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Universidade do Sul de Santa Catarina Palhoça UnisulVirtual 2011 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Disciplina na modalidade a distância gestao_de_conflitos.indb 1 26/7/2011 09:40:00 Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina – Campus UnisulVirtual – Educação Superior a Distância Reitor Unisul Ailton Nazareno Soares Vice-Reitor Sebastião Salésio Heerdt Chefe de Gabinete da Reitoria Willian Máximo Pró-Reitora Acadêmica Miriam de Fátima Bora Rosa Pró-Reitor de Administração Fabian Martins de Castro Pró-Reitor de Ensino Mauri Luiz Heerdt Campus Universitário de Tubarão Diretora Milene Pacheco Kindermann Campus Universitário da Grande Florianópolis Diretor Hércules Nunes de Araújo Campus Universitário UnisulVirtual Diretora Jucimara Roesler Equipe UnisulVirtual Diretora Adjunta Patrícia Alberton Secretaria Executiva e Cerimonial Jackson Schuelter Wiggers (Coord.) Marcelo Fraiberg Machado Tenille Catarina Assessoria de Assuntos Internacionais Murilo Matos Mendonça Assessoria de Relação com Poder Público e Forças Armadas Adenir Siqueira Viana Walter Félix Cardoso Junior Assessoria DAD - Disciplinas a Distância Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Carlos Alberto Areias Cláudia Berh V. da Silva Conceição Aparecida Kindermann Luiz Fernando Meneghel Renata Souza de A. Subtil Assessoria de Inovação e Qualidade de EAD Denia Falcão de Bittencourt (Coord) Andrea Ouriques Balbinot Carmen Maria Cipriani Pandini Iris de Sousa Barros Assessoria de Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Felipe Jacson de Freitas Je�erson Amorin Oliveira Phelipe Luiz Winter da Silva Priscila da Silva Rodrigo Battistotti Pimpão Tamara Bruna Ferreira da Silva Coordenação Cursos Coordenadores de UNA Diva Marília Flemming Marciel Evangelista Catâneo Roberto Iunskovski Assistente e Auxiliar de Coordenação Maria de Fátima Martins (Assistente) Fabiana Lange Patricio Tânia Regina Goularte Waltemann Ana Denise Goularte de Souza Coordenadores Graduação Adriano Sérgio da Cunha Aloísio José Rodrigues Ana Luísa Mülbert Ana Paula R. Pacheco Arthur Beck Neto Bernardino José da Silva Catia Melissa S. Rodrigues Charles Cesconetto Diva Marília Flemming Fabiano Ceretta José Carlos da Silva Junior Horácio Dutra Mello Itamar Pedro Bevilaqua Jairo Afonso Henkes Janaína Baeta Neves Jardel Mendes Vieira Joel Irineu Lohn Jorge Alexandre N. Cardoso José Carlos N. Oliveira José Gabriel da Silva José Humberto D. Toledo Joseane Borges de Miranda Luciana Manfroi Luiz G. Buchmann Figueiredo Marciel Evangelista Catâneo Maria Cristina S. Veit Maria da Graça Poyer Mauro Faccioni Filho Moacir Fogaça Nélio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrícia Fontanella Rogério Santos da Costa Rosa Beatriz M. Pinheiro Tatiana Lee Marques Valnei Carlos Denardin Roberto Iunskovski Rose Clér Beche Rodrigo Nunes Lunardelli Sergio Sell Coordenadores Pós-Graduação Aloisio Rodrigues Bernardino José da Silva Carmen Maria Cipriani Pandini Daniela Ernani Monteiro Will Giovani de Paula Karla Leonora Nunes Leticia Cristina Barbosa Luiz Otávio Botelho Lento Rogério Santos da Costa Roberto Iunskovski Thiago Coelho Soares Vera Regina N. Schuhmacher Gerência Administração Acadêmica Angelita Marçal Flores (Gerente) Fernanda Farias Secretaria de Ensino a Distância Samara Josten Flores (Secretária de Ensino) Giane dos Passos (Secretária Acadêmica) Adenir Soares Júnior Alessandro Alves da Silva Andréa Luci Mandira Cristina Mara Schau�ert Djeime Sammer Bortolotti Douglas Silveira Evilym Melo Livramento Fabiano Silva Michels Fabricio Botelho Espíndola Felipe Wronski Henrique Gisele Terezinha Cardoso Ferreira Indyanara Ramos Janaina Conceição Jorge Luiz Vilhar Malaquias Juliana Broering Martins Luana Borges da Silva Luana Tarsila Hellmann Luíza Koing Zumblick Maria José Rossetti Marilene de Fátima Capeleto Patricia A. Pereira de Carvalho Paulo Lisboa Cordeiro Paulo Mauricio Silveira Bubalo Rosângela Mara Siegel Simone Torres de Oliveira Vanessa Pereira Santos Metzker Vanilda Liordina Heerdt Gestão Documental Lamuniê Souza (Coord.) Clair Maria Cardoso Daniel Lucas de Medeiros Eduardo Rodrigues Guilherme Henrique Koerich Josiane Leal Marília Locks Fernandes Gerência Administrativa e Financeira Renato André Luz (Gerente) Ana Luise Wehrle Anderson Zandré Prudêncio Daniel Contessa Lisboa Naiara Jeremias da Rocha Rafael Bourdot Back Thais Helena Bonetti Valmir Venício Inácio Gerência de Ensino, Pesquisa e Extensão Moacir Heerdt (Gerente) Aracelli Araldi Elaboração de Projeto e Reconhecimento de Curso Diane Dal Mago Vanderlei Brasil Francielle Arruda Rampelotte Extensão Maria Cristina Veit (Coord.) Pesquisa Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC) Mauro Faccioni Filho(Coord. Nuvem) Pós-Graduação Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.) Biblioteca Salete Cecília e Souza (Coord.) Paula Sanhudo da Silva Renan Felipe Cascaes Gestão Docente e Discente Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Capacitação e Assessoria ao Docente Simone Zigunovas (Capacitação) Alessandra de Oliveira (Assessoria) Adriana Silveira Alexandre Wagner da Rocha Elaine Cristiane Surian Juliana Cardoso Esmeraldino Maria Lina Moratelli Prado Fabiana Pereira Tutoria e Suporte Claudia Noemi Nascimento (Líder) Anderson da Silveira (Líder) Ednéia Araujo Alberto (Líder) Maria Eugênia F. Celeghin (Líder) Andreza Talles Cascais Daniela Cassol Peres Débora Cristina Silveira Francine Cardoso da Silva Joice de Castro Peres Karla F. Wisniewski Desengrini Maria Aparecida Teixeira Mayara de Oliveira Bastos Patrícia de Souza Amorim Schenon Souza Preto Gerência de Desenho e Desenvolvimento de Materiais Didáticos Márcia Loch (Gerente) Desenho Educacional Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD) Silvana Souza da Cruz (Coord. Pós/Ext.) Aline Cassol Daga Ana Cláudia Taú Carmelita Schulze Carolina Hoeller da Silva Boeing Eloísa Machado Seemann Flavia Lumi Matuzawa Gislaine Martins Isabel Zoldan da Veiga Rambo Jaqueline de Souza Tartari João Marcos de Souza Alves Leandro Romanó Bamberg Letícia Laurindo de Bon�m Lygia Pereira Lis Airê Fogolari Luiz Henrique Milani Queriquelli Marina Melhado Gomes da Silva Marina Cabeda Egger Moellwald Melina de La Barrera Ayres Michele Antunes Corrêa Nágila Hinckel Pâmella Rocha Flores da Silva Rafael Araújo Saldanha Roberta de Fátima Martins Roseli Aparecida Rocha Moterle Sabrina Bleicher Sabrina Paula Soares Scaranto Viviane Bastos Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Letícia Regiane Da Silva Tobal Mariella Gloria Rodrigues Avaliação da aprendizagem Geovania Japiassu Martins (Coord.) Gabriella Araújo Souza Esteves Jaqueline Cardozo Polla Thayanny Aparecida B.da Conceição Gerência de Logística Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente) Logísitca de Materiais Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Abraao do Nascimento Germano Bruna Maciel Fernando Sardão da Silva Fylippy Margino dos Santos Guilherme Lentz Marlon Eliseu Pereira Pablo Varela da Silveira Rubens Amorim Yslann David Melo Cordeiro Avaliações Presenciais Graciele M. Lindenmayr (Coord.) Ana Paula de Andrade Angelica Cristina Gollo Cristilaine Medeiros Daiana Cristina Bortolotti Delano Pinheiro Gomes Edson Martins Rosa Junior Fernando Steimbach Fernando Oliveira Santos Lisdeise Nunes Felipe Marcelo Ramos Marcio Ventura Osni Jose Seidler Junior Thais Bortolotti Gerência de Marketing Fabiano Ceretta (Gerente) Relacionamento com o Mercado Eliza Bianchini Dallanhol Locks Relacionamento com Polos Presenciais Alex Fabiano Wehrle (Coord.) Jeferson Pandolfo Karine Augusta Zanoni Marcia Luz de Oliveira Assuntos Jurídicos Bruno Lucion Roso Marketing Estratégico Rafael Bavaresco Bongiolo Portal e Comunicação Catia Melissa Silveira Rodrigues Andreia Drewes Luiz Felipe Buchmann Figueiredo Marcelo Barcelos Rafael Pessi Gerência de Produção Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente) Francini Ferreira Dias Design Visual Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.) Adriana Ferreira dos Santos Alex Sandro Xavier Alice Demaria Silva Anne Cristyne Pereira Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro DaianaFerreira Cassanego Diogo Rafael da Silva Edison Rodrigo Valim Frederico Trilha Higor Ghisi Luciano Jordana Paula Schulka Marcelo Neri da Silva Nelson Rosa Oberdan Porto Leal Piantino Patrícia Fragnani de Morais Multimídia Sérgio Giron (Coord.) Dandara Lemos Reynaldo Cleber Magri Fernando Gustav Soares Lima Conferência (e-OLA) Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.) Bruno Augusto Zunino Produção Industrial Marcelo Bittencourt (Coord.) Gerência Serviço de Atenção Integral ao Acadêmico Maria Isabel Aragon (Gerente) André Luiz Portes Carolina Dias Damasceno Cleide Inácio Goulart Seeman Francielle Fernandes Holdrin Milet Brandão Jenni�er Camargo Juliana Cardoso da Silva Jonatas Collaço de Souza Juliana Elen Tizian Kamilla Rosa Maurício dos Santos Augusto Maycon de Sousa Candido Monique Napoli Ribeiro Nidia de Jesus Moraes Orivaldo Carli da Silva Junior Priscilla Geovana Pagani Sabrina Mari Kawano Gonçalves Scheila Cristina Martins Taize Muller Tatiane Crestani Trentin Vanessa Trindade Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual gestao_de_conflitos.indb 2 26/7/2011 09:40:00 Palhoça UnisulVirtual 2011 Design instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini Sabrina Bleicher 2ª edição Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Livro didático Edson Souza gestao_de_conflitos.indb 3 26/7/2011 09:40:00 Edição – Livro Didático Professor Conteudista Edson Souza Revisão e atualização de conteúdo Edson Souza Design Instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini Sabrina Bleicher (2ª Ed.) Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Pedro Teixeira Davi Pieper (2ª Ed.) Revisão Diane Dal Mago Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Copyright © UnisulVirtual 2011 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. 658.405 S71 Souza, Edson Gestão de conflitos e eventos críticos : livro didático / Edson Souza ; revisão e atualização de conteúdo Edson Souza ; design instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini, Sabrina Bleicher. – 2. ed. – Palhoça : UnisulVirtual, 2011. 142 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. 1. Conflito – Administração. 2. Administração de crises. 3. Negociação. I. Pandini, Carmen Maria Cipriani. II. Bleicher, Sabrina. III. Título. gestao_de_conflitos.indb 4 26/7/2011 09:40:01 Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 Palavras do professor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Legalidade funcional no gerenciamento e na UNIDADE 1 - negociação dos conflitos e crises . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 O gerenciamento e a negociação de crises e conflitosUNIDADE 2 - . . . . 39 O surgimento da crise: exemplos e posturasUNIDADE 3 - . . . . . . . . . . . . . . 85 Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 Sobre o professor conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 Respostas e comentários dasatividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 135 Biblioteca Virtual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 gestao_de_conflitos.indb 5 26/7/2011 09:40:01 gestao_de_conflitos.indb 6 26/7/2011 09:40:01 7 Apresentação Este livro didático corresponde à disciplina Gestão de Conflitos e Eventos Críticos. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância, proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a um aprendizado contextualizado e eficaz. Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores e instituição estarão sempre conectados com você. Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como: telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem, que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade. Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual. gestao_de_conflitos.indb 7 26/7/2011 09:40:01 gestao_de_conflitos.indb 8 26/7/2011 09:40:01 Palavras do professor Prezados Alunos, Neste primeiro contato quero evidenciar a importância da existência de profissionais habilitados para negociar nos conflitos e nas crises que ocorrem, atualmente, com certa frequência. Fez parte da história recente, no Brasil, pessoas serem convocadas para exercerem o papel de negociador, religiosos, psicólogos e até autoridades de escalões superiores. Essa prática é inadmissível nos dias atuais, haja vista que nossas instituições responsáveis pela Segurança Pública, a partir da década de 90, perceberam a necessidade de investir no gerenciamento de crises, preparando profissionais para comporem equipes de gerenciamento de crises, como, por exemplo, os negociadores, que são fundamentais na solução de uma crise com reféns. O negociador tem uma atuação de grande responsabilidade no processo de gerenciamento de crises, por isso não é indicado que a sua função seja desempenhada por qualquer outra pessoa que não tenha qualificação, principalmente em ocorrências de alto risco com reféns. Diante desse cenário, destaco que este é um momento importante para todos vocês que fazem parte deste curso! Agora, vocês estão tendo a oportunidade de agregar conhecimento, num assunto que cada vez mais se evidencia, por razões as mais diversas, somadas a condicionantes de ordem política, social e econômica que redundam em manifestações conflitantes geradoras de crises, o que impõe a necessidade de profissionais que atuem como negociadores, fazendo parte do grupo de gerenciamento de crises. gestao_de_conflitos.indb 9 26/7/2011 09:40:01 10 Universidade do Sul de Santa Catarina Tenho a firme convicção que neste primeiro contato, com esta disciplina, estaremos oportunizando o vislumbre de uma motivação por este tema, que é apaixonante, e que nos torna, certamente, mais seguros no desenvolvimento de nossas atividades profissionais. Sejamos confiantes e perseverantes na busca deste novo conhecimento! Só assim nos sentiremos capazes de produzir uma qualidade de vida melhor para a sociedade, que a cada dia se toma mais exigente na excelência da prestação dos serviços em geral, e na área da segurança pública, em particular. Nesta caminhada, conte com a nossa dedicação! Professor Edson Souza. gestao_de_conflitos.indb 10 26/7/2011 09:40:01 Plano de estudo O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologiase por meio das diversas formas de ação/mediação. São elementos desse processo: o livro didático; � o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA); � as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de � autoavaliação); o Sistema Tutorial. � Ementa Conceitos básicos de gerenciamento de crises, eventos críticos e negociação. Os órgãos de segurança pública e o gerenciamento de conflitos e eventos críticos. Alternativas táticas e operacionais para a resolução de conflitos e eventos críticos. Tecnologias e formas de intervenção/resolução de conflitos. gestao_de_conflitos.indb 11 26/7/2011 09:40:01 12 Universidade do Sul de Santa Catarina Objetivos Geral: Compreender de que forma é possível gerenciar a estrutura de um conflito ou de um evento crítico e conhecer os principais conceitos e princípios dos conflitos e da negociação. Específicos: Identificar os tipos de conflitos e suas respectivas fontes. � Reconhecer o processo de resolução de conflitos e � negociação. Conhecer os princípios da negociação na Administração � Pública. Discutir conceitos sobre a ética na negociação. � Reconhecer os resultados e os procedimentos � operacionais e meios táticos de uma negociação. Carga Horária A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula. Conteúdo programático/objetivos Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação. Unidades de estudo: 3 gestao_de_conflitos.indb 12 26/7/2011 09:40:01 13 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 1 - Legalidade funcional no gerenciamento e na negociação dos conflitos e crises Nesta unidade você conhecerá o campo legal da segurança pública e poderá perceber a importância e a responsabilidade do Estado. Você também conhecerá conceitos sobre o poder da polícia, reconhecendo sua relevância no exercício da atividade de segurança pública e preservação da ordem pública. Unidade 2 - O gerenciamento e a negociação de crises e conflitos Na Unidade 2, você conhecerá os conceitos básicos que diferenciam gerenciamento de crise e gerenciamento de negociação. Conhecerá também os procedimentos do gerenciamento de uma crise e o papel do negociador. Unidade 3 - O surgimento da crise: exemplos e posturas Por meio do estudo da Unidade 3 você poderá aprender como as crises podem surgir e identificar os seus graus de risco. Você conhecerá também os perímetros internos e externos quando da instalação de uma crise. gestao_de_conflitos.indb 13 26/7/2011 09:40:01 14 Universidade do Sul de Santa Catarina Agenda de atividades/Cronograma Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar � periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da realização de análises e sínteses do conteúdo e da interação com os seus colegas e professor. Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço � a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. Use o quadro para agendar e programar as atividades � relativas ao desenvolvimento da disciplina. Atividades obrigatórias Demais atividades (registro pessoal) gestao_de_conflitos.indb 14 26/7/2011 09:40:01 1UNIDADE 1 Legalidade funcional no gerenciamento e na negociação dos conflitos e crises Objetivos de aprendizagem Reconhecer o campo legal da segurança pública e � perceber a importância e a responsabilidade do Estado. Construir conceitos sobre o poder da polícia, � reconhecendo sua importância no exercício da atividade de segurança pública e preservação da ordem pública. Seções de estudo Seção 1 A polícia Seção 2 O poder de polícia e a missão da Polícia Administrativa e da Polícia Judiciária Seção 3 A segurança pública Seção 4 Preservação e missão da ordem pública gestao_de_conflitos.indb 15 26/7/2011 09:40:01 16 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Vejo como importante realçar que estamos iniciando uma relação pedagógica de ensino-aprendizagem. Essa relação tem como objetivo proporcionar conhecimentos na área da segurança pública. Dessa forma, pretendo que este livro seja capaz de capacitá-lo a aplicar posturas profissionais diante de conflitos e crises, que exigem reconhecer a necessidade de habilidades específicas para gerenciá-las por meio da negociação. Nesta unidade, torna-se imprescindível trabalharmos conceitos e fundamentos legais concernentes aos Órgãos de Segurança Pública, de acordo com o que preceitua a nossa Constituição Federal de 1988 (CF/88) no seu capítulo III, artigo 144. Entendo ser de fundamental interesse esse conhecimento, para que possamos criar uma cultura que se notabilize na figura do negociador, impondo a necessidade da existência de profissionais com este perfil. Falar sobre segurança pública tornou-se uma rotina. Os meios de comunicação social a evidenciam diariamente com notoriedade, deixando transparecer que a solução para todos os problemas da sociedade esteja focada nesta área. Observa-se que muitas são as pessoas que ousam falar sobre o assunto, todavia, não raras vezes, são profissionais de outras áreas que não detêm o conhecimento para emitir inferências e opiniões sobre o assunto. Por essa razão, entendemos como pertinente enfatizar este tema, haja vista a sua importância como conhecimento solidificado para os profissionais da área de segurança pública. Nesta Unidade você conhecerá o campo legal da segurança pública e poderá perceber a importância e quais são as responsabilidades do Estado. Vamos começar? Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: (I) polícia federal; (II) polícia rodoviária federal; (III) polícia ferroviária federal; (IV) polícias civis; (V) polícias militares e corpos de bombeiros militares. (BRASIL, 1988) gestao_de_conflitos.indb 16 26/7/2011 09:40:01 17 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 1 Seção 1 - A polícia O termo “polícia” que é derivado do latim politia , procede do grego politéia, significando, originariamente, organização política, sistema de governo e, mesmo, governo. Em sentido amplo, “polícia” exprime a própria ordem pública, enquanto o governo é a instituição que tem a missão de mantê-la sempre íntegra. Em sentido estrito, polícia é vocábulo que designa o conjunto de instituições, fundadas pelo Estado, que, segundo as prescrições legais e regulamentares estabelecidas, tem como responsabilidade a manutenção da ordem pública, da moralidade e de outros direitos individuais. Você sabe quais os três elementos que integram o conceito de “polícia”? Os três elementos constantes da definição de polícia são: o Estado (elemento subjetivo de onde provém toda a organização que deve manter a ordem); a finalidade (que é a preservaçãoda ordem e da segurança individual e coletiva); e o conjunto de restrições ou limitações legais à expansão individual ou coletiva que traga perturbações à sociedade. Juridicamente, como podemos defini-la? Cretella Júnior (1987, p. 165), um dos mestres brasileiros em Direito Administrativo, assim define juridicamente o vocábulo polícia: “conjunto de poderes coercitivos exercidos pelo Estado sobre as atividades do cidadão, mediante restrições legais impostas a essas atividades, quando abusivas, a fim de assegurar a ordem pública”. A ação da polícia manifesta-se por meio de atos e fatos administrativos, os quais podem ser direta ou imediatamente executados em virtude da autoexecutoriedade. Essas ações recaem sobre a sociedade, disciplinando o seu funcionamento,por intermédio de dispositivos legais estabelecidos. O seu fundamento, a ação da polícia em nome do Estado, é o poder de polícia. gestao_de_conflitos.indb 17 26/7/2011 09:40:01 18 Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 2 - O poder de polícia e a missão da Polícia Administrativa e da Polícia Judiciária A definição de “polícia” nos remete a algumas contextualizações necessárias. De onde advém essa denominação? Quais as práticas e as implicações do uso do poder que lhe é inerente? Para responder às perguntas anteriores, primeiro precisamos nos perguntar: o que é o poder de polícia? Como situá-lo no contexto que está sendo debatido? O poder de polícia, segundo a conceituação de vários e renomados autores, é a faculdade que tem ao seu dispor a administração pública do controle coercitivo sobre a sociedade. Em outras palavras, é o freio do Estado contra os abusos individuais, em benefício da coletividade e do próprio Estado. No dizer de Cooley (1903, p. 829, apud MEIRELLES, 2006, p.132): O poder de polícia (police power), em seu sentido amplo, compreende um sistema total de regulamentação interna, pelo qual o Estado busca não só preservar a ordem pública, senão também estabelecer para a vida de relações dos cidadãos aquelas regras de boa conduta e de boa vizinhança que se supõem necessárias para evitar conflito de direitos e para garantir a cada um o gozo ininterrupto de seu próprio direito, até onde for razoavelmente com o direito dos demais. Podemos afirmar, então, que é o poder de polícia que reside na discricionariedade do Estado, que legitima o poder, dando legalidade às ações e operações da polícia para garantir o bem- estar e a segurança da sociedade. O poder de polícia proporciona ao Estado o controle e o condicionamento das liberdades individuais, sempre em benefício da coletividade, de acordo com a definição de Tácito (1987 apud Meirelles, 2006), no equilíbrio entre os principais – e de certa forma antagônicos – princípios da liberdade e da autoridade, o poder de polícia se coloca como uma das gestao_de_conflitos.indb 18 26/7/2011 09:40:01 19 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 1 faculdades discriminatórias do Poder Público, objetivando a proteção da ordem, da paz e do bem-estar social. Sintetiza-se nos dizeres desses autores que é somente por meio do poder de polícia que existirá a garantia do Estado – União, Unidades Federativas e Municípios – de assegurar à Nação a ordem pública, contra violações de toda espécie, que não contenham conotação ideológica. Isso chama-se segurança pública, em que a polícia está diretamente vinculada. Qual a missão da Polícia Administrativa e da Polícia Judiciária? A missão da Polícia Administrativa e da Polícia Judiciária, às vezes, confunde-se; por isso é necessário se ter claro em que local ocorre a distinção dessas e onde existe a relação entre