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CURSO DE INTRODUÇÃO À CADEIA DE CUSTÓDIA DE VESTÍGIOS MÓDULO 1 GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA Jerônimo Rodrigues SECRETÁRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA Marcelo Werner Derschum Filho SUPERINTENDENTE DE GESTÃO INTEGRADA DA AÇÃO POLICIAL DPC André Augusto Barreto Oliveira COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR Cel PM Paulo José Reis de Azevedo Coutinho DELEGADA-GERAL DA POLÍCIA CIVIL DPC Heloísa Campos de Brito COMANDANTE-GERAL DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR Cel BM Adson Marchesini DIRETORA-GERAL DO DEPARTAMENTO DE POLÍCIA TÉCNICA Perita Criminal Ana Cecília Cardoso Bandeira CONTEUDISTAS/AUTORES Maj PM Tatiana Eleutério D’Almeida e Pinho Ten PM Paulo Cezar Miranda Assis Sgt PM Vanessa de Oliveira Santana COLABORADORES E GERENTES DO PROCESSO DE CADEIA DE CUSTÓDIA Perito Criminal Alexsandro Fiscina de Santana Maj BM Isis Christina Ramos Duques Castro DPC José Fernando Oliveira dos Santos Ten Cel PM Rafael Machado Nascimento REVISÃO Perito Criminal Osvaldo Silva Carolina dos Santos Oliveira PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Maj PM Tatiana Eleutério D’Almeida e Pinho CURSO DE INTRODUÇÃO À CADEIA DE CUSTÓDIA DE VESTÍGIOS 2024 - SUPERINTENDÊNCIA DE GESTÃO INTEGRADA DA AÇÃO POLICIAL Copyrigth 2024. Qualquer parte desta publicação poderá ser reproduzida desde que citada a fonte. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO DO CURSO OBJETIVOS DO CURSO OBJETIVO GERAL OBJETIVOS ESPECÍFICOS MÓDULO 1 - CONCEPÇÕES INICIAIS APRESENTAÇÃO DO MÓDULO OBJETIVOS DO MÓDULO ESTRUTURA DO MÓDULO Aula 1 - A prova pericial e a investigação criminal Aula 2 - Cadeia de custódia de vestígios Aula 3 - Impactos jurídicos da inobservância da cadeia de custódia de vestígios CONCLUINDO O MÓDULO 1 MÓDULO 2 - MARCOS NORMATIVOS APRESENTAÇÃO DO MÓDULO OBJETIVOS DO MÓDULO ESTRUTURA DO MÓDULO Aula 1 - A Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, e o aperfeiçoamento da legislação nacional referente à cadeia de custódia de vestígios. Aula 2 - A Portaria SSP n.º 108, de 30 de março de 2022, dispõe sobre o processo de cadeia de custódia de vestígios no âmbito do Sistema Estadual de Segurança Pública e outros aspectos relativos ao processo de cadeia de custódia. Aula 3 - A Portaria PMBA n.º 174, de 27 de dezembro de 2022, dispõe sobre o processo de cadeia de custódia no âmbito da PMBA. 06 07 07 07 08 08 08 08 09 14 18 21 22 22 22 22 24 26 31 SUMÁRIO Aula 4 - A Portaria PCBA n.º 364, de 07 de agosto de 2023, estabelece e o procedimento para a garantia da cadeia de custódia de vestígios no âmbito da Polícia Civil do Estado da Bahia, e dá outras providências. Aula 5 - A Portaria DPT n.º 86, de 29 de setembro de 2023 estabelece o procedimento para a garantia da cadeia de custódia de vestígios no âmbito do Departamento de Polícia Técnica do Estado da Bahia, e dá outras providências. CONCLUINDO O MÓDULO 2 MÓDULO 3 - PROCEDIMENTOS BÁSICOS APRESENTAÇÃO DO MÓDULO OBJETIVOS DO MÓDULO ESTRUTURA DO MÓDULO Aula 1 - As 10 fases da cadeia de custódia de vestígios Aula 2 - Os profissionais responsáveis pela cadeia de custódia de vestígios Aula 3 - Fatores críticos de sucesso para a preservação da cadeia de custódia de vestígios CONCLUINDO O MÓDULO 3 REFERÊNCIAS 33 36 38 40 40 40 40 41 44 46 48 49 Estimado(a) aluno(a) Seja bem-vindo ao curso de Noções Básicas da Cadeia de Custódia de Vestígios. Neste curso, você terá a oportunidade de explorar os fundamentos essenciais relacionados à cadeia de custódia de vestígios, juntamente com os procedimentos e princípios a serem seguidos pelos profissionais do Sistema Estadual de Segurança Pública (SESP) para garantir a integridade da prova material. Com as informações compartilhadas, nosso objetivo é destacar a relevância da manutenção da cadeia de custódia de vestígios para todos os integrantes do SESP. Compreender esta importância é crucial, pois a não observância dos procedimentos pode comprometer a integridade da prova material, potencialmente resultando em graves prejuízos para os processos legais e a persecução penal. Nesta iniciativa, além de abordar conceitos, marcos