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(...) [O] conhecimento do outro não quer dizer apenas que é o outro que o possui mas que meu conhecimento comporta dentro dele esse olhar do outro e, também, que o outro possui saber e essa relação que eu estabeleço sempre envolve a dimensão desiderativa, além da cognitiva. Na Escola, onde o sujeito epistêmico se relaciona com seus pares e com o educador, a socialidade vai sendo esculpida nos corpos. É nessa instituição o lugar onde se passa o saber sistematizado e, nela, um sujeito se constrói com a mediação do outro que é o grupo (no sentido lato). Nesse lugar de passagem do conhecimento (porque o conhecimento é algo que migra) também vai-se esculpindo nos sujeitos a vestidura da socialidade com seus silêncios, conflitos, lacunas, palavras, ritos. Na escola, ao operarmos com os aspectos lógicos e lingüísticos, da linguagem e do número, costumamos excluir da cena todo um campo de expressão que não envolve apenas esse modo de estruturação do pensamento. (LINHARES, 2003, p. 205). OBSERVAÇÃO Embora a escola seja, presumidamente, o local privilegiado do conhecimento na sociedade, parece que ele não é usufruído pelas pessoas que a frequentam. Esta constatação revela um profundo desconhecimento do outro, da sua realidade, da sua necessidade, dos seus sentimentos, expresso na falta de cuidado, de atenção. Diversos estudos constatam o fato de que a cultura dos educandos não é devidamente considerada pela escola, que a rejeita sistematicamente, seja ignorando-a, seja desqualificando-a. A consequência dessa atitude pedagógica é, como relatei há pouco, a impossibilidade dos alunos constituírem a sua subjetividade, com a reinterpretação da sua cultura. Até quando ela permanecerá surda, estática e insensível a tais denúncias? Existe nas escolas uma multiplicidade de vozes, de corpos e movimentos. Movimentos e corpos que se apresentam de forma diferenciada nas posturas de professores e alunos. Sem precisar dizer, é possível saber que pela “fala” do corpo a identidade de seu dono e a sua posição no contexto educativo: os que “ensinam” e os que “aprendem”. Estes últimos, crianças e jovens em geral, possuem hábitos, atitudes e comportamentos que revelam um nova cultura, em muitos casos ignorada (em alguns casos, rejeitada) pela escola. (KENSKI, 2000, p. 126). Observei, então, em um movimento de construção teórica que foi se urdindo aos poucos, que a expulsão da cultura do educando, em suas formas expressivas, poéticas e o trabalho com esta forma de conhecer que é a arte, se fazia a expensas da mutilação de dimensões vitais. O modo como as classes populares se situavam socialmente no mundo do trabalho e a forma de a escola pública funcionar como agenciadora de mão de obra fazia com que a cultura escolar fosse uma cultura do sacrifício. Já que para as classes populares trabalho é sacrifício, a escola funcionaria como um treinamento para a sujeição. (LINHARES, 2003, p. 27). REFLEXÃO “De que forma desenvolver uma experiência educativa que estabeleça a relação direta com o mundo real, com o trabalho, seus fins e conseqüências para o homem, a sociedade humana e a natureza?”. (SOARES, 2000, p. 53). Para confrontar essa alienação, dentre outras coisas, é necessária uma nova compreensão da relação entre as partes e o todo, que, superando a visão mecanicista, reducionista, atomística, que enfatiza as 43