ambas. Polícia Administrativa (preventiva) A Polícia Administrativa é regida pelos princípios � jurídicos do Direito Administrativo e incide sobre os bens, direitos ou atividades. A Polícia Administrativa é preventiva, desenvolve sua � atividade procurando evitar a ocorrência do ilícito. A ação da Polícia Administrativa prossegue para estabelecer a ordem depois de ter verificado as desordens que se deseja evitar. Polícia Judiciária (repressiva) A Polícia Judiciária é regida pelas normas do Direito � Processual Penal e incide sobre as pessoas. A Polícia Judiciária é repressiva porque atua após a eclosão do � ilícito penal, funcionando como auxiliar do Poder Judiciário. A Polícia Judiciária não tem uma missão diretamente � repressiva, mas prepara para a ação penal. gestao_de_conflitos.indb 19 26/7/2011 09:40:01 20 Universidade do Sul de Santa Catarina Em outras palavras e de acordo com o que foi destacado, você pode verificar que a função da Polícia no direito brasileiro pode ser administrativa, quando garante a ordem pública, fiscaliza o cumprimento das leis e impede a prática de delitos, tendo pois, uma função preventiva. Ou pode ser judiciária, quando atua de ordinário, após a prática do delito, colhendo os elementos elucidativos e/ou evitando que desapareçam. Tudo com o objetivo de instruir a ação penal futura. Saliente-se que sua função é repressiva e, apesar da nomenclatura, também é administrativa, investigatória e auxiliar da justiça, porém, não participando de seus quadros. Contudo, o mesmo órgão policial pode ser eclético, podendo agir preventi e repressivamente. Neste caso, a linha de diferenciação está na ocorrência ou não do ilícito penal. Se uma instituição, ao exercer a atividade policial preventiva (polícia administrativa), deparar-se com um ilícito penal passa esta a desenvolver a atividade policial repressiva (polícia judiciária), cumprindo-se, então, as normas do Direito Processual Penal, com vistas ao processo da persecução criminal. O que qualifica uma atividade policial como sendo preventiva ou repressiva é a atividade policial em si mesma. A ação preventiva e ostensiva que as Polícias Militares do Brasil exercem prosseguem repressivamente quando não foi possível evitar a eclosão do ilícito penal que tentaram evitar. Para isso, são acionadas por quem esteja com necessidade de proteção individual, coletiva e do próprio patrimônio. Seção 3 - A segurança pública A segurança pública pode ser encarada sob diversos aspectos. Poderá ela ser individual, conduzindo o homem a sentir-se interna e externamente seguro, ou seja, servir para garantir gestao_de_conflitos.indb 20 26/7/2011 09:40:01 21 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 1 direitos como os da liberdade, propriedade, locomoção, proteção contra o crime e também a solução de seus problemas de saúde, educação, subsistência e oportunidade social. E, considerando o homem um ser social, não lhe bastando apenas a segurança individual, poderá ela ser comunitária, tornando-se necessário, nesse aspecto, a garantia dos elementos que darão estabilidade às relações políticas, econômicas e sociais, preservando a propriedade, o capital e o trabalho, para sua plena utilização no interesse social. Dessa forma, o sentimento de segurança pública é o de um estado proporcionado por uma realidade fatídica e um componente psicológico entrelaçado que dá origem a uma sensação protetora no ambiente social. Silva (1984, p. 1415) define a segurança pública como: [...] o afastamento, por meio de organizações próprias, de todo perigo, ou de todo o mal que possa afetar a ordem pública, sem prejuízo da vida, da liberdade ou dos direitos de propriedade do cidadão. A Segurança Pública, assim, limita as liberdades individuais, estabelecendo que a liberdade de cada cidadão, mesmo em fazer aquilo que alei não lhe veda, não pode ir além da liberdade assegurada aos demais, ofendendo-a. Podemos afirmar, ainda, que enfocada como valor comunitário, a segurança pública é um valor geral, comum e vital a todas as comunidades, pois todas têm um anseio e uma aspiração que é comum a todos: viver em segurança. No aspecto jurídico, a segurança pública é a manifestação de poder do Estado, fundamentada na ordem jurídica, objetivando o exercício da força na garantia do direito. Como função governamental, a segurança pública é o conjunto de atividades complexas e variadas que o Estado coloca à disposição da população, objetivando o bem comum, para garantia da ordem pública. gestao_de_conflitos.indb 21 26/7/2011 09:40:01 22 Universidade do Sul de Santa Catarina Na Constituição Federal, no Capítulo III - Da Segurança Pública, precisamente no nosso conhecido artigo 144, encontraremos: Art. 144. A Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio através dos seguintes órgãos: Polícia Federal. Polícia Rodoviária Federal; Polícia Ferroviária Federal; Polícias Civis; (...)§ 4° - Às Polícias Civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. § 5° Às Polícias Militares, cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública, aos Corpos de Bombeiros Militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. (BRASIL, 1988). - Estudada e devidamente entendida conceitualmente o que é Segurança Pública, vamos compreender e contextualizar “ordem pública”. Vamos lá? Seção 4 - Preservação e missão da ordem pública A ordem pública é o conjunto de regras formais, coativas, que emanam do ordenamento jurídico da Nação, tendo por objetivo regular as relações sociais em todos os níveis e estabelecer um clima de convivência harmoniosa e pacífico. Constitui, assim, uma situação de condição que conduz ao bem comum. Nesta unidade, você vai conhecer de que formas é possível preservar a ordem pública e a quem cabe essa função. gestao_de_conflitos.indb 22 26/7/2011 09:40:01 23 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 1 Doutrinariamente sabe-se que à Polícia Militar cabe o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública. Mais do que isso, a sensação da tranquilidade social que se tem traz como consequência a plena confiança nos serviços prestados pela corporação e isto é fator fundamental para a ordem pública. De acordo com a Constituição Federal, capítulo III, Da Segurança Pública, artigo 144, parágrafo 5º: “às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil” (BRASIL, 1988). Qual a diferença existente entre “preservação” ou “manutenção” da ordem pública? O artigo 1° do Decreto-Lei nº 2.010, de 12 de janeiro de 1983, modificava o termo “manutenção”, alterando o artigo 3° do Decreto-Lei nº 667 de 02 de julho de 1969, estabelecendo que na competência das Polícias Militares, ao assegurar o cumprimento da lei, doravante se trataria da “preservação” da ordem pública. Também esse termo foi contemplado pela Constituição Federal de 1988, no seu artigo 144, que trata da segurança pública, conforme você já estudou. A diferença é sutil, mas existe, e, se analisada profundamente verifica-se que, doutrinariamente, caminham para um mesmo sentido os termos “manutenção” e “preservação”. A “manutenção” trazia à tona uma realidade ideal e socialmente aceitável de maneira que se deveria manter a ordem pública, conservando a sociedade de situações que se opusessem a situação ideal vivida. E a “preservação” vem no sentido de se estabelecer parâmetros para que a harmonia e a tranquilidade pública fossem conservadas. Podemos ainda dizer que a preservação está no estado de segurança, que se pratica o exercício dinâmico do poder de polícia, no campo da segurança pública, manifestado por atuações predominantemente ostensivas, objetivando prevenir e/ ou reprimir os eventos que violem essa ordem, para garantir sua Policiamento ostensivo é atividade de Preservar a ordem pública, executada com exclusividade pela Polícia Militar. Enfim, policiamento ostensivo é a sua essência e está presente em todos os seus tipos de policiamento, processos e modalidades. Destaca-se que modalidade é o modo peculiar de execução do policiamento ostensivo, e pode ser: Patrulhamento, Permanência, Diligência e Escolta. gestao_de_conflitos.indb 23 26/7/2011 09:40:02 24 Universidade do Sul de Santa Catarina normalidade. Em outras palavras, quando