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3 Psicologia da Religião (Merval Rosa)

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セ
LEIA lAMBEM:
É o HOMEM PRODUTO DO 'ACASO?
W. A. Criswell
Refutoçõo bíblica à teoria do evolucionismo.
".....
I
O HOMEM NÃO SUBSISTEPORSI MESMO
A. C. Morrison
Estudosvisandodemonstraraos filósofos
a existênciade um Ser superior.
!. EDiÇÕES JERP
."
Cf)-o
O
r-
O
G)-:t>
C.»
.JERP
MERVAL ROSA
Professor de Psicologia da Religião no Seminário
Teológico Batista do Norte do Bras"
PSICOLOGIA DA RELlGIAO
21 edição
1979
Edição da Junta de Educação Religiosa e Publicações
da Convenção Batista Brasileira
CASA PUBLICADORA BATISTA
Caixa Postal 320 - ZC 00
Rio de Janeiro - RJ
Todos os direitos reservados. Copyright @1979 daJUERP paraa
língua portuguesa.
_.19
Ros·psl Rosa,Merval
PsIcologiada reUgIão.2. edição.Rio de Janeiro,Junta
deEducaçãoBeUgioue PubUcações,Un9.
251p.
1. Psicologiada BeUgIão.I. Título.
CDD - 200.19
Capade<leccoDi Númerodecódigopara pedidos:28.201
JuntadeEducaçãoBeUgiosae PubUC&ÇÕesda
ConvençãoBatistaBrasileira
Caixa POBtal820- CEP: R ッ ッ
RuaSUvaVale, '781 - Cavalcante- CEP:21.8'70
Rio deJaneiro,RJ,BrasU
Impressoemgráftcaspróprias
Este livro é carinhosamentededicado à minha pri-
mogênita, ANEOI, pela passagemdo seu décimo sétimo
aniversário natalício.
Recife, !5 de junho de 1969
NOTA AO LEITOR
Este livro não é umsistema de psicologia da religião, isto é,
não tem por objetivo formular uma teoria geral do comporta-
mento religioso do homem e da sociedade. Aliás,diga-se de pas-
sagem, qualquer livro hoje com tal pretensão,a nosso ver,seria
prematuro, pois ainda não temos umateoria geral do comporta-
mento humano,de carátercientifico incontestável.Temos algumas
tentativaslouváveis, masnenhumadelas podearrogar-seo direito
de considerar-sea única interpretaçãocorreta. O mesmo podemos
dizer das tentativasde formulação de teorias gerais docomporta-
mento religioso. Sãoapenastentativas,e nenhumapode conside-
rar-se melhor do que asoutras.
Cremos que, nopresente,a melhor posição teórica é manter
uma atitude critica para com todas essasteorias e prosseguirna
observaçãosistemáticado fenômenorelígíoso,até que, com a coope-
ração de vários pesquisadores,cada um estudandodeterminadoas-
pecto daexperiênciareligiosa,seja possível a formulação deteorias
gerais em basescientificasmais sólidas, que possamresistir a exame
mais sério econtribuir para a melhor compreensão desseimpor-
tante aspecto docomportamentohumano. Essaé a posiçãoteórica
do presentetrabalho. Cremos no caráter reducenteda ciência e
desconfiamos dequalquer teoria geral de comportamentoque não
seja baseadaem observaçãoempírica ou experimental.
Apesar docarátermeramenteintrodutório do presentetrabalho,
há certos princípios que permeíameste livro. Um deles, por exem-
7
plo, é a crença na causalidadedo comportamentoreligioso. teso
significa que acreditamosser o comportamentoreligioso aprendido
como aprendidaé qualqueroutra forma de comportamentohuma-
no. Mesmoadmitindo que a capacidadede comportar-sereligiosa-
mente seja natural ao homem, o conteúdo espec1f1codesse com-
portamento,contudo,é aprendido.Dai, por que algunssão reiigiosos,
e outros não o são.
o princípio da evolução efuncionalidade do comportamento
religioso é outra atitude teórica do presentevolume. Com isso que-
remos dizer que a evoluçãoespiritual do homemobedeceàs mesmas
leis gerais da evolução dasoutras dimensões desua personalidade.
wo significa, outrossim,que o comportamentoreligioso cumprepro-
pósitos especíücosem diferentes fases da evoluçãohumanae tem
característicaspeculiaresem cada uma delas.
Outra posição teórica aqui assumida é o principio crítico, se-
gundo o qual nenhumateoria sociológica,antropológica,psicológica
ou teológica deveser aceita sem discussão ouser tomada como
dogma. Acataremosas hipótesesplausíveís, porém as tomaremos
sempre como instrumento de trabalho, e nunca como axiomas ou
verdadesóbvias e indiscutíveis.
O leitor notarátambéma ausênciade tom dogmáticonas afir-
mações doautor, talvez parao constrangimentoe decepção demui-
tos. Ao invés de afirmações categóricas,o leitor encontraráum
convite ao debate e à pesquisa. Arazão principal dessaposição
teórica é que sabemostão pouco arespeito do comportamentore-
ligioso que qualquer outra atitude seria prematurae - por que
não dizer - arrogante.
Como livro didático que pretendeser, o presentevolume segue
as linhas gerais de obras congêneres.A repetiçãoé parte do estilo
didático e o leitor vai encontrar,nestetrabalho,tópicos repetidos,se
bem que,sempre que possível, com umtratamentoum pouco di-
ferente. Seguimos aqui a divisãotradicional e apresentamoscapí-
tulos que ordinariamentenão faltariam a um texto de introdução
à psicologia da religião. Oconteúdo de cada um dessescapítulos
visa chamar a atençãodo leitor para o que setem dito sobre o
assunto,atravésde uma exposiçãosimples e acessível a todos.
O livro não tem qualquerpretensãode originalidade. Trata-se,
repetimos,de obra introdutória e didática, cujo propósito é reunir,
num só lugar, informaçõesgerais Sobre o tema de que se ocupa.
O autor procura dar o devido crédito a todas as fontes de onde
extraiu informações. Muito do material, entretanto,é resultadode
assimilaçãoatravésde demoradocontatocom vários autores,o que
toma extremamentedifícil a identificação adequadade cada um
deles. Tanto quanto poss[vel, porém, asafirmaçõessão documenta-
8
das através de citaçõesdiretas ou indiretas, os autores origina1.s
são indicadose suasobras mencionadas,paraque os leitores possam
conferir o pensamentooriginal com o que se diz no texto.
Quanto à bibliografia, reconhecemos que épredominantemente
inglesa. Deve-seisso a uma circunstânciapeculiar: este livro foi
planejadoe quase todo escritoenquantoo autor se encontravanos
Estados Unidos,estudandopsicologfa. Alémdisso, não se podenegar
que quasetoda a literatura existentenesse campo é, de fato, em
língua inglesa. Esperamos,entretanto,que, em futuras edições, se
as houver, possamosampliar essabibliografia, estendendo-aa outras
literaturas.
Agora, uma palavrade agradecimento.Na realidade,somos de-
vedores atantaspessoas que, setentássemosmencioná-lasnominal-
mente, correríamoso rísco deomitir algumas. Assim sendo, quere-
mos dizer que somosgratos a todos quecontribuírampara a reali-
zação desse trabalho. De modo especial, queremosmencionar 08
segtüntescredores:
A direção da famosa biblioteca doSouthemBaptist Theological
Seminary,em Louisvllle,Kentucky, U. S. A. começando por seu di-
retor - o Dr. Crismon - pelas inúmerasatençõesdispensadasdu-
rante a fase inicial de pesquisas.
Ao Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil e a seus
alunos em particular, pelo ambienteacadêmico em que oconteúdo
deste livro foi testadoe enriquecido pelas discussões em classe.
Ao colega José AlmeidaGtümarães,pela paciênciade ler o ma-
nuscrito e tentar reduzir algumasde suasasperezasde estilo. Suas
críticas foram de inestimávelvalor, e os senões queainda restem
devem ser atríbutdos exclusivamenteao autor.
'í 'A minha ram lia - esposa e filhos - pelosaeríncícdas longas
horasem que estiveausentedo convíviofamlllar. Sem o apoioirres-
trito de minha fam1lia, este livro nãopoderia ter sido escrito. A
todos, portanto, multo obrigado.
Finalmente, desejamosagradecera qualquer leitor que, tendo
uma crítica. a fazer aopresente trabalho,escreva aoautor. Não
haja hesitação. Toda crítica honestaserá bem-vinda. Acataremos
com o mãxímo deinteressea palavrado leitor que se der aotraba-
lho de estudarcríticamenteeste livro e sobre ele sedignar de emitir
sua opinião. Esperamossua cooperação nesseparticular.
9
CONTEÚDO
DEDICATóRIA. o....... • •••••••• o ••••• • ••••• • o •••• o'
NOTA AO LEITOR ..... o •••••• o ••••••• o. o' •• o o' •••••• o o ••
Capitulo I. PSICOLOGIA DA RELIGIAO:
Páginas
5
7
Definição o o • • • • • • • • 15
H1.stória . o ••••• o • o • • • • • • • • • 19
Métodos o o....... 32
Sumário . o •••• o ••••• o , •••••• o o ••••••••• o • • • • • • • • • • 38
Capitulo n. O FENÔMENO RELIGIOSO:
Definição de Religião o ••••••••• • ••••• • ••••••• •••• o 42
Origem da. Religião 44Experiência. Religiosa. .o • • • • • • • • • • • • • • • •• • •••••• o 49
comportamentoReligioso 56
InterpretaçõesPsicológicas ' ', '.. 57
A Teoria de Freud 57
A Teoria. de Jung o' •• o o •••• o • • • • • • • • • • • • • • • • • 63
A Teoria. de Gordon Allport 66
A Teoria de Anton Bo1sen '''''''''''''''''''' 68
Sumário o ••••••••••• o o 70
Capítulo III. EVOLUÇAO DA EXPERmNCIA RELIGIOSA:
A Rel1gião da Infância .. o • o •••• o o •• o • o o •••• o •• o • • 73
A Religião da Adolescênciae da Mocidade... o • o o • • 82
A Religião do Adulto 94
A Religião da Velhice 101
Sumário .. . . . . . . . . 103
Capitulo IV. Ft E DúVIDA:
A Fé Religiosa, .. 105
Niveis de crença 107
crença e Fé 108
Funçõesda Fé 110
A Dúvida Religiosa 111
SuasCausas 115
Ateismo 115
Sumário 118
Capitulo V. CONVERSA0 RELIGIOSA:
Importânciado Assunto 120
ExemplosClássicosde conversãoReligiosa 122
O Apóstolo Paulo 124
JohnBunyan 127
GeorgeFox 130
Ramakrishna 131
O Processoda ConversãoReligiosa... 134
F.atoresda ConversãoReligiosa 135
Tipos de ConversãoReligiosa 138
Sumário 141
Capitulo VI. MATURIDADE RELIGIOSA:
Definição 144
Teorias
SigmundFreud 145
Carl Jung 145
Erich From·m 146
William James 148
Gordon Allport ., 151
Viktor FrankI 151
Sumário................... 154
Capitulo VII. ORAÇAO E AOORAÇAO:
Oração- ConteúdoBásico 157
Motivos da Oração 160
Tipos de ()raçâo ,...................... 162
Adoração- ElementosBásicos................... 166
Sumário 177
Capitulo VIII. MISTICISMO RELIGIOSO:
Importânciada ExperiênciaMística 181
Tipos de MISticismoReligioso
MíBticLsmo de Ação 183
Misticismo de Reaçã::> 184
Característicasda ExperiênciaMística 185
FatoresPsicológicosda ExperiênciaMística 189
O MétodoMístico 192
Exemplosda ExperiênciaMística 197
Sumário 207
Capitulo IX. VOCAÇAO RELIGIOSA:
SentidoBíblico de Vocação.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210
Motivação para o MiniStério 212
PessoasInfluentes.. . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
Sumário .. . . . . . . . 220
Capítulo X. RELIGIAO E SAÚDE MENTAL:
Religião e Medicina 223
FatoresReligiososnas DoençasMeIiiais 224
ContribuiçõesEspecíficasda Religião 234
Religião e Psicoterapia 236
Sumário " . . . . . . . . . . . . . . 242
BIBLIOGRAFIA GERAL 245
Capítulo I
PSICOLOGIA DA RELIGIÃO
Definição - História - MétoOOs de Estudo
Definição
Psicologia da religião é o estudo do fenõmeno religioso doponto
de vista psicológico, ouseja, a aplicação dosprincípios e métodos
da psicologia ao estudo científico docomportamentoreligioso do
homem, quer como indivíduo, quer como membro deuma comuni-
dade religiosa. Nessa definição,"comportamentoreligioso" refere-
-se a qualquer ato ou atitude, individual ou coletiva, pública ou
privada, que tenha específicareferênciaao divino ousobrenatural.
