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METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E-book 3 Daniel Romão da Silva Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 O DIREITO AO BRINCAR �������������������������4 JOGO, BRINQUEDO E A BRINCADEIRA ���������������������������������������������10 JOGO E BRINCADEIRA NO ENSINO DE MATEMÁTICA ���������������������������������������15 INTERVENÇÕES EM SITUAÇÕES DE JOGOS E BRINCADEIRAS �����������������������18 CONSIDERAÇÕES FINAIS ���������������������� 32 SÍNTESE ������������������������������������������������������� 33 2 INTRODUÇÃO Neste módulo, apresentaremos os aspectos teóricos e alguns exemplos práticos sobre o papel da brinca- deira na educação infantil e, mais especificamen- te, no ensino de matemática. Também refletiremos sobre o papel do professor e quais são as formas de intervenção pedagógica mais adequadas para problematizar as situações de jogos e brincadeiras, de modo a conferir um aprendizado significativo e que não desvirtue a própria ideia do brincar. Por fim, discutiremos o conceito de avaliação na educação infantil, bem como algumas possibilidades de sua efetivação. 3 O DIREITO AO BRINCAR O ano de 2019 foi marcado pela comemoração dos 30 anos da Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) e pelos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos das Crianças (DUDC). Segundo dados da Unicef, a Convenção é o instrumento de direitos hu- manos mais aceito na história, sendo ratificado por 196 países. O direito ao brincar encontra suas bases oficiais na DUDC: [...] A criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras os quais deverão estar dirigidos para educação; a sociedade e as autoridades públicas se esforçarão para pro- mover o exercício deste direito (UNICEF, 1959, Princípio VII). Direito este reiterado pela CDC: [...] Os Estados Partes reconhecem o direito da criança ao descanso e ao lazer, ao diverti- mento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística (UNICEF, 1989, Artigo 31). No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), publicado em 1990 em consonância com a agenda internacional proposta pela ONU e pelo Unicef, reforçou que o direito ao brincar está associa- 4 do ao “direito à liberdade, ao respeito e à dignidade” (BRASIL, 1990, Artigo 15): Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: IV – brincar, praticar esportes e divertir-se (BRASIL, 1990). A importância do direito ao brincar permaneceu cons- tante na legislação educacional brasileira, cabendo citar também a Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998) e a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2015), que entra em vigor a partir de 2020. A presença do direito ao brincar nas agendas e nor- mativas de órgãos multilaterais (ONU e Unicef) e na legislação brasileira reforça a importância de uma perspectiva diferente com relação à criança. Ela não é somente um sujeito que requer cuidados diferen- ciados, como também passa a ser um sujeito de direitos, com seus interesses particulares contem- plados. Ademais, pressiona os Estados a garantirem tais direitos. Estabelecidas as premissas quanto ao direito de brincar, passemos a um ponto fundamental para a discussão aqui proposta: por que é importante a criança brincar? 5 Ao longo da história das ideias pedagógicas e da psicologia do desenvolvimento infantil, vários pen- sadores abordaram o tema e contribuíram para que a discussão evoluísse. Longe de buscar realizar aqui uma revisão bibliográfica, faremos um breve apanha- do de algumas dessas contribuições. As Casa dei Bambini de Maria Montessori são um exemplo claro de espaços que propiciam a experi- mentação e a ludicidade das crianças. Todo o espaço físico tem sido pensado com o objetivo de propor- cionar uma diversidade de experiências sensoriais e motoras. Tal preocupação está presente também na elaboração dos próprios materiais pedagógicos, que consistiam de jogos, brinquedos ou materiais manipuláveis. Todo esse aparato se justifica segundo a concepção de Montessori de que toda criança é dotada de uma mente absorvente, ou seja, munida de um processo inconsciente no qual a criança ab- sorve o mundo ao seu redor para depois analisá-lo (RÖHRS, 2010). Para Piaget (1970), o jogo seria uma maneira de in- tegrar o pensamento à ação, como uma forma de a criança lidar com os problemas fundamentais de qualquer ser vivo, organização e adaptação ao meio. Ademais, a repetição de situações e os jogos simbó- licos implicariam um momento em que a criança se relaciona com o mundo e dele se apropria. Vygotsky (2000; 1978), por sua vez, salientou a questão da criatividade que surgiria naturalmente em jogos e