Prévia do material em texto
METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E-book 4 Daniel Romão da Silva Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DE MATEMÁTICA PARA EDUCAÇÃO INFANTIL �������������������������������������������������������4 BRINCADEIRAS POPULARES E MATEMÁTICA ����������������������������������������������� 6 Faz de conta �������������������������������������������������������������6 Jogo de amarelinha �������������������������������������������������7 Brincadeiras de pontuação �������������������������������������7 Brincadeiras de roda ������������������������������������������������8 BATALHA DE DADOS ��������������������������������11 CORRIDA DE AVIÕES DE PAPEL ����������17 BRINCANDO DE AMPLIAR FIGURAS � 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������30 CORRIDA DE AVIÕES DE PAPEL �������������� BRINCANDO DE AMPLIAR FIGURAS ������ CONSIDERAÇÕES FINAIS ��������������������������� SÍNTESE ��������������������������������������������������������31 2 INTRODUÇÃO Neste módulo, analisaremos uma variedade de jo- gos e brincadeiras organizados como sequências didáticas que podem ser utilizados para trabalhar conhecimentos matemáticos na educação infantil� As brincadeiras e os jogos selecionados têm como eixo orientador os objetivos de aprendizagens e de- senvolvimento do campo de experiências Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações, tais quais descritos na BNCC (BRASIL, 2015)� O ob- jetivo do módulo é, portanto, oferecer ao estudante referências de atividades de jogos e brincadeiras a partir das quais possam ser objetivadas as discus- sões já travadas anteriormente� 3 SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DE MATEMÁTICA PARA EDUCAÇÃO INFANTIL Gostaríamos de apresentar algumas situações prá- ticas para a utilização em sala de aula da Educação Infantil. Entendemos que isso se configura em uma oportunidade para o estudante poder articular as discussões já realizadas anteriormente com vistas a uma utilização efetiva na educação� Desse modo, estruturamos algumas sequências didáticas sobre os seguintes objetivos e aprendizagens de desen- volvimento, conforme descritos na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2015): (EI02EO06) Respeitar regras básicas de con- vívio social nas interações e brincadeiras. (EI02ET08) Contar oralmente objetos, pesso- as, livros etc., em contextos diversos. (EI03ET07) Relacionar números às suas res- pectivas quantidades e identificar o antes, o depois e o entre em uma sequência. (EI03ET08) Expressar medidas (peso, altura etc.), construindo gráficos básicos. 4 Todas as sequências desenvolvidas neste módulo apresentam os elementos a seguir: ● Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento� ● Materiais necessários� ● Preparação do espaço e dos materiais� ● Devolução� ● Institucionalização� De uma forma geral, esses elementos estão presen- tes em grande parte das sequências didáticas� Os dois últimos (devolução e institucionalização) foram colocados assim a fim de expressar nossa filiação teórica, sobretudo aos trabalhos de Guy Brousseau� Apesar de a maioria das sequências didáticas de matemática se basearem nesse mesmo referencial, trata-se de termos que não surgem de forma explícita tão frequentemente� Contudo, antes de passar às sequências didáticas propriamente ditas, faremos um apanhado de algu- mas brincadeiras populares bastante comuns em escolas e que têm um grande potencial para o de- senvolvimento de conhecimentos matemáticos em crianças� Podcast 1 5 https://famonline.instructure.com/files/171898/download?download_frd=1 BRINCADEIRAS POPULARES E MATEMÁTICA Algumas brincadeiras fazem parte do repertório cul- tural de crianças, pais e professores� Via de regra, não são brincadeiras ou jogos pensados explicita- mente para ensinar; entre eles, podemos citar: faz de conta, amarelinha, pular corda, cantigas de roda e brincadeiras de pontuação� Observaremos, a seguir, algumas possibilidades de aprendizagem de conhe- cimentos matemáticos que tais jogos e brincadeiras têm a oferecer� Faz de conta O faz de conta se configura como um jogo simbólico e pode despertar uma série de situações em que a criança imita eventos da vida cotidiana, por exem- plo situações de compra e venda� É comum