Obviamente, esse divino ousobrenaturalé definido em termos da
fé pessoal decada indivíduo.
Psicologia da religião,portanto, não é nem a defesanem a
condenaçãoda religião. Não é tampouco o estudo de um credo ou
de determinadaseita, se bem quetal estudo seja possível e até
recomendável. Psicologia da religião é o estudo descritivo e,tanto
quanto possível, objetivo do fenõmeno religioso, onde quer que ele
ocorra.
Gostaríamosde salientar aqui duas implicações dadefinição
acima sugerida.
16
Dissemos, emprimeiro lugar, que psicologia darellgilo • a apU-
cação dosprincípios e métodos da psicologia ao estudocientlfico
do comportamentoreligioso do homem, quer como indivíduo, quer
comoparte integrantede um grupo religioso. Reconhecemos quere-
ligião, especialmentedo ponto devista do seu estudo psicológico,
é algo essencialmenteindividual. Não podemosnegar, entretanto,
que essaexperiênciatipicamentepessoal seexpressatambém cole-
tivamente no comportamentodo grupo religioso. Assim sendo, o
psicólogo da religião não selimita ao estudo dos fenômenos religio-
sos'estritamentepessoais,tais como a experiênciamística, a con-
versão ou a vocação, mas seinteressatambémpor aqueles aspectos
da experiênciaque serefletem no comportamentoreligioso de uma
coletividade, tais como um ato público deadoraçãoou uma pere-
grinaçãocoletiva a umlugar sagrado.
Dissemos, outrossim, que a psicologia da religiãoé o estudo
objetivo do fenômeno religioso, onde quer que ele ocorra. Não se
limita, conseqüentemente,à determinadareligião ou a uma seita
particular. Portanto, quando o psicólogo da religiãoestuda fenô-
menos como a oração, a conversão religiosa ou o misticismo,tanto
quanto possível, eleprocura apresentá-loscomo experiênciasreli-
giosas comuns a indivíduos das maisvariadas crenças.
Convémsalientar,entretanto,que, na maioria dos casos, o con-
teúdo deste livro seaplica quase exclusivamenteà descrição e
à interpretaçãodo fenômenotal como se observa nocristianismo,
e especialmentedentro da tradição protestante. Procuraremosde-
monstrar, entretanto,que mesmo aqueles aspectos daexperiência
religiosa quealguémsuponhaexclusivos docristianismosão comuns
à experiênciareligiosa de indivíduos deoutras religiões. Emoutras
palavras,a dinâmica da experiênciareligiosa tem aspectosuniver-
sais e pode serestudadado ponto devista psicológico,independente-
mente de qualqueridéia sectária. Por exemplo, adinâmica da expe-
riência religiosa da conversão, da oração ou do misticismo,para
citar apenas três aspectosimportantesda experiência religiosa, é
essencialmentea mesma, quer se estude orenômenono cristianismo,
no budismo ou nohinduísmo.
Orlo Strunk Jr. define psicologia da religião como "o ramo da
psicologia geral quetenta compreender,controlar e predizer o com-
portamentohumano - tanto profundamentepessoal comoperifé-
rico - percebido pelo indivíduo como sendo religioso esusceptível
a um ou mais dos métodos da ciênciapsícológíea"."
1. Orlo S:runk Jr., Religion: A Psychological Interpretation, New York:
Abingdon Press (1962), p. 20.
Nota: No texto acima, 8trunk usa o adjetivo "propriate", empregadopor
Gordon AIlport e definido como relativo ao proprium: característico
de um padrão de comportamentoem que o individuo busca atingir
16
Como se podenotar a definiçãQ deStrunk tenta enquadrara
psicologia dareligião no escopogeral da psicologiaexperimentalou
cíentíüca, Aliás, em 1909, no Congresso Psicológico deGenebra,o
psicólogo M. Flournay sugeriu que se considerassea psicologia da
religião comoautênticae legitima área de investigaçãocíentíüea,o
que vale dizer que ocitado psicólogo advogousua inclusão como
parte da psicologiacientÍfica geral. Reconhecemosque a simpática
posição deFlournay, de Strunk e de tantos quantosadvogama in-
clusão da psicologia da religião no campo da psicologiacientlfica
representaum esforço louvável, mas nopresenteé apenasum ideal.
A posição de W. H.Clark é mais realista e está mais de acordo
com a presentesituação. Ele observa acuradamenteque, "ao con-
trário do que acontececom outros ramos da psicologia, apsicologia
da religião nunca desfrutouposição acadêmicarespeitável. Ela per-
tence parcialmenteà religião e parcialmenteà psicologia e fre-
qüentementese encontraentre as duas.'!2 Podemos dizer queesta
posição ambíguada psicologia da religiãotem dificultado sua in-
clusão ereconhecimentocomo áreaespecializadada psicologiacíen-
tífica.
Clark apresentatrês razões por que a psicologia dareligião
ainda não desfrutastatusrespeitávelno campo da psicologiacien-
tífica geral. Examinemo-lasrapidamente:
A complexidadedo comportamentorelígíoso. Não há dúvida de
que o comportamentoreligioso é altamentecomplexo. Noentanto,
cremos queisso não é razão suficiente, porque, em multas outras
áreas igualmente complexas, a psicologia temalcançadoalto nível
de desenvolvimentoe é hoje grandementerespeitadacomo disciplina
os alvos de seu prõprto "eu" em evolução. sem esperar pelas cir-
cunstâncias,mas procurando ou criando as condições favorâvels à
consecuçãodessespropósitos. (Veja Engllsh & Engllsh. A Compre.
hensive Dictionary of Psychological and PsychoanalyticalTerms,
New York: David McKay Company, Inc. (965), pâg• 414.) Proprium,
na linguagem de Allport, significa aqueles aspectosdapersonali-
dade exclusivos e peculiares de cada Individuo e que formam sua
individualidade e lhe dão unidade Interior. Para melhor compre-
ensão dessesconceitos. ver especialmenteo livrinho de Allport.
Becoming: Basic Considerationsfor a Psychology of Personality,
New Haven: Yale University Press,1955. E, para uma discussãoda.
diferença teórica entre pessoae personalidade,ver o trabalho de
Vanderveldte Odenwald, Psiquiatria e Catolicismo, Lisboa: E,1ditorial
Aster, Ltda. (1962). pã.gs, 7-19. Ver também "Algumll4! Reflexões
sobre o Conceito Cristão de Pessoa",de Paul Louis Landsberg,em
O Sentido da Ação, Rio: Editora Paz e Terra Ltda. (1968). págs.
7-19, e o trabalho de Josef Goldbrunner, Pastoral Personal: Psico-
logia Profunda y Cura de Almas, Madrid: Ediclones Fax (1962).
pâgs. 20-32.
2. W. H. Clark, The Psychology of Religion: An Introduction to Reli·
gious Experience and Behavior, New York: The MacMillan Company
(1959). pAg. 5.
17
científica. Mas há certa razão de serna afirmação de Clark, por-
que é difícil chegar a conclusõesclaras e específicas arespeito de
muitos aspectos docomportamentoreligioso. E o mistério que pa-
rece envolver aexperiência religiosa espantao cientista, que, via
de regra, está mais imediatamenteinteressadono estudo de fenô-
menos a respeito dos quais possa fazergeneralizaçõesque conduzam
a resultadosmais objetivos e,sempreque possível, quantificáveis.
Outra razão apresentadapor Clark é afalta de adequadotreino
científico por parte do erudito religioso. Via deregra, os indivíduos
que escrevem sobre psicologia da religião foramtreinados em se-
minários onde receberamexcelente equipamentopara especulações
teóricas, mas quasenada quanto a métodos empíricos deobserva-
ção. Talvezseja essa uma das razões por que agrande maioria
dos livros existentesno campo da psicologia da religião revelam a
tremendainfluência da teoria freudianasobre seusautores. :m que
a naturezaaltamenteespeculativada teoria de Freud parecefazer
irresistível apelo à mente do erudito religioso, que, como dissemos,
prefere especulações teóricasà penosae humilde observação empí-
rica. Cremos que esse é um dos maiores empecilhosà respeitabili-
dade cient1fica da psicologia da religião. Quando lemos livros sobre
a psicologia da religião,na grandemaioria dos casos, temos a im-
pressão de que seusautores estão apenas tentando enquadrar a
experiênciareligiosa dentro de uma das teorias psicológicas, espe-
cialmente daquelas menos experimentais e mais especulatívas,
Freud, Jung,Adler e otto Rank figuram entre os preferidos.
Desejamosdeixar bem claro que não somoscontraesses teóricos,
se bem que não concordemos com amaior parte do que eles dizem,
por acharmosque lhesfalta baseempírica ou experimental. O que
realmente queremos dizeré que, se a psicologia da religião vai
alcançara respeitabilidadeque procura, deve abster-sede compro-
missos incondicionais com teorias e envolver-se decididamenteno
estudo objetivo do fenômeno religioso,através de métodoscientí-
ficos aceitos pelacomunidade científica do mundo moderno. Ou,
como observa Goodenough: "Atarefa da psicologia da religião não
é enquadrara experiênciareligiosa nosescaninhosde Freud ou de
Jung, nas categoriasda psicologia da forma,estímulo-respostaou
qualquer outra teoria, mas, sim,procurar verificar o que os dados
da experiênciareligiosa em si mesmossugerem."3
Em terceiro lugar, Clark diz que a psicologia da religiãoainda
não alcançoua respeitabilidadede outros ramos da psicologiacien-
tífica por causa de interesseeclesiástico ou porcausado natural
sentimentodo indivíduo de quesuaexperiênciareligiosa é algoínti-
mo e privado. Muitospensamque a experiênciareligiosa é dema-
3. Erwin Ramsdell Goodenough, The Psychology of Religious Experien·
ees, New York: Basic Book, Inc. Publishers (1965), pâg. XI.