situações de imitação. A brincadeira e o 6 jogo poderiam, inclusive, se atrelar à própria noção de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), uma vez dada situação coletiva e partilhada de muitos jogos e brincadeira, a criança poderia estar sempre aprendendo com seus pares. A partir dessa fundamentação teórica, é possível delinear não somente a importância do jogo e da brincadeira para a criança, como também usar tal concepção como o componente basilar para a cons- tituição de todo um ambiente de educação infantil. O brincar deve ser entendido, portanto, como um ele- mento essencial para o desenvolvimento da criança, não somente em sua faceta cognitiva, mas também social e comportamental. A esse respeito, temos o seguinte: Quando brinca, a criança se defronta com de- safios e problemas, devendo constantemen- te buscar soluções para as situações a ela colocadas. A brincadeira auxilia a criança a criar uma imagem de respeito a si mesma, manifestar gostos, desejos, dúvidas, mal- -estar, críticas, aborrecimentos etc. Se ob- servarmos atentamente a criança brincando, constatamos que neste brincar está presente a construção de representações de si mes- ma, do outro e do mundo, ao mesmo tempo que comportamentos e hábitos são revelados e internalizados por meio das brincadeiras (SMOLE, 2014a, p. 14). 7 Nesse sentido, podemos considerar a brincadeira como uma forma de linguagem, visto que implica o uso e o desenvolvimento de uma linguagem sim- bólica (BRASIL, 1998). Contudo, mesmo havendo delineado uma série de visões acerca das muitas contribuições do ato de brincar para o desenvolvi- mento da criança, parece-nos importante delimitar o que compreendemos ser o aspecto fundamental do direito ao brincar: O brincar é uma ação livre, que surge a qual- quer hora, iniciada e conduzida pela criança; dá prazer, não exige como condição um pro- duto final; relaxa, envolve, ensina regras, lin- guagens, desenvolve habilidades e introduz a criança no mundo imaginário (KISHIMOTO, 2010, p. 1). Sem perder de vista a concepção apresentada por Kishimoto (2010), porém concebendo também o fato de que os momentos de brincadeira são fundamen- tais para o desenvolvimento da criança, nos tópicos seguintes abordaremos elementos que busquem conciliar, por um lado, a liberdade e a desobrigação que constituem o núcleo constitutivo da brincadeira para a criança e, por outro, as possibilidades de se aprender matemática por meio do jogo e da brinca- deira na educação infantil. 8 SAIBA MAIS Assista a Criança: o brincar e o educar. Lugares da infância na educação infantil, uma palestra da Dra. Tizuko M. Kishimoto, realizada no VII Con- gresso Paulista de Educação Infantil (2015), que está disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=M0mYYC0J2l4. Acesso em: 29 out. 2019. 9 https://www.youtube.com/watch?v=M0mYYC0J2l4 https://www.youtube.com/watch?v=M0mYYC0J2l4 JOGO, BRINQUEDO E A BRINCADEIRA Primeiramente, é preciso observar que temos uti- lizado os termos “jogo” e “brincadeira”, ora como sinônimo, ora como um par distinto, porém sem qual- quer preocupação efetiva de defini-los. Existe outro elemento que muitasvezes é utilizado de forma mais indistinta ainda: o brinquedo. Kishimoto (1996) entende o brinquedo como um ar- tefato que pressupõe tanto uma relação íntima com a criança quanto uma indeterminação em seu uso; permite à criança estimular representações em uma ampla variedade de situações. É o caso de bonecas ou carrinhos, por exemplo. Em outras palavras, o brin- quedo pode estimular ou fazer parte de uma também multiplicidade de brincadeiras. De fato, o brinquedo, “enquanto objeto, é sempre suporte de brincadeira; é o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil” (KISHIMOTO, 1996, p. 21). Nesse sentido, a autora define brincadeira como “um mergulhar na ação lúdica” (KISHIMOTO, 1996, p. 21). Há, porém, regras nas brincadeiras que definem as atitudes e o comportamento dos participantes, bem como usos dos brinquedos. Por exemplo, brinca- deiras de pular corda: a corda é o brinquedo que centraliza as ações dos participantes e define as regras da brincadeira. Uma corda pequena pode ser utilizada para uma brincadeira individual, enquanto 10 uma comprida convida naturalmente a participação de um maior número de participantes. As canções, as regras de “entrada e saída da corda” e a velocidade das batidas compõem um conjunto de regras mais ou menos compartilhado por todos os participan- tes. Entretanto, as regras de uma brincadeira não podem constituir uma limitação à ludicidade, sendo constantemente revisadas, adaptadas ou ignoradas pelos participantes em favor da continuidade do ato de brincar. Por seu turno, o jogo pode assumir