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A IMPORTÂNCIA DA INTRODUÇÃO ALIMENTAR

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A IMPORTÂNCIA DA INTRODUÇÃO ALIMENTAR ADEQUADA PARA O 
DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O leite materno possui uma composição única, capaz de atender às necessidades 
nutricionais da criança conforme sua idade, além de conferir proteção contra doenças e 
auxiliar no desenvolvimento cerebral. Recomenda-se o aleitamento materno até os dois anos 
de idade ou mais, porém, a amamentação deve ser ofertada de forma exclusiva até os seis 
meses de vida, sem necessidade de oferecer água, chá ou outros alimentos (BRASIL, 2019) 
A partir dos seis meses, o aleitamento materno exclusivo não é mais suficiente para 
atender as necessidades da criança, sendo necessário a complementação da dieta, desta forma, 
deve ser realizada a introdução alimentar de forma lenta e gradual (WHO, 2002). A 
alimentação complementar é caracterizada pela introdução de alimentos classificados como 
nutritivos, com objetivo de associar novas fontes de nutrição com o leite materno que é 
consumido. Recomendações sugerem que esta introdução seja iniciada no período indicado, a 
fim de evitar que seja realizado precocemente (GIUGLIANI; VICTORA., 2000). A oferta de 
novos alimentos além do leite materno se torna necessária para acompanhar o crescimento e 
desenvolvimento da criança, porém, aconselha-se que estes alimentos sejam saudáveis, in 
natura, e minimamente processados (BRASIL, 2019) 
A introdução de uma alimentação saudável pode proporcionar desenvolvimento e 
crescimento apropriados, influenciando na otimização do funcionamento de órgãos e 
sistemas, e também na prevenção de doenças (WEFFORT et al., 2012). Os movimentos e 
estímulos musculares realizados durante os atos de sucção e mastigação estão diretamente 
ligados ao processo de desenvolvimento motor oral, iniciados nos primeiros meses de vida 
(CASTRO et al., 2017). Além disso, outros estímulos relacionados aos hábitos alimentares 
incentivados à criança, como o tipo do utensílio utilizado no momento da alimentação e a 
consistência do alimento oferecido são importantes para a adequação de funções como a 
deglutição, respiração, mastigação e fonoarticulação (SCHAURICH; DELGADO, 2014). 
Segundo Caetano et al. (2010) no primeiro ano de vida os lactentes estão expostos a 
um elevado risco nutricional, com potenciais complicações, relacionado a introdução 
alimentar precoce e ao consumo de alimentos inadequados como leite de vaca e produtos 
industrializados ricos em sódio e açúcar. Esta introdução de alimentos inadequados para o 
consumo influencia diretamente na baixa ingestão de micronutrientes, provocando 
deficiências, e também elevando o risco de desenvolvimento de doenças crônicas 
futuramente. 
Neste sentido, os hábitos alimentares inadequados são considerados uma das 
 
 
 
 
principais causas que influenciam diretamente no desenvolvimento da desnutrição em 
crianças. Na maioria dos países o índice de casos de desnutrição apresenta aumento 
considerável na fase de 6 a 18 meses de idade, e as deficiências adquiridas neste período são 
difíceis de recompensar nas outras fases na infância (WHO, 2002). Além disso, a prevalência 
de obesidade infantil cresce a cada ano no Brasil, sendo fundamental evitar o ganho de peso 
desnecessário, através de uma alimentação saudável e adequada (BRASIL, 2019). 
Desta forma, pode-se identificar a importância da introdução alimentar adequada, de 
acordo com as recomendações, para a promoção da saúde da criança. Além de influenciar 
diretamente na formação do hábito alimentar saudável desde o primeiro contato com o 
alimento. 
O presente estudo teve como objetivo geral identificar a importância da introdução 
alimentar adequada, e sua influência na promoção do desenvolvimento da criança, através de 
uma revisão sistemática. Teve-se como objetivos específicos, identificar como a introdução 
alimentar é importante para a formação dos hábitos alimentares das crianças, e discutir como 
os hábitos alimentares podem interferir no desenvolvimento da criança. 
 
