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IzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 184ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA C ap ítu lo C u ltu r Embora classicamente vinculada ao campo da antropologia,il'll cia que a tem por objeto preferencial de estudo, a cultura também I' 1\ intrinsecamente ligada à educação e ao currículo. Não se trata de \1111 I temática simples de ser abordada, na medida em que são muito,I' significados que assume na teoria curricular. Cultura se refere, .11.11' direta do homem, por meio de técnicas, na transformação fí ir.l di ambiente e daí se originam metáforas como cultivar o bom gol01111 alta cultura, diretamente ligadas à educação. Tradicionalmentr. 11 I perspectivas funcionalistas que apostam na harmonia social, a , 1'1111I pal função da escola é a socialização dos sujeitos, tornando-os np" de partilhar a cultura, uma mesma cultura. A educação forrna.u: 1111 sujeitos cultivados. Outro conceito de cultura que também diz muito à educ ,\lI currículo é o de repertório de significados, um conjunto dS '111111 socialmente criados que permite aos sujeitos se identificar rn III \ I \ I os outros. É desse repertório que a teoria curricularpropõe q\H' .1I I selecionados os conteúdos trabalhados pelo currí ulLI, (lIli 11 I no capítulo 7, ' a partir de) qu o uj it s int r, g -rn "ti \' I I Trata-sed urn t rritório qu ,a '5S, altura.j! cr ebcmos rcuuo utu cont stado. Mesmo qu 's'< .itc qUI', di' :llgllm,1 formo, I' i. li' 111>1 uma ulluru 1111 1I1,lis dI' um 1\" i'rlúrill dI' ,I'lllido., 111'1111111111 TEORIAS DE CURRÍCULO 185 S mpre considerados válidos como fontes para os conteúdos ou como I iltura de pertencimento legítima e, em torno disso, se estabelece uma longa disputa. A distinção entre repertórios válidos e não válidos é tão lorte que, em determinados momentos da história, alguns nem mesmo vram chamados de cultura. No capítulo 3, vimos como Raymond Williams explica a criação de um padrão cultural socialmente legiti- modo por meio do que denomina tradição seletiva. Williams denuncia , criação de uma cultura humana geral como registro histórico de uma l.ida sociedade, num mecanismo que envolve uma série de exclusões .1 rejeição de áreas consideráveis da cultura vivida. Contemporaneamente, as muitas exclusões operadas pela criação k uma cultura geral estão sendo postas em xeque, o que não signi- 1.1 que tenham deixado de ocorrer. As mudanças tecnológicas apro- imando os sujeitos no espaço e no tempo, a globalização econômica, '1111 da Guerra Fria, os fluxos migratórios são alguns dos ingredien- [ue criam uma atmosfera favorável ao maior fluxo de pessoas 1 1 1 r' culturas. Os movimentos sociais diversos - étnicos, de gênero, ,wr (lésbicas,yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAgays,bissexuais, transexuais e transgêneros), religio- I se juntam às críticas marxistas denunciando a exclusão de suas rlturas dessa tal cultura geral. Essa cultura, de caráter universal, é I 1.1 m questão por sociedades que se mostram, a cada dia, mais 1 1 1 1 i culturais. Obviamente, esse panorama complica ainda mais a disputa em 1111 1 que ensinar e de como representar as diferentes culturas no 11 u-ul . Na medida em que se trata de uma arena de conflito social,ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 1\ 111St s para lidar com o caráter multicultural da escola (e da socie- li'), .om o objetivo de controle social, surgem no horizonte de IIIoISpolíticas públicas. Há propostas liberais que buscam criarso- lU" I c1 ra os problemas sociais gerados pela visibilidade de grupos li 1101'111 nte excluídos. No âmbito das teorias críticas, hegemônicas I1 Idos urri ulares, não é menora pr ocupação de responder ao 11'1 mulli ultural da o idade orn um.i c til! ação capaz de incluir Idl'lI'nli'S culí ur: s. /\1 osu S '11 di.dll)',lI, intcraçâo, negociação, \ 111'(\ 1111I11illll1.,(1I'IIII'1' .IS clivc-rs.u. l'Idllllo1 .u npli.un a dis u são 186zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACE DOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA para além do controle da diversidade. Trata-se, sem dúvida,de um, faceta da teoria curricular em torno da questão da cultura que merece ser abordada. O questionamento da cultura geral ou dos universalismos vem acompanhado da "descrença" epistemológica no realismo, que abor damos no capítulo 1. Não que se trate de um mesmo movimento;sã (l processos diversos que se aproximam e se distanciam nas diferenl ' abordagens teóricas. Há discussões que aceitam o caráter multi LI I tural das sociedades contemporâneas, mas operam num quad1'11 teórico realista, seja liberal ou crítico. Há outras que assumem UIl1'! postura não realista, que implica a própria revisão do conceito d,' cultura. Como veremos, num quadro pós-estrutural, a cultura p rd, o sentido de repertório partilhado para ser encarada como procc s.11 de significação. Nesse sentido, o currículo, como tudo, seria cultural na medida em que funciona como um sistema de significações d111111 do qual os sentidos são produzidos pelos sujeitos. Trata-sede UIlI" forma de entender o currículo que fomos introduzindo nasS '<';111 finais da maior parte dos capítulos anteriores e que, neste,g. 1111 I destaque. A concepção de cultura como conjunto de sistemas de signifi ".11' tem implicações para a compreensão do que encaramos como m11111 culturalismo da sociedade contemporânea e implica uma revi. ru ,I própria ideia de que há culturas para entrar em diálogo ou nego i" 111 Operando no que seriam zonas de fronteiras, autores pós-c10111011 têm destacado os fluxos culturais e não as culturas. Para autor s n11111 Arjun Appadurai, as culturas são meros estancamentos artifi iai: \ I, fluxos, uma espécie de fotografia que paralisa e nomeia o qu~'IIIt I movimento. Na medida em que estamos acostumados a p nsar aI' II tir desses repertórios nomeados,superá-los exige um pr< l'.. \I 1 I desconstrução que vem sendo realizad om a d i LI - dr1111111 como híbrido. Trata-se de uma di L1ss50que temos .nt n lido11111111 a mais produtiva no, ntid d pns.ir o ClIITílUlo,!l, in 'rl\' ',I I mund mtcmporân 'O, On1( I I'tÍlil"l di' urihui tiO dl' S 'nlldll 1 I orno ('1)1 11lei" '010. TEORIAS DE CURRÍCULO 187 Culturas em negociação: atualizando a perspectiva crítica Ao mencionar culturas em negociação, estamos já assumindo o multiculturalismo como descrição da sociedade contemporânea e, portanto, rejeitando posturas conservadoras que o negam ouque de- fendem a cultura comum. Tais posturas se alicerçam na naturalização da diferença e podem ser caracterizadas pela crença na inferioridade das culturas de grupos minoritários que, por essa razão, deveriam ser abolidas por um projeto educacional que visasseà igualdade. Entendem ,1 descrição das sociedades como multiculturais como uma estratégia para aumentar a autoestima de grupos minoritários que colocam em ri co os valores ocidentais e o progresso garantido por seu desenvol- imento cultural. Ainda que resquícios do projeto conservador possam or vistos em diversas ocasiões, é pouco expressiva a negaçãoda di- v .rsidade cultural. Partir, no entanto, da constatação de que o mundo " hoje multicultural não quer dizer que há espaço para que todas as I ulturas se manifestem. Explicitamos, apenas, que o aumentodos íluxos migratórios, a ampliação da comunicação e a luta dos grupos minoritários por reconhecimento embaralham as culturas, antes mais 1.11 ilmente separadas. As respostas do campo do Currículo à ampliação dos fluxos ullurais têm sido categorizadas em multiculturalismo liberal e críti- I1 por diferentes autores, dentre os quais o de maior penetração no llr.rsil é Peter McLaren. Em livro publicado no Brasil em1997,yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAMulti-mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA u ll u ralismo crítico} antes de explicitar sua tipologia, McLaren salien- 1 qu se trata apenas de um recurso heurístico, de um mapeamento [o campo cultural no que respeitaà raça eà etnicidade. Nesse senti- 111, I~ importanterecordar uma característica da obra de McLaren que Ir I \I limos no capítulo anterior, qual seja, seu deslizamento entre "I I ' tivas marxistas e preocupações pós-modernas. Esse desliza- \I '111() envolve a ampliação de categorias analíticas como classe social 1101in luir, prin ipalm nte, questõ sde r, a. Sua tipologia destaca 188zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACEDO que tanto as perspectivas liberais quanto críticas implicam um avan- ço em relação ao conservadorismo, na medida em que reconhecem a diversidade cultural, ainda que as primeiras falhem na resolução do preconceitos. Para McLaren, as abordagens tipificadas de forma genérica como liberais estão marcadas pela aceitação do caráter heterogêneo da so- ciedade e pela compreensão de que as identidades sociais sãodefinidas tendo em conta indicadores econômicos, culturaismlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAe] ou biológicos. () autor defende haver propostas multiculturais liberais cuja princip: I característica é certo humanismo, a crença em um princípio de igual dade entre as pessoas, independentemente, por exemplo, de raça (' gênero. A diferença, para os humanistas liberais, seria ocasionada pOI condições desiguais do capitalismo, que fazem com que a competi ali social seja desfavorável para membros de grupos minoritários. NII entanto, ainda que reconheçam a diferença, as propostas liberais com partilham com os conservadores uma postura universalista,caracl ri zando-se por uma tentativa de integração dos grupos culturai !lll padrão, baseado numa cidadania individual universal. As práti " particulares são aceitas, mas devem se limitar ao domínio privad . I ), forma geral, para os liberais, o culto à diferença ameaça o univer , II mo e a neutralidade do Estado, compromete a autonomia e a lib nl.l de individual e ataca a igualdade formal. Por isso, defendema ncu: sidade de uma convivência pacífica entre os grupos diversosd '1\11" de uma mesma nação. Nesse sentido, se afastam dos conservadon ao acreditarem na possibilidade de reversão das condições so im'll I nômicas que supostas como estando na base da discriminação,l'. II, cialmente com políticas integracionistas e compensatórias. Além do multiculturalismo liberal humanista, McLaren r 011111 ce uma versão de esquerda do multiculturalismo liberal, cntrud.i 11I reconhecimento da diferença. Engloba as reivindicações degl "1'11 minoritários por escolas especializada nas quai ua ulturr sf(l ,I 111 valorizadas, proposta qu r b muitas fÍli 'as quan 10Sl' lr.ll.l " escolas para n gr ou hornosscli, is, 111.1.qru: (' .