múltiplas cono- tações exteriores à própria esfera da ludicidade e da brincadeira, expresso em termos como “jogo político”, “conhecimentos em jogo” ou mesmo na noção de “jogos de linguagem” de Ludwig Wittgenstein. No entanto, o jogo aqui considerado articula-se tanto com as concepções de brinquedo quanto de brin- cadeira. É o caso do xadrez, por exemplo. Tal qual a corda, o tabuleiro e as peças centralizam a brinca- deira, porém em seu aspecto material. O que define o xadrez são suas regras. Assim, as regras de um jogo não podem ser ignoradas, caso contrário, a própria essência do jogo se desvirtua. Podcast 1 Para o propósito deste módulo, é importante delinear também o que Piaget (1970) definiu por jogo simbó- lico. No caso, alertamos o leitor que a nomenclatura 11 https://famonline.instructure.com/files/171893/download?download_frd=1 “jogo”, tal qual utilizada por Piaget, não reflete a de- finição que esboçamos nos parágrafos anteriores. A ideia de jogo simbólico está associada à teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget, segundo a qual existiriam dois processos, assimilação e aco- modação: “a assimilação corresponde à integração, pelas ações, dos elementos externos ao ser vivo; a acomodação corresponde às modificações internas que tornam isso possível” (MACEDO, 1995, p. 6). Em outras palavras, segundo a teoria de Piaget, esquemas mentais são criados de acordo com as experiências vividas e conhecimentos adqui- ridos. Conforme a criança se desenvolve, novos conhecimentos e experiências são assimilados. Chama-se acomodação o processo de atualiza- ção dos esquemas previamente existentes com os recém-adquiridos. Segundo Piaget (1970), os jogos simbólicos come- çam a aparecer em crianças a partir dos 2 anos de idade, durante a fase pré-operatória. Esses jogos se caracterizam pelo “faz de conta” e envolvem uma série de representações simbólicas. 12 FIQUE ATENTO Jean Piaget identificou uma série de padrões ao longo do desenvolvimento cognitivo da criança, possibilitando o estabelecimento de quatro gran- des fases: Sensório-motora: Estende-se do nascimento até cerca de 2 anos de idade. O conhecimento ba- seia-se nos sentidos e na experiência, não haven- do representações mentais claras dos objetos de seu entorno. Pré-operacional: Estende-se dos 2 anos até cerca de 7 anos de idade. Desenvolvem-se a linguagem, a memória e a imaginação. A criança possui ca- racterísticas mais egocêntricas. Operacional-concreto: Estende-se dos 7 aos 11 anos de idade. A criança manipula símbolos de forma mais lógica e metódica; torna-se menos egocêntrica e passa a se ocupar mais de eventos de seu entorno. Operacional-formal: A partir dos 11 anos de ida- de. A criança utiliza símbolo e pode se relacionar com conceitos mais abstratos. O filósofo e psicólogo francês Henri Wallon também refletiu sobre a questão dos jogos simbólicos e a si- tuação de imitação, destacando que “por mais plena e seriamente que a criança se adapte à brincadeira, nem por isso ignora seu caráter de ficção. Muito pelo 13 contrário, pode-se dizer que até amplia sua margem” (WALLON, 2007, p. 151). Os jogos simbólicos possuem como característica um processo de assimilação por analogias, ou seja, “os significados que ela dá para os conteúdos de suas ações, quando joga, são deformações – maio- res ou não – dos significados correspondentes na vida social ou física” (MACEDO, 1995, p. 7). Dessa for- ma, palavras e significados não são literais, mas res- significados pela forma como a criança as imagina. O autor considera esse aspecto de grande relevân- cia para a construção dos conhecimentos na esco- la, uma vez que tal processo de assimilação tem o potencial de produzir linguagens e convenções. Mais ainda, “as fantasias, as mitificações, os modos deformantes de pensar ou inventar a realidade são como um prelúdio para as futuras teorizações das crianças na escola primária” (MACEDO, 1995, p. 7). SAIBA MAIS Assista Jogar para aprender a pensar e se relacionar, de Lino de Macedo, que está disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=imVwhoNMFEo. Acesso em: 15 out. 2019. 