18
siadamentesagradaparaser expostaao estudo objetivo de um obser-
vador. Achamesses que o estudo objetivo daexperiênciareligiosa
seria a profanaçãode algo extremamentesagrado. Julgamos des-
necessáriodizer quão ridícula é esta atitude, mas não podemos
negar que ela existiu e ainda existe, até mesmoentre líderes re-
ligiosos de grande influência no mundo moderno.
Voltemos,agora,àquela parte da definição deStrunk que deu
origem ao comentárioacima. Sedefinirmos psicologia da religião
como o estudocientífico do comportamentoreligioso do homem, se-
gue-se logicamenteque ela pode e deve serconsideradaum ramo
da psicologia geral, que, por seuturno, é o estudocíentíncodo com-
portamentohumano. Nessemesmosentido,pode-se dizer queapren-
dizagem,percepçãoetc. são ramos da psicologia geral. Logicamente,
repetimos,o estudopstcoiõsíccda experíêncíareligiosa pertenceao
campo da psicologia cient1fica. Narealídade, porém, esse estudo
ainda é mais do teólogo que do psicólogo. Mesmonas grandesuni-
versidadesem que há um departamentode teologia, psicologia da
religião é estudada,quando muito, em cooperação com odeparta-
mento de psicologia, como função do teólogo, e não do psicólogo.
Esperamos, porém, que, em breve, os compêndios de psicologia
comecem aconsiderara psicologia da religião como um dos ramos
reconhecidos da psicologiacíentincageral. Cremos que issoacon-
tecerá quando os estudiosos doassuntoforem mais bemtreinados
nos processos da observaçãoempírica e começarem ausar métodos
mais precisosna investigaçãodo comportamentoreligioso do ho-
mem e dascomunidadesreligiosas.
História da Psicologia da Religião
À semelhançada psicologiacientífica moderna,a psicologia da
religião tem suasraízes históricasna filosofia ouna chamadapsi-
cologia racional. Homens como Buda, Sócrates,Platão, Jeremias,
Agostinho, Pascalsão exemplostlpícos de indivíduos querefletiram
sobre a vida interior e descreveramsuas próprias observações. O
fruto da observaçãointrospectivadessesgrandesvultos da huma-
nidade constitui, por assim dizer, o primeiro esforço rumo aoestu-
do psicológico daexperiênciareligiosa.
A história da psicologia da religiãoestá também relacionada
com a chamadateologia filosófica. Osescritores dessa linha se
preocuparamcom extensasdiscussões de teses, como:monísmover-
sus dualismo; idealismo versusmaterialismo e empirismo. :l!: aqui
tambémque encontramoso célebre debateda relaçãoentre o espí-
rito e a matéria. O dualismo interacionistade Descartes, oparale-
lismo psicofísico de Leibnitz e o psícomontsmode Berkeley. que
surgiramao tempo como solução do problema,ainda hoje são dis-
cutidos esua influência se faz sentir no mundo moderno.
19
No entanto,como observa SewardHiltner, se nosativermosao
aspecto puramentefilosófico-especulativoda psicologia da religião,
correremos o risco deestar fazendo aperguntaerrada. Na filosp-
fia mental ou psícología raéíonal,diz ele, poderíamosinquirir sobre
abstraçõesque nada têm que ver com o homem decarne e osso.
Na teologia filosófica,poderíamosenveredarpelo terreno de espe-
culaçõesmetafísicas,de poucasconseqüênciaspara a compreensão
empírica do fenômeno religioso.4
Por razõesdidáticas, podemos dizer, comWalter H. Clark, que
a história da psicologia da religião, emsua concepçãomoderna,se
desenvolveu apartir de estudos teóricos dos fenômenosrelacionados
com o comportamentoreligioso e de preocupações de ordemprática,
tal como se refletem especialmentenos grandes movimentos de
saúdemental no mundo moderno. Seguiremos essecritério na apre-
sentaçãodeste breve esboçohistórico.
Estudos Teóricos. No mundo moderno,uma das primeirase mais
expressivastentativas de compreensãopsicológica do fenômenore-
ligioso é o trabalho intitulado A Treatise Concerning Religious
Affections (1746), da autoria do grandepregadorJonathanEdwards.
JonathanEdwards (1703-1758) foi o pregadordo Grande Avi-
vamentoReligioso que,surgindo em Massachusetts,espalhou-sepor
vários estadosda Nova Inglaterra, nos Estados Unidos da América
do Norte. No livro acima citado, Edwards fezvárias observações
válidas quanto à naturezada experiênciareligiosa. Essasobserva-
ções revelam oespírito intuitivo dessegrande pregador. Por exem-
plo, ele notou a diferençaentre a experiênciarelígíosaespúriae a
experiência religiosa genuína; entre os elementosessenciaise os
elementossecundáriosou supérfluos da experiênciareligiosa. Re-
velou também profunda compreensãodo assunto ao afirmar, por
exemplo, queraramenteo problemaapresentadopelo paroquianoa
seu pastor é o real problema que o aflige. Em geral, diz ele, o
problemadiscutido éapenasum pretexto para iniciar uma relação
que torne possível acomunicaçãodo real problema que o preocupa
no momento.
Em 1799 apareceuoutro livro que iria exercer considerávelin-
fluência no estudo da psicologia da religião.Trata-se da obra de
Friedrich Schleiermacher(1768-1834),tl'ber die Religion: Reden an
die.Gebildetenunter ihren Verachtern (Traduzida em inglês sob o
título On Religion: 8peeches toIts-CulteredDespisers). Nesse livro,
Schleiermacherreage contra a interpretaçãointelectualistada na-
tureza da religião eestudaa experiênciareligiosa particularmente
do ponto de vista do sentimento. Contra o intelectualismodomí-
4. SewardHíltner, OI The Paychologfca.lUnderstandlngof Rellgious", Crozer
Quaterly, Vol. XXIV, N9 1 (jan., 1947), pâga, 3 - 36.
20
nante do tempo,SChlelermacherargumentaque a essência dare-
llglãonão é nem o raciocínio nem a ação, mas, sim, aIntuição e o
sentimento.Paraele, a experiênciareligiosa consisteessencialmente
do sentimentode absolutadependênciade Deusna vida humana.
Essa tese, como veremos, foiexplorada com outras intençõespor
Freud e alguns dos seus seguidores.
Ao apresentara religião comoautoeonseíêneíaimediata e como
sentimento de' absoluta dependência,scníeiermecnersugere, diz
Richard Niebuhr, pelo menosquatro aspectos doproblema que exi-
gem menção especial.
Em primeiro lugar, o uso do termoautoconsciênciasugere que,
para Schleiermacher,a religião tem que ver com amaneira como
o "eu" se apresentaa si mesmo. Religiãonão é mera especulação
intelectual.
Em segundolugar, esse "eu"presentea si mesmo nesse modo
de consciência,isto é, na experiênciareligiosa, é o"eu" em sua
identidade original, não qualificado ou determinadopor energías
e objetos específicosexistentesno seu próprio universo.
Em terceiro lugar, a frase "absoluta dependência"sugere que
o "eu" que assim se percebe<isto é, como absolutamentedepen-
dente> não se apresentaa si mesmo como objeto desua própria
vontade,mas emvirtude de uma causalidadeque não podeser re-
duzida aostermos de qualquer conceito específico. Osentimento
religioso, portanto, não é derivado dequalquer concepçãoprévia,
mas é a expressaooriginal de uma relaçãoexistencial imediata.
Nota-se, finalmente, que, no conceito deSchleiermacher,reli-
gião não é propriamenteuma idéia, mas osentimentode depen-
dênciade umPodermaior do que o próprio homem.5
Em meados do séculoXVIII, David Hume <1711-1776)publicou o
livro The Natural History of Religion, em que advogou a tese de
que a religião temsuasorigens nosentimentode medo e ao mesmo
tempo nosentimentode esperança,evocados pelo conflitoentre as
necessidadesdo homemprimitivo e as forças hostis danaturezaque
o rodeia. Essa tese de Hume tem sidoapresentada,atravésdos anos,
em diferentesroupagense com maior ou menor grau de aceitação.
Deixando agora os estudos teóricos das filósofos e dos teólogos,
vamos encontrar,no fim do século XIX, um psicólogopreocupado
com problemasde psicologia da religião.Esse psicólogo é Granv1lle
StanleyHall <1844-1924). Em 1881, Hall começou aestudara con-
versão religiosa em conexão com oproblemacentral da adolescência
- o problemada identidadede cada indivíduo - e chegouà con-
clusão de que a conversão religiosa é um fenômeno típico da ado-
5. Rlehard Nlebuhr, Schleiermacheron Christ and Religion: A New ln-
troduction, New York: CharJesS::r1bner'sSons (1964), pAgs. 182, 184.
leseêneía. Argumentou ele que o crescenteinteresse na religião
está intimamenteassociado com a adolescência como fase doama-
durecimentosexual e daímpressíonabílídadegeral do serhumano.
Em extensaspesquisasentre adolescentesde várias denominações,
Hall descobriu que a média da idade da conversão é dezesseis anos
e quehá estreitacorrelaçãoentre o amor sexuale a conversão re-
ligiosa. Para Hall, portanto, a conversão religiosatem tonalidade
sexual ou, pelo menos, serelaciona com o amadurecimentosexual
da pessoa.
A plausibilldadedessa tese sebaseiano fato de que é apartir
dessa fase doamadurecimentodo serhumanoque ele setorna capaz
de incluir o "outro" no seu sistema de valores e emsuas relações
com o universo. Esteassuntoserá mais amplamentediscutido no
capítulo sobre a conversão religiosa.
o primeiro livro intitulado Psicologia da Religião foipublica-
do por Edwin Diller Starbuck,em 1899. Essa obramarcou época e
podeser consideradao ponto inicial do estudosistemáticoda psico-
logia da religião nosentidomoderno do termo.
Ao tempo deStarbuck,o tema central de interessenos estudos
psicológicos do fenômeno religioso era a conversão. Asemelhança
de Stanley Hall, com quemtrabalhou mais tarde na universidade
Clark, ele advogou que a conversão religiosaé fenômeno predomi-
nantementeadolescente.
Sabe-se, por exemplo, que a adolescênciaé o perlodo em que
o homem procura e define sua própria identidade. A conversão,
portanto,faz-se necessáriaquando,parausar alinguagemde Karen
Horney, o "eu" ideal écontrastadocom o "eu" real e ocontraste
se torna chocantementevívido. Por essa eoutras razões, a tese de
Hall e Starbucké essencialmentecorreta. Isto não quer dizer que
só haja conversão religiosana adolescência, mas, sim, que esse fe-
nômeno favorece aocorrência da conversão religiosa, sendo que,
mesmo quando ela sedá fora dessafaixa etária, a experiênciare-
ligiosa da conversão tem ascaracterísticasdo problemacentral des-
sa fase da evolução do homem.
