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Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) Fundamentos do Diagnóstico • História de Tabagismo: A maioria dos pacientes com DPOC tem histórico de tabagismo, sendo este o principal fator de risco para a doença. • Sintomas: Tosse, dispneia e produção de escarro crônicas são sintomas comuns da DPOC. • Exame Físico: Roncos, redução do murmúrio vesicular e expiração prolongada são achados característicos. • Provas de Função Pulmonar: Limitação do fluxo de ar não completamente reversível, que é progressiva na maioria dos casos. Considerações Gerais • Definições: A DPOC é um estado patológico caracterizado por obstrução da ventilação pulmonar causada por bronquite crônica ou enfisema. A bronquite crônica é definida por tosse produtiva diária por pelo menos três meses em dois anos consecutivos, enquanto o enfisema se refere ao aumento anormal dos espaços aéreos com destruição das paredes alveolares. • Prevalência: O NHLBI estima que 14 milhões de norte-americanos foram diagnosticados com DPOC, mas há provavelmente um número igual de pessoas não diagnosticadas. • Causas: O tabagismo é a principal causa da DPOC, mas outras incluem exposição a poeira, produtos químicos ocupacionais e poluição do ar. Fatores hereditários, como a deficiência de α1-antitripsina, também podem contribuir para a doença. Achados Clínicos Sinais e Sintomas • Idade de Apresentação: A DPOC geralmente se manifesta entre 50 e 60 anos de idade. • Características Clínicas: Tosse crônica, produção excessiva de muco e dificuldade para respirar. A dispneia pode progredir para ocorrer com atividades leves ou mesmo em repouso. • Padrões Sintomáticos: Os pacientes podem se apresentar como "sopradores rosados" ou "pletóricos azuis", refletindo diferentes padrões clínicos. A DPOC avançada pode resultar em pneumonia, hipertensão pulmonar, cor pulmonale e insuficiência respiratória crônica. • Crises Sintomáticas: Exacerbações podem ser desencadeadas por infecções ou fatores ambientais. Achados Laboratoriais • Espirometria: Revela a função pulmonar e a resposta ao tratamento. Reduções no VEF1, CVF e aumento do volume residual são típicas da DPOC. • Gases Arteriais: Podem ser normais na fase inicial da DPOC. Hipoxemia e acidose respiratória compensada ocorrem nos estágios avançados. • Exame do Escarro: Pode indicar a presença de bactérias como Streptococcus pneumoniae ou H. influenzae. • Eletrocardiograma (ECG): Pode revelar taquicardia sinusal e hipertensão pulmonar crônica em casos avançados. Exames de Imagem • Radiografias: Podem mostrar espessamentos peribrônquicos, hiperinsuflação ou retificação das cúpulas diafragmáticas. • Tomografia Computadorizada (TC): Mais sensível para diagnóstico de enfisema. • Ecocardiografia com Doppler: Útil para estimar a pressão da artéria pulmonar. Diagnóstico Diferencial O diagnóstico diferencial da DPOC inclui outras doenças pulmonares obstrutivas, como asma, bronquiectasia, fibrose cística e obstrução central do fluxo aéreo. A reversibilidade da obstrução diferencia a asma da DPOC. Outros diagnósticos diferenciais incluem deficiência de α1-antitripsina, que causa enfisema panacinar bibasilar, e fibrose cística, geralmente encontrada em crianças e adultos jovens. Complicações As complicações da DPOC incluem bronquite aguda, pneumonia, embolia pulmonar, arritmias atriais e insuficiência ventricular esquerda concomitante. Nos estágios avançados, a DPOC pode levar a hipertensão pulmonar, cor pulmonale e insuficiência respiratória crônica. Ocorre também pneumotórax espontâneo em alguns casos de enfisema. Prevenção A DPOC pode ser prevenida evitando-se a exposição crônica à fumaça do tabaco. A cessação do tabagismo pode retardar o declínio da função pulmonar. Vacinas contra influenza e infecções pneumocócicas podem ser benéficas. Tratamento O tratamento da DPOC é determinado pela gravidade dos sintomas ou pela presença de exacerbação dos sintomas estáveis. As diretrizes recomendam uma abordagem escalonada para o tratamento, com foco no controle dos sintomas e na prevenção de crises. Diretrizes para Tratamento • Broncodilatadores: São o pilar do tratamento para aliviar a obstrução das vias aéreas. • Corticosteroides: Indicados para controlar a inflamação, especialmente em casos de exacerbação. • Antibióticos: Usados em casos de infecção bacteriana associada. • Oxigenoterapia: Necessária para corrigir a hipoxemia em casos avançados. Envolvimento do Paciente O envolvimento do paciente no tratamento é crucial. Pacientes devem ser educados sobre a doença, o uso de medicamentos e estratégias para prevenção de crises. Recomendações de Estilo de Vida • Exercício: Deve ser encorajado para melhorar a capacidade respiratória. • Nutrição: Uma dieta saudável pode ajudar a manter o peso corporal adequado. • Vacinação: Pacientes devem ser vacinados contra influenza e pneumonia. O tratamento da DPOC busca melhorar a qualidade de vida, reduzir a frequência e a gravidade das crises, e retardar a progressão da doença. O acompanhamento regular e a adesão ao tratamento são fundamentais para alcançar esses objetivos. Tratamento Ambulatorial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) 1. Cessação do Tabagismo • Intervenção Crítica: O encorajamento para cessar o tabagismo é fundamental para indivíduos fumantes com DPOC. A cessação do tabagismo é a intervenção mais importante para melhorar a progressão da doença e a qualidade de vida dos pacientes. 2. Oxigenoterapia • Benefícios Comprovados: A única terapêutica que comprovadamente altera a história natural da DPOC é a suplementação de oxigênio nos pacientes com hipoxemia em repouso. A oxigenoterapia domiciliar para pacientes hipoxêmicos aumenta a sobrevida, reduz a necessidade de hospitalização e melhora a qualidade de vida. • Recomendações de Uso: A oxigenoterapia deve ser administrada por meio de cateter nasal durante pelo menos 15 horas por dia para garantir eficácia. A sobrevida é diretamente proporcional ao número de horas de uso do oxigênio por dia. • Candidatos à Oxigenoterapia: Pacientes com DPOC e hipoxemia crônica, hipertensão pulmonar, cor pulmonale crônico, eritrocitose ou sintomas cognitivos são bons candidatos para oxigenoterapia. • Exigências para Cobertura do Medicare: Para cobertura do uso domiciliar de oxigenoterapia, os pacientes devem se enquadrar em critérios específicos, como PaO2 ≤ 55 mmHg ou SaO2 ≤ 88%. 3. Broncodilatadores Inalados • Benefícios e Limitações: Os broncodilatadores melhoram sintomas, tolerância a exercícios e estado geral de saúde, mas não alteram o declínio progressivo da função pulmonar característico da DPOC. • Tipos de Broncodilatadores: • Anticolinérgicos: Brometo de ipratrópio é um agente preferencial devido à sua ação prolongada e ausência de efeitos colaterais simpaticomiméticos. • β2-Agonistas de Ação Curta: Salbutamol, metaproterenol, pirbuterol e terbutalina são exemplos. Eles têm custo mais baixo e ação mais rápida, mas podem causar taquicardia e tremores. • β2-Agonistas de Ação Prolongada: Formoterol, salmeterol e indacaterol têm ação prolongada, resultando em broncodilatação por mais tempo. Eles oferecem uma alternativa para pacientes com DPOC avançada. • Anticolinérgicos de Ação Prolongada: Tiotrópio é uma opção de broncodilatador de ação prolongada. Um estudo relatou que tiotrópio reduziu o número de exacerbações e hospitalizações em pacientes com DPOC, mas não afetou o declínio da função pulmonar em longo prazo. • Uso Combinado: A combinação de anticolinérgicos e β2-agonistas de ação prolongada pode ser eficaz, oferecendo maior broncodilatação e controle sintomático. Outras Considerações sobre Oxigenoterapia • Oxigenoterapia Domiciliar: O gás para uso domiciliar pode ser veiculado por cilindros com gás comprimido, oxigênio líquido ou concentradores de oxigênio.A maioria dos pacientes se beneficia de sistemas portáteis e não portáteis. • Fluxo de Oxigênio: Na maior parte dos casos, um fluxo de 1-3 L/min é suficiente para manter a PaO2 acima de 55 mmHg. O custo mensal da oxigenoterapia domiciliar varia entre 300 e 500 dólares ou mais. • Outras Opções de Administração: A infusão de oxigênio transtraqueal é uma alternativa para pacientes que necessitem de fluxos de gás maiores ou que tenham