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RESUMO Muitas operações unitárias envolvem a interação entre um sólido e um fluido, cuja eficácia do contato entre as faces é um fator determinante para o resultado do processo. A fluidização é a principal técnica para o engenheiro realizar esse contato entre fluido e superfície do sólido, e ela consegue reduzir as resistências de transporte de massa e calor, promovendo uma mistura eficiente e boa homogeneização do material, sendo que um exemplo desse procedimento é o Leito Fixo. Nele, o fluxo passa de maneira ascendente pelas partículas sólidas, e para a caracterização de um reator PBR, é necessário o estudo dos regimes de escoamento do gás, além de dados como perfis de porosidade, média de tamanho de partícula e diâmetro dos poros. As colunas desse leito possuem várias vantagens, como baixa queda de pressão, alta taxa de transferência de massa e de calor. Colocou-se em operação um leito fixo com partículas de vidro e, sendo a água o meio fluido do processo, ligando a bomba e abrindo a válvula para obter-se diferentes vazões de água para o leito, sendo as quais foram 4,225.10-5, 9,857.10-5 e 1,864.10-4 (m³/s). Para cada uma destas vazões, foi realizada a leitura da queda de pressão fazendo uso do manômetro em U, preenchido com tetracloreto. Conforme alterou-se a vazão, também foi medido a altura do leito com o auxílio de uma régua. Com os valores obtidos experimentalmente, e o diâmetro do leito, determinou-se a área do leito (3,85. 10-3 m2), e realizou-se o gráfico de ΔP/Δz.q versus q, cujos valores de coeficientes angular e linear foram de, respectivamente, 400.749.618,25 e 58.880.103,35. Assim, foi possível determinar-se os valores de fator c e permeabilidade do leito, cujos valores foram de 1,581 e 1,546.10-11 m2, respectivamente. Já os valores estimados de porosidade e do produto Dp.ϕ foram de, respectivamente, 0,199 e 0,000044 m. A fim de comparar os valores experimentais com correlações teóricas, seria necessária uma maior coleta de dados, ou conhecimento específico das propriedades físicas do leito, como por exemplo a esfericidade, a massa e diâmetro das partículas. Assim, como sugestão, recomenda-se a realização de testes futuros com a estimação da permeabilidade do leito e fator c em outros pontos do leito comparando-os com os valores obtidos teoricamente. 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1 Introdução Muitas operações unitárias envolvem a interação entre um sólido e um fluido, cuja eficácia do contato entre as faces é um fator determinante para o resultado do processo. A principal técnica para o engenheiro realizar esse contato entre fluido e superfície do sólido é a fluidização. (Gomide, 1980). A fluidização é uma técnica que consegue reduzir as resistências de transporte de massa e calor, promovendo uma mistura eficiente e boa homogeneização do material. Ela pode ser dividida em 3 técnicas distintas: Leito Fixo, Leito Fluidizado e Leito Móvel (Nitz & Guardani). No Leito Fixo, o fluxo passa de maneira ascendente pelas partículas sólidas, e para a caracterização de um reator PBR, é necessário o estudo dos regimes de escoamento do gás, além de dados como perfis de porosidade, média de tamanho de partícula e diâmetro dos poros. As colunas desse leito possuem várias vantagens, como baixa queda de pressão, alta taxa de transferência de massa e de calor (Foltin, 2013). Assim, o objetivo da prática é a obtenção dos parâmetros permeabilidade e fator “c” do meio poroso, analisando-se a queda de pressão do leito com relação a vazão de operação. 