SegundoStarbuck, hã três tipos básicos de conversão religiosa,
a saber, a conversão volitiva, a conversãonegativa ou mera sub-
missão e a conversãogradual. Seu estudo revelatambém que a
vida religiosa daqueles quetiveram uma experiênciade conversão
na adolescência não diferefundamentalmenteda vida religiosa da-
queles cuja conversão se deu pelo processogradual. O que real-
mente importa é a experiênciade conversão. Comoesta conversão
se deu - momentâneaou gradual - é ordinariamentede pouca
conseqüência,especialmenteno caso de indivíduos comuns.
22
A contribuição deStarbucknão se limita ao estudo e compreen-
são da conversão religiosa. Seu estudo lançou luzes também sobre a
compreensão do desenvolvimento religioso do homem. A experiência
religiosa estásujeita ao processo evolutivo, do mesmo modo que
as demais fases da vidahumana. Na criança, por exemplo,Star-
buek notou quatro fases de evolução religiosa. A princípio, existe
apenasuma atitude de conformação ao meio religioso em que a
criança. vive. Essa fase de meraeonrormaçâoé seguida deoutra
em que começa a existir uma relação deintimidade com Deus. liI
o caso, por exemplo, de uma dasminhas filhas, então com cinco
anos de idade, que meperguntouqual o número do telefone de
Jesus Cristo.Paramim, isso revela a realidade de Jesus Cristo e a
intimidadepessoal com o Salvador. Naterceirafase,quando a evo-
lução religiosa dacriançaé normal, o medo desaparece, dandolugar
ao amor eà confiançaem Deus.Finalmente,vem a fase em que
a criançacomeça adistinguir entre o certo e o errado, emoutras
palavras,o desenvolvimento deuma consciência moral começa a
manifestar-se.
Na adolescência, as idéias religiosasaprendidasna infância se
esclarecem e se definem melhorna mente da pessoa.As idéias a
respeito de Deus edas obrigações morais do homem tomam nova
forma e significação. Deustoma-se o tema central, e os valores
da vida têm primazia nas preocupações do adolescente.
Na vida adulta, a idéia demortalidadepessoaltorna-sea nota
tônica da vida religiosa do homem. E, na proporção em que a vida
interior se enriquece e amplia, o homem vai-se apegando aos ele-
mentos essenciais da religião eabandonandoos supérfluos. A esse
fato, SherrUlchamade processo de simplificação da vida, queserá
apresentadono capítulo sobre oamadurecimentoreligioso da pes-
soa adulta.
Podemos dizer, sem medodeerrar, que a maior contribuição
de Starbuckpara'o estudopsicológico do fenômeno religioso ésua
tese de causalidade docomportamentoreligioso, bem comosuacom-
preensão de que a experiência religiosa do homemestá sujeita b
leis da evolução.
A obra deStarbucktem sidocriticadade vários ângulos. Alguns
acham, comcerta razão, que ele se preocupoudemais com a con-
versão religiosa, como se fosse a única forma decomportamento
religioso queinteressaao psicólogo. Outros dizem que sua"amostra"
não era bemrepresentativada realidade religiosa que procurou es-
tudar, isto é, esses críticos questionam a validadeestatísticada pes-
quisa de Starbuck. Acrítica mais forte que se pode fazer aStarbuck,
entretanto,é que ele sugere que a adolescência,tomadacomo fe-
nômenopsicológico, é a causa da conversão religiosa.:li: óbvio que
ele ignorou os fatores sociais eculturais que influenciam a conver-
23
são relígtosa, não só na adolescêncía,mas em qualquer Idade.
Outrossim. o que é verdade na adolescêncíanorte-americana,no
que tange à conversão relígtosa, não o será necessariamenteno
Brasil ou em outras partes do mundo.
Outra obra píoneíra do estudoda psíeologíada relígíão é a de
GeorgeAlbert Coe - The Spiritual Life - publicadaem 1900. Nesse
trabalho, Coe apresentao resultadode suasInvestigaçõesem várias
áreas do comportamentoreügíoso, íncluíndo o despertamentoreli-
gioso, a conversão,a cura milagrosa e o significado da espírítualí-
dade, O mérito por excelênciadessa obraconsisteno seu método
de pesquisa. Oautor usa uma lista de perguntassemelhantesàs
técnicas projetivas modernas. Além das respostasao questíonárío,
ele tentou verifIcar a validade das respostaspor melo deentrevis-
tas de amigosdaquelesque responderamàs perguntas. Além disso,
ele usou o métodohípnótíco como Instrumento de pesquisapara
estudara correlaçãoentre sugestionabllldadee a conversãoreligio-
sa dramática. ESSe rot, talvez, oprímeíro esforço deestudarexperi-
mentalmentecerto aspecto do comportamentorelígíoso. Segundo
Coe, existe, defato, correlaçãoentre sugestíonabílídadee a forma
dramátíeade conversãoreligIosa.
A preocupaçãoempírtca de George Coe serevela também no
seu livro The Psychology01 Religion, publicadoem 1916. Nessaobra,
Coepreocupa-secom váriosaspectosda psícologíada religIão. Entre
eles,tratao autordas origens da IdéIa de Deus, bem como daconver-
são,descobertareligiosa,místícísmo,ídéíade Imortalidade,oração,etc.
Entre os píoneíros no campo da psíeología da relígíâo, entre-
tanto, nenhumse notablllzou tanto como Wllllam James. Sua obra,
The Varieties 01 Religious Experience (1902), aínda é o livro mais
famoso no campo dapsícologíada rellglão. Essaobra é o resultado
das PreleçõesGifford apresentadasna Universidade de Edimburgo
<1901-1902). A preocupaçãode James, nesse lívro, são os casos
extraordinários de experíencía relígíosa. Através de documentos
pessoais,procurou estudar a experíêncía relígíosa daqueles para
quem "relígíâo existe não como hábIto rotíneíro, mas como uma fe-
bre aguda".
Nesse livro, revela-setambém o espírito altamentepragmático
de Wllliam James. Assim sendo, o valor da experIêncIa religIosa
não é medido por sua veracIdadeou por sua falsIdade, mas antes
por sua funcIonalidade. Para James,o que realmenteImporta é o
que esta experíêncíasígnífíca para o Indivíduo, os frutos que ela
produz em sua vida.
Os capítulossobre aconversãoreligiosa e o místíeísmoreligIo-
so figuram entre os mais Importantesda obra deJames. Sua elas-
sítícaçãoda relígíão em duascategorias- a da mentesadíae a da
24
mente doentia- é das maisfrutlferas no estudo da psicologia da re-
ligião e aindahoje exerceconsiderávelinfluência nesse campo espe-
cializado.
A obra de William Jamesserá constantementecitada através
do presentelivro.
outro pioneiro no campo da psicologia da religião éJames
Bissett Prlttt. Em 1907 ele publicou The Psychology 01 Rellgious
Beliel, em que discute anaturezada crença religiosa não sónas
chamadasreligiões superiores,como também entre os povosprimi-
tivos. Um dos aspectos maisinteressantesdessa obra é o estudo
evolutivo da crença religiosa, a começar dainfância, atravessando
a juventudee indo até a velhice.
Pratt chegouà conclusão,contrária à opinião vulgar, de que a
crençareligiosa não sebaseiaem merointeressepessoal, se fordado
à palavrainteresseum sentidode fruiÇão ou de busca de benefícios
imediatos. A maioria das pessoas quepoderiam ser consideradas
emocionalmenteamadurecidasbusca a Deus não porque esperere-
ceber dele alguma recompensa,mas peloprazer da camaradagem
com ele. SegundoPratt, isso é verdade especialmentena prática
da oração. Ocrente espiritualmentemaduro ora não para receber
uma dádiva, mas para comungarcom Deus. Naproporçãoem que
amadurecemosespiritualmente,nossa oração vaiperdendoseu ca-
ráter utilitarista e se torna cada vez mais um processo deíntima
comunhãocom o Criador.
Em 1920, ele escreveu The Rellgious Consciousness, que,segun-
do Clark, é o livro mais importante nesse campo, depoisdeThe
Varieties 01 Religious Experience, de William James. Um dos feitios
mais interessantesda obra de Pratt é que,sendoele mesmo um
homemprofundamentereligioso, escreveu sobreassuntosde sua pró-
pria experiênciareligiosa. Outroaspectoimportante de sua obra é
que tentou estudaro fenômeno religioso fora de seupróprio am-
biente cultural. Assim é que fezpesquisas eestudou aspectosda
religião da fndía. Os cincocapítulossobre misticismo e adiferença
estabelecidaentre adoraçãoobjetiva e adoraçãosubjetiva figuram
como grandescontribuiçõespara o estudo psicológico do fenômeno
religioso.
Sob a influência de Comte,Walter Rauschenbush,e sobretudo
do fUósofo Harald Hõffding, Edward Scribner Ames escreveu The
Psychology of ReligiousExperience (1910). Baseado especialmente
em dados antropológicos, Amesdefendeua tese de que religião é o
esforço do homemparaconservarseus valores sociais. Assim sendo,
para Ames, a idéia de Deus, por exemplo,é um símbolo ou objeti-
vação dos valores sociais elaborados pelo homem no decurso desua
evolução social.
25
Ao contrário da tese de Ames,Durkheim e outros, que vêemna
religião um fenomeno tipicamentesocial, George MalcolmStratton
defendeua tese de que areligião tem sua origem no conflito inte-
rior que ocorredentro de cada indivíduo. Em seu livro The Psycho-
logy 01 Religious Lile (1911),Stratton apresentaa experiênciare-
ligiosa basicamentecomo algo queresulta de emoções emotivações
conflitivas dentro do índívíduo. Ou, no dizer de Stolz, "a tese de
Stratton é que acaracterísticacentral da religião é tensãointerIor
causada por forças antitéticas".6 Podemos dizer,portanto, que
Stratton se antecipou aos autoresde teorias psicológicasmodernas
que pretendemexplicar o fenômeno religioso comodecorrênciade
conflitos interiores no homem. Algumas dessasteorias serão apre-
sentadasmais tarde.
Outro trabalho de certa Influência na história da psicologia da
religião é o de JamesH. Leuba, A PsychologicalStudy 01 Religion
(1912). No trabalho de Leuba,notam-seduas tendências:a huma-
nista, segundoa qual eleafirma que a idéia de Deus nada.mais é
do que umproduto da imaginaçãocriadorado homem; e a natura-
lista, segundoa qual eletentou explicar fenômenosreligiosos, mos-
trando a similarIdadeentre o relato da experiênciamística e o re-
lato verbal de indivíduos sob o efeito de determinadasdrogas.
Não se podetraçar a história da psicologia da religião, sem
mencionara contribuição teórica de SIgmund Freud.
