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Clínica Médica I Ambulatório de Reumatologia GOTA ❖ É uma condição clínica caracterizada pela deposição de cristais de monourato de sódio (ácido úrico) nos tecidos articulares e periarticulares. É uma doença de predomínio no sexo masculino. A hiperuricemia ocorre por redução a excreção renal ou aumento da síntese, além de poder ser desencadeada pelo jejum prolongado, consumo elevado de purinas e álcool. ❖ A manifestação aguda da gota ocorre com uma monoartrite (geralmente a 1ª articulação metatarso falangiana), após anos de hiperuricemia assintomática. Após a remissão do quadro agudo, deve-se instituir um tratamento de manutenção. Em caso de insucesso, tem-se o surgimento da gota crônica. QUADRO CLÍNICO DA GOTA AGUDA ✓ Dor intensa; ✓ Calor; ✓ Edema; ✓ Eritema; ✓ Maior intensidade de dor nas primeiras 8-12 horas; ✓ Febre, calafrios e mal-estar. QUADRO CLÍNICO DA GOTA CRÔNICA ✓ Poliartrite; ✓ Acometimento de partes moles; ✓ Formação de tofos; ✓ Erosões ósseas periarticulares. DIAGNÓSTICO ❖ A confirmação do diagnóstico (com punção articular) é feito mediante constatação dos cristais de urato fagocitados presentes no líquido sinovial. ❖ O diagnóstico presuntivo pode ser efetuado pela presença da tríade: hiperuricemia, artrite aguda monoarticular e resposta cínica gratificante ao tratamento com AINE. EXAMES COMPLEMENTARES ❖ Ácido úrico na urina 24h (observa-se hiper ou normouricemia na gota aguda); ❖ Investigar síndrome metabólica e possíveis causas da gota secundária: HMG, urina 1, função hepática, função renal, colesterol total e frações de glicemia. ❖ Raio-X: edema de partes moles na gota aguda e erosões na gota crônica. TRATAMENTO TRATAMENTO DA CRISE AGUDA ❖ Seu objetivo é eliminar a dor e a inflamação intensa, por meio de AINES (primeira linha), colchicina (segunda linha – pode causar fraqueza muscular e elevação da CPK) e glicocorticoides (alternativa para quem não pode usar AINE ou colchicina). TERAPIA DE MANUTENÇÃO ❖ Usa-se agentes redutores dos níveis de ácido úrico (hipouricemiantes), devendo-se aguardar a resolução completa do episódio agudo. Pode-se usar o Alopurinol 300mg/dia (inibe a síntese do ácido úrico), benzobromarona (aumenta a excreção de ácido úrico – contraindicada para pacientes com litíase renal ou IR) e febuxostase (inibe a síntese de ácido úrico). META: ácido úrico < 6 mg/dL. FIBROMIALGIA ❖ É uma síndrome dolorosa crônica de etiologia indefinida, mais comum em mulheres, causada por múltiplos mecanismos de sensibilização a dor no SNC, em manifestação de dor musculoesquelética generalizada, não inflamatória e presença de fadiga generalizada. QUADRO CLÍNICO ✓ Dor musculoesquelética (generalizada, crônica, queimação, persistente, moderada a forte, sensação subjetiva de edema e parestesia). ✓ Fadiga. ✓ Distúrbios do sono (sono não reparador) e humor. ✓ Excessiva sensibilidade à palpação dos tecidos moles (alodínia). Isso é mais bem determinado pela palpação de locais pré-definidos (tender points – os pacientes com fibromialgia possuem maior sensibilidades em qualquer local palpado, sendo que o paciente não apresenta contratura muscular, porém apresenta dor). EXAMES COMPLEMENTARES ❖ Não há exames laboratoriais específicos, apenas para diagnósticos diferenciais (Sd da dor miofascial, hipotireoidismo e retirada abrupta de corticoterapia). TRATAMENTO Tratamento não farmacológico: educação, atividade física, aeróbicos, psicoterapia e técnicas de relaxamento. ❖ Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina e nortriptilina). ❖ Miorrelaxantes (ciclobenzaprina). ❖ Antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina (fluoxetina, Paroxetina). ❖ Agentes neuromoduladores (pregabalina): age reduzindo a liberação da substância P. ❖ Analgésicos não opioides (dipirona e paracetamol) e opióides (codeína). LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO ❖ Consiste em uma colagenose de etiologia multifatorial e apresentando múltiplas anormalidades imunes, sendo predominante no sexo feminino. LÚPUS CUTÂNEO AGUDO ❖ Rash malar (30-60%): é uma lesão eritematosa e edematosa com forma semelhante a “asa de borboleta”, poupando o sulco nasolabial. Seu início é abrupto em decorrência, ou exacerbado, pela exposição solar (radiação). ❖ Fotossensibilidade: é uma erupção cutânea eritematosa após exposição a radiação solar, com predomínio nas áreas fotoexpostas (colo, face, antebraço). ❖ Lúpus bolhoso (10%): mais grave pois pode trazer infecções concomitantes. LÚPUS CUTÂNEO SUBAGUDO ❖ Papuloescamosas: lesões papulo-descamativas, sem relação com a exposição solar. ❖ Eritemaroanulares: possuem bordas eritematosas e centro esbranquiçado. LÚPUS CUTÂNEO CRÔNICO ❖ LE discóide (LED): pode ser localizado ou generalizado (não necessariamente está relacionada a doença sistêmica). São placas, às vezes eritematosas, cobertas por crostas que se estendem até os folículos pilosos, com uma cicatriz atrófica central (fibrose, lesão infiltrativa). A alopecia decorrente é irreversível. MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS ✓ Cutâneas: aftas orais, fenômeno de Raynauld. ✓ Musculoesqueléticas: artralgia e artrite. ✓ Renais: nefrite lúpica. ✓ Hematológicas: anemia hemolítica autoimune, pancitopenia. ✓ Cardíacas: pericardite, derrame pericárdico, miocardite. ✓ Pulmonares: pleurite, serosite, HAP. EXAMES LABORATORIAIS ✓ Hemograma: anemia, pancitopenia. ✓ Provas inflamatórias elevadas (PCR e VHS). ✓ Complemento reduzido. ✓ Urina I (proteinúria, hematúria e cilindrúria). ✓ Ureia e creatina elevadas. ✓ FAN positivo. ✓ Anti-DNA (nefrite lúpica). ✓ Anti-Sm: específico LES. ✓ Anti-Ro: lúpus cutâneo subagudo, Síndrome de Sjogren; ✓ Anti-La: associação negativa com a nefrite lúpica, Síndrome de Sjogren; CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO – SLICC ❖ O paciente deve apesentar nefrite lúpica comprovada por biópsia com FAN+ ou anti- DNA+. OU ❖ O paciente deve apresentar pelo menos 4 critérios abaixo (pelo menos 1 de cada coluna): TRATAMENTO ❖ Como medidas não farmacológicas, opta-se pelo apoio psicológico, dieta balanceada, protetor solar e atividade física diária. ❖ Antimaláricos: hidroxicloroquina ou difosfato de cloroquina. Medicação de manutenção. ❖ Corticoides: muito utilizados na fase aguda da doença. ❖ Imunossupressores: azatioprina (hematológica), metotrexato (articular), micofenolato (renal), ciclofosfamida (renal e SNC). São usados para facilitar a retirada da pulsoterapia, para que não haja reativação da doença. ❖ Para manifestações graves, usa-se pulsoterapia com metilprednisolona associada com ciclofosfamida. Após, deve-se fazer uma retirada gradual. ❖ Novas terapias: Anticorpo monoclonal (Belimumab – não é indicado para formas graves) e anti-CD20 (Rituximab – indicado para formas graves). ARTRITE REUMATOIDE ❖ É uma doença inflamatória sistêmica, crônica e progressiva, caracterizada por poliartrite simétrica, principalmente em mãos e punhos associada a rigidez matinal prolongada (inicia-se pela manhã e dura mais de 1 hora). Acompanha febre, fadiga, mal-estar, emagrecimento e mialgia. MANIFESTAÇÕES ARTICULARES ❖ Embora possa haver comprometimento de todas, as articulações predominantes são de mãos, pés e punhos, geralmente poupando as interfalangianas distais. Acompanha padrão simétrico, aditivo e com rigidez matinal prolongada. ❖ Alterações de mão: dedo em fuso, desvio