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NEUROPSICOLOGIA DO 
ADULTO E IDOSO
2
Leilane Henriette Barreto Chiappetta Santana 
Melina Paula Sales
São Paulo 
Platos Soluções Educacionais S.A 
2021
NEUROPSICOLOGIA DO ADULTO E IDOSO
1ª edição
3
2021
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
Head de Platos Soluções Educacionais S.A 
Silvia Rodrigues Cima Bizatto
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Camila Braga de Oliveira Higa
Giani Vendramel de Oliveira
Gislaine Denisale Ferreira
Henrique Salustiano Silva
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Coordenador
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Revisor
Jéssica Aires da Silva Oliveira
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________________ 
Santana, Leilane Henriette Barreto Chiappetta
S232n Neuropsicologia do adulto e idoso / Leilane Henriette 
 Barreto Chiappetta Santana, Melina Paula Sales. – São 
 Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021.
 45 p.
 
 ISBN 978-65-5356-095-6 
 1. Neuropsicologia. 2. Neuropsicologia do adulto.
 3. Neuropsicologia do idoso. I. Sales, Melina Paula.
 II. Título. 
CDD 150
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB-8 010289/O
© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, 
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de 
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A.
4
SUMÁRIO
Envelhecimento normal e patológico _________________________ 05
Comprometimento cognitivo e lesões adquiridas ____________ 21
Epilepsias: conceito, classificação e implicações ______________ 38
Transtornos neurocognitivos leves e maiores ________________ 56
NEUROPSICOLOGIA DO ADULTO E IDOSO
5
Envelhecimento normal 
e patológico
Autoria: Leilane Henriette Barreto Chiappetta Santana
Leitura crítica: Jéssica Aires da Silva Oliveira
Objetivos
• Conceituar os principais determinantes no processo 
de envelhecimento humano.
• Diferenciar quais são os comportamentos esperados 
e patológicos do envelhecimento.
• Desenvolver o raciocínio clínico para o auxílio no 
diagnóstico diferencial.
6
1. O envelhecimento: os limites entre o normal 
e o patológico
1.1 Apresentação
Como parte do processo de desenvolvimento humano, o 
envelhecimento tem gerado grandes transformações nas relações 
familiares, sociais e na atenção à saúde dessa população (PAPALIA; 
FELDMAN, 2013). As transformações da sociedade e das políticas 
públicas visam oferecer mecanismos de proteção para a garantia de 
direitos, bem como cuidados de saúde especializados, com o objetivo 
de proporcionar qualidade de vida e um melhor estado de saúde aos 
idosos (OMS, 2005). Um dos desafios impostos tanto aos familiares 
quanto aos profissionais de saúde está relacionado ao equilíbrio 
entre autonomia, independência e múltiplas condições médicas, tais 
como a presença de doenças crônicas não transmissíveis (diabetes, 
hipertensão, etc.), transtornos mentais (depressão maior e síndrome do 
pânico) e transtornos cognitivos leves (Parkinson e Alzheimer) (MALLOY-
DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013). Neste módulo, serão apresentados 
conceitos fundamentais para compreender os principais determinantes 
do processo de envelhecimento humano, com foco na diferenciação 
entre os aspectos considerados normais daqueles que são sinais de um 
envelhecimento patológico.
1.2 O envelhecimento na terceira idade
O envelhecimento, que sempre foi sinônimo de longevidade, hoje é 
uma experiência comum para as pessoas em todo o mundo. Dados 
da Organização Mundial da Saúde (OMS) prospectam que o número 
de pessoas com idade acima de 60 anos atingirá a marca de 2 bilhões 
de pessoas até o ano de 2050. O Brasil segue a mesma tendência de 
envelhecimento da população, conforme aponta no seu último relatório 
7
do Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da 
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Características 
dos Moradores e Domicílios, o qual estimou que cerca de 30,2 milhões 
de brasileiros ultrapassaram a idade de 60 anos no ano de 2017 
(PARADELLA, 2018).
O aumento progressivo do envelhecimento da população brasileira abre 
o debate sobre o que é considerado a definição de envelhecimento bem-
sucedido na terceira idade. Importante destacar que o envelhecimento 
ocorre em todas as etapas do desenvolvimento, contudo é a fase mais 
próxima ao fim da vida que será o foco de estudo deste módulo. Nesta 
fase da vida, Papalia e Feldman (2013) sugerem que as pessoas mais 
velhas podem ser categorizadas em diferentes faixas etárias para 
classificar os indivíduos idosos, a partir da preservação da capacidade 
funcional para realização das atividades de vida diária. As três categorias 
são: o “jovem idoso” (65 a 74 anos), o “idoso-idoso” (75 a 84 anos) e 
o “idoso mais velho” (acima de 85 anos), sendo que, para esta última 
categoria, espera-se que os idosos apresentem uma maior dificuldade 
para desempenhar tarefas e atividades diárias.
A partir do pressuposto do avanço da idade cronológica e da pouca 
preservação da capacidade funcional, os pesquisadores Birren 
e Schroots (1996 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013) definem que o 
processo de envelhecimento pode ser dividido em três tipos, a partir 
da perspectiva cronológica do avanço do tempo: o envelhecimento 
primário, secundário e terciário.
1. O envelhecimento primário é considerado como incontrolável 
devido ao carácter universal e inevitável do processo gradual e 
progressivo de maturação, acumulando efeitos da deterioração 
física ao longo da vida de um indivíduo, resultados da 
predisposição genética.
8
2. O envelhecimento secundário, também considerado como 
envelhecimento patológico, é resultado do processo de 
adoecimento físico que não está relacionado ao envelhecimento 
primário, o qual é resultado dos abusos cometidos no estilo de 
vida e nos maus hábitos de autocuidado e saúde que, geralmente, 
poderiam ser evitados pelo indivíduo.
3. O envelhecimento terciário, ou envelhecimento terminal, se 
refere ao período da vida que é marcado por intensas perdas de 
autonomia e independência do indivíduo devido ao avançado 
estado de envelhecimento, no qual as perdas cognitivas e de 
condição física são acentuadas.
Para além da perspectiva cronológica do envelhecimento, sabe-se que, 
como parte natural do processo de desenvolvimento do ser humano, o 
envelhecimento reflete as mudanças ocorridas em várias dimensões da 
vida dos indivíduos como consequência direta da passagem do tempo 
(OMS, 2005). De acordo com Papalia e Feldman (2013), essas mudanças 
variam entre cada pessoa por envolverem aspectos subjetivos, de estilo 
de vida, condições de saúde, além da influência do ambiente, os quais, 
na terceira idade, resultarão em alterações em três dimensões do nível 
de funcionamento:
1. O envelhecimento orgânico: caracterizado por um conjunto de 
alterações de declínio da maturação biológica com potencial para 
o acúmulo progressivo de disfunções do funcionamento fisiológico 
e metabólico que podem favorecer o surgimento de doenças.
2. O envelhecimento psíquico: envolve aspectos relacionados às 
alterações no funcionamento cognitivo, afetivo e comportamental 
(abertos ou encobertos) em razão do declíniobiológico, bem 
como pela ocorrência de desadaptações às exigências da vida que 
podem favorecer o surgimento de transtornos mentais.
3. O envelhecimento social: refere-se às mudanças nos papéis 
sociais desempenhados tanto no âmbito familiar quanto no 
âmbito social e do trabalho, os quais podem conduzir para o 
9
aumento da percepção de redução da funcionalidade devido à 
aposentadoria, à diminuição dos vínculos sociais e à perda da 
identidade com o trabalho.
Neste sentido, a compreensão da terceira idade a partir da perspectiva 
da idade funcional abarca especificidades próprias da história de vida de 
cada indivíduo (OMS, 2005). Por exemplo, para indicar a sua capacidade 
de agir de forma efetiva no meio em que vive, a classificação de “jovem 
idoso” remete às pessoas cuja faixa etária está situada entre as idades 
de 65 a 74 anos. No entanto, as pessoas nessa categoria supostamente 
apresentariam maior nível de funcionalidade, desta forma, ainda 
poderá ser utilizada para classificar pessoas com maior idade, como 
o “idoso-idoso” (75 a 84 anos), desde que estejam com uma condição 
de saúde e serem funcionalmente ativas (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 
O contrário também poderá ser realizado ao classificar uma pessoa 
“jovem idoso” como “idoso-idoso” por sua capacidade funcional ser mais 
comprometida devido aos aspectos próprios de cada pessoa (PAPALIA; 
FELDMAN, 2013). Desta forma, um importante indicador da qualidade de 
vida na terceira idade está na sua capacidade funcional.
Portanto, a avaliação da capacidade funcional do idoso deverá ser um 
dos primeiros indicadores de saúde física e cognitiva avaliados pelos 
profissionais de saúde. O seu objetivo é avaliar o nível de autonomia e 
independência que o idoso possui para desempenhar as suas atividades 
cotidianas. Essa avaliação é denominada de avaliação das atividades 
diárias (AVD) e avaliação instrumental da vida diária (AIVD), que 
possibilitará delimitar possíveis sintomas para estabelecimento de um 
diagnóstico, bem como para conhecer quais áreas devem ser priorizadas 
no planejamento de intervenções (MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 
2013). A incapacidade de manter as habilidades de autonomia e 
independência, tais como preparar a própria alimentação, tomar banho 
e administrar as próprias finanças, é um importante indicador para a 
distinção entre o envelhecimento saudável ou patológico (OMS, 2005). 
Além disso, o acompanhamento continuado com avaliações espaçadas 
10
da capacidade funcional poderá indicar a qualidade e a efetividade das 
intervenções propostas para a reabilitação cognitiva.
1.3 Envelhecimento bem-sucedido
Cada pessoa possui um processo único de envelhecimento. Todavia, 
é apenas na fase final do ciclo vital que são apresentadas limitações 
na capacidade funcional nas diferentes áreas da vida de uma pessoa, 
como a condição física, psíquica e social (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 
Porém, ao contrário do que comumente se imagina, nem todas as 
alterações físicas que os idosos apresentam são resultado de um 
processo de adoecimento próprio do envelhecer, mas, na verdade, se 
devem ao processo normal de envelhecer (OMS, 2005). Nesse sentido, o 
envelhecimento bem-sucedido é um dos fenômenos mais complexos e 
multifacetados, que sofre influências de diversos determinantes, dentre 
os quais podemos citar: os aspectos que envolvem a cultura de uma 
sociedade, o ambiente físico, o meio de interação sociofamiliar e os 
aspectos pessoais, conforme é indicado pela Figura 1.