 
 
 
 
 
 
2. METODOLOGIA 
 
Este estudo teve como metodologia a revisão sistemática, a partir de publicações 
científicas previamente selecionadas. A revisão sistemática consiste em uma forma de 
pesquisa que utiliza a literatura como fonte de dados sobre determinado tema (SAMPAIO; 
MANCINI; 2007). A busca do conteúdo foi realizada no mês de março de 2023 por meio das 
bases de dados da Scielo (Scientific Electronic Library Online), PubMed 
(MEDLINE/PubMed – Biomedical Literature Citations And Abstracts e BVS (Biblioteca 
Virtual em Saúde), utilizando os descritores: “introdução alimentar”, “desenvolvimento da 
criança”, “nutrição”, combinados a partir do operador booleano "AND". 
Para a seleção dos estudos foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: 
a) publicados a partir do ano 2000 
b) artigos disponíveis na íntegra 
c) artigos com abordagens voltadas para introdução alimentar 
Foram excluídos os artigos duplicados, comunicações curtas, resumos, e artigos com 
títulos que não se enquadravam no tema. A partir dos critérios adotados foram selecionados 
13 estudos na base de dados da SciElo, 1 estudo na PubMed, e 22 estudos na BVS, 
totalizando 36 trabalhos (Figura 1). Após leitura dos títulos, resumos e trabalhos completos, 
obteve-se uma amostra de 7 artigos que se enquadravam neste estudo. O sistema utilizado no 
processo de identificação e seleção dos artigos é evidenciado na figura 1. Por se tratar de uma 
revisão da literatura não é necessário que o estudo seja submetido ao Comitê de Ética em 
Pesquisa, contudo, pressupostos éticos foram considerados buscando a devida citação de 
ideias de outros autores, utilizadas na construção do presente trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. Modelo esquemático do fluxograma de identificação e seleção de artigos. 
 
Fonte: Autoria Própria 
9 
 
 
 
 
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
 
A presente revisão selecionou 7 artigos, de acordo com os critérios de inclusão, os 
quais estão identificados na Tabela 1. 
 
Tabela 1. Caracterização dos artigos selecionados sobre a introdução alimentar 
 
 
AUTOR 
(ANO) 
 
 
TÍTULO 
 
OBJETO DE 
ESTUDO 
 
 
IDIOMA 
 
OBJETIVO 
DO ESTUDO 
 
 
 
 
MODESTO; 
DEVINCENZI; 
SIGULEM, 
2007 
Práticas 
alimentares e 
estado 
nutricional de 
crianças no 
segundo 
semestre de 
vida 
atendidas na 
rede pública de 
saúde 
 
 
 
 
Crianças no 
segundo 
semestre de 
vida 
 
 
 
 
 
Português 
Avaliar o estado 
nutricional e as 
práticas 
alimentares de 
crianças no 
segundo 
semestre de 
vida atendidas 
na rede pública 
de saúde do 
município de 
Taboão da 
Serra, SP 
 
 
 
 
 
SIMON; 
SOUZA; 
SOUZA, 2010 
 
 
 
Aleitamento 
materno, 
alimentação 
complementar, 
sobrepeso e 
obesidade em 
pré-escolares 
 
 
 
 
 
Crianças de até 
2 anos 
 
 
 
 
 
 
Português 
 
 
Analisar a 
associação do 
sobrepeso e da 
obesidade com 
o aleitamento 
materno e a 
alimentação 
complementar 
em 
pré-escolares 
10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAETANO et 
al., 2010 
 
 
Alimentação 
complementar: 
práticas 
inadequadas em 
lactentes 
 
 
 
 
Lactentes 
 
 
 
