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Ciências & Cognição 2021; Vol 26(2) 360-369 © Ciências & Cognição ISSN 1806-5821 <http://www.cienciasecognicao.org/revista> Submetido em 13/02/20 | Aceito em: 13/06/21 | Publicado online em 31/12/21 360 REVISÃO Revisão da literatura sobre Transtorno Opositivo Desafiador e Transtorno de Conduta: causas/proteção, estratégia escolar e relação com a criminalidade Literature review about Oppositional Defiant Disorder and Conduct Disorder: causes / protection, teaching school and relationship with crime Dhaniella Cristhina de Brito Oliveira, Danielle Rodrigues Monteiro da Costa * Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Marabá, Pará, Brasil. Resumo De acordo com variados estudos científicos, nas idades escolares os estudantes podem apresentar diferentes distúrbios comportamentais. Assim, este artigo tem como objetivo apresentar uma revisão da literatura sobre o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e o Transtorno de Conduta (TC) de modo a favorecer o diagnóstico e intervenções escolares. Para isso, realizou-se busca por descritores no Portal da Capes e no Google Acadêmico em que foram selecionados trabalhos mais recentes escritos em português e inglês que continham no título dos manuscritos os termos da busca e os conteúdos destes foram divididos em categorias, tais como, fatores de causa/proteção; estratégias de trabalho com alunos acometidos de TOD e TC e a relação que os distúrbios podem apresentar com o cometimento de atos infracionais. Verificou-se que os autores abordam que ambos os distúrbios podem desenvolver-se pela influência do ambiente social das crianças e adolescentes, e que o professor pode exercer influência sobre o comportamento e rendimento escolar destes estudantes. O presente estudo contribui, portanto para a compreensão dos distúrbios a partir da exposição do debate de diversos autores o que pode auxiliar professores, alunos e pais no trabalho com pessoas acometidas de TOD e TC. Palavras-chave: transtorno de conduta; transtorno opositivo desafiador; revisão. Abstract According to several scientific studies, at school age, students may have different behavioral disorders. Thus, this article aims to present a literature review on Oppositional Defiant Disorder (ODD) and Conduct Disorder (CT) to favour diagnosis and school interventions. A search for descriptors in Capes * D.R. M. da Costa - E-mail: danymont@uepa.br br – ORCID http://orcid.org/0000-0002-8593-371X; D.C.O. Oliveira – ORCID http://orcid.org/0000-0002-9051-3584 https://orcid.org/0000-0002-8593-371X https://orcid.org/0000-0002-9051-3584 Ciências & Cognição 2021; Vol 26(2) 360-369 © Ciências & Cognição ISSN 1806-5821 <http://www.cienciasecognicao.org/revista> Submetido em 13/02/20 | Aceito em: 13/06/21 | Publicado online em 31/12/21 361 REVISÃO Portal and Google Scholar was carried out, in which more recent works written in Portuguese and English that contained the search terms in the title of the manuscripts and their contents were divided into categories, such as causative/protective factors; work strategies with students suffering from ODD and CT, and the relationship that the disorders can present with infractions. We found that the authors state that both disorders can develop under the influence of the children's and adolescents' social environment and that the teacher can influence their behavior and academic performance. Therefore, the present study contributes to the understanding of disorders from the discussion of several authors' debates, which can help teachers, students, and parents work with people with ODD and CT. Keywords: conduct disorder; oppositional defiant disorder; revision. Introdução Vários são os fatores que impedem que o trabalho pedagógico em sala de aula ocorra de maneira mais proveitosa. Entre esses fatores está o mau comportamento estudantil que toma do professor tempo de aula, atenção dos demais alunos de classe, entre outras consequências. Quando este comportamento dos estudantes se torna preocupante? Considerando a faixa etária dos alunos entre os anos iniciais e finais de escolarização, têm-se idades em que podem ser apresentados diferentes distúrbios comportamentais, dentre os quais os de conduta. Os