se fala de preservação de ordem pública a interpretação é de que se deve aplicar todos os mecanismos disponíveis para que se mantenha a condição ou situação na sua originalidade, ou seja, para que não haja a quebra da ordem pública, com o cometimento de uma pratica ilícita que interfira nas relações sociais, prejudicando a convivência harmoniosa e pacífica. Já a manutenção da ordem pública está no estado de defesa, que é o conjunto de medidas adotadas para superar antagonismos ou pressões, sem conotações ideológicas, que se manifestem ou produzam efeito no âmbito interno do país, de forma a evitar, impedir ou eliminar a prática de atos que perturbem a ordem pública. A interpretação é de que se deve aplicar todos os mecanismos disponíveis para que se restabeleça a quebra da Ordem Publica, em razão do cometimento de uma prática ilícita que prejudicou as relações sociais interferindo na convivência harmoniosa e pacifica. Desta forma a Ordem Publica será restabelecida através dos meios legais disponíveis, retornando a sua originalidade, que é a restauração dos problemas causados, desta forma retorna-se ao exercício da preservação da ordem pública. Você Sabia? Quando os persas e babilônicos, egípcios e romanos tinham grandes impérios, as leis eram ditadas pelos que detinham o poder e impostas à força por mercenários estrangeiros. Esses homens tinham a missão de prender e castigar as pessoas do povo apontadas como transgressoras da ordem? Podemos verificar, diante dessa constatação, a evolução da instituição policial dentro do contexto social. No Brasil, na época colonial, os donatários das capitanias hereditárias administravam a justiça e exerciam as funções policiais. Em 1808, D. João VI criou a Intendência Geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil. No Império existiam os juízes de paz e suplentes, com funções policiais? Na República se instituíram os policiais estaduais e de carreira. A primeira afirmação jurídica de polícia no Brasil, deu-se na constituição de 1934. gestao_de_conflitos.indb 24 26/7/2011 09:40:02 25 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 1 A existência da polícia é tão antiga quanto à necessidade do homem em criar regras e normas para convivência em grupos organizados. Que a primeira organização policial que se tem notícia é a dos romanos, no tempo do Imperador Augusto, ano 63 a.C. a 14 a.C. O Edil era o Chefe de Polícia, auxiliado pelos Leitores? A polícia Metropolitana da Inglaterra, a New Scotland Yard, e subordinada administrativa, não operacionalmente, ao Home Office , tem sob responsabilidade a Grande Londres, isto é, a cidade, subúrbio e arredores, excluída a City, pequena área dentro de Londres, que possui, por razões históricas, seu próprio policial, idêntico ao dos condados e sujeitos as mesmas regras, mas que na verdade age em estrita colaboração com a New Scotland Yard, recebendo auxílio dessa. A Scotland Yard foi organizada em 1829, por sir Robert Peel; como corpo profissional; o seu Chief, e a instituição tem uma organização própria e peculiar. Charles Dickens “criou” a palavra detetive na novela de Bleak House, publicada em forma de folhetins em 1852- 1853. Dickens caracteriza o trabalho de um policial, o inspetor Bucket da Sotland Yard, chamando-o de “detetive”. À luz das legislações e das doutrinas, pode-se afirmar que, hoje, as polícias Militar e Civil estão legalmente amparadas para o gerenciamento de uma crise com reféns. Pois quando ocorre um evento e há a quebra da ordem pública, ambas as polícias (além de Órgãos de Segurança Pública do Estado), devem reunir forças, respeitadas suas competências legais, bem como suas capacidades de recursos humanos e operacionais. E quais os critérios que poderiam ser utilizados para a preservação da ordem pública? Entendemos que para assegurar a harmonia e a tranquilidade pública, faz-se necessário um método que torne possível planejar ações que sejam desempenhadas nesse intuito. Com base nas várias avaliações regionais promovidas pelas instituições policiais militares junto aos municípios, cada Estado membro será capaz de identificar um rol de necessidades das gestao_de_conflitos.indb 25 26/7/2011 09:40:02 26 Universidadedo Sul de Santa Catarina comunidades, que diretamente voltadas para seus anseios de segurança impõem a essas instituições a implantação de medidas que visem a minimizar a demanda de aumento da criminalidade local. A partir dessas avaliações e, consequentemente, da tradução desses anseios comunitários, é que as Polícias Militares vêm priorizar atitudes, medidas e ações a serem executadas por meio de seus diversos organismos. Prescritas essas necessidades, devem passar a compor o quadro de situação desejado, constituindo-se num verdadeiro quadro de objetivos permanentes, como forma integrante e responsável pela preservação da ordem pública. A ordem pública é um conjunto de regras formais, coativas, que emanam do ordenamento jurídico da Nação, tendo por objetivo regular as relações sociais em todos os níveis e estabelecer uma convivência harmoniosa e pacífica. Constitui, assim, uma situação ou condução que se orienta ao bem comum. As Polícias Militares têm, pois, a missão de preservação da ordem pública (Art 144 § 5º da CF/88). Para que essa possa executar com eficácia a missão, torna-se necessário que se adotem alguns procedimentos. Inicialmente, é necessário ter profundo conhecimento da realidade das comunidades, isto é, aspectos socioeconômicos, geográficos e culturais para que as ações a serem tomadas venham ao encontro dos anseios dessa comunidade. Deve-se ter relatórios de ocorrências policiais constando os tipos mais frequentes de ocorrências, com seus locais e horários de maior incidência, bem como ouvir os reclames e sugestões da comunidade, efetuando, dessa forma, um policiamento integrado com a comunidade, baseado também nas avaliações regionais, desenhadas pelos organismos articulados nas regiões. A partir desses relatórios será necessário traçar um planejamento constando programas, objetivos e metas de ação que venham ao encontro da realidade analisada para se neutralizar os focos de ocorrências, restabelecendo, dessa forma, a tranquilidade pública. Para tal, é necessário o empenho de todos sendo, pois, gestao_de_conflitos.indb 26 26/7/2011 09:40:02 27 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 1 considerados esses objetivos como forma integrante e responsável pela preservação da ordem pública. Cabe lembrar que a “preservação da ordem pública” implica um “policiamento preventivo” e, por vezes, “repressivo”. Embora as instituições atuem em determinadas situações, de forma “repressiva”, a ação das Polícias Militares deve ser essencialmente preventiva, devido à influência que terá sobre o comportamento da população, principalmente pelo caráter intimidativo da própria lei. A atuação preventiva das Polícias Militares é fundamental, porque a simples ação de presença ostensiva hábil e atenta, apoiada sempre na impessoalidade e no espírito de justiça, constitui fator de desestímulo à prática de ilícitos penais e à garantia da respeitabilidade da lei. Em razão das Polícias Militares atuarem de forma ostensiva, executando suas atividades diante do público, sempre utilizando fardamentos que possam identificá-las e/ou distingui-las, a polícia pauta-se, permanentemente, pelas normas de ilibada conduta moral, quer no exercício funcional, quer na sua vida particular. Para que as Polícias Militares atuem preventivamente são indispensáveis duas condições: primeiro, é o perfeito conhecimento daquilo que deve ser prevenido, e, segundo, é a efetiva e potencial capacidade de reprimir. Baseado nesta filosofia de emprego, as corporações não somente enfatizarão as ações preventivas, mas, sobretudo, devem estar preparadas para toda e qualquer atuação repressiva. Para viver sem violência, tanto é necessário atacar as causas sociais da marginalidade, para preveni-la, como também dotar os organismos de segurança de meios capazes de combatê-la. E isso só será possível com o permanente aperfeiçoamento dos métodos e equipamentos utilizados pelas Polícias Militares, objetivando, certamente, garantir a segurança e a tranquilidade da