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W BA 07 22 _V 2. 0 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO MIDIÁTICO: FORMATOS E NOVAS TENDÊNCIAS 2 Jéferson Cristiano Cardoso São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2023 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO MIDIÁTICO: FORMATOS E NOVAS TENDÊNCIAS 1ª edição 3 2023 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Henrique Salustiano Silva Revisor Vanessa Germanovix Vedovatte Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Cardoso, Jéferson Cristiano Produção de conteúdo midiático: formatos e novas tendências/ Jéferson Cristiano Cardoso. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A. 2023. 32 p. ISBN 978-65-5356-423-7 1. Conteúdo mediático. 2. Formato. 3. Tendências. I. Título. 3. Técnicas de speaking, listening e writing. I. Título. CDU 316.7 _____________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 C268p © 2023 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Os novos modelos de audiovisual ____________________________ 07 Formatos e linguagens nos novos modelos __________________ 18 Redes sociais: tendências, linguagens e monetização ________ 29 Publicidade para internet, nichos e monetização _____________ 40 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO MIDIÁTICO: FORMATOS E NOVAS TENDÊNCIAS 5 Apresentação da disciplina Olá, estudante, tudo bem? Bem-vindo à disciplina “Produção de conteúdo midiático: formatos e novas tendências”. A disciplina será dividida em quatro partes. Em cada uma você verá uma abordagem sobre a profissão e conceitos, e a respeito do mercado de trabalho voltado para essa área. Na primeira parte, você vai aprender os conceitos de hipertelevisão, hipercinema e hiperaudiovisual; vai entender como desbravar a hiperaudiência, e as diferenças da produção em VoD, TV paga e TV aberta, aprendendo os desafios e tendências gerados com o crescimento da comunicação digital e com a ampliação de canais de streaming. Além disso, vai compreender a verdade por trás da nuvem, que são os data centers e CDN. Já na segunda parte, você vai aprender a diferença entre narrativa transmidiática, intermídia e crossmídia; vai entender como usar a realidade virtual, a realidade aumentada, os hologramas e wearables a favor dos seus conteúdos e produtos. Também vai compreender o conceito de intrapan-óptico, o qual explica o algoritmo por trás das escolhas de produtos, programações, músicas e demais itens de desejo e consumo. Além disso, você vai aprender a respeito de binge-watching, formatos e interatividade em streaming. Na terceira parte, você poderá aprender a respeito de conteúdo para as mais diversas redes sociais, vendo a estética e linguagem de cada uma, afinal, produzir para o TikTok não é igual a produzir para o Facebook ou para o YouTube. Você também vai entender como funciona o audiovisual móvel e o que muda com o 5G, internet ultrarrápida e smartphones, 6 além de entender quais são as tendências e formas de monetização dos grandes canais de influenciadores digitais da contemporaneidade. Por fim, na quarta parte você vai aprender sobre publicidade para a internet, um mercado em franca expansão, vendo formato, estética, linguagem e cuidados que você deve tomar. Também vai entender as demandas desse mercado, os nichos existentes, a produção de conteúdo com foco no digital voltados tanto para a Cauda Longa quanto para os hits de nicho, além de compreender os conceitos de cultura da propagação e cultura da participação, que vão lhe auxiliar a realizar o grande objetivo: fazer conteúdo com potencial viralizante. Desse modo, você estará preparado para adentrar qualquer um desses mercados de forma criativa e inovadora, utilizando-se de ferramentas e técnicas que embasarão e estruturarão o seu pensamento, o seu olhar, o seu texto e as suas produções para esses mais diferentes moldes, permitindo que você atinja seu público-alvo e os resultados desejados. Ou seja, você ampliará ainda mais o seu repertório de conhecimentos para explorar todas as hipóteses da produção de conteúdo midiático. Ótimos estudos! 7 Os novos modelos de audiovisual Autoria: Jéferson Cristiano Cardoso Leitura crítica: Vanessa Germanovix Vedovatte Objetivos • Entender o que é e as diferenças entre hipercinema, hipertelevisão e hiperaudiovisual. • Aprender as diferenças entre produções feitas para VoD, TV paga e TV aberta. • Conhecer os desafios e tendências com o crescimento da comunicação digital e ampliação dos canais de streaming. • Entender como funciona a transmissão e armazenamento na era digital, desmistificando a “nuvem”. 8 1. Entendendo os novos modelos de TV, cinema, audiovisual e audiência Neste capítulo você vai aprender a respeito da hipertelevisão, do hipercinema, do hiperaudiovisual e da hiperaudiência, conceitos fundamentais para compreender o que mudou com o passar do tempo nas produções de conteúdo midiático como um todo. Você também vai aprender as diferenças de produções feitas para VoD, TV paga e TV aberta, conhecendo os desafios e tendências com o crescimento da comunicação digital e com a ampliação dos canais de streaming. Além disso, você vai conhecer a verdade por trás da nuvem, que são os data centers e CDN, compreendendo como ambos funcionam e como é gerida essa forma de transmissão. É importante ressaltar que, ao longo dos anos, diversos conceitos foram atualizados, dando origem a novos formatos, e exemplos disso são hipertelevisão, hipercinema e hiperaudiovisual. Conforme Lipovetsky e Serroy (2009), o cinema não está mais contido apenas nas quatro paredes das salas de cinema, tendo se tornado uma multiplicidade de telas, a qual os autores batizaram de mundo-tela ou ecrãnosfera. Dentro desse conceito, incluem-se as mais diversas telas presentes no dia a dia da população, como telas de wearables (utensílios digitais vestíveis, como relógios e óculos conectados à internet) e telas em estádios de futebol, dentre as mais diversas presentes tanto em ambientes, como as de smartphones, quanto outras mais utilizadas para a recepção de conteúdos audiovisuais. Lipovetsky e Serroy (2009) destacam entre as características do hipercinema essa propagação entre diversas telas, a substituição do consumo coletivo, ou semicoletivo, por um consumo hiperindividualista. Ou seja, os espectadores do hipercinema têm como predileção o consumo através de telas cada vez mais particulares e individuais, como 9 é o caso do smartphone, em vez das grandes telas de consumo coletivo, presentes em salas de cinema. O consumo semicoletivo de outrora (em salas ou em família) é substituído por um consumo de tipo hiperindividualista, desregulado, dessincronizado, no qual cada um vê o filme que quer, quando quer, onde quer. Pode-se ver um filme de cinema no quarto, pela Internet, em viagem, numa tela portátil, e agora também no celular. Mesmos os voos de longo cursoque, mediante telas de formato razoável, transformavam a cabine do avião em sala de cinema coletiva, propõe agora pequenas telas individuais ligadas a cada assento, oferecendo a cada passageiro a possibilidade de escolher sua língua e seu filme. (LIPOVETSKY; SERROY, 2009, p. 63) Vale destacar que, para os autores, o consumo que existe atualmente nas televisões também é considerado hipercinema, uma vez que esse dispositivo é somente mais uma das formas de acesso ao cinema dentro desse mundo-tela. Logo, para os autores, tudo que inclui telas, dentro dessa vasta ecologia das telas, pode ser considerado hipercinema. Além disso, para Lipovetsky e Serroy (2009), o espectador atual busca mais por experiências sensoriais, almejando não somente a narrativa, mas a experiência como um todo, o que justifica a criação de salas de cinema com poltronas que se movimentam, permitindo as cinessensações; a utilização da imagem-excesso, com mais de efeitos especiais, cores exuberantes e de cortes abruptos na montagem dos filmes; sons exacerbados, o que pode ser notado tanto em uma sala de cinema quanto em um ambiente criado dentro da casa do espectador para esse fim, como é o caso dos home theaters. Para finalizar, Lipovetsky e Serroy (2009) afirmam que dentro das características do hipercinema também se destaca a imagem-multiplex, a qual retrata o aumento de programas narrativos, ou seja, mais linhas narrativas dentro de uma mesma história, ao contrário de outras narrativas que apresentavam apenas um personagem como o principal e do qual provinha toda a trama. 