distúrbios de conduta são um conjunto de problemas e comportamentos repetidos agressivos, violentos, antissociais, ou desafiadores, capazes de violar regras, deveres e normas sociais. Nesta categoria estão o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e o Transtorno de Conduta (TC). O TOD caracteriza-se por um padrão de comportamentos hostis, desafiadores e desobedientes, iniciados normalmente entre seis e oito anos, raramente após o início da adolescência. Assim, as pessoas acometidas deste transtorno não se sujeitam a regras, por não se conformarem com as exigências de outros, e tendem a enfrentar e questionar os adultos ou figuras de autoridade que tentam colocar regras e estabelecer limites para com eles. Quantitativamente, o transtorno atinge uma média de 6% das crianças e adolescentes, e é similar em ambos os gêneros, porém, apresenta-se com maior persistência em crianças do gênero masculino e suas características variam de acordo com a idade da criança e a gravidade do transtorno (Bernardo, Silva & Santos, 2017; Silva, 2017; Araújo & Araújo, 2017; Vilhena & Paula, 2017). Quando não tratado o TOD pode evoluir para o TC, que, caracterizado como um transtorno mais grave, apresenta padrões persistentes de conduta dissocial, agressiva ou desafiante. Crianças e adolescentes com TC expressam comportamentos vingativos, rancorosos, explosivos, com perda rápida de temperamento, reagindo de maneira agressiva às pessoas e animais, destruindo propriedade e apresentando um padrão de roubo ou de falsidade (American Psychiatric Association, 2014). Ambos os transtornos se desenvolvem em indivíduos com idade inferior a 18 anos, momento que corresponde às idades escolares em que crianças e adolescentes brasileiros estão cursando o ensino básico (fundamental e médio), passando em média quatro horas diárias no ambiente escolar. Ciências & Cognição 2021; Vol 26(2) 360-369 © Ciências & Cognição ISSN 1806-5821 <http://www.cienciasecognicao.org/revista> Submetido em 13/02/20 | Aceito em: 13/06/21 | Publicado online em 31/12/21 362 REVISÃO A presente revisão tem por objetivo apresentar uma revisão da literatura sobre o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e o Transtorno de Conduta (TC) de modo a favorecer o diagnóstico e intervenções escolares. 1. Fundamentação Ambos os transtornos estão descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (American Psychiatric Association, 2014). Documento mundial que aborda critérios para o diagnóstico do transtorno a partir da verificação da existência de um padrão de comportamento em indivíduos com idade inferior a 18 anos. Para que o diagnóstico seja positivo, o indivíduo deve nos últimos 12 meses apresentar pelo menos quatro ou mais comportamentos dos 15 critérios diagnósticos presentes no manual, associado de no mínimo um comportamento antissocial (furtos, brigas com uso de armas etc.) nos últimos seis meses. De acordo com Ezpeleta, Navarro, Osa, Penelo e Domenech (2019), no período da pré- escola a probabilidade de aparição de distúrbios de conduta é alta, apresentando diminuição no início da infância (6 e 7 anos) e outro aumento na aproximação da puberdade (8 e 9). Vale destacar que este é o período em que a criança está adquirindo habilidades importantes de autorregulação e função executiva, aprendendo a lidar com as suas frustrações pessoais e emoções provenientes da vida em sociedade. Na convivência social, Dias (2012)informa que pessoas com distúrbios de conduta podem ter suas relações comprometidas pela impulsividade, alteração na regulação do afeto, e prejuízos nas funções executivas e na atenção dos seus portadores, além de apresentarem riscos de desenvolver outros problemas, incluindo transtornos de ansiedade e depressão. No ambiente escolar, Rodrigues, Sousa e Carmo (2010) relatam, em um estudo de caso, que no ensino fundamental o aluno tende a desafiar professores e demais funcionários que tentam lhe impor limites, persistem na violação de normas sociais, rotineiramente brigam com os colegas, não realizam tarefas extraclasse, culpam aos outros por seu comportamento hostil e apresentam baixo rendimento escolar trazendo limitações acadêmicas e sociais às crianças ou aos adolescentes. Quanto ao baixo rendimento escolar que estes