Entre os muitos trabalhosde Freud, em que ele dá asua inter-
pretaçãodos fenômenosreligiosos,salientam-sedois: Totem e Tabu
e O Futuro de uma nusão. No prímeíro ensaio, eletenta explicar
psicologicamenteo comportamentodo homem primitivo e chega à
conclusãode quehá relação de similaridade entre as práticas reli-
gIosas dohomem primItivo e as várias formas de neurosedo ho-
mem moderno. Em O Futuro de uma nusão,ele defendea tese de
que religião é uma ilusão, não necessariamenteporque sej a errada,
mas porque leva o homem a evitar a dura realidade de suaspró-
prias limitações humanas. A conclusãogerala que Freud chegou
é que religIão é uma espécie deneuroseobsessivacoletiva, caracte-
rizada pela fuga da realidade,e que representanada mais do que
a projeção de nossa imagem paterna, da qual dependemospara
nOSSa segurançaemocional.
Um estudo mais detido da tese freudiana, no que respeita à
religião, revelaque ele sepronuncioua respeitode temasmulto além
de sua competêncIae, conseqüentemente,fez vastasgeneralizações,
sem qualquer validade cientlflca, visto que tais generalizaçõesnão
são baseadasem fatos observados.Sua posição teórica, porém, será
6. Karl Stolz. The Psychology of Religious Living, Nashvllle: Ablngd<>n
- CakesburyPress(1937). Jlâg. 132.
26
discutida mais adiante, quando falarmos sobre as interpretações
palcológicas do fenõmeno religioso.
Outro teórico que não podemosignorar é Carl Gustav Jung
(1875-1961).A obra deJung,no que se refereà religião, caracteriZa-
-se por certa ambigüidade. Escreveuamplamentesobre o assunto,
mas nuncadeixou bemclara sua verdadeirainterpretaçãodo fenô-
meno rel1&10s0. Em certos lugares, parece muitosimpático; noutros,
pareceapresentaruma atitude bastantehostil ou, pelo menos, ve-
ladamentehostil. Ao leitor interessado,recomendaríamosa leitura
pelo menos de Psicologia e Religião,traduzidapor FaustoGuimarães
e publicada por Zahar Editores, Rio (1965).
Na impossib1l1dadede apresentartodas as obras que decerto
modo contribuírampara o desenvolvimento dahistória da psicolo-
gia da religião,passaremossimplesmentea enumeraraquelas que
consideramosmais importantespara esse desenvolvimento.
Em 1923, Rudolf Otto publicou seu famoso livro DasBeWce,·
em que eleapresentaa experiênciareligiosa como algoabsoluta-
mente sul pneri&
"Para Otto, !ate senso derealidade é objetivamenteofere-
cido como dadoprimário e imediato da consciência não dedu-
zfvel de outros dados. A esse dadopeculiar de um 'Totalmente
Outro', ele chama o 'numínoso',do latim numen, quesignifi-
ca a força divina ou poder,atribuído a objetos ou a serespara
quem se olha com reverência.'Esse estado mental é perfeita-
mente sui generis eirredutível a qualquer outro estado.' Re-
presentauma percepçãodireta da realidade independentede
outras formas deconhecimento."7
Também em 1923, Robert H. Thouless publicou,na Inglaterra,
um livro Intitulado The Psychology 01 Religion, que exerceucerta
influência no mundo de Ungua inglesa e cujomaior defeito é a
quasetotal dependênciada teoria freudiana,na explicação psicoló-
gica do fenômeno religioso.
Elmer T. Clark estudouextensivamenteo fenõmeno do Avi-
vamentoReligioso,sobretudoem sua relação com a conversãore-
ligiosa e, em1929, publlcou o resultado de suas pesquisas no livro
intitulado The Psychology 01 Religious Awakening, que setomou
clâssico no gênero.
• A versãoinglesadessaobra se intltula The Idea of Th. Holy: An ln-
quiry Into th. non·rationalfactor In the idea of the divlne and Itl re-
lation to the rational (Traduçãode John W. Harvey), New York: Ox-
forci University Press (1982).
7. Paul Jobnson, PsychololJY of R.llgion, New York: Abingdon Press
(1959), ーセァN 55.
Nota - Essaobra existe em portuguêssob o titulo Psicologia da Religião,
tradução de Carlos Chaves e publicada pela ASTE, São Paulo.
1964. Através deste trabalho, entretanto,citaremossempreo texto
original, visto que a maior parte do presentetrabalho foi escrito
quando seu autor se encontravanos EstadosUnidos e a tradução
portuguesanão lhe era conhecida.
Em 1937, Karl R. Stolz publicou The Psychology 01 Religious
Living, que exerceu positiva influência no campo daeducaçãore-
ligiosa e na área da psicologiapastoral.
As obras de Paul E. Johnson,Psychology01 Religion e Persona-
lity and Religion, são tentativas de integraçãode algumas moder-
nas teorias de personalidadee da religião. Johnsoné um dos auto-
res mais bem informados no campo da. psíeologtada religião, mas,
a nosso ver, toma as teorias psicológicas como se todas fossem
fatos observados,e não merosinstrumentosde pesquisa. Como re-
sultado dessa atitude, faz grandes generalizações,difíceis de ve-
rificar no mundo real.
Em nossos dias, ohomem que mais contribuiu para a respeí-
tabilidadeacadêmicada psicologiada religião foi GordonW. Allport,
Seu livro, The Individual and Bis Religion, tem exercido grande
influência nos meios acadêmicosem que seestuda psicologia da
religião. O prestígio intelectual do autor é um dos fatores dessa
grande influência. Allport, recentementefalecido, era professor de
psicologia em Harvard e quando escreveuesse livro era Presidente
da American PsychologicalAssociation. Allport volta à tese defen-
dida por Williarn Jamesde que aexperiênciareligiosa é algo tipi-
camente individual. Entretanto, ao contrário de James, que, por
causa da óbvia influência de Schleiermacher,advogou a predomi-
nânciado sentimentona experiênciareligiosa, Allport dá mais ênfa-
se ao intelecto do que aosentimentona experiênciareligiosa. Vol-
taremos ao seu trabalho, quando tratarmos da evolução da
experiência religiosa, especialmenteno capitulo sobre maturidade.
Em 1958, W. H. Clark públicou seu The Psychology01 Religion:
An Introduction to Religious Experience and Behavior, um dos li-
vros mais beminformadossobre oassunto,e que, nodizer de alguns
autores,é, provavelmente,um trabalho definitivo como obra intro-
dutória ao estudo da psicologia da religião.. O presenteautor muito
deve ao trabalho de Clark, e procura dar-lhe, através deste livro,
o crédito que merece.
Lamentavelmente,nestesúltimos anos nenhumaobra realmente
marcante apareceuno campo da psicologia da religião. Oaspecto
prático dos estudosda psicologia da religião, especialmenteo mo-
vimento prático de psicologia pastoral ou de aconselhamentopas-
toral, tem, por assim dizer, monopolizadoeste campo de estudose
quase todas as publicaçõessão 、セ caráternimiamenteprático, sem
revelar grande preocupaçãoteórica.
Recentemente,Paul W. Pruyser publicou um livro que, cremos
nós, exercerá considerável influência no campo da psicologia da
religião. O livro se íntítula A Dynamic Psychology01 Religion. A
obra foi publicada por Harper Row Publishers,New York (1968>.
28
A respeito desse livro, diz SewardHiltner, um dos maisprofundos
conhecedoresdo assunto: "ESte livro marcará época, do mesmo
modo que o livro deJames- The Varleties of Religious Experience."
Não há dúvida de que setrata de uma obra de fôlego e quenão
poderá ser ígnoradapelos estudiosos do assunto.
Estudos Práticos - Os estudospráticos da psicologia da reli-
gião produziram vários efeitos deprofundasconseqüênciasna vida
e doutrina da igreja cristã. Entre essesresultados,podemosmencio-
nar a crescenterelaçãoentre a religião e amedicina,expressapar-
ticularmente no movimento de Religião e SaúdeMental, tão em
voga em nossos dias. Acrescenteênfase em psicologiapastoral e
principalmenteo chamadotreinamentoclíníco do ministério refle-
tem a grandeinfluência dos estudos de psicologia da religião.Outra
área da educaçãoteológica em queesta influência se faz sentir
é a da educação religiosa.
O movimento de educação religiosa, que é um fenômenotipi-
camentenorte-americano,foi grandementeinfluenciado pelo fun-
cionalismo deJohn Dewey. ESSe movimento de educação religiosa
foi, a nosso ver, um bomantídoto contra o exageradootimismo da-
queles quequeriam "salvar" o mundo nos limites cronológicos de
sua própria geração. Aênfaseda educação religiosa não é"salvar"
menos, masadmitir que a salvaçãocompleta é atingida pelo pro-
cesso da educaçãopara o cristianismo. Ao invés da conversão mo-
mentânearequérída no tempo do Grande Avivamento, a ênfase
agora é no processocontínuo da redençãodo homem.
Na grande maioria dos semináriosdo mundo moderno, otrei-
namentoclínico feito emhospitaisde clínicas gerais e emhospitais
de doençasmentais é parte integrante da educação teológica de
ministros e futuros ministros da religião.
Em conferênciapronunciadaperanteos supervisoresde treina-
mento clínico doministério, do Concílio de TreinamentoClínico, o
Prof. Wayne Oatesapresentoualgumas das maiorescontribuições
do treinamentoclínico do ministérioà educação teológica em nos-
sos dias. O que se seguerepresentaessencialmenteo que ele disse
naquelaocasião, se bem que nãosejam suaspalavras textuais.
O treinamentoclínico do ministério contribuiu para dar corpo
ou representaçãoconcretaa certas idéias abstratas. Por exemplo,
o conceito de graça, pecado, perdão, culpa etc. pode ser,na sala
de aula, mera abstração,porém, ao contato vivo com homens e
mulheresde carne e osso, essaspalavrasdeixam de sermerasabs-
trações, pois vemossua expressãoobjetiva nas mais variadas for-
mas decomportamentodos indivíduos com quemtratamosna vida
real.
Outra contribuiçãopositiva desse movimento é aquebrada bar-
reira artificial entre estudosteóricos eestudospráticos em educa-
ção teológica. Essa dicotomiatende a desaparecer,na proporção
em que secompreendeque o ministro serve ao homemintegral,
e não ao homem comomera coleção devárias partes. Assim sendo,
o ministro, em sua preocupaçãode servir ao homem, ao invés de
dicotomizar entre problemas materiais e problemas espirituais,
os consideracomo problemashumanos. Em outras palavras,o ho-
mem age como um todo,Gonseqüentemente,todo e qualquer pro-
blema queenfrente representarárelações comtodas as dimensões
do seu ser.
Essa novaperspectivaem educação teológicacontribuiu tam-
bém para a ampliaçãodo conceito do sacerdócioindividual do cris-
tão. Esse conceito seamplia e se torna, de certo modo,comunitário.
Quando opastor tenta ajudar o homem na solução dedeterminado
problema e o envia aoutro profissional,para assisti-lo na área de
sua especialização, eleestá, com isso, reconhecendoque o minis-
tério desseprofissional pode ter significaçãotão profundaquanto o
seu próprio ministério.