10 Entendido o conceito de hipercinema, é preciso compreender a hipertelevisão. Vale destacar que em muito os conceitos são parecidos, principalmente ao entender que tudo é uma evolução de um único modo de produzir e consumir o audiovisual. Contudo, os conceitos também apresentam divergências, o que faz necessário o entendimento de cada um individualmente. Segundo Scolari (2014), a hipertelevisão é a terceira geração da televisão, sendo precedida pela paleotelevisão e pela neotelevisão, respectivamente. De acordo com Eco (1986), a paleotelevisão era mais simples; focava programas menos elaborados e levar para a sociedade aspectos positivos do dia a dia, não se preocupando se para isso tivesse que ocultar ou deturpar algum acontecimento. Já a neotelevisão nasceu devido à multiplicação de canais e privatização de outros, principalmente europeus, e tem como principal características falar de si e ter um maior contato com o público, o que é muito visível nos programas de auditório da televisão aberta brasileira, principalmente no final do último século. Para Scolari (2014), a hipertelevisão surgiu devido à crise da TV aberta (broadcasting), ocasionada pela chegada da televisão paga (narrowcasting), muito mais voltada para nichos do que para uma audiência massiva. Vale destacar que, apesar da hipertelevisão ter iniciado com a chegada da TV paga, ela não parou por aí, evoluiu com diversos dispositivos para além do aparelho televisor, ocupando seu lugar em smartphones, tablets e computadores. Também vale salientar que, para Scolari (2014), os conteúdos feitos para streaming se enquadram como hipertelevisão. A hipertelevisão se adapta ao ecossistema midiático como um todo, sendo possível a transmídia, a convergência entre os conteúdos, dentre tantas outras hipóteses. Nela, as redes e interações sociais tem um papel de vital importância, pois o conteúdo não se restringe apenas as telas, mas sim se expande através das redes, permitindo a propagabilidade, a formação de laços sociais líquidos e a expansão das obras por parte dos fãs. (CARDOSO, 2022, p. 64) 11 Devido a isso, Scolari (2014) descreve seis características presentes na hipertelevisão: 1. Multiplicação de programas narrativos, característica idêntica à imagem-multiplex de Lipovetsky e Serroy (2009); 2. fragmentação da tela, mais comum em programas jornalísticos, quando são exibidas diversas informações sobre assuntos diferentes em uma mesma tela; 3. aceleração da história, na qual as narrativas tendem a ser mais rápidas e frenéticas que no passado; 4. narrativa em tempo real, recurso muito utilizado em reality shows com transmissão ao vivo 24 horas por dia; 5. histórias não sequenciais, com uso extremo de flashbacks e flashforwards; 6. expansão narrativa, com o uso da narrativa transmídia, e de outras técnicas que proponham fazer com que uma história e/ou seu universo narratológico se expandam além da mídia original. Vistos os conceitos de hipercinema e hipertelevisão, é chegada a hora de compreender o hiperaudiovisual. Afinal, se para Scolari (2014) tudo é hipertelevisão, e para Lipovetsky e Serroy (2009) tudo é hipercinema, é preciso compreender melhor, a fim de que você possa produzir conteúdos mais assertivos dentro das tendências de mercado existentes e do que ainda vai surgir. Diante disso, Cardoso (2022) fez uma fusão e separação dentro desses conceitos, chegando a um terceiro: o hiperaudiovisual. Conforme Cardoso (2022), telas-ambiente, que mostram apenas propagandas estáticas ou informações do dia a dia, não são consideradas hiperaudiovisual, pertencendo à ecrãnosfera, mas não ao hiperaudiovisual. Segundo o autor, um dos princípios básicos para algo ser considerado hiperaudiovisual é apresentar conteúdo narratológico, indiferentemente da tela em que esse conteúdo seja alocado, ou para qual função ele tenha sido produzido. Devido a isso, o autor elenca 11 características que definem o conceito, que são: 12 Quadro 1 – Características que definem o conceito de hiperaudiovisual 1. O conteúdo apresentar uma narrativa audiovisual. 2. Presença dos mesmos conteúdos em telas dos mais diversos tamanhos, seja uma sala de cinema, uma televisão, ou um smartphone. 3. Fragmentação das telas. 4. Aceleração das narrativas e narrativas em tempo real. 5. Narrativa muitas vezes não linear na forma de contar a história, com o uso de flashback e flashforward. 6. Multiplicação de programas narrativos ou imagem-multiplex. 7. Expansão narrativa, com o uso de intertextualidade transmidiática, narrativa transmídia e cultura participativa. 8. Mudança nas dinâmicas das audiências, que se tornam hiperaudiências. 9. Uma cultura de hits de nichos, na qual conteúdos feitos para pequenos nichos acabam por se tornar hits devido ao acesso de uma população mundial, por meio das plataformas de streaming, a esses conteúdos. 10. Uso de algoritmos para definir o que será ofertado para o público. 11. Presença de narrativas e de disponibilização de histórias de forma que permitam o binge-watching (ato de maratonar filmes e séries por parte do público). Fonte: adaptado de Cardoso (2022). Segundo Johnson (2012), essa mudança ocorreu devido à exposição da audiência a conteúdos cada vez mais elaborados, o que gerou uma retroalimentação, fazendo com que os produtos audiovisuais precisassem evoluir, assim como suas audiências. Obviamente, isso não elimina a existência da chamada audiência clássica, que continua a existir, mas traz à luz um novo tipo de audiência, chamado por Cardoso (2022) de hiperaudiência. O autor destaca que esse novo modelo, ao contrário do clássico – que tinha uma maior passividade perante os conteúdos, a qual foi diminuindo conforme aumentava a oferta de canais e produtos audiovisuais –, é mais ativo, dinâmico e participativo, 13 conversando com pessoas de diversas partes do mundo sobre assuntos que estejam assistindo em qualquer tipo de plataforma, o que evidência o uso da Social TV, a qual retrata justamente essa interação social entre audiências e incentiva esse uso para os produtores de conteúdo. Vale salientar que, segundo Cardoso (2022), essa hiperaudiência ocorre em três diferentes esferas que podem ser utilizadas na hora de uma produção: 1) Com os dispositivos, uma vez que em muitas narrativas é necessário interagir não somente com um dispositivo, mas com diversas telas ematerialidades de diversos tipos, como o impresso; 2) Com outras audiências, pessoas, públicos, multiplicadores, uma vez que essa “hiperaudiência” é extremamente interativa e trabalha em equipe, mesmo que de forma temporária, com outros usuários e fãs, os quais podem fazer parte de grupos fixos de discussão ou simplesmente navegarem por eles de forma momentânea e fugaz a fim de satisfazer um desejo temporário de conhecimento, informação e satisfação; e 3) Com a narrativa, com os diversos universos narratológicos, com as franquias, uma vez que é possível navegar e explorar a narrativa transmídia, além de que é possível gerar novos conteúdos, como as fanfictions, sobre uma determinada obra, interagindo diretamente com esse material e gerando uma expansão não autorizada e não canônica daquele universo. (CARDOSO, 2022, p. 83) Desse modo, é possível entender os desafios e tendências presentes com o crescimento da comunicação digital, ampliação dos canais de streaming, criação desse hiperaudiovisual e focado nessa hiperaudiência. Mas antes de explorar esses desafios, é preciso que você entenda a diferença entre uma produção feita para TV aberta, TV paga e para Vídeo sob Demanda (Video on Demand – VoD). 2. TV aberta, TV paga e VoD Segundo Wolton (1996), a TV aberta também pode ser chamada de televisão generalista, uma vez que ela é a TV que conta com canais 14 de acesso gratuito para a população. Vale salientar que isso se dá no modelo brasileiro; em outros países, como nos da Europa, mesmo a televisão pública é taxada para seus usuários. Na televisão aberta brasileira a população não paga uma taxa mensal para sustentar aqueles canais, em contrapartida, são veiculadas propagandas comerciais para esse fim. Como Wolton (1996) destaca, essa televisão é chamada de generalista, pois sua programação é voltada para o grande público e não para um nicho ou outro. Desde o início das transmissões, a TV brasileira segue esse modelo. Apenas na década de 1990 é que chegou ao país a TV paga ou fechada, que recebe esse nome devido à necessidade de o usuário fazer uma assinatura para ter acesso a esse tipo de serviço. Esse modelo de televisão tem uma quantidade muito maior de canais, tendo chegado ao seu auge em 2018, com 317 canais (CARDOSO, 2022). Vale destacar que nesse modelo de televisão os canais são voltados para nichos específicos, compondo o que Anderson (2006) chama de cauda longa. Enquanto a televisão aberta ficava encarregada de transmitir uma programação mais generalista, voltada para hits, a televisão paga voltava seus esforços para o longo da cauda, focando nichos, como pesca, filmes de ação, desenhos animados e documentários sobre natureza, dentre tantos outros. Segundo Cardoso (2022), esse modelo mostrou-se muito lucrativo até 2015, quando começou a perder espaço para os diversos players de streaming, que tiveram seu início em 2011, com a pioneira Netflix. Um destaque especial a uma divisão feita pelo autor: Cardoso (2022) divide os serviços de Video on Demand (VoD) nos que pertencem a um cenário de streaming audiovisual e nos que se configuram como aluguel de filmes, streaming de música, dentre outros. Mediante isso, é possível afirmar que, conforme o autor, outros players, que tiveram seu início antes dessa data, como o YouTube, não são considerados plataformas de streaming audiovisual, mesmo sendo serviços de VoD. 15 A mudança nesse cenário foi tão grande que atualmente as bases de assinantes brasileiros do Globoplay, da Netflix e da Disney+ já superam em milhões a quantidade total de assinantes de TV paga em território nacional. Cardoso (2022) defende que isso ocorre devido à busca do público por nichos e por hits de nichos, fenômeno que se tornou possível com o aumento vertiginoso dos players de streaming, da melhor transmissão de dados em diversas regiões do país e com a chegada de tecnologias que comportam essa recepção. A esse respeito, Cardoso (2022, p. 142) criou uma lista contendo todas as plataformas de streaming em operação no Brasil em fevereiro de 2022. Vale lembrar que, para o autor, plataformas como YouTube, Vimeo e Twitch TV são enquadradas como VoD, mas não como streaming, devido ao tipo de conteúdo ofertado por este (mais narratológico) apresentar diferenças em relação ao tipo de conteúdo ofertado por aquele. Desse modo, o autor relata que existiam no período destacado 34 plataformas de streaming (as quais também são consideradas de VoD) e mais 13 canais com outros formatos de VoD (que não se enquadram como streaming), totalizando 47 canais voltados para VoD no Brasil em fevereiro de 2022. Esse tipo de recurso facilita principalmente a criação de argumentos focados em narrativas, pois, neste contexto, tudo gira ao redor da história que está sendo contada, e que tem como função encantar o consumidor para que ele fique cada vez mais apaixonado pela marca. Tendo em vista essa forte tendência, o grande desafio dos produtores de conteúdo é aumentarem sua capacidade de produzirem para os hits de nicho, e nesse caso incluem-se diversos tipos e obras, de reality shows a documentários, de curtas-metragens a longas. Uma dica para quem deseja produzir conteúdo é observar editais referentes a seleções de conteúdos, os quais muitas vezes ficam disponíveis pelas grandes operadoras a fim de aumentarem suas bases de coproduções. 