normativos e procedimentos técnicos fundamentais para a execução da cadeia de custódia de vestígios, daremos atenção especial a áreas críticas, como as etapas do processo, a conduta profissional nesse contexto e a necessidade de rigor na execução dos procedimentos, a fim de garantir o valor probatório da prova material. Desejamos que este curso contribua significativamente para seu desenvolvimento teórico e prático, além de promover reflexões contínuas sobre a importância do cumprimento dos requisitos legais e técnicos em todas as etapas da cadeia de custódia. Aproveite ao máximo e boa jornada! APRESENTAÇÃO DO CURSO 6SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia de vestígios 7 OBJETIVOS DO CURSO Objetivo Geral: O principal propósito é que, ao término do curso, os participantes estejam plenamente aptos a executar suas responsabilidades com absoluta aderência aos princípios éticos, técnicos e legais associados à manutenção da cadeia de custódia de vestígios. Eles contribuirão assim para a validade das provas materiais, assegurando a integridade e a observância rigorosa dos aspectos relevantes. Objetivos Específicos: Estabelecer uma compreensão sólida dos conceitos fundamentais necessários para a correta preservação de vestígios em locais de crimes. Identificar os principais instrumentos regulatórios que orientam a construção da cadeia de custódia, garantindo total conformidade com as normativas. Reconhecer os procedimentos técnicos essenciais para assegurar a qualidade do serviço pericial. O curso está dividido da seguinte forma: Módulo 1 - Concepções iniciais – Apresenta conceituações sobre prova material e cadeia de custódia de vestígios, além de abordar a importância de observá-los. Módulo 2 - Marcos normativos – Aborda as diretrizes institucionais que estabelecem os requisitos para cumprimento da cadeia de custódia de vestígios na segurança pública da Bahia e nas forças policiais, e, ainda, as consequências jurídicas de sua inobservância. Módulo 3 - Procedimentos básicos - Este módulo irá abordar os procedimentos básicos e fatores críticos de sucesso que precisam ser observados pelos agentes integrantes do SESP para a preservação e manutenção da cadeia de custódia de vestígios. O módulo também fará uma breve discussão sobre quais são os profissionais responsáveis pela cadeia de custódia de vestígios. SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia de vestígios Apresentação do módulo: As concepções iniciais sobre prova material e cadeia de custódia de vestígios e a importância de observá-los são apresentados neste módulo 1. Objetivos do módulo: Apresentar o conceito de prova material no contexto da investigação criminal; Apresentar o conceito de cadeia de custódia de vestígios; e Descrever alguns possíveis impactos jurídicos da inobservância da cadeia de custódia de vestígios. Estrutura do módulo: Este módulo está estruturado conforme as aulas a seguir: Aula 1 - A prova pericial e a investigação criminal; Aula 2 - Cadeia de custódia de vestígios; e Aula 3 - Impactos jurídicos da inobservância da cadeia de custódia de vestígios. MÓDULO 1 CONCEPÇÕES INICIAIS 8SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais AULA 1 - A PROVA PERICIAL E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL No âmbito do Código de Processo Penal Brasileiro, a prova material ou pericial desempenha um papel crucial na confirmação ou refutação da ocorrência de um delito, sendo frequentemente associada a elementos físicos, químicos ou biológicos (Código de Processo Penal, 2023, artigo 158-B, V, c/c artigo 158-B, VII). Essa categoria de provas abrange uma ampla variedade de evidências, incluindo objetos, documentos, substâncias, armas, vestígios biológicos, dentre outros. Encontra-se no CPP, a classificaçãodas provas como testemunhal, no caso de depoimentos prestados; documental, por meio de documentos produzidos e disponíveis no processo; e material, trata-se de meio físico, químico ou biológico como o exame de corpo de delito. A figura 1 ilustra a simulação da realização de uma perícia em local de crime, fundamental para a produção de prova. 