 
Português 
 
 
Avaliar o 
consumo 
alimentar de 
lactentes entre 4 
e 12 meses 
 
 
SCHAURICH; 
DELGADO, 
2014 
Caracterização 
do 
desenvolvimen- 
to da 
alimentação em 
crianças de 6 a 
24 meses 
 
 
 
Crianças de 6 a 
24 meses 
 
 
 
Português 
 
Caracterizar a 
alimentação de 
crianças de seis 
a vinte e quatro 
meses 
 
 
 
MOREIRA, et 
al., 2019 
 
 
Introdução de 
alimentos 
complementares 
em lactentes 
 
 
 
 
Lactentes 
 
 
 
 
Português 
Analisar a 
frequência, a 
idade e a 
tendência 
temporal da 
introdução da 
alimentação 
complementar 
em lactentes 
 
 
 
SANTOS et al., 
2019 
 
Práticasalimentares 
entre crianças 
menores de um 
ano internadas 
em hospital 
público 
 
 
 
Crianças de até 
12 meses 
 
 
 
 
Português 
Conhecer a 
alimentação 
complementar 
praticada por 
crianças 
menores de um 
ano, internadas 
em um hospital 
público 
 
 
 
 
BECKER et al., 
2023 
A introdução 
precoce de 
sucos pode 
influenciar 
desfechos 
antropomé- 
tricos e 
consumo 
alimentar em 
idade 
pré-escolar? 
 
 
 
 
Crianças até 2 
anos 
 
 
 
 
 
Português 
 
Avaliar o 
impacto do 
consumo de 
sucos antes dos 
6 meses de 
idade no IMC/I 
e no consumo 
alimentar em 
pré-escolares 
Fonte: Autoria Própria 
11 
 
 
 
 
O presente estudo é uma revisão sistemática que teve como objetivo compreender 
como a introdução alimentar pode exercer influência sobre o desenvolvimento infantil. Desta 
forma, buscou-se obter respostas para alguns questionamentos como: a introdução alimentar, 
em momentos temporais não recomendados, pode ser prejudicial para a criança? Qual a 
importância da introdução alimentar para a formação dos hábitos alimentares da criança? 
Como os hábitos alimentares podem influenciar no desenvolvimento da criança? Mediante os 
questionamentos levantados, foram selecionados artigos para melhor compreensão do tema. 
Um dos artigos selecionados, escrito por Modesto, Devincenzi e Sigulem, publicado 
no ano de 2007, e intitulado como “Práticas alimentares e estado nutricional de crianças no 
segundo semestre de vida atendidas na rede pública de saúde”, teve como objetivo avaliar o 
estado nutricional e as práticas alimentares de crianças no segundo semestre de vida atendidas 
em uma rede pública de saúde. Na metodologia utilizada pelos autores realizou-se aplicação 
de questionários, pelos quais foram coletadas informações sobre a criança, sobre os pais, 
moradia e histórico da introdução dos alimentos. O consumo alimentar foi registrado pelo 
método recordatório de 24 horas, e a amostra estudada foi selecionada de forma espontânea, 
entre crianças de 6 a 11 meses que frequentavam Unidades Básicas de Saúde (UBS) para 
acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento. 
Os resultados obtidos, por meio da avaliação das práticas alimentares de cada criança 
participante, mostraram que a prevalência da amamentação é baixa em todas as crianças, 
independente da sua condição socioeconômica, evidenciando que o desmame precoce é 
comum na população estudada. Os autores identificaram a introdução precoce de 
determinados alimentos, como água, chá, frutas, sopas, e a maioria das crianças avaliadas 
fazem uso do leite de vaca, associados ou não com o leite materno. A partir da alimentação 
ofertada, a ingestão de ferro, e de vitaminas A e C foram avaliadas, desta forma, pode-se 
constatar o consumo inadequado de alimentos fontes de ferro, e consequentemente, a 
identificação de crianças anêmicas, atingindo 30,6% da amostra estudada. Estudos apontam 
que os casos de anemia por deficiência de ferro, em crianças menores de dois anos, possuem 
uma alta prevalência em todo o país (BRASIL, 2005). 
Os autores também observaram um valor mediano para a ingestão de vitamina C, o 
que pode indicar possíveis deficiências na alimentação, ressaltando a necessidade de uma 
alimentação infantil de qualidade, rica em nutrientes, e salientam a importância da 
suplementação, se necessário. Isto é, a introdução da alimentação complementar de qualidade, 
e de maneira adequada, pode ser decisiva para a saúde da criança nos primeiros anos de vida, 
de modo a permitir um crescimento e desenvolvimento satisfatórios. Quanto ao estado 
12 
 