16 3. Desvendando a “nuvem” No contexto da tecnologia, o conceito de nuvem consiste em grandes complexos de máquinas extremamente velozes, com redundância de energia e de armazenamento de dados, a fim de que caso algum data center (central de processamento de dados) ou um CDN (Content Delivery Network, em tradução livre, centro de distribuição de conteúdo) sofra um sinistro, não se perca o conteúdo e as obras nele armazenadas (CARDOSO, 2022). De acordo com o diretor de arquitetura da Netflix, David Fullagar, em 2022 existiam cerca de mil sistemas de armazenamento no total, número que está em constante crescimento (NICCOLAI, 2014). Para você entender melhor, usemos o exemplo da Netflix. A base de operações da empresa fica em Los Gatos, nos Estados Unidos; lá a empresa conta com data centers que armazenam seus conteúdos. A Netflix disponibiliza os CDN citados anteriormente para diversas cidades em todo o mundo. Isso serve tanto para proteger esses dados em um caso de sinistro como também para deixar as informações mais próximas de seus usuários. Pense que os cabos de fibra óptica são como estradas, e que conforme aumenta o tráfego essas estradas ficam mais lentas. Caso todos os usuários do mundo precisassem acessar as informações de um único ponto, isso deixaria a velocidade de acesso mais lenta. Ao espalhar os pontos de acesso esse tráfego é reduzido, diminuindo a velocidade de resposta e impedindo quedas e lentidões no serviço ofertado. Vale destacar que os CDN são atualizados periodicamente, normalmente em horários de menor acesso, para que estejam com os produtos audiovisuais mais acessados pelo público daquela determinada região. E, em caso de um CDN falhar, automaticamente o sistema vai remeter aquele usuário para o próximo CDN mais próximo da sua conexão. É importante frisar que cada operadora de internet 17 negocia com cada plataforma de streaming, podendo ter mais ou menos CDN de uma marca ou de outra e mais próximos ou não de seus usuários, o que faz toda a diferença na hora de assistir a um programa instantaneamente. Com base em tudo que foi estudado neste capítulo, você já pode começar sua produção de conteúdos midiáticos voltados para o hiperaudiovisual e para plataformas de streaming, focando as tendências do mercado e como os hits de nicho estão em expansão. Mas lembre-se: o mais importante é você ir testando os seus conhecimentos e as mais diversas ferramentas, técnicas e formatos, tanto para atrair audiências clássicas quanto as hiperaudiências, a fim de se aprimorar cada vez mais e se tornar um exímio profissional dessa áreatambém. Referências ANDERSON, C. A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. CARDOSO, J. C. Plataformas de streaming, rupturas tecnológicas e alterações nas dinâmicas das audiências do espaço audiovisual brasileiro (2011-2021). Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2022. ECO, U. La estratégia de la ilusión. Barcelona: Lumen, 1986. JOHNSON, S. Tudo que é ruim é bom pra você: como os games e a TV nos tornam mais inteligentes. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. LIPOVETSKY, G.; SERROY, J. A tela global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna. Porto Alegre: Sulina, 2009. NICCOLAI, J. Behind the curtain: How Netflix streams movies to your TV. TechHive, 22 maio 2014. Disponível em: https://www.techhive.com/article/602400/how-netflix- streams-movies-to-your-tv.html. Acesso em: 1 dez. 2022. SCOLARI, C. A. This is the end: as intermináveis discussões sobre o fim da televisão. In: CARLÓN, M.; FECHINE, Y. (org.). O fim da televisão. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2014. WOLTON, D. Elogio do grande público: Uma teoria crítica da televisão. São Paulo: Ática, 1996. 18 Formatos e linguagens nos novos modelos Autoria: Jéferson Cristiano Cardoso Leitura crítica: Vanessa Germanovix Vedovatte Objetivos • Entender os conceitos e as diferenças entre narrativa transmídia, intermídia e crossmídia. • Aprender o que é e os usos de realidade virtual, hologramas e wearables. • Entender como funcionam os algoritmos que estão por trás dos mecanismos de busca e dos streamings. • Compreender os formatos existentes para streaming, o que inclui linguagens com o binge-watching e formas de interatividade. 19 1. Transmídia, intermídia e crossmídia Neste capítulo você vai aprender a respeito de narrativa transmidiática, intermídia e crossmídia, conceitos acerca dos quais os profissionais muitas vezes fazem confusão. Você também vai aprender sobre realidade virtual, hologramas e wearables, entendendo a importância desses conceitos na sua prática. Além disso, você vai compreender o conceito de intrapan-óptico, o qual revela a verdade por trás dos algoritmos de escolha tanto de plataformas de busca, como o Google, quanto dos diversos streamings. Por fim, você vai ver os diversos formatos feitos especificamente para streaming, os quais têm muita adesão, e como eles são pensados para favorecer o binge-watching (ato de maratonar programas). Há tantos conceitos e com nomes tão parecidos que muitas vezes fica difícil saber qual é qual e como aplicar cada um deles. Para acabar com essa confusão vamos delimitar um a um, a fim de que você possa fazer projetos audiovisuais voltados para qualquer uma dessas linhas com muita qualidade e sabendo em que mercado aplicá-las. Primeiramente, intermídia, conforme Higgins (1984), é um conceito que se aproxima muito do de multimídia. “Quando dois ou mais meios discretos se fundem conceitualmente, eles se tornam intermedia. Diferem de meios mistos, sendo inseparáveis na essência da obra de arte” (HIGGINS, 1984, p. 138). Ou seja, a intermídia ocorre quando dois meios diferentes, como texto e vídeo, se fundem em um único, como é o caso da internet. Devido a isso, segundo Moloney (2014), é possível afirmar que a intermídia é utilizada nas narrativas multimídia, ou seja, narrativas contadas utilizando diversas mídias em um único canal. Vale destacar que a multimídia comporta tanto a intermídia quanto os meios mistos, nos quais é feita uma mera reprodução de um mesmo conteúdo em um único canal. Exemplo de meios mistos é quando existe 20 uma notícia em vídeo em um site e há a transcrição dela em texto. Isto é, há o mesmo material em dois formatos em um único canal, o site. Já na intermídia, é preciso que os conteúdos sejam diferentes em um único canal. Continuando com o exemplo de sites jornalísticos, é comum ver em algumas matérias conteúdos diferentes em vídeo e no texto, assim como um podcast complementar – porém, tudo em um único canal, nesse caso, o site. Ambos os casos, intermídia e meios mistos, podem ser lidos como multimídia. A crossmídia ocorre quando é contada a mesma história, assim como nos meios mistos, mas em canais diferentes. Ou seja, se for reproduzido um mesmo material em vários formatos em um único canal trata-se de meios mistos; já se for reproduzido o mesmo material em diferentes canais – como filmes, livros, histórias em quadrinhos, internet – é crossmídia (MOLONEY, 2014). Exemplo disso são as adaptações de livros para filmes. Não confundir esse conceito com crossover, que é quando personagens de franquias diferentes, ou de universos narratológicos distintos, se unem em uma mesma produção. Por fim, narrativa transmídia, de acordo com Jenkins (2009), assim como a crossmídia, precisa existir em diversos canais ao mesmo tempo, contudo, ela precisa ter uma história independente em cada canal, ou seja, assim como a intermídia, cada parte será independente. Em suma, a narrativa transmídia está para a intermídia assim como a crossmídia está para os meios mistos. Jenkins (2009) ressalta que para que seja transmídia é preciso que haja uma história independente em cada meio, mas que somadas sejam complementares. Ou seja, quem tem acesso apenas a uma parte da obra tem uma experiência única e completa, contudo, quem tem acesso a todas as partes acaba tendo uma experiência ainda mais imersiva e intensa. Para isso, é necessário contar com a participação do público, que precisa agir de forma ativa e colaborativa, perseguindo pistas deixadas pelos autores ao longo das obras, as quais levam de uma para 21 a outra. Em resumo, para o autor é necessário que sejam contemplados cinco pilares para que uma obra seja considerada transmidiática, conforme pode ser visto no Quadro 1. Quadro 1 – Os cinco pilares da transmídia 1. A história precisa desenvolver-se por meio de múltiplas plataformas de mídia. 2. Cada acesso para a franquia tem que ser autônomo, sendo cada obra totalmente independente das demais. 3. Cada produto precisa ser um ponto de acesso à franquia. 4. A soma das partes deve ser maior que o todo, proporcionando uma experiência mais abrangente e imersiva para quem consome mais e/ou todos os produtos/ narrativas. 