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Direito Processual do Trabalho II Priscila Aparecida Borges Camões Execução Trabalhista “Aspectos Gerais” Sincretismo “Daí a necessidade de reconhecermos a ausência de completude do subsistema processual trabalhista, máxime no que concerne ao cumprimento da sentença trabalhista, e adotarmos, no que couber, a sua heterointegração (diálogo das fontes) com o sistema processual civil, não apenas diante da lacuna normativa, como também, no dizer de Luciano Athayde Chaves, diante das “frequentes hipóteses em que a norma processual trabalhista sofre de manifesto e indiscutível envelhecimento e ineficácia em face de institutos processuais semelhantes adotados em outras esferas da ciência processual, inequivocamente mais modernos e eficazes”. (LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 17. São Paulo Saraiva 2018, p. 1367) Sincretismo “Assim, diante de lacunas normativas, ontológicas ou axiológicas na execução trabalhista, é factível a sua heterointegração6 com as novas normas do sincretismo do CPC, tudo isso com vistas à máxima efetivação do direito/princípio fundamental do acesso efetivo à Justiça e, consequentemente, à realização dos demais direitos dos cidadãos e cidadãs no campo das relações trabalhistas”. (LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 17. São Paulo Saraiva 2018, p. 1367) Heterointegração 1º Aplica-se os dispositivos da CLT; 2º Havendo omissão, utiliza-se as leis esparsas, mormente a Lei 5.584/1970; 3º Persistindo a omissão, será aplicada a Lei 6.830/1980; 4º Em última análise, aplica-se o CPC. Cumprimento de sentença Art. 832 - Da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do pedido e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da decisão e a respectiva conclusão. § 1º - Quando a decisão concluir pela procedência do pedido, determinará o prazo e as condições para o seu cumprimento. IN 39 do TST Art. 3° Sem prejuízo de outros, aplicam-se ao Processo do Trabalho, em face de omissão e compatibilidade, os preceitos do Código de Processo Civil que regulam os seguintes temas: III - art. 139, exceto a parte final do inciso V (poderes, deveres e responsabilidades do juiz); Atipicidade dos meios executórios Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária; Nota doutrinária “Todos sabem que este dispositivo aumenta o espectro de aplicação do § 5.o do art. 461 do CPC/1973 revogado (atual art. 536, § 1.o), permitindo uma cláusula geral de efetivação para todas as obrigações, inclusive as pecuniárias de pagar quantia, mas que obviamente precisará se limitar às possibilidades de implementação de direitos (cumprimento) que não sejam discricionárias (ou verdadeiramente autoritárias) e que não ultrapassem os limites constitucionais, por objetivos meramente pragmáticos, de restrição de direitos individuais em detrimento do devido processo constitucional. Parece-nos óbvio isso. Sob pena de pensarmos que o CPC simplesmente disse: se alguém está devendo, o juiz pode tomar qualquer medida para que este pague”. (STRECK, Lenio Luiz; NUNES, Dierle José Coelho; CUNHA, Leonardo José Carneiro da (Org.). Comentários ao Código de Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 223) Nota doutrinária “Em face do que este CPC estabelece em suas normas fundamentais, é evidente a constatação de que esta cláusula geral de efetivação implicará um ônus argumentativo diferenciado para o juiz ao fundamentar e se valer da medida, especialmente pela determinação do art. 489, § 1.o, II, por se tratar de um conceito jurídico indeterminado, mitigando a possibilidade de arbitrariedades. Ocorre que a nova cláusula legal impõe novos desafios interpretativos que podem conduzir a uma análise superficial e utilitarista de busca de resultados que desprezem a necessária leitura constitucional. Ademais, põe em debate a base teórica por nós há muito discutida sobre a liberdade de julgar e a busca de accountability. Temos a convicção de que não há essa liberdade”. (STRECK, Lenio Luiz; NUNES, Dierle José Coelho; CUNHA, Leonardo José Carneiro da (Org.). Comentários ao Código de Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 224) CLT Art. 878. A execução será promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juiz ou pelo Presidente do Tribunal apenas nos casos em que as partes não estiverem representadas por advogado. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017) Nota doutrinária “Com efeito, a execução será promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juiz ou Presidente do Tribunal apenas nos casos em que as partes não estiverem representadas por advogado. Nessa linha de raciocínio processual, os magistrados trabalhistas alegam que essa perda veemente de atuação processual ex officio trará enormes prejuízos ao trabalhador hipossuficiente, tendo em vista a natureza alimentar das verbas trabalhistas e o comportamento de algumas empresas que praticam inúmeros subterfúgios para não honrarem os seus débitos trabalhistas”. (PEREIRA, Leone. Manual de processo do trabalho. 6. São Paulo Saraiva 2018, p. 837) Nota doutrinária “Em virtude de convênio firmado entre o TST e o Banco Central do Brasil, o juiz do trabalho, previamente cadastrado, passou a ter a possibilidade de penhorar (bloquear) valores depositados em conta-corrente e aplicações do executado trabalhista. É a chamada penhora on line, que possibilita o bloqueio e a disposição de valores dos executados trabalhistas, com o objetivo de garantir o juízo da execução. Nesse sentido, o juiz, a requerimento do exequente e sem dar ciência prévia do ato ao executado, determinará às instituições financeiras, por meio de sistema eletrônico, Nota doutrinária que tornem indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do executado, limitando-se a indisponibilidade ao valor indicado na execução. No entanto, o procedimento acima foi alterado pela Lei 13.467/2017, que modificou o art. 878. Salvo quando a parte estiver acompanhada de advogado poderá o juiz determinar atos executórios, de ofício, o que modifica radicalmente o procedimento executório trabalhista, diminuindo-lhe a celeridade e a efetividade processual. O juiz só poderá determinar o bloqueio on-line em contas bancárias do réu, com prévio requerimento das partes, bem como não poderá determinar a desconsideração da personalidade jurídica sem a instauração do incidente previsto no art. 855-A da CLT”. (PEREIRA, Leone. Manual de processo do trabalho. 6. São Paulo Saraiva 2018, p. 840) DÚVIDAS Direito Processual do Trabalho II Priscila Aparecida Borges Camões Princípios da execução Trabalhista Primazia do credor trabalhista (CPC) Art. 797. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal, realiza-se a execução no interesse do exequente que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados. Parágrafo único. Recaindo mais de uma penhora sobre o mesmo bem, cada exequente conservará o seu título de preferência. Nota doutrinária “O grande objetivo da execução trabalhista é a satisfação do direito do credor. Logo, todos os atos processuais praticados no bojo da execução trabalhista devem ter por escopo a realização prática de atos concretos e satisfativos do direito do credor. Por fim, a atuação interpretativa do juiz do trabalho na execução deverá se pautar sempre pela ideia da satisfação do direito do credor trabalhista. Por consequência, caso haja um conflito de normas trabalhistas que regem a execução, o magistrado deverá utilizar a mais favorável ao exequente”. (PEREIRA, Leone. Manual de processo do trabalho. 6. São Paulo Saraiva 2018, p. 836) Patrimonialidade Art. 824. A execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de bens do executado, ressalvadasas execuções especiais. Nota doutrinária “A partir do momento em que o Estado avoca para si o monopólio da prestação jurisdicional, a execução encontra uma fase de humanização, ou seja, ela passa a ter caráter real e não pessoal, na medida em que é o patrimônio do devedor que passa a ficar sujeito à constrição e à expropriação. Aliás, o art. 789 do CPC (art. 591 do CPC/73) prescreve que o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei”. (LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 17. São Paulo Saraiva 2018, p. 1428) Entendimentos Sumulados • Súmula Vinculante 25 - É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito. • Súmula 419 do STJ - Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel. Nota doutrinária “Todavia, o entendimento atual do Supremo Tribunal Federal é o da impossibilidade da prisão civil por dívida do depositário infiel, em qualquer modalidade de depósito, considerando-se a nova roupagem de caráter supralegal atribuída aos tratados internacionais sobre direitos humanos ratificados antes da Emenda Constitucional n. 45, de 2004 (Reforma do Judiciário), em especial ao Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana sobre Direitos Humanos), que veda a mencionada modalidade de prisão civil”. (PEREIRA, Leone. Manual de processo do trabalho. 