14 https://www.youtube.com/watch?v=imVwhoNMFEo https://www.youtube.com/watch?v=imVwhoNMFEo JOGO E BRINCADEIRA NO ENSINO DE MATEMÁTICA Neste tópico, apresentamos de forma geral algumas possibilidades de ensino de matemática segundo uma perspectiva de jogos e brincadeiras na educa- ção infantil. Antes mesmo de iniciar seu percurso escolar, a criança está exposta a uma série de informações numéricas: número de casa, telefone, idade etc. Da mesma forma, a criança está atenta às informações recebidas ainda que indiretamente, seja da mídia, seja da grande diversidade de informações numéri- cas expostas em seu entorno. Essa diversidade não diz respeito somente a valores, grandezas ou medidas, mas da própria informação visual: placas de cores e formatos diversos contendo tipografias também diversas, letreiros animados e assim por diante. Por isso, é um equívoco considerar que o primeiro contato com o sistema de numeração ocorre na escola. Todavia, muito possivelmente, será na escola que ocorrerão os primeiros contatos sistematizados com a matemática. Sistematização essa que, conforme defendemos, parte de situações lúdicas, de jogos e brincadeiras. Assim, “enquanto brinca, a criança pode ser incentivada a realizar contagens, comparação de quantidades, identificar algarismos, adicionar pontos 15 que fez durante a brincadeira, perceber intervalos numéricos” (SMOLE, 2014a, p. 16). Esses são os primeiros contatos da criança com o sistema numérico posicional. A aquisição por com- pleto ainda levará mais alguns anos de escolaridade; entretanto, trata-se de um momento interessante para a produção de sentido sobre os números e sobre o próprio sistema. Dada a própria concepção que a valorização do brin- car oferece, as relações da criança com o espaço e as formas tendem a ser potencializadas. Nesse sen- tido, “o espaço para a criança vai tomando forma e sendo elaborado de acordo com as explorações que faz do mundo que a rodeia”, pois, “para além das ma- nifestações de expressão e do desenvolvimento da linguagem oral e corporal, o próprio desenvolvimento da noção de espaço está envolvido em atividades que propiciem movimento para a criança” (SMOLE, 2014b, p. 15-16). Da mesma forma, essa apropriação do espaço pela brincadeiracria “uma oportunidade para perceber dis- tâncias, desenvolver noções de velocidade, duração, tempo, força, altura e fazer estimativas envolvendo todas essas grandezas” (SMOLE, 2014b, p. 16). Para tanto, o espaço destinado ao brincar deve tam- bém ser potencializado, mantendo à disposição da criança objetos e estruturas que a permitam experi- mentar diferentes texturas, dimensões, inclinações etc. De mesmo modo, é importante que estejam à disposição materiais que possam estimular os jogos 16 simbólicos (fantasias, adereços, estruturas, caixas, tecidos etc.); jogos que ajudam a construir relações com os números: amarelinha pintada no chão, jogos de arremesso e pontuação (como o boliche), corda (a criança pode contar as batidas da corda); além dos materiais de arte e desenho (para auxiliar no registro e representação não somente do espaço, mas também das primeiras concepções e hipóteses de escritas numéricas. Contudo, para além das atividades autônomas e de brincadeiras livres, o professor deve propor atividades direcionadas, sem que isso retire o viés da ludicidade. A seguir, exploraremos uma situação desse tipo: di- recionada, mas adidática, em um primeiro momento, seguida por uma etapa de institucionalização. Podcast 2 17 https://famonline.instructure.com/files/171896/download?download_frd=1 INTERVENÇÕES EM SITUAÇÕES DE JOGOS E BRINCADEIRAS Neste tópico, proporemos a análise de uma sequên- cia didática para a educação infantil baseada em uma atividade lúdica de jogo. O objetivo da discussão é compreender o desenvolvimento de uma atividade desse tipo, assim como posicionar o próprio papel do professor. A sequência didática apresentada e analisada chama- -se “Jogo do sítio” e tem por objetivo criar condições para que a criança aprenda a situar objetos no espa- ço. Toda a sequência está descrita em Saiz (2006). As crianças são organizadas em pares de grupos de 2 a 3 membros. Cada grupo recebe um kit idêntico de brinquedos, objetos ou mesmo desenhos de modo que possibilitem constituir um cenário (neste caso, um sítio). Essa ambientação, no entanto, pode ser livremente alterada de acordo com as possibilidades e o contexto da escola. Cada par de grupos precisa ficar separado por algum tipo de anteparo, de modo que um não veja as ações do outro. A dinâmica do jogo então se estrutura da seguinte forma: um dos grupos (emissor) monta livremente um cenário utilizando a totalidade de peças e objetos. Em seguida, precisa instruir, comunicar oralmente, o outro grupo (receptor) sobre como reproduzir um 18 “sítio” igual ao seu. Tão logo julgarem ter dado to- das as instruções necessárias, retira-se o anteparo e verifica-se se os cenários realmente estão iguais e quais as possíveis diferenças. Na rodada seguinte, invertem-se os papéis de emissor e receptor. O kit de objetos de cada grupo contempla 16 objetos, sendo: 2 vacas de cores diferentes, 1 cavalo, 5 cercas (para separar os diversos objetos), 1 pastor, 1 cachor- ro, 1 ponte, 1 moinho, 2 casinhas e 2 árvores. Como já descrito, além do kit de objetos, é preciso