5. A participação dos fãs de forma ativa e colaborativa, como verdadeiros detetives, é imprescindível. Fonte: adaptado de Jenkins (2009). Vale ressaltar que é possível utilizar todos esses formatos na hora de elaborar a sua narrativa audiovisual. Contudo, inicialmente é preciso saber o seu objetivo e, conforme ele, elaborar o projeto com base na técnica escolhida. A crossmídia normalmente ocorre quando se pretende fazer uma obra e com o tempo adaptá-la para outras mídias. Já a narrativa transmídia precisa ser planejada desde o princípio, afinal, saber em que mídia colocar cada parte da narrativa e colocar pistas de uma para a outra exige um grande cuidado narrativo e muito planejamento, a fim de que os fãs possam realmente interagir com as mais diversas partes da narrativa e entre si, conquistando o máximo engajamento para aquele universo narratológico. Caso a intenção seja fazer um produto voltado exclusivamente para a internet, ou obras artísticas, é interessante utilizar a multimídia. Nesse caso você terá que avaliar se vale mais a pena usar os meios mistos ou a intermídia. Em questão de um material mais completo e cativante a intermídia funcionará melhor, contudo, caso existam menos recursos ou mão de obra, os meios mistos podem ser uma ótima opção. 22 2. Realidade virtual, hologramas e wearables O conceito de realidade virtual (RV), apesar de muito usado atualmente, foi cunhado pelo ensaísta, diretor e autor de teatro Antonin Artaud, em 1938. Após quase um século muitos autores já debateram o conceito e suas formas de aplicação, passando por salas interativas, óculos dos mais diversos formatos, roupas com leitura de movimentos,sendo muitas as possibilidades tanto para videogames quanto para o audiovisual como um todo. E quem acha que a RV pode ser usada somente na ficção se engana. O jornalismo imersivo utiliza-se de técnicas de RV para fazer os usuários mergulharem nas notícias e reportagens, vivendo e interagindo com fatos históricos e acontecimentos marcantes (ROCHA, 2020). Em geral são utilizados dispositivos ópticos para as interações de RV. Vale salientar que uma produção nesses moldes demanda um maior investimento, a fim de que o usuário possa explorar os 360 graus disponíveis nesse tipo de ambiente. Por isso, essa opção torna-se mais interessante para games e, atualmente, também para utilizar os diferentes metaversos, a fim do usuário controlar seu avatar e explorar as diversas lojas e possibilidades dentro desse universo. Outra possibilidade quando se fala em tecnologias alternativas são os hologramas, os quais são utilizados até mesmo para reviverem artistas do passado e colocá-los apresentando shows e interagindo com outras celebridades. O físico-engenheiro húngaro Dennis Gabor cunhou o termo em 1947; na época, ele pensou essa tecnologia para investigar o comportamento de elétrons, utilizando-se de dispositivos ópticos para isso. Com o passar do tempo esse foco mudou até chegar ao ponto atual, no qual é possível fazer o presente e o passado coexistirem. Conforme Kalil (2020, p. 98): […] a utilização de projeções com o uso de luz, lentes e telas, na indústria do entretenimento, abrange diversas possibilidades – cinema, publicidade, teatro, fotografia e outros. 23 Quanto aos wearables, é importante que você entenda que são todas as formas de tecnologias que podem ser vestíveis, como relógios, óculos, meias, dentre tantas outras opções. Relógios que interagem com os smartphones estão cada vez mais comuns, fazendo interações entre o corpo do usuário e a nuvem de dados. Por meio deles é possível monitorar desde a frequência cardíaca até fazer uma ligação por videochamada. Óculos com maiores possibilidades – que não sejam apenas de VR – ainda não são tão comuns. A Google tentou lançar o Google Glass em 2014, que era muito semelhante a um smartphone em suas funções, só que vestível como óculos, contudo, a tecnologia acabou não emplacando na época. Muitos outros estudos continuam a ser realizados a respeito desse tipo de tecnologia por diversas empresas, por ser uma aproximação entre wearables e VR. Aproximação por não haver uma imersão por parte do usuário, como em um sistema de VR, mas sim uma mudança da realidade. Exemplo: em 2016, o jogo Pokemon Go tornou-se uma febre. Basicamente, o usuário caçava os pokemons e interagia com outros usuários. Agora imagine fazer isso com um wearable que permite ver esses personagens e cenários em meio ao seu dia a dia – a isso se dá o nome de realidade aumentada. Vale destacar que todas essas possibilidades, apesar de demandarem um grande custo, estão em franca expansão, havendo uma possibilidade grande de aumentar a frequência do uso desse tipo de tecnologia enquanto tendências no audiovisual. 3. Intrapan-óptico O conceito de intrapan-óptico, cunhado por Cardoso (2022), explica como funciona o algoritmo por trás das escolhas de produtos, programações, músicas e demais itens de desejo e consumo. Para 24 entender esse conceito é preciso compreender primeiro o pan-óptico de Foucault (2002) e pós-pan-óptico de Bauman (2013). O panóptico de Bentham é uma figura arquitetural dessa composição. O princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. (FOUCAULT, 2002, p. 165-166) Ou seja, para Foucault (2002), a vigilância presumia-se como algo físico, no qual uma torre central vigiava as demais celas que estavam em todo o seu entorno. Já para Bauman (2013) a vigilância não é mais tão física, tendo se tornado líquida. Vale ressaltar que no pós-pan-óptico a vigilância se dá de indivíduo para indivíduo, dentro do espaço digital. Em suma, uma pessoa acaba por vigiar a outra dentro da internet, pelas redes sociais e outros mecanismos de interação. Essa vigilância pode ser tanto temida quanto almejada, uma vez que os usuários são recompensados conforme tenham mais seguidores, views e likes, por exemplo, o que estimula essa prática e torna cada usuário uma sentinela desse novo modo de pan-óptico. Já no intrapan-óptico a vigilância é ainda mais líquida, não sendo feita por humanos, mas sim por algoritmos, os quais são programados para entender o que cada usuário busca e fazer entregas ainda mais precisas. Para isso, é preciso que programadores façam esses algoritmos, programando-os para entender as predileções dos usuários. Em mecanismos de busca, como é o caso do Google, os programadores fazem atualizações constantemente, a fim de evitar que usuários criem modos de burlar os algoritmos e fazer determinados produtos serem ofertados para mais pessoas. A própria Netflix, nos seus primórdios, no 25 início da década de 2010, criou uma promoção que dava um milhão de dólares para quem criasse uma versão mais efetiva do seu algoritmo. Mas como funcionam esses algoritmos? Bem simples, por meio de tags colocadas nos programas ou de palavras-chave nos textos, um robô faz a leitura do que o usuário mais busca ou consome, e começa a oferecer produtos e/ou serviços semelhantes. Quanto mais o usuário realmente adere ao que é oferecido, interagindo só com aqueles produtos e não buscando outros – no caso do streaming de audiovisual com determinados tipos de produtos, como séries de uma nacionalidade X, ou realities shows de um tipo Y –, mais o algoritmo acaba por oferecer produtos ainda mais semelhantes, criando uma bolha em torno do usuário, a qual pode ser benéfica, pois facilita a vida de quem consome aqueles produtos, como também maléfica, uma vez que acaba por não oferecer uma maior variedade de possibilidades e acaba fazendo com que bibliotecas imensas de produtos tornem-se extremamente pequenas e repetitivas para aquele usuário. Para fazer um melhor uso do intrapan-óptico os produtores de conteúdo precisam pensar seus produtos voltados para hits de nicho, ou seja, com o fim de agradar um nicho em específico, entrando na bolha de milhares de pessoas que gostam especificamente de uma linguagem ou de um tipo de conteúdo. Com base nisso, é possível para o produtor explorar diferentes estilos, alguns com maior interatividade, outros com menor. Vale destacar que dentro das plataformas de streaming existem três modalidades de produção. A primeira são as produções compradas prontas, na qual não há participação da plataforma. A segunda são as produções próprias, nas quais a plataforma determina o que será criado, ficando, normalmente, o direito autoral para a plataforma. A terceira são as 26 coproduções, nas quais a produção é feita em uma parceria entre plataforma e produtor externo. Esse método é muito utilizado quando produtores independentes buscam financiamento das produtoras, ao apresentarem episódios piloto ou roteiros. Também é possível vender a ideia totalmente para a produtora, o que se enquadraria na segunda hipótese citada. Independentemente se o produtor de conteúdo audiovisual vai criar uma série ou um reality show, é fundamental que seja possível maratonar os episódios, ou seja, fazer o chamado binge-watching (em tradução livre, assistir compulsivamente). Cada player de streaming apresenta uma forma de disponibilizar os episódios. Netflix e Prime Video costumam colocar temporadasinteiras, de uma única vez, principalmente quando é produção própria, e dividir o lançamento em mais de uma parte quando é uma coprodução. Isso quando se trata de uma produção inédita; quando são produções antigas normalmente as temporadas são disponibilizadas na totalidade. Já a Disney+ e a HBOMax costumam lançar semanalmente os episódios de suas produções, indiferentemente se próprias ou coproduções. São táticas diferentes. A primeira delas, disponibilizar toda uma produção, permite que os usuários assistam a todo o conteúdo o mais breve possível e estabeleçam um laço social líquido (CARDOSO, 2021), no qual pessoas de diferentes países conversam entre si pela internet, trocando informações de determinada produção e fazendo com que ela se propague mais rapidamente. Além disso, esses usuários trabalham como multiplicadores, levando os conteúdos para outras pessoas, que acabam por aderir também a ele. Na tática da distribuição em partes os episódios são distribuídos em blocos (normalmente de dois a cinco em um único dia, com uma periodicidade semanal). Isso faz com que haja um gap entre blocos, mantendo a curiosidade ativa, mas, ainda assim, permitindo que se faça 27 o binge-watching de forma blocada, ou seja de um modo mais breve e com um intervalo semanal entre diferentes binge-watchings do mesmo produto. Desse modo, isso permite que os usuários tenham o laço social líquido. Por último, na distribuição semanal de episódios o binge- watching fica prejudicado, uma vez que há um gap muito grande entre episódios, o que não permite assisti-los consecutivamente. Contudo, o laço social líquido pode ser fortalecido por esse formato, uma vez que os usuários acabam comentando por mais semanas determinada produção audiovisual. Ou seja: ou se ganha com uma propagação rápida ou se investe em uma propagação mais gradual e que perdure ao longo do tempo. No caso de produções como realities shows e documentários, o mais comum é a disposição total dos episódios ou ela de forma parcial, dividida em duas ou três semanas. Nota-se também que com o passar dos anos o número de episódios presentes em cada tipo de produção sofreu uma drástica redução. Enquanto programas lançados para a televisão paga costumam ter mais de 20 episódios, chegando a 24, por temporada, os para streaming acabam variando de 4 a 13 episódios, na média. Com base no que foi estudado neste capítulo, você já pode começar sua produção de conteúdos midiáticos voltados para as mais diferentes possibilidades do audiovisual, criando intermídias, crossmídia, transmídias, realidades virtuais e hologramas. Afinal, você já entendeu como utilizar o intrapan-óptico, o binge-watching e os wearables a favor das suas produções, gerando um maior engajamento, maior laço social líquido e, por consequência, uma maior propagação dos seus conteúdos. Então, lembre-se: o mais importante é você ir testando os seus conhecimentos e as mais diversas ferramentas, técnicas e formatos, a fim de se aprimorar cada vez mais e se tornar um exímio profissional dessa área. 28 Referências BAUMAN, Z. Vigilância líquida: Diálogos com David Lyon. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. CARDOSO, J. C. Binge-watching como um novo modo de assistir televisão: uma análise comparativa entre o fenômeno em arquivo e em fluxo. Ponta Grossa: Atena, 2021. CARDOSO, J. C. Plataformas de streaming, rupturas tecnológicas e alterações nas dinâmicas das audiências do espaço audiovisual brasileiro (2011-2021). Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2022. FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. 26. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. HIGGINS, D. Horizons: The Poetics and Theory of the Intermedia. Carbondalle and Edwardsville: Southern Illinois University Press, 1984. JENKINS, H. Cultura da Convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009. KALIL, S. Comunicação e hologramas de entretenimento: representações de artistas mortos em palcos de shows de música ao vivo. Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2020. MOLONEY, K. Multimedia, Crossmedia, Transmedia… What’s in a name? Transmedia Jornalism, 21 abr. 2014. Disponível em: https://transmediajournalism. org/2014/04/21/multimedia-crossmedia-transmedia-whats-in-a-name/.Acesso em: 21 dez. 2022. ROCHA, G. G. Representação virtual jornalística: proposta de matriz para análise de conteúdos em realidade virtual. Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2020. https://transmediajournalism.org/2014/04/21/multimedia-crossmedia-transmedia-whats-in-a-name/ https://transmediajournalism.org/2014/04/21/multimedia-crossmedia-transmedia-whats-in-a-name/ 29 Redes sociais: tendências, linguagens e monetização Autoria: Jéferson Cristiano Cardoso Leitura crítica: Vanessa Germanovix Vedovatte Objetivos • Entender as redes sociais mais populares em criação de conteúdos midiáticos, suas linguagens, estéticas e como produzir esses conteúdos para cada uma delas. • Aprender sobre o audiovisual móvel e o que muda com a tecnologia 5G, internet ultrarrápida e a expansão dos smartphones. • Compreender como se dá a monetização dos grandes canais de conteúdo das redes sociais que são tendência de mercado. 30 1. Linguagem e estética Neste capítulo você vai aprender sobre conteúdo para redes sociais, vai entender um pouco mais algumas das principais redes presentes no mercado, suas estéticas, linguagens e como usar cada uma delas. Você também vai estudar o audiovisual móvel, o que muda com a tecnologia 5G, com a internet ultrarrápida e o uso cada vez mais intensivo de smartphones. Além disso, você vai aprender quais são as tendências em produção audiovisual para redes sociais e como se dá a monetização dos grandes canais de influenciadores digitais na contemporaneidade. Primeiramente, vale destacar que atualmente existem vários tipos de redes sociais voltadas para conteúdos midiáticos, desde redes focadas em vídeos mais curtos, como a extinta Vine (que permitia vídeos de seis segundos) até outras voltadas para audiovisuais mais longos, como o YouTube, e para transmissões de partidas de games, como a Twitch TV. Cada plataforma tem o seu sistema de remuneração, sua estética e sua linguagem. Pertencentes ao Grupo Meta, o Facebook e o Instagram estão há vários anos no mercado, sendo plataformas que se consolidaram no lugar de outras, como o Orkut. Vamos começando pelo Facebook. Essa rede social permite o uso concomitante de texto e imagem, dando muita ênfase ao texto e não apenas à imagem. Isso permite que os produtores de conteúdo foquem materiais textuais, além das imagens estáticas e de vídeos. Uma dica em redes como essa é utilizar técnicas de copywriter, que é uma escrita voltada para a venda, a qual difere-se da publicidade por ter um enfoque maior de persuasão, e utilizar técnicas baseadas em gatilhos mentais, como autoridade e escassez. Vídeos também se enquadram bem. Apesar de no início ter um propósito mais de grande rede de usuários, com o tempo acabou por se tornar uma plataforma com grande ênfase em divulgação e negociação de produtos, tendo como seu carro-chefe os anúncios patrocinados. 31 Com o Instagram a situação acaba sendo semelhante em alguns aspectos e diferenciada em outros. Apesar de a rede permitir o uso de textos nas publicações, muitos usuários acabam dando uma maior ênfase às imagens, consumindo, por diversas vezes, apenas elas. Nesse caso, é preciso que as imagens sejam atrativas, que haja texto nelas caso se queira vender um produto e que esse texto seja extremamente assertivo, uma vez que o algoritmo da plataforma dá preferência por divulgação para imagens com até 20% do seu espaço ocupado por textos. Ou seja, a plataforma prioriza a divulgação de imagens mais limpas. Vale salientar que as logos das marcas também são lidas pelo algoritmo comotexto. Uma boa dica para alavancar em produção de conteúdo nesse formato é utilizar palavras-chave dentro dessas imagens. Apesar de ter começado voltado para imagens estáticas, atualmente o Instagram é muito usado para a divulgação de vídeos, seja em stories ou reels. Aqui vale explicar um pouco melhor a estética e a linguagem usada em cada um desses formatos. Os stories inicialmente tinham uma duração de 15 segundos e ficavam visíveis por 24 horas. No final de 2022 esse tempo aumentou para até 60 segundos, os quais também ficam disponíveis por 24 horas. Um story é interessante enquanto linguagem audiovisual para fazer um reforço de marca, pequenos teasers ou até mesmo fazer uma conversa mais direta com o público consumidor, funcionando muito bem como uma janela para exposição de materiais que você não quer que fiquem expostos mais que um dia para o seu público. Já os reels são uma linguagem criada para fazer frente ao TikTok e ao fenômeno que é seu uso. Quando a ferramenta foi criada o tempo era mais limitado; em 2022 ele já estava em um minuto e meio, e os criadores da plataforma estavam estudando, ainda para 2023, passar esse tempo para 15 minutos, já que o TikTok também aumentou seu tempo, ficando em 10 minutos. 