 
 
 
nutricional, poucas crianças foram identificadas em déficit nutricional, sendo a maioria da 
amostra composta por crianças eutróficas. 
O segundo artigo, escrito por Simon, Souza e Souza, publicado no ano de 2010, e 
intitulado como “Aleitamento materno, alimentação complementar, sobrepeso e obesidade em 
pré-escolares”, teve como objetivo avaliar a relação do sobrepeso e da obesidade com o 
aleitamento materno e a alimentação complementar em pré-escolares. Na metodologia 
utilizada foi realizada avaliação antropométrica, e aplicação de questionários com os 
responsáveis de crianças de 2 a 6 anos de idade, a fim de obter informações específicas como: 
condições socioeconômicas da criança e sua família, duração do aleitamento materno, 
alimentação complementar e alimentação atual, dados que foram utilizados para fortalecer a 
base da pesquisa. 
Os autores identificaram, a partir dos resultados obtidos, que a alimentação 
complementar vem sendo introduzida precocemente. Dentre os alimentos, água e chá foram 
os mais consumidos de forma precoce para maior proporção de crianças, com 72,1%, seguido 
das frutas com 66,4% e leite não materno com 53,2%. Outros alimentos também foram 
introduzidos no mesmo período, como preparações adocicadas, achocolatados, iogurtes, entre 
outros. Na avaliação antropométrica observou-se que 60,2% eram eutróficas, 34,4% 
apresentavam sobrepeso ou obesidade, um índice considerado elevado para a faixa etária das 
crianças estudadas, e 5,3% tinham baixo peso. 
Pode-se observar que o aleitamento materno exclusivo por seis meses ou mais e o 
aleitamento prolongado por mais de dois anos de vida, são fatores de proteção contra o 
sobrepeso e obesidade, assim como a introdução de alimentos ricos em açúcar, no período em 
que a criança está formando seus hábitos alimentares, pode levar ao maior consumo desses 
alimentos, por possuírem sabor agradável para as crianças, e consequentemente, elevando o 
risco do desenvolvimento de sobrepeso e obesidade. 
Sugere-se que açúcares e preparações adocicadas não devem ser ofertadas às crianças 
menores de dois anos. A oferta de açúcares precocemente elevam as possibilidades de ganho 
excessivo de peso na infância e consequentemente, o desenvolvimento de doenças no futuro. 
Ainda, o consumo de açúcares pode interferir na aceitação de outros alimentos como verduras 
e legumes, ou seja, evitar esta oferta contribui diretamente para a formação de hábitos 
alimentares mais saudáveis (BRASIL, 2019). 
O artigo escrito por Caetano et al., publicado no ano de 2010, intitulado “Alimentação 
complementar: práticas inadequadas em lactentes”, teve como objetivo avaliar o consumo e as 
práticas alimentares de lactentes, utilizando a metodologia de análise quantitativa e qualitativa 
13 
 