crian- ças fantasiarem um cenário de “vendinha”, “lojinha” ou “feira” e trabalharem números, valores e trocas naturalmente� 6 Jogo de amarelinha O jogo de amarelinha apresenta uma variedade de possibilidades para desenvolver conhecimentos so- bre contagem e sequência numérica de 1 a 10 de modo lúdico� Além desses fatores, “a amarelinha é uma brincadeira que desenvolve noções espaciais e auxilia diretamente na organização do esquema corporal das crianças” (SMOLE, 2014a)� Brincadeiras de pontuação Dentre as brincadeiras de pontuação podemos citar uma grande diversidade de regras, estilos e propos- tas� Brincadeiras como basquete e futebol podem ser também enquadradas como tal, mas neste caso estamos considerando brincadeiras como boliche, tomba-latas, jogo de dardos etc� Essas brincadeiras prescindem da anotação da pontuação, pois ela é sua motivação: quem derrubou mais, acertou mais etc� Com isso, surge a necessidade de registrar as pon- tuações� O registro, por sua vez, assume uma grande diversidade de entendimentos e formas de repre- sentação, visto que podem ser a notação numérica convencional, mas também via risquinhos, bolinhas, empilhamento de peças do próprio jogo etc� Esses jogos envolvem, consequentemente, estratégias de contagem e comparação dos registros de pontuação� 7 Por fim, há também necessidade de antecipação das jogadas� Por exemplo, em um jogo de boliche, uma criança derrubou 5 pinos� Quantos pinos eu preciso derrubar para vencer? Brincadeiras de roda Além de trabalharem aspectos como ritmo e musi- calidade, as brincadeiras de roda auxiliam o desen- volvimento sensório-motor. No caso específico da matemática, é salientado que (...) as brincadeiras de roda favorecem o de- senvolvimento da noção de tempo através da sincronia entre movimento e música e do próprio ritmo da música, noção de espaço, a possibilidade de trabalhar com sequências através das letras e ritmos das músicas e, em algumas rodas especificamente, podemos desenvolver noções referentes a números, tais como a contagem e a noção de par (SMOLE, 2014, p. 73). Por fim, cabe salientar que as brincadeiras estão à disposição das crianças não somente na escola, mas em diversos espaços, o que lhes confere autonomia para continuar se desenvolvendo mesmo fora da escola, e isso lhes possibilita também agregar novos significados aos conhecimentos colocados em jogo. Dentro do ambiente escolar, entretanto, tais brinca- deiras podem inclusive ser problematizadas e trans- formadas em sequências didáticas� A construção 8 de várias amarelinhas no pátio pode despertar dis- cussões não somente sobre a sequência numérica, como também sobre formas, medidas e a própria relação com o espaço� REFLITA A seguir, vamos adaptar uma entrevista entre um pesquisador e uma criança de 5 anos� Nela, é possível verificar como algumas crianças lidam com situações conflituosas ao longo do desen- volvimento dos conhecimentos matemáticos� (A criança tem à mão cédulas de dinheiro de brincadeira)� Pesquisador: E como é que você junta mil e quinhentos? Criança: Com esta e com esta (pega uma nota de mil e outra de quinhentos). Pesquisador: E mil e quinhentos, como se escreve? Criança: Não sei� Pesquisador: Tente como você acha que se faz� (A criança pensa por um longo tempo)� Pesquisador: Que números você acha que tem em mil e quinhentos? Tem 1? E 5? E 0? (A criança concorda com a sugestão e escreve 1000500)� Criança: É muito comprido� Pesquisador: E como você escreveria dois mil e quinhentos? (A criança escreve 2000500)� As autoras avaliam que a criança vivencia na entrevista uma situação de conflito: se 1000 se 9 escreve com 4 algarismos(que ela observa na cédula), 1500 poderia seguir o mesmo padrão, porém, em sua escrita (1000500), o número pa- rece “muito comprido”� Assim, salientam que em uma entrevista anterior, a criança havia escrito 3�000 convencionalmente� Observemos a inter- venção realizada pelo pesquisador� Pesquisador: Qual é maior, dois mil e quinhentos ou três mil? Criança: Dois mil e quinhentos. Pesquisador: Qual é maior, dois mil e quinhentos ou três mil? Criança: Dois mil e quinhentos. Pesquisador: (mostrando as cédulas) Qual é maior, duas notas e uma assim (2.500) ou três assim (3.000)? Criança: Três assim (mostrando 3.000). Pesquisador: (mostrando as escritas) E aqui, qual é o maior? Criança: Este (mostrando 2000500). Pesquisador: E não tem importância que com o dinheiro seja maior este (aponta três mil)? Criança: Não� Não importa� Segundo as autoras, a entrevista nos permite concluir que não basta conhecer o valor dos nú- meros para tomar consciência do conflito. As- sim, a criança parece evitar tomar consciência do conflito ao deixar de relacionar a escrita numéri- ca aos seus significantes (valor em cédulas, por exemplo)� Fonte: Lerner e Sadovsky (2001, p.100-101 – Adaptado). 