efeitos colaterais com a via nasal. Corticosteroides • Uso em Pacientes com DPOC: Diversos ensaios clínicos relataram que o uso de corticosteroides inalatórios reduz a frequência de exacerbações da DPOC e melhora o estado funcional dos pacientes. No entanto, esses ensaios não mostraram impacto na mortalidade ou na progressão da doença. Portanto, os corticosteroides inalatórios não são medicamentos de primeira linha para pacientes estáveis com DPOC. • Combinação de Terapias: A combinação de corticosteroides inalatórios com β2-agonistas de ação prolongada pode ser benéfica. Essa combinação mostrou redução na frequência de exacerbações e melhora no estado funcional, quando comparada ao uso isolado de corticosteroides inalatórios ou β2-agonistas de ação prolongada. • Uso de Corticosteroides Sistêmicos: Para pacientes com exacerbações agudas de DPOC, o uso de corticosteroides sistêmicos (como prednisona) pode ser útil para reduzir a inflamação e melhorar a função pulmonar. Uma tentativa empírica de uso de corticosteroides orais pode ser feita em pacientes ambulatoriais estáveis, mas deve ser descontinuada se não houver melhora significativa no VEF1 após algumas semanas. Teofilina • Agente de Quarta Linha: A teofilina é considerada um agente de quarta linha para pacientes com DPOC que não respondem adequadamente a anticolinérgicos, β2-agonistas e corticosteroides inalatórios. • Benefícios Potenciais: A teofilina de liberação lenta pode melhorar a saturação hemoglobínica de oxigênio durante o sono em pacientes com DPOC. Também melhora a dispneia, o desempenho em atividades físicas e a função pulmonar. • Riscos e Monitoramento: A teofilina tem uma margem estreita entre doses terapêuticas e tóxicas, exigindo monitoramento cuidadoso dos níveis séricos para evitar efeitos adversos, como taquiarritmias e convulsões. Antibióticos • Indicações Comuns: Os antibióticos são usados no tratamento de exacerbações agudas, bronquite aguda e, em alguns casos, como medida profilática para prevenir exacerbações. Os pacientes com escarro purulento e dispneia podem se beneficiar do uso de antibióticos. • Duração do Tratamento: A duração típica do tratamento com antibióticos varia entre 3 e 7 dias, dependendo da resposta clínica. Alguns estudos sugerem que uma duração de cinco dias pode ser tão eficaz quanto sete dias. Reabilitação Pulmonar • Programas de Exercícios: A reabilitação pulmonar inclui exercícios aeróbicos, como caminhadas ou ciclismo, para melhorar a tolerância ao exercício e reduzir a dispneia. O treinamento da musculatura respiratória, como exercícios de respiração abdominal e respiração com lábios franzidos, também pode ser útil. • Benefícios da Reabilitação: A reabilitação pulmonar demonstrou melhorar o condicionamento físico, reduzir a taxa de hospitalizações e melhorar a qualidade de vida em pacientes com DPOC. Os pacientes com dispneia intensa ou hospitalizações frequentes devem ser encaminhados para programas de reabilitação pulmonar. Outras Medidas • Mobilização de Secreções: Nos pacientes com bronquite crônica, a mobilização de secreções pode ser melhorada com hidratação, drenagem postural e aparelhos vibratórios. • Agentes Mucolíticos e Supressores de Tosse: A terapia com agentes mucolíticos não é eficaz na bronquite crônica. Supressores de tosse e sedativos devem ser evitados devido ao risco de reduzir a capacidade do paciente de eliminar secreções. • Reposição de α1-antitripsina: Em pacientes com enfisema devido à deficiência congênita de α1-antitripsina, a terapia de reposição é recomendada. • Ventilação Transnasal com Pressão Positiva: A ventilação transnasal para repouso dos músculos respiratórios pode ser útil para pacientes com DPOC grave. Essas medidas abrangem uma abordagem multifacetada para o tratamento da DPOC, incluindo intervenções para melhorar a função pulmonar, reduzir exacerbações e aumentar a qualidade de vida dos pacientes. Tratamento de Pacientes Hospitalizados com DPOC O tratamento de pacientes hospitalizados com crises agudas de DPOC envolve um conjunto de estratégias para estabilizar a função respiratória, aliviar os sintomas e prevenir