9 Corpo de delito: conjunto de vestígios sensíveis, recuperáveis e passíveis de análise, que o delito deixa para trás, marcas deixadas pelo fato criminoso cometido. O corpo de delito “é o conjunto de vestígios materiais (elementos sensíveis) deixados pela infração penal, ou seja, representa a materialidade do crime. Os elementos sensíveis são os vestígios corpóreos perceptíveis por qualquer dos sentidos humanos” (CAPEZ, 2002, p. 275) Segundo Lopes Júnior (2018, p. 341), “as provas são os meios através dos quais se fará essa reconstrução do fato passado (crime). O tema probatório é sempre a afirmação de um fato (passado), não sendo as normas jurídicas, como regra, tema de prova (por força do princípio iura novit curia)”. A importância da prova material na investigação criminal reside no seu potencial de fornecer informações objetivas e irrefutáveis que auxiliam na elucidação dos fatos e na tomada de decisões no âmbito judicial. Figura 1: Simulação de perícia em local de crime. Fonte: SIAP/SSP (2023). Soint Destacar Soint Destacar Consoante apresenta o artigo 159 do CPP, o “exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior.” Logo, cabe à perícia oficial de natureza criminal a produção da prova material. Cabe destacar que a produção da Prova Pericial no Brasil é realizada pelos órgãos de Perícia Oficial de natureza criminal: as Polícias Técnico-científicas ou Superintendências Técnicos-científicas, na esfera estadual e no Distrito Federal, e o Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, na esfera federal. Na Bahia, o Departamento de Polícia Técnica (DPT/BA) é órgão de Perícia Oficial do Estado. Estando subordinado em regime de administração direta à Secretária da Segurança Pública, o DPT integra o Sistema Estadual da Segurança Pública (SESP). A cadeia de custódia de vestígios é um conceito fundamental no contexto da produção de prova pericial, pois se refere ao conjunto de procedimentos e cuidados adotados desde o momento em que uma evidência é coletada até a sua apresentação em juízo. O artigo 2º da Portaria n.º 0086 de 29 de setembro de 2023, do DPT, considera a cadeia de custódia como “o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte, conforme o art. 158-A, caput, do Código de Processo Penal.” SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais De acordo com a Portaria SSP n.º 108/2022, RASTREABILIDADE é a capacidade de identificar todo o caminho percorrido por um determinado vestígio, bem como as pessoas que a ele tiveram acesso, desde a sua identificação até o seu descarte ou devolução ao seu respectivo proprietário. (BAHIA. 2022). 10 Soint Destacar Soint Destacar Soint Destacar SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais 11 Isso significa que a cadeia de custódia documenta o trajeto do vestígio, garantindo a sua autenticidade, integridade e preservação ao longo do processo investigativo e do subsequente processo judicial. Essa documentação é essencial para evitar contaminação, adulteração ou degradação das provas, garantindo, assim, a sua lisura e admissibilidade em um tribunal. A cadeia de custódia possibilita a rastreabilidade dos vestígios. No Código Penal Brasileiro, a correta manutenção da cadeia de custódia é imperativa para a validade das provas materiais. Qualquer quebra na cadeia de custódia pode levar à contestação da autenticidade e integridade das evidências, comprometendo a sua utilização como meio de prova em um processo judicial. Portanto, a observância rigorosa dos protocolos de cadeia de custódia é um requisito essencial para assegurar que a justiça seja feita e que os direitos dos cidadãos sejam protegidos de acordo com a legislação brasileira. Dessa forma, a prova material, aliada a uma cadeia de custódia bem estabelecida e mantida, desempenha um papel crucial na investigação criminal e no processo judicial, contribuindo para a busca da verdade, a garantia da justiça e a proteção dos direitos dos envolvidos. A confiabilidade e a integridade das evidências físicas são alicerces fundamentais para a condenação de culpados e a absolvição de inocentes, assegurando o devido processo legal no âmbito do sistema judicial brasileiro. A figura 2 demonstra a realização do trabalho da perícia com o devido registro de informações para preservação da cadeia de custódia. Figura 2: Simulação de perícia em local de crime com uso da Ficha de Acompanhamento de Vestígios (FAV) digital no Sistema de Mobilidade em Operações de Segurança Pública (MOP) disponível no rádio de comunicação LTE. Fonte: SIAP/SSP (2023). 12SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais O modelo de persecução penal no Brasil adota uma abordagem acusatória e divide-se em distintas fases, cada uma com funções específicas no processo penal. A primeira fase, denominada fase pré-processual, compreende a investigação criminal, conduzida pela polícia e pelo Ministério Público, onde se busca a coleta de provas e indícios para determinar se há elementos para a instauração de um processo. A segunda fase é a processual, onde o caso é encaminhado ao Poder Judiciário e ocorrem ações penais com a apresentação da denúncia e a produção de provas em um contraditório judicial. É nessa fase que o juiz buscará formar sua convicção sobre os fatos, materialidade e autoria do delito, por meio da apreciação das provas produzidas. Findadas essas fases, ocorre a execução da pena, na qual, se houver condenação, a sentença é cumprida. O sistema processual penal no Brasil é orientado por princípios fundamentais, como o devido processo legal e o respeito aos direitos individuais, visando garantir a justiça, a imparcialidade e a proteção dos envolvidos ao longo de todas as fases da persecução penal. PRIMEIRA FASE SEGUNDA FASE A PRIMEIRA FASE, DENOMINADA FASE PRÉ- PROCESSUAL, COMPREENDE A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL, CONDUZIDA PELA POLÍCIA E PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, ONDE SE BUSCA A COLETA DE PROVAS E INDÍCIOS PARA DETERMINAR SE HÁ ELEMENTOS PARA A INSTAURAÇÃO DE UM PROCESSO. A SEGUNDA FASE É A PROCESSUAL, ONDE O CASO É ENCAMINHADO AO PODER JUDICIÁRIO E OCORREM AÇÕES PENAIS COM A APRESENTAÇÃO DA DENÚNCIA E A PRODUÇÃO DE PROVAS EM UM CONTRADITÓRIO JUDICIAL. É NESSA FASE QUE O JUIZ BUSCARÁ FORMAR SUA CONVICÇÃO SOBRE OS FATOS, MATERIALIDADE E AUTORIA DO DELITO, POR MEIO DA APRECIAÇÃO DAS PROVAS PRODUZIDAS. Soint Destacar A persecução penal é o conjunto de atos e procedimentos realizados pelas autoridades judiciais e órgãos de controle do Estado com o objetivo de investigar, processar e julgar indivíduos suspeitos de cometer crimes. Este processo envolve desde a fase de investigação criminal até o julgamento dos autores do delitos em tribunais. SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais A persecução penal visa garantir que a justiça seja feita, que os direitos das partes envolvidas sejam respeitados e que, no final, uma decisão justa seja proferida. É uma parte fundamental do sistema de justiça criminal, e sua condução é guiada por princípios legais e garantias fundamentais, como o devido processo legal, a presunção de inocência e o direito à defesa. 13 “A persecução penal é o conjunto de atividades desenvolvidas pelo Estado que possibilitam atribuir punição ao autor de um crime cometido” (SENASP, 2020a). O QUE É ESSA PERSECUÇÃO PENAL? A períciaé um processo técnico-científico realizado por peritos especializados, com o objetivo de investigar, analisar e produzir laudos ou pareceres sobre elementos de prova em casos criminais. Carvalho; Brito; Pinho (2022, p. 16-17) deslindam que: Sob o prisma de um Estado Democrático de Direito, a perícia apresenta um papel fundamental para a Justiça, proporcionando objetividade e imparcialidade na resolução de casos. A perícia é o exame feito por pessoa com conhecimentos técnicos e científicos em relação aos fatos ou circunstâncias apurados no processo, com fito de servir de prova para embasar a decisão judicial, proporcionando maior acessibilidade à cidadania. ONDE A PERÍCIA ENTRA NESSA HISTÓRIA? SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais Para assimilar a concepção de Cadeia de custódia de vestígios é importante entender que a cadeia representa um agrupamento de procedimentos voltados a garantir a autenticidade dos vestígios. Com a Lei nº 13.964 (BRASIL, 2019), de 24 de dezembro de 2019, o legislador brasileiro inseriu o conceito legal de cadeia de custódia no CPP, no art. 158-A: “Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.” 