10 BATALHA DE DADOS A batalha de dados é um jogo de regras bastante simples, porém, pode proporcionar reflexões interes- santes aos alunos da Educação Infantil� A atividade deve ser realizada em grupos de dois a quatro parti- cipantes� O jogo desenrola-se em turnos nos quais um jogador lança um dado e pinta em uma cartela quantos forem os espaços que representem o valor tirado no dado� Os jogadores alternam entre as jogadas� Aquele que primeiro completar a cartela vence� Note que, na úl- tima jogada, a criança não precisa tirar no dado o número exato de quadradinhos faltantes� Por exem- plo, se faltam dois quadradinhos e o jogador tirar um cinco no dado, ele será vitorioso� Objetivos de aprendizagem e Desenvolvimento: (EI03ET07) Relacionar números às suas respectivas quantidades� (EI02ET07) Contar oralmente objetos, pessoas, livros etc�, em contextos diversos� Materiais necessários: Dados tradicionais (com pintinhas) e cartelas como a seguir: 11 Preparação: O professor divide os alunos em duplas, trios ou quartetos� Cada aluno recebe uma cartela como a demonstrada acima, um dado e um lápis/giz de cera para marcar a cartela� Devolução: O professor explica a regra do jogo aos alunos: “um de cada vez, vocês vão lançar o dado e pintar o nú- mero de espaços equivalente na cartela� Os demais precisam esperar sua vez para jogar� Enquanto isso, precisam ajudar a verificar se o jogador da vez pintou corretamente os quadradinhos em sua cartela”� Uma questão que o professor pode levantar se re- fere à contagem dos valores obtidos nos dados� É interessante que o aluno sempre diga em voz alta o número que ele obteve (contando com a ajuda dos colegas, se necessário)� Isso pode fazer parte da regra, a depender dos alunos participantes (só é per- mitido marcar na cartela se você acertar o número)� Durante o desenrolar do jogo, o professor pode ve- rificar algumas situações acerca das estratégias de seus alunos: 12 a) A criança tenta copiar o padrão do dado no pre- enchimento da cartela: Nesse caso, durantes as primeiras jogadas, pode ser simplesmente uma opção estética do aluno� Do contrário, ou o aluno não compreendeu as regras do jogo (o que inclui o uso de um dado), ou ainda não consegue efetuar pequenas contagens� b) A criança estabelece uma relação do tipo um para um, ou seja, para cada “pintinha do dado”, ela mar- ca um espaço da cartela simultaneamente, em um movimento de “vai e volta” (o que pode gerar erros como se esquecer de contar um ponto ou contá-lo mais de uma vez)� Isso é um indício de que a criança não consegue abstrair o número de pintinhas do dado como uma quantidade que pode ser representada de outra forma� c) A criança estabelece uma relação entre duas sequências numéricas� Conta no dado: “um”, “dois”, “três”, “quatro”� Marca na cartela: “um”, “dois”, “três”, “quatro”� d) A criança automaticamente estabelece uma cor- relação entre o resultado do dado em espaços a serem pintados na tabela (conforme a familiaridade com o objeto “dado” se amplia, o aluno passa a re- 13 conhecer a configuração das “pintinhas” e associar mentalmente a um número, sem precisar realizar a contagem)� A criança entende que a quantidade representada no dado deve representar uma quantidade de espaços na cartela� Não há para essa criança a necessidade de estabelecer uma contagem um a um que parta da sequência numérica� Ela se pauta pela quantidade que representa o número em questão� É possível que a criança já realize pequenos agrupamentos, por exemplo, se saiu o número 6, ela pinta de 3 em 3 ou de 2 em 2� Nas jogadas finais da rodada, e dependendo do per- fil da turma, o professor pode pausar alguns jogos e problematizar: “quantos espaços faltam em sua cartela? Quem está mais perto de vencer? Você acha que é possível vencer com somente mais uma joga- da? Por quê?”