O treinamentoclínico do ministério ajuda tambémo homem a
livrar-se de certas formas de idolatria. Idolatria aqui é definida
em consonânciacom o Princípio Protestante,de que falou Paul
Tillich, e significa a atitudepela qual o homem"absolutizao finito".
Em contato com a realidadeda vida, oministro aprendea aceitar
a sua própria finitude, bem como afinitude de seu semelhante.
Essaaceitaçãode nossafinitude tem grandevalor terapêutico,espe-
cialmentena redução de tensões emocionais, que levamàs neuroses
coletivas do mundo moderno.
Finalmente,o treinamento clíníco do ministério ajuda a colo-
car o problema humano em sua própria perspectiva- diante de
Deus. A luz dessaperspectiva,os problemas.humanossão encara-
dos pelo prisma da responsabilidadepessoal do homemperante
Deus, e,eventualmente,interpretadospelo prisma da esperança,que
ajudao homem aaceitarsuacondiçãohumanasem setornar cínico
ou apático perante a vida.
No ínícío deste século, clérigos e médicoscomeçarama esta-
belecer uma'relaçãomais intima entre religião e medicina. Parece
que uma dasprimeiras tentativas desserelacionamentoé o livro
Religion and Medicine (1905), escrito por Worcester, McComb e
Cariat, dois clérigos e um médico.
Foi, porém, Anton T. Boisen quem deugrande impulso ao mo-
vimento de Religião e Saúde Mental. Talvez se possa dizer, com
propriedade,que Boisen fez,até hoje, a maior contribuição para o
estreitamentodas relaçõesentre religião e medicina em geral, e
especialmenteentre religião e psiquiatria.
lln
•
A obra de Bolsen, queseráfreqüentementecitada atravésdeste
llvro, tem sua origemnuma crise pessoal de desajustam.ento emo-
cional.
Devido a sério transtornoemocional, diagnosticado como esqui-
zofrenia do tipo catatõníco, Bolsen foi levado a umhospital de
doentes mentais, onde, depois de váriassemanasde tratamento,foi
recuperado.
Como resultado dessaprofunda experiência pessoal, Boisen se
interessou pelo estudo dos fatQres religiosos nas doenças mentais,
e se tomou o primeiro capelãoprotestantenum hospital de doen-
tesmentaisnosEstadosUnidos. Essehospital-em Worcester,Esta-
do deMassachusetts- tomou-seo primeiro centro detreinamento
cl1n1co do ntlnlstérlo. Desde então, ainfluência da obra de Bolsen
se tem feitosentir no campo da educação teológica, especialmente
na tentativade relacionarrellgião com medicina, eparticularmente
com a. psiquiatria.
Entre OS muitos livros que Boisen escreveu, talvez o mais fa-
mososeja The Exploration 01 The Inner World (1936), em que ele
apresentauma concepção dinãm1cadas doenças mentais, e em
que defendea tese de que a esquizofreniaé uma tentativa à inte-
gração ouà unidadedo "eu". A diferença essencialentre o xntstico
e o psicótico,diz ele, é a direção ou amaneiracomo cada um re-
solve seu problema.Fundamentalmente,a causa pode ser a mesma
- um se toma "santo", outro se torna "louco".
Essa nova dimensãoaberta por BoisenintrodUZiu nova meto-
dologia nos centros psiquiátricos dos Estados Unidos e,eventual-
mente, penetraránoutras áreas do mundo. Como exemplo dessa
influência, vemos quena Menninger Clinic em Topelta, Kansas, um
dos centrospsiquiátricos mais respeitáveis do mundo, odeparta-
mento de psicologia da religiãoé parte integrantedo funciona-
mento dessa instituição.
Também, como resultadodessa grande obra de Boisen,surgiram
várias organizações acadêmicas e vários periódicos quetratam do
estudo cientifico do fenômenoreligioso. Entre 08 periódicos, oa
mais conhecidos sãoPastoralPsychology e TheJournal01 Pastoral
Care. Das associações,mencionaremos The Society forthe 8cientifto
Stndy 01 Rellgione The Academy 01 Rellgion and MentalBealth,
cujo objetivo é promover a cooperação mais Intimaentre ntlnlstros
de religião epsiquiatras.
A nosso ver, o estudopsicológico dos fenômenosreligiosos, que
começou embases tão promissoras,enfrentano presenteuma crise
muito séria. Por um lado, existe atendênciapouco cient1ficada
aceitação nãocritica de teoriaspsicológicasque, como.dlssemosaci-
ma, levam 08 autores nesse campo a simplesmente"enquadrar"o
li"
fenômenoreligioso dentro do esquemadessasteorias. Muitos auto-
res não discutema tesefreudiana,por exemplo;simplesmenteadmi-
tem a validade de seus postuladose o resultado é que, ao invés
de observareme descreveremfatos, eles coletam e expressamopi-
niões ou dãoexplicaçõesà base de uma teoria que aceitam sem
esptríto crltico.
Esperamos,entretanto, que em breve apsicologia da religião
venha a alcançar maior respeitabilidadeacadêmica. Isso aconte-
cerá, dizíamos nós,quando desenvolvermosmelhores métodos de
pesquisa;quando tivermos uma atitude mais científica para com o
estudo do comportamentoreligioso do homem; quando,ao invés de
apego incondicional a qualquer teoria existente,na qual enquadra-
remos nossasdescobertas,começarmosa formular teorias baseadas
em fatos observadoscom mais rigor cientIfico e baseadosem hi-
póteses testáveis.
Métodos de Estudo da Psicologia da Religião
Qualquer disciplina que tenha a pretensãode ser considerada
ciência terá, forçosamente,de adotar uma atitude cientlfica na
investigaçãodos fatos que constituemo seu objeto formal. A essa
atitude chama-semétodo científico de investigação.
A Psicologiacomo ciência lança mão dométodo cientlfico como
seu principal instrumento de pesquisa. Basicamente,esse método
consistena observaçãosistemáticade fatos, na formulação de hi-
póteses, queserãotestadas,de preferência,por experimentação,e na
formulaçãode príncípíosgeraisou leis psicológicas, queserãosempre
leis estatísticasou leis de probabilidade.
Até que ponto, entretanto,pode-seusar essemétodo no estudo
do comportamentoreligioso? Temos quereconhecerque, até hoje,
não se conseguiueliminar o subjetivismo dos métodos de pesquísa
em psicologia da religião, como já se logrou, emgrande parte, eli-
minar a introspecçãocomo método de pesquisana psicologia cíen-
tlfíca em geral. O psicólogo dareligião ainda dependemuito da
íntrospecção..e suas conclusõesaté agora são altamentesubjetivas,
porque baseadasquase totalmente em relatos verbais de expe-
riências relígíosas que não podemser diretamenteobservadas.
Em tese,porém,e comodesafio a quem seinteressapelo estudo
cientIfico do comportamentoreligioso do indivíduo e das comuni-
dades religiosas, advogamosa possibilidade do estudo objetivo do
comportamentoreligioso nas suas múltiplas manifestações.Se a
objeção é queo psicólogo dareligião não pode ser objetivo em seu
estudo do comportamentorelígícso, porque ele próprio é religioso,
o mesmo argumentopoderia usar-se,mutatis mutandis, para dizer
que o psicólogonão pode estudarobjetivamenteo comportamento
do homem, porque ele mesmoé um ser humano.
---------._----------,
Voltemos à pergunta aeima levantada. Até que ponto a psi-
cologia da religião seenquadradentro dos padrõescientlficos da
psicologia moderna? Sabemos que a psicologiacientIfica, partici-
pando da naturezageral da ciência,tem por objetivo a compreen-
são, predição e controle do comportamento.Poderemossupor que
a psicologia da religiãotenha a mesmapretensão?Muitos dizem
que não. A psicologia da religião, ao menos nopresenteestágio, não
vai além daprimeira fase. Isto é,na opinião dessesautores,a psi-
cologia da religião não pode ir além dafase demera compreensão
e descrição docomportamentoreligioso. Acreditamos,entretanto,
que, se usarmosmétodos cientlficos de observaçãosistemática,te-
remos boamargem de predição do comportamentoreligioso. E, se
preenchermosesses dois requisitos, isto é, acompreensãoe a pre-
dição, podemos dizer,nesse caso, que a psicologia da religião se
qualifica como ciência, visto que controle, se bem que desejável,não
é condição essencialà ciência. Talvez omelhor exemplo distoseja
a ciência astronômica,em que se podeobservare predizer, mas
não se podecontrolar ou manipular experimentalmente.
Apresentaremos,a seguir, alguns dos principais métodos de es-
tudo do comportamentoreligioso, tanto do indivIduo quanto de
determinadacomunidadereligiosa.
Documentos Pessoais -Drakeford define documentopessoal
como sendoqualquerdocumento que, de propósito ou não,prestain-
formaçãoa respeitoda estrutura,dinâmicae funcionamentoda vida
mental de seu autor.
A rigor, não se pode dizer quedocumentospessoaisconstituem
um método propriamentedito, porém são o meio maisfreqüente-
mente usado para o estudo psicológico de fenômenos religiosos.
Allport diz, em seu The Use01 PersonalDocumentsin Psycho-
logical Science, que, emvirtude da naturezaaltamentesubjetiva da
experiência religiosa, os documentospessoaisainda constituem o
meio mais eficazpara o estudo docomportamentoreligioso. Essa
afirmaçãofoi feita em 1942 e ainda hoje expressauma grandever-
dade. Lamentavelmente,os métodos de pesquisa empsicologia da
religião não têm melhoradotão rapidamentequantoos métodos em
outras áreasda psicologia.
Documentos pessoais incluemautobiografias,diários, cartas,me-
mórias, confissões, etc. Talvez aautobiografiamais importantepara
o estudo psicológico da experiência religiosa em todo omundo
ocidentalsejao livro de Agostinho - Confissões. Nesse livro, Agos-
tinho relata a experiência dramática de sua conversão religiosa,
bem como outrosaspectos sugestivos desua experiência rel1giosa,
que olevarama uma completaentregade sua vida a Deus.Outras
obras de caráterautobiográficoque podemlançar luz sobre o pro-
blema religioso de seusautoressão: As Confissões, deJeanJacques
Rousseau, e oSartorResartus,de Carlyle.
as
William Jamese Anton Boisenfizeram amplo uso dedocumen-
tos pessoais no estudo do fenômeno religioso. Boisen, por exemplo,
estudouseriamenteo Joumal, de George Fox, e oDiário Espiritual,
de Emanuel Swedenborg, e, apartir desses documentos,procurou
reconstruir a experiênciareligiosa de seusautores.
O problema principal quanto ao uso dedocumentospessoais
como método de pesquisa em psicologia da religião ésaberse eles
podem serestudadospor métodos cíentíncos,ou melhor, como es-
tudá-los cientificamente.
R. K. White, citado por Clark, sugere o método deanálise de
valores para o estudo dedocumentospessoais. Esse método con-
siste essencialmenteem analisar o documento, contando as pala-
vras que contêmvalores dealguma ordem eclassificando-asde tal
modo que se chegue a umpadrãodo sistemade valores doindividuo
sob consideração.
