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Direitos coletivos de trabalho: greves, acordos e convenções SST Bellan, Rosana Aparecida Direitos coletivos de trabalho: greves, acordos e conven- ções / Rosana Aparecida Bellan Ano: 2020 nº de p.: Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 11 3 Direitos coletivos de trabalho: greves, acordos e convenções Apresentação O Direito ao Trabalho, dentre eles o direito de greve, está relacionado ao rol dos direitos sociais da Constituição Federal de 1988 e possui como diretriz a igualdade e a dignidade da pessoa humana, outros preceitos da Constituição. Poder escolher livremente o tipo de trabalho que alguém pode exercer também se configura em um direito que deve ser preservado. Da mesma forma o direito de greve deve ser respeitado, pois é manifestação do trabalhador contra eventual abuso cometido pelos empregadores. A previsão constitucional dos direitos fundamentais sociais, em especial quanto ao trabalho, tem uma razão. Devido aos abusos cometidos durante a Revolução Industrial e seus desdobramentos, os trabalhadores começaram a organizarem-se e exigir direitos antes inexistentes e a previsão constitucional consolida tais direitos dificultando sua flexibilidade ou extinção. Direito de greve O direito de greve é garantido pelo art. 9º da Constituição Federal, nos seguintes termos: Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei (BRASIL,1988). 4 A norma que disciplinou o exercício do direito de greve foi a Lei nº 7.783/89. Nos termos do art. 2º dessa lei, o direito de greve consiste na suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial da prestação de serviços ao empregador (BRASIL, 1989). Note que a greve consiste em suspensão da prestação de serviços de modo que o tempo em que o empregado fica paralisado é contado como suspensão do contrato de trabalho. A greve é coletiva, pois o movimento é formado por diversas pessoas. Logo, não existe greve individual. É temporária, pois sua finalidade consiste apenas em persuadir a classe empregadora até que os empregados consigam negociar os direitos pretendidos. Deve, ainda, ser pacífica, ou seja, não são admitidos meios violentos, ameaças, com lesões a pessoas ou aos bens do empregador, nesse tipo de movimento. A greve não é um movimento que se inicia sem qualquer tipo de organização ou comunicação. Para que possa ser iniciada, o sindicato dos trabalhadores deve tentar realizar negociação coletiva, quando são apresentadas as reivindicações dos trabalhadores. É também atribuição do sindicato, ou dos próprios trabalhadores, realizar assembleia para definir as reivindicações que serão apresentadas quando iniciar o movimento grevista. Negociação coletiva para apresentação das reivindicações dos trabalhadores. Fonte: Deduca, 2020. 5 Outra providência a ser tomada antes do início da greve é a notificação aos sindicatos patronais ou às empresas, com antecedência mínima de 48 horas. Observe o que prescreve o art. 3º da Lei nº 7.783/89: Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho. Parágrafo único. A entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 48 (quarenta e oito) horas da paralisação (BRASIL,1989). Como os trabalhos ficam suspensos, por conseguinte, o contrato, as relações entre empregado e empregador devem ser disciplinados por negociação coletiva ou decisão da Justiça do Trabalho durante a greve. Uma questão importante é que, durante a greve, o empregador é proibido de rescindir os contratos de trabalho. Ele também não pode contratar trabalhadores temporários para substituir os empregados em greve. O objetivo dessas regras é evitar a frustração do movimento grevista. É o que estabelece o art. 7º da Lei da Greve: Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho. Parágrafo único. É vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos, exceto na ocorrência das hipóteses previstas nos arts. 9º e 14 (BRASIL, 1989). É importante destacarmos que há algumas atividades que são consideradas essenciais para a sociedade, razão pela qual elas não podem parar. Assim, embora a greve seja admitida, cabe aos sindicatos dos trabalhadores e patronal garantir a prestação de serviços considerados indispensáveis à comunidade durante todo o período de greve. Além disso, em se tratando de serviços e atividades essenciais, a greve somente pode ser iniciada após comunicação com, no mínimo, 72 horas de antecedência. 6 Exemplo de serviço essencial, cuja suspensão deve ser comunicada com o mínimo de 72 horas de antecedência. Fonte: Deduca, 2020. As atividades e os serviços considerados essenciais estão listados no art. 10 da Lei nº 7.783/89. Preste atenção: Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais: I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; II - assistência médica e hospitalar; III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; IV - funerários; V - transporte coletivo; VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; VII - telecomunicações; VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais; 7 X - controle de tráfego aéreo; XI - compensação bancária (BRASIL, 1989). Vejamos, a seguir, quando a paralisação dos serviços ou atividades caracteriza abuso do direito de greve. Abuso do direito de greve Se os empregados e sindicatos não observarem as regras previstas na lei ou mantiverem paralisação dos serviços após a celebração da negociação coletiva ou de decisão da Justiça do Trabalho, haverá a caracterização de abuso do direito de greve. Ainda sobre o assunto greve, vamos compreender no que consiste o lockout. Você já ouviu falar neste termo? Em uma tradução literal, lockout significa "trancar para fora". Representa a paralisação da empresa por iniciativa do empregador com a finalidade de frustrar a negociação coletiva ou o atendimento das reivindicações dos empregados. O art. 17 da Lei de Greve proíbe essa prática por parte dos empregadores. Veja: Art. 17 Fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos respectivos empregados (lockout). Parágrafo único. A prática referida no caput assegura aos trabalhadores o direito à percepção dos salários durante o período de paralisação (BRASIL, 1989). Por fim, saiba que a greve é um direito que também pode ser exercido por servidores públicos. Contudo, segundo a Constituição