� Institucionalização: Neste momento, é possível discutir com os alunos as estratégias observadas (a, b, c e d), valorizando todas e, caso seja interessante, não identificando os alunos� As estratégias devem ser problematizadas coletivamente (“durante o jogo, eu vi a seguinte es- tratégia��� Alguém fez diferente?”)� Na institucionalização, é também um momento para anotar as estratégias surgidas para que possam ser objeto de discussão em outros momentos: “lembram que naquela atividade alguns utilizaram tal e tal es- 14 tratégias? Ela pode nos ajudar aqui?” etc� Do mesmo modo, esse registro é rico em termos avaliativos, visto que se pode observar como um determinado aluno torna suas estratégias mais refinadas com o tempo e em outras situações� Finalmente, o professor pode apresentar problemas possíveis a partir do contexto do jogo para a discus- são coletiva: a) Um aluno tem a seguinte cartela e é sua vez de jogar� Quanto ele precisa tirar no dado para vencer? b) Após três rodadas de jogo, um aluno tirou no dado 1, 2 e 1, respectivamente� Ele marcou os seguintes quadradinhos� Ele pintou a cartela corretamente? Note que, nesses problemas, retirou-se completa- mente a referência visual do dado, uma vez que in- 15 teressa aqui analisar se o aluno relaciona o número com uma quantidade� FIQUE ATENTO Em atividades de contagem de objetos, a criança associa cada objeto a um número da sequência numérica� Nesse sentido, há necessidade da me- morização da sequência, uma vez que a criança atribui o último número recitado da sequência como o representante da quantidade de objetos contados� Conforme se desenvolve, a criança aprende es- tratégias um pouco mais sofisticadas, como a sobrecontagem, ou seja, a criança consegue ini- ciar uma contagem a partir de uma contagem an- terior, sem a necessidade de recomeça “do um”� Por exemplo, em um jogo, pede-se à criança que diga o resultado final do lançamento de dois da- dos convencionais� Lança-se o primeiro dado e obtém-se 5� A criança conta então as “pintinhas” do dado segundo seus conhecimentos e memó- ria sobre a sequência numérica� Em seguida, lan- ça-se o segundo dado e obtém-se 4� A criança que realiza a sobrecontagem “guarda” a informação do primeiro dado (5) e inicia a conta- gem do segundo dado a partir dessa informação: “seis, sete, oito, nove”� A criança que não realiza a sobrecontagem possivelmente colocaria os dois dados lado a lado e recomeçaria a contagem: “um, dois, três, quatro���nove”� Podcast 2 16 https://famonline.instructure.com/files/171900/download?download_frd=1 CORRIDA DE AVIÕES DE PAPEL Os alunos farão uma brincadeira de corrida de aviões de papel� Após cada um lançar seu avião de papel, a eles será pedido para medir a distância percorrida pelos aviões utilizando fios de lã. Em seguida, utili- zarão os dados obtidos para desenhar um gráfico de barras simples� Objetivos de aprendizageme Desenvolvimento: (EI03ET08) Expressar medidas (peso, altura etc�), construindo gráficos básicos. Materiais necessários: Folhas de papel, tesoura sem ponta, lápis de cor/ giz de cera, novelos de lã de cores variadas. Preparação: Para a atividade são necessários aviões de papel� É interessante que o professor realize uma oficina de dobraduras a fim de produzir os aviões previa- mente� Dependendo do contexto, o professor pode levar os aviões já prontos� Essa atividade precisa ser realizada em grupos pequenos, de no máximo 5 ou 6 alunos, e cada aluno precisa ter um novelo de lã de uma cor diferente� Para a realização da atividade é importante um espaço amplo e livre de barreiras, como uma quadra� 17 Devolução: Primeiramente, é importante que os alunos explorem a área com seus aviões de papel, brinquem, arremes- sem e façam testes� Em seguida, o professor pede que todos fiquem atrás de uma determinada linha. Ao seu comando, cada aluno lançará o avião� Depois de lançado, o avião não pode mais ser movido, e o aluno deve permanecer em sua posição inicial� O professor pode flexibilizar a regra, possibilitando mais de um arremesso e fazendo valer apenas o que chegar mais longe� É importante que, assim que o avião cair, algum tipo de marca seja adicionado ao local, como uma fita adesiva ou um risco