 
 
 
dos registros alimentares, e aplicação de questionários. 
Pode-se observar neste estudo que a introdução da alimentação complementar tem 
sido iniciada em média aos 4 meses de idade. Cerca de 50,3% das crianças não consumiam 
mais o leite materno, e a maioria fazia uso do leite de vaca integral. Foi identificado alto 
percentual no consumo de alimentos processados, principalmente refrigerantes e sucos 
artificiais, e elevada frequência no acréscimo de açúcar, cereais e achocolatado nas 
preparações, mesmo para crianças menores de 6 meses. Os autores evidenciaram o possível 
risco nutricional aos quais os lactentes estão expostos, visto que é frequente a introdução 
precoce de alimentos processados, ricos em sódio, açúcares, e gorduras, associados a curta 
duração do aleitamento materno, ao uso do leite de vaca, e baixa ingestão de micronutrientes. 
Este consumo alimentar inadequado, e a redução do período de amamentação, podem 
influenciar diretamente no aumento do risco de desenvolvimento de doenças crônicas no 
futuro. Os autores também verificaram inadequações quanto ao consumo de ferro, zinco e 
vitamina A, evidenciando as deficiências de zinco em 75%, e ferro em 45% da amostra 
estudada. 
O artigo escrito por Schaurich e Delgado, publicado em 2014, e intitulado 
“Caracterização do desenvolvimento da alimentação em crianças de 6 a 24 meses”, teve como 
objetivo caracterizar a alimentação de crianças de seis a vinte e quatro meses, seguindo a 
metodologia de estudo descritivo, com aplicaçãode entrevistas com as famílias das crianças 
que frequentavam uma determinada Unidade Básica de Saúde (UBS). 
Neste estudo, os autores constataram que 86,4% das crianças receberam Aleitamento 
Materno Exclusivo (AME) com duração média de três meses e meio, mas, 55,7% da amostra, 
já não consumia mais o leite materno. Cerca de 82,9% dos casos analisados realizaram a 
introdução alimentar complementar de forma precoce, principalmente líquidos como água, 
chá e outro tipo de leite, chamando atenção a média de 45,0% das crianças que consumiram o 
chá antes do terceiro mês de vida. Foi identificado que as crianças que realizaram o consumo 
de chá e água realizaram o desmame mais cedo, comparando-as às crianças que não 
receberam estes líquidos. 
Em relação a qualidade da alimentação, foi identificado que 80,7% das crianças 
faziam consumo de refrigerantes, e 76,1% possuíam salgadinhos industrializados em sua 
dieta, sendo estes alimentos introduzidos antes dos 12 meses. Uma alta incidência da 
introdução alimentar complementar precoce, assim como, a oferta inadequada de alimentos 
ultraprocessados, como refrigerantes e salgadinhos, foi constatado entre as crianças avaliadas. 
O artigo escrito por Moreira et al., publicado em 2019, e intitulado “Introdução de 
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alimentos complementares em lactentes”, teve como objetivo analisar a frequência, a idade e 
o período da introdução da alimentação complementar em lactentes, seguindo a metodologia 
de estudo retrospectivo, realizado entre os anos de 2012 a 2015, avaliando dados de lactentes 
atendidos no setor de nutrição em uma comunidade. Formulários e entrevistas aplicadas com 
os responsáveis também consolidaram a base da pesquisa. 
Os autores identificaram neste estudo a introdução alimentar sendo ofertada de forma 
precoce, sendo a água, a fórmula infantil e o chá os primeiros alimentos introduzidos, no 
período de três meses de vida, em média. Alimentos processados também foram identificados 
no consumo alimentar destes lactentes, sendo engrossantes e biscoitos os mais frequentes, 
porém, este consumo apresentou redução considerável ao decorrer dos anos avaliados pelo 
estudo, passando de 30,8%, em 2012, para 15,6%, em 2015, entretanto, as amostras avaliadas 
foram diferentes, o que pode ter influenciado nos resultados. 
O artigo escrito por Santos et al., publicado no ano de 2019, e intitulado como 
“Práticas alimentares entre crianças menores de um ano internadas em hospital público”, teve 
como objetivo conhecer a alimentação complementar e o histórico do aleitamento materno 
ofertado às crianças menores de um ano internadas em um hospital público. A metodologia 
seguiu por um modelo de estudo descritivo, com abordagem quantitativa, e aplicação de 
formulários. 
Os autores observaram que a alimentação complementar foi ofertada às crianças antes 
dos seis meses de idade, de forma precoce. Alimentos como sucos, mingau e frutas foram os 
mais frequentes, e também alimentos adoçados com açúcar. Foi identificado, dentre as 174 
crianças estudadas, que apenas 20,1% receberam AME até o sexto mês, e a amostra restante 
recebeu outros alimentos antes do sexto mês. A maioria das crianças no período de seis a doze 
meses não recebiam mais o leite materno, e consumiam apenas outros alimentos. 
Foi apontado um aumento crescente no consumo de alimentos não recomendados 
para a faixa etária, como refrigerantes, salgadinhos, biscoitos, e sucos industrializados, 
evidenciando as práticas alimentares inadequadas, seguindo em contraposição às 
recomendações que orientam dar preferência para alimentos in natura e minimamente 
processados. 
O artigo escrito por Becker et al., publicado no ano de 2023, e intitulado como “A 
introdução precoce de sucos pode influenciar desfechos antropométricos e consumo alimentar 