também utilizar um biombo ou qualquer tipo de anteparo para separar os grupos e um espaço para servir de base para a montagem do cenário do “sítio”. Espera-se, com isso, que os alunos possam: ● Determinar relações espaciais entre objetos que permitam definir univocamente a localização de cada um deles segundo um marco de referência. ● Elaborar uma linguagem apropriada para comuni- car as posições dos objetos com o mínimo de am- biguidade e o máximo de precisão possíveis. ● Interpretar as referências dadas para reproduzir uma situação espacial determinada. O professor, por sua vez, precisa se ocupar da devo- lução da situação adidática, utilizando os termos de Guy Brousseau. Após os grupos terem sido organi- zados e as crianças já terem tido a oportunidade de realizar uma abordagem puramente lúdica de todo o aparato envolvido, sugere-se então uma possibi- 19 lidade de “ordem” ou “comanda” do professor para iniciar a atividade: Vocês (dirigindo-se às equipes emissoras A) vão armar o que quiserem sobre a folha com todos esses brinquedos e não vão poder movê-los mais. Vocês (dirigindo-se às equipes receptoras B) têm os mesmos brinquedos do que eles e tem de armar um sítio igual. Para que eles possam fazê-lo, vocês (do grupo emissor) têm de lhes dizer como armar. Os dois sítios têm de ficar iguais. Nenhum dos grupos pode olhar o que o outro está fazendo. Têm de se organizar para ditar o que quiserem dizer para o outro grupo. Vocês (dirigindo-se à equipe B) vão escutar e vão ir armando como eles disserem. Quando terminarem, vão juntar as duas mesas e vão ver se ficaram iguais (SAIZ, 2006, p. 147). Uma consideração importante a se fazer sobre essa sequência diz respeito às formas segundo as quais o professor agrupa os alunos. Sabemos que quanto menores as crianças, mais requisitam a presença do professor. Isso significa que pode ser mais inte- ressante para o desenvolvimento da atividade que se estabeleçam menos grupos (consequentemente com mais alunos em cada). Encontrar essa medida também é um desafio que depende do grau de experiência e do vínculo do pro- fessor com a turma. A composição dos grupos é 20 fundamental, visto que uma das preocupações do professor deve ser garantir uma rotatividade das fun- ções dos alunos em cada grupo, de modo que to- dos tenham a oportunidade de dar as instruções (no caso do grupo emissor) ou de posicionar as peças (no caso do grupo receptor). O professor não deve instruir os alunos sobre a colocação dos objetos, mas precisa garantir que as regras iniciais do jogo sejam cumpridas (faltou posicionar algumas peças, por exemplo). Concluída a primeira fase, é chegado o momento da confrontação das construções realizadas (SAIZ, 2006). O professor retira os biombos e aproxima os “sítios” construídos de modo a compará-los, cuidando para que as crianças não modifiquem mais a posição das peças. O professor então pode problematizar as configurações apresentadas pelos alunos evi- tando um juízo sobre “a posição correta ou errada das peças”. As intervenções devem ser no sentido de fazer os alunos refletirem sobre a precisão de suas instru- ções e sobre formas de torná-las mais acuradas: “o que poderia ser dito a mais para que esse grupo entendesse?”, “existe uma forma melhor de dizer isso?” etc. Entretanto,, uma discussão maior sobre os aspectos pode ser realizada no final da atividade, no momento de institucionalização. Apesar de ser pedagogicamente muito rico, o professor precisa administrar bem o tempo dessa etapa de confron- tação, caso contrário, arrisca-se a não ter tempo hábil para que os grupos experimentem os papéis 21 inversos (de emissor e receptor), ou para a etapa de institucionalização. É esperado que, na segunda rodada, devido à maior experiência dos alunos com o jogo e da própria dis- cussão realizada na confrontação das construções, as instruções se tornem mais precisas. Durante a rodada, é interessante o professor estimular os alu- nos a não repetir os mesmos posicionamentos da etapa anterior. Dependendo da turma e do contexto geral da escola, pode haver várias rodadas, de modo a promover inclusive a troca dos pares de grupos. Em nosso exemplo, vamos considerar que cada grupo tenha participado ao menos uma vez em cada papel (emissor e receptor). O momento seguinte, de institucionalização, é dedi- cado à discussão coletiva, sendo simultaneamente importante e desafiador para o professor. Por um lado, é quando o protagonismo de toda a situação se aproxima da figura do professor. Por outro lado, tal protagonismo não deve ser confundido com uma espécie de aula discursiva. O professor atuará como um mediador da discussão, provocando e proble- matizando as hipóteses e observações feitas pelos alunos; ele centralizará em si as falas dos alunos, e são as falas dos alunos que deverão constituir o núcleo da discussão.O professor pode iniciar a roda de discussão ques- tionando elementos da atividade em si: “o que vocês acharam de mais legal na atividade?”, “o que foi mais difícil?”, “alguém aprendeu alguma palavra nova com 22 algum colega?”