com giz; caso contrário, é pos- sível que o vento o movimente� Uma vez que cada aluno tenha feito seu arremesso, o professor pode perguntar qual avião eles acham que foi mais longe? Qual foi menos longe? É possível colocar em ordem as distâncias de todos do grupo? Os alunos precisam responder a essas perguntas sem sair da posição inicial� Com isso, mobilizam os conhecimentos de que envolvem estimativas e aproximações� É possível também discutir com os alunos sobre por que de suas estimativas� Podem surgir respostas interessantes, baseadas na obser- vação do espaço: “o meu avião foi mais longe porque passou a linha da quadra e mais ninguém passou”� Em seguida, o professor deve perguntar sobre as estratégias de como medir as distâncias para ter certeza� Nesse caso, podem surgir estratégias de 18 medição com o corpo (em passos, por exemplo)� Caso ocorra tal discussão, o professor pode discutir com os alunos algumas possibilidades e dificulda- des dessa forma de medição: todos têm o mesmo tamanho? Você conseguiu dar passos do mesmo tamanho até seu avião? Na sequência, o professor pergunta: utilizando es- ses novelos de lã, é possível realizar essa medição? Como? Aqui novamente pode haver um momento de exploração livre, usando o fio de lá para medir rapi- damente outros objetos do entorno� Uma discussão que pode se apresentar é a necessidade do fio estar bem esticado ou não, algo que pode ser experimen- tado com objetos e pequenas distâncias. Por fim, o professor pode pedir que os alunos imaginem um jeito de medir o quanto o avião viajou� Para tanto, os alunos podem ser questionados so- bre o que é melhor medir: a distância entre o ponto onde o avião parou no chão e o local de onde ele foi arremessado? Aluno 1 Aluno 2 Aluno 3 Aluno 4 Aluno 5 19 Ou o que vale é a distância da linha a partir de onde todos foram arremessados? Aluno 1 Aluno 2 Aluno 3 Aluno 4 Aluno 5 Ou ainda a distância de um ponto central comum? Todos os alunos Nesse caso, não é interessante entrar no mérito com os alunos sobre qual a forma mais correta ou justa de efetuar as medições� O importante é que os alu- nos cheguem a um consenso sobre qual é a melhor forma de realizar a medição� A “justiça” do método se dá pelo fato de todos os alunos concordarem com a regra de medição e estarem todos sujeitos a ela� Caso a discussão não chegue a um consenso, o pro- fessor precisa intervir e problematizar as propostas dos alunos e ajudá-los a chegar a um consenso� Entretanto, esse tipo de discussão costuma ocorrer em grupos de alunos mais velhos (talvez com alguns de 5 anos)� As crianças menores tendem a aceitar 20 quaisquer critérios em prol de iniciar a ação de me- dição mais rapidamente e verificar o “vencedor”. O professor então auxilia cada aluno no processo de medição� Novamente se coloca a questão: e como comparar qual é o vencedor? Nesse sentido, a relação entre o “fio mais longo” e “a maior distância” para alguns alunos pode ser difícil� Isso porque o fio de lã agora se configura como uma representação da distância real percorrida� A partir desse momento, não importa mais se os aviões fo- rem ou não retirados do lugar, uma vez que a medida foi preservada na forma do fio de lã. É passível agora de ser comparada, movimentada e guardada� Compreender esse tipo de abstração pode ser difícil para crianças muito pequenas� Entretanto, é funda- mental possibilitar que elas manipulem e comparem os fios para a construção dessa abstração. O profes- sor pede que os alunos, utilizando os fios, decidam quem foi o vencedor� A estratégia mais comum é posicioná-los lado a lado e, finalmente, comparar o mais comprido� Institucionalização: Para esta etapa, é importante abandonar o espaço em que se realizou a atividade de modo a retirar dos alunos as referências daquele espaço em questão� Nesta etapa, é necessário recuperar as experiências e estratégias desenvolvidas, particularmente questões do tipo: como descobrimos quem foi o vencedor? Por 21 quê? É possível mostrar o resultado da corrida de aviões para o resto da turma ou para outras pessoas? Por fim, o professor deve sugerir que façam um dese- nho (gráfico) com vistas a poder mostrar o resultado da corrida para deixar exposto na sala e qualquer pessoa consultar� Apesar de não ser necessário, a fim de conferir