em idade pré-escolar?“ possuiu como objetivo avaliar o impacto do consumo de sucos antes 
dos seis meses de idade no Índice de Massa Corporal e no consumo alimentar de pré-
escolares. A metodologia deste estudo foi realizada em duas fases, onde a primeira fase 
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selecionou uma amostra de 400 pares mãe-filho, em três hospitais públicos, coletando 
informações por meio de entrevistas no pós-parto e aos seis meses. Na segunda fase do 
estudo, realizada nos anos seguintes, a amostra foi constituída por mães e filhos, entre três e 
seis anos, que haviam participado da primeira fase, nesta ocasião foi realizada a aplicação de 
questionários identificando o estado nutricional da criança, e seus hábitos alimentares. 
Os autores identificaram alta prevalência da introdução de sucos naturais e artificiais 
em lactentes menores de seis meses de vida. Pode-se verificar que a ingestão precoce de sucos 
esteve associada ao consumo de alimentos industrializados, como alimentos ricos em açúcar, 
e bebidas açucaradas, na idade pré-escolar. Também foi observado que o momento da 
introdução dos sucos estava associado a um maior consumo de biscoitos recheados e 
refrigerantes, em crianças na idade pré-escolar, e constatou que as crianças que receberam 
suco artificial antes dos seis meses apresentaram maior prevalência no consumo destes 
alimentos. Desta forma, compreende-se que os primeiros alimentos expostos às crianças nos 
primeiros meses de vida são capazes de moldar as suas preferências alimentares e influenciar 
também na sua frequência alimentar ao longo dos anos. Em relação à avaliação 
antropométrica, não foi possível observar associação entre introdução de suco de forma 
precoce e alterações do estado nutricional na idade pré-escolar. 
Pode-se observar nos artigos selecionados, que a introdução alimentar e a interrupção 
do aleitamento materno de forma precoce, é uma prática comum e recorrente. Os alimentos 
mais ofertados para as crianças antes dos seis meses foram a água, o chá, os sucos e outros 
leites. Foi possível identificar também a frequente introdução de alimentos não 
recomendados, como biscoitos, salgadinhos e refrigerantes, e alimentos adocicados, assim 
como, a percepção de que os primeiros alimentos ofertados à criança podem influenciar nas 
escolhas de suas preferências alimentares ao decorrer dos anos. 
O período de introdução da alimentação complementar é considerado um fator de 
risco para a criança, além de ser recorrente a oferta de alimentos com pouca qualidade 
nutricional, que não são recomendados, há também alto risco de contaminação por práticas 
inadequadas no momento de preparo e manipulação dos alimentos ofertados, influenciando na 
incidência de doenças diarréicas e desnutrição (WEFFORT et al., 2012). 
Neste contexto, os estudos mostram a necessidade de realizar ações para evidenciar os 
riscos associados à complementação alimentar precoce em lactentes, e também salientar a 
importância da amamentação até os dois anos de vida, que se mostra essencial para manter a 
saúde e qualidade de vida da criança. Segundo Mercês et al. (2022) a introdução precoce de 
alimentos e até mesmo líquidos, como água e chás, promove desvantagens para a saúde da 
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criança. Além disso, a oferta de alimentos antes dos seis meses pode aumentar as chances de 
cólicas e do desenvolvimento de alergias e/ou infecções (BRASIL, 2019). Ademais, a criança 
que é amamentada, ao receber outros alimentos além do leite materno, antes do período 
recomendado, tende a diminuir a frequência da amamentação, e como nos primeiros seis 
meses o leite é capaz de suprir todas as suas necessidades nutricionais, não deve ser realizada 
a introdução de outros alimentos que façam a criança reduzir a ingestão do leite materno 
(BRASIL, 2019). 
As crianças que recebem o aleitamento materno exclusivo até os seis meses, não 
necessitam consumir nenhum outro tipo de alimento, nem líquidos, como água, chá, suco ou 
outros leites. Do mesmo modo, a criança que recebe fórmula infantil, preparada de forma 
adequada, também não necessita da oferta de água eoutros alimentos, antes dos seis meses. 
Entretanto, para as crianças que fazem uso do leite de vaca, as recomendações e período da 
introdução alimentar são diferentes, a oferta de novos alimentos pode ser iniciada a partir dos 
quatro meses a fim de evitar deficiências nutricionais, visto que o leite de vaca não possui os 
nutrientes que a criança necessita (BRASIL, 2019). 
Na maioria dos artigos estudados, as mães ou responsáveis pelas crianças, relataram 
seguir orientações do profissional de saúde, principalmente do pediatra, da própria família, ou 
de conhecidos, em relação ao tempo de oferta do leite materno, o período do início da 
introdução alimentar e práticas alimentares adotadas para a criança. Pode-se observar também 
nos estudos selecionados, que a situação socioeconômica do indivíduo influencia diretamente 
nas decisões da mãe e dos responsáveis a respeito das práticas da amamentação e dos 
alimentos ofertados na alimentação complementar. Desta forma, nota-se a necessidade e 
importância da atuação do profissional Nutricionista, principalmente em redes públicas, para 
orientar as mães e as famílias de forma adequada. 
17 
 