\1))1lanu-nu- .11'1I quc ndo se lrnl, ti' gn'l (~n'ligioso, hq;I'IIHII1Hli, 1',1'111.1.'('.1111111I TEORIAS DE CURRÍCULO 189 e protestantes, por exemplo. Trata-se, segundo o autor, de uma solução que inverte as posturas conservadoras, mantendo a mesma lógica de um currículo monocultural e assentando-se sobre a essencialização da diferença. De forma geral, o pertencimento a um grupo cultural é en- tendido como garantia de autenticidade, o que torna a experiência de vida do sujeito o fator primordial na construção de uma política de identidade. Embora também seja difícil hoje no Brasil encontrarmos projetos multiculturais deste tipo, alguns grupos étnicosos têm defen- dido. Para McLaren, trata-se de um equívoco, na medida em quea ixperíêncía da diferença se dá em um cotidiano recheado de ideologia, afetos e conhecimentos. Na medida, ainda, em que não há sincronici- dade entre as diferenças, sendo comum, por exemplo, em que reivin- Li icações de classe se contraponham a demandas de raça ou gênero e (' sas entre si, currículos centrados numa variante cultural não hege- mônica não implicam a formação de sujeitos com uma postura de li fesa das culturas subalternas. Em contraposição ao multiculturalismo liberal, para McLaren o mais comum nas políticas multiculturais, o autor defende posturas rnulticulturais críticas, que examinem a construção tantoda diferença q tanto da identidade em sua historicidade. Ainda que explicite pouco .1forma como concebe os projetos multiculturais críticos,o autor de- lcnde a necessidade de uma negociação cultural que se dá num terre- 110contestado, marcado pela história, pelo poder, pela cultura e pela III ologia. Em sua defesa do multiculturalismo crítico, McLaren lança 11I50de uma teorização pós-moderna e da ideia de cultura descentra- d.1 desenvolvida em trabalhos anteriores. Nela, é enfatizado o papel 1.1linguagem na construção dos significados, a cultura como um cam- po discursivo múltiplo e o importante papel da escola na construção LI identidade dos sujeitos. Com tais ferramentas teóricas, a luta polí- 111.) e torna discursiva - uma luta em torno do poder de significar passa a envolver uma busca para desestabilizar formas de pensar. on p ão pós-mod ma de cultura d s 'n trada não significa, no '111.lnlo,um "r.1sl.11lIl'nLode t orizs ão rílic.l, 1).1m dida em que o 111101'0P(" .•I (1111111111IlHHI,'loclunl 'I)) '1\11'01111111"P 0111dis ursiva d 190zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACEDOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA realidade convive com o que seria a própria realidade. Nessesentido, sua defesa do multiculturalismo crítico envolve a modificação dos sentidos construídos culturalmente, mas a condicionaà possibilidade de transformar, pela ação dos sujeitos, as relações sociaise históricas em que essa construção se dá. A discussão sobre multiculturalismo no campo do Currículo no Brasil se faz, prioritariamente, na vertente do multiculturalismo críu co, com maior ou menor aproximação com teorizações pós-moderna: Como McLaren, Antonio Flavio Moreira tem produzido uma discussao sobre multiculturalismo no campo do Currículo que se apropria dI discussões pós-modernas, mesclando-as com proposições críticas I', mais recentemente, com a defesa do universalismo. Em relação .111 multiculturalismo, o trabalho de Moreíra' envolve levantamento sobre sua penetração na literatura do campo, nas políticas curricula n e nas escolas. Sendo assim, parte considerável de sua produção na ( 1'1'" apresenta resultado desses levantamentos, com ampla revisão da lill' ratura sobre a temática tanto no Brasil quanto em autores estrangci 11' Apesar disso, há em todos os textos a defesa de uma concepçãodi currículo multicultural, mais recentemente assumida comoo ftlll! mesmo dos trabalhos. No que concerne a tal concepção, Moreira opera com a assunli' de que a sociedade é multicultural, ou seja, que há, em seu iní'11111 um conjunto de culturas em disputa e que as relações de força ('1111 elas são desiguais. Como em McLaren, as culturas são produções 111 cursivas, e, ao mesmo tempo, são reais. Desse modo, talvez'pu dizer mais propriamente que, para o autor, as culturas sãocons Lnlllll históricas. Nesse sentido, a vinculação de Moreira ao pcns<1111,,,1 crítico, buscando matizá-lo com preocupações pós-moderna" LI)I t t I11I assumidas pelo próprio autor, é explícita no que concerna ulltn ao multiculturalismo. 2. MOREIRA, Antonio FI,win; ("ANDAmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA,V ,'r" M IIII;c 111111,,,1 '''110; dll,'I\"'\,1 \ 1I11r1l práticas II'd,'}\Ogl\ ,IS 1'1'111I1(\Iis: VO/\'S, 200H 1'1\ I{I\IS< I, M,IIIo.. 1\ "I""i" 1 ,,,,.,,, 1I11r1 '" ,yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA reirn: P('Hqlll~,ld,",'111' IlIlh ulo 1\"1,,110,,1/\11111' 1111'111".1, '11111 TEORIAS DE CURRÍCULO 191 As implicações dessas concepções para o currículo podem ser t aduzidas numa inquietação central que vai se transmutandoao longo das discussões de Moreira sobre multiculturalismo nocampo do Currículo, que se iniciam em fins da década de 1990: o equilíbrio entre igualdade social e pluralidade cultural.O currículo precisa, assim, dar conta, ao mesmo tempo, do respeitoà diferença e do com- promisso da escola com a promoção da justiça social. Inicialmente, a luta por igualdade e justiça social envolvia mais claramenteaspectos culturais, com a defesa do diálogo entre as culturas como forma de superar o relativismo. Paulatinamente, as discussões sobre conheci- mento escolar, que sempre estiveram presentes denotando osvínculos do autor com a NSE, vão ganhando centralidade. Em textos do início dos anos 2000, essa centralidade era dada pela proposta de que a .leção de conteúdos das disciplinas tradicionalmente presentes nos currículos contribuísse, pelo seu confronto com outras lógicas, para dcsestabilizar o eurocentrismo dominante. Nesse sentido,ao invés da I riação de componentes curriculares específicos ou da substituição pu ra e simples dos saberes e valores dos grupos dominantes pelos to dominados, Moreira incentivava a explicitação dos atritose con- flitos entre tais saberes e valores. Já em meados dos anos 2000, a preocupação com o conhecimento 'tinha contornos mais nítidos.O autor passa a defender explícita e ft ll'l mente a primazia das discussões sobre conhecimento no campo 10 urrículo, desqualificando a centralidade das discussões sobre IIILura que ajudara a introduzir uma década antes entre os temas vntrais do campo no país. No mesmo movimento, passa a dirigir 1",ldas críticas à preocupação do campo com abordagens ativas, de- 111)iando o que denomina medo dos conteúdos. Nesse sentido,Mo- '11,1passa a advogar em favor de conteúdos escolares básicos que 1'1mitarn a formação dos sujeitos como cidadãos ativos. Na definição til ljll é básico, o autor lança mão de discussões da NSE acerca da tI'll'it uição do nh imento (ver capítul )e reitera a importância \' qu' 'SSl' prot't'sso S 'j, di ulido nns ('slolilS não imposto por 111I11I1,Hlol'l'l'tll'ril'III,II·('S.!\o rn •• I)lO It'II'IIII, IlIl (1111,lnto, Sl li nta a I, I I 192 LOPES • MACE DOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA disciplinas científicas como fontes fundamentais para a determinação do que deve ser ensinado, assumindo um universalismo que define como contingente. A defesa de conteúdos escolares básicos diminui as inquietaçõc: do autor na direção do multiculturalismo, mas não as apaga. Aplur.i lidade cultural e identitária permanece como aspecto a ser considera do pelos currículos. Nesse sentido, Moreira aceita a centralidade li" cultura - ou seja, que as práticas sociais envolvem produçãode scn tidos - e mantém a postura de que o currículo precisa favorec r11 reconhecimento das diferenças e o diálogo entre elas. Defende, assim, a contribuição do currículo para a construção de um mundo queart 'I ta as diferenças, mas combate as desigualdades sociais e econômi 'd , Assumindo uma linha mais claramente crítica, sem tantas conrr sões às discussões pós-modernas, VeraCandau'advoga a centralid.uf do pluralismo cultural nos currículos, numa perspectiva que denonu na, explicitamente, intercultural crítica e emancipatória. De fOI'IlI,1 semelhante a Moreira, a autora rejeita visões essencialistas de eu II111 \ e identidades culturais, mas não credita tal rejeição ao fato de S('II '111 produções discursivas. Ao contrário, define as culturas como prod li '111 históricas e dinâmicas, envolvendo interações e hibridações que se11.11 em contexto marcado pelo poder, por preconceitos e discrimina '\11' Negando tanto a assimilação cultural quanto abordag ns qlll enfatizam a diferença, Candau defende a importância de promo I I deliberadamente, a relação entre os variados grupos culturais ('(1\111' forma de ampliar os laços entre eles. A base da interculturalid: dI' I diálogo entre os grupos sociais e culturais, uma negociaçãoqUI' "I' I em contextos de assimetria de poder que precisam ser reconlux Idl como tal sob pena de a interculturalidade assumir contornoslihl'hll Ao longo de sua obra, Candau tem integrado diferente vrtcnh I multiculturalismo crítico. Na tipologia proposta por M arlhv, 1'\111 3. CANDAU, Vl'ra,mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAl;d llc llíf10 