ulnar dos dedos, dedo em pescoço de cisne, dedo em casa de botão, polegar em Z e atrofia interóssea. MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES ✓ Cutâneas: nódulos reumatóides, vasculites. ✓ Oculares: ceratoconjuntivite. ✓ Pulmonares: nódulos, fibrose e serosite. ✓ Cardíacas: IAM, derrame pericárdico e pericardite. ✓ Hematológicas: anemia. EXAMES LABORATORIAIS ❖ Hemograma (identifica-se anemia normo/normo e trombocitose); ❖ Provas inflamatórias (PCR, VHS); ❖ Fator reumatoide (presente, mas não específico); ❖ Anti-CCP (não específico). ❖ Raio-X: achados dependem da fase da doença. CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAÇÃO DE AR Acometimento articular Pontuação 1 articulação média-grande.0 2 a 10 articulações média-grandes. 1 1 a 3 articulações pequenas. 2 4 a 10 articulações pequenas. 3 > 10 articulações (ao menos 1 pequena) 5 Sorologia Pontuação Fator reumatoide e anti-CCP normais. 0 Pelo menos um teste positivo baixo. 2 Pelo menos um teste positivo alto. 3 Duração da sinovite Pontuação < 6 semanas 0 ≥ 6 semanas. 1 Reagentes de fase aguda Pontuação PCR e VHS normais. 0 PCR ou VHS anormais. 1 ❖ Os pacientes devem receber a pontuação apenas se pelo menos um resultado de teste sorológico e um resultado de reagente de fase aguda estiverem disponíveis. ❖ Pontuação ≥ 6 → AR definida. TRATAMENTO ❖ O esquema de tratamento para pacientes em crise, isto é, quando o paciente apresenta piora do quadro clínico + aumento do acometimento articular + piora das manifestações extra-articulares, deve ser baseado no uso de analgésicos, AINE’s e corticoides (isolados ou em conjunto). ❖ Após o controle da exacerbação (bem como na manutenção), o paciente deve fazer uso dos MMCD. Inicialmente, deve-se selecionar um MMCD sintético (MTX, hidroxicloroquina ou sulfassalazina). Se não houver melhora, adiciona-se outro MMCD sintético (terapia dupla). ❖ Se ainda assim a doença não for controlada com os MMCD sintéticos, associa-se um MMCD sintético com um MMCD biológico (preferencialmente anti-TNF – adalimumabe), nunca associando dois biológicos concomitantemente. Neste caso, se o primeiro MMCD biológico não obter resposta adequada, deve-se trocar por outro MMCD biológico (rituximabe ou tocilizumabe). ❖ Portanto, após essa última situação. O paciente estaria fazendo uso de 1 MMCD sintético + 1 MMCD biológico. ❖ O uso de Tofacitinibe é reservado para quando os biológicos não possuem resultado, portanto, a terapia neste cenário fica MMCD sintético (preferencialmente metotrexato) + Tofacitinibe OSTEOARTRITE ❖ São doenças de caráter degenerativo e inflamatório, mais comuns em mulheres. ❖ É uma doença em que a cartilagem normal do indivíduo, por mecanismos mecânicos/degenerativos, sofre alterações, gerando edema, microfissuras e erosões da superfície óssea em contato com a cartilagem. A OA é caracterizada por uma destruição gradual da parede articular, resultando em crescimentos ósseos (osteófitos) e inflamação sinovial crônica. QUADRO CLÍNICO ❖ Os principais sintomas são dor articular de caráter insidioso e progressivo, mecânica (piora com o esforço), rigidez matinal de curta duração (até 30 minutos). ❖ Seus sinais envolvem edema articular, limitação do movimento, fraqueza muscular periarticular, crepitações, nódulos de Heberden (distais) e de Bouchard (proximais) e derrame articular. EXAMES COMPLEMENTARES ❖ Pode-se solicitar provas inflamatórias como VHS e PCR, mas os exames são normais em sua maioria. ❖ Raio-X: útil para quantificar os danos articulares e ósseos, revelando diminuição do espaço articular, presença de osteófitos e anormalidades no osso subcondral. TRATAMENTO ❖ Não farmacológico: educação, hidroterapia, perda