 
 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
A partir do presente estudo é possível compreender que a introdução da alimentação 
complementar precoce tem sido predominante. Neste contexto, nota-se a necessidade da 
divulgação de informações relacionadas a esta temática, e a implementação de políticas 
públicas para apoiar não apenas a promoção à amamentação até os dois anos, mas também 
para promover a introdução alimentar adequada, respeitando o período, qualidade e 
consistências recomendadas, visando obter resultados positivos destas práticas na saúde e no 
estado nutricional das crianças. Se mostra essencial também, uma ampla distribuição e 
divulgação do material didático “Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de dois 
anos" elaborado pelo Ministério da Saúde, para que as mães ou responsáveis possam ter à sua 
disposição como instrumento de consulta e orientação. 
Desse modo, evidencia-se a importância da atuação do profissional Nutricionista, e do 
contato destes profissionais com as famílias desde o primeiro momento do nascimento da 
criança, para que as mães ou responsáveis sejam orientados da forma adequada, a fim de 
auxiliar positivamente na promoção à saúde e desenvolvimento da criança. 
Sugere-se que novos estudos sejam realizados a fim de avaliar outras possíveis 
consequências que a introdução de alimentos precocemente pode ocasionar no estado 
nutricional das crianças. 
18 
 
 
 
 
5. REFERÊNCIAS 
 
 
BECKER, P. C. et al. A introdução precoce de sucos pode influenciar desfechos 
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Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 
 
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Brasília : Ministério da Saúde, 2019. 
 
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2005. 
 
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