14 AULA 2 - CADEIA DE CUSTÓDIA DE VESTÍGIOS Esta visão reforça a importância não apenas no trato com os vestígios, mas principalmente com sua embalagem, como apresentado na figura 3, e toda a documentação cronológica dos registros durante a “existência” do vestígio. Portanto, os vestígios precisam possuir uma cadeia de custódia que garanta sua integridade desde sua coleta até sua destinação final, haja vista que, a partir de sua localização, em um local de crime por exemplo, passando por sua análise pela perícia oficial até o encaminhamento para as autoridades competentes, esses elementos materiais serão manuseados por diversos atores, transportados entre órgãos oficiais e armazenados em vários locais e em diversos momentos. Em 2020, a International Organization for Standardization (ISO), por meio da Norma nº 22095 (2020), apresentou a concepção de cadeia de custódia como o “processo pelo qual entradas e saídas de materiais e informações associadas são transferidas, monitoradas e controladas à medida que avançam em cada etapa do processo”. Figura 3: Vestígio acondicionado em embalagem provisória com lacre plástico numerado tipo serrilhado. Fonte: SIAP/SSP (2023). SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais E COMO DOCUMENTAR TODAS ESSAS INFORMAÇÕES SOBRE POSSE E MOVIMENTAÇÃO DOS VESTÍGIOS? VOCÊ SABIA? A SSP Bahia inovou e criou a sua FAV digital. Ela está disponível no Sistema de Mobilidade em Operações de Segurança Pública (MOP) e pode ser acessada a partir de smartphones e do Rádio de Comunicação LTE. 15 Nesse sentido, BRENNER, 2004, destaca que a cadeia de custódia precisa garantir a integridade e confiabilidade dos vestígios, da coleta ao seu descarte. E para isso, é imprescindível que as forças policiais persistam em possibilitar o rastreio do manuseio e dos armazenamento dos vestígios. Sobre isto, assevera Edinger, 2016, p. 239, “é dever do Estado e, também, direito do acusado, identificar, de maneira coerente e concreta, cada elo, a partir do momento no qual o vestígio foi encontrado. Assim, fala-se em cadeia de custódia íntegra quando se fala em uma sucessão de elos provados.”. Silva Neto e Espíndola (2016, p. 52-53), esclarecem que a cadeia de custódia se refere a: [...] sequência de proteção e guarda dos elementos materiais encontrados durante a investigação e que devem manter resguardadas suas características originais e informações, sem qualquer dúvida sobre sua origem e manuseios. Pressupõe a formalização de todos os seus procedimentos por intermédio do registro do rastreamento cronológico de toda a movimentação de alguma evidência. Para isto foi instituída na Portaria SSP n.º 108/2022 a Ficha de Acompanhamento de Vestígios (FAV). Ela apresenta os campos para registro individualizado das informações relativas ao vestígio, partindo da análise do isolamento de local de crime, onde o vestígio porventura fora localizado, até o momento de seu descarte. A FAV será apresentada a seguir nas figuras 4 e 5. A cadeia de custódia consiste, em termos gerais, em um mecanismo garantidor da autenticidade das evidências coletadas e examinadas, assegurando que correspondem ao caso investigado, sem que haja lugar para qualquer tipo de adulteração (LIMA, 2021. p. 608). SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais 16 Fonte: Portaria SSP n.º 108/2022. (Bahia, 2022a). Figura 4 - Ficha de acompanhamento de vestígios - página 1. SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais 17 Fonte: Portaria SSP n.º 108/2022. (Bahia, 2022a). Figura 5 - Ficha de acompanhamento de vestígios - página 2. SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais Os impactos jurídicos do não cumprimento da cadeia de custódia de vestígio reverbera, inevitavelmente, na atividade das Instituições de Segurança Pública na medida em que um infrator da lei preso pela polícia pode alegar nulidade processual por quebra da cadeia de custódia ocasionando o seu retorno à sociedade. Restando provada a quebra dos procedimentos afetos à preservação da cadeia de custódia, é possível a responsabilização criminal e administrativa do agente público responsável pelo atendimento da ocorrência policial, que não observara de tais