Figura 1 - Aspectos que influenciam o 
envelhecimento bem-sucedido
Fonte: elaborada pela autora.
11
Um crescente corpo de pesquisas sugere que as variáveis sociais e 
ambientais podem ter efeitos sobre vários aspectos do envelhecimento 
bem-sucedido. O impacto desses fatores pode ter influência direta 
em um bom processo de envelhecimento. Por exemplo, os arredores 
ambientais podem influenciar a acessibilidade a áreas seguras para 
atividades físicas. A falta de exercícios, por sua vez, pode predispor 
os indivíduos à obesidade e a outros problemas de saúde. De acordo 
com dados da OMS (2005), observou-se que a baixa atividade física e 
a obesidade estão associadas a relatos reduzidos de envelhecimento 
bem-sucedido. Ao lado disso, o acesso à educação auxilia a escolha 
saudável pela alimentação, melhorando a qualidade da nutrição e, 
consequentemente, a busca pelos serviços de saúde e o surgimento de 
doenças crônicas.
Deste modo, o meio ambiente exerce efeitos diretos e indiretos sobre 
vários componentes do envelhecimento bem-sucedido. Contudo, ainda 
existe uma lacuna no conhecimento, pois, de modo geral, embora se 
reconheça essa influência, ainda não existe um consenso da literatura 
empírica sobre a quantificação do percentual de explicação único de 
cada um desses determinantes para o envelhecimento bem-sucedido. 
No entanto, existem evidências substanciais de interação positiva entre 
todos esses aspectos como bons preditores de como os indivíduos 
envelhecem (OMS, 2005). Dentre todos esses aspectos, o foco desta 
disciplina será os aspectos pessoais, especialmente, saúde física e 
mental, do ponto de vista da neuropsicologia.
Nessa perspectiva, o aumento dos anos de vida vem acompanhado de 
um maior risco para o desenvolvimento de algum comprometimento 
cognitivo, contudo, para algumas pessoas, esse risco não é tão agudo. 
Parece, então, existir três subgrupos de desfechos para pessoas mais 
idosas:
1. O grupo de pessoas com manutenção de longo prazo das funções 
cognitivas na terceira idade.
12
2. O grupo de pessoas com declínios cognitivos leves semelhantes ao 
envelhecimento normal que não progridem para demência.
3. O grupo de pessoas com declínios cognitivos que progridem para 
o estabelecimento de quadro demencial.
Portanto, a preservação da cognição na terceira idade é considerada 
outro importante indicador de saúde que é capaz de predizer os 
desfechos positivos do envelhecimento bem-sucedido. Esse interesse 
dos pesquisadores se deve ao fato de que existe uma forma de 
envelhecimento em que há ausência de déficits cognitivos de 
nível moderado a grave na idade avançada, o que contribui para o 
envelhecimento promotor de autonomia, independência e, por fim, a 
qualidade de vida (MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013; PAPALIA; 
FELDMAN, 2013).
É provável que essa relação reflita as habilidades cognitivas de ordem 
superior necessárias que apoiam a execução de tarefas complexas de 
funcionamento do dia a dia, como gerenciamento de medicamentos, 
participação social e direção (LEZAK; HOWIESON; LORING, 2004; 
MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013). Essas atividades, por sua vez, 
contribuem para a melhoria da qualidade de vida relacionada à saúde 
e ao funcionamento físico, ambos marcadores de envelhecimento bem-
sucedido. Ainda não está claro se domínios específicos da cognição são 
diferencialmente importantes para o envelhecimento bem-sucedido. 
Por exemplo, pode ser que o funcionamento executivo e a memória 
preservados sejam mais salientes em termos de manutenção de uma 
qualidade de vida robusta na terceira idade, enquanto os declínios na 
velocidade de processamento ou no funcionamento motor podem ser 
compensados, até certo ponto, e ter um menor efeito prejudicial nos 
marcadores de envelhecimento bem-sucedido (LEZAK; HOWIESON; 
LORING, 2004). Esta ainda é uma questão que recebeu pouca atenção de 
pesquisas empíricas e merece uma análise mais detalhada.
13
Além da preservação dos componentes executivos, os fatores 
psicológicos que integram a dimensão da saúde mental também são 
importantes indicadores da adaptabilidade da pessoa idosa frente às 
mudanças decorrentes do processo de envelhecimento (OMS, 2005; 
PAPALIA; FELDMAN, 2013). A resiliência (isto é, a capacidade individual 
de mobilizar recursos internos de autorregulação das emoções e do 
comportamento para lidar com uma situação adversa sem que haja 
repercussões negativas ou psicopatológicas de longo prazo) é um bom 
indicador para analisar o sucessodo envelhecimento, bem como das 
intervenções em reabilitação, devido ao efeito positivo que favorece 
a adaptação às mudanças (MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013; 
OMS, 2005; PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Além da resiliência, outros aspectos psicológicos são importantes 
para que uma pessoa possa lidar com as mudanças de vida típicas do 
envelhecimento, como a satisfação com a vida e o bem-estar subjetivo 
com a disponibilidade de recursos pessoais (por exemplo, nível de 
autonomia e independência), mesmo na presença de um estado de 
saúde precário (MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013; OMS, 2005; 
PAPALIA; FELDMAN, 2013). Esse contraste foi denominado “o paradoxo 
do envelhecimento”, o qual é descrito como a capacidade de manter 
altos níveis de bem-estar e satisfação com a vida, apesar das perdas 
relacionadas à idade no funcionamento físico e cognitivo (OMS, 2005). 
Com base neste paradoxo, as teorias do envelhecimento se desviaram 
dos modelos de declínio unidimensional para se concentrarem em 
modelos de desenvolvimento ao longo da vida que consideram a noção 
de envelhecimento bem-sucedido. Esses fatores positivos falam da 
importância da perseverança, do envolvimento social e da sensação de 
bem-estar de um indivíduo na promoção de estados de saúde positivos.
Nesse sentido, avaliações que incluem a mensuração de aspectos 
positivos da personalidade, tais como resistência, habilidades de 
enfrentamento, participação social ativa, número de amizades 
e satisfação com a vida auxiliam na compreensão e predição do 
14
comportamento do idoso nos casos de um adoecimento inesperado 
(OMS, 2005; PAPALIA; FELDMAN, 2013). Conhecer essas capacidades 
positivas é importante para a prevenção de sintomas depressivos, 
afinal o papel da saúde mental positiva no envelhecimento com sucesso 
também é de grande interesse, pois parece haver uma associação entre 
a idade e os sintomas depressivos que são atenuados diante dessas 
características (MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013).
Portanto, a detecção e o manejo precoce da sintomatologia depressiva 
são cruciais para a saúde geral em idosos e têm o potencial de reduzir a 
morbidade e melhorar a probabilidade de envelhecimento com sucesso.
Claramente, a construção do envelhecimento bem-sucedido é 
multidimensional e extremamente complexa, visto mais como o 
desenvolvimento e a manutenção de seu funcionamento social, 
cognitivo e emocional ao longo da vida do que a mera sobrevivência de 
uma pessoa.
1.4 A avaliação neuropsicológica na terceira idade
A avaliação neuropsicológica do idoso tem a finalidade de desvendar 
quais áreas cerebrais apresentam comprometimentos desadaptativos 
para o funcionamento cognitivo e comportamental (MALLOY-DINIZ; 
FUENTES; COSENZA, 2013). Esta modalidade de avaliação analisará 
as relações entre atividades de determinadas áreas cerebrais 
responsáveis pelo funcionamento da inteligência (fluida e cristalizada); 
da linguagem (vocabulário, consciência fonológica, nomeação); da 
memória (imediata, de curto e longo prazo, operacional); da atenção 
(seletiva, concentrada, sustentada, alternada); da visuoconstrução; das 
funções executivas (planejamento, controle inibitório, autorregulação) 
e da psicomotricidade (LEZAK; HOWIESON; LORING, 2004) para 
o mapeamento da compreensão multidimensional dos prejuízos 
cognitivos. Além disso, a avaliação psicológica da personalidade auxiliará 
na compreensão de quais características e capacidades do paciente 
15
beneficiarão ou emperrarão o processo de intervenção ou reabilitação 
cognitiva (MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013).
Uma boa analogia para exemplificar o gerenciamento das funções 
executivas para o comportamento adaptativo é comparar com o 
sistema de controle do tráfego aéreo dos aeroportos. As autorizações 
para a decolagem e aterrissagem de aviões requerem um complexo 
sistema de monitoração de várias aeronaves em solo e no ar. Essa 
atividade de monitoramento é totalmente dependente da atenção e da 
autorregulação, para que o controlador de voo possa se manter focado 
nesta atividade. De maneira semelhante, as funções executivas são 
processos multidimensionais de controle cognitivo, que se caracterizam 
por serem voluntários e exigirem um alto esforço. Nesta perspectiva, 
a avaliação das funções executivas na terceira idade é imprescindível 
para compreender a dimensão e a extensão dos prejuízos tipicamente 
esperados nesta faixa etária.
Entre os tipos de instrumentos utilizados na avaliação psicológica, estão 
as entrevistas clínicas e anamneses, a observação do comportamento 
e a análise dos resultados dos testes psicológicos, que auxiliarão no 
delineamento do diagnóstico (MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 
2013). Neste sentido, os instrumentos neuropsicológicos são excelentes 
metodologias de coleta de informações devido à possibilidade de 
quantificar o desempenho do paciente em dimensões de funcionamento 
cognitivo que precisam de investigação. Desta forma, os instrumentos 
de avaliação psicológica e neuropsicológica mais utilizados para avaliar 
as funções cognitivas e a personalidade são apresentados na Tabela 1.
16
Tabela 1 - Instrumentos de avaliação neuropsicológica
Aspectos psicológicos Instrumentos de avaliação
Inteligência
Teste das Matrizes Progressivas de Raven; Escala de 
Inteligência Wechsler para Adultos III (WAIS-III); Teste de 
Inteligência Geral Não Verbal (TIG-NV).