comunidade. - Leia, a seguir, com atenção, a síntese da unidade, realize as atividades de autoavaliação e aprofunde seus conhecimentos consultando o “Saiba Mais”. gestao_de_conflitos.indb 27 26/7/2011 09:40:02 28 Universidade do Sul de Santa Catarina Síntese O que você acabou de estudar nesta unidade foi de fundamental importância! A segurança pública é função do Estado e essa responsabilidade não pode ser transferida ao Município e ao Governo Federal, conforme dispositivo preconizado no artigo 144 da Constituição Federal. Saber distinguir o significado de segurança pública, ordem e preservação da ordem pública é primordial, pois só assim poderemos defender a necessidade da existência dos Órgãos do Sistema de Segurança Pública e o seu verdadeiro papel dentro do contexto social. Atualmente, existe um clamor generalizado sobre Segurança Pública, essa manifestação social impõe aos profissionais da área de segurança pública um conhecimento abrangente, pois as cobranças são cada vez maiores, como se a segurança fosse a verdadeira panaceia social. É importante destacar que as organizações policiais devam estar permanentemente interagindo com as comunidades, pois são nessas localidades que podemos identificar a gênese da prática delituosa. Nesses locais brotam todas as situações geradoras das questões que se evidenciam como causadoras da intervenção do Estado por meio das suas instituições que fazem a segurança pública. gestao_de_conflitos.indb 28 26/7/2011 09:40:02 29 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 1 Atividades de autoavaliação Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro didático. Mas esforce-se para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará promovendo (estimulando) a sua aprendizagem. 1) Elabore um texto sobre a origem da Polícia dentro da história civilizada, bem como sua origem no Brasil, destacando sua principal mudança, após o advento da nossa Carta Política (CF), datada de 1988. Foque sua atenção sobre alguns elementos-chave. 2) São elementos constantes da definição de Polícia: ( ) Governo, Estado e liberdade. ( ) Estado, conjunto de restrições ou limitações e Governo. ( ) Segurança pública, finalidade e democracia. ( ) Finalidade, Organização Política e Governo. ( ) Estado, finalidade e conjunto de restrições ou limitações. 3) Conceitue segurança pública e segurança nacional, em seguida, realce qual a diferença marcante entre os dois conceitos? gestao_de_conflitos.indb 29 26/7/2011 09:40:02 30 Universidade do Sul de Santa Catarina 4) Após análise do art 144 (CF), destaque quais são os órgãos de segurança pública dos Estados membros e qual a missão constitucional de cada um? 5) Após leitura atenta da seção 4, estabeleça a diferença entre “preservação” e “manutenção” da ordem pública. 6) Conceitue Polícia Administrativa e Polícia Judiciária. gestao_de_conflitos.indb 30 26/7/2011 09:40:02 31 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 1 Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos, sugerimos a leitura dos textos descritos a seguir: O AMBIENTE DA SEGURANÇA: Manual Básico da Escola Superior de Guerra (ESG) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) CÓDIGO DE CONDUTA PARA A POLÍCIA, segundo a Organização das Nações Unidas, de 17 de dezembro de 1979 O AMBIENTE DA SEGURANÇA: Manual Básico da Escola Superior de Guerra (ESG) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos De acordo com a doutrina constante no Manual Básico da Escola Superior de Guerra (2009), segurança é uma necessidade e um direito das pessoas e dos grupos humanos, e se traduz em uma noção de garantia, de proteção ou tranquilidade em face de ameaças ou ações adversas à própria pessoa humana, às instituições ou a bens essenciais existentes ou pretendidos. Haverá maior ou menor sensação de segurança quantomaiores ou menores forem as medidas adotadas para a proteção e socorro da sociedade. O mesmo manual cita que, de acordo com o Professor Oliveira Júnior, “onde há vida há perigo, onde há perigo há temor, onde há temor há insegurança. A insegurança é, portanto, consequência do ato de viver” (ESCOLA..., 2009). A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) estabelece em seu Art. 3º que todo o indivíduo tem direito à segurança de sua pessoa e, no Art. 7º, que todos têm direito de ser protegidos. Para isso, desde há muito tempo, o Direito tem atribuído ao Estado a responsabilidade pela manutenção da ordem pública e a proteção do cidadão, contra todo tipo de ameaça de ordem interna ou externa, causada pelo homem ou por fenômenos naturais. Cita também o Manual Básico da ESG, o qual ressalta que a solução dos problemas de segurança consiste em analisar as causas atuais ou potenciais que possam se constituir em ameaça e, utilizando a razão, minimizar um a um seus efeitos. gestao_de_conflitos.indb 31 26/7/2011 09:40:02 32 Universidade do Sul de Santa Catarina A razão para insegurança de uma nação no campo externo é decorrente da sempre presente luta pela sobrevivência do grupo nacional em relação a outros grupos nacionais. Nas relações internacionais, as razões de insegurança podem ser a própria razão de segurança de outras nações, a luta pelo domínio direto ou indireto de umas sobre outras, seja por meio da expansão territorial, da submissão política, econômica ou cultural. Justificando-se pela própria necessidade de segurança, uma fábrica de armas suíça, alemã ou norte-americana não fará o menor esforço para controlar a venda daquele material bélico, mesmo sabendo que elas serão utilizadas por integrantes do crime organizado do Rio de Janeiro. A segurança que tal produção permite àqueles países, pelas divisas e empregos que proporciona aos seus nacionais, acaba se constituindo em razão de insegurança para nós. O embargo de importação de produtos brasileiros pelo mercado norte- americano constitui-se, por um lado, em razão de insegurança para nós e, por outro, em razão de segurança para aquele país. À medida que uma nação cresce no cenário internacional e adquire capacidade de influenciar os assuntos internacionais desperta ambições e cria novos interesses, dos quais podem resultar áreas de atrito, com possibilidades de gerar antagonismos e, consequentemente, razões de insegurança, que poderão implicar o emprego violento do Poder Nacional, por meio do conflito da guerra. Interesses internacionais legítimos procuram sufocar o crescimento do nosso país, tendo em vista a própria sobrevivência, influenciando na nossa sensação de insegurança. Tais interesses, muitas das vezes escusos, também contribuem para o aumento da violência no âmbito interno, quando convivem com a produção de drogas ou de armas que são exportadas para os delinquentes nacionais. Há interesses estrangeiros estimulando o conflito político interno e fortalecendo movimentos sociais, cujos objetivos maiores são a conquista do poder. Paradoxalmente, alguns desses países criticam nosso país e exigem que nosso governo se comprometa a promover em nossa sociedade o desenvolvimento e o respeito aos direitos humanos, quando eles mesmos, de alguma forma, contribuem para que isso não ocorra. No aspecto da segurança individual deverá o homem sentir-se interna e externamente seguro, ter garantidos os seus direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à locomoção, à proteção contra o crime, à assistência à saúde, à educação, à subsistência e à oportunidade social. gestao_de_conflitos.indb 32 26/7/2011 09:40:02 33 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 1 No aspecto da segurança comunitária deve ter a garantia dos elementos que dão estabilidade às relações políticas, econômicas e sociais, preservando a propriedade, o capital e o trabalho para a sua plena utilização no interesse social. Da análise desses dois aspectos da segurança, na atual conjuntura, pode-se concluir que a população nacional não tem como se manifestar segura. Seria excesso de pessimismo afirmar que o Estado brasileiro não proporciona aos seus nacionais total direito à propriedade, proteção contra o crime, assistência à saúde, educação, subsistência e oportunidade social? Seria excesso de pessimismo afirmar que o Estado brasileiro vive um quadro de instabilidade