complicações. Oxigenoterapia • Objetivo: Manter a saturação de oxigênio (SaO2) entre 90 e 94% ou a pressão parcial de oxigênio arterial (PaO2) entre 60 e 70 mmHg. • Métodos: A administração de oxigênio pode ser feita por cateter nasal ou máscara facial, ajustando-se a dose para alcançar a faixa-alvo. Broncodilatadores Inalados • Anticolinérgicos: O brometo de ipratrópio (500 μg via nebulização ou 36 μg por IDM com espaçador) é administrado a cada quatro horas, conforme necessário. • Agonistas β2: Salbutamol (2,5 mg diluídos em soro fisiológico até 3 mL por nebulização ou via IDM, 90 μg por aplicação) é administrado de 4 a 8 aplicações, usando espaçador, a cada 1-4 horas, conforme necessário. Antibioticoterapia • Sem Fatores de Risco para Pseudomonas: Fluoroquinolonas (levofloxacino ou moxifloxacino) ou cefalosporinas de terceira geração (ceftriaxona ou cefotaxima) são as opções principais. • Com Fatores de Risco para Pseudomonas: Piperacilina-tazobactam, ceftazidima, cefepima ou levofloxacino são recomendados. Corticosteroides • Doses Comuns: Prednisona (30-40 mg via oral por dia durante 7-10 dias) é uma opção para pacientes hospitalizados com crise aguda de DPOC. Outros Tratamentos • Teofilina: Não deve ser iniciada em situações agudas, mas os pacientes que já fazem uso devem ter seus níveis séricos monitorados. • Cor Pulmonale: Pode responder à suplementação de oxigênio e correção de acidemia. • Ventilação Não Invasiva: A ventilação com pressão positiva não invasiva (VPNI) pode reduzir a necessidade de intubação e o tempo de permanência na UTI. Cirurgia para DPOC A cirurgia pode ser considerada em casos específicos de DPOC grave, como em pacientes com enfisema avançado ou para aqueles que necessitam de transplante pulmonar. Transplante de Pulmão • Requisitos: Doença pulmonar grave, potencial para reabilitação pulmonar, pequena expectativa de vida sem o transplante, entre outros critérios. • Benefícios: Melhora substancial na função pulmonar e no desempenho das atividades físicas após o transplante. Cirurgia para Redução do Volume Pulmonar (CRVP) • Objetivo: Aliviar a dispneia e aumentar a tolerância ao exercício em pacientes com enfisema difuso em estágio avançado. • Efeitos: Resultados variáveis, com riscos de complicações, incluindo fístulas prolongadas de ar e taxas de mortalidade de 4 a 10%. Bulectomia • Indicações: Pacientes com enfisema bolhoso grave. • Objetivo: Remoção de bolhas enfisematosas grandes que comprimem tecidos adjacentes. Prognóstico O prognóstico para pacientes com DPOC significativa é reservado. O índice BODE, que considera índice de massa corporal (IMC), obstrução da ventilação, dispneia e capacidade de praticar exercícios, é uma ferramenta melhor que o VEF1 para predizer a probabilidade de morte e hospitalização. Quando Encaminhar • DPOC antes dos 40 anos • Exacerbações frequentes • DPOC grave ou progressiva • Sintomas desproporcionais • Necessidade de oxigenoterapia a longo prazo • Surgimento de comorbidades Quando Internar • Sintomas graves ou piora aguda que não respondam ao tratamento ambulatorial • Hipoxemia, hipercapnia, edema periférico ou alteração no estado mental • Cuidado domiciliar inadequado, impossibilidadede manter nutrição ou hidratação REFERÊNCIA:CURRENT MEDICINA - DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) Fundamentos do Diagnóstico Considerações Gerais Achados Clínicos Sinais e Sintomas Achados Laboratoriais Exames de Imagem Diagnóstico Diferencial Complicações Prevenção Tratamento Diretrizes para Tratamento Envolvimento do Paciente Recomendações de Estilo de Vida Tratamento Ambulatorial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) 1. Cessação do Tabagismo 2. Oxigenoterapia 3. Broncodilatadores Inalados Outras Considerações sobre Oxigenoterapia Corticosteroides Teofilina Antibióticos Reabilitação Pulmonar Outras Medidas Tratamento de Pacientes Hospitalizados com DPOC Oxigenoterapia Broncodilatadores Inalados Antibioticoterapia Corticosteroides Outros Tratamentos Cirurgia para DPOC Transplante de Pulmão Cirurgia para Redução do Volume Pulmonar (CRVP) Bulectomia Prognóstico Quando Encaminhar Quando Internar