procedimento. Valente (2022) revela que, em última instância, é possível até se cogitar a configuração de crime de abuso de poder por parte dos profissionais que não adotem os procedimentos estabelecidos para a preservação da cadeia de custódia. De acordo com Souza (2023, p. 28), 18 Para formação da convicção do órgão julgador é levado em conta vários elementos normativos, inclusive o elemento de prova pericial, para que as decisões judiciais estejam mais próximas da realidade do fato do que realmente ocorreu, garantindo assim a justiça processual. E, portanto, a inobservância da cadeia de custódia poderá suscitar a inadmissibilidade da prova ou, na sua admissão, uma redução do seu valor probatório de elemento de prova pelo órgão julgador. AULA 3 - IMPACTOS JURÍDICOS DA INOBSERVÂNCIA DA CADEIA DE CUSTÓDIA DE VESTÍGIOS Para Santos e Salgado (2020, p. 5), a quebra da cadeia de custódia tem a consequência seguinte: Em relação à inadmissibilidade no processo de provas corrompidas, tem-se como um dos argumentos que esse tipo de elemento probatório gera dúvidas quanto à confiança das evidências colhidas pelos órgãos persecutórios, devendo essas, pelo princípio do in dubio pro reo, serem excluídas ou não admitidas do processo. SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais Rosa e Lopes Júnior (2016, p. 04), argumentam que a observância dos procedimentos da cadeia de custódia de elemento de prova é uma “[...]discussão no campo da ‘conexão de antijuridicidade da prova ilícita’, consagrada no artigo 5º, inciso LVI da Constituição, acarretando a inadmissibilidade da prova ilícita”. Logo, a preservação ou a quebra da cadeia de custódia podem contribuir para a imputação ou isenção de alguém de responsabilidade pelo cometimento de um crime. Convém destacar que a inadmissibilidade ou nulidade da prova por quebra da cadeia de custódia ainda é um tema em acalorada discussão. Por exemplo, o Habeas Corpus (HC) nº 653.515 do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), de 09 de dezembro de 2021, concedido pela 6ª Turma ao réu acusado de tráfico de drogas, relativiza a nulidade do valor do elemento de prova, quando da inobservância de norma da cadeia de custódia de vestígio, discorrendo que a quebra da cadeia de custódia não gera necessariamentenulidade obrigatória do elemento de prova. (Brasil. STJ, 2021). De todo modo, o papel do profissional da segurança pública é cumprir fielmente o procedimento de preservação da cadeia de custódia de vestígio, conforme previsto na lei processual penal e nas diretrizes institucionais, evitando questionamentos futuros sobre a sua atuação e futura responsabilidade criminal e administrativa. Em um contexto forense, a cadeia de custódia de vestígios desempenha um papel crucial na preservação da integridade e autenticidade das provas coletadas em uma investigação. A inobservância adequada desse processo pode acarretar sérias consequências jurídicas, comprometendo a validade das evidências e impactando negativamente todo o desdobramento do caso. SAIBA MAIS! A nulidade processual é um tema bastante polêmico. Para ajudar na compreensão desse assunto que tanto impacta na atividade policial, veja estas matérias: Link 1: Do Pacote Anticrime à jurisprudência do STJ Link 2: Cadeia de custódia da prova, sua quebra e consequência 19 https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/2023/23042023-A-cadeia-de-custodia-no-processo-penal-do-Pacote-Anticrime-a-jurisprudencia-do-STJ.aspx https://www.jusbrasil.com.br/artigos/cadeia-de-custodia-da-prova-sua-quebra-e-consequencia/1297130316 https://www.jusbrasil.com.br/artigos/cadeia-de-custodia-da-prova-sua-quebra-e-consequencia/1297130316 SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais Admissibilidade das Provas em Juízo: A inobservância da cadeia de custódia pode levar à contestação da admissibilidade das provas em juízo. A defesa pode questionar a autenticidade e a confiabilidade dos vestígios, argumentando que foram comprometidos ou adulterados durante o processo de coleta, transporte ou armazenamento. Questionamento da Credibilidade do Processo Judicial: A cadeia de custódia é um componente essencial para garantir a confiabilidade do processo