um valor social ao gráfico, o profes- sor pode estruturar os eixos usuais x e y, mas sem necessariamente entrar no mérito com os alunos� Torna-se importante, ainda, utilizar uma linha como base, um ponto de partida� Usando uma cartolina e um lápis/giz de cera das mesmas cores dos fios de lã utilizados, o professor se propõe a desenhar os fios de cada um. Para isso, os alunos precisam lembrar não somente qual o fio mais comprido (ou a maior distância percorrida), como também a ordenação dos comprimentos e, mais difícil, estimar as diferenças entre cada um� Em vista da complexidade, os próprios alunos podem sugerir consultar novamente os fios. Então, deve-se uma vez mais esticar os fios no chão. O professor desenha fio por fio (em uma ordem que pode ser discutida coletivamente), utilizando as indicações dadas pelos alunos: “acho que é mais comprido/ curto”, por exemplo� Finalmente, o gráfico obtido como resultado da se- quência didática deve ficar exposto, cumprindo a função de informar aqueles que não estiverem pre- sentes na atividade� Porém, é fundamental que os próprios alunos possam comunicar e expressar, por meio do gráfico, toda essa experiência vivenciada na atividade� 22 BRINCANDO DE AMPLIAR FIGURAS Nesta sequência, os alunos precisam ampliar as figuras compostas por módulos nos formatos de quadrado, triângulo e círculo� Observe, porém, que o desafio da atividade reside no fato de que o desenho de referência e as peças utilizadas para a ampliação não estarão próximas ao local onde a criança fará a ampliação� Desse modo, a criança precisa realizar um constante exercício de antecipação e memória, além de conhecimentos ligados ao reconhecimento das formas geométricas� Objetivos de aprendizagem e Desenvolvimento: (EI03ET01) Estabelecer relações de comparação entre objetos, observando suas propriedades� Materiais necessários: Espaço para montagem das figuras, local para deixar os módulos geométricos e folhas com imagens a serem ampliadas, peças de EVA ou cartolina cortadas em triângulos, quadrados e círculos com dimensões próximas às sugeridas� Seguem as peças e uma su- gestão para os seus respectivos tamanhos: 23 20 cm 20 cm 20 cm 20 cm As figuras ampliadas podem ser produzidas como os seguintes exemplos: Entretanto, para que se justifiquea questão da am- pliação, cada desenho deve ocupar não mais do que meia folha A4� Outro fator a observar é que as cores devem ser ou bastante diversificadas ou todas da mesma cor. Nesse sentido, a única propriedade que a criança pode utilizar para distinguir os objetos será a forma� Preparação: Para essa atividade, deve-se colocar a figura am- pliada em um local de fácil acesso, porém, longe o suficiente para que as crianças precisem ir até o local identificar as figuras de que precisarão. Em outro local deve haver uma caixa na qual estarão arma- 24 zenadas as peças, ou os módulos geométricos� A montagem das ampliações pode ocorrer no chão, tomando cuidado para que cada criança tenha um espaço a ela dedicado e mais ou menos controla- do� O esquema a seguir mostra uma sugestão de organização do espaço para a atividade (as setas representam o possível fluxo das crianças). Desenho para ampliar Módulos geométricos Espaço de trabalho das crianças Organizar esse fluxo pode ser difícil dependendo do número de crianças e do espaço� Uma opção é dividir a turma� Enquanto uma realiza a atividade, a outra está em outro espaço em uma atividade paralela (que pode inclusive ser montar livremente figuras com al- guns dos módulos geométricos)� Outra opção é criar várias estações de desenhos e peças (diferente do esquema anterior, em que há apenas uma estação de desenhos e peças)� Devolução: Na primeira etapa, o professor deve permitir que as crianças manipulem os módulos geométricos livremente, sem a necessidade reproduzir nenhuma figura. Essa livre exploração é importante para a per- cepção de propriedades sobre as formas, como a 25 presença e a quantidade de “pontas” (vértices), de lados retos ou redondos� Encerrada a etapa, o professor guarda os módulos em seu local original e explica a continuidade da atividade: “vamos agora reproduzir esses desenhos aqui?” (mostrando alguns dos desenhos prontos)� Em seguida, propõe que as crianças vão até o local do desenho e o