Linguagem
Teste de Fluência Verbal Fonêmica (FAS); Teste de 
Fluência Verbal Semântica; Subtestes Vocabulários e 
Semelhanças da WAIS-III).
Memória
Escala de Memória de Wechsler III (WMS-III); Subtestes 
Dígitos da WAIS-III); Teste das Figuras Complexas de Rey; 
Teste Pictórico de Memória (TEPIC-M).
Atenção
Bateria Psicológica para Avaliação da Atenção (BPA); 
Teste de Atenção Concentrada (AC); Testes de Atenção 
Concentrada (BGFM-2); Subtestes Códigos e Aritmética 
da WAIS-III).
Funções executivas
Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST); Trail 
Making Test (TMT); Torre de Londres (TOL); Teste Stroop 
de Cores e Palavras; Five Digit Test (FDT); Teste GO-NO-
GO.
Visuoconstrução Teste das Figuras Complexas de Rey.
Psicomotricidade
Observação do comportamento; Avaliação das Atividades 
de Vida Diárias.
Personalidade
Bateria Fatorial da Personalidade (BFP); Revised NEO 
Personality Inventory (NEO PI-R); Teste de Zulliger; Teste 
das Pirâmides Coloridas de Pfister; Sistema de Avaliação 
por Performance do Rorschach (R-PAS); Teste de 
Apercepção Temática (TAT).
Fonte: elaborada pela autora.
17
Na prática clínica, em situações de testagem, as pessoas com 
disfunções executivas costumam apresentar uma pobre iniciação 
das atividades que são propostas em cada instrumento de avaliação; 
dificuldades na organização da tarefa e no planejamento das etapas 
para a sua resolução; problemas para modificar ou persistir na 
estratégia de resolução de problemas; dificuldades na manipulação 
de informações pela memória de trabalho e ocorrência frequente de 
erros perseverativos serão indicadores para traçar o perfil cognitivo 
do paciente, visando ao delineamento de programas de reabilitação 
cognitiva e ao acompanhamento do tratamento farmacológico e 
psicossocial (STRAUSS; SHERMAN; SPREEN, 2006).
1.5 A reabilitação cognitiva na terceira idade
É durante o desenvolvimento infantil que as crianças e os adolescentes 
têm as oportunidades maximizadas pelo processo de escolarização 
para o completo desenvolvimento das funções executivas (STRAUSS; 
SHERMAN; SPREEN, 2006). A lapidação das funções executivas atinge o 
seu potencial máximo no início da fase adulta, quando o cérebro atingiu 
o final do processo de maturação, contudo espera-se que as conexões 
de todas as funções cognitivas estejam fortemente estabelecidas. Na 
terceira idade, devido à presença de disfunções executivas, muitos 
idosos precisam que ações interventivas sejam realizadas para prevenir 
possíveis agravos causados pelo envelhecimento (MALLOY-DINIZ; 
FUENTES; COSENZA, 2013).
As intervenções, cujofoco é minimizar o efeito das disfunções 
executivas, são denominadas reabilitação cognitiva. Diferentemente 
da estimulação, a reabilitação cognitiva visa prevenir o agravo das 
disfunções executivas, enquanto a estimulação é voltada a potencializar 
o desenvolvimento dessas funções nos casos em que são identificados 
atrasos das funções executivas (STRAUSS; SHERMAN; SPREEN, 2006).
18
A finalidade dos programas de intervenção é traçar estratégias 
direcionadas para cada pessoa e ambiente de vida, envolvendo 
práticas diversificadas de resolução de problemas nas atividades 
diárias (MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013). Por exemplo, 
um idoso com início de um processo demencial requererá que suas 
atividades sejam segmentadas em etapas, como escovar os dentes. 
Todas as etapas para escovar os dentes precisarão ser fragmentadas 
em pequenas ações, como: (1) separar um local para a pasta de dente 
e escova; (2) pegar a escova e a pasta; (3) abrir a pasta de dentes; (4) 
colocar uma pequena quantidade da pasta no meio das cerdas da 
escoa; (5) escovar os dentes inferiores com movimentos circulares; (6) 
escovar os dentes superiores com movimentos circulares; (7) cuspir 
a espuma da pasta na pia; (8) lavar a boca e a escova de dentes; (9) 
guardar a escova de dentes; (9) fechar e guardar a pasta de dentes; (10) 
enxugar o rosto; (11) enxugar a pia. Assim, para habilitar as funções 
executivas, é preciso trabalhar com um protocolo de intervenção 
para treino cognitivo de habilidades que envolvem todas as funções 
executivas (LEZAK; HOWIESON; LORING, 2004).
O treino de comportamentos voltados para a seleção e integração de 
informações colabora para o desenvolvimento das ações independentes 
e autônomas, devido à ocorrência da neuroplasticidade no cérebro 
do idoso (MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013). Outros recursos 
que podem ser facilitadores eficazes para integrar grande parte das 
funções cognitivas, bem como para o treino de capacidades deficitárias 
ou para conduzir o desenvolvimento de outras habilidades, são os jogos 
cognitivos. Os jogos cognitivos são uma fonte de divertimento e, com 
o uso de estratégias para guiar e intervir esses instrumentos, podem 
aprimorar o desempenho da pessoa idosa nas tarefas diárias. Dentre os 
jogos recomendados, estão: jogo da memória, dominó, xadrez, sudoku 
e tangram, que ajudam a identificar objetivos, planejar, monitorar 
progresso e ajustar comportamento, que são habilidades importantes 
a serem praticadas. Essas são atividades que requerem atenção e 
19
habilidade para monitorar a si próprio, e as ações dos outros, assim 
como tomar decisões rápidas e responder com flexibilidade (LEZAK; 
HOWIESON; LORING, 2004).
1.6 Conclusão
O aumento da longevidade na população mundial tem contribuído 
para o desenvolvimento de pesquisas e o direcionamento de políticas 
públicas para a pessoa idosa. Ao longo da história, o envelhecimento 
tem sido considerado um período de declínios físicos, cognitivos 
e psicossociais progressivos, no entanto, mais recentemente, há 
evidências crescentes que desafiam essa visão do envelhecimento 
puramente impulsionada pelo déficit. Na verdade, vários estudos 
documentaram melhorias no bem-estar psicológico ao longo da vida, 
apesar dos declínios relacionados à idade no funcionamento físico 
e cognitivo. Acredita-se que esse bem-estar subjetivo em face das 
limitações físicas reflita um envelhecimento bem-sucedido.
Embora o envelhecimento bem-sucedido na terceira idade seja um 
dos desfechos mais desejados na terceira idade, isso nem sempre 
ocorre. Os comportamentos de uma pessoa são resultados do 
acúmulo de experiências ao longo da vida, que são extrapolados 
para o envelhecimento orgânico e cognitivo, os quais podem resultar 
no surgimento de algum tipo de adoecimento. Da perspectiva da 
neuropsicologia, as disfunções cognitivas apresentadas pelas pessoas 
idosas requerem uma avaliação criteriosa, visando proporcionar 
intervenções que produzam resultados eficazes para manter a 
independência e a autonomia. Nesse sentido, o uso de instrumentos 
de avaliação é essencial para auxiliar na identificação do processo 
das disfunções cognitivas devido à sua capacidade de mensuração do 
desempenho.
20
Referências 
LEZAK, M. D.; HOWIESON, D. B.; LORING, D. W. Neuropsychological assessment. 
New York, NY: Oxford University Press, 2004.
MALLOY-DINIZ, L. F.; FUENTES, D.; COSENZA, R. M. Neuropsicologia do 
envelhecimento: uma abordagem multidimensional. Porto Alegre, RS: Artmed, 
2013.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Envelhecimento ativo: uma política de 
saúde. Brasília, DF: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005.
PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. Porto Alegre, RS: 
Artmed, 2013.
PARADELLA, R. Número de idosos cresce 18% em 5 anos e ultrapassa 30 milhões 
em 2017. Agência IBGE, 2018. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/
agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/20980-numero-de-idosos-cresce-
18-em-5-anos-e-ultrapassa-30-milhoes-em-2017. Acesso em: 5 jan. 2022.
STRAUSS, E.; SHERMAN, E. M. S.; SPREEN, O. A Compendium of 
Neuropsychological Tests: administration, norms and commentary. New York: 
Oxford University Press, 2006.
21
Comprometimento cognitivo 
e lesões adquiridas
Autoria: Leilane Henriette Barreto Chiappetta Santana
Leitura crítica: Jéssica Aires da Silva Oliveira
Objetivos
• Conhecer os tipos de distúrbios neurocognitivos e 
diferenciá-los de outras condições de saúde em que 
pode ocorrer comprometimento cognitivo.
• Compreender o que são déficits cognitivos e 
como avaliá-los dentro do campo de atuação da 
neuropsicologia, bem como no manejo interventivo 
e na orientação familiar.
• Desenvolver o raciocínio clínico para o auxílio no 
diagnóstico diferencial entre diferentes quadros de 
adoecimentos com comprometimento cognitivo.
22
1. A avaliação neuropsicológica dos distúrbios 
neurocognitivos
Os distúrbios neurocognitivos são comumente entendidos como 
sinônimos do diagnóstico de algum tipo de quadro demencial, 
cujos sintomas principais estão relacionados à existência de 
prejuízos associados ao declínio cognitivo (DALGALARRONDO, 2018), 
especificamente nos domínios de funcionamento da memória e da 
aprendizagem de novas habilidades. Cabe ressaltar que esses distúrbios 
ocorrem mais comumente em idosos, mas também podem afetar 
pessoas mais jovens, porém, nesta disciplina, o foco de estudo será nos 
comprometimentos cognitivos na terceira idade.
É nesta fase do envelhecimento que as pessoas mais velhas estão 
mais propensas para o desenvolvimento de distúrbios que podem ter 
múltiplas etiologias, bem como diferentes sintomas clínicos (APA, 2014; 
DALGALARRONDO, 2018). Nesse sentido, a avaliação neuropsicológica 
se constitui como método de avaliação do desempenho cognitivo 
bastante sensível para mensurar as disfunções cognitivas e associá-las 
às lesões cerebrais ou aos comprometimentos cognitivos que envolvam 
a presença de distúrbios neurocognitivos na terceira idade (MALLOY-
DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013).