6. São Paulo Saraiva 2018, p. 835) Limitação expropriatória (CPC) Art. 831. A penhora deverá recair sobre tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal atualizado, dos juros, das custas e dos honorários advocatícios. Art. 899. Será suspensa a arrematação logo que o produto da alienação dos bens for suficiente para o pagamento do credor e para a satisfação das despesas da execução. Limitação expropriatória (CLT) Art. 883 - Não pagando o executado, nem garantindo a execução, seguir-se-á penhora dos bens, tantos quantos bastem ao pagamento da importância da condenação, acrescida de custas e juros de mora, sendo estes, em qualquer caso, devidos a partir da data em que for ajuizada a reclamação inicial. Limitação expropriatória (CLT) Art. 883-A. A decisão judicial transitada em julgado somente poderá ser levada a protesto, gerar inscrição do nome do executado em órgãos de proteção ao crédito ou no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas (BNDT), nos termos da lei, depois de transcorrido o prazo de quarenta e cinco dias a contar da citação do executado, se não houver garantia do juízo. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) NOTA DOUTRINÁRIA “Embora de natureza alimentar, o presente artigo é mais favorável ao réu do processo civil, pois o art. 523 do CPC/2015 determina o prazo de 15 dias para cumprimento definitivo da sentença, sob pena de protesto e certidões negativas (art. 782 do CPC/2015), ao passo que no processo trabalhista, o legislador concedeu o prazo de 45 dias para levar o título a protesto, caso não seja pago. Não obstante pareça algo inaceitável o fato de um título judicial, emanado do Estado Democrático de Direito, um de seus fundamentos, ao lado do ato jurídico perfeito e do direito adquirido, ter que se submeter a protesto em órgão extrajudicial, o legislador andou bem no sentido de criar mais óbice ou barreira a uma vida normal do devedor contumaz, que não honra com seus compromissos”. (SANTOS, Enoque Ribeiro dos. Curso de direito processual do trabalho. 4. Rio de Janeiro Atlas 2020, p. 627) Utilidade para o credor (CPC) Art. 836. Não se levará a efeito a penhora quando ficar evidente que o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução. Nota doutrinária “Em suma, a penhora não será realizada quando claro restar que o produto a ser alienado será absorvido, por completo, pelo pagamento das custas da execução, o que impedirá o pagamento da própria dívida, mostrando-se, assim, inútil ao credor. Quando isso ocorrer, o juiz, com base no art. 40 da Lei 6.830/1980, suspenderá o curso da execução trabalhista, enquanto não existirem bens do devedor a serem penhorados. O prazo de referida suspensão será de um ano; após este, os autos serão arquivados, podendo ser desarquivados, a qualquer tempo, para a continuidade da execução, na hipótese de serem encontrados bens do devedor”. (SANTOS, Enoque Ribeiro dos. Curso de direito processual do trabalho. 4. Rio de Janeiro Atlas 2020, p. 627) SANTOS, Enoque Ribeiro dos. Curso de direito processual do trabalho. 4. Rio de Janeiro Atlas 2020, p. 673) Menor Onerosidade (CPC) Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado. Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados. Menor Onerosidade (CPC) Art. 847. O executado pode, no prazo de 10 (dez) dias contado da intimação da penhora, requerer a substituição do bem penhorado, desde que comprove que lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente. Menor Onerosidade (CPC) Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente e comprovando o depósito de trinta por cento do valor em execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e de juros de um por cento ao mês. Nota doutrinária “No entanto, usualmente, o credor, na execução trabalhista, é o trabalhador, geralmente hipossuficiente e em estado de desemprego. Assim, no cotidiano forense, o magistrado deverá sopesar, pelo critério da equidade, o princípio da utilidade para o credor e o da não prejudicialidade para o devedor, dando prevalência ao primeiro, visto que o credor, em regra, encontra-se em situação mais delicada do que o devedor, normalmente, o empregador”. (SANTOS, Enoque Ribeiro dos. Curso de direito processual do trabalho. 4. Rio de Janeiro Atlas 2020, p. 627) SANTOS, Enoque Ribeiro dos. Curso de direito processual do trabalho. 