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Programa da Prática Médica Caso SI 2 I. Compreender o exame físico das mamas Anatomia das Mamas A mama é um órgão glandular que está repousado sobre os mm. peitorais na altura de 3º e 4º espaço intercostal cuja principal função é a secreção de leite. A mama é limitada medialmente pelo esterno, lateralmente pela linha axilar média, superiormente pela segunda costela e inferiormente pela sexta costela. A mama é formada por pele, tecido adiposo e a glândula mamária (parênquima associado a tecido fibroadiposo). Na pele existe a aréola e a papila, onde se abrem de 15 a 20 ductos lactíferos vindos dos lobos, que são conjuntos de lóbulos (formados por conjuntos de ácinos mamários). As mamas variam de acordo com a idade, dependem do período do ciclo menstrual e ainda sofrem transformações tanto na gravidez quanto na menopausa. Toda a linfa da mama é drenada para os linfonodos axilares, por isso é importante avaliar esse grupo linfático no exame da mama, uma vez que processos inflamatórios e neoplásicos comprometem os linfonodos também. Na clínica, é comum dividir a mama em quatro quadrantes por meio de duas linhas perpendiculares que se cruzam na papila. Existem dois quadrantes superiores (um interno e um externo) e dois quadrantes inferiores (um interno e um externo). Na descrição de achados semiológicos pode-se usar a aréola como ponto de referência. Anamnese Na anamnese de pacientes com queixas sobre as mamas, é importante se atentar a alguns fatores. Quanto aos antecedentes pessoais, é importante conhecer o momento de telarca (início do desenvolvimento das mamas) e da menarca, sendo que esse último corresponde ao início de um desenvolvimento mais marcante das mamas. Geralmente, a telarca ocorre por volta dos 8 anos enquanto a menarca por volta dos 12. Antecedentes familiares de doenças mamárias, principalmente câncer de mama, chamam a atenção. Paridade e lactação também são dois pontos importantes para se avaliar na anamnese. Mulheres nuligestas (nunca tiveram filhos), primíparas idosas (primeiro filho após os 35 anos) e multíparas apresentam maior risco de desenvolver um câncer. Cirurgias prévias de mama como biópsia e drenagem de abscessos são relevantes. *Se atentar quando a paciente chega com a queixa de surgimento de nódulo após traumatismo, pois na grande maioria das vezes essa relação não existe. O nódulo provavelmente já existia e a paciente só voltou sua atenção para ele graças ao trauma Sinais e Sintomas Os principais sintomas de doenças de mama são o nódulo mamário, dor e a secreção papilar (também chamada de derrame papilar, será descrita na questão 3). Quanto ao nódulo (pode ser chamado de caroço pela paciente), deve- se descrever a localização, forma de crescimento, modificação de acordo com o ciclo menstrual, consistência, mobilidade e sensibilidade. Quanto a dor, geralmente é referida como periódica e associada a movimentos do tórax e membros superiores. Exame Físico das Mamas O exame físico possui quatro etapas: inspeção (estática e dinâmica), palpação, expressão papilar e palpação de linfonodos axilares e supraclaviculares. Inspeção Com a paciente sentada e membros pendidos paralelamente ao tronco, observe a pele da mama, seu volume, contorno, forma, simetria, circulação venosa, presença de abaulamentos, nódulos, edema, rubor ou retrações. Com a paciente agora com braços acima da cabeça, busque novamente retrações e assimetrias. Observe a presença do sinal casca de laranja (poros muito dilatados na pele) que é um sinal importante de algumas patologias. Na papila, avalie a presença de retração, desvio, ulceração e eritema, já na aréola avalie a cor, busque abaulamento, retração, edema e perda de continuidade. Pode pedir a paciente que contraia os mm. peitorais maiores para avaliar a mobilidade das mamas (diminuída em cânceres) e buscar tumores não identificados. *Assimetria geralmente é normal na puberdade ‘ . Palpação Com a paciente deitada, mãos atrás da cabeça e braços bem abertos, palpe delicadamente e dedilhando (palpação do tipo bloodgood) a partir da região sub-areolar e indo até a região paraesternal, infraclavicular e axilar. Avalie o volume do tecido subcutâneo (pode estar diminuído em inflamações ou neoplasias), volume do parênquima mamário, elasticidade da papila e a temperatura da pele. Busque