Outro método de estudo de documentos pessoais ésugeridopor
L. W. Ferguson. Oautor fez um estudo completo de todos os dados
biográficos e documentosrelacionadoscom a vida de Jonathan
Swift, e depoispreencheua Escala de Valores deAllport-Vemon
como ele supõe que Swiftteria preenchido.
Os trabalhosde White, deFergusone de outros são louváveis.
No entanto, é fácil verificar-se que documentos pessoais deixam
muito a desejarcomo método de pesquisa, visto que neles osubje-
tivismo, tanto do autor como do intérprete, é inevitável.
Questionários - O questionárioconservamuitas das earacterís-
tícas dedocumentospessoais. Noentanto,como método de pesqui-
sa, pode ser maisobíetrvo e não dá ao individuo a mesmaliberdade
e espontaneidadeda respostados documentospessoais, o que equi-
vale a dizer quehá certo controle na investigaçãodo fenômeno que
pretendeinvestigar. E, quanto maior o controle na pesquisa, mais
precisosserão os resultados.
O questionárioainda é um dosinstrumentosmais úteis no es-
tudo psicológico da religião. A começar deStarbuck, que dele se
utilizou para suas pesquisas sobre a conversão religiosa e a evolu-
ção psicológica, e Leuba, queinvestigou a crença na imortalidade
e a crençaem Deus por meio dequestionários,até nossos dias esse
método tem sido dos maisfrutlferos.
Há várias formas dequestionáriosusados em pesquisa no cam-
po da psicologia da religião, bem como em pesquisas psicológicas
em geral. Stolzapresentacinco desses tipos dequestionários.
O método de escolhamúltipla consistena apresentaçãode um
estimulo na forma de certa afirmaçãoe na sugestãode várias res-
postas, deixando-seao respondenteescolher aquela que lhe parece
mais acertada. Exemplo dequestionáriodesse tipo: Na concepção
cristã, Deus é:
34
a) uma força impessoal;
b) a representaçãoideal da bondade;
c) a expressãomáxima do amor;
d) o protetor dos justos;
e) o criador e sustentadordo universo.
o questionáriodo tipo certo ou errado é aquele que fazafir-
mação que o respondentejulgará cena ou errada. Esse tipo de
questionárioé particularmenteútil para medir o conhecimentore-
ligioso da pessoa, bem comosua crençaa respeitode eertcspontos
doutrinários. Exemplo:
Errado
o Evangelho de Marcos foi oprimeiro a
ser escrito .
A crençana inspiraçãoda Blblia significa
que Deusmesmo a escreveu e que os seus
autoresforam meros instrumentospassivosna
sua produção .
Outro tipo de questionárioé aquele em que orespondenteé
convidado amarcar todas as palavrasde determinadotexto que se
relacione com o assuntosugerido pelo pesquisador.Esse método
pode fornecer dados quanto ao significado simbolizado por tais pa-
lavras. Pede-se, por exemplo, que o individuosublinhe wdas as
palavras,em determinadotexto, que tenham alguma relação com
sua experiênciareligiosa.
Outra técnica é aquela em que o respondenteé convidado a
completar certas frases. ESSe tipo de questionárioé mais próprio
para a avaliaçãode conhecimentosteóricos da vida religiosa, mas
pode tambémprestar-seà investigaçãode atitudessobre ofato que
se investiga.
Finalmente,existe o tipo dequestionáriobaseadona associa-
ção depalavras. Nessequestionário,apresenta-seuma lista de pa-
lavras ao respondentee se lhe pede querespondacom a primeira
palavraque lhe vierà mente. Esse método é baseadona teoria de
associação de CarlJung e exige consideráveltreino para julgar
corretamente.Em principio, porém, pode ser um método válido de
pesquisapsicológica. Jung distingue quatro tipos de associação:
Intrínseca, extrínseca, tonal e mista. Mediante vocabulário bem
selecionado, podemostirar conclusões válidas desse tipo de ques-
tionário.
Como dissemos acima, oquestionáriopode ser excelenteinstru-
mento de pesquisa, mastem defeitos quenão podemos ignorar.
Entre esses defeitos, diz Clark, o método pressupõe a cooperação
do respondente,bem comosua compreensãodos itens do questio-
nário, que, obviamente, depende do seu nivel deinteligência. A
fraseologia dositens requer alto grau de habilidade da parte do
construtor do questionário; caso contrário, serão confusos e pode-
rão trazer resultadosou respostasque não se procuram. O maior
problema no uso doquestionário,porém, ésaberse ele é repre-
sentativo, estatisticamentefalando.
Reconhecendoque há vários problemastécnicos envolvidosna
construçãode questionáriosque possamservir como instrumentode
pesquisa psicológica,apresentaremos,a seguir, algumas sugestões
quanto à sua estrutura. Essas sugestões, que podemser encontra-
das em vários livros quetratam de métodos de pesquisa, sãosubs-
tancialmentefeitas por Ernest M. Ligon, em seu livro Dimensions
01 Character.
Informaçõesquanto ao questionário:
a) Titulo descritivo do estudo;
b) Breve descrição do propósito do estudo;
c) Nome da instituição que patrocina o estudo;
d) Nome e endereço da pessoa ouinstituição a quem o ques-
tionário deve ser devolvido;
e) Instruçõesquanto ao modo como asperguntasdevem ser
respondidas.
Quanto à fraseologia, devemosobservaros seguintespontos na
construçãodo questionário:
a) A perguntadeve serfeita de modo simples, objetivo e espe-
cifico;
b) Deve-se exigir um mínimo depalavras para responderàs
perguntas;
c) Cada perguntadeve sercompleta em si mesma;
d) A formulação da perguntanão devesugerir a respostaque
se deseja;
e) O vocabulário deve ser bem conhecido pelorespondente,a
fim de evitar uma respostaque se nãoprocura;
f) Os itens devemser arranjadosem ordem lógica.
Quantoab critério de validade doquestionário,será o mesmodo;
qualquerteste psicológico, istoé, sua administraçãoa vários grupos
e a manipulaçãoestatIsticados resultadostabelados.
Ordinariamente,o uso doquestionárioé completamentadopela
entrevista. O propósito daentrevistaé obter informaçõesmaia pro-
fundas a respeito de certos aspectos do estudo que se faz e que o
questionárionão pode oferecer. Aentrevista,todavia, requer tam-
bém adequadotreino, para que cumprasua finalidade como instru-
mento de pesquisa.
Há dois tipos básicos deentrevista: a entrevista padronizada,
em que a mesmaperguntaé feita a todos os indivlduos queparti-
cipam do estudo, e aentrevistanão-diretiva,em quecadaindividuo
é livre para falar sobre assuntosque lhe pareçamrelevantes,com
um mínimo deinterferênciada parte do pesquisador.
Experimentação- Até que ponto podemosexperimentarem
religião? pセ・」・ óbvio que, sedefblirmos experimentaçãocomo a
rigorosa técnica de laboratório, incluindo o controle adequadode
variáveis que possaminterferir nos resultados da experiênciaque
se realiza, ainda não podemos falar de método experimental no
estudo psicológico do fenômeno religioso. Noentanto, se dermos
mais flexibilidade ao termoexperimentação,paracom elesignificar
a observaçãocontroladae sistemática,com o propósitode descobrir
determinadosfatos eestabelecergeneralizações, nesse caso pode di-
zer-se que é possível aexperimentaçãono estudo psicológico do fe-
nômeno religioso. Um bom exemplo dessatentativa de experimen-
taçãoé o estudo de Coe, em que ele usou ohipnotismopara estudar
a sugestíonabíüdadee sua relação com certas formas dramáticas
de conversão religiosa e com o misticismo.
O método recriativo sugerido por Stolz consistena tentativa de
reconstruir as experiênciasreligiosas do homemprimitivo com o
auxUio da antropologia,da psicologia social e da psicologiagené-
tica. Admitimos queos dadosantropológicossobre o homempri-
mitivo podem ser muitointeressantes,porém achamosque como
método de pesquisa deixam muito adesejar,porque ainterpretação
desses dados éaltamentesubjetiva.
Literatura- As grandesobras deliteratura sagradada huma-
nidade são fontes de excelenteinformação para o estudo psicoló-
gico da religião. A Blblia, por exemplo,presta-sea estudospsicoló-
gicos, como a conversão, o poder decurar, o dom dellngua, certos
tipos de personalidadereligiosa, etc.
1: verdadeque muitos psicólogostendem a rejeitar a validade de
literatura como fonte de informação psicológica. Outros, porém,
achamque é possívelaproveitara intuição de escritorestalentosos,
na investigaçãode fatos psicológicos. Allport, por exemplo,acha
que oescritor tem certasvantagenssobre o psicólogo e que oestudo
da literatura pode ajudar na pesquisa psicológica.As obras literá-
rias de autorescomoShakespeare,Dostoievski,lohn Bunyan, Ibsen,
Goethp. e muitos outros podemrevelar aspectosbastantesugestivos
da personalidadehumana.
O método clínico - Por definição, esse método consistena obser-
vaçãocllnica de casos individuais. O métodocl1nico é um dos mais
deficientesna coleção de dadosnasciências psicológicas. Noentanto,
ao menos nopresente,há muitos aspectos da vida psicológica que
não podemser investigadospor outros métodos.
o.,
Testespadronizados- Apesar detodas as deficiênciasque pos-
sam apresentar,os testespadronizadosainda são osmelhores ins-
trumentos de pesquisa psicológica. Oproblema é construir testes
para medir o comportamentoreligioso. Trata-se de tarefa extre-
mamentediflcil. Existem muitos testes que, apesarde não have-
rem sidoconstruídoscom o propósitoespecIfico demedir o compor-
tamentoreligioso, servembem a esse fim. (Veja-se a esserespeito
qualquerbom livro sobretestespsicológicos, eespecialmentea gran-
de obra de O. K. Buros, TheMental MeasurementYearbook,publi-
cada de cinco em cinco anos.)Tanto os testes objetivos como03
projetivos podem ser usadosnessaspesquisas.Entre os projetivos
mais usados em pesquisas, no campo da psicologia dareligião,en-
contram-seo "Rorschach"e o "ThamaticApperceptionTest" (TAT).
Na escolha do método deinvestigaçãopsicológica, opesquisa-
dor, sempreque possível, deveoptar pelo método mais objetivo e
que se preste às manipulaçõesestatísticas,pois a possibilidade de
quantificaçãoemprestamaior respeitabilidadecient1fica à observa-
ção do pesquisador.
SUMÁRIO
Psicologia da religião é aaplicação dos príncípíos e métodos
da psicologia ao estudocientlfico do comportamentodo homem,
quer como indivIduo, quer como membro deuma comunidadere-
ligiosa.
Comportamentoreligioso é qualquer ato ou atitude que tenha
especíncareferência ao sobrenatural.
Religião, do ponto devista do seu estudo psicológico,é um fe-
nômeno tipicamente individual, mas pode e deve serestudadoem
sua expressão social e coletiva.