iu terctú tyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAnml r 101111,11,1111 '" 0 /,11 RUIdi' 1,1I1I'irl1: 7 I ,'li , ANDA ,V('r.) f"d IlI'llV 'O lllfl'lI nltuml nu 111111 '111111u l nu! 0'1111",0"""" ,,.. ,1"II~''''''''ljo" I, di' ),lIwim: 71,'11"" >'1111'1 TEORIAS DE CURRÍCULO 193 dizer que um pensamento inicialmente voltado para a competência cultural, com apropriação crítica das discussões de [ames Banks, tem cedido espaço para o empoderamento, especialmente a partirda apro- ximação com autores decoloniais. As ações no sentido de viabilizar uma educação intercultural expressam essa integração, visando tanto ao desenvolvimento de valores pluralistas através da interação e do diálogo entre as culturas quanto à valorização das culturasdas mino- rias capaz de ampliar as oportunidades de êxito escolar de jovens desses grupos. Dentre tais ações, possivelmente, a de maiordestaque ( a garantia de práticas escolares que questionem a naturalização dos preconceitos e estereótipos. Nesse sentido, importa não apenas tomar contato e contestar as discriminações presentes na sociedade, mas incorporar tal contestação no cotidiano da escola. A prática intercul- tural implica, nesse sentido, a construção de outra dinâmica educacio- nal que propicie a experiência da interação em todos os momentos do currículo, evitando assim ações tópicas que pouco contribuem para a fi) udança. A própria organização da escola e do currículo deve ser posta em xeque: toda a universalidade pressuposta na ação educativa u-m que ser desestabilizada com o questionamento do caráter mono- I 111tural da escola e das escolhas curriculares. Como em Moreira e McLaren, o questionamento das naturaliza- não prescinde, no entanto, de algo comum a todos, sob pena de I educação ampliar as desigualdades sociais e as discriminações. Di- ft'r mtemente do autor, no entanto, Candau procura definir ocomumZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 1 1 1 I lerreno da própria interação cultural, advogando que ele integra I'otl ticamente as diferenças. Nesse sentido, o comum como direito de lodo à educação precisa ser reconstruído de modo a que todas as ult Iras sejam capazes de se reconhecer. Na definição do comum, a utora lança mão da hermenêutica diatópica de Boaventura de Sousa ,11110 ,indicando que o diálogo intercultural é produzido no interstí- 111 ontre as culturas e objetiva ampliar a consciência de que elas são 111' ora velmen te incompletas. Em resumo, Candau inverte a polariza- u rntr univcrsali mo e relativi mo,t rgum ntando que a educação 11111'111' II de-r I SI'!' dir .ito univ 'rs. I I, lodos 11,1 m idida em que re- 111111' .1 VV.tlllll I'" culturas I clrlillllolll' , 194zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACEDOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA É no sentido de que não basta conhecer as diferenças culturais, (- preciso reconhecê-Ias e valorizá-Ias, que os discursos de empodera mento vêm ganhando destaque na discussão intercultural de Candau. Ele aparece em duas vertentes que se complementam: oempoder: mento dos sujeitos e de suas culturas no ambiente da escola e oempn deramento social de grupos minoritários. No primeiro, a autora trai" do resgate das histórias de vida dos sujeitos e das comunidades comi1 forma de ampliar o contato com a diferença. Consciente dos perigo de visões românticas que essencializem as identidades dasminoria Candau salienta a necessidade de cuidado para que o caráterdinânu co da cultura não se perca. Destaca a interação e o hibridismod.1 culturas, que se modificam no contato e no reconhecimento doOUII'II Além de trabalhar para o empoderamento dos grupos dentro da ~itI Ia, a autora defende políticas públicas de empoderamento, que possoI111 fazer face aos mecanismos estruturais de discriminação edominz "11 sem as quais não há mudanças profundas. Com suas diferenças e aproximações, tais autores têmbusc "" •• fazer face às demandas apresentadas pelas sociedades multicultur.u reconhecendo os conflitos e buscando formas de superá-los.A Prol '11 aceitação da multiculturalidadecomo descrição do mundo s1.11 levado a interagir com teorizações pós-modernas e pós-estruturm I não é tão simples definir o que é sociedade ou emancipação, ju, IIt social, identidade ou cultura comum. Com toda a dificuldad illl empreitada de definição desses (e de outros) termos apresenta, bll"t \I fazê-lo porque, sem isso, preocupações como emancipação do Stlll1II e igualdade teriam que ser reconfiguradas. A dimensão epistemológica da centralidade da cultur No capítulo 1, apresentamos em linha g rai a' ríl ir.\. 1'11I pelo estruturalismo ,principalm nl , p 10 Iós- -strulurulh 11111 concepçõ S r', líst: s ds Mod rnidad '.No que con icrn ':\ cIIIIll1I i da 1(\(Hidi\III,II,I.\is ríli<l1SIo 1(\I1"1.'l'I't'Il Il'ndid.l.. 1\,\('illlll'· IIIII TEORIAS DE CURRÍCULO 195 mos o movimento dos estudos culturais surgidos em meados dosanos I Q50. Cumpre ressaltar que a tradição dos estudos culturais não inven- ta a cultura como temática; apenas a elege como problemáticadistinta l\ relevante para o entendimento do social. Propõem uma novaforma de encarar o social, razão pela qual, nos currículos contemporâneos da área de Educação, os estudos culturais se apresentam comoalter- nativa ao que se conhece pelo nome genérico de Fundamentos da lducação. Em linhas gerais, pode-se dizer que os estudos culturais se preo- ltlpam com os nexos entre cultura e poder. Operam com conceitos obre os quais já discutimos, tais como representação, hegemonia e ill .ologia. Na verdade, embora apenas agora estejamos nomeando os ludos culturais como tal, um de seus precursores foi Raymond iIliams, cujo trabalho vimos mencionando em vários capítulos ao longo deste livro. Se dividirmos os estudos culturais em duas fases ,1 culturalista e a estruturalista/pós-estruturalista -, perceberemos 1"1'há uma forte relação entre tais estudos e o currículo. Aotratarmos máticas tipicamente curriculares, como o conceito de currículo ocul- I, ,\ seleção e a distribuição do conhecimento por meio do currículo, c ultura da escola, a emancipação como projeto educacional, dialoga- IIIS, sem nomear, com a tradição dos estudos culturais. Em sua abor- Igem culturalista, os estudos culturais se preocupam fundamental- u-nte em entender os significados que as classes trabalhadoras r orporam em suas culturas, enfatizando a ação dos sujeitos sobre as truturas sociais. Mais do que isso, no entanto, a obra pioneira dos rlturalistas estabelece um novo lugar para a cultura, demonstrando 11 questões econômicas e sociais, assim como as transformações Iori as, são culturais. N te capítulo, vamos no deter na virada estrutural! pós-estrutu- 1dlls tudos culturais ocorrida nos anos1970, quando, comparti- lido muitos argumentos com os culturalistas, a ênfase desses estu- i' I locou para a linguagem. Como nosso foco são as leituras t'. rruturais, curnpr vitar a asso i(;:-0 direta, já bastante difun- LI.I'1\In- I ':-lI11ti 1), ' cullu r, is C PÓS-lsi1'11I111'" Iismo. V, I r ssaltar que 196zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACEDOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA a segunda fase dos estudos culturais engloba estruturalistas marxistas, como Louis Althusser, e não marxistas, como, por exemplo, Claudc Lévi-Strauss. Enquanto os primeiros destacam a categoria ideologia, desenvolvida em bases estruturais, Lévi-Strauss se dedicaao estudo da cultura em analogia com a linguagem, entendida como o seu meio principal. Os quadros de referência (linguísticos e de pensamento) usados pelos grupos para entender suas condições de existência - ,\ cultura - funcionariam como a linguagem, produzindo sentidos pOI intermédio de relações que se dão no interior de práticas significantc: O uso da linguagem no estudo da cultura desloca profundamcn te os estudos culturais e é a partir de tal deslocamento que seconstitu '111 os trabalhos do campo do Currículo de matriz pós-estruturalque VI' remos neste e no próximo capítulo. Ainda que a dimensão epistemo lógica ganhe relevo na discussão sobre a centralidade da cultura IltI campo, é importante destacar que esse movimento é possíveltambvru em função de a cultura ter conquistado espaço na organizaçãodoi atividades, instituições e relações sociais. Em texto de grande influcn cia para os estudos curriculares no Brasil-yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAA centralidade dacutuu» notas sobre as revoluções culturais de nosso tempo,publicado original nlI'l\ te em 1997 -, Stuart Ha1l4 distingue duas dimensões dessacentrnh dade. A primeira tem a ver com o que denominamos genericarncnt globalização, facilitada em grande medida pelo progressotecnolój;n 11 que encurta distâncias e possibilita a interação instantânea entreSI 'lI I tos e culturas. Embora salientando os aspectos homogeneizadon» ,li globalização sobre a cultura, Hall destaca a impossibilidade de ,,,111 ração total. Ainda que as culturas locais passem a ser referen i.1\I.\ uma cultura global, também se ampliam as possibilidades d C(lltl\! nicação entre elas, possibilitando o fortalecimento de laços loca is I' \1 o autor, se é verdade que os efeitos da globalização são sentido' I I todos os cantos do planeta, é verdade também que se tratad,' 11111 sistema que não afeta da mesma forme lodo o mundo n m sul!Illll 4. IIALL, Stuart. A cntralidadc d,l (\01111101 1111101 11111" ". "'V"ilIÇO('H 1'1011111,11 .I. 11 temi o,mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAl:tlIIC IIÇ rlO r" 1~(,lIlitllllft', l'orto 1\1('1\"'" v •• 11 o 10 I. 1/0 1"l/d('/. 11)1/7. TEORIAS DE CURRÍCULO 197 completamente as tradições forjadas pelos povos. A própriaimposição d princípios de mercado a todos os povos, com as desigualdades que cria, acaba por fazer ressurgir os traços culturais dos grupos que pre- tende apagar. Assim, a proliferação de culturas subalternas é um efeito diferenciador da própria globalização, ela é uma dascausas da maior visibilidade multicultural. Resumindo, para Hall, acentralida- de da cultura advém, em grande medida, da transformação das esferas tradicionais da sociedade - econômica, social, política e cultural- e tem enorme impacto de transformação do cotidiano. Essa dimensão substantiva da centralidade da cultura não está , necessariamente, vinculada a uma mudança epistemológica.