a presença de derrame papilar. Alterações identificadas na inspeção devem ser melhor avaliadas durante a palpação. *A consistência da mama é mais macia quando há mais tecido adiposo e mais firme e ligeiramente irregular quando há mais tecido glandular. As duas principais alterações do parênquima mamário são as áreas de condensação e os nódulos. As áreas de condensação são áreas mais firmes do parênquima. Essa condensação pode ser uniforme ou eriçada (como na displasia mamária benigna). O nódulo, também chamado de massa palpável, possui algumas características semiológicas Os limites do nódulo benigno geralmente são bem definidos, enquanto do maligno não. A consistência do nódulo benigno é firme ou elástica, do maligno é dura. A mobilidade do nódulo benigno é ampla (assim como da mama em que ele se encontra), enquanto no maligno ela não existe ou está muito diminuída. O diâmetro é importante para avaliar a evolução da neoplasia. Expressão Papilar Após a palpação, pressione a área da aréola e a papila. Caso haja derrame papilar, submeta ele a exame citológico. Toda a descrição dos derrames papilares será feita na questão 3. Palpação de Linfonodos Axilares e Supraclaviculares Sendo a última etapa do exame físico das mamas, deve ser precedida de uma inspeção das axilas buscando erupções (podem ser causadas por desodorantes ou pela depilação), infecções de glândulas sudoríparas e pigmentação. Com a paciente sentada e de frente para o médico, deixe sua mão espalmada para a palpação (mão esquerda palpa os linfonodos do lado direito e vice-versa), onde se dedilha e desliza os dedos pelo oco axilar e áreas adjacentes, da mesma forma se palpa a região supraclavicular. Quanto a descrição semiológica dos linfonodos, deve-se descrever a localização, número, o maior diâmetro, consistência e a mobilidade. Linfonodos axilares aumentados indicam infecções de membro superior e câncer de mama. 2. Definir os termos: menarca, amenorreia, coitarca e galactorreia multiductal bilateral. Menarca A menarca é a primeira menstruação, que é um fato marcante da puberdade feminina que geralmente acontece aos 12,2 anos, mas pode surgir em condições normais entre os 9 e 16 anos. Condições como obesidade, fatores psicológicos, hereditariedade e estilo de vida podem interferir diretamente no momento da menarca. Amenorreia Amenorreia é a ausência de menstruação, e ela pode ser primária ou secundária. A amenorreia primária se refere ao atraso da menarca. Essa amenorreia é a ausência de menstruação do momento de início do desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários (como pelos e mamas) até os 14 anos, ou a falta de menstruação (independentemente do desenvolvimento de caracteres sexuais secundários) até os 16 anos. Geralmente, essa condição é rara e é fruto de alterações genéticas como a disgenesia gonadal. A amenorreia secundária é a ausência de menstruação por pelo menos 3 ciclos consecutivos em pacientes que já menstruaram alguma vez. Essa amenorreia tem três principais causas fisiológicas, a gravidez, a amenorreia puerperal e a menopausa. Quanto as causas patológicas, são comuns infecções ovarianas, síndrome do ovário policístico, doenças autoimunes e neoplasias. *A menopausa ideal acontece entre os 40 e 52 anos, sendo considerada prematura ou tardia quando fora desse período. Coitarca Coitarca nada mais é do que a primeira relação sexual. Um paciente dito “sem coitarca” é aquele que nunca teve uma relação sexual, enquanto um paciente “com coitarca” é aquele que já deu início à sua vida sexual. Galactorreia A galactorreia é a secreção de leite ou colostrofora do período grávido-puerperal, que pode acometer tanto mulheres quanto homens, podendo ser classificada como unilateral (quando ocorre somente em uma mama) ou bilateral (quando ocorre nas duas mamas). Além da classificação mencionada, a galactorreia pode ser uni ou multiductal dependendo de quantos ductos lactíferos ela envolver e, consequentemente, de quantas aberturas no mamilo envolver. *Colostro é o leite produzido até cerca de 4 dias pós-parto pela mulher. É o primeiro leite produzido para alimentar o bebê e com o tempo ele vai se tornando leite maduro. ‘ . Causas Distúrbios de hipófise, especialmente os tumores, podem causar aumento da secreção de prolactina (hormônio que induz a produção de leite e desenvolvimento