alunos podem apresentar, diferentes autores abordam que esses transtornos psiquiátricos não apresentam ligação direta com dificuldade de aprendizagem. No entanto, o transtorno pode potencializar prejuízos na atenção dos seus portadores no processamento de linguagem e na aquisição de novas informações, o que pode causar repetência e evasão escolar. Além disso, o transtorno pode incidir no trabalho do professor com os demais alunos individual e coletivamente, uma vez que pode promover agressões verbais e físicas aluno-aluno e aluno-professor, sendo necessário o desenvolvimento escolar de estratégias de apoio a estes estudantes, tais como intervenções que reforcem a pro- atividade e o comportamento pró-social de maneira a reduzir comportamentos disruptivos (Vilhena & Paula, 2017; Tyler, White, Thompson & Blair, 2019). Nas escolas, no entanto, Silva (2017) ressalta que não há suporte adequado para identificar ou mesmo desenvolver estratégias para o trabalho com alunos que sofrem dos transtornos já citados. Isto tem contribuído para que, cada vez mais, sejam acentuadas rotulações indevidas aos alunos que possuem transtornos definindo-os como hiperativos, sem limites etc., além de favorecer momentos de agressão aluno-professor e aluno-aluno. Atitudes estas que comprometem a missão educativa das instituições escolares. Ciências & Cognição 2021; Vol 26(2) 360-369 © Ciências & Cognição ISSN 1806-5821 <http://www.cienciasecognicao.org/revista> Submetido em 13/02/20 | Aceito em: 13/06/21 | Publicado online em 31/12/21 363 REVISÃO 2. Método 2.1. Indexadores O material para revisão foi selecionado a partir de consultas feitas ao Portal de periódico CAPES e no Google Acadêmico, realizadas durante os meses de abril e maio de 2019 em que foram utilizados os seguintes descritores para a pesquisa: transtorno de conduta na escola; transtorno opositivo desafiador na escola, acrescidos de suas traduções não literais para a língua inglesa. 2.2. Critérios de inclusão e exclusão Os critérios de inclusão foram: conter os descritores da busca no título do trabalho; trabalhos escritos em língua inglesa publicados no primeiro trimestre de 2019; trabalhos em língua portuguesa de estudantes de pós-graduação ou publicados em revistas científicas; trabalhos com público cumpridor de medida socioeducativa; trabalhos práticos em escolas e disponibilidade da publicação em formato integral. Por sua vez, foram considerados para critério de exclusão trabalhos de revisão sistemática e/ou estudos teóricos. Para a amostragem final, foram considerados relevantes trabalhos que ao debaterem os transtornos de comportamento mencionavam o ambiente escolar e socioeducativo. Os estudos selecionados para a amostragem final foram lidos na íntegra e suas informações organizadas em categorias como: causas/proteção, estratégias de trabalho com alunos acometidos de distúrbios de conduta e relação com atos infracionais. 3. Desenvolvimento Na busca de trabalhos científicos que tratassem do tema, observou-se que os distúrbios de conduta, quando comparados a demais transtornos são pouco pesquisados. Referente aos transtornos discutidos neste trabalho observou-se na busca nos portais, que há um maior número de estudos sobre o Transtorno de Conduta do que referente ao Transtorno Opositivo Desafiador. A amostragem final foi composta por 16 estudos, os quais apresentam seus conteúdos divididos em diferentes categorias, que passam a ser expostas abaixo. 3.1. Causas/proteção Todos os trabalhos revisados neste artigo abordavam que não há esclarecimento quanto à etiologia desses transtornos comportamentais. Descrevem, no entanto, que observações referentes à idade de apresentação dos transtornos fazem com que diferentes autores atribuam suas causas a fatores ambientais, sugerindo que, a família como primeiro núcleo de aprendizagem de comportamento das pessoas seria responsável pela modelagem de comportamentos e que devido as fortes influências das atitudes dos genitores, as crianças poderiam interiorizar as experiências vivenciadas e formar sua personalidade (Dias, Oliveira- Monteiro & Aznar-Farias, 2014; Adams, 2010). Sob esta mesma visão, Teixeira (2014) esclarece que alguns fatores familiares influenciam, incluindo: Ciências & Cognição 2021; Vol 