É possível Iidar com ela com as ferramentas da teorização crítica, comovimos na s ção anterior e como ficará explícito na análise dos textos recentes de I Ienry Giroux. A centralidade da cultura nas sociedades contempo- râneas tem, no entanto, outro componente fundamental para sua manutenção: a mudança de paradigma no que tange à produção do I onhecimento, denominada, por Hall,virada cultural. Trata-se do des- 10 amento dos estudos culturais em direção a abordagens pós-estru- turais que, como vimos no capítulo1,implica dar destaque à linguagem 11,1 onstrução e circulação do significado, concebê-Ia como instituinte: 1.1 não reflete o mundo real, mas o institui.É importante relembrar I" ' ao nos referirmos a instituir o mundo, queremos dizer dar-lhe ontído, inseri-lo em jogos de linguagem e sistemas de classificação 111\' permitem que ele seja definido desta ou daquela forma. Assim, ,IIl e trata de advogar que o mundo real não existe fora dos sistemas . significação, mas que seus sentidos são criados por tais sistemas. ",I Hall, essa nova compreensão da linguagem colocou a cultura no ,,,I ro da cena, afinal, esses sistemas de significação que permitem 111 Iruir sentidos são a própria cultura. Nesse sentido, todas asinsti- IlIlll" e relações sociais, todos os processos econômicos,sociais e ,11/ ico são cul turais. Novamente, é importante salientar que Hall 11 propõ um redu ionismo ao cultural, rn: advoga que toda prá- \ ,o 'inllel11 11111,1dirn in ão ultural ou 11111.\d imcnsão de significa- , 1'1\10\111'01, Jldld 1',1 ,um curr Ivl' di '111 I I', LOPES • MACEDO 198 ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAintuito dos estudos culturais na demonstração da centralidadeda cultura não é, como alguns críticos têm acusado, despolitizar a discussão sobre a contemporaneidade. Ao contrário, como salienta Hall na parte final do referido artigo, é a partir do reconhecimento dessa centralidade que se torna possível entender a relevância que tem assumido os processos de regulação da cultura (inclusive naforma de políticas oficiais). Não é novidade que a cultura é governada :ant.o por mecanismos explícitos de censura quanto por formas menosóbvias do controle operadas por instituições, pelo mercado ou mesmo pela trt dição. Ao se considerar que a ação social e a conduta dos sujeitos têm uma dimensão cultural ou discursiva, está-se indo um pouco além " dizendo que a cultura não é apenas regulada, mas regula.Qualquer que seja a ação humana, ela não ocorre fora de sistemas de significado ela se dá em arranjos de poder discursivo ou simbólico. Um dosmil tivos que, para Hall, explicam o movimento contemporâneo nos nl: do de uma maior regulação da cultura, com o fortalecimento do11\11 ralismo, é a capacidade da cultura de regular. Essa regulação ocorre por meio de vários mecanismos, masI 1111 ca é completa. As normas tácitas de conduta, os valores tidos011111 comuns a todos guiam as ações dos sujeitos, fazendo-os agir em d I11 ções previsíveis, muitas vezes, sem se darem conta. Os sistema' ll.l sificatórios que constituem cada cultura e que permitemoperaçôc: ,I comparação também operam no sentido de regular culturalm1111' \I sujeitos. Podemos dizer que, de forma geral, a regulação visa a iIlll'~ dir que as ações sociais se desenvolvam na multiplicidade decn til I! em que isso poderia ocorrer e que os sujeitos sejam diferentes d.HI'III que já está programado.É sempre, portanto, uma exclusão,um.i » I de força. Isso não implica, porém, que se possa viver sem1.1' .1 I regulação, as práticas sociais seriam mais do que aleatórias, Sl'11I I nificado. Como vimos no capítulo1 e abordaremos maisadiautv 1I te capítulo, tanto a regulação da cultura quanto a regulação< Ird I I cultura não conseguem podarorn] I 'I. m nt o excc sodI' ,"111 ti próprio dos si t ma di urs ivos plI' l'(lll Iilu('rn i) ultura. 11.1 ,I 1111 se ntidos qlll' I'S("I i111 (' qUI' ).\,11',11111'111 ,IIUI , i\li\id.Hk dl' 11\1111.111' TEORIAS DE CURRÍCULO 199 O contato do campo do Currículo no Brasil com os estudos cul- turais, ocorrido ao longo da segunda metade dos anos 1990, foi forte- mente marcado pela discussão da regulação do e por intermédio do currículo. Numerosos textos analisam as consequências da globaliza- ção sobre a cultura, destacando seu potencial homogeneizador ou, em menor número, as possibilidades de fuga; denunciam a regulação dos sujeitos operada por artefatos como filmes da Disney ou de Hollywood; tratam os dispositivos pedagógicos como discursos reguladores; pro- põem uma abordagem cultural do currículo, entre muitos outros temas. Inicialmente, tratava-se, em sua maioria, de traduções de artigos norte-americanos divulgadas no país graças ao esforço editorial em- preendido por Tomaz Tadeu da Silva, as quais foram se somando t xtos oriundos de pesquisas realizadas no país, especialmente no Rio Crande do Sul. A importância das abordagens pós-estruturais para os estudos culturais tem óbvio impacto na literatura sobre currículo que interfa- l' -ava com tais estudos. Tal literatura é marcada pelo diálogo com .iutorespós-estruturais, especialmente Foucault, central nesse primei- ro momento na análise da regulação através do currículo. Essa guina- d.l não leva, no entanto, ao abandono de preocupações centrais da tvoria crítica: muitos estudos permanecem atrelados à denúncia das deologias,enquanto outros têm por horizonte projetos emancipatórios I.ira a escola. Ainda que a combinação entre pós-estruturalismo e , 1'\1 amento crítico seja de difícil sustentação teórica, no campo do 'urrículo, essa combinação está presente em muitos estudos de gran- li, impacto. No capítulo sobre emancipação, explicitamos essaoscila- Il na obra de Peter McLaren e Henry Giroux, o que, de outra forma, I. também presente na discussão multicultural de Antonio Flavio ,)I' 'ira que apresentamos na seção anterior. Por sua relevânciapara dls ussão de cultura, retomemos a obra mais recente de Giroux. omo já visto, Giroux é um autor ligado ao que se poderia chamar I l'n am nto político no Currículo, para quem a principal função da 111101 ~a rnan i, ',50do sujeito. N 'SSI' scntid ,é classicamente um \11111" vin ulndo , h'mia ríti 'sdl' ,1'111\ 1"(',110 I tanto, definiu-se 111\11111)) .111\111 1111'111"1'.ldo com asqll('~IIII' 11.11 ullurn. r.l:1,;-()p Ia qual 200zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACE DOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA dialogou por muitos anos com a obra dos teóricos de Frankfurt. Na virada dos anos 1990, Giroux caminhou na direção de discursos pós-modernos, feministas e pós-coloniais, incorporando mais central- mente a cultura em suas discussões sem, no entanto, abandonar a centralidade da emancipação. A proposta do autor passou a seincor- porar ao que há de progressista no pensamento pós-moderno (segundo critérios modernos de justiça social), ao seu projeto moderno de escola, mantendo a crítica ao qu considera regressivo - consumismo,celc bração apolítica da cultura, entre outros. Esse movimento de incorpo ração do pós-moderno não redunda numa postura abertamente pós-estrutural, mas também não a rechaça como um todo. Em texto, mais recentes, nos quais discute a prática curricular como prática cul tural e apresenta os professores como trabalhadores culturais, Girou opera com autores pós-coloniais de matriz pós-estrutural como Stur II Hall e Homi Bhabha. Ainda assim, talvez seja mais adequado dizer q ur se trata de um autor que dialoga com o pós-estruturalismo e com \1 pós-modernismo na problematização do currículo, mas é claram nlt vinculado à teoria crítica nos argumentos que utiliza para tratá-Ia. Em uma de suas obras mais recentes, denominadayxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAAtos impuro a prática política dos estudos culturais,publicada originalmente em20()(l Ciroux" identifica a cultura como capital político, na medida em tl'lI se trata de uma força pedagógica capaz de legitimar relaçõese prátir.r sociais. Assumindo uma leitura crítica, indica que a política cultui "I envolve relações de propriedade, controle e acesso a bens materiui: I simbólicos e está claramente vinculadaà distribuição de pod r \' , formação de identidades individuais e sociais. Ainda que setrate \1. uma coletânea de textos, talvez seja possível dizer que a obra gir.1 "111 torno da defesa da cultura como lugar para a luta política, ent ndond« o professor (e a pedagogia) como um dos protagonistas dc lul.: Mantendo intacta sua histórica posição de que o profe'SOl" di' I ser um intelectual público de oposição, Giroux localiza aluts pullll! I 5. GIROUX, Henry.mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAA Ios inuntros. a pn'ilil'.1 polllir.1 dos .studos 1111111"1;. !'