das mamas) e com isso desencadear a galactorreia, que pode ter outras causas também, como estimulação das mamas por sucção, câncer de mama e uso de alguns medicamentos (galactorreia iatrogênica) como opióides e alguns antidepressivos. A galactorreia pode ser associada até à síndrome dos ovários policísticos, insuficiência renal e hipotireoidismo. Diagnóstico e Tratamento Para o diagnóstico, o médico deverá investigar os medicamentos que a paciente usa, realizar o exame físico das mamas em busca de um câncer, realizar dosagem de prolactina e ainda é recomendada a realização de uma tomografia computadorizada ou uma ressonância magnética para identificar tumores de hipófise. O tratamento tem como foco a doença de base que está causando a galactorreia, e se espera que tratando ela, a galactorreia também será resolvida. 3. Listar os tipos de derrame papilares e citar as diversas secreções. Derrame Papilar Derrame papilar é toda secreção mamária que não seja leite ou colostro no período gravídico-puerperal. O derrame pode ser patológico ou fisiológico quando for uma secreção de pouca quantidade, bilateral e multiductal após a contração das mamas. Deve-se questionar se ela começou após um aborto, questionar sobre o uso de medicamentos, se tem relação com o ciclo menstrual, se a paciente (ou familiares) tem histórico de amenorreia, se a paciente tem histórico de traumatismos ou cirurgias nas mamas. Quanto a descrição/ classificação do derrame, ela envolve vários aspectos. Primeiro, deve-se dizer se a secreção é provocada ou espontânea (chama mais atenção), depois se é bilateral ou unilateral (geralmente se associa a câncer), multiductal ou uniductal de acordo com a quantidade de ductos/ aberturas no mamilo envolver. É importante descrever também a quantidade de secreção, sendo quantidades grandes geralmente provocadas por doenças de mama, e a cor da secreção. Secreções leitosas e brancas geralmente caracterizam galactorreia, secreções purulentas se relacionam a infecções, secreções verdes ou coloridas se associam a ectasia ductal ou alterações fibrocísticas da mama, secreções sanguinolentas e serosas se relacionam a câncer. 4. Citar o método de dosagem e o valor de referência da prolactina, identificar quando há indicação para fazer ressonância magnética e intervenção cirúrgica. Listar os tratamentos possíveis em um prolactinoma. Dosagem Basal A dosagem basal corresponde ao nível sérico de um hormônio sem estímulos farmacológicos e geralmente em jejum matinal. As dosagens geralmente refletem a secreção de determinado hormônio nas últimas 24 horas. O exame é feito de forma bastante simples, retirando apenas uma amostra de sangue da pessoa para que determinadas taxas hormonais sejam analisadas. É importante que a paciente fique em repouso em uma sala escura por 30 minutos antes da realização do exame, pois o stress altera os níveis de PRL Prolactina A prolactina é o hormônio produzido progressivamente durante a gestação, principalmente no final dela, sendo que após o parto, por conta da queda na produção de estrógeno e progesterona, a prolactina tem seu efeito intensificado (uma vez que esses hormônios suprimem a ação da prolactina). Durante o período de amamentação, acontecerão picos de prolactina por estímulos diversos (como a sucção). As funções da prolactina são estimular a produção de leite (lactogênese) e o desenvolvimento mamário, especialmente os ductos lactíferos e alvéolos mamários. O leite produzido pelas células epiteliais dos alvéolos mamários sai delas por exocitose e vai se armazenando na luz dos alvéolos, onde fica até que um estímulo da ocitocina aconteça para ele ser ejetado. Valores de Referência Os valores de referência da prolactina variam muito de laboratório para laboratório. Em geral, o que se tem é: ●Homens: 2,1 a 19 ng/ml ●Mulheres: 2,83 a 20-30 ng/ml ●Gestantes: 5,3 a 215 ng/ml ●Mulheres na menopausa: 1,8 a 24 ng/ml *No HR, o VR é de 5 a 18 ng/ml, sendo que acima de 100 ng/ml a RM já é indicada Hiperprolactinemia A hiperprolactinemia é o aumento da prolactina circulante, cujos sintomas são galactorreia, alterações de ciclo menstrual, infertilidade, dores de cabeça e outros. A principal causa da hiperprolactinemia é o prolactinoma, que nada mais é que um tumor hipofisário. ‘ . Diagnóstico Em pacientes com sintomas de hiperprolactinemia, a avaliação