32 Esses aumentos temporais retratam uma mudança em um formato de consumo, o qual acaba se aproximando mais do tamanho de um curta-metragem. Não obstante, mesmo com esse tamanho sendo ampliado, a linguagem utilizada é muito mais focada na informalidade, trazendo conteúdos como danças, coreografias e, pasme, coberturas jornalísticas. Voltaremos a esse ponto quando retratarmos o TikTok, o qual tem sido empregado com mais ênfase para esse fim. Ou seja, reels inicialmente eram focados em conteúdos midiáticos mais rápidos, contudo, como o público demonstra um gosto muito forte por essa linguagem, aceita e até mesmo almeja um tempo maior diante da tela, esse tempo está sendo ampliado. Uma indicação é a produção de materiais mais humanizados, engraçados e até mesmo informativos. Fale diretamente com seu público, brinque com ele. A plataforma disponibiliza ferramentas próprias para edição, então não se preocupe com materiais extremamente elaborados – deixe estes para o YouTube –: nessa plataforma o foco é cativar seu público, ficar próximo a ele, causar engajamento por formação de um laço afetivo simbólico. O TikTok foi criado na China, em 2016, tendo se tornado uma febre em todo o mundo, e sendo uma das mídias sociais com mais usuários no planeta. Em outubro de 2022 a plataforma já contava com mais de um bilhão de usuários. O principal foco desta rede social são os vídeos, que começaram sendo curtos, com um mínimo de 15 segundos, e em 2022 já tinham um tempo máximo de 10 minutos. Assim como nos reels do Instagram, a receita para os vídeos do TikTok é a criação de materiais cativantes, seja pelo humor, pela empatia, pela sensualidade ou pelo laço social gerado pelo vínculo existente entre fãs de determinado artista, os quais compartilham de um gosto mútuo pelas mesmas coreografias e fazem um papel de multiplicadores ao incorporarem e divulgarem cada vez mais os passos dos seus artistas favoritos. Com esse aumento drástico de tempo, ainda não é possível afirmar que alterações de linguagem e estética essas duas plataformas sofrerão. Entretanto, a tendência é que ocorra apenas a ampliação do tempo do 33 mesmo tipo de conteúdo que atualmente tem esse potencial viral de propagação. Devido a isso, diversos jornais, tanto no Brasil quanto no mundo, estão optando pelo uso do TikTok para divulgação de suas notícias. É o caso da Folha de São Paulo e da CNN, as quais contam com canais nessa rede e a utilizam com maestria para a divulgação de notícias. A esse respeito, Alves (2020) destaca que existem quatro principais formas de usos do TikTok no jornalismo, conforme pode ser visto no Quadro 1. Quadro 1 – Formas de uso do TikTok no Jornalismo Extensão de conteúdos de jornal Quando o conteúdo faz referência a outras produções do jornal — seja adaptando-as para a linguagem do TikTok, ou chamando o público para ver o produto completo. Adaptação de matérias do site para o TikTok Aqui, o jornalista escolhe uma matéria do site do jornal e a traduz para o formato narrativo do TikTok. Uma boa saída é usar o recurso de fundo verde para colocar a própria matéria no fundo da tela. O objetivo não é que o usuário leia o texto, mas que veja que as informações do vídeo estão respaldadas numa matéria jornalística. Chamadas para conteúdo completo Nessa situação, o vídeo é uma espécie de teaser para outros conteúdos produzidos pelo jornal, como podcasts, videorreportagens, entrevistas, e até matérias em texto. Reciclagem de conteúdos de outras redes sociais Principalmente quando a redação não tem mãos suficientes para produzir conteúdos para o TikTok transportar conteúdos de outras plataformas (como vídeos verticais do Instagram) é uma alternativa possível. Fonte: adaptado de https://www.jornalismoetiktok.com/extens%C3%A3o-de- conte%C3%BAdos. Acesso em: 31 mar. 2023. Plataformas como a Vimeo permitem que o usuário crie vídeos interativos, faça o upload e os compartilhe com outros usuários. Essa é uma rede social focada em vídeos de maior qualidade – nela, até mais do que no YouTube, você pode abusar de técnica. Diversos vídeos premiados estão presentes na plataforma, sendo ela conhecida pela qualidade do material. Ou seja, conteúdos para o Vimeo não devem ser feitos com câmeras caseiras ou com uma iluminação ruim. Por isso, você precisa avaliar sempre muito bem qual o seu público e qual a verba que terá disponível para a criação de produtos audiovisuais, e com https://www.jornalismoetiktok.com/extens%C3%A3o-de-conte%C3%BAdos https://www.jornalismoetiktok.com/extens%C3%A3o-de-conte%C3%BAdos 34 base nisso é possível elencar a melhor plataforma e a linguagem para produzir seus materiais e comunicar-se com o seu público. O YouTube é conhecido pelos seus vídeos longos e pela possibilidade de realização transmissões ao vivo, as chamadas lives. Porém, vale destacar que cada vez é mais difícil uma live chamar a atenção, uma vez que essa forma de uso acabou sendo banalizada devido à grande quantidade de produtos feitos desse modo. Para uma transmissão reunir um público interessante é preciso ou que o canal tenha um número muito alto de seguidores, ou que se faça uma campanha de engajamento prévio chamando para esse tipo de produção. Algumas empresas começam a divulgação de suas lives até mesmo um mês antes, com inscrições feitas em landing pages, que são páginas de cadastro, e oferta de brindes. Esse é um formato muito bom para a venda de infoprodutos. Contudo, é preciso ter um investimento forte no marketing para gerar o devido engajamento, principalmente se o canal for menor. Além disso, o YouTube é uma excelente ferramenta para vídeos maiores e, agora, também para vídeos menores, com o YouTube Shorts, ferramenta da plataforma focada em vídeos curtos como eram os reels e os vídeos do TikTok antes da ampliação de seus tempos, podendo ter no máximo 60 segundos. Por último, outra plataforma que tem se destacado muito em relação ao uso do público e a monetização gerada é a Twitch TV, especializada na transmissão de partidas de jogos de videogame ao vivo. Assim como no YouTube, ela funciona com canais de usuários, e remunera muito bem aqueles com um maior número de visualizações. Diferente do TikTok, que é focado em conteúdos em formato de pequenas e médias pílulas, a Twitch TV abusa do tempo, tendo transmissões com mais de 5 ou 8 horas de duração. Nela, normalmente o usuário transmite sua tela de jogo, junto com a imagem do seu rosto, para que as pessoas acompanhem tanto os movimentos do seu avatar quanto suas emoções e reações diante de determinado momento da partida. 35 Obviamente, nada disso seria possível se não fosse a popularização de tecnologias de conexão com a internet, comosmartphones, e de acesso ultrarrápido, como o 4G, 5G e a fibra óptica. 2. Audiovisual móvel, 5G, fibra óptica e smartphones De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2021), os smartphones são a principal ferramenta de acesso para conexão à internet pelos brasileiros, estando presente em 99,5% dos domicílios. Além disso, segundo o “Relatório de Banda Larga Fixa de 2020” da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel): Os acessos à banda larga fixa por fibra óptica saltaram de 10,22 milhões em 2019 para 17,04 milhões em 2020, ultrapassando o total de acessos por cabo (coaxial e metálico). O relatório informa que, em dezembro de 2020, a fibra óptica atingiu 79% dos municípios brasileiros, tornando-se a principal tecnologia de acesso à internet do País. No Distrito Federal, no Paraná, no Rio de Janeiro e em Santa Catarina todos os municípios registram presença de fibra (BRASIL, 2021, [s. p.]) Vale destacar que as tecnologias de conexão à internet estão sofrendo um aumento muito rápido na velocidade de conexão. Um exemplo é a conexão fixa, que no início da década de 2010 ainda era feita com cabos de cobre, que permitiam uma propagação muito menor do que a fibra óptica. Uma residência muitas vezes contava com uma conexão de 3 a 25 megabits por segundo. Atualmente, essa velocidade em diversos estados do país é de 100 a 1.000 megabits por segundo, velocidades que permitem a recepção de conteúdos audiovisuais com uma maior quantidade de dados, como no caso de plataformas de streaming e redes sociais com muitas imagens de alta qualidade. Além disso, conforme Cardoso (2022, p. 51): 36 Com a chegada das redes 5G, fica ainda mais fácil para a população que possui um smartphone acessar plataformas de streaming de qualquer lugar. Afinal, a partir do momento em que o indivíduo possui um dispositivo que comporta a recepção dos dados, um plano que permite esse envio e um sinal que oferece essa transmissão de dados, é possível sim ter acesso a conteúdos audiovisuais através de dispositivos móveis, como o smartphone, e com a transmissão em streaming de alta qualidade. Esse avanço tecnológico, tanto das tecnologias de recepção quanto da capacidade de transmissão de dados, permitiu essa ruptura tecnológica, levando o audiovisual a ser móvel e estar presente em qualquer lugar a qualquer tempo. Tudo isso faz com que se abra e se expanda um mercado de produção de conteúdo audiovisual, o qual acompanha a população em constante movimento físico, ficando presente nos mais diferentes espaços e ambientes, além de comporem o cenário dessa ecrãnosfera, no que Lipovetsky e Serroy (2009) chamavam de mundo- tela. Conforme Jenkins, Green e Ford (2014), essa soma de atributos torna possível a propagação dos conteúdos audiovisuais. Ou seja, de nada adiantaria existir um conteúdo extremamente viralizante se as tecnologias de transmissão e recepção de conteúdo não comportassem ou não permitissem essa propagação de conteúdos e, por consequência, o aumento no consumo de produtos como streamings e redes sociais. Desse modo, é possível que youtubers, tiktokers, instagrammers e gamers criem e divulguem seus conteúdos por meio da grande rede. 3. Tendências e monetização Esse é um mercado extremamente atrativo e com várias oportunidades de monetização. Além disso, páginas e canais de influenciadores e jogadores são ótimas formas de divulgar produtos e marcas. Conforme Backes (2019, p. 56), no YouTube, “existem três tipos de anúncios 37 disponibilizados pela plataforma: anúncio de texto, gráficos/banner e as opções em vídeos”, todos disponíveis para quem conta com mais de 10 mil inscritos. Essa é a forma com que a plataforma gera a remuneração para os seus criadores. Já para os grandes canais digitais da contemporaneidade, a monetização se dá pelas interações, como visualizações e curtidas, e por propaganda de produtos em meio aos vídeos ou transmissões, o que recebe o nome de product placement. Por isso, quanto mais inscritos um canal tiver, maior será o valor que seu youtuber poderá cobrar por divulgações de marcas. Isso vale para outras plataformas, como TikTok e Instagram, assim como para streamers de jogos. Segundo