Neste módulo, serão apresentadas quais são as mudanças 
específicas do comportamento tipicamente associadas aos distúrbios 
neurocognitivos em idosos. Além disso, será destacado como a avaliação 
neuropsicológica poderá fornecer dados para o mapeamento detalhado 
do perfil cognitivo e funcional do paciente, visando à elaboração de 
um processo de intervenção que se concentre em áreas onde existam 
dificuldades na adaptabilidade às atividades de vida (DALGALARRONDO, 
2018; MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013).
23
1.1 Distúrbios neurocognitivos e lesões cerebrais 
adquiridas
A psiquiatria geriátrica, como subespecialidade psiquiátrica, se dedica 
ao estudo e ao tratamento das alterações orgânicas e cognitivas 
relacionadas ao envelhecimento bem-sucedido e patológico (FROTA 
et al., 2016). Em consideração a este último, a quinta edição do 
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) 
apresenta uma organização diagnósticapara diferentes tipos de 
distúrbios neurocognitivos em três categorias: o Delirium, o Transtorno 
Neurocognitivo (TNC) Maior e o TNC Leve (APA, 2014). A mudança para 
o termo TNC foi aplicada para abranger uma maior condição de saúde 
que afeta não exclusivamente idosos mas também pessoas mais jovens 
que possuem algum nível de prejuízo cognitivo decorrente de uma lesão 
cerebral adquirida ou devido a outras doenças orgânicas (APA, 2014).
O Delirium é caracterizado por um distúrbio agudo no funcionamento 
da atenção, consciência e cognição (APA, 2014). Os comprometimentos 
cognitivos decorrentes de lesões cerebrais podem se originar de 
diversas causas e variar no nível de severidade, conforme indicado no 
Quadro 1. Inicialmente, as avaliações se concentram na identificação 
da severidade do prejuízo cognitivo por meio da entrevista clínica 
em psiquiatria e na realização de exames clínicos de neuroimagem. 
A partir dos resultados dos exames, o profissional médico poderá 
avaliar a extensão e a localização da lesão, o que resultará em déficits 
temporários ou permanentes de nível leve, moderado ou grave (FROTA 
et al., 2016; MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013).
24
Quadro 1 - Causas e condições de saúde que podem ser associadas 
ao comprometimento cognitivo
Tipos de 
comprometimento
Causas
Lesões causadas por 
trauma
•	 Hemorragia intracerebral (dentro do cérebro).
•	 Hemorragia subaracnoide (ao redor do cérebro).
•	 Hematoma subdural ou epidural (coágulo sanguíneo 
dentro do crânio, causando pressão no cérebro).
•	 Concussão cerebral.
Condições respiratórias
•	 Hipóxia (baixo oxigênio no cérebro).
•	 Hipercapnia (elevado nível de dióxido de carbono no cé-
rebro).
Transtornos cardiovas-
culares
•	 Demência vascular (decorrente de um infarto).
•	 Infecções cardíacas (endocardite, miocardite).
•	 Ataque isquêmico transitório (TIA).
Transtornos degenera-
tivos
•	 Doença de Alzheimer.
•	 Doença de Creutzfeldt-Jakob.
•	 Doença difusa de corpos de Lewy.
•	 Doença de Huntington.
•	 Esclerose múltipla.
•	 Hidrocefalia de pressão normal.
•	 Doença de Parkinson.
Demência por causas 
doenças metabólicas
•	 Doença renal.
•	 Doença hepática.
•	 Doença da tireoide (hipertireoidismo ou hipotireoidis-
mo).
•	 Deficiência de vitamina (B1, B12 ou folato).
25
Condições relacionadas 
ao abuso de drogas e 
álcool
•	 Estado de abstinência alcoólica.
•	 Intoxicação pelo uso de drogas ou álcool.
•	 Síndrome de Wernicke-Korsakoff (um efeito de longo 
prazo da deficiência de vitamina B1).
Infecções
•	 Qualquer infecção aguda ou crônica.
•	 Septicemia (envenenamento do sangue).
•	 Encefalite (infecção cerebral).
•	 Meningite (infecção do revestimento do cérebro e da 
medula espinhal).
•	 Infecções por príons (por exemplo, doença da vaca lou-
ca).
•	 Sífilis em estágio avançado.
•	 AIDS.
Fonte: elaborado pela autora.
A classificação TNC Leve descreve distúrbios neuropsiquiátricos, 
cujos sintomas transitam entre o funcionamento cognitivo normal e a 
disfunção cognitiva. Pode-se dizer que é um estágio pré-demencial, o 
qual pode progredir para um TNC Maior, conforme indicado na Figura 
1. No TNC Maior, os sintomas de disfunção cognitiva apresentam 
prejuízos substanciais que envolvem déficits atencionais e de memória 
e alterações no funcionamento da linguagem, função perceptomotora, 
entre outras. Além disso, podem ocorrer alterações na estruturação 
da personalidade com a maior presença de sintomas de ansiedade, 
depressão e impulsividade (SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2015; FROTA et 
al., 2016; MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013).
26
Figura 1 - Progressão dos sintomas de prejuízos cognitivos dos 
distúrbios neurocognitivos
Fonte: elaborada pela autora.
1.2 Domínios ou funções cognitivas prejudicados nos 
distúrbios neurocognitivos e nas lesões cerebrais 
adquiridas
De acordo com o DSM-5, a categoria dos transtornos neurocognitivos 
agrupa as condições de saúde cuja etiologia é potencialmente 
determinada por meio do uso de exames clínicos de neuroimagem 
(por exemplo, tomografia computadorizada craniana, ressonância 
magnética do cérebro, tomografia por emissão de pósitrons (PET) e 
eletroencefalograma (EEG)) (FROTA et al., 2016; MALLOY-DINIZ; FUENTES; 
COSENZA, 2013). A partir desta prerrogativa, a realização de um exame 
clínico de neuroimagem é uma das etapas da avaliação clínica em 
saúde mental que confirmará a existência de alterações anatômicas ou, 
ainda, a presença de lesões cerebrais mais significativas que podem 
ser características de um distúrbio neurocognitivo específico (FROTA et 
al., 2016). Contudo, sabe-se que, na prática clínica, a realização de um 
27
exame de neuroimagem nem sempre é ponto inicial para a identificação 
precoce de um distúrbio neurocognitivo.
Na prática clínica, em muitos dos casos, os resultados de um exame de 
neuroimagem confirmarão as hipóteses diagnósticas do profissional 
médico – seja psiquiatra, neurologista ou clínico geral. Isso ocorre 
porque as disfunções cognitivas só são percebidas pelo próprio paciente 
ou pelos seus familiares, quando causam prejuízos à autonomia e 
independência do idoso (FUENTES et al., 2014).
Desta maneira, após a confirmação de uma hipótese diagnóstica, os 
profissionais médicos costumam solicitar a realização de uma extensiva 
avaliação neuropsicológica. Essa avaliação visa obter informações mais 
precisas sobre o nível da severidade e da amplitude das disfunções 
cognitivas do paciente, a fim de elaborar, em conjunto com outros 
profissionais de saúde, uma intervenção com foco na reabilitação 
cognitiva (FROTA et al., 2016; FUENTES et al., 2014; MALLOY-DINIZ; 
FUENTES; COSENZA, 2013).
Além da criação de um protocolo de intervenção, a avaliação 
neuropsicológica auxiliará na diferenciação dos sintomas de um 
distúrbio neurocognitivo daqueles que são parte de um Transtorno 
Mental do Eixo I (por exemplo, esquizofrenia e outros transtornos 
psicóticos; transtornos bipolares; transtornos depressivos; entre outros) 
(APA, 2014). A presença de sintomas de um Transtorno Mental do Eixo I 
se configura um componente complicador para o profissional que realiza 
a avaliação clínica. Isso ocorre devido à dificuldade de discernimento 
de quais dos sintomas apresentados pelo paciente são do Transtorno 
Mental do Eixo I ou da presença de um distúrbio neuropsiquiátrico. Em 
muitos casos, os sintomas podem ser relatados pelo próprio paciente 
ou por seus familiares, de tal maneira a se camuflar como sintoma de 
outro diagnóstico, como a Depressão Maior, cujos sintomas agudos se 
semelham a um quadro em que há um comprometimento cognitivo leve 
28
(SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2015; MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 
2013).
Por exemplo, pacientes diagnosticados com Depressão Maior 
costumam apresentar a avolia (capacidade reduzida para se manter 
voltada para objetivos e metas) como um dos sintomas. Contudo, a 
avolia, geralmente, é decorrente de uma redução das interconexões 
neuronais, e não necessariamente de uma disfunção executiva. Por essa 
razão, a avaliação neuropsicológica se torna necessária, pois auxiliará 
no esclarecimento de todo o quadro de saúde mental do paciente – 
considerando, ainda, que idosos têm mais chance de desenvolverem 
Transtorno Mental do Eixo I concomitantemente ao surgimento de um 
distúrbio neurocognitivo (APA, 2014; SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2015).
Embora a origem dos distúrbios neurocognitivos tenha uma base 
orgânica, é o campo da psiquiatria que se dedica ao estudo das 
manifestações psíquicas e comportamentais decorrentes das alterações 
cognitivas (DALGALARRONDO, 2018). Nesse sentido, mesmo que os 
sintomas cognitivos e comportamentais possam ser temporários ou 
permanentes – em casos de lesões adquiridas –, ainda assim envolvem 
redução em nível disfuncional de diversos domínios cognitivos, dentre 
os quais, cita-se: a Atenção; as Funções Executivas; a Memória e 
Aprendizagem; a Linguagem; a Função Perceptomotora e a Cognição 
Social (APA, 2014), conforme indicado na Figura 2. A mensuraçãodas 
habilidades em cada uma dessas funções fornece uma boa estimativa 
do nível do perfil cognitivo do paciente.
29
Figura 2 - Domínios ou funções cognitivas com funcionamento 
reduzido em quadros com comprometimento cognitivo
Fonte: elaborada pela autora.