. Nesse sentido, o professor preci- sa não só estar preparado para problematizar, mas também para conceitualizar uma série de elementos que pode surgir espontaneamente e do qual ele não possui total controle. Por mais bem preparada que seja a atividade, pela própria natureza de uma situação adidática, são gran- des as chances de que surjam dos alunos hipóteses e concepções bastante diversas, mas é exatamente isso que confere toda a riqueza da atividade. Eis uma questão que certamente surgirá em diversos momentos: uma criança diz “ponha o cachorro ao lado da ponte”. O professor ou os próprios colegas podem questionar: “de que lado?”. O mesmo vale para noções de distância, como “perto de” ou “longe de”, ou variações que pretendem, na linguagem infan- til, se mostrar mais precisas, como “bem pertinho” ou “muito longe”. Como lidar, por exemplo, com o fato de uma criança do grupo emissor utilizar como instrução nomencla- turas como “direita e esquerda” enquanto as demais não dominam ainda esses recursos? Ou ainda, su- pondo que mais crianças dominem, de que forma é possível discutir a questão da lateralidade de emis- sores e receptores (frente a frente, a direita de um é a esquerda de outro)? Saiz (2006) sugere o uso de elementos externos à configuração do jogo, como a porta, janela, lousa etc. Entretanto, crianças pequenas muitas vezes não con- seguem distinguir ou dominar o uso de uma varie- 23 dade muito grande de significados para um mesmo termo. Em dado momento, pode ser mais vantajoso para a atividade propor aos alunos formas e estra- tégias pessoais de comunicação das informações. Vamos admitir uma configuração como a ilustrada (Figura 1) e propor uma possível interação entre uma criança do grupo emissor (E), uma criança do grupo receptor (R) e o professor (P): Figura 1: Situação do jogo O Sítio. E – O cachorro está à esquerda da vaca. (R não compreende a informação e posiciona o cachorro em algum lugar próximo à vaca). P (para E) – Você poderia dar outra informa- ção para ajudar a posicionar o cachorro? 24 E – O cachorro está na frente da vaca. (Como a vaca do grupo receptor estava em outra orientação, o aluno R de fato o colocou “em frente” à vaca, porém, em outra disposi- ção. No momento da confrontação das cons- truções, verifica-se que o posicionamento não está igual). R – Eu coloquei o cachorro na frente da vaca. P – E por que vocês acham que deu diferença? E – É que minha vaca estava virada para o outro lado. P – É possível encontrar outro jeito de infor- mar onde deveria estar o cachorro? R – Também está perto da árvore. E – Isso! Perto da árvore e da vaca. R – É... entre a árvore e a vaca. 25 Nessa situação, percebemos como seria difícil cons- truir cenários idênticos, mesmo que os sujeitos em questão já tivessem garantidos vocabulário e noções espaciais mais avançados. O impasse que se coloca ao evitar informações como “direita/esquerda” é que, na ambientação do jogo, alguns objetos possuem uma orientação própria: em frente ou atrás da vaca faz diferença, ao menos no imaginário comum (a cabeça é a parte da frente e o rabo é a parte de trás). Assim, “essa orientação se faz atendendo a pontos de referência próprios do objeto que são utilizados para orientar o espaço que o circunda” (SAIZ, 2006, p. 157). As referências “direita/esquerda”, entretanto, estão relacionadas à perspectiva e às referências do emis- sor. A criança, nesse sentido, muitas vezes usa a la- teralidade do próprio corpo para decidir não somente o que “para ela” é direita ou esquerda, mas generaliza essa relação: tudo que está à sua esquerda é denomi- nado por esquerda. O adulto compreende que isso é relativo à própria orientação de seu corpo, utilizando como forma de comunicação expressões como “à sua esquerda” ou “à minha direita”. Em crianças pequenas isso não ocorre naturalmen- te; é uma construção que extrapola o domínio de uma linguagem e se relaciona a compreensão do espaço e o próprio lugar que nele ocupa. Mais ainda, ela precisa realizar um exercício de projetar-se no outro, algo que se desenvolve conforme o tempo da criança. 