1.2 Queda de pressão em leito fixo Para determinar a queda de pressão em leito fixo, inicia-se pelas equações da continuidade e do movimento, respectivamente, dadas por: 𝜕𝜌 𝜕𝑡 + ∇ · 𝜌�⃗� = 0 (1.2.1) 𝜌 𝜕�⃗� 𝜕𝑡 + �⃗� · ∇⃗ �⃗� = −∇⃗𝑝 + ∇ · 𝜏 + 𝜌�⃗� (1.2.2) As quais, para um leito fixo são representadas da seguinte forma: 𝜕(𝜌𝜀) 𝜕𝑡 + ∇ · 𝜌�⃗� = 0 (1.2.3) 𝜌𝜀 𝜕�⃗� 𝜕𝑡 + �⃗� · ∇⃗ �⃗� = −∇⃗𝑝 − �⃗� + ∇⃗ · 𝜏 + 𝜌�⃗� (1.2.4) Em que, ԑ é a porosidade do leito, q é velocidade superficial do fluido (m s-1), u é a velocidade intersticial do fluido (m s-1), m é a força resistiva entre o fluido e a partícula, τ é a tensão e g é a aceleração da gravidade (m s-2). A força resistiva (m, N m-³) e a tensão (τ, N m-²) são função da velocidade superficial (q) relativa a um referencial fixo à matriz. Considerando um fluido newtoniano, regime permanente, um meio isotrópico e homogêneo, escoamento uniforme e estabelecido, a equação do movimento resumida a: 0 = −∇⃗𝑝 − �⃗� + 𝜌�⃗� (1.2.5) A qual é conhecida como equação de Darcy. Em escoamento incompressível, a equação de Darcy se torna: −∇⃗𝑃 = �⃗� (1.2.6) Na qual, P é a pressão piezométrica, dada por: 𝑃 = 𝑝 + 𝜌𝑔𝑧 (1.2.7) em que z é a distância do ponto em questão, positiva na direção contrária à gravidade. Em baixas velocidades, a força resistiva (m) varia linearmente com a velocidade superficial (q), dada pela Lei de Darcy: �⃗� = 𝜇 𝑘 �⃗� (1.2.8) Em que, μ é a viscosidade do fluido e k a permeabilidade do meio. Já em altas velocidades, a Lei de Darcy é modificada para a forma quadrática de Forchheimer: �⃗� = 𝜇 𝑘 1 + 𝑐𝜌√𝑘|�⃗�| 𝜇 �⃗� (1.2.9) Na qual c é um parâmetro adimensional que depende apenas de fatores estruturais da matriz porosa, desde que não ocorram interações físico-químicas entre a matriz e o fluido. A equação de Forchheimer (1.2.9) é válida para o escoamento viscoso em meios isotrópicos homogêneos ou heterogêneos, ou seja, em que k é constante e c é variável com a posição no sistema. Em situações em que o escoamento do fluido na matriz porosa é lento, ou seja, as equações (1.2.10) ou (1.2.11) são verdadeiras, a equação (1.2.9) recai na forma linear e então é conhecido como escoamento Darcyano, o qual está associado à validade da Lei de Darcy. 𝑅𝑒 = 𝑐𝜌√𝑘𝑞 𝜇 < 0,01 (1.2.10) 𝑅𝑒 = 𝜌. 𝑑 . 𝑞 𝜇(1 − 𝜀) < 10 (1.2.11) 1.3 Determinação Experimental da Permeabilidade e do Fator C De acordo com Moreira, 2019, a permeabilidade e o fator c são determinados experimentalmente por permeametria através de medidas experimentais de vazão e queda de pressão, conforme apresenta a Figura 1.3.1. Figura 1.3.1. Esquema de um permeâmetro (Moreira, 2019). Tem-se que a equação de Darcy, Equação 1.2.6, se torna na Equação 1.3.1 para o esquema da Figura 1.3.1 − 𝑑𝑃 𝑑𝑍 = 𝜇 ∙ 𝑞 𝑘 + 𝑐 ∙ 𝜌 ∙ 𝑞 √𝑘 (1.3.1) onde z está no sentido da vazão (Q) na Figura 1.3.1. Aplicando a definição de integral na Equação 1.3.1 resulta-se em equações para dois casos, um no qual o escoamento é incompressível e outro para escoamento compressível e isotérmico de um gás ideal, respectivamente as Equações 1.3.2 e 1.3.3. 