1.2.1 Funções Executivas
Dentre todos os domínios cognitivos, as Funções Executivas são 
consideradas as mais importantes, uma vez que gerenciam todo o 
comportamento intencional humano. O lobo frontal, em especial, o lobo 
pré-frontal, é a sede das funções relacionadas ao controle inibitório, 
à resolução de problemas, à aplicação do raciocínio, à definição de 
metas, à tomada de decisão, ao planejamento, à flexibilidade cognitiva, 
à autorregulação, ao uso de feedbacks para corrigir uma ação e à 
abstração mental (DALGALARRONDO, 2018; FROTA et al., 2016). Todas 
as condições de saúde mental envolvem, em algum nível, disfunções 
executivas. Nos distúrbios neuropsiquiátricos, as alterações nas funções 
30
executivas são comuns nos quadros demenciais ou por uma lesão 
adquirida, no qual são observadas desde alterações sutis até as mais 
acentuadas, gerando dificuldades de adequação pessoal, acadêmica, 
profissional e social (MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013).
1.2.2 Atenção
A redução da capacidade atencional de foco da atenção nos idosos 
torna-os vulneráveis a estímulos ambientais relevantes (SANTOS; 
ANDRADE; BUENO, 2015; FROTA et al., 2016). Por exemplo, a dificuldade 
em bloquear os “ruídos” que são irrelevantes no ambiente para focar a 
atenção em apenas um estímulo sensorial específico pode prejudicar 
a sua capacidade de interação social, tornando a simples tarefa de 
acompanhar uma conversa algo muito cansativo. Nos distúrbios 
neuropsiquiátricos, como Delirium, Doença de Alzheimer, Demência com 
corpos de Lewy e Demência Vascular, o déficit atencional é relacionado 
às disfunções nos lobos frontais, nos gânglios da base e na formação 
reticular ascendente, que estão particularmente associados à falta de 
atenção (FROTA et al., 2016).
1.2.3 Linguagem
O aspecto mais importante durante a avaliação neuropsicológica 
da linguagem é a obtenção mais completa da história de vida na 
entrevista clínica. Neste momento inicial de contato com o paciente, já 
é possível realizar uma observação qualitativa de alguns componentes 
da linguagem do paciente, como o uso coloquial da linguagem, com 
atenção especial à fluência, à presença de erros parafásicos e à 
dificuldade de encontrar palavras para a fluência verbal. Outro aspecto 
de igual importância na avaliação é analisar a construção da linguagem 
escrita para os pacientes que são alfabetizados, uma vez que também 
envolve a produção de linguagem, sendo este um aspecto seguramente 
31
esquecido das avaliações neuropsicológicas (SANTOS; ANDRADE; 
BUENO, 2015; FROTA et al., 2016).
Inicialmente, a compreensão é um dos primeiros componentes 
avaliados. Nos casos de suspeitas de um distútrbio neuropsiquiátrico 
que envolvem defíctis de linguagem, a compreensão deve ser testada 
começando com comandos simples, como apontar para objetos dentro 
da sala, e progredir gradativamente para comandos mais complexos 
(FROTA et al., 2016).
Em seguida, a nomeação costuma ser uma das principais tarefas 
analisadas nas avaliações neuropsicológicas devido à integração de 
três processos básicos, que costumam estar prejudicados em uma 
quantidade considerável de distúrbios neuropsiquiátricos, a saber: a 
análise visuoperceptual do estímulo, o conhecimento semântico do 
objeto-alvo no estímulo e o acesso às palavras que o descreve. Lesões 
nas áreas cerebrais visuoperceptivas produzirão erros de nomeação 
a partir de erros da percepção visual, porém, se for utilizada outra via 
sensorial, o paciente dará uma resposta de nomeação correta a partir do 
conhecimento semântico do objeto. No entanto, prejuízos fonológicos 
sempre produzirão erros fonológicos, independentemente do modo 
de acesso da informação (FROTA et al., 2016; MALLOY-DINIZ; FUENTES; 
COSENZA, 2013).
A leitura deve ser avaliada para compreender o nível de dificuldade em 
decodificar o estímulo escrito para entender o significado das palavras 
e frases, convertendo esse significado em sons ao acessar a memória 
fonêmica e, assim, produzir a linguagem. Os prejuízos que podem 
ser apresentados pelos pacientes variam desde a dificuldade para 
entender o significado das palavras na forma escrita até a dificuldade 
para ler o texto. E, por fim, a escrita é uma habilidade complexa que 
exige múltiplos processos tanto de funcionamento linguístico quanto 
de controle motor periférico, que costuma ser comprometido nos 
32
distúrbios neuropsiquiátricos (FROTA et al., 2016; MALLOY-DINIZ; 
FUENTES; COSENZA, 2013).
1.2.4 Memória e Aprendizagem
A memória é o principal domínio cognitivo, cujos pacientes e familiares 
mais apresentam queixas nas avaliações clínicas. São bastante comuns 
queixas do funcionamento da memória como um todo ou, ainda, de 
algum componente específico (por exemplo, memória operacional, 
memória episódica, memória autobiografia, entre outras). Desta 
maneira, é importante destacar que erroneamente muitas pessoas 
identificam os lapsos de funcionamento de memória, especialmente a 
memória operacional, como um indício sutil de adoecimento, e no caso 
do idoso, como um sintoma de uma demência (SANTOS; ANDRADE; 
BUENO, 2015; FROTA et al., 2016).
No entanto, esses lapsos podem ser decorrentes de falhas no 
funcionamento da atenção e que não são necessariamente uma falha 
disfuncional da memória. Esquecer porque abriu a porta da geladeira, 
porque entrou em algum cômodo da casa, o nome de uma pessoa, de 
uma cidade ou de um local são exemplos de esquecimentos diários 
considerados normais, os quais podem ser explicados a partir de 
outro fenômeno psicológico. Dentre esses fenômenos, cita-se: estados 
de estresse e ansiedade; sintomas de depressão; a presença de um 
elemento que causa intensa preocupação e que pode afetar o modo 
como uma pessoa dispende atenção em uma atividade. Embora tais 
lapsos possam ocorrer de maneira comum com o avanço da idade, até 
mesmo no envelhecimento bem-sucedido, deve-se considerar o nível de 
prejuízo e a perda de funcionalidade associados a essas falhas (SANTOS; 
ANDRADE; BUENO, 2015; FROTA et al., 2016).
Na sociedade atual, as pessoas são bombardeadas com uma imensa 
quantidade de informações, as quais devem ser previamente filtradas e 
33
selecionado um estímulo para que a atenção seja destinada. Após esse 
rápido processo de seleção de um estímulo e com o auxílio de técnicas 
específicas para potencializar a aquisição de novo conhecimento – o 
qual não será abordado neste módulo –, o aprendizado de uma nova 
informação ocorrerá. Desta maneira, a consolidação da informação 
aprendida será retida e armazenada em diferentes componentes da 
memória (MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013).
A capacidade de manter ativa e manipular uma quantidade finita de 
informação pelo cérebro por meio da memória operacional, como 
decorar o número de um telefone ou resolver problemas aritméticos 
mentalmente, encontra-se reduzida no idoso e, muitas vezes, associada 
à desatenção. Além da memória operacional, outro componente da 
memória que recebe uma associação semelhante é a redução da 
capacidade de retenção para novos eventos de vida pela memória 
episódica. A dificuldade para lembrar detalhes da conversa com um 
familiar ou do que acontece em uma telenovela – mesmo com um bom 
nível de funcionamento da atenção – é um dos principais sintomas das 
doenças demenciais, dentre as quais destaca-se a Doença de Alzheimer. 
No entanto, são os prejuízos de recuperação dos significados das 
palavras e dos objetos pela memória semântica que costumam ser mais 
associados à presença de um quadro demencial, pois a perda de fatos 
históricos é a queixa comum em pacientes com demência (MALLOY-
DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013).
As estruturas cerebrais envolvidas no funcionamento destes 
componentes da memória sãoos lobos frontais e as estruturas 
dos gânglios para a memória operacional; o sistema límbico para a 
memória episódica; as regiões laterais-inferiores dos lobos temporais 
para a memória semântica (MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 
2013; SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2015). O envolvimento deficitário 
de várias estruturas cerebrais aponta para o progressivo declínio das 
interconexões neurais e de anatomia do cérebro que prejudicam o 
funcionamento de várias funções cognitivas.
34
1.2.5 Função Perceptomotora
A Função Perceptomotora integra o funcionamento de outros 
processos cognitivos, os quais estão incluídos na percepção visual, 
na visuoconstrução e práxis e na gnosia (APA, 2014). A avaliação 
dessa função deve investigar de que maneira o paciente interpreta as 
informações obtidas por meio da percepção visual, bem como ocorre a 
execução de comandos manuais para produzir um resultado específico 
desejado (SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2015).
Em alguns casos, os pacientes podem apresentar dificuldades para 
integrar e dar sentido a uma cena visual geral, apesar da incapacidade 
de identificar elementos individuais (simultanagnosia), o que impede de 
compreender o significado da imagem como um todo. Na apraxia ocular, 
o paciente demonstra dificuldades em direcionar o olhar para um novo 
estímulo visual, enquanto a ataxia óptica é a incapacidade de alcançar 
com precisão um alvo guiado visualmente. Outra condição associada à 
percepção visual é a prosopagnosia, na qual o idoso não consegue mais 
reconhecer rostos anteriormente familiares, mas pode reconhecer suas 
vozes e ter acesso ao conhecimento a partir de seus nomes (FROTA et al., 
2016; MALLOY-DINIZ; FUENTES; COSENZA, 2013).
Geralmente, as tarefas que dependem da função perceptomotora 
solicitam que o paciente copie um desenho, monte uma réplica em 
3D a partir de um desenho visto em 2D, ou, ainda, que imite uma 
sequência de movimentos previamente demonstrados. Pacientes com 
lesões no lobo parietal direito ou lesões bilaterais parietais costumam 
ter dificuldades para realizar estas atividades, o que pode sugerir um 
quadro de Demência com corpos de Lewy (FROTA et al., 2016), enquanto 
na prosopagnosia também existe uma lesão no lobo occipito-temporal 
inferior. Isso significa dizer que a capacidade de orientação visuoespacial 
está comprometida, assim tropeções ao subir os degraus, esbarrar em 
móveis e até mesmo se envolver em colisões de trânsitos são situações 
35
comuns que um idoso pode apresentar (MALLOY-DINIZ; FUENTES; 
COSENZA, 2013).