de peso, fisioterapia e terapia ocupacional. ❖ Agentes tópicos: capsaicina, AINE’s. ❖ Analgésicos: paracetamol e opiódes (para casos mais graves). ❖ Duloxetina: indicado para controle da dor. ❖ Drogas “condroprotetoras”: sulfato de glicosamina, difosfato de cloroquina, hidroxicloroquina, colágeno tipo II. ❖ Injeções intra-articulares: usa-se corticoides e ácido hialurônico (se não houver melhora com uso de AINE’s e analgésicos, necessitando de reaplicação constante). ❖ O tratamento cirúrgico é realizado quando não existe mais resposta terapêutica à dor, farmacológica ou não. São indicados uso de prótese, principalmente de quadril e de joelho. ESPONDILOARTRITES ❖ É um grupo de doenças caracterizadas por uma dor axial inflamatória (piora em repouso e melhora aos esforços físicos, pois não há comprometimento degenerativo), acompanhada de artrite periférica oligoarticular (até 4 articulações), entesite (inflamação do local de ligamento entre tendão/ligamento e osso), ausência de fator reumatoide, presença de HLA-B27. ❖ Os principais tipos são espondilite anquilosante, artrite psoriásica, artrite enteropática e artrite reativa. ESPONDILITE ANQUILOSANTE QUADRO CLÍNICO ✓ Dor lombar inflamatória (pois acomete mais articulações sacroilíacas e da coluna); ✓ Rigidez matinal > 30min; ✓ Redução da expansibilidade torácica; ✓ Rotação cervical reduzida; ✓ Redução da mobilidade axial; ✓ Poliartrite (preferência por grandes articulações); ✓ Entesite (inflamação de tendões e ligamentos); ✓ Dactilite (inflamação em articulações dos dedos). EXAMES COMPLEMENTARES ✓ HMG (anemia); ✓ Provas inflamatórias aumentadas; ✓ HLA-B27 positivo. ✓ Raio-X: esclerose de extremidades de vértebras, formação de sindesmófitos (podem formar anquilose). CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS ✓ Definido como uma alteração clínica + uma alteração radiológica. TRATAMENTO ❖ Se o paciente apresentar apenas comprometimento axial e não for responsivo ao tratamento com AINE’s, inicia-se tratamento com imunobiológicos. ❖ Se o paciente apresentar comprometimento axial e periférico sem resposta ao AINE, inicia-se terapia dupla com AINE + MTX e, se ainda não houver resposta, adiciona-se um imunobiológico a terapia. Após estabilização, retira-se o AINE e mantém DMARD + imunobiológico. ❖ O uso de corticoides é reservado para casos de artrite periférica persistente. ARTRITE PSORIÁSICA ❖ É uma patologia articular, periarticular de natureza inflamatória e que ocorre em pacientes com psoríase. Pode apresentar entesite, dactilite, uveíte anterior e conjuntivite. ❖ Raio-X: pencil in cup e esporões. ❖ Tratamento: baseado em AINE, MTX e imunobiológicos. ARTRITE ENTEROPÁTICA ❖ É uma espondiloartrite associada a quadros de doenças inflamatórias intestinais, como retocolite ulcerativa e doença de Crohn. ❖ Tratamento: Evita-se o uso de AINE’s em virtude da existência de uma doença inflamatória intestinal em curso. Logo, dá-se preferência, sequencialmente, para corticoides em baixas doses, MTX, sulfassalazina, anti-TNF e uso de anticorpo monoclonal (anti-IL 17 e 12/23). ARTRITE REATIVA ❖ É uma doença manifestada por episódios de artrite aguda e não supurativa secundária a uma infecção, geralmente intestinal ou urogenital (o agente mais comum é a Clamídia trachomatis. ❖ Seu quadro clínico, além de lombalgia inflamatória, artrite oligoarticular, entesite e dactilite, apresenta a tríade de Reiter (oligoartrite assimétrica + uretrite + conjuntivite). ❖ Tratamento: na fase aguda, usa-se AINES e corticoides, seguindo para a manutenção com MTX e SSZ. Imunobiológicos podem ser incluídos e, se houver infecção atual, indica- se ATB.
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