26(2) 360-369 © Ciências & Cognição ISSN 1806-5821 <http://www.cienciasecognicao.org/revista> Submetido em 13/02/20 | Aceito em: 13/06/21 | Publicado online em 31/12/21 364 REVISÃO Complicações pré e perinatais [...], psicopatologia e comportamento criminoso na família [...], desenvolvimento materno e paterno deficiente [...], supervisão deficiente [...], perturbações das qualidades das relações familiares [...], discórdia conjugal [...], tamanho da família [...] e desvantagem socioeconômica (Teixeira, 2014, p. 50). Kivumbi et al. (2019) e Saunders et al. (2019) sugerem que a pobreza extrema, a violência, a presença de doenças sexualmente transmissíveis (presentes nos genitores) e a mortalidade parental podem ser fatores associados aos transtornos de conduta, estando relacionados à natureza ambiental, biológica, ou a um conjunto amplo de fatores que interagem entre si, desencadeando o desenvolvimento de transtornos comportamentais. Assim, denota-se influência da relação afetiva com os pais, a maneira de punição empregada a estes, falta de carinho parental, sentimento de insegurança, hostilidade, agressividade em relações sociais e familiares, humilhações, abuso físico e psicológico, e exposição a desenhos de violência e jogos como estímulos ao comportamento agressivo, podendo provocar alterações nos traços calosos dos portadores de transtornos. Referente a isto, Tyler et al. (2019) afirmam que no cérebro de um jovem com problema de conduta, verifica-se diminuição da atividade na via amígdala-ínsula, levando a elevada frieza emocional e pouco remorso ou culpa pela angústia gerada a outros indivíduos o que pode reforçar suas atitudes antissociais pela diminuição da reatividade autonômica ao medo e tristeza (Souroulla, Panteli, Robinson & Panayiotou, 2019) As atitudes demonstradas por pessoas com distúrbio – caracterizadas por Severa et al. (2019) como falta de remorso ou culpa, insensibilidade, falta de empatia, falta de preocupação com o desempenho e afeto superficial ou deficiente – faz com que, segundo Silva (2017), as pessoas com o transtorno sejam muito prejudicadas por rejeições que são geradas em torno deles. Isso gera nos portadores grande sofrimento por sua não aceitação uma vez que estes não se consideram raivosos, opositores ou desafiantes, não compreendendo suas atitudes como antissociais. Quanto à forma de tratamento, ambos os transtornos, até o encerramento desta pesquisa, não apresentavam cura, podendo apenas ser seus sintomas amenizados pelo uso de neurolépticos e com psicoterapias que vão de treinamento de soluções de problemas, desenvolvimento de habilidades sociais e orientação de pais e professores.Os programas de tratamento para aspectos cognitivos e familiares associados aos distúrbios, segundo Dias (2012) devem ser realizados enquanto o portador ainda é criança, uma vez que, com o passar dos anos, há diminuição nas habilidades adaptativas do sujeito. Essa diminuição ocorre devido a diátese-estresse que, de acordo com estudos de Tyler et al. (2019), faz com que quanto maior for a exposição de um indivíduo a situações de estresse, mais elevado serão seus traços calosos-não-emocionais, fazendo com que estes sejam menos sensíveis a causar prejuízos físicos, materiais ou mentais a outras pessoas, reagindo de forma excessiva a estressores moderados pelo resto de sua vida. Felizmente, vulnerabilidade genética não significa imutabilidade, podendo ser tomadas medidas preventivas e estratégias de tratamento que se baseiam em contrapor influências ‘negativas’ por ‘positivas mais fortes’ através de diferentes ações conjuntas com a família, a comunidade, a escola e com o próprio menor (Rodrigues, 2009; Osa, Penelo, Navarro, Trepat & Ezpeleta, 2019). 