4. Rio de Janeiro Atlas 2020, p. 674) Especificidade (CPC) Art. 809. O exequente tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa, quando essa se deteriorar, não lhe for entregue, não for encontrada ou não for reclamada do poder de terceiro adquirente. Nota doutrinária “Tratando-se de obrigação de fazer ou não fazer, e se no prazo fixado o devedor não satisfizer a obrigação, é lícito ao credor, nos próprios autos do processo, requerer que ela seja executada à custa do devedor, ou que haja perdas e danos, caso em que a obrigação de fazer ou não fazer se converte em indenização (obrigação de pagar). No processo do trabalho, é comum a sentença que condena o empregador a reintegrar o empregado ao emprego. Caso o empregador não cumpra a obrigação no prazo fixado na sentença, deverá arcar com o pagamento de multas (astreintes), geralmente por dia de atraso”. (LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 17. São Paulo Saraiva 2018, p. 1430) Não aviltamento do devedor Art. 3° Sem prejuízo de outros, aplicam-se ao Processo do Trabalho, em face de omissão e compatibilidade, os preceitos do Código de Processo Civil que regulam os seguintes temas: XV - art. 833, incisos e parágrafos (bens impenhoráveis); Nota doutrinária “Assim, o princípio da humanização da execução, também chamado de princípio da dignidade da pessoa do executado ou princípio do não aviltamento do devedor, preconiza a ideia de que, embora a execução tenha o objetivo da satisfação do direito do credor, de outra sorte não poderão ser penhorados bens indispensáveis para a manutenção da dignidade e subsistência mínimas para o devedor e sua família, observando-se o princípio da ponderação de interesses”. (PEREIRA, Leone. Manual de processo do trabalho. 6. São Paulo Saraiva 2018, p.832) Livre disponibilidade do credor Art. 775. O exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva. Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o seguinte: Livre disponibilidade do credor I - serão extintos a impugnação e os embargos que versarem apenas sobre questões processuais, pagando o exequente as custas processuais e os honorários advocatícios; II - nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do impugnante ou do embargante. DÚVIDAS Direito Processual do Trabalho II Priscila Aparecida Borges Camões Execução Trabalhista Títulos Executivos (CPC) Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. Títulos Executivos (CLT) Art. 876 - As decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão executados pela forma estabelecida neste Capítulo. Acordo Extrajudicial (CLT) Art. 855-B. O processo de homologação de acordo extrajudicial terá início por petição conjunta, sendo obrigatória a representação das partes por advogado. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) Art. 855-D. No prazo de quinze dias a contar da distribuição da petição, o juiz analisará o acordo, designará audiência se entender necessário e proferirá sentença. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) IN 39/2016 do TST Art. 13. Por aplicação supletiva do art. 784, I (art. 15 do CPC), o cheque e a nota promissória emitidos em reconhecimento de dívida inequivocamente de natureza trabalhista também são títulos extrajudiciais para efeito de execução perante a Justiça do Trabalho, na forma do art. 876 e segs. da CLT. Nota doutrinária “Parece-nos, contudo, que os títulos extrajudiciais previstos no processo civil (CPC/73, art. 585; CPC, art. 784) oriundos de relação de trabalho diversa da relação de emprego (CF, art. 114, I) deveriam ensejar a propositura da ação de execução de título extrajudicial9 , cujo procedimento deveria ser o do CPC, não obstante a determinação do art. 1o da IN n. 27/2005 do TST, que manda aplicar o procedimento previsto na CLT. Ora, não nos parece razoável aplicar a referida IN n. 27 na espécie, pois isso implicaria reconhecer que a transferência da competência da Nota doutrinária Justiça Comum para a Justiça do Trabalho retiraria do jurisdicionado/credor uma situação de vantagem (material e processual), o que certamente ensejaria ofensa ao princípio da vedação do retrocesso social. Afinal, devemos interpretar a mudança da competência (CF, art. 114, I) sob a perspectiva da melhoria da condição socioeconômica do jurisdicionado e do seu direito fundamental de efetivo acesso à Justiça”. (LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 17. São Paulo Saraiva 2018, p. 1375) Competência (CRFB) Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; Títulos Executivos (CLT) Parágrafo único. A Justiça do Trabalho executará, de ofício, as contribuições sociais previstas na alínea a do inciso I e no inciso II do caput do art. 195 da Constituição Federal, e seus acréscimos legais, relativas ao objeto da condenação constante das sentenças que proferir e dos acordos que homologar. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017) SÚMULA VINCULANTE 53 A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da Constituição Federal alcança a execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da condenação constante das sentenças que proferir e acordos por ela homologados. Súmula 368 do TST I - A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário de contribuição. (ex-OJ nº 141 da SBDI-1 - inserida em 27.11.1998). DÚVIDAS Direito Processual do Trabalho II Priscila Aparecida Borges Camões Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica IDPJ (CPC) Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo. § 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei. § 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica. Nota doutrinária “Assim, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica é modalidade de intervenção de terceiros em que se pretende, desde que atendidos pressupostos legais para que se efetive a suspensão da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, que os sócios e/ou administradores da sociedade respondam, com seu patrimônio próprio, por obrigação específica da sociedade em cuja personalidade deve incidir a desconsideração”. (STRECK, Lenio Luiz; NUNES, Dierle José Coelho; CUNHA, Leonardo José Carneiro da (Org.). Comentários ao Código de Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 210) Nota doutrinária “A desconsideração inversa da personalidade jurídica consiste no afastamento do princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica para responsabilizar a sociedade por obrigação do sócio. A fraude que se visa coibir aqui é, em essência, o desvio de bens, pelo devedor (que visa se furtar do cumprimento de obrigações pessoais), que os transfere para o patrimônio de pessoa jurídica sobre a qual detém absoluto controle. Neste particular, o controle no processo decisório da sociedade, fundação ou associação se mostra fundamental para a eficácia do desvio promovido pelo sócio”. (STRECK, Lenio Luiz; NUNES, Dierle José Coelho; CUNHA, Leonardo José Carneiro da (Org.). Comentários ao Código de Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 210) IDPJ (CPC) Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial. § 1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas. IDPJ (CPC) § 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica. § 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2º. § 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica. IDPJ (CPC) Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. IDPJ (CPC) Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno. Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente. IDPJ (CLT) Art. 855-A. Aplica-se ao processo do trabalho o incidente de desconsideração da personalidade jurídica previsto nos arts. 133 a 137 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 - Código de Processo Civil. IDPJ (CLT) § 1o Da decisão interlocutória que acolher ou rejeitar o incidente: I - na fase de cognição, não cabe recurso de imediato, na forma do § 1o do art. 893 desta Consolidação; II- na fase de execução, cabe agravo de petição, independentemente de garantia do juízo; III - cabe agravo interno se proferida pelo relator em incidente instaurado originariamente no tribunal. IDPJ (CLT) § 2o A instauração do incidente suspenderá o processo, sem prejuízo de concessão da tutela de urgência de natureza cautelar de que trata o art. 301 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil) Nota doutrinária “Todavia, em não tendo havido a inserção do sócio como parte, não se deve ignorar o entendimento manifestado pelo E. TST no sentido de que, a partir da vigência do CPC de 2015, a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica deve ser levada a efeito, necessariamente, com a instauração do incidente de que cuidam os arts. 133 a 137 do referido diploma legal, conforme orienta, aliás, o art. 6o da IN 39/2016 do TST. O direcionamento da execução contra a pessoa física titular do empreendimento sem observância das normas dos arts. 133 a 137 do CPC de 2015, que disciplinam o incidente de desconsideração da personalidade da pessoa jurídica, enseja violação a direito líquido e certo do sócio, a ser amparado por mandado de segurança”. (PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Curso de direito processual do trabalho. 2. São Paulo Saraiva 2019, p. 330) Nota doutrinária “O art. 6o da IN/TST 39/2016 manda aplicar “ao Processo do Trabalho o incidente de desconsideração da personalidade jurídica regulado no CPC (arts. 133 a 137), assegurada a iniciativa também do juiz do trabalho na fase de execução (CLT, art. 878)”, o que, certamente, influenciará a mudança da jurisprudência a respeito do simples redirecionamento da execução em desfavor dos sócios por simples despacho judicial de desconsideração da personalidade jurídica da empresa executada”. (LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 17. São Paulo Saraiva 2018, p. 1441) DÚVIDAS