26 O objetivo da apresentação dessa sequência didá- tica é menos esgotar as particularidades do tema e mais fornecer ao estudante um vislumbre de como se desenrolaria uma atividade de jogos com o foco de ensinar conhecimentos matemáticos; como o professor pode mediar uma situação adidática ou como organizar um momento de institucionalização. AVALIAÇÃO DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Neste tópico, abordaremos o papel e as possibili- dades de avaliação de atividades matemáticas na Educação Infantil. Segundo Hoffmann (2012), a avaliação deve se orien- tar conforme a observação individualizada da criança durante um período mais longo, de modo a provocar uma ação reflexiva sobre seus comportamentos em várias situações de aprendizagem e espaços esco- lares. Assim, a avaliação constitui um momento im- portante do processo de aprendizagem, não segundo uma perspectiva de aferição de notas ou conceitos, mas como um instrumento de aprendizagem sempre focado na melhoria e no desenvolvimento da criança. A avaliação na educação infantil, diferentemente em outros níveis de ensino, não precisa cumprir necessa- riamente uma função de seleção. Na Base Comum, encontra-se uma síntese das aprendizagens espe- radas para cada campo de experiência. No caso, o campo mais próximo dos conhecimentos matemá- ticos é denominado Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações (BRASIL, 2015): 27 ● Identificar, nomear adequadamente e comparar as propriedades dos objetos, estabelecendo relações entre eles. ● Interagir com o meio ambiente e com fenômenos naturais ou artificiais, demonstrando curiosidade e cuidado com relação a eles. ● Utilizar vocabulário relativo às noções de grandeza (maior, menor, igual etc.), espaço (dentro e fora) e medidas (comprido, curto, grosso, fino) como meio de comunicação de suas experiências. ● Utilizar unidades de medida (manhã e noite; dias, semanas, meses e ano) e noções de tempo (pre- sente, passado e futuro; antes, agora e depois), para responder a necessidades e questões do cotidiano. ● Identificar e registrar quantidades por meio de di- ferentes formas de representação (contagens, dese- nhos, símbolos, escrita de números, organização de gráficos básicos etc.). Entretanto, o próprio documento alerta que “essa síntese deve ser compreendida como um elemento balizador e indicativo de objetivos a ser explorados em todo o segmento da Educação Infantil [...] e não como condição ou pré-requisito para o acesso ao Ensino Fundamental” (BRASIL, 2015, p. 53). Como, então, o professor pode realizar a avaliação da aprendizagem de matemática na educação infantil? Partindo da proposta de Hoffmann (2012), de uma avaliação individualizada, pensada em um prazo 28 mais longo, que provoque a reflexão e que, ao mes- mo tempo, seja diversificada, consideramos a teo- ria das situações didáticas de Guy Brousseau, bem como as noções de devolução e institucionalização constituem-se em um excelente modelo também para a avaliação da aprendizagem. Nos momentos de institucionalização, há oportuni- dade de compreender como a turma, de modo geral, se relacionou com a situação. Apesar de ser também um momento propício para a avaliação, os dados obtidos podem expressar mais uma avaliação da própria situação proposta do que da forma com a qual os alunos assimilaram os conhecimentos. Nesse sentido, é no momento de devolução adidá- tica que o professor pode observar os alunos de uma posição privilegiada enquanto mobilizam seus conhecimentos e interagem com o meio. Devemos recuperar também a noção de memória didática: Umprofessor que não lembra o que foi feito por tal ou qual aluno, o que foi estabelecido como saber comum ou o que foi convenciona- do, ou um professor que deixa completamente sob a responsabilidade do aluno a integração dos momentos de ensino, é um professor sem memória (BROUSSEAU, 2001, p. 68). Com isso, o professor deve considerar, dentro de sua prática, um processo sistemático de preservação da memória didática. A escola, por sua vez, precisa 29 oferecer condições para isso, uma vez que a memó- ria do professor é também sua própria memória. Ao considerar a trajetória de ao menos 3 anos, a institui- ção escolar precisa estabelecer meios de preservar a memória. Um professor que saia no meio desse percurso não pode levar consigo toda a memória didática de sua turma. SAIBA MAIS Existem vários recursos para a preservação da memória e para avaliação dos percursos de aprendizagem dos alunos. A documentação pe- dagógica é um dos recursos mais reconhecidos e utilizados. Para se aprofundar nesse tema, su- gerimos a leitura de Duas reflexões sobre a Docu- mentação, de Lella Gandini e Jeanne Goldhaber (2002). Em última instância, é a partir da observação do pro- fessor que se obtém grande parte das informações necessárias para a composição de relatórios, portfó- lios ou documentações pedagógicas. É fundamen- tal, portanto, que o professor procure fugir da mera observação