O estudo psicológico do fenômeno religioso podeser feito em
qualquer religião ou seita, em qualquer parte do mundo. A dinâ-
mica da experiência religiosa tem aspectosuniversais e pode ser
estudadado ponto de vista psicológico,independentementede qual-
quer idéia sectária.
Apesar do esforço dealguns de enquadrara psicologia darelí-
gíão no campo geral da psicologiacientlfica, ainda existem certas
barreirasque impedemtal relaçãomais Intima. Na proporção,po-
rém, em quemelhoresmétodos de pesquisa foremintroduzidos no
estudo psicológico do fenômeno religioso, a psicologia da religião
desfrutarástatus acadêmico mais favorável.
A história da psicologia da religião pode sertraçadaa partir
de obras teóricas, bem como detrabalhospráticos. Entre as obras
teóricas de maior influência, podemos mencionar os trabalhos de
JonathanEdwards, Friedrich Schleiermacher,David Hume, stan-
ley Hall, Starbuck,Albert Coe, William James,Rudolf otto, James
Leuba, Freud,Jung, para citar apenasos mais importantes. Quan-
to aos trabalhos práticos, basta que mencionemos agrande obra
de Anton Boisen e o que ele fezpara estabeleceruma relaçãomaJs
Intima entre o psiquiatrae o ministro de religião, tal como vemos
no movimento de SaúdeMental no mundo moderno.
No estudo psicológico do fenômeno religioso,precisamosde nos
libertar de submissãoIncondicional a teorias gerais do comporta-
mento e nosempenhardecididamentena coleta de dadoscientifica-
menteobservados que seprestemà formulaçãode teoriasférteis em
hipóteses testáveis.
Nenhumaciência é melhor do que os métodos depesquisapor
ela adotados. Os métodos usados no estudo psicológico dofenôme-
no religioso ainda não atingiram a perfeição técnica alcançadaem
outras áreasde investigaçãopsicológica, mashá sinais de quenão
estamoslonge de atingir esse alvo,especialmenteem áreas mais
acess1veisdo comportamentoreligioso.
Tradicionalmente,têm-se usado documentospessoais,questio-
nários, entrevistase o método clinico de observação no estudo psi-
cológico do fenômeno religioso.Experimentaçãopropriamenteditaainda não é prática generalizada,por nos faltarem os meiosade-
quados de controle. Sempre que possível, porém, ela deveser
estimulada,pois dela dependegrandementea respeitabilidadeaca-
dêmica, bem como a eficiênciados estudos psicológicos do compor-
tamento religioso.
Capítulo n
o FENôMENO RELIGIOSO
Definição de Religião- Origens da Religião - Experiência.
Religwsa-ComportamentoReligioso - Interpretação Psi-
cológica do Fenômeno ReligÍ08o.
A religião tem sido uma dásconstantespreocupações dahu-
manidadedesde os seus primórdios. Em quasetodas as culturasque
hoje conhecemos, o fenômeno religiosoestá presente,em menor ou
maior escala.
Ao psicólogo da religiãointeressanão somenteo fato de que
em todas essasculturas se encontram formas de comportamento
religioso, mas também o fato singular de que,apesardas grandes
diferençasquanto às crençase práticasdos vários povos,há muitas
similaridadesentre elas, o que sugere aexistênciade um fator co-
mum à experiência religiosa de todos os homens.Spinks sugere
que essassemelhançassão devidas aexperiênciascomuns a todos
os mortais. Por exemplo, auniversalidadedas necessidadeshuma-
nas, tanto as de ordem flsicaquanto as de ordemespiritual, a
tendênciaà unidadee completaçãodo homem comoser finito que
ê e a consciência daexistência de um poder transcendentalope-
rante no mundo, se bem que de modo Intangível.1
1. G. StephensSpinkl, Psychologyand Religlon: An Introductlon to Con·
エ ・ ュ ー ッ イ G イ セ ViewI, Boston Beacon Press, pll./li'. 3.
A.
E tarefa do psicólogo da religião,portanto, observare descre-
ver o fenômeno religiosotal como elese expressanas mais varia-
das formas docomportamentohumano. A fim de poder saber
quando determinadocomportamentoé tido como religioso, elepre-
cisa definir o termo religião, explicando o seu significado no
contexto de sua disciplina.
Definição de Religião
Há, literalmente,centenasde definições de religião. Não temos
o propósito, entretanto,de apresentaruma longa lista de defini-
ções. Apresentaremosalgumasapenas,a titulo de ilustração.
Segundo Leuba, que coletouquarentae oito definições dereli-
gião, essas definições podemser classificadasem dois grandesgru-
pos: definições queencarama religião como oreconhecimentode
um mistério, queexige interpretação,e definições quesugeremo
tipo indicado por Schleiermacher,que define religião como osen-
timento de absoluta dependênciade Deus.
Outra maneira de classificar essas definições étomar por base
o elementoque salienta. Verificamos aqui basicamentedois tipos:
o que dá ênfaseaos aspectos coletivos eq que destacao aspecto
Individual da religião.
A definição de Sir James Frazer é particularmentesugestiva
para o psicólogo da religião. Diz ele que"religião é a propíeíação
ou conciliação de poderessuperioresao homem, que, se crê,diri-
gem o curso danaturezae da vida humana". Como se verifica,
segundoessadefinição, religião consiste de doiselementos,um teó-
rico e um prático, isto é, "a crença em poderesmaiores do que o
homem e o desejo deagradara essespoderes".sDiz o citado autor,
no mesmolugar: "obviamente,a fé vem primeiro,pois precisamos
de crer na existênciade um ser divino antesde procurarmosagra-
dá-lo. Mas, anão ser que a crençaleve o homemà prática corres-
pondente,ela nãoseráuma religião, massimplesmenteuma teologia:'
Para Émile Durkheim, religião é um fato essencialmentecole-
tivo. Diz ele: "Religião é um sistemaunificado de crençase prá-
ticas relativasa coisassagradas,isto é, a coisasseparadase proibi-
das - crenças e práticas que unem, numa comunidade moral
chamadaigreja, a todos aqueles que a elasaderem."3
Não se podenegar a significação do aspecto coletivo dareli-
gião, porémparece-nosóbvio quetambémnão se podereduzirreligiãoà
2. Sir James Frazer, The Golden Bough, edição resumida (1952), pâg,
50, citado por Spinks, op. cit., pâg, 7.
3. :E:mile Durkheim, The Elementary Forms of the Religious Life, tradu-
zido do francês por Joseph Ward Swaln, Londres: George Alten &;
Unwin Ltda. (1915), pâg. 47.
mera experiênciacoletiva. Dal, por que diz Spinks: "Qualquer de-
finição que salientaos aspectoscomunitários da religião emsacrí-
flcio do elementoindividual é defeituosa,pois um dos aspectos mais
importantesda religião é a apreensãoindividual de um Poder, Obje-
to ou Principio supremo."4
Ao contrário dos quedestacamo aspecto social da religião, te-
mos psicólogos, como Gordon Allport e William James, queapre-
sentama religião como algotipicamenteindividual. :&: verdadeque
Allport não apresentouuma definição formal de religião, mas não
há düvida de quesua ênfaseé sobre aexperiênciapessoal. Até o
titulo do livro em quetrata especificamentedo assuntorevela sua
posição teórica. O livrointitula-se The Individual and Bis Religion,
obraque serácitadaváriasvezesnestelivro. E William Jamesdísse
que "no sentidomais amplo e emtermos gerais, pode-se dizer que
a vida religiosa consistena crença de que existeuma ordem invi-
slvel e que nossa felicidadesupremaconsiste empormo-nosem har-
monia com essa ordem em que cremos". E, emconsonânciacom sua
posição teórica, diz ele: "Religião,portanto,como euagora arbitra-
riamente vos peço admitir, significará para nós os sentimentos,
atos e experiênciasde indivlduos emsuasolitude, enquantose per-
cebem asi mesmos emrelaçãocom o que quer quesejaque eles con-
siderem divino." 11
Uma posiçãoIntermediáriaé representadapor J. Blssett Pratt,
pois, ao definir religião, ele inclui tanto o aspecto coletivo como o
individual. Diz ele: "Religião é uma atitude social de indivlduos
ou de comunidadespara com o poder, ou poderes, que eles crêem
exercer controle final sobre seusInteressese destinos."8
Mesmoreconhecendoas deficiências desua definição, o que se-
ria verdadea respeitode qualqueroutra, Pratt advoga que elare-
presentadois pontos positivos. Em primeiro lugar, a definição diz
que religião éuma atitude. Ora, diz ele, a palavra atitude, tal
comoé usadaaqui, significa o lado responsívo da consciência,encon-
trado em fenômenos como aatenção,o interesse,a expectação,o
sentimento,as tendênciasà reação,etc. A definição,portanto,suge-
re que religiãonão é questão dedeterminadodepartamentoda vida
pslquica, ma!; envolve ohomem como um todo.
A outra vantagemdesse conceitoé que eleindica que religião é
Imediatamentesubjetiva, diferindo, assim, das ciências que dão
ênfaseao conteúdo, ao invés deà atitude, mas ao mesmotempoela
4. G. StephensSplnks, op. cit., pãg, 6.
5. Wll1iam Jamcs,Th. Vari.tiss of Rsligious Exp.ri.ncs,New Yark: The
New American Library or Warld Literature, Inc. (1958), pA.g. 42.
6. J. Blssett Pratt, Th. セ i ゥ ァ ゥ ッ オ N Consciousnell,citado por Splnks. op.
cit., pâg. 8.
indica que religião envolve e pressupõe aaceitação do objetivo.
Portanto, "religião é atitude de um 'eu' para com um 'objeto' em
que elegenuinamenteacredita",7
Através deste livro, e simplesmentecomo instrumento de tra-
balho, adotaremosa detíníção de Clark, que diz: "Rel1gião é a
experiência Intima do índívíduo, quando ele sente um Transcen-
dente, e quese expressaem seucomportamento,quando ele ativa-
menteproeuraharmonizarsua vida com esseTranscendente."8 Em
nossa concepção,portanto, religião é o atoque tem referênciaespe-
cifica ao Transcendente.Dai, por que definirmos comportamento
relígíoso como sendoqualquer ato ou atitude que tem referência
especíncaao divino ou sobrenatural.
Origem da Religião
Os estudos deantropologiacultural parecemindicar que expres-
sõesreligiosas existem praticamenteem todos os nlveis de civili-
zação. A religião,portanto,nasceucom o próprio homem pré-histó-
rico. HerbertKühn diz que, apríneípío,a religião seexpressavaem
mágíca, bruxarias, danças, encantamentos,cânticos sagrados,etc.
Mais tarde, o homem começou a desenvolverformas coerentesde
pensamentos,conceitos subjetivos e concepções mágicas douniver-
so. Finalmente,em fase altamenteevoluída, ele passou aelaborar
explicações maisracionaisdo universo, dando,assim, origemà filo-
sofia e às formas daschamadasrel1giões superiores.9
Seria dif1cil, cremos nós, dizer qual aforma mais

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