1 𝑞 − ∆𝑃 𝐿 = 𝜇 𝑘 + 𝑐 ∙ 𝜌 ∙ 𝑞 √𝑘 (1.3.2) �̅� 𝐺 − ∆𝑃 𝐿 = 𝜇 𝑘 + 𝑐 √𝑘 𝐺 (1.3.3) onde G é dada pela Equação 1.3.3. 𝐺 = �̅� ∙ 𝑞 (1.3.4) E, determina-se a massa específica média (�̅�) pela Equação 1.3.3 �̅� = 𝜌 + 𝜌 2 = 𝑀 𝑅 ∙ 𝑇 𝑝 + ∆𝑃 2 (1.3.5) Logo, as formas lineares das Equações 1.3.2 e 1.3.3 permitem calcular com facilidade os valores de k e c. 1.4 Equação de Ergun (1952) Ergun propôs que a perda de carga em um meio poroso é proporcional ao quadrado da vazão de fluido empregada, como segue: − ∆P ρ = (1 − ε) ε ∙ f ∗ L d q (1.4.1) onde f ∗ = 150 Re + 1,75 (1.4.2) Substituindo a Equação 1.4.2 em 1.4.1, tomando dp = .Dp, tem-se: − ∆P L = 150 (1 − ε) ΦD ε μq + 1,75 (1 − ε) ΦD ε ρq² (1.4.3) conhecida como Equação de Ergun, extensamente utilizada para avaliar a queda de pressão em escoamentos em leitos porosos, para porosidades entre 0,35 e 0,50. Comparando a Equação 1.43 com a equação constitutiva de Forchheimer (1.2.9), obtém-se: k = ΦD ε 150(1 − ε) (1.4.4) c = 0,14 𝜀 /(1.4.5) Para porosidades acima de 0,50, recomenda-se o emprego da Equação de Blake-Konezy-Carman: − ∆P L = A (1 − ε) ΦD ε μq + B (1 − ε) ΦD ε ρq² (1.4.6) onde A é a constante de Blake-Konezy e B é a constante de Burke-Plummer, ambas funções da porosidade e do número de Reynolds da partícula. A constante “A” aumenta com o aumento da porosidade, enquanto a constante “B” diminui com o aumento da porosidade. Correlações para a determinação de dos parâmetros A e B são definidas a seguir: A = 36k (1.4.7) B = Ω√A (1.4.8) na Equação de Ergun (1.4.3), verifica-se que kKOZ = 25/6 e = 0,143. Massarani propôs uma correlação para Ω presente no Quadro 1.1 válida para porosidades de 0,15 a 0,75. Massarani propôs duas correlações para kKOZ dadas por: 𝑘 = 0,6. 𝜀 , 1 − 𝜀 (1.4.9) 𝑘 = 𝜀 2. (1 − 𝜀). (4,8. 𝜀 − 3,8) (1.4.10) Beetstra et al. (2007) propuseram para 𝜀.Re<1.000: A = 180 + 18. 𝜀 1 − 𝜀 . 1 + 1,5√1 − 𝜀 (1.4.11) 𝐵 = 0,31[𝜀 + 3. (1 − 𝜀) + 8,4. (𝜀. 𝑅 ) , ] 1 + 10 .( )(𝜀. 𝑅 ) . , (1.4.12) Para os casos em que D/dp < 10, as constantes A e B necessitam da correção devido ao efeito de parede e isso pode ser feito utilizando os termos de correção de Reichelt (Eisfeld e Schnitzlein, 2001) o que transforma a equação de Ergun em: ∆𝑃 𝐿 = 𝐾 . 𝐴 . (1 − 𝜀) 𝑑 . 𝜀 . 𝜇. 𝑞 + 𝐴 𝐵 . (1 − 𝜀) 𝑑 . 𝜀 . 𝜌. 𝑞 (1.4.13) onde: 𝐴 = 1 + 2 3. 𝐷 𝑑⁄ . (1 − 𝜀) (1.4.14) 𝐵 = 𝑘 . 𝑑 𝐷 + 𝑘 (1.4.15) A Tabela 1.4.1 apresenta os valores das constantes K1, k1 e k2 para esferas, cilindros e todas as partículas. Tabela 1.4.1: Valores de K1, k1 e k2 para esferas, cilindros e todas as partículas (Moreira, 2019). Formas K1 k1 k2 Esferas 154 1,15 0,87 Cilindros 190 2,00 0,77 Todas as partículas 155 1,42 0,83 A porosidade para esferas em leito fixo pode ser obtida de forma aproximada por (Ribeiro et al., 2010): 𝜀 = 0,373 + 0,917. exp −0,824. 