.1I111 I, I Artes M dicas, 2000. TEORIAS DE CURRÍCULO 201 no terreno da cultura. Fala, portanto, em trabalhadores culturais - el volvendo professores, artistas, jornalistas, advogados e outros tra- balhadores - cuja tarefa seria redefinir o trabalho cultural como cida- dania insurgente. Trata-se de um projeto de empoderamento apartir da constatação de que toda experiência cultural tem força educacional. O conceito de cultura utilizado pelo autor, embora varie ao longo do livro, aproxima-se do definido por Williams: um terreno contestado em que os sujeitos constroem suas relações com um mundo. Trata-se de um espaço de produção simbólica que produz artefatos com gran- de potencial pedagógico, dentre os quais o autor destaca os filmes, os livros, os programas de TV, as tecnologias de informática. Trata-os como discursos culturais que visam à regulação dos sujeitose que precisam ser criticados por uma pedagogia comprometidacoma ci- dadania. Nesse sentido, a função da pedagogia seria explicitar os nexos desses discursos com o poder e as suas consequências materiais na manutenção das desigualdades sociais. Do ponto de vista metodoló- gico, tanto a leitura crítica desses bens quanto o investimento na pro- dução de artefatos alternativos são apontados como produtivos. Uma tal pedagogia não fica, para Giroux, restrita ao terrenoda educação. mas deve ser praticada por todos os trabalhadoresculturais. Ela é performática no sentido de que envolve a ação política de inter- mção de professores e intelectuais eticamente comprometidos com ,I responsabilidade social. A ação política desses sujeitos está direcio- nada para a rejeição de todo tipo de determinismo e para o desenvol- imento de projetos que substituam os binarismos excludentes por n'presentaçôes mais complexas dos sujeitos e das comunidades. É um Irnbalho colaborativo, centrado no local- sem esquecer seus vínculos F,lobais - visando a reconstruir os espaços culturais e as esferas pú- hli as colonizadas por perspectivas liberais. Essa obra, como os demais textos recentes de Giroux, ofereceum 111'ligant exemplo de como a importância dos estudos culturais de III.!triz pó - istrutur, l Iran cend a utilizr ;"0 d a perspectiva como 11.l.vl' ri \1.°oIlIllIr 111 'ra orna isti: illlllllid.1('ntr di urso,termo ttltliz.lllop.ltol ,"11'11'111,losll'I1S ulturu] 1IIII10Ii\lI, qll's5 tratado 202zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACEDzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA como conteúdo de sua pedagogia crítica (filme, programa de TV etc.), e realidade material. Nesse sentido, se apropria da centralidade d.t cultura em sua dimensão mais substantiva e da ideia de que a cultura é regulada e regula os sujeitos. No que diz respeitoà dimensão epi. temológica salientada por Hall, a incorporação é ambígua.Iimitando-sr' aos bens simbólicos. Os filmes, por exemplo, são discursos produtivos, capazes de construir materialidade, mas segue existindo uma realid.i de para além deles ou de qualquer discurso. Uma leitura pós-estrutural do currículo: cultura como sistema de significação Conforme já explicitado, estudos culturais e pós-estrutural iSIIItI não são sinônimos, mas, ainda assim, são termos fortementeassociar I1I no campo do Currículo (e não apenas nele). Há, como vimos, UIIII vasta tradição dos estudos culturais cujo diálogo teórico prefer 11\1.11 não é com o pós-estruturalismo, assim como a possibilidade de im 1\1 poração de temáticas caras aos estudos culturais sem que isso imp Iilllll assumir uma abordagem pós-estrutural. A confusão talvez sejusti fill'll no entanto, pelo seu contrário: os estudos pós-estruturaisreml'1I-1I1 necessariamente à cultura. Trata-se de uma afirmativa perigosa '1111 precisa ser mais bem explicitada. Assumir a perspectiva pós-estrutural implica, como desta.1 l lnll ao descrever a dimensão epistemológica da centralidade daullut aceitar que todo e qualquer sentido somente pode ser criad dl'lI[1 de sistemas de linguagem ou de significação. Não há sentid11.\ 1111 em si, na materialidade; ele depende da inserção dessa rnat riuli. 1.\1\ em sistemas de classificação e em jogos de linguagem. Há, por' ('1111.\1 múltiplos aspectos da materialidade que nãoão utilizado' ru 1\(111'1 ção das coisas e que, por isso, pa am d p rbidos orno "1' 1II existissem. A or da pJ ,por mplo, ' usr j, ara non t'M.I I 11 e,pori (,~obst'rv,d< orno aractcnsticn qu lif'r'l 'i.)(I,', "111111 nqu: I 10o Iorm.ito d,1s unhas 0110t.uu.mho do, d('do,' I)\IIH.11,1, TEORIAS DE CURRÍCULO 203 do em consideração para tal fim. Pensando assim, é o ato de nomear q üe constrói a diferença e não o contrário.É a linguagem que institui a diferença e é, assim, cúmplice das relações de poder: aquilo que se sabe é movido por uma vontade de poder, assim como o poder exige que se saiba sobre aqueles que serão, por ele, governados. Esse é o núcleo central do pensamento pós-estrutural, em que saber epoder stão atavicamente interligados na instituição do "mundo real". Parece óbvio que esse "mundo real" não é natural, concreto, obje- tivo, material, mas simbólico. Seus sentidos são construídos pela lin- guagem, pelos sistemas de significação que nada mais são do que a própria cultura. Os sentidos são, portanto, instituídos pela cultura e a atividade de conferir significado é, nessa perspectiva, sempre um pro- ( ISSO cultural. Cultural e discursivo, posto que cultura e linguagem se confundem (se inventam sentidos, as práticas culturais sãolinguagens). O currículo é, como muitas outras, uma prática de atribuir signi- li ados, um discurso que constrói sentidos. Ele é, portanto,uma prá- I1 a cultural. Note-se que aqui estamos assumindo uma perspectiva nova no que tangeà relação entre currículo e cultura que nos acompa- nhou, de forma diluída, nas seções finais da maioria dos capítulos dI' ste livro. Não estamos tratando a cultura como objeto de ensino nem 'I' nas como a produção cotidiana de nossas vidas. Estamos operando um uma compreensão mais ampla de cultura como aquilo mesmo 1\1 permite a significação. Trata-se de uma perspectiva muito utiliza- 1.1pelo campo do Currículo a partir dos anos 1990, suportadaem numeres teóricos, dentre os quais se destacam Foucault, Derrida, 1)('1 uze e Guattari. Destacaremos, nesta seção, o trabalhode Tomaz 1.ld u da Silva por sua importância para a teoria curricular no Brasil, pe ialmente por sua produção (e pela sua atuação na formação de (' quisadores) na década de 1990. primeiro aspecto a considerar na apropriação do pós-estrutu- hsrno realizada por Silva é que ela se deu aos poucos ao longo de \I,' obra: c. ulor migra da p rsp tivs ríli <, pa ando a incorporar, nn r.rlmcntc com I'('slri Õ 'S, ti t ri, S I (l,' I', t ruturais. Diferentemen- dI' muito: (' .\lIdIlIHI, do carn] D, 1\111111.111111,I',' II incorpora ão e 204zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACE DO dá de forma significativa. Como nosso interesse é destacar a teoriza- ção mais propriamente pós-estrutural do autor, enfocaremos seu trabalho a partir de meados dos anos 1990 quando a maioria dos textos assume esse tom. Antes, porém, de passar a tal análise, é im portante ressaltar que a obra de Silva nunca abandona por completo a teoria crítica, ainda que esse distanciamento tenha se ampliado I 01 virada dos anos 1990. Um exemplo típico do deslizamento entre t () ria crítica e abordagens pós-estruturais é a preocupação com a manu tenção das estruturas da desigualdade que, segundo o autor,podem estar se fortalecendo com a ênfase do pensamento pós-moderno 1111 microtexto e com a valorização da diferença. Com vistas a um proj« to de combate a tais estruturas, em muitos textos, surge a defesa di' que os professores assumam uma postura crítica - baseada emdi' cisões de ordem moral, política e ética - em relação ao currículo, ( IgII próximo à proposta de intelectual público de Giroux. Tal postura ., contraporia ao projeto neoliberal e neoconservador que, por comph xos e eficazes mecanismos de significação, vem redefinindode form.i global as esferas política, social e pessoaL Como em outras ár as II I vida social, na educação estaria em curso a construção de umal'!ll temologia social que limita, discursivamente, as possibilidade, ,I conceber esse mundo fora do contexto neoliberal e neoconserv.ulot que precisa ser combatida politicamente. No plano epistemológico, o afastamento de Silva da teoriaÇI'II" I se consolida pelo diálogo preferencial com Michel Foucault, mas 1.1111 bém com os estudos culturais de Stuart Hall, as teóricas fernini I I Derrida, Deleuze e Guattari. Algumas temáticas passam a s r l'llll II numa obra cuja tônica é apresentar aspectos da teoria pó -strulm 1 lista que podem ter impacto sobre a discussão curricular. mni: d, tacado desses aspectos talvez seja a vinculação entr ab rl' I 1111, central no pensamento de Foucault, e que Silvad snvolvc VIII 1111' meros textos. Tendo a teoria crítica como contrap nlo,O , ulru ,!" tiona a assunção de que conh cimento e sab r onstituam f01l11 libertação, esclarecimento e autonomia. D fcnd \< posi <10 I (l, I' 1111 tural dc qu não há itua ão do não podcr.mas sim urn c•.'I.l\lol"'111I TEORIAS DE CURRÍCULO 205 nente de luta contra posições e relações de poder. O poder é produtivo, não apenas coercitivo, e não emana de uma única fonte, mas se apre- senta como micropoderes descentrados. Esse passa, portanto, a ser o horizonte onde se inserem as ações políticas no âmbito do currículo que não podem ser niilistas, cínicas ou desesperadas. Salientando o caráter difuso dos mecanismos de regulação e controle, nos quais mesmo as pedagogias críticas estão implicadas, o autor aponta a desconstrução de binarismos como teoria/prática, sujeitoz objeto, natureza/ cultura e o questionamento de todo essencialismocomo estratégias fundamentais de luta. Toda a discussão dos vínculos entre saber e poder se faz no quadro da chamada "virada linguística", ou seja, na perspectiva deque o mundo é construído na e pela linguagem, sendo anterior ao sujeito. Novamente confrontando a teoria crítica, Silva propõe o questiona- mento da filosofia da consciência: não é possível, neste quadro teórico, l.rlar em um sujeito ou em uma consciência autônoma. Ao sujeito I onsciente, o pensamento pós-estrutural contrapõe um ser multiface- LIdo, descentrado, que convive com a instabilidade e a provisoriedade di' discursos múltiplos e das realidades por eles construídas. O diálo- ~o com Hall e, especialmente, com Derrida, permite ao autor ampliar ,'U questionamento do sujeito moderno, diluindo a subjetividade na h' lualidade: o sujeito não é um ser autônomo que usa a linguagem, 111,\ algo inventado por ela. A virada linguística implica também, como vimos, uma crítica ao 1111;itivismo epistemológico (e às metanarrativas) que é desenvolvida IIIr ilva em diferentes momentos com