3.2. Estratégias de trabalho com alunos acometidos de distúrbios A divulgação nas escolas e em momentos de formação continuada para professores e gestores sobre os possíveis transtornos que podem ser gerados nas idades escolares, de Ciências & Cognição 2021; Vol 26(2) 360-369 © Ciências & Cognição ISSN 1806-5821 <http://www.cienciasecognicao.org/revista> Submetido em 13/02/20 | Aceito em: 13/06/21 | Publicado online em 31/12/21 365 REVISÃO acordo com Rodrigues et al (2010) e Silva (2017) são de extrema importância para que a escola crie estratégias de trabalho com os alunos e para que seja superado equívocos de avaliação que categorizam alunos com distúrbios de conduta como pessoas com dificuldade de aprendizagem. Isto impede a realização de intervenções necessárias ao trabalho com estas crianças e adolescentes. Referente às estratégias para o trabalho docente com os estudantes, apresentados neste trabalho, ressalta-se que não se tem uma receita infalível de como lidar com alunos acometidos de distúrbios de comportamento; a primeira tática seria buscar ajuda de um profissional qualificado, como a exemplo psicólogos e psicopedagogos. Esses profissionais, conhecendo o caso, podem traçar planos de trabalho juntamente com o professor para um atendimento personalizado do aluno que sofre desse e de outros distúrbios. Trabalhos como o de Araújo e Araújo (2017) demonstram grandes benefícios deste método, pois como citado anteriormente, o transtorno é dimensional em sua gravidade, e o atendimento personalizado permite um trabalho mais centrado no comportamento antissocial apresentado pelo estudante. Em continuidade, Rodrigues et al (2010) entendem ser de extrema importância estabelecer rede de relações escola-família-profissionais especializados. Essas redes são cooperativas; assim, a escola responsabiliza-se pelos ensinamentos necessários que lhe cabe, como: realização de intervenções cognitivas, treinamento em habilidades sociais, orientação vocacional e reforço escolar, além de permitir a intervenção de profissionais especializados na melhoria das didáticas de ensino do aluno com transtorno. Evita-se, assim: práticas educativas coercitivas, abuso físico e psicológico; negligência, disciplina relaxada, punição inconsistente e monitoria negativa. A família fica incumbida do papel de fortalecimento de boas relações familiares. Nesta estratégia, no entanto, segundo Bernardo et al (2017), é necessário que cada um compreenda e faça o seu papel, uma vez que esforços unilaterais sobrecarregam e podem não surtir os efeitos esperados. Diferentes autores entendem que no ambiente escolar, a relação professor-aluno não deve ser marcada por rotulações. É importante que o docente conheça o aluno e a família dele e procure sempre apresentar uma postura pedagógica adequada, uma vez que as crianças e adolescentes tendem a imitar modelos que, para eles, são significativos. Quanto às atividades pedagógicas, Carmo (2010) comenta que o professor pode elaborar: provas com poucas questões, sendo estas claras e diretas; provas orais; direcionar menor quantidade de lições para serem feitas em domicílio; exercitar o conteúdo mediante repetições de exercícios; permitir o uso de gravador, tabela periódica e calculadora para determinados momentos da aula, incentivar o uso de estratégias de memorização e recuperação de informações, entre outros. Fora isto, em sala de aula é importante que o professor dialogue com o aluno com o transtorno, perguntando a ele, por exemplo: sobre sua relação com a família, quais tarefas desenvolvem em casa, o que gosta de estudar/fazer na escola, porque não gosta de fazer outras atividades e assim por diante, de forma a identificar qual estratégia pedagógica será mais bem recepcionada por esse aluno e, também, as formas de aproximação entre aluno e professor mais viáveis, promovendo a autoestima dos estudantes e estimulando a confiança e a satisfação no convívio em sala de aula. A relação harmoniosa professor-aluno é fundamental para que crianças com transtornos percam a concepção de que adultos apenas agem de forma severa e punitiva e disponham-se a estabelecer conversas honestas e objetivas sobre seu comportamento, sem partirem para agressões (Silva, 2017; Araújo & Araújo, 2017). Ciências & Cognição 2021; Vol 26(2) 360-369 © Ciências & Cognição ISSN 1806-5821 <http://www.cienciasecognicao.org/revista> Submetido em 13/02/20 | Aceito em: 13/06/21 | Publicado online em 31/12/21 366 REVISÃO Além da relação aluno–professor, o convívio com os demais estudantes da classe deve ser o mais sadio possível. Araújo e Araújo (2017) em seu trabalho com estudantes acometidos de transtornos recorre à explicação da doença aos demais alunos da sala de aula de maneira a demonstrar a importância da melhoria de suas relações, oportunizando, a