judicial. Se a integridade das evidências for comprometida, a credibilidade de todo o processo pode ser colocada em xeque. Isso pode afetar a confiança do tribunal, dos jurados e do público no resultado final do julgamento. Possíveis Exclusões de Evidências: O juiz pode decidir excluir as evidências coletadas devido à violação da cadeia de custódia. A exclusão ocorre quando a parte prejudicada pode demonstrar que a falta de integridade na custódia prejudicou substancialmente seus direitos, impossibilitando um julgamento justo. Ações Disciplinares e Responsabilização: Profissionais responsáveis pela custódia de vestígios, como peritos, agentes de segurança e outros envolvidos no processo, podem estar sujeitos a ações disciplinares e responsabilização legal por negligência ou má conduta. Isso pode incluir processos administrativos, civis ou mesmo criminais, dependendo da gravidade da inobservância. Precedente para Recursos e Revisões: Caso a cadeia de custódia seja comprometida, cria-se um precedente para recursos e revisões judiciais. A parte prejudicada pode buscar recursos legais para reavaliar o caso, com base na argumentação de que as evidências foram inadequadamente manuseadas, comprometendo a justiça do veredicto. Impacto nas Investigações Futuras: A reputação das instituições de segurança pública e da perícia pode ser abalada se a cadeia de custódia não for adequadamente mantida. Isso pode prejudicar investigações futuras, minando a confiança da sociedade nas instituições encarregadas da aplicação da lei. Aqui estão os principais pontos sobre as consequências jurídicas da negligência na cadeia de custódia de vestígios: 20 Portanto, é crucial enfatizar a importância da estrita conformidade com os protocolos da cadeia de custódia em qualquer curso de formação para garantir que os profissionais envolvidos em investigações compreendam as consequências significativas da inobservância desse processo vital. 21 HORA DA REVISÃO Neste módulo 1, você aprendeu que: CONCLUINDO: SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia - Módulo 1: Concepções iniciais A prova material ou pericial pode ser determinante para a confirmação ou refutação da ocorrência de um delito. No Brasil, a produção da prova pericial é realizada pelos órgãos de perícia oficial de natureza criminal. Na Bahia, é o Departamento de Polícia Técnica que desempenha essa atividade. A produção de prova pericial está diretamente relacionada a preservação da cadeia de custódia de vestígios. A correta manutenção da cadeia de custódia é imperativa para a validade das provas materiais. A persecução penal tem o objetivo de investigar, processar e julgar indivíduos suspeitos de cometer crimes. As decisões judiciais são impactadas pelas conclusões resultantes das perícias realizadas em evidências físicas, como vestígios, documentos, objetos e locais de crimes. Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal. A inobservância da cadeia de custódia poderá suscitar a inadmissibilidade da prova ou, na sua admissão, uma redução do seu valor probatório de elemento de prova pelo órgão julgador. SSP Bahia - Curso de Introdução à Cadeia de custódia de vestígios 49 BAHIA. Secretaria da Segurança Pública. Portaria Nº 108, de 30 de março de 2022. Diário Oficial do Estado, Salvador, 31 mar. 2022a. BAHIA. Polícia Militar da Bahia. Portaria Nº 174-CG/22 de 27 de dezembro de 2022. Boletim Geral Ostensivo, Salvador, 27 dez. 2022b. BAHIA. Polícia Civil do Estado da Bahia. Portaria Nº 364, de 07 de agosto de 2023. Diário Oficial do Estado, Salvador, 25 ago. 2023a. BAHIA. Departamento de Polícia Técnica do Estado da Bahia. Portaria Nº 86, de 29 de setembro de 2023. Diário Oficial do Estado, Salvador, 30 set. 2023b. BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL BRASILEIRO. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del3689.htm. Acesso em: 18 dez. 2023. BRASIL. Lei nº 11.690 de 9 de junho de 2008. Altera dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos à prova, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 jun. 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11690.htm. Acesso em: 20 set. 2023. BRASIL. 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