finalidades múltiplas, dentre quais a mais relevante talvez tenha sido a reconceptualização da Il'nria curricular. Descrevendo as categorias que usamos para definir Ihvidir o mundo como epistemologias sociais que nos fazem refletir, 1'1 l' interpretar os objetos da maneira que fazemos, o autor redefine I I urrf ulo (e as t orias curriculares) como uma (ou algumas) dessas l" Ic mologias, Isso significa que o próprio currículo (e as teorias m ricularesl ron lillli um dos nexos ntrc ab repoder.Eleéumdos !.llIlll1ios 1oII'lilId.lIl" dl'('onh im -nto 10 indivíduo, implicados em 206zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACE DOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA estratégias de governo, portanto, buscando a produção de sujeitos particulares. É uma tecnologia de governo, produz identidades, como analisaremos no próximo capítulo. É nos trabalhos da virada dos anos1990 para o novo séculoglH' Silva trabalha mais intensamente os nexos entre currículo,práticas di' significação e representação, que estão na base do entendimento di I currículo como algo produtivo: o currículo produz identidades. Eu: obras como OyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAcurrículo como fetiche,de 1999,6Pedagogia dos monstros' Identidade e diferença,8ambas publicadas em2000, esses nexos são (' plorados. Na primeira, o currículo é definido a partir dasmetáfora prática de significação, representação e fetiche. Após enfatizar a ('11 ticas às concepções realistas de conhecimento e às visões essencialist.i de cultura, Silva defende a definição do currículo a partir de um I 'li tendimento dinâmico de cultura. Tal compreensão liga-se àidéia III que a cultura relaciona-se à produção de sentidos, desenvolvida dl'll tro de um sistema linguístico. É, portanto, uma prática produli I criativa, em relações sociais que, por sua natureza, são sempre m.n t I das pelo poder. Ao produzir sentidos na cultura, os sujeito (' 10111 buscando obter determinados efeitos de poder; não se trata de 11111 prática ingênua, e tais efeitos são mais efetivos quando fixam p si I de sujeitos, criam hierarquias e favorecem assimetrias. Osef il(1 ti. sentidos que a cultura busca construir são, portanto, claramente 111 culados à produção de identidades. A metáfora da representação também utilizada por Silv.1111 definir o currículo numa perspectiva pós-estrutural é ap1'1, s (11" I forma de fazê-lo, posto que ela também é um sistema de signifk011 Justifica-se, portanto, pelo crescente debate sobre apossibilid.uh I representação num mundo em que as certezasepistemológi .1. 'I vaíram. Não há correspondência entre mundo real eonhcc illlt 111 portanto este não mais representa aquele. Ao contrário,ão os, i. 1I 111 de significação que dirigem a construção de rcpr ntaõ 'S, o 11"1',1' 6. SILVA,Tornaz Tad LI. currt ulo ('01110fl'lÍl'lw, !l1'lo l Iorlzunt ': A"II nlil ,I, 1""'1 7. II.VA, 'Iomn« 'I;HII'lI,mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAP crlll.'\og ill rio ., 1111,,"'11111;,111'10l'orl/llIlh" AlrI 11111.1, '111111 li '11 VA, 11111111/IIld"1I IrI,'III"/,,c I,',' rll/f"'''\'' 11,,11111111 ""11,' AIIII'IIII, .1, 1111111 TEORIAS DE CURRÍCULO 207 si só, torna fundamental entender quem tem controle desses sistemas, j' que nos obrigam a representar (falar) de uma determinada maneira. O currículo seria um desses sistemas de significação que produz uma representação do mundo. Na perspectiva pós-estruturalfoucaul- tiana predominante na análise de Silva, a ideia de representação se liga à episteme clássica em que as palavras representam as coisas- o que temos denominado realismo que, como vimos, deixa rastros que ex- trapolam esse período histórico. Numa perspectiva mais ampla, inver- tendo a ideia de que as coisas são representadas pelas palavras, o pós-estruturalismo assume que os discursos constituem a realidade e torna essa realidade construída, uma representação, seu objeto de es- Iudo. A representação é um discurso (não necessariamente na forma li texto) e cria coisas que, se não são materialmente concretas, têm efeitos reais ou efeitos de verdade. Obviamente, portanto,essas repre- , cntações estão imbricadas em relações de poder: do poder que define os discursos constrangendo o que pode ser representado e efeitos de poder criados por essas representações. Parte considerável desses ef itos de poder tem a ver com a definição da identidade dos sujeitos, (I que será objeto de discussão no próximo capítulo. Como prática de significação e como representação, o currículo J oderia ser, então, redefinido, a partir de Silva, como uma prática f rodutiva de significados, uma representação, que se dá dentro de -l.ições sociais assimétricas, visando a efeitos de poder dentre os quais t' destaca a produção de identidades sociais. Como vemos, não há vnhuma menção específica às culturas nesta definição, não há refe- ncias a artefatos culturais - o currículo age como cultura e a cultu- I' a própria produção de sentidos dentro de um sistema de signifi- oc -, e essas mudanças são cruciais na forma de entender as 1.1 Õ s entre o que chamamos de culturas no mundo multicultural. colonialismo e currículo: hibridismo cultural P6s- olonl.ilh mu (-11m t rm que tem 1 'Higrk do, classicamente, IlIlItI,1 Ol" 11'11111.1' '1111' hllSli n '111('11111'1 ti. ""I'irOS 1 olíti o , ociais 208zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACEDOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA e culturais da colonização política em países que se tornaramindepen- dentes a partir de meados do século passado. Do ponto de vistaepis- temológico, não se pode falar em pós-colonialismo: há estudos pós-coloniais marxistas como os há pós-estruturais, devendo-se aind: considerar abordagens multirreferenciadas ou que dialogam com vertentes teóricas pouco conhecidas pelo Ocidente. Nossa apropriação do termo para a discussão da questão da cultura no campo do Currí culo (no Brasil) será, p rtanto, nada ortodoxa, comotem acontecido em diferentes áreas das ciências sociais e das humanidades.Entende mos pós-colonialismo como perspectivas que lidam teoricamente com a resistência a todas as formas de globalismo e universalismo pres 11 tes nas manifestações contemporâneas. Em sua vertente pós-estrutu rnl, julgamos que os discursos pós-coloniais podem ser uma ferram nttl útil para a compreensão dos fluxos culturais contemporâneos, contra pondo-se à ideia de diálogo multi ou intercultural. Trata-se de um.i perspectiva que relê a diversidade de culturas sob a ótica dofluxo " do hibridismo. Os autores que privilegiamos neste capítulo buscam tratara '111 tura como sistemas de significação e de representação, negando 1'11 caráter estático e destacando os processos híbridos pelos quais as -ul turas estão sempre a se constituir. Embora guardem algumas apro t mações, suas abordagens variam em relação à radicalidade qu' I.UI ao caráter fluido da cultura, que envolve maior ou menorafastanu-n to da noção de cultura como repertório partilhado de significados, I11 dito em uma palavra, como "coisa". Por sua importância nosC ludll mais recentes do campo do Currículo no Brasil, tomemos Nestor ,,111 I I Canclini e Home Bhabha (e Stuart Hall já abordado) comox 1111'111 das diferentes formas como a cultura como processo híbrido dr('IIII' sentação pode ser apropriada. García Canclini é um dos mais importantes teórico latino""11 ricanosdocampodacultura.Emsua brayxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAultur«mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAIlÍb ridns,q puhlu ,111 originalmente em1 89, anali a a ntrada na I ós-m< d rnid: til' 1111111 li. ('i\N( 'I INI, N,' l'lI (:,11,1.1 (',,11111 '1 /'.1111,1 /,11 /', 1'1" 01,· 1.1111'li' 1:.1 111111.1" 111"'1, IlJti'l TEORIAS DE CURRÍCULO 209 América Latina que não chegou a viver a Modernidade. Para isso, pera com a categoria hibridismo cultural. Embora não se trate de um texto que possa ser chamado de pós-estrutural, ou mesmo de pós-mo- derno, o livro se apropria da crítica ao essencialismo cultural para questionar o fundacionalismo que sustenta a valorização datradição. Nesse sentido, ainda que não desenvolva explicitamente a ideia de cultura como prática de significação, a rejeição de García Canclini de que haja algo essencial que permita definir uma cultura, mesmo um passado histórico partilhado, o aproxima do conceito de cultura que queremos construir ao longo deste capítulo. É com sua formulação sobre as formas de operação do hibridismo cultural que García Canclini contribui para o questionamento da exis- tência de uma essência que define uma dada cultura. Usando a imagem de uma região de fronteira na qual convivem diferentes culturas nacio- nais (e línguas), o autor busca entender o hibridismo cultural latino-ame- ricano por intermédio de três mecanismos que denominou: a descoleção dos sistemas culturais organizados, a desterritorialização dos processos simbólicos e a consequente expansão de gêneros impuros. O mecanismo de descoleção parte da ideia de que há sistemas culturais organizados, construídos pelo pensamento Moderno, para em seguida propor que esses sistemas têm entrado em colapso.A Modernidade é vista como um discurso que localiza os bens culturais l'm conjuntos nomeados - culturas - hierarquizando-os e estabele- c mdo diferenças entre eles. A crítica a esse discurso propicia, segundo li autor, a multiplicação dos processos de descoleção, esmaecendo as Ironteiras entre os diferentes conjuntos e propiciando a transição de 1,1 imentos entre eles. A força da descoleção se amplia, na medida em qu ela vem se associando a estratégias de desterritorialização dos processos simbólicos. A relação entre cultura e território, geográfico 1111social, perde sua naturalidade, facilitando a reterritorialização das produções simbólicas novas ou tradicionais. Tais produções passam a "I' rnai fa ilmcntc r alocadas em novs t rritórios, mecanismo que é "lIlI r' rclativn t' parcial. D ol ão c