Dallegrave (2020, p. 45): As plataformas concorrem entre si para atrair os streamers mais famosos. A Twitch, por ser pioneira e deter muitos streamers famosos, pode ser uma plataforma mais difícil para quem está começando, porém, também detém uma audiência maior. A Nimo TV, em comparação, possui contrato com diferentes organizações de eSports do mundo. As plataformas derivadas têm a facilidade de divulgação nas próprias redes sociais que elas fazem parte, facilitando o alcance do streamer, que pode atingir um público diversificado. O Youtube Gaming tornou-se referência para streamers de jogos mobile e o Facebook Gaming iniciou, pelo Brasil, uma aproximação com o mercado da América Latina. Pensando nisso, é importante frisar que para conseguir uma maior quantidade de visualizações e por consequência de marcas interessadas em patrocinar os mais diversos canais, é necessário que sejam feitos produtos de qualidade, voltados para os nichos que se almeja, indiferentemente se forem somente nichos ou hits de nicho. Algumas tendências que melhor pagam são TikTok e Twitch, contudo, para novos streamers uma plataforma como a Twitch, a estratégia acaba sendo mais complexa, uma vez que a concorrência é muito alta. Para tiktokers é importante que a linguagem seja simples e clara, com o uso 38 da câmera na vertical. Segundo Jenkins, Green e Ford (2014), para que esses players tenham sucesso é preciso que os conteúdos gerados atendam a cinco características: 1. estejam disponíveis quando e onde o público quiser; 2. sejam portáteis, no sentido de editáveis; 3. sejam facilmente reutilizáveis de outras maneiras; 4) sejam relevantes para vários públicos; e 5) haja fluxo constante de material. Cada tipo de plataforma exige um fluxo, horários diferentes de publicação e/ou transmissão conforme o público para o qual se destina. Por isso, é de vital importância que produtores de conteúdo midiático, assim como influenciadores digitais e streamers, estudem muito seu público e as métricas e linguagens necessárias para galgar esse sucesso. Um exemplo disso são os youtubers de canais infantis: eles costumam gritar muito durante as transmissões e manter sempre um nível alto de adrenalina. Não ache que isso é por acaso. Esse tipo de público costuma ficar menos tempo em programações que não os estimulem ao extremo, motivo pelo qual esses profissionais usam esse tipo de linguagem. Com base em tudo que foi estudado neste capítulo, você já pode começar sua produção de conteúdos midiáticos voltados para as mais diferentes redes sociais e para os mais diversos públicos, sabendo como aproveitar ao máximo cada uma e gerar remuneração pelos diferentes canais e plataformas. Então lembre-se: o mais importante é você ir testando os seus conhecimentos e explorando os formatos e as diferentes redes, a fim de se aprimorar cada vez mais e se tornar um exímio profissional dessa área. Referências ALVES, I. Jornalismo no TikTok. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Jornalismo) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020. Disponível em: https:// www.jornalismoetiktok.com/. Acesso em: 30 mar. 2023. 39 BACKES, S. Produção e consumo de vídeos on-line: análise de práticas e técnicas para o desenvolvimento de influenciadores digitais profissionais a partir do YouTube. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2019. BRASIL. Ministério das Comunicações. Assessoria de Comunicação. Pesquisa mostra que 82,7% dos domicílios brasileiros têm acesso à internet. Brasília, DF: Ascom, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/mcom/pt-br/noticias/2021/abril/ pesquisa-mostra-que-82-7-dos-domicilios-brasileiros-tem-acesso-a-internet. Acesso em: 9jan. 2023. CARDOSO, J. C. Plataformas de streaming, rupturas tecnológicas e alterações nas dinâmicas das audiências do espaço audiovisual brasileiro (2011-2021). Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2022. DALLEGRAVE, L. Streaming de jogos como sistema de performances: um olhar sobre a transmissão ao vivo de uma streamer de Fortnite através da Twitch. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2020. IBGE divulga as estimativas de população dos municípios para 2018. Brasília, DF: Agência IBGE Notícias, 29 ago. 2018. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge. gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/22374-ibge- divulga-as-estimativas-de-populacao-dos-municipios-para-2018. Acesso em: 9 jan. 2023. JENKINS, H.; GREEN, J.; FORD, S. Cultura da Conexão: Criando valor e significado por meio da mídia propagável. São Paulo: Aleph, 2014. LIPOVETSKY, G; SERROY, J. A tela global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna. Tradução: Paulo Neves. Porto Alegre: Sulina, 2009. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/223 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/223 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/223 40 Publicidade para internet, nichos e viralização Autoria: Jéferson Cristiano Cardosos Leitura crítica: Vanessa Germanovix Vedovatte Objetivos • Entender como funciona o mercado da publicidade para a internet, com seus diversos formatos, estéticas, linguagens e cuidados. • Aprender sobre os diversos nichos de mercado que compõem a cauda longa da web, assim como sobre os hits de nicho. • Compreender os conceitos de cultura da propagação e cultura da participação, a fim de se tornar capaz de criar conteúdos com potencial de viralização. 41 1. Publicidade para internet Neste capítulo você vai aprender sobre publicidade para a internet, como funciona esse mercado em expansão, desde formato e estética até linguagem e cuidados. Você também vai entender um pouco mais as demandas existentes através dos diversos nichos de mercado que compõem essa cauda longa. Além disso, vai aprender os conceitos de hit de nicho, cultura da propagação, cultura da participação e como usar todos esses elementos a favor do seu conteúdo, a fim de que ele obtenha um potencial de viralização nas redes. Primeiramente, é preciso que você entenda que o digital, como um todo, é um mercado em franca expansão, seja em suas diversas tecnologias, seja nas possibilidades de comercialização de serviço e/ou produtos nesse meio. Por isso, é essencial saber como utilizar a publicidade voltada para a internet. Dependendo para onde e com qual finalidade é feita essa publicidade, você terá um formato e uma estética diferentes. Além disso, dependendo do seu público-alvo também será necessário adaptar a linguagem utilizada. Vale destacar que é possível usar diversos formatos de publicidade, dentre eles: voltada para SEO (Search Engine Optimization, em tradução livre, otimização para motores de busca); mídias pagas, tanto em redes sociais quanto em sites de busca como o Google; e campanhas de lançamento. Para facilitar vamos dividir em dois grandes grupos: conteúdos midiáticos feitos para alavancagem de modo orgânico e conteúdos midiáticos feitos com impulsionamento financeiro. No primeiro grupo se enquadram diversas estratégias, todas focadas em médio e longo prazo. Caso você queira resultados rápidos essa não é uma opção recomendada, contudo, se quiser resultados mais duradouros, essa é uma ótima opção. No geral, o aconselhado é trabalhar essas duas 42 estratégias em paralelo, a fim de ter resultados em todos os prazos, do curto ao longo, e poder se consolidar ao longo do tempo. Para se ter um ranqueamento interessante em sites como o Google é necessário que sejam construídos textos que sigam algumas regras de SEO, a fim de que o algoritmo da plataforma faça um bom ranqueamento da página do seu produto e/ou serviço. Nesse ponto é importante utilizar palavras-chave que sigam o modelo de cauda longa de Anderson (2006). Basicamente, quanto mais específico for o termo utilizado mais ele será focado em determinado nicho e terá chances de competir no ranqueamento. Segundo Cardoso (2021b), os algoritmos analisam desde informações primárias, como as palavras-chave presentes nos títulos e no texto em si, como o relacionamento daquela determinada página com outras, o que se dá por meio de links presentes no texto que enviem o usuário para outras páginas, que precisam ser bem ranqueadas e seguras para aumentar a pontuação da sua (nada de usar páginas em http; coloque links somente para https). Há algumas diferenças entre textos feitos para sites e blogs e textos feitos para redes sociais. Em ambos os casos o produtor de conteúdo precisa ficar atento às palavras-chave, contudo, quando for para blog ele precisa também ter cuidados em relação ao tamanho do conteúdo, que precisa ter no mínimo 500 palavras e uma relação de 2% de texto ocupado pelas palavras-chave. Já quando o texto é para redes sociais não existe uma quantidade mínima quando o referencial é a legenda, não obstante, a imagem não pode ter mais de 20% de sua área ocupada por textos, sejam eles escritos ou logomarcas. Para redes sociais também é importante ficar atento às hashtags. Muitas vezes o uso das palavras-chave, nesses casos, se dá justamente com as hashtags. E não pense que um algoritmo não vai ler o texto só porque é um vídeo sem legenda. Os algoritmos atuais fazem essa 43 codificação e classificam de acordos com isso, então, mesmo que você faça um material para o YouTube ou TikTok, precisará ficar atento a essas diversas técnicas para aumentar as chances de viralização do seu conteúdo. Além disso, para o texto ser mais assertivo, é possível fazer uso de estratégias de copywriting, que é um texto focado em persuasão, assim como é preciso ter um grande cuidado com os horários que são feitas as postagens. Caso você coloque um conteúdo às 18h, ele competirá com muitos outros, tornando-se praticamente invisível em meio a um mar de produções. Por isso, é preciso analisar qual seu público e identificar qual o melhor horário para as publicações, uma vez que cada tipo de público consome materiais prioritariamente em horários específicos por nicho. Mas por que é importante esse bom ranqueamento? Basicamente, a explicação está na teoria do Triangulo de Ouro, a qual demonstra que apenas as três primeiras posições são visualizadas por todos os usuários, conforme pode ser visto na Figura 1. Figura 1 – Triângulo de Ouro Fonte: Cardoso (2021b, p. 123). 