informal. O processo de observação não pode ser definido como uma percepção simples dos eventos. A intencionalidade e antecipação são dois elemen- tos fundamentais para o processo. O professor, ao elaborar sua aula, em um momento pessoal e meta- didático (BROUSSEAU, 2001), pressupõe não somen- 30 te os conhecimentos que surgirão na situação que ele desenha, mas também imagina as reações dos alunos, os momentos que serão desafiadores etc. Da mesma forma que a aula preparada tem uma in- tenção, a observação do professor também deve tê-la. E, de forma geral, a intenção do professor deve se constituir em observar como os alunos se relacio- nam com as situações propostas e como mobilizam seus conhecimentos. Apesar de considerarmos que em uma situação adi- dática muitos dos eventos estão fora do controle do professor, ainda é possível prever o encaminhamento geral da situação e, com isso, antecipar algumas das dúvidas dos alunos, os momentos em que serão necessárias intervenções etc. No exemplo do “Jogo do sítio”, a questão da latera- lidade e da utilização ou não dos termos “direita” e “esquerda” já pode ser antecipada pelo professor. O momento de sua intervenção é também um momento de avaliação. Trata-se de um momento importante na constituição de sua memória didática. 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste módulo, apresentamos algumas das principais normativas internacionais e nacionais que reposi- cionam o brincar como um direito da criança que deve ser garantido pelo Estado. Também retomamos as concepções e as perspectivas teóricas sobre a relação entre a criança, a brincadeira e seu desen- volvimento, na esteira de autores como Montessori, Piaget e Vygotsky. Depois, apresentamos uma discussão sobre as dife- renças entre as noções de brinquedo, jogo e brinca- deira, destacando como a questão da regra é mais preponderante no jogo e mais maleável no tocante à brincadeira. Esboçamos brevemente as relações estabelecidas entre conhecimentos matemáticos e as formas como podem ser trabalhados em situações de jogos e brin- cadeiras. Em seguida, apresentamos o desenvolvi- mento da sequência didática “O sítio” como exemplo de possibilidades de intervenção do professor em uma atividade lúdica. Por fim, discutimos as pos- sibilidades para a avaliação da aprendizagem em matemática na educação infantil. 32 SÍNTESE METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL O LUGAR DA LUDICIDADE E DA BRINCADEIRA NO ENSINO DE MATEMÁTICA O DIREITO AO BRINCAR • Marcos históricos: Declaração Universal dos Direitos das Crianças (1959) e Convenção sobre os Direitos da Criança (1989). A criança é tida como um sujeito de direitos. • Legislação nacional: Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), Lei de Diretrizes e Bases (1996), Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) e Base Nacional Comum Curricular (em vigor a partir de 2020). BRINQUEDO, BRINCADEIRA E JOGO • Brinquedo: Artefato cultural que estimula brincadeiras. Pode ser um jogo ou estar no centro das brincadeiras. • Brincadeira: Ação lúdica em que as regras não são essenciais, isto é, podem ser manipuladas, revisadas e adaptadas. • Jogo: Compreensão dos aspectos do brinquedo e da brincadeira, mas para o qual as regras são essenciais. INTERVENÇÃO DIDÁTICA EM SITUAÇÕES DE JOGOS E BRINCADEIRAS • Exemplo: sequência didática “O sítio”. i. Determinar as relações espaciais e localização de objetos utilizando uma referência. ii. Comunicar as posições e localizações. iii. Interpretar as referências. iv. Teoria das situações didáticas: momentos de devolução e institucionalização. AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL • Avaliação: individualizada, diversificada, provoca uma ação reflexiva. • Memória didática: recuperação do percurso de desenvolvimento dos alunos. Baseia-se na observação intencionalidade (diferente de observação informal) e antecipação (prever o que vai observar). Referências Bibliográficas & Consultadas BARBOSA, R. M. Conexões e educação matemática: brincadeiras, explorações e ações. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009 [Minha Biblioteca]. BRASIL. ECA. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990. Disponível em: https://presrepublica.jusbrasil.com.br/ legislacao/91764/estatuto-da-crianca-e-do-adoles- cente-lei-8069-90#art-16. Acesso em: 25 out. 2019. BRASIL. Base nacional comum curricular (BNCC). 2015. Consulta Pública. Brasília: MEC/CONSED/ UNDIME. Disponível em: http://basenacionalco- mum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_ver- saofinal_site.pdf. Acesso em: 15 ago. 2019. BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. 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