retcrritorir lização facilitam o tl'n','iro IlH'I'.I,!i '"11 dI'. crito 101" ,,11'(',.1 (',lIwlillÍ:" t' I' nsão d f(n - 210zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACE DOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ros impuros, que habitam a interseção entre os conjuntos construídos pelo discurso Moderno. O termo hibridismo usado por García Canclini se refere a fenô- menos anteriormente descritos como mestiçagem ou crioulização, mas os amplia para dar conta dos processos contemporâneos em um mun- do globalizado. No mundo globalizado, todas as culturas sãode fron teira, na medida em que os fluxos de sujeitos e de bens simbólicos ,(' ampliam exponencialmente. Nas fronteiras, o caráter híbrido das cul turas é acentuado e as ilusões de coleções que a Modernidade cri" tornam-se difíceis de sustentar. Claro que fora do mundo globalizado e fora das regiões de fronteira, tais coleções são também apenas ilusõ ..mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAI mas sustentadas por aparatos discursivos poderosos. Podemos reler o argumento de García Canclini a partir da no,I( I de poder. O sistema discursivo Moderno constrói suas coleções-cultu ras e as estabiliza por intermédio de um conjunto de ações, dentre" quais a expansão colonial da cultura europeia. A clara definição (I. coleções é uma operação de poder que justifica a hierarquia entre ,I culturas-coleções. A globalização tem contribuído para a desestal ill zação dessas culturas-coleções, explicitando um poder cada dia 111,11 oblíquo e descentrado. Dois aspectos, no entanto, precisamser r (I •• dos: nunca houve uma estabilização total e poder oblíquo nãosigl1lll ca a ausência de relações de poder ou de hierarquias. O retrato ti 11 García Canclini produz do hibridismo mostra a dinamicidadede 11111 processo que sempre existiu e sempre existirá. Se a dinamicidade da cultura proposta por García Canlini 1\ pode ser construída sobre um terreno em que as culturas nada l0111.1 essencial, seu ponto de partida - as culturas-coleções mod ri ,I. dificulta a reconceptualização da cultura como prática de signific,I 11' Ainda que o autor saliente, inúmeras vezes, que essas colçõ S sao 1,11 mesmas híbridas, esse caráter fica pouco claro a hibridaçã,1(''''''' definindo como mescla de sentido pr viam nt partilhe 10. I', 11 certa forma, homog n izad p I di ur o M d rn . Já rn l Iorni Hhabht o on -ito d(' hibridismo CUILUl'lll" 1'1111I n ais (lclI"tlllh'111('II r,lI'j tor ti· j1I',ílil"I ti" igllifj( tl dO ,1lrihlljdo. (ltllll TEORIAS DE CURRÍCULO 211 ra. Em sua principal obra - OyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAlocal da cultura'? -, que reúne um con- junto de artigos publicados na segunda metade dos anos 1980 einício dos anos 1990, o autor define cultura como prática de enunciação. Trazido da linguística, o que nos interessa nesse conceito ésua demons- tração, nesse campo teórico, de que não há nenhuma unidade oufixi- dez primordial nos sentidos ou símbolos de uma cultura. Cadavez que são lidos, eles são reapropriados de outra maneira. Issosignifica que a leitura é também ela uma enunciação. Pensando assim, pode-se dizer que não há reprodução na cultura, apenas produção. Igualmen- te não há sentidos puros, mas híbridos. Como fizemos no Capítulo 1, em que essa discussão foi abordada em outros termos, precisamos dar conta de explicar como os sentidos e símbolos da cultura parecem se repetir se são sempre distintos. Ou, em outras palavras: como entender que haja algo parecido nos sentidos e símbolos produzidos, que as diversas leituras pareçam se aproximar? Sem isso, é difícilaceitar a ideia de que a cultura é produtiva, é enunciação. Como Bhabha assume uma postura pós-estrutural para tratar os f nômenos do colonialismo, sua resposta a essa questão não é muito li istinta da que oferecemos no Capítulo 1. Ele identifica a existência de ti uas dimensões da cultura: a pedagógica e a performática. Associa a primeira à tradição e aossentidos partilhados e define a segunda como 11mprojeto de sentido, o que a primeira vista reedita a dicotomia re- produção/produção. A diferença, no entanto, está no fato deque Hhabha não propõe que se entenda a cultura como um somatório -a rultura é isso e também aquilo. Ao contrário, propõe que a cultura são os símbolos e sentidos produzidos num processo ambivalenteque t '11 volve reiterar e negar ao mesmo tempo. Essa ambivalência é própria d,) cultura e é ela que possibilita algum controle dos sentidos ao mes- 1110tempo que inviabiliza que esse controle seja total. Nessa perspectiva, a cultura é sempre híbrida, independentemen- 11' li ' qualquer in t ração entre grupos culturais diversos. O hibridismo Ignifi a, ntão. npcna que não há ultura pura,sónovascriaçõesa 10.11111\1111/\11111111(1/11I ti/ "ti, ulturn. 11.'1\1I111,IIlilo·11111"1,1d'l IJliMC,OO:!. 212zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACEDOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA partir de fragmentos de significações. As culturas são sempre misturas de outras misturas e não há origem para esta ou aquela cultura. A própria menção a culturas não é mais do que ficção. Existe apenas um fluxo de transformações, um movimento incessante de produção de sentidos que se utiliza de fragmentos de sentidos deslocados no tem po e no espaço. A nomeação das culturas que as cria como coisasé um ato de força que visa a controlar os sentidos, e o faz de forma parcia I A discussão de Bhabha sobre as culturas híbridas caminha, pOI tanto, em duas direções que nos interessam: uma explicitando (l mecanismos de controle sobre a circulação de sentidos (os ato di força), outra destacando a impossibilidade total desse controle. 'Ialvv os primeiros nos pareçam tão óbvios que não precisariam sequer ,,'I explicados. Tendo em vista as colonizações políticas, sangrenta I agressivas da primeira fase dos colonialismos, os mecanismos d Ç\lll trole pela violência física são por demais conhecidos. Mas va \(01 1 I acrescentar a eles o controle realizado por vias simbólicas- a implI sição das línguas dos colonizadores, dos conceitos de ciência econl« cimento europeus universalizados, de uma nova história - 1'1'yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA grosso modo,assemelha-se ao que experimentamos hoje como gloh,tll zação. O colonialismo opera, simbolicamente, pela fixação de s n Ih I,• preferenciais, eliminando a possibilidade de pensar e dizer dif 'f'\'llII É isso que busca fazer quando substitui as línguas nativas pl'ld ti. colonizador. É isso que está em jogo quando a ciência iluminisl , apresentada como aquela que tem as respostas para controlaros I, I1I menos naturais. É também isso que quer conseguir quandononu'uu sujeitos como "outros", criando estereótipos. Talvez sejaimpoi t.tll destacar que o colonialismo não opera por mentiras: é posív ,I ,I I' municar na língua do colonizador, a ciência tem respostap, I'" \1111 série de questões, as características usadas para nomear p d'111" I I O que ele faz é reduzir todas as possibilidade a uma,invi.iluf II outras significações e representaçõe. a', ornovimos, a (01111' I operação do pod r na 1 itura pó - truturt I. S pc r,sscmo» aqui, não hav 'ria hibri lisrno, mas ,1Iwn,I. 1111\I~ fio til si.'I"ll1.1 d,' :ignifiti1 i\() (' r 'pn', 1'111,1,10,ou \'jol, d,' 11111111 TEORIAS DE CURRÍCULO 213 Por isso é importante destacar o segundo movimento presenteem habha como em outros autores pós-coloniais: a impossibilidade de controle total, que não se apresenta como resistência ao poder (ver teorias da resistência no capítulo 8), mas como uma ambivalência que está inscrita no poder. Para caracterizar tal ambivalência, Bhabha per- corre diferentes caminhos em diálogo com as mais diferentesteoriza- ções. Analisa, por exemplo, o estereótipo como fetiche (Sigmund Freud) como imaginário (Jacques Lacan) e a ambivalência da linguagem (Julia Kristeva, Mikhail Bakhtin) para suportar sua afirmativa da am- bivalência da dominação. Na mesma linha assumida, como vimos, por I Iall, Bhabha argumenta que a diferença (ou o que chamamos dere- sistência) não ocorre apesar dos globalismos, mas são partedeles. A ambivalência da dominação pode ser exemplificada nas situa- .ões coloniais de forma simples sem lançar mão dos diálogos antes referidos. O paradoxo do poder colonial é que, ainda que se apresente I orno absoluto e ilimitado, ele só pode ser garantido pelo reconheci- 111ento do outro como aquele que se quer dominar.O massacre puro e imples do outro impede a ação do poder colonial, ele precisa do outro, que, dessa forma, funciona como uma lembrança de que a dominação 1\,10é completa (absoluta e ilimitada).O colonialismo tem que conviver I'nlpre com o outro aterrorizante que é a condição de sua dominação isso envolve uma negociação. Ainda que essa negociação se faça em 111dições claras de as simetria de poder, ela expõe a insuficiência dos 1..,1mas de significação e representação da cultura global, mostra que ,I" não é capaz da fixação absoluta que busca. Há sempre um espaço I.ira o hibridismo, para a irrupção de sentidos que não podem ser fi- "do pelo controle colonial. hibridismo cultural não é, portanto, a superação do conflito ulturas nem a busca de diálogo ou negociação entre elas, para I ti LI. i o relativismo ou a tolerância talvez trouxessem a resposta. Ele 1"11)ta para a com prcensão de que aseu 1tu ras que identificamos como tllt'l\'nlc são sist 111(1d signifi a ão .rcprcscnta ão que sepropõem IIp.lz('sdt'f'dl.lI'O .'t'nli los.rnas nâo ] 0(\"1111'\'.111cnt fazê-lo.Dizer 1"1""'1'1111111.1',1I1hlhrid,ISt'OnWSIIIIl'l"I'dl 1'1qlll'(· I,lsn~() ist m 214zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACEDOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA na forma de fixações absolutas, que elas são espaços-temposde pro dução de sentidos regulados por um poder incapaz da regulação total. No campo do Currículo, os conceitos de cultura e hibridismo podem ser bastante úteis e têm sido efetivamente utilizadospor difc rentes autores." A discussão multicultural que aponta paraconceito, como diálogo e negociação entre culturas preexistentes, entendida fundamentalmente como conteúdos curriculares, poderia ser reescril •• em outras bases. Tomando a ideia pós-estrutural de que os currículo são cultura e, portanto, sistemas de significações e representações, 11' trazem a marca colonial da regulação, como explicitado na seção prv cedente. Pretendem direcionar os sujeitos, criar efeitos de poder, I' I' fazem. No entanto, como cultura, são também necessariamente hfbu dos, ambivalentes. Não são, portanto, capazes da regulaçãototal I' I por isso que outros sentidos sempre irrompem. Não importa o qUt 11111 sistemas de significação que chamamos de Iluminismo ou de princípio de mercado sejam poderosos instrumentos reguladores, a difercn •• sempre irrompe. A diferença não é a outra cultura, mas a criação ,li novos sentidos no ambiente regulado pelos sistemas discursivos I1I gemônicos. Essa criação só é possível porque o que denomina11 \11 culturas marginais não estão na margem, mas no centro mesmo de , discursos como a perturbação necessária que os estabiliza ed SI',I.I biliza ao mesmo tempo. 