política, econômica ou social? A segurança nacional é a garantia, em grau variável, proporcionada à nação, principalmente pelo Estado, por meio de ações políticas, econômicas, psicossociais e militares, para, superando os antagonismos e pressões, conquistar e manter os objetivos nacionais, seja no âmbito interno, seja no externo. Quando os antagonismos e pressões enfrentados pela Nação encontram-se no domínio das relações internacionais, o problema é de segurança externa, exigindo o emprego do Poder Nacional para superá-las. Quando conveniente, poderá a Nação organizar-se em bloco com outras nações de interesses comuns, para proporcionar segurança coletiva, como é o caso da existência da Organização dos Estados Americanos (OEA), da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Pacto de Varsóvia etc. Se os antagonismos e pressões enfrentados pela Nação, de origem interna ou externa, vêm se manifestar ou produzir efeitos no âmbito interno do país, o problema é de segurança interna. A Segurança Interna está voltada a antagonismos e pressões de ordem política ou ideológica, com medidas voltadas a manter a paz social, quando afetada por disputas entre grupos nacionais, garantir a soberania e a integridade do patrimônio nacional ante ameaças separatistas de inspiração regional ou internacional, étnicas ou culturais, políticas ou econômicas e preservar a integração nacional. A Segurança Interna é desenvolvida com base no planejamento governamental e compreende medidas desde a fase da normalidade até a luta armada, passando pelo grave comprometimento da ordem pública, grave e iminente instabilidade institucional e comoção grave de repercussão nacional. Na fase de normalidade, as atitudes adotadas são preventivas e voltadas para o desenvolvimento da ordem pública, nela participando todas as expressões do poder nacional conduzidas pela expressão política. gestao_de_conflitos.indb 33 26/7/2011 09:40:03 34 Universidade do Sul de Santa Catarina Na ocorrência do grave comprometimento da ordem ou grave e iminente instabilidade institucional, ou ainda, comoção grave de repercussão nacional, as atitudes serão repressivas e voltadas para o pronto restabelecimento da ordem conduzidas, basicamente, pelas expressões política ou militar, dependendo da situação interna. Durante comoção grave de repercussão nacional, as medidas prevalentes serão operativas e voltadas para a defesa do Estado e das instituições. Quando a situação interna for de luta armada, as atitudes serão operativas, com o emprego violento da força em operações militares, conduzidas pelo Poder Militar. Tais medidas encontram amparo na Constituição Federal, no inciso VI do Art. 34, inciso III do Art. 34, no Art.136, e no Art. 137. A segurança pública tem em vista assegurar a ordem pública, contra violações de toda espécie, no que diz respeito à segurança individual e comunitária. Á defesa pública cabe disciplinar o comportamento da sociedade por meio de ações normalizadoras da ordem pública. É um conjunto de atitudes, medidas e ações adotadas para garantir o cumprimento das leis de modo a evitar, impedir ou eliminar a prática de atos que perturbem a ordem pública. A defesa civil consiste no conjunto de medidas preventivas, assistenciais e de socorro à população e a seu patrimônio, em tempos de paz ou de guerra, em relação a catástrofes naturais ou provocadas pelo homem, visando a evitar ou minimizar perdas. A defesa territorial consiste no conjunto de medidas adotadas no espaço geográfico sob jurisdição nacional, duranteguerra externa, para proteger e preservar o potencial nacional. As Polícias Militares têm espaço previsto em todas aquelas situações do ambiente da segurança. Instituída para atuar eminentemente na área de Defesa Pública, no caso de guerra externa, serão aquelas instituições consideradas para atuar na Defesa Territorial, sob a coordenação da força terrestre, desempenhando atividades típicas de polícia, protegendo pontos sensíveis à população. Assim, também, ocorrerá na Defesa Interna, da qual as Polícias Militares se constituem na primeira linha de defesa, na fase preventiva, ou podem também ser empregadas em missões típicas de polícia, sob a coordenação do Exército Brasileiro, nos casos de grave comprometimento da ordem pública, grave e iminente instabilidade institucional, comoção grave de repercussão nacional ou na luta armada. Na Defesa Civil, as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares constituem-se nas bases a partir das quais se prestará socorro e assistência à população flagelada. gestao_de_conflitos.indb 34 26/7/2011 09:40:03 35 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 1 CÓDIGO DE CONDUTA PARA A POLÍCIA, segundo a Organização das Nações Unidas - resolução nº 34/169, de dezembro de 1979 (ONU, 1979) Art. 1º - O policial cumprirá, a todo momento, os deveres que os impõe a lei, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, de acordo com o alto grau de responsabilidade exigido por sua profissão. Art. 2º - No desempenho de suas tarefas, o policial respeitará a dignidade humana, manterá e defenderá os direitos humanos de todas as pessoas. Art. 3º - O policial poderá usar a força somente quando for estritamente necessário e na medida que requeira o desempenho de suas tarefas. Art. 4º - As questões de caráter confidencial que tenha conhecimento o policial, serão mantidos em segredo, a menos que o cumprimento do dever ou as necessidades da justiça exijam estritamente o contrário. Art. 5º - Nenhum policial pode infligir, instigar ou tolerar ato de tortura bem como outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes, nem invocar a ordem de um superior ou circunstâncias especiais como estado de guerra, ameaça à segurança nacional, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública como justificação da tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes. Art. 6º - O policial assegurará a plena proteção da saúde das pessoas sob sua custódia e, em particular, tomará medidas imediatas para proporcionar atenção médica quando se precise. Art. 7º - O policial não cometerá nenhum ato de corrupção. Também se oporá rigorosamente a todos os atos dessa natureza e os conterá. Art. 8º - O policial respeitará a lei e o presente Código, também agirá enquanto estiver a seu alcance para impedir toda violação dele ou para opor-se a tal violação. O policial que tenha motivos para crer que tenha ocorrido ou venha ocorrer uma violação ao presente Código, informará a respeito a seus superiores e, se for necessário, a qualquer outra autoridade ou organismo apropriado que tenha atribuições de controle ou correção. Para se evitar possíveis abusos e violações de direitos humanos por parte da polícia, também é de fundamental importância o estudo e o condicionamento dos policiais ao previsto na Constituição Federal. gestao_de_conflitos.indb 35 26/7/2011 09:40:03 36 Universidade do Sul de Santa Catarina A Carta Magna de nossa nação estabelece em seu artigo 1º, inciso III, que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil como Estado Democrático de Direito é a dignidade da pessoa humana. No inciso II do artigo 4º consta que a República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais, pelo princípio da prevalência dos direitos humanos, e no inciso VIII, o repúdio ao terrorismo e ao racismo. Do título II – DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS, no capítulo I, que trata dos direitos e deveres individuais e coletivos, destaca-se o constante no artigo 5º e seus incisos que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III- ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante; XI- a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela pode entrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou durante o dia, por determinação judicial; XVI- todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; XXII- é garantido o direito de propriedade; XXIII- a propriedade atenderá a sua função social; XXV- no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; XXXIX- não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; XLI- a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais; gestao_de_conflitos.indb 36 26/7/2011 