colaboradoras que manifestaram o interesse em colaborar no grupo focal. 3.5.2 De coleta de dados Após a apresentação da pesquisadora no primeiro grupo focal houve a explicação dos objetivos da pesquisa, na qual cada participante pode ler o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE B). Este termo considerou a autorização da filmagem e gravação de voz durante os quatro encontros de grupo focal, além do consentimento na utilização dessas informações para o desenvolvimento da análise da pesquisa. O TCLE também garante o sigilo da identidade das participantes e expressou que em caso de desistência, seria necessário comunicar a pesquisadora. Portanto, os quatro encontros, com o consentimento das participantes, foram filmados, gravados e posteriormente transcritos. A coleta de dados ocorreu em quatro encontros de uma hora, com todas as participantes, exceto no segundo e quarto encontro que houve ausência de uma colaboradora em cada. Os encontros ocorreram semanalmente, sendo o primeiro e segundo numa segunda-feira, o terceiro grupo numa terça-feira e o quarto e último numa sexta-feira, todos no início do expediente das 08h30 as 09h30. O ambiente foi adequado e propício para que as participantes expressassem suas opiniões acerca das temáticas, antes dos grupos iniciarem a gerente geral e algumas colaboradoras organizavam o café da manhã. 36 3.5.3 De organização, tratamento e análise dos dados Após a realização do grupo focal, os dados foram transcritos e categorizados. Gil (2002, p. 134) explica que “a categorização consiste na organização dos dados de forma que o pesquisador consiga tomar decisões e tirar conclusões a partir deles”. Os dados foram analisados a partir dos aspectos norteadores do tema; as influências dos relacionamentos interpessoais sobre a satisfação no trabalho, e discussões pertinentes que surgiram do grupo, para assim atender aos objetivos desta pesquisa. Considerando o grupo das sete colaboradoras pequeno, os dados foram analisados com o foco na dinâmica do grupo, até mesmo para favorecer o sigilo. A pesquisadora criou categorias a posteriori, no qual segundo Minayo (2002) são mais específicas e concretas. Houve uma organização a partir dos dados obtidos, permitindo a pré-análise, os agrupamentos de temas em comum das falas foram possíveis a partir de leituras pertinentes dos dados coletados. Deste modo foram definidos os indicadores para interpretação de resultados. Após a conclusão da fase de pré-análise, foi realizado o processo de articulação de conteúdos semelhantes resultando na formação das categorias de análise e tratamento dos dados, a partir de comparações entre eles. Vale destacar que não foi observada a individualidade, ou seja, a verticalidade do grupo e sim a horizontalidade o grupo em si de acordo com as ocorrências das falas. 37 4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS Com a finalidade de responder ao objetivo geral desta pesquisa, qual seja, caracterizar a influência do relacionamento interpessoal sobre a satisfação no trabalho de colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito serão descritos e analisados os dados obtidos por meio das discussões nos quatro encontros do grupo focal. Reitero os objetivos específicos: a) Verificar o sentido do trabalho atribuído por colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito; b) Caracterizar os relacionamentos interpessoais de colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito; c) Descrever as percepções de colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito acerca de seus relacionamentos interpessoais, nos seguintes aspectos: liderança, comunicação, autonomia, decisões; d) Identificar a satisfação profissional de colaboradoras em uma Cooperativa de Crédito. Os resultados foram organizados em quadros, e serão apresentados a seguir juntamente com a interpretação dos mesmos, sendo elaborados quadros com categorias, eventualmente serão apresentadas subcategorias 1 e subcategorias 2 e as falas das participantes do grupo. Vale ressaltar que determinadas falas serão discutidas, mas não constaram nos quadros. 4.1 O SENTIDO DO TRABALHO ATRIBUÍDO POR COLABORADORAS Os dados apresentados a seguir, estão baseados nas discussões realizadas nos encontros e na técnica das frases para completar propostas no primeiro encontro. As frases utilizadas foram: “O trabalho é para mim...”; “Quando penso no trabalho...”; “O mais importante no meu trabalho...”; “Trabalhando me sinto...”. 38 Quadro 1. O sentido do trabalho atribuído por colaboradoras de uma Cooperativa de Crédito. CATEGORIA SENTIDO DO TRABALHO SUBCATEGORIA 1 SUBCATEGORIA 2 UCE Responsabilidade “Quando penso em trabalho penso em responsabilidade, do cargo, horário” “Importante porque é possível ter responsabilidade” Satisfação Papel que exerce “Satisfação no que eu faço, motivada” “Satisfação no que eu faço” “Satisfeita, útil” “Útil, realizada, parte de alguma coisa, me sinto feliz” “O mais importante no meu trabalho é ter certeza, segurança do que estou fazendo para transmitir de maneira correta a informação” “Gosto do que faço, de resolver problemas no setor, manter a equipe reunida e motivada” Relacionamento com os colegas
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