observem� Depois, orienta que eles vão até o local da caixa e peguem as peças que acharem necessárias para reproduzir o desenho� O professor precisa explicar às crianças que não é obrigatório elas pegarem todas as peças� Elas pode- rão voltar ao local do desenho e das peças quantas vezes forem necessárias� A seguir, apresentaremos algumas possíveis situações: a) A criança pega peças aleatoriamente e cria dese- nhos de imaginação, sem se preocupar em reproduzir o desenho a ela apresentado� Neste caso, existe a possibilidade de falta de entendimento da comanda ou uma recusa deliberada� É possível que a recusa possa ser devida à própria dificuldade da atividade, seja pelas várias etapas que a criança deve percor- rer para fazer o desenho, seja pela dificuldade em identificar as formas semelhantes. Uma estratégia é colocar a criança para trabalhar em dupla com outras crianças e acompanhar seu envolvimento� Muitas vezes, a presença de um colega a encoraja a realizar trocas e a superar as dificuldades. 26 b) A criança pega muitas peças de uma única vez. A princípio, isso pode apontar para uma estratégia de antecipação. No entanto, ao pegar peças em exagero, ela não necessariamente revela saber de quais peças precisará. Trata-se mais de garantir que nenhuma peça lhe falte. Deste modo, o professor pode tranquilizá-la no sentido de que haverá peças para todos. Olhando para a atividade em si, o professor pode problematizar o fato de que, em meio a tantas peças, ela se lembrará quais utilizar para reproduzir o desenho? c) A criança pega uma peça por vez� É um caso análogo ao da criança que pega peças em exagero, porém aqui, a criança se fixa em uma peça por vez, ou seja, não há uma antecipação� d) A criança contenta-se com um desenho incomple- to� A criança desenvolve a reprodução até certo ponto e para; satisfaz-se com a figura como está. É possível que ela tenha se desestimulado durante a atividade� Porém, é possível que ela efetivamente considere a figura terminada. O professor pode intervir pedindo que ela observe as peças que ela utilizou e retorne ao desenho para conferir� No caso, é possível pedir para a criança contar as peças utilizadas em seu desenho e conferir com a quantidade de peças do desenho� Institucionalização: Durante esta etapa, o professor pode perguntar aos alunos sobre o nome das figuras representadas nos módulos geométricos (é possível que algumas crian- ças tenham utilizado a nomenclatura convencional ao longo da atividade)� Nesse momento, é importante 27 registrar os nomes (triângulo, quadrado e círculo) na lousa ou em um cartaz e deixar exposto na sala, o que agrega valor social desse conhecimento para crianças� As demais nomenclaturas (vértice, ares- ta, ângulo e área) não precisam necessariamente ser apresentadas a eles, uma vez que tal discussão ocorrerá ao longo dos anos subsequentes no Ensino Fundamental� Em seguida, o professor pode questionar as seme- lhanças e diferenças entre cada uma das três figuras. As crianças podem elencar aspectos como existên- cia de pontas, de lados retos e lados curvos� Nesse sentido, é importante as crianças utilizarem esses aspectos como critério para comparar as figuras: ● Lados retos (quadrado e triângulo) X lados curvos (círculo)� A criança pode entender a ideia de lado como uma “fronteira” para figura, aquilo que limita o que “está dentro” e o que “está fora”� Nesse sentido, justifica-se no pensamento da criança a ideia de “lado reto” e “lado curvo”� ● Existência de pontas: quadrado e triângulo. É possível problematizar com as crianças sobre “qual tem mais pon- tas”, bem como discutir se o número de lados influencia o “tamanho da ponta”. ● É possível também problematizar as composições entre as três figuras: dois triângulos formam um quadrado� Pode-se fazer o mesmo com o círculo? Por fim, nesta sequência didática, espera-se que os alunos tenham aprendido a reproduzir um dado mo- 28 delo a partir de figuras geométricas básicas, como triângulos, quadrados e círculos� Nesse processo, as crianças puderam não somente manipular e perceber semelhanças, regularidades e diferenças entre as figuras, mas também exercitar aspectos como contagem, antecipação de suas ações e de- senvolvimento de novas estratégias para resolver situações-problema� 