𝐷 𝑑 (1.4.16) 2. MATERIAIS E MÉTODOS Colocou-se em operação um leito fixo com partículas de vidro e, sendo a água o meio fluido do processo, ligando a bomba e abrindo a válvula para obter- se diferentes vazões de água para o leito, sendo as quais foram 4,225E-5, 9,857E-5 e 1,864E-4 m³/s. Para cada uma destas vazões, foi realizada a leitura da queda de pressão fazendo uso do manômetro em U, preenchido com tetracloreto. Conforme alterou-se a vazão, também foi medido a altura do leito com o auxílio de uma régua. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES A fim de definir o fator c e a permeabilidade, k, do meio, foram estimadas as quedas de pressão (ΔP) para três vazões volumétricas diferentes, e para as seguintes alturas, conforme a Tabela 1, a seguir. Tabela 1 – Dados obtidos experimentalmente. Vazão (m3/s) Altura do leito (m) Queda de pressão (Pa) 4,224.10-5 0,03 80,05 9,857.10-5 0,03 192,12 1,864.10-4 0,625 8965,55 Com o diâmetro do leito de 10 cm foi possível estimar a área do mesmo, e então plotar o gráfico da Equação (1.3.1), linearizada, ilustrado na Figura 1. Figura 1 - Gráfico da variação de pressão pelo comprimento versus velocidade superficial. Com os coeficientes linear (56.880.103,35) e angular (400.749.618,25) foi possível estimar o fator c e a permeabilidade do meio de 1,581 e 1,546.10-11 m2, respectivamente. Com uso das Equações (XXX) e (XXX) estimou-se a porosidade do meio e o produto Dp.φ. Os valores estimados estão apresentados na Tabela 2 abaixo. Tabela 2 - Parâmetros estimados. Fator c Permeabilidade (m2) Porosidade Dp.φ (m) 1,581 1,546.10-11 0,199 0,000044 Com intuito de comparar os valores experimentais com correlações teóricas, seria necessária uma maior coleta de dados, ou conhecimento específico das propriedades físicas do leito, como diâmetro da partícula, esfericidade e massa de partículas. R² = 0,95 y = 4E+08x + 6E+07 0,00E+00 1,00E+07 2,00E+07 3,00E+07 4,00E+07 5,00E+07 6,00E+07 7,00E+07 8,00E+07 9,00E+07 0,00E+00 1,00E-02 2,00E-02 3,00E-02 4,00E-02 5,00E-02 6,00E-02 Δ P /Δ z. q q (m/s) 5. CONCLUSÃO Foi possível determinar experimentalmente o Fator c e a permeabilidade do leito, sendo eles 1,581 e 1,546.10-11 m² respectivamente. Assim, como sugestão, recomenda-se a realização de testes futuros com a estimação da permeabilidade do leito e fator c em outros pontos do leito comparando-os com os valores obtidos teoricamente REFERENCIAS Moreira, M. F.P. Leito fixo e leitos expandidos. Toledo-PR, 2019. Gomide, R. (1983). OPERAÇÕES UNITÁRIAS. 1° volume: operações com sistemas sólidos granulares. São Paulo. Nitz, M., Guardani, R. Fluidização Gás-Sólido – Fundamentos e Avanços. Escola de Engenharia Mauá, Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia. Departamento de Engenharia Química, Escola Politécnica da USP. Foltin, J.P. (2013). Avaliação da perda de carga em leito fixo de partículas irregulares utilizando xisto betuminoso, analisando a modelagem matemática através do efeito de parede e porosidade. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, Universidade Federal do Paraná.