44 Em relação aos anúncios pagos, o sistema de produção do conteúdo não se modifica muito, uma vez que tendo palavras-chave e outras estratégias de texto usadas em SEO o ranqueamento é melhor. Contudo, nesse caso é preciso focar também em como será feita essa alavancagem, fazendo todo um estudo de público. É preciso avaliar a geolocalização, determinando em qual praça será exposto o anúncio, para qual faixa etária e para qual estrato social. É preciso saber, além de produzir os conteúdos, ler os números e fazer as melhores opções para essa alavancagem. No caso de campanhas em redes sociais é indicado que elas durem um mês, para alcançarem o máximo de seu desempenho. Campanhas com menos de uma semana tendem a não entregar os melhores resultados, uma vez que ela ainda está em período de adaptação àquela plataforma. Nesse molde é possível trabalhar também com product placement. Basicamente, consiste em fazer um influenciador usar o produto ou falar sobre ele durante uma transmissão, reels ou vídeo. Muitos conhecem erroneamente esse tipo de ação de publicidade como merchandising, contudo, merchandisingnão tem nada a ver com isso, sendo o ato de fazer uma propaganda de um produto diretamente em um ponto de venda. Um exemplo do uso dessa técnica são as amostras grátis de um produto alimentício dadas nos mercados, o que faz o consumidor desejar usufruir daquele alimento. Vale ressaltar que no product placement é necessário sempre pesar o custo-benefício, uma vez que quanto mais seguidores um influenciador tenha maior tende a ser a repercussão do uso do produto. Além disso, é necessário estudar muito bem o comportamento daquele influenciador, uma vez que a marca estará vinculada a ele e a seus atos, mesmo que longe das redes, podendo gerar repercussões tanto positivas quanto negativas. Exemplo: quando o jogador Neymar falou sua opinião a respeito dos candidatos na campanha a presidente de 2022 usando um boné da Nike. Quem era favorável à opinião dele começou a consumir mais o produto, quem era contrário fez um boicote. 45 Por último, tanto com mídias orgânicas quanto pagas você precisam ter dois cuidados fundamentais: direitos autorais e Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Para não ter um material seu deletado de uma rede é importante não ferir os direitos autorais. Exemplo: no YouTube você só pode utilizar até 15 segundos de uma música de forma gratuita; para usar mais que isso precisa negociar com o proprietário daquele selo musical a fim de conseguir uma liberação via contrato para esse uso. Obviamente, essa opção é interessante somente para grandes canais, tornando-se onerosa para os pequenos. Quanto à LGPD, é importante frisar que ela é a lei que regula o que pode ou não ser feito com os dados de um usuário/cliente/consumidor. Uma tática muito utilizada é a criação de uma landing page, páginas na qual o usuário tem acesso a materiais gratuitos em troca de fazer um cadastro. Normalmente ao final desse cadastro o indivíduo aceita receber promoções, e-mails e/ou ligações daquela marca. 2. Cauda longa e hits de nicho Anderson (2006) afirma que no início das grandes transmissões até meados dos anos 1990 tudo girava em torno dos grandes hits, ou seja, de produções feitas para o consumo massivo. Contudo, com o surgimento da televisão paga esse cenário sofreu uma grande alteração, pois os nichos ganharam espaço por meio de canais especializados. A esse consumo de diversos pequenos nichos por uma quantidade relativa de pessoas Anderson (2006) batizou de cauda longa. Nossa cultura e nossa economia estão cada vez mais se afastando do foco em alguns hits relativamente pouco numerosos (produtos e mercados da tendência dominante), no topo da curva da demanda, e avançando em direção a uma grande quantidade de nichos na parte inferior ou na cauda da curva de demanda. Numa era sem as limitações do espaço físico nas prateleiras e de outros pontos de estrangulamento da distribuição, 46 bens e serviços com alvos estreitos podem ser tão atraentes em termos econômicos quanto os destinados ao grande público. (ANDERSON, 2006, p. 50) Entretanto, como o mundo está em constante mudança, outro fenômeno ocorreu com a proliferação do acesso às plataformas de streaming (se intensificando após 2015), o qual Cardoso (2021a) chama de hits de nicho. Basicamente, o consumo mundial de programações voltadas para nicho se intensificou de tal modo que a cauda começou a ficar mais grossa. Além disso, esses produtos audiovisuais não eram mais acessados somente por um número diminuto da população, mas sim por massas de fãs daquele determinado nicho. Devido a esse fato, o autor entendeu como coerente batizar esse fenômeno de hits de nicho. Vale destacar que na internet é possível explorar os mais diversos nichos de mercado. Salientamos alguns dos que têm um engajamento bem interessante para quem deseja se tornar um influenciador digital ou fazer produção de conteúdos: jurídico (é possível atuar em diversas áreas, com diferentes especializações, como trabalho, tributário etc.); saúde e bem-estar (destaque para as áreas de nutrição, preparo físico, cuidados com a saúde e saúde para a terceira idade); games e geek (esse é um público que só aumenta, e possibilita a criação de conteúdos bem variados e de transmissões longas, nas quais o usuário pode jogar algum jogo pelo qual seja apaixonado e ainda receber por isso); tecnologia (desde trazer inovações até explicações sobre tecnologias já existentes); marketing e empreendedorismo (cada vez mais esse tipo de conteúdo tem se tornado viral, pois muitas pessoas desejam abrir seu próprio negócio ou ampliá-lo pela internet). Caso alguma área do seu interesse não esteja nessa lista, não desanime, pois atualmente existe espaço para os mais diversos tipos de conteúdo. 47 3.Tornando o conteúdo viralizante Muitas pessoas de forma leiga falam sobre um conteúdo ser viral ou viralizante, como se fosse possível ao seguir uma determinada fórmula ter certeza de que a viralização vai ocorrer. Isso é um erro! É possível atribuir um potencial viralizante para um conteúdo, no entanto, não é possível ter a certeza de que essa viralização realmente vai ocorrer, pois muitas vezes, mesmo fazendo todo o possível, o conteúdo ainda acaba por não ganhar essa dimensão. Mesmo assim, vale salientar que um conteúdo que não siga algumas premissas básicas tende a “morrer na praia”, não gerando o engajamento almejado nem se propagando conforme o planejado pelos seus produtores. Primeiramente, para que um conteúdo alcance essas proporções é necessário que o público interaja com ele, o que se dá através do que Jenkins (1992) cunhou como cultura participativa. Conforme Jenkins (2009), a cultura participativa é quando fãs e demais consumidores ou multiplicadores de conteúdos, indiferentemente do nível de engajamento, são convidados a participar ativamente de um programa, história ou universo narratológico. O autor destaca que para isso são utilizadas diversas técnicas, como as “tocas de coelho”, fragmentos deixados em uma trama que levam ao consumo de outro produto em um pedaço diferente da franquia, normalmente utilizado nas narrativas expandidas e na narrativa transmídia. Além disso, conforme Cardoso (2022), o público tende a se apropriar dos conteúdos e ampliá-los quando é cativado por eles. Isso pode se dar com fanfictions, que são histórias criadas por fãs com base em determinado produto, mas sem nenhum interesse financeiro, apenas pela vontade que fazer parte daquela obra. Um exemplo de apropriação por parte de fãs são as coreografias do TikTok; outro exemplo são sátiras de determinado filme e/ou série. Também é possível que sejam 48 geradas discussões em fóruns, gerando interesse de um número ainda maior de pessoas. Segundo Shirky (2011), o público sente prazer ao compartilhar histórias, ao criar suas próprias versões (suas fanfictions) e ao levar isso para outros fãs, os quais consumirão esse produto e, muito provavelmente, poderão acessar o produto original devido à curiosidade perpetuada pela obra do fã. De acordo com Bauman (2008), os fãs fazem isso devido ao desejo que têm de propagar determinado conteúdo. Do mesmo modo, o desejo de consumo leva outros fãs a consumirem esse tipo de conteúdo, uma vez que estão ávidos por mais produtos derivados do seu objeto de desejo, o que tende a aumentar progressivamente até que seja sugada a “última gota” daquela produção. Tudo isso leva ao que Jenkins, Green e Ford (2014) chamam de propagabilidade: A “propagabilidade” se refere aos recursos técnicos que tornam mais fácil a circulação de algum tipo de conteúdo em comparação com outros, às estruturas econômicas que sustentam ou restringem a circulação, aos atributos de um texto de mídia que podem despertar a motivação de uma comunidade para compartilhar material e às redes sociais que ligam as pessoas por meio da troca de bytes significativos. (JENKINS; GREEN; FORD, 2014, p. 26-27) Conforme os autores, para que isso seja possível é necessário que os autores e/ou produtores dos conteúdos contemplem