09:40:03 37 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 1 XLIII- a lei considerará crimes inafiançáveis e insusceptíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, omitirem-se; XLIV- constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; XLIX- é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; LVII- ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; LXI- ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; LXII- a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra será imediatamente comunicada ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; LXIII- o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; LXIV- o preso tem direito à identificação dos responsáveis pela sua prisão ou por seu interrogatório policial; LXV- a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; LXVI- ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; Contudo, o que consta escrito não é fácil de entender por que motivo as instituições policiais têm tanto desencontro; por que tantos policiais ousam aventurar-se nos caminhos da corrupção e da violência injustificada. Ao que parece, e esperamos que assim seja, o Plano Nacional de Segurança Pública do Governo Federal deverá dar início a uma organização das forças policiais do país. gestao_de_conflitos.indb 37 26/7/2011 09:40:03 gestao_de_conflitos.indb 38 26/7/2011 09:40:03 UNIDADE 2 O gerenciamento e a negociação de crises e conflitos Objetivos de aprendizagem � Conhecer os conceitos básicos que diferenciam gerenciamento de crise e gerenciamento de negociação. � Conhecer os procedimentos do gerenciamento de uma crise e o papel do negociador. Seções de estudo Seção 1 Conceitos básicos de gerenciamento de crises, negociação, crise e conflitos Seção 2 O gerenciamento de crises e sua doutrina internacional Seção 3 A negociação de crises e as regrasconsagradas a observar na negociação Seção 4 Doutrina de inteligência e gerência de informação nas crises 2 gestao_de_conflitos.indb 39 26/7/2011 09:40:03 40 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Nesta unidade você vai estudar e entender a importância do papel do gerenciador e do negociador quando da eclosão de uma crise. Este estudo irá permitir a você tomar conhecimento sobre as funções do negociador. Você verá que ele é parte integrante do grupo de gerenciamento de crises. Que o gerente de uma crise é o responsável pelo teatro de operações ou cena de ação, também denominado comandante. Você também agregará conhecimentos relativos a gerenciar uma crise com reféns. Gerenciar uma crise em que vidas alheias se encontram sob ameaça permanente exige uma preparação especial dos integrantes do teatro de operações. Você perceberá que gerenciar uma crise, por exemplo, do fechamento de uma rodovia em razão do acentuado número de acidentes, torna-se menos complicado, pela singularidade do interesse coletivo, que outros órgãos estatais participarem na resolução da crise. Em que pese apresentar uma aparente simplicidade requer pessoas habilitadas e capazes para uma solução aceitável. É, também, importante ressaltar que nossas autoridades públicas, que tem o poder discricionário de tomar decisões, respeitando os princípios da administração, tenham o conhecimento da importância da figura do gerenciador de crises, bem como do negociador e que esses profissionais façam parte do quadro de recursos humanos das instituições de segurança pública. Não podemos mais admitir que essas questões sejam administradas de forma amadorísticas. gestao_de_conflitos.indb 40 26/7/2011 09:40:03 41 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 Seção 1 - Conceitos básicos de gerenciamento de crise, negociação, crise e conflitos O que é crise? Como podemos defini-la? Monteiro (1994, p. 5) e De Souza (1995, p. 19), em suas respectivas obras, citam o conceito de crise adotado pela Academia Nacional do FBI (Federal Bureau of Investigation) dos Estados Unidos da América, sendo, então, definida como: “um evento ou situação crucial que exige uma resposta especial da Polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável”. É importante observar que, a expressão “da polícia”, faz clara alusão ao fato de que a responsabilidade de gerenciar e solucionar as situações de crise é de exclusividade da polícia. A utilização de religiosos, psicólogos profissionais da mídia e outros na solução de crises é inteiramente inconcebível, apesar de inúmeros precedentes, principalmente na recente crônica policial brasileira. O que você acha disso? Cite alguns argumentos para fundamentar o que se coloca. Você conhece uma situação em que houve a mediação de uma pessoa comum que não fora bem sucedida? Use o espaço abaixo para relatar suas impressões. Vamos discutir essa questão no FORUM, é interessante discutir essa questão do ponto de vista profissional, social e ético. - Agora que você já refletiu sobre de quem é a responsabilidade de agir no caso de uma crise, vamos analisar como gerenciar um evento de crise a partir de seu conceito. Vamos lá? gestao_de_conflitos.indb 41 26/7/2011 09:40:03 42 Universidade do Sul de Santa Catarina O que é o gerenciamento de crise? A Academia Nacional do FBI define gerenciamento de crises como sendo um processo de identificar, obter e aplicar os recursos necessários à antecipação, prevenção e resolução de uma crise. Uma crise sempre envolve dificuldades agudas e perigos que requerem decisões críticas. Para o enfrentamento eficiente daquele tipo de ocorrência devemos, de início, entender o que seja um gerenciamento de crise. De acordo com o Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, a palavra crise pode ter diversos significados: “Manifestação violenta e repentina de ruptura de equilíbrio. Manifestação violenta de um sentimento. Fase difícil e grave da evolução das coisas, de fatos ou ideias Um momento perigoso ou decisivo. Tensão ou conflito” (FERREIRA, 1986). O dicionário Aurélio estabelece, ainda, que crise social é uma “situação grave onde os acontecimentos da vida social rompem os padrões tradicionais e perturbam a organização de alguns ou todos os grupos integrados na sociedade” (FERREIRA, 1986). O Curso Avançado de Manejo de Crises do Escritório de Assistência ao Anti-terrorismo, do Serviço de Segurança Diplomática dos Estados Unidos, dá-nos os seguintes conceitos de crise: - Situação que ameace metas de alta prioridade do nível decisório, restrinja a quantidade de tempo disponível de resposta antes da tomada de uma decisão e sua ocorrência surpreenda os responsáveis pela decisão. - Qualquer evento que ameace significativamente o modo pelo qual uma empresa realiza seus fins comerciais ou um governo administra o bem estar de seus cidadãos. gestao_de_conflitos.indb 42 26/7/2011 09:40:04 43 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 A crise envolve dificuldades agudas e perigos que requerem decisões críticas e podem manifestar-se através de um ataque nuclear, inundações, terremotos, epidemias, acidentes comerciais ou industriais, violência trabalhista ou social, extorsões criminosas, levantes políticos, insurreições, terrorismo etc. A crise também pode ser entendida como um incidente ou uma situação que envolva uma ameaça a um país, seus territórios, cidadãos, forças de segurança, possessões ou interesses vitais, que se desenvolva rapidamente e gere condições de importância diplomática, econômica, política ou de segurança nacional, de tal grau que exige a consideração do compromisso de forças militares, forças de segurança interna e recursos nacionais para realizar os objetivos nacionais. Com referência à tarefa de gerenciar crises, podemos extrair do seu conceito o seguinte entendimento: Que o mais importante é evitar que a crise ecloda, ou seja, toda pessoa, e principalmente, aquela que desempenha uma atividade pública deve administrar tomando decisões amparadas em processos decisórios que estabeleçam procedimentos capazes de produzir os efeitos desejados no alcance de suas decisões, amparadas em processos decisórios que estabeleçam procedimentos capazes de produzir os efeitos desejados no alcance de suas metas e seus objetivos. É preciso, permanentemente, elaborar estudos de impacto de decisões de interesses