partir do conhecimento do transtorno, um melhor relacionamento intraclasse. No entanto, esta forma de abordagem pode também causar a prática de bullying com o estudante acometido de transtorno, criando assim maiores empecilhos ao tratamento do aluno. Os autores citam, ainda, que a turma e o aluno com transtorno podem discutir propostas metodológicas para auxiliar os professores no aperfeiçoamento e/ou criação das didáticas de ensino, demonstrando ao estudante com TC ou TOD que as tarefas e regras da escola não lhe estão sendo impostas, mas também escolhidas por ele, dando-lhe a sensação de está realizando as tarefas por vontade própria. Após o estabelecimento das regras de convívio em turma, é importante dialogar continuamente com os estudantes abordando o que foi estabelecido de forma cooperativa, elogiando ou relembrando aos alunos as atitudes que foram acordadas. Os elogios podem agir como recompensas pelo cumprimento das medidas de convivência estabelecidas. Isto ajuda, ainda, a reincorporar outra estratégia, a motivação, pois a capacidade de empatia entre professor-aluno e aluno-aluno pode fazer com que sejam sustentados relacionamentos de alta qualidade, diminuindo conflitos e melhorando o desempenho acadêmico dos estudantes (Tyler et al. 2019). Um método no qual autores apresentam divergência de pensamento refere-se ao trabalho em grupo e ao uso de jogos didáticos em sala de aula. Enquanto, a exemplo, Araújo e Araújo (2017) sugerem que esta metodologia de ensino não é apropriada devido os alunos com transtorno não se sentirem à vontade pelas regras do jogo e também no trabalho em grupo, Rodrigues et al (2010) aconselham os professores a levarem para sala de aula jogos educativos que estimulem os alunos a se comportarem melhor. Sendo assim, cabe a verificação do comportamento do aluno ou, como Rodrigues et al 2010 nomeiam o “remapear do comportamento”, comparando resultados de suasobservações com o de outros profissionais da educação, analisando o comportamento dos alunos perante o jogo e ao trabalhar em grupo. Isto permite verificar o que incomoda o aluno nesses dois momentos, as atitudes que ele apresenta quando não se sente à vontade, e quais recompensas recebem por esse comportamento. Assim, o professor pode traçar maneiras de direcionar a atividade de forma que o estudante com transtorno possa realizá-la. Caso os resultados não sejam positivos, não surtindo os efeitos desejáveis, o professor pode direcionar o aluno para o trabalho em dupla com uma criança mais tranquila, que sirva de modelo. Ao invés do uso de jogos o professor, pode realizar oficinas de desenvolvimento de brinquedos, maquetes, desenhos, entre outras tarefas acordadas. Além disso, pode apresentar filmes não agressivos, que sinalizam maneiras adequadas de resolver conflitos, de forma a propiciar o contato com atitudes que possam ser interiorizadas pelo aluno e que ele possa querer imitar. 3.3. Relação com atos infracionais Ao longo dos anos, diferentes pesquisas vêm sendo realizadas em diversos países para identificar a relação que os transtornos comportamentais podem ter com o cometimento de atos infracionais. Em antecipação, Pacheco e Hutz (2009) já apontavam que atitudes antissociais ocorridas na infância poderiam ser protótipos do que pode acontecer no futuro. Estudos mais recentes sugerem que, se não houver tratamento adequado, por dimensões supostamente performativas do TOD, pode-se supor que a criança com o transtorno será um Ciências & Cognição 2021; Vol 26(2) 360-369 © Ciências & Cognição ISSN 1806-5821 <http://www.cienciasecognicao.org/revista> Submetido em 13/02/20 | Aceito em: 13/06/21 | Publicado online em 31/12/21 367 REVISÃO adulto em conflito com a lei. Isso não significa que todas as pessoas com distúrbios de conduta se tornarão delinquentes, mas as condições ambientais destes e a falta de tratamento podem desencadear atitudes antissociais consideradas graves. Em relação a pesquisas desenvolvidas nesta área, Perez (2017), em seu estudo sobre a prevalência de transtornos psiquiátricos em jovens infratores, afirma que o Transtorno de Conduta tende ao envolvimento em atividades perigosas e até mesmo ilegais. Já Andrade, Assumpção Jr., Teixeira & Fonseca (2011) demonstram que, entre meninos