11. FLEURJ, Reina Ido.yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAEducação iniercultural: mediações necessárias. Rio de [anci ro:1)1' 2001. LADWIG, James G. Primeiras aproximações a uma pedagogia mundial.ln: AR('IA I I MORElRA; A. F. B.Currículo na contemporaneidade: incertezas e desafios. São Paulo:01'11' 'IK LOPES, Alice Casimiro. Política de currículo: recontextualização e hibridismo, 11// "li/fi Fronteiras, v. 5, n. 2, p. 50-64,2005. Disponível em: <www.curriculosemfrontCiras.org -. MACEDO, Elizabeth. Currículo e hibridismo: para politizaro urrf ulo orno ',111111 , I cação em Foco, 2004. MACEDO, E. Como a diferença passa do centroà margcmnos urrf ulos: o ',\11ti" 1I Educação & Sociedade (Impresso),v. 106, p. 23-4 ,2009. CARVALH ,Jan l M.mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAcotid iano esco lar C O /110 C O l/lllllitllll/(, ri/' afl'/os. 1\'11' 'poli: Ill' I I 2009. KI.IAR, ('111'i11 • t'/,t1 l1g llg ill ill//'I'(I(1/I1Id üu rlifl'rI'lIr": t' I' I' Olllro 111111í'~llvI'll. I' 111 Ill" d. nciro: 1)1'& A, 1(11)I TEORIAS DE CURRÍCULO 215 Defendemos que redefinir a questão cultural no currículo em termos pós-estruturais e pós-coloniais é tarefa fundamental para se pensar uma ação educacional contra a discriminação. Essa ação envol- ve, a nosso ver, a recusa tanto à ilusão (e violência) da substituição da cultura do aluno por uma cultura elaborada quanto ao endeusamento das culturas nativas por certo culturalismo neocolonial. Uma recusa que se fundamenta na denúncia de que não há tais culturas como oisas, a não ser como estratégia de dominação, como narrativas que buscam evitar que se pense diferente. Ainda que, por suposto, tais repertórios de significados partilhados continuem a ser nomeados 'orno culturas, advogamos a necessidade de desconstruir diuturna- mente os mecanismos sociais que permitem essas simplificações, libe- rando os fluxos que se espremem em qualquer classificação. 232zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACEDOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA sujeitos por meio de atos de criação. Um currículo instituinte em con- traposição à ideia de currículo como expressão do instituído é defen dido por nós (no capítulo anterior), aproximando currículode culturt e definindo-o como enunciação. A tarefa de tornar o currículo instituinte envolve desconstruir o. discursos que visam a controlar a proliferação de sentidos,dentre 0, quais podemos destacar as identidades estereotipadas e fixadas " própria teoria curricular ue as apresenta como horizonte. Trata- (', portanto, de um movimento no sentido da desconstrução de hegemo nias, não com a esperança de substituí-Ias por contra-hegemonias, m.u com o objetivo de impedir que se fortaleçam de tal maneira qu,I' torne impossível questioná-Ias. Tal movimento implica umaação Fli lítica, conceito este que também precisa ser compreendido em base discursivas e que abordaremos no próximo capítulo. 233ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA C a p ítu lo 1 1 P o lít ic a No que concerne à teorização sobre política curricular, muitos (' tudos se cruzam com as teorias da correspondência e com as pers- p ctivas que vinculam o currículo ao poder, à estrutura econômica, à ItI ologia e à hegemonia, abordadas nos capítulos1e 3. Tal tendência ( pertinente, sobretudo, nos estudos que assumem uma orientação estrutural no âmbito da pesquisa em política educacional. Mas também ( possível identificar estudos sobre política que têm por base discursos urriculares e a história do pensamento curricular e que buscam cons- lituir uma teorização específica sobre políticas de currículo. Com esse enfoque específico, as políticas curriculares ainda não 11 m sido destacadamente investigadas. Na Inglaterra, é possível iden- Ilfi ar trabalhos importantes na segunda metade dos anos1980. Mas I 11<1cimento desse campo, com questões próprias, no Brasil enos I í.idos Unidos, pode ser situado apenas no início dos anos1990, [u.mdo se ampliam os estudos sobre o tema, mesmo em autores com 1111 (I nas investigações em política educacional. Em parte, isso pode (" (' plicado pelo fato de terem se multiplicado as pesquisasvoltadas .11.1 o nt ndim nto do impacto dos vários documentos curriculares ,"dm~ido '111 um P ríodo interpretado orno o auge de reformas 1IIIIIwf"is. t\lgul1, mar o' d p río 10 podern s r identificados no !tI di' I'l'fllllllol hllll,lcionnl n, 1111'1.11("'", di' IIJHH, 1)( governo de 234zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBALOPES • MACEDO Margaret Thatcher(1979-1990,pelo Partido Conservador); na produção de documentos curriculares nos diferentes estados dos Estados Unidos, em muitos casos pela primeira vez na história, durante o governo Ronald Reagan(1981-1989,pelo Partido Republicano); e na publicação dos parâmetros e diretrizes curriculares nacionais durante o período do governo Fernando Henrique Cardoso(1995-2002, pelo Partido da Social Democracia Brasileira) no Brasil. Esses documentossão então analisados como parte dos efeitos dos processos de globalização eco- nômica e cultural e de seus impactos na educação. Há que se ressaltar, contudo, que tanto no Brasil quanto no ext rior muitas das vezes os trabalhos sobre políticas são mais voltados, crítica dos documentos e projetos em curso do que às investigaçõ H teóricas e empíricas sobre políticas de currículo propriamente ditas. Nesse âmbito, vários trabalhos críticos ao neoliberalismo, considera !tI como ideologia do mundo capitalista global, contribuem para prodli zir um interesse de pesquisa na política curricular. Para isso, também compete uma compreensão da políticaqUI' valoriza sua dimensão formal: diretrizes e definições apresentada '111 documentos assinados por instituições executivas e legislativa dI! Estado. Nesse sentido, a política é interpretada como um guia par" " prática, seja para orientar de forma técnica como a prática dev :;,'1 desenvolvida, seja para orientar de forma crítica como a prática d I ria ser para assumir determinadas finalidades de transformação s ci.d Com isso, e também em virtude de grande parte dos prim 'il'(1 estudos sobre políticas curriculares serem de cunho estrutural, I II sível identificar nesse domínio a mesma separação entre proposto I prática, currículo formal e currículo em ação, destacada noCapítuh I I como uma das marcas do campo do Currículo. Muitas investigo(li' focalizam as orientações apresentadas às escolas, visandoa (.n.111011 sua pertinência para a prática, suas finalidades ou suas cara t rí. 11101 Outras destacam como a prática impl m nta u nã as rinl,l '111 Por vezes, tambêm, tai ori nta Õ ti s50 ornprc ndidz S 1110pn 11I11 ções de govmos ou do .sta lo, vim Id.1I.IH ( li nao t s ag"ot (i,IS 11111111 I, tcrais. M,li. f('u'nll.'tlwnlt', UlllllIIllI, 1'111,'l' .1tl\1li.indo os I'. 11111" TEORIAS DE CURRÍCULO 235 que buscam superar tal separação entre proposta e implementação, be como entre estrutura e agência, por meio de abordagens discur- sivas, na direção do que já foi apontado nos Capítulos 8, 9 elO. Neste capítulo, procuramos dar conta das principais questões relativas a essas investigações, ressaltando alguns importantes autores que ganham destaque nos estudos realizados, particularmente na In- glaterra, país onde esse campo tem desenvolvimento mais amplo. Iniciamos com uma breve apresentação de algumas das principais concepções de política que norteiam os estudos em pauta, priorizando a forma como abordam a relação entre projeto e implementação.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA C o n c e p ç õ e s d e p o lít ic a e a s e p a ra ç ã o e n tre p ro je to e im p lem en ta ç ã o A concepção de política como guia para a prática se faz muito presente nos estudos políticos de cunho administrativo quedominam as investigações sobre políticas educacionais até os anos1970. Nesses t tudos, uma pesquisa em política tem por finalidade produzirum .onhecimento visando a melhorar a prática pela intervençãoadminis- trativa. A sociedade capitalista é considerada como um dadoyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAa priori, cabendo ao investigador compreender a política do Estado capitalista " m questioná-lo. Essa perspectiva não é grande mente modificada I elos estudos de análise política, após os anos1970. Tais estudos se d têm na busca de soluções para os problemas de implementação das políticas e, assim, permanecem baseados em uma separação entre pr jeto e prática. Os investigadores na perspectiva administrativa e na de análise política acabam atuando mais como uma comunidade epistêmica, ou II'j, , uma comunidade de especialistas numa dada área de conheci- 111-nt qu atua, obr tudo, para produzir diagnósticos e apresentar