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste módulo, apresentamos algumas possibilidades oferecidas por jogos e brincadeiras populares ao desenvolvimento de conhecimentos matemáticos na criança, além disso, descrevemos as sequências didáticas Batalha de dados, Corrida de aviões de papel e Brincando de ampliar figuras, todas pensa- das para crianças entre 3 e 5 anos� As sequências trouxeram paralelamente vários comentários sobre possibilidades de intervenção do professor, tendo como base os princípios da didática da matemática� Desenvolvemos as sequências didáticas com base nos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento descritos na BNCC (BRASIL, 2015), como: ● (EI02EO06) Respeitar regras básicas de convívio social nas interações e brincadeiras� ● (EI02ET08) Contar oralmente objetos, pessoas, livros etc�, em contextos diversos� ● (EI03ET07) Relacionar números às suas respecti- vas quantidades e identificar o antes, o depois e o entre em uma sequência� ● (EI03ET08) Expressar medidas (peso, al- tura etc�) , construindo gráficos básicos� 30 SÍNTESE DIDÁTICA DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL BRINCADEIRAS POPULARES Podem se desenvolver também fora da escola; faz de conta, jogo de amarelinha, brincadeiras de pontuação, brincadeiras de roda. SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS • Para a educação infantil: Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento; Materiais necessários; Preparação de espaço e materiais; Devolução, Institucionalização. a. Batalha de dados i. Números e Contagem. ii. Objetivos de aprendizagem e Desenvolvimento: (EI03ET07) Relacionar números às suas respectivas quantidades; (EI02ET07) Contar oralmenteobjetos, pessoas, livros etc., em contextos diversos. b. Corrida de aviões de papel i. Medidas, espaço, representação gráfica. ii. Objetivos de aprendizagem e Desenvolvimento: (EI03ET08) Expressar medidas (peso, altura etc.), construindo gráficos básicos. c. Brincando de ampliar figuras i. Espaço e formas. ii. Objetivos de aprendizagem e Desenvolvimento: (EI03ET01) Estabelecer relações de comparação entre objetos, observando suas propriedades. METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL Referências Bibliográficas & Consultadas BARBOSA, R� M� Conexões e educação matemática: brincadeiras, explorações e ações� Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009 [Minha Biblioteca]� BRASIL� Base nacional comum curricular (BNCC)� 2015� Consulta Pública� Brasília: MEC/CONSED/ UNDIME� Disponível em: http://basenacionalco- mum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_ versaofinal_site.pdf� Acesso em: 15 ago� 2019� BRASIL� SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL� Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil� Brasília: MEC/SEF, 1998� Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arqui- vos/pdf/rcnei_vol1.pdf� Acesso em: 15 ago� 2019� KRAMER, S�; NUNES, M� F�; CARVALHO, M� C� Educação infantil: formação e responsabilida- de� 11� ed� Campinas� Papirus, 1999 [Biblioteca Virtual]� LERNER, D�; SADOVSKY, P� O sistema de numera- ção: um problema didático� In: PARRA, C�; SAIZ, I� http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf (Orgs�)� Didática da matemática: Reflexões psico- pedagógicas� Porto Alegre: Artmed, 2001� MALUF, A� C� M� Atividades lúdicas para Educação Infantil: conceitos, orientações e práticas� Petrópolis: Vozes, 2008 [Bibl MUNIZ, C� A� Brincar e jogar: enlaces teóricos e me- todológicos no campo da Educação matemática� Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010 [Biblioteca Virtual]� SMOLE, K� S� Brincadeiras infantis nas aulas de matemática� Porto Alegre: Penso, 2014a [Minha Biblioteca]� SMOLE, K� S� A matemática na educação infantil. A teoria das inteligências múltiplas na prática esco- lar� Porto Alegre: Penso, 2014b [Minha Biblioteca]� INTRODUÇÃO SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DE MATEMÁTICA PARA EDUCAÇÃO INFANTIL BRINCADEIRAS POPULARES E MATEMÁTICA Faz de conta Jogo de amarelinha Brincadeiras de pontuação Brincadeiras de roda BATALHA DE DADOS CORRIDA DE AVIÕES DE PAPEL BRINCANDO DE AMPLIAR FIGURAS CONSIDERAÇÕES FINAIS CORRIDA DE AVIÕES DE PAPEL BRINCANDO DE AMPLIAR FIGURAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Síntese