e meninas sob condições de medida socioeducativas no Rio de Janeiro: um quantitativo de 77% tinha TC e 50% tinham TOD; havia uma maior prevalência de transtornos psiquiátricos na população feminina de infratores adolescentes, quando comparada com a masculina. Em relação ao ambiente familiar dos adolescentes infratores: 70% tinham sido expostos a alguma droga ainda na vida intrauterina; 82% deles tinham caso de alcoolismo na família; 48% casos de drogas ilícitas; aqueles que eram filhos de mães alcoólatras fizeram uso mais cedo de álcool. Características do ambiente familiar semelhantes foram encontradas ao pesquisar fatores familiares que podem influenciar o aparecimento do TOD e do TC. Este último dado apresentado é de suma importância, uma vez que o comportamento infrator pode ser determinado por dimensões sociais, culturais, individuais e familiares, demonstrando que o ambiente de interação da criança pode ter graves influências no seu desenvolvimento comportamental, evidenciando, ainda, que muitas atitudes delinquentes podem estar ligadas a problemas de conduta por uma relação histórica entre transtorno mental e delinquência a partir, entre outras coisas, das experiências infantis de negligência e precariedade em termos de cuidados afetivos (Dias et al, 2014; Pacheco & Hutz, 2009; Perez, 2017). Sabendo da associação da delinquência e criminalidade com os problemas de conduta, Vilhena e Paula (2017) ressaltam que detectar os transtornos disruptivos na primeira infância é de suma importância para prevenir que seus possuidores desenvolvam, quando adulto, Transtorno de Personalidade Antissocial e casos irreversíveis de esquizofrenia e psicoses. No entanto, embora várias pesquisas abordem esta relação, ainda é tímida em vários países, inclusive no Brasil, a elaboração de programas de tratamento e/ou intervenções adequadas para evitar que este problema se expanda. 4. Considerações finais Observa-se mediante as literaturas apresentadas que os distúrbios de conduta afetam não somente seus portadores, mas também uma gama de pessoas que, direta ou indiretamente, estão associadas a estes indivíduos. O que é preocupante é que estes transtornos quando não tratados apresentam possibilidade de evoluir a quadros bem assustadores de comportamento delinquente, entre os quais para Transtornos de Personalidade Antissocial, ocasionando atos criminosos graves. Frente a isto, todas as literaturas concordam que os distúrbios de conduta devem ser considerados como problema de saúde pública e ressaltam a necessidade da elaboração de políticas de saúde pública para a identificação e acompanhamento de pessoas com distúrbios de maneira a resguardar a integridade destas pessoas, daqueles que direto ou indiretamente convivem com estes e daquelas que eles podem vir a gerar. Isto porque os transtornos comportamentais podem desencadear um ciclo de atividades antissociais, prejudicando a sociedade como um todo pelo Ciências & Cognição 2021; Vol 26(2) 360-369 © Ciências & Cognição ISSN 1806-5821 <http://www.cienciasecognicao.org/revista> Submetido em 13/02/20 | Aceito em: 13/06/21 | Publicado online em 31/12/21 368 REVISÃO aumento da violência e ainda pelos custos social/econômico gerados pela delinquência e pela criminalidade. Desta forma, chamamos a atenção para a elaboração de políticas públicas de prevenção e tratamento público e de qualidade para pessoas com transtornos comportamentais e seus familiares, como forma de desenvolvimento da segurança social uma vez que, somente com essas medidas será possível prevenir o aumento das taxas de violência tanto nas escolas, onde os professores são os principais prejudicados, quanto na comunidade. Referências Adams, A. (2010) Entre a loucura e o desvio: adolescentes em conflito com a lei acometidos de transtorno psicótico e de conduta no cumprimento de medida socioeducativa de internação. Dissertação (Mestrado em ciências criminais) – Faculdade de Direito, PUC- RS, Porto Alegre, RS. Andrade, R. C.; Assumpção junior, F.; Teixeira, I. A. & Fonseca, V. A. S. (2011) Prevalência de transtornos psiquiátricos em jovens infratores na cidade do Rio de Janeiro (RJ, Brasil): estudo de gênero e relação com a gravidade do delito. 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