Federal, o exercício desse direito por parte dos servidores públicos deve ser definido por lei específica. O Congresso Nacional ainda não editou esta lei, impedindo que os servidores públicos realizem validamente o movimento de greve. Essa situação fez com que sindicatos ingressassem com ação judicial para garantir o exercício do direito. Então, com o julgamento do Mandado de Injunção nº 712-8, entendeu-se que, enquanto o Congresso Nacional não aprovar uma lei específica para tratar do direito 8 de greve dos servidores públicos, estes podem adotar a Lei de Greve aplicável ao setor privado. Mandado de injunção - É uma espécie de ação judicial prevista no art. 5º,inciso LXXI da Constituição Federal, utilizada quando a ausência de uma norma inviabiliza o exercício dos direitos e das garantias constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, soberania e cidadania. Essa ação visa a requerer ao Judiciário que dê ciência dessa omissão ao legislativo. Curiosidade Convenções e acordos coletivos Fonte: Deduca, 2020. Convenções e acordos coletivos de trabalho são ajustes formalizados com a finalidade de estabelecer condições de trabalho aplicáveis aos contratos individuais de trabalho. O art. 611 da CLT define a convenção coletiva como um acordo, de caráter normativo, pelo qual dois ou mais sindicatos representativos de categorias econômicas (patronais) e profissionais (de trabalhadores) estipulam condições de trabalho aplicáveis às relações individuais de trabalho. Já o acordo coletivo é um 9 pacto firmado entre sindicato de trabalhadores e uma ou mais empresas, conforme o art. 611, § 1º (BRASIL, 1943). Você percebe que a diferença entre convenções e acordos está nos sujeitos envolvidos? Enquanto a convenção é um instrumento firmado entre sindicatos dos empregadores e trabalhadores, o acordo é um instrumento formalizado entre uma ou mais empresas e o sindicato dos trabalhadores. Como as convenções coletivas possuem caráter normativo, as regras ali disciplinadas valem para todos os integrantes das respectivas categorias, sejam eles sindicalizados ou não. Diferentemente, as normas estabelecidas nos acordos coletivos valerão somente para os empregados das empresas que realizaram o acordo. Ampliando horizontes conheça, na íntegra, a Convenção Coletiva de Trabalho 2013/2014 do Sindicato dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro. Observe as condições de trabalho estipuladas pelo documento. http://www.sindiopticarj.com.br/wp-content/uploads/2013/02/ CCT-SALARIAL-2013-RIO-DE-JANEIRO.pdf Saiba mais Outro aspecto importante é que os acordos e as convenções coletivas sempre devem ser formalizados com a intervenção de um sindicato dos trabalhadores. Caso não exista sindicato, a federação ou a confederação deverá representar os interesses dos integrantes da categoria profissional ou econômica. Além disso, os acordos e as convenções deverão ser celebrados por escrito e conterão obrigatoriamente as seguintes disposições, conforme o art. 613 da CLT (BRASIL, 1943): • Designação dos sindicatos convenentes ou dos sindicatos e das empresas acordantes; • Prazo de vigência. http://www.sindiopticarj.com.br/wp-content/uploads/2013/02/CCT-SALARIAL-2013-RIO-DE-JANEIRO.pdf http://www.sindiopticarj.com.br/wp-content/uploads/2013/02/CCT-SALARIAL-2013-RIO-DE-JANEIRO.pdf 10 O prazo de vigência das convenções e dos acordos não poderá ser superior a dois anos (art. 614, § 3º, da CLT) e entrará em vigor três dias após a data do depósito de uma via do documento no Ministério do Trabalho, segundo o art. 614, § 1º, da CLT (BRASIL, 1943). Para finalizar, saiba que as convenções e os acordos coletivos devem descrever: • as categorias ou classes de trabalhadores abrangidas pelos respectivos ins- trumentos; • as condições ajustadas para reger as relações individuais de trabalho duran- te sua vigência; • as normas para a conciliação das divergências porventura existentes entre os convenentes por motivos da aplicação de seus dispositivos; • regras para o processo de sua prorrogação e revisão total ou parcial de seus dispositivos; • direitos e deveres dos empregados e das empresas; • penalidades para os sindicatos convenentes, os empregados e as empresas em caso de violação de seus dispositivos. Fechamento Sem dúvidas o direito de greve é um direito fundamental da esfera social. É advindo do conflito existente entre as relações de trabalho e tem a finalidade de suspender as atividades que são essenciais ao empregador cumprir sua função como empresa. Além disso, o direito de greve é manifestação de força dos trabalhadores. Pelos abusos praticados durante a Revolução Industrial, os trabalhadores passaram a ser organizar nos chamados sindicatos - a manifestação de força deste coletivo que se põe como vigilantes para inibir eventuais abusos praticados por empregadores contra seus empregados. 11 Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm>. Acesso em: 19 fev. 2015. ______. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial da União. Brasília, 9 de agosto de 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-lei/Del5452compilado.htm>. Acesso em: 17 fev. 2015. ______. Lei nº 7.783, de 28 de junho de1989. Dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Diário Oficial da União. Brasília, 29 de junho de 1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7783.htm>. Acesso em: 15 fev. 2015. ______. Lei nº 11.648, de 31 de março de 2008. Dispõe sobre o reconhecimento formal das centrais sindicais para os fins que especifica, altera a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 31de março de 2008. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/ L11648.htm>. Acesso em: 15 fev. 2015. ______. STF. Enunciados e Súmulas do Tribunal Superior Tribunal Federal. Súmula nº 666, 2003. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/ listarJurisprudencia.asp?s1=666&base=baseSumulas>. Acesso em: 15 fev. 2015. NASCIMENTO, A. M. Iniciação ao direito do trabalho. 31. ed. São Paulo: LTr, 2005. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-lei/Del5452compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7783.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=1642 http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=1642
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