1.2.6 Cognição Social
O processamento cognitivo das emoções e o desempenho das 
habilidades socioemocionais nas interações interpessoais foram 
abarcados pelo campo de estudo da cognição social. Integrada à área da 
psicopatologia, a cognição social é compreendida sob a perspectiva de 
que as funções cognitivas fundamentam todo o comportamento social 
humano. Deste modo, a interação social, a capacidade de reconhecer 
as próprias emoções em si mesmo e nos outros e, ainda, a antecipação 
tanto do estado quanto de uma possível resposta emocional em outra 
pessoa são habilidades medidas pelos domínios cognitivos (APA, 2014; 
DALGALARRONDO, 2018).
Considerando o fato de que os idosos que apresentam distúrbios 
neuropsiquiátricos costumam apresentar alterações significativas 
no funcionamento da personalidade e, consequentemente, no 
comportamento socialmente desejado, isso prejudicará todo o 
processo de expressão das emoções e a leitura adequada da realidade 
no ambiente social, favorecendo para que o idoso não expresse 
adequadamente o seu estado emocional ou desconsidere as pistas sutis 
do ambiente à sua volta, dificultando o enfrentamento de situações 
sociais complexas (APA, 2014; DALGALARRONDO, 2018).
1.3 Considerações finais
Este módulo apresentou uma visão geral dos processos de avaliação 
para diferentes domínios cognitivos na pessoa idosa, com foco especial 
na identificação de sintomas e comportamentos dos quadros de 
saúde, que são categorizados como distúrbios neuropsiquiátricos. O 
conhecimento do funcionamento reduzido destas funções cognitivas 
36
possibilita o reconhecimento de situações em que uma doença ou 
lesão tem o potencial de causar um impacto adverso no funcionamento 
adaptativo em várias esferas da vida. Deve-se enfatizar, portanto, que a 
avaliação não deve resultar em uma formulação diagnóstica plausível e 
definitiva, mas que a elaboração de um plano de manejo prático tornará 
o tratamento um processo contínuo de avaliações por uma equipe 
multidisciplinar – sempre que possível.
Cabe destacar que nem todas as disfunções cognitivas são causadas por 
distúrbios neuropsiquiátricos. O profissional de saúde deverá avaliar se 
os prejuízos apresentados por meio dos sintomas e do comportamento 
são mais bem explicados por Transtorno Mental do Eixo I e, em caso 
afirmativo, se está diante de um caso que não se configura como um 
dos distúrbios neuropsiquiátricos. Além disso, complicações de outros 
tratamentos de saúde, como quimioterapia e radioterapia, também 
favorecem o surgimento de sintomas de distúrbios neurocognitivos. 
Em último caso, as sutis disfunções cognitivas podem ser associadas 
ao envelhecimento bem-sucedido e, ainda, à personalidade, os quais 
causam impacto de qualquer nível de funcionalidade da pessoa idosa.
Outras situações incluem doenças neurodegenerativas, lesões cerebrais 
traumáticas que afetam diretamente o funcionamento cognitivo ou, 
ainda, quando um tratamento de saúde em uma doença crônica não 
transmissível causa reajuste funcional do idoso. Nesta perspectiva, os 
distúrbios neuropsiquiátricos são condições de saúde mental complexas, 
cujo potencial pode induzir mudanças no estado de humor do paciente 
e, assim, causar impactos secundários no funcionamento cognitivo 
global, funcional e adaptativo. Desta maneira, reitera-se a importância 
de a avaliação neuropsicológica incluir a mensuração de traços da 
personalidade e dos recursos psicológicos de enfrentamento pregresso 
– se possível – e no decorrer do surgimento dos sintomas, a fim de 
possibilitar estratégias mais adequadas à realidade de cada paciente.
37
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de 
transtornos mentais. Porto Alegre, RS: Artmed, 2014.
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 
Porto Alegre, RS: Artmed, 2018.
FROTA, N. A. F. et al. Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento: do 
conhecimento básico à abordagem clínica. São Paulo, SP: OMNFARMA, 2016.
FUENTES, D. et al. Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre, RS: Artmed, 2014.
MALLOY-DINIZ, L. F.; FUENTES, D.; COSENZA, R. M. Neuropsicologia do 
envelhecimento: uma abordagem multidimensional. Porto Alegre, RS: Artmed, 
2013.
SANTOS, F. H.; ANDRADE, V. M.; BUENO, O. F. A. Neuropsicologia hoje. Porto 
Alegre, RS: Artmed, 2015.
38
Epilepsias: conceito, classificação 
e implicações
Autoria: Melina Paula Sales
Leitura crítica: Jéssica Aires da Silva Oliveira
Objetivos
• Compreender o conceito de epilepsia.
• Identificar as áreas cerebrais acometidas.
• Classificar a epilepsia para elaboração do 
diagnóstico.
39
1. Epilepsia
Nesta Leitura Digital, discorreremos sobre as bases históricas da 
epilepsia, traçando uma linha do tempo para ilustrar a evolução do 
conceito e suas implicações na atualidade.
A classificação e o conhecimento da dimensão anatomofuncional da 
epilepsia nos levam à possibilidade de se diagnosticar de maneira 
precisa, além de fornecer o norte para o desenvolvimento do plano de 
ação e de uma consequente linha de tratamento.
1.1 Epilepsia: contextualização histórica
O percurso histórico da epilepsia nos leva a considerar que todo 
conceito está intimamente ligado a épocas e costumes. Esta constatação 
ilustra a evolução do conceito da epilepsia ao longo do tempo, sendo 
necessário conhecer contextos históricos para se compreender como a 
sociedade científica chegou ao conceito médico atual da epilepsia.Na literatura médica, encontram-se os primeiros registros da epilepsia 
na data de 2.000 a.C., traduzidos como ataques de cunho espiritual. 
Posteriormente, na Grécia Antiga, já em 400 a.C., houve a substituição da 
concepção de ataque espiritual para o conceito de distúrbio do cérebro, 
de origem hereditária.
Inicia-se, então, a segmentação da epilepsia feita por Galeno, na data 
de 175 a.C., em epilepsia de causa desconhecida e epilepsia enquanto 
resultado de doenças adjacentes.
O século XIX trouxe impactos e progressos científicos ligados ao campo 
da saúde, repercutindo na concepção da epilepsia. Moreira (2004), 
enfatiza que Pinel (1975) associou a epilepsia à doença mental, cujo 
estigma perdurou até os anos 1980. Nos anos 1980 e 1990, autores 
40
fundamentais, como Gram e Dreifuss, assumiram a epilepsia como uma 
síndrome observada por meio de sinais e sintomas e desencadeada 
por descargas elétricas irregulares, capazes de alterar o funcionamento 
normal do sistema nervoso e, por consequência, gerar as convulsões.
Para Moreira (2004), é necessário reforçar que não se pode classificar 
toda convulsão como epilepsia, visto que as crises convulsivas podem 
ser despertadas por uma variedade de causas.
No que tange à classificação e ao diagnóstico, no ano de 1993, o 
surgimento do eletroencefalograma trouxe avanços, fomentando a 
produção de pesquisas das áreas cerebrais acometidas, que passaram a 
ser visualizadas nesta técnica de diagnóstico por imagem que registra a 
atividade elétrica do cérebro.
Outras técnicas existentes também auxiliam no diagnóstico da epilepsia, 
como o SPECT cerebral (Single Photon Emission Computed Tomography), o 
PET (Positron Emission Tomography) e a Ressonância Magnética.
A partir dos anos 1990, estendendo-se para os dias atuais, as 
técnicas diagnósticas passaram a ilustrar o avanço da neurociência. 
A neurociência se apresenta como a área principal a nos fornecer 
informações precisas sobre a classificação, as causas e as áreas 
cerebrais acometidas, temas que serão apresentados nos tópicos 
subsequentes.
1.2 Epilepsia: áreas cerebrais impactadas
De acordo com estudo realizado por Costa, Brandão e Marinho Segundo 
(2020), no Brasil, anualmente, são diagnosticados 340 mil novos casos de 
epilepsia, representando 1,8 milhão de pacientes com epilepsia ativa.
As crises de epilepsia podem ocorrer em algumas situações, como: 
derivação de distúrbios metabólicos, sintomas (febre, por exemplo), 
41
associada a distúrbio neurológico, traumatismo, anoxia ou de forma 
espontânea.
Fuentes et al. (2013) destacam que a predisposição cerebral somada a 
questões cognitivas, psicossociais e neurobiológicas é o que caracteriza a 
epilepsia, sendo que, para ser considerado um diagnóstico de epilepsia, 
é necessário que o paciente tenha apresentado pelo menos uma crise, 
salvo condições toxicometabólicas.
A epilepsia está classificada em generalizada ou focal, e sua etiologia 
norteia as subdivisões genética, estrutural metabólica e de causa 
desconhecida. No lobo frontal, as regiões córtex motor, córtex motor 
suplementar e córtex pré-frontal são diretamente afetadas, e os 
sintomas se apresentam de forma distinta, de acordo com cada região, 
como pode ser observado na Figura 1.
Figura 1 - Desenho da anatomia do cérebro – lobo frontal, temporal, 
parietal e occipital
Fonte: Fuentes (2004, p. 29).
Occipital
Temporal
ParietalFrontal
42
Na epilepsia generalizada, encontramos uma disfunção envolvendo os 
dois hemisférios cerebrais, ou seja, a descarga se espalha por todo o 
cérebro, tendo comprometimento de todo o córtex cerebral, enquanto 
na epilepsia focal, identifica a origem nas redes em um dos hemisférios, 
mais especificamente nas estruturas subcorticais. A epilepsia 
generalizada apresenta os subtipos tônico-clônico, mioclônico, 
ausência e parcial (simples ou complexo), sendo necessário classificar 
corretamente qual destas o sujeito apresenta.