sérica/ dosagem basal é indispensável para o diagnóstico. O valor encontrado será proporcional ao volume do tumor, indo de 50 a 300 ng/ml em tumores pequenos e de 200 a 5000 ng/ml em tumores maiores. Diante de um paciente com hiperprolactinemia identificada, após a exclusão de gravidez, amamentação, causas farmacológicas, hipotireoidismo primário, insuficiências renal e hepática, a realização de ressonância magnética da região selar é indicada. Uma lesão de até 1 cm de diâmetro é chamada de microprolactinoma, e lesões com mais de 1 cm de diâmetro são macroprolactinomas. Tratamento O tratamento do prolactinoma visa restaurar a fertilidade, parar a galactorreia e reduzir o tumor. O padrão ouro para esse tratamento é o uso de agonistas dopaminérgicos (como a cabergolina e bromocriptina), que vão realizar controle hormonal e reduzir o tumor. O tratamento cirúrgico feito por abordagem transesfenoidal é indicado para pacientes com compressão de quiasma óptico ou pacientes que não normalizaram seus níveis de prolactina com o tratamento com agonistas dopaminérgicos. Por fim, pode-se recorrer à radioterapia caso a cirurgia também não consiga controlar o tumor. Vale ressaltar que prolactinomas são os tumores mais radiorresistentes. 5. Descrever a avaliação pré-anestésica. Introdução A avaliação pré-anestésica é uma consulta feita com um anestesista antes dele passar por uma cirurgia eletiva. O médico explica o procedimento, avalia exames prévios e realiza exames específicos para que a melhor abordagem anestésica seja feita. A avaliação envolve três momentos, a anamnese, o exame físico e o momento de orientações ao paciente. O médico pode solicitar exames complementarem também, como ECG, RX de tórax, glicemia em jejum, eletrólitos, função renal, coagulograma, hemograma e outros. Anamnese É o momento de questionar doenças pré-existentes (como diabetes e hipertensão), alergias (principalmente medicamentosas), passado cirúrgico (deve-se detalhar o procedimento conhecendo a causa, intercorrências e o tipo de anestesia usada), uso de medicamentos e a existência de hipertermia maligna. Exame Físico É um exame complexo que avalia sistema cardiovascular, sistema respiratório e sistema endócrino. É realizada a classificação do estado físico do paciente segundo a ASA, a classificação de Mallampati, distância tireomentoniana e a avaliação da extensão cervical. Classificação segundo ASA Classificação de Mallampati É a classificação que vai de 1 a 4, e que permite deduzir a dificuldade da intubação do paciente. De frente para o paciente com a boca aberta, o médico avalia quais estruturas são visualizadas. ●Mallampati Classe 1: é possível visualizar o palato mole, istmo das fauces, úvula e os pilares amigdalianos. ●Mallampati Classe 2: é possível visualizar o palato mole, oistmo das fauces e a úvula. ●Mallampati Classe 3: é possível visualizar o palato mole e a base da úvula. ●Mallampati Classe 4: não é possível visualizar a úvula nem o palato mole. Avaliação das vias aéreas Deve-se observar vários fatores que predizem a dificuldade da ventilação e intubação. Dentre os fatores que dificultam a ventilação, pode citar a presença de barba, história de ronco ou apneia do sono, Mallampati 3 e 4, distância interincisivos menor que 3 cm, ausência de dentes e IMC maior que 26kg/ m2. Preditores de intubação difícil são Mallampati 3 e 4, distância interincisivos menor que 3 cm, distância tireo- mentoniana menor que 6 cm, retrognatismo ou prognatismo. ‘ . Orientações ao Paciente O médico, nesse momento, orienta o paciente sobre o período pré-operatório acerca de temas como jejum, interrupção do uso de algum medicamento, técnica de anestesia que será usada, analgesia pós-operatória, recomendações acerca do uso de próteses, acessórios, cosméticos e outras coisas no dia da operação. Deve-se proibir o consumo de álcool e tabaco por pelo menos 24 horas antes da cirurgia. *Desobedecer o jejum pode provocar regurgitação com aspiração de conteúdo gástrico Avaliação pré-anestésica para cirurgia de hipófise A única diferença dessa avaliação para a padrão é que uma inspeção maior das vias aéreas se faz necessária. Como a abordagem é transesfenoidal, é necessário inspecionar a cavidade nasal do paciente para avaliar possíveis fatores que dificultem a abordagem.
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