O subtipo da crise generalizada, denominado crises tônico-clônicas, é 
a chamada convulsão, podendo iniciar com a perda da consciência e 
resultar em quedas. Posteriormente, iniciam-se os sintomas de rigidez e 
espasmo muscular, os quais perduram por curto período e, em seguida, 
observa-se o relaxamento, a expulsão de saliva e, vagarosamente, há 
a retomada da consciência. Já no subtipo mioclônico, os impactos são 
em diversos agrupamentos musculares, sentidos como choques. As 
crises de ausência acometem principalmente a faixa etária infantil e se 
caracterizam como uma repentina descontinuação da consciência, que é 
retomada em seguida.
Como já referido, as crises parciais acometem uma determinada parte 
do cérebro, ou seja, os sintomas são externalizados de acordo com a 
parte impactada. Este é um aspecto relevante no diagnóstico, pois é a 
partir do sintoma relatado pelo paciente que se faz a identificação da 
área cerebral onde a crise se originou.
Os subtipos das crises parciais são: simples, quando a consciência não 
é alterada; a complexa, quando há redução qualitativa relevante na 
consciência, sendo frequente a crise motora em certo agrupamento 
muscular, sendo unilateral. Existem outros tipos frequentes de crise, 
como a versiva, em que a cabeça do paciente faz um giro involuntário, 
e a afasia epiléptica, em que o impacto se origina na área motora da 
linguagem, resultando na incapacidade da comunicação verbal.
43
É importe ressaltar que a origem da crise epiléptica refletirá nos tipos de 
sintomas apresentados pelos pacientes. Quando há comprometimento 
do lobo parietal, os sintomas sensoriais estão presentes (formigamento, 
dormência); quando está incluída a área do córtex visual primário, os 
sintomas visuais, como luzes brilhantes, imagens e alucinações, são 
observados; quando a crise se origina da parte interna do lobo temporal, 
os sintomas se estendem ao olfato, e os pacientes relatam sentir um 
odor ruim ou agradável. Outros sintomas também relevantes são os 
automatismos, caracterizados como movimentos repetitivos.
Para se obter o diagnóstico de qualquer tipo de epilepsia, é necessário 
seguir o protocolo: avaliação do histórico do paciente através de 
entrevistas e anamnese, a partir das quais se identifica as informações 
sobre o tipo da crise, os sintomas, o histórico familiar; exames de 
imagem, como o eletroencefalograma, a tomografia de crânio e a 
ressonância magnética do cérebro.
Em adultos, a epilepsia mais identificada é a de lobo temporal e, apesar 
de se originar devido a inúmeros fatores, a esclerose mesial temporal 
(EMT) é a causa mais comum da provocação da epilepsia nesta faixa 
etária. De acordo com Fuentes et al. (2013), é possível diagnosticar a EMT 
por meio da ressonância magnética.
Por meio dos exames de imagem, pode-se obter ainda um mapeamento 
do funcionamento cognitivo e de quais funções foram atingidas. As 
disfunções executivas são consequências observadas na epilepsia, e não 
somente esta disfunção, mas todas as funções cognitivas prejudicadas 
são devidamente avaliadas através da bateria de testes que compõe 
a avaliação neuropsicológica. Identifica-se, geralmente, alterações na 
atenção, na praxia, na linguagem e nas funções executivas, além de 
mudanças comportamentais e labilidade de humor.
Fuentes et al. (2013) destacam o papel do neuropsicólogo no estudo 
aprofundado dos reflexos cognitivos da epilepsia, visto que, por se tratar 
44
de um distúrbio do sistema nervoso central, acomete diretamente a 
cognição.
1.3 Epilepsia: avaliação neuropsicológica
Mäder (2012) destaca que, historicamente, a neuropsicologia e a 
epilepsia sempre estiveram intimamente ligadas, uma vez que esta 
foi alvo de extensas testagens neuropsicológicas, o que culminou em 
grande conhecimento científico na trajetória da ciência neuropsicológica.
A avaliação neuropsicológica enquanto finalidade busca investigar, 
mensurar e relatar o desempenho cognitivo por meio de uma bateria 
de testes selecionados e analisados de acordo com a demanda 
apresentada.
Capovilla(2007) enfatiza que a avaliação neuropsicológica é um método 
capaz de examinar o encéfalo, sendo uma metodologia intensiva 
de investigação do comportamento através de entrevistas, testes e 
questionários.
No que tange à epilepsia, a avaliação neuropsicológica ganhou destaque, 
uma vez que as cirurgias realizadas nos pacientes com epilepsia 
requerem criteriosa avaliação de uma equipe multidisciplinar.
A avaliação neuropsicológica é um exame que tem como objetivo 
mensurar e descrever o perfil de desempenho cognitivo, avaliando 
suspeitas de alterações cognitivas que podem ser decorrentes de 
desordens neurológicas e outros transtornos. 
O cenário pré-operatório dos pacientes que possuem epilepsia, para 
Mäder (2012), exige quatro objetivos da avaliação neuropsicológica: 
determinação do nível de funcionamento; sugestão da localização 
e lateralização da disfunção; possível indicação de prognósticos de 
controle de crises após a cirurgia; prognóstico em relação à memória. O 
45
profissional da neuropsicologia tem a responsabilidade de, inicialmente, 
cuidar do controle dos efeitos da cirurgia diante das funções 
neuropsicológicas do paciente.
Os profissionais da neuropsicologia, enquanto especialistas e 
conhecedores das funções cognitivas e das técnicas de avaliação, 
possuem a autonomia de elaborar a sua bateria de testes para compor a 
avaliação neuropsicológica.
Sabe-se que o início da avaliação neuropsicológica consiste na aplicação 
de anamnese completa e detalhada sobre as fases do desenvolvimento 
do paciente e como este indivíduo se estruturou comparado aos 
parâmetros estabelecidos pela psicologia do desenvolvimento.
No diagnóstico da epilepsia, faz-se necessário utilizar-se de uma bateria 
completa, com a combinação de diferentes instrumentos que consigam 
avaliar todas as funções cognitivas impactadas. O Quadro 1 apresenta 
um exemplo de bateria de avaliação neuropsicológica em adultos com 
epilepsia.
Quadro 1 - Bateria de avaliação neuropsicológica 
em adultos com epilepsia
Atenção
- Repetição de dígitos.
- Controle Mental.
__________________________________
Processamento e atenção visual
- Toulouse Piéron.
46
- Stroop Colour – Word Test.
- Trail Making Test.
___________________________________
Alternância de tarefas
- Sequências grafomotoras.
- Wisconsin Card Sorting Test.
____________________________________
Linguagem
- Nomeação oral semântica.
- Token test modificado.
- Nomeação de objetos.
- Fluência verbal escrita.
- Leitura de texto.
____________________________________
Capacidades espaciais
- Orientação de linhas.
- Cópia de um cubo.
____________________________________
47
Memória e Aprendizagem Verbal
- Memória lógica.
- Aprendizagem associativa.
- California Verbal Learning Test.
Aprendizagem imediata.
Aprendizagem após curto tempo de intervalo sem e com ajuda 
semântica.
Aprendizagem após longo tempo de latência sem e com ajuda.
Reconhecimento.
___________________________________
Memória visual
- Teste de memória visual.
___________________________________
Raciocínio não verbal
-Matrizes de Raven, forma abreviada para adultos.
___________________________________
Testes de lateralidade
- Finger tapping.
- Grooved pegboard.
48
- Força de preensão.
- Teste ABC visual.
Fonte: Baeta (2002, p. 83).
A autora selecionou estes testes neuropsicológicos para compor a sua 
bateria de avaliação observando especificamente as funções cognitivas 
comumente atingidas na epilepsia. Os testes escolhidos fornecem 
capacidade de mensuração de sistemas cerebrais regionais e avaliam as 
funções memória e aprendizagem (verbal e visual), linguagem (recepção 
e expressão), atenção, raciocínio não verbal, processamento cognitivo 
visual espacial e verbal.
A utilização dos testes psicométricos na avaliação de pacientes que 
farão a cirurgia de epilepsia tem se mostrado relevante, uma vez que se 
caracterizam como indicadores do funcionamento intelectual e servem 
como base para a análise neuropsicológica.
Para Mäder (2012), o fundamento da abordagem neuropsicológica dos 
testes neuropsicológicos está na correlação entre o cérebro e a sua 
função, e esta relação é identificada por meio da observação da prática 
clínica ou no desenvolvimento de pesquisas na área de neuropsicologia.
Ao profissional neuropsicólogo, faz-se mandatório conhecer de maneira 
criteriosa as ferramentas e os materiais que poderá utilizar em seus 
pacientes com epilepsia que passarão pelo processo de cirurgia.
Os neuropsicólogos que trabalham com avaliações em cirurgia 
de epilepsia tendem a priorizar a seleção de testes que forneçam 
indicadores da lateralização das funções das memórias verbal e visual e 
métodos que consigam diferenciar as funções executivas associadas às 
disfunções frontais.
49
Os testes psicológicos são uma excelente ferramenta de mapeamento e 
avaliação. Existem inúmeros tipos direcionados à avaliação das funções 
cognitivas que são utilizados pelos profissionais da neuropsicologia.
O teste psicométrico Escalas Wechsler de Inteligência – WISC-IV aplicado 
em público infantil, e WAIS, em público adulto – é comumente utilizado 
nas avaliações neuropsicológicas. Ambas as escalas são consideradas 
padrão-ouro de avaliação neuropsicológica, pois permitem avaliar 
componentes cognitivos específicos, como: funções executivas, 
linguagem e memória, as quais são mandatórias nas avaliações em 
cirurgia de epilepsia.
O teste WAIS é composto por escalas que formam um instrumento 
clínico capaz de mensurar as capacidades do paciente. Os subtestes dele 
englobam raciocínio abstrato, aptidões perceptivas, verbais e velocidade 
de processamento de informações, indicando as forças e fraquezas do 
funcionamento intelectual.
No manual técnico do teste WAIS, encontram-se alguns dados 
importantes sobre as pesquisas aplicadas em pacientes com epilepsia.
Sendo a cirurgia nos focos epileptogênicos um método utilizado no 
tratamento das crises convulsivas, foram realizadas pesquisas de 
aplicação do Teste WAIS III em pacientes pré-cirúrgicos e pós-cirúrgicos, 
identificando-se que os pacientes do pós-cirúrgico obtiveram melhor 
desempenho. Concluiu-se que o desempenho dos pacientes no subteste 
memória lógica se mostrou mais elevado em pessoas com a epilepsia 
do lobo temporal esquerdo, quando comparado com pessoas com a 
epilepsia do lobo temporal direito.
Outro achado relevante das pesquisas citadas no manual técnico 
do teste WAIS III diz respeito aos déficits intelectuais. Constatou-se 
que estes déficits estavam associados ao local do cérebro onde foi 
realizada a cirurgia, sendo que, no grupo de pacientes que fizeram a 
50
lobectomia temporal esquerda, as habilidades de compreensão verbal 
se mostraram diminuídas. Os subtestes comumente aplicados para 
avaliação de pacientes pós-cirúrgicos são: vocabulário, semelhanças, 
dígitos, sequências de números e letras, códigos, cubos e raciocínio 
matricial. Estes subtestes são, geralmente, selecionados devido à relação 
existente entre os processos cognitivos que eles avaliam e as funções 
cognitivas afetadas na epilepsia.
O subteste vocabulário do Teste WAIS III avalia a memória semântica, 
enquanto o subteste semelhanças fornece indícios das funções de 
análise e raciocínio associadas a conceitos verbais. Já o subteste 
execução avalia um conjunto de processos cognitivos, como: 
organização visuoespacial, praxias construtivas e planejamento. O 
subteste dígitos indica itens relacionados à memória de curto prazo 
verbal (ordem direta) e à memória operacional (ordem indireta).
Existe a versão WAIS IV, publicada no Brasil em 2013, em que foram 
incluídos novos escores que servem de indicadores nos processos 
cognitivos implicados. As alterações são aplicadas aos subtestes cubos, 
dígitos e sequência de números e letras.
Essas alterações melhoram a prática clínica, pois aproxima a avaliação 
cognitiva das teorias psicométricas atuais, o que contribui para o 
desenvolvimento da avaliação neuropsicológica.No entanto, encontra-se 
na literatura maior quantidade de publicações utilizando a versão WAIS 
III, sugerindo que a escolha da versão está relacionada ao critério do 
profissional, uma vez que ambas são validadas pelo Conselho Federal de 
Psicologia.
Na neuropsicologia, um teste difundido e muito aplicado é o Teste 
da Figura Complexa de Rey. Os autores, Loring, Lee e Meador, 
desenvolveram um método qualitativo de correção, especificamente 
para investigação pré-operatória em epilepsia (CAPOVILLA, 2007).
51
O Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey é um instrumento 
que orienta uma tarefa de aprendizagem, contendo uma lista de 15 
palavras, em que é requisitado que o paciente a evoque de maneira 
repetida durante cinco vezes. Em seguida, é disponibilizada uma nova 
lista de 15 palavras, e o paciente precisa evocar somente uma vez e na 
sequência, assim como evocar novamente a lista inicial apresentada. 
Esta ferramenta expressa informações sobre a memorização.
O Teste de Aprendizagem Visual de Desenhos foi elaborado por Rey no 
ano de 1964 e, nesta avaliação, o paciente precisa fazer a memorização 
de 15 pequenos desenhos e, em seguida, reproduzi-los. Esta sequência 
tem a repetição de cinco vezes.
Como em toda patologia, a sequência de protocolo de avaliação, 
diagnóstico e tratamento também é aplicada no caso da epilepsia.
1.4 Epilepsia: tratamento
O tratamento da epilepsia é composto por intervenção medicamentosa. 
O objetivo dos fármacos é evitar as descargas elétricas cerebrais 
anormais, uma vez que estas originam a crise epiléptica.
Como todo medicamento, os de epilepsia precisam de um período de 
adaptação para agirem no organismo, implicando longo período de 
manipulação para se obter êxito no controle das crises.
O acompanhamento médico é mandatório para a visualização dos 
possíveis efeitos colaterais das medicações.
Costa, Brandão e Marinho Segundo (2020) destacam que, após o 
diagnóstico, o tratamento farmacológico tem a finalidade de estabilizar 
as crises, entretanto cerca de 30% dos pacientes não conseguem 
obter este controle por meio deste tipo de terapia. Comumente, a 
52
monoterapia é indicada inicialmente, mas, com a persistência das crises, 
a politerapia é uma alternativa, assim como a cirurgia.
Os medicamentos antiepilépticos têm se mostrado eficazes na redução 
da constância das crises epilépticas, sendo que os medicamentos 
fenobarbital, fenitoína, carbamazepina, valproato e benzodiazepínicos 
estão entre os mais utilizados.
Existem tratamentos alternativos não invasivos, como a estimulação 
do nervo vago, em que o paciente recebe um gerador, que é alocado 
no pulso de maneira subcutânea e programado por computador. Os 
pacientes que fazem uso desta tratativa apresentam diminuição na 
ocorrência de crises e aumento da atividade cognitiva.
As pessoas que possuem o diagnóstico de epilepsia precisam aderir 
ao tratamento para que consigam adquirir qualidade de vida. Estes 
pacientes precisam realizar as atividades, se relacionar e continuar 
exercendo as suas atividades laborais.
Em relação à rotina laboral, é necessário desenvolver algumas 
precauções nos pacientes que possuem epilepsia não controlada. Os 
pacientes que não estão em tratamento e que possuem epilepsia não 
controlada devem evitar trabalhar com maquinário pesado e realizar 
trabalhos em altura. É importante também que evitem praticar algumas 
atividades sozinhos, como cozinhar em fogo aberto e nadar.
O cuidado com a saúde é essencial para todo ser humano e no caso 
dos pacientes que possuem o diagnóstico de epilepsia, isto torna-se 
imprescindível, devendo-se evitar o abuso do uso de álcool, controle 
adequado do sono, manter a alimentação saudável e praticar atividade 
física.
Em todo diagnóstico, é necessário realizar a educação do paciente e do 
familiar, para que se consiga lidar de maneira apropriada e com menor 
nível de impacto possível, pensando no bem-estar social.
53
Sabemos que o diagnóstico de epilepsia é permeado por preconceitos 
e visões muitas vezes estereotipadas em nossa sociedade, sendo 
importante que as pessoas do convívio do paciente estejam cientes do 
conceito correto desta patologia.
Neste contexto familiar e social, deve-se destacar que a crise epiléptica 
não tem origem espiritual, não é algo contagioso, e sim uma descarga 
no cérebro, caracterizada como uma doença que pode ser tratada e 
prevenida.
Este diagnóstico pode causar sofrimento psíquico ao paciente e à 
sua família, ilustrando a importância de se buscar conhecimento 
das áreas da saúde, em especial, a neuropsicologia, para que se 
esclareça cientificamente as implicações da doença e se possa oferecer 
tratamento adequado.
Observa-se que os pacientes que possuem o diagnóstico de 
epilepsia apresentam algumas características de perfil que merecem 
atenção e olhar clínico sob a ótica da psicologia. O isolamento 
social é refletido em dificuldades nos relacionamentos, sejam estes 
estabelecidos no ambiente de trabalho ou escolar.
Como na maioria dos diagnósticos que apresentam sintomas 
neurológicos, a epilepsia pode afetar o bem-estar biopsicossocial, sendo 
indicado que o paciente e seus familiares procurem ajuda profissional 
para adquirirem recursos de enfrentamento diante deste quadro.
Os grupos de psicoeducação em epilepsia se configuram como uma 
alternativa eficaz na disseminação de conteúdo científico e contribuem 
para a desmistificação do tema, preparando a sociedade para se 
comportar de maneira mais ética e inclusiva.
O trabalho em grupo é um espaço onde o paciente tem a liberdade de 
expor suas angústias, preocupações e demais desconfortos relacionados 
54
ao diagnóstico. Esta ferramenta possibilita a troca de experiências por 
meio da interação entre pacientes e profissionais.
Nesta Leitura Digital, a epilepsia foi o destaque, assim como as suas 
implicações neurológicas, sociais e emocionais no cotidiano dos 
pacientes. O conceito da epilepsia se alterou ao longo da história e, 
hoje, sabe-se que ela é uma doença neurológica do sistema nervoso, 
que se caracteriza como atividade cerebral anormal, ocasionando 
desordem nos movimentos, nos comportamentos e nas sensações. 
Para se diagnosticar esta condição, é necessário identificar a tipologia, 
observar o histórico e o relato dos sintomas, assim como realizar 
avaliação neuropsicológica e exames de imagem. Existem diversos testes 
aplicados pelos profissionais da neuropsicologia para identificar as 
alterações causadas pela epilepsia que nortearão o plano de tratamento, 
o qual sempre será composto por um conjunto de intervenções, dentre 
elas, a primordial: a terapia medicamentosa.
Referências
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epilepsia. Psicologia,  v. 16, n. 1, p. 79-96, 2002.
BITTENCOURT, P. C. T. Reconhecendo as crises de epilepsia. Neurologia 
UFSC, 2001. Disponível em: http://www.neurologia.ufsc.br/artigos-cientificos/
reconhecendo-crises-de-epilepsia/. Acesso em: 5 jan. 2022.
CAPOVILLA, A. G. S. Contribuições da neuropsicologia cognitiva e da avaliação 
neuropsicológica à compreensão do funcionamento cognitivo humano. Cad. 
psicopedag., São Paulo, v. 6, n. 11, 2007.  
COSTA, L. L. de O.; BRANDÃO, E. C.; MARINHO SEGUNDO, L. M. de B. Atualização em 
epilepsia: revisão de literatura. Revista de Medicina, v. 99, n. 2, p. 170-181, 2020.
FUENTES, D. et al. Avaliação neuropsicológica aplicada às epilepsias. In: FUENTES, D. 
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FUENTES, D., MALLOY-DINIZ, L.F, CAMARGO, C.H.P., COSENZA, R.M. 
Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2013.
SANTOS, F. H.; ANDRADE, V. M.; BUENO, O. F. A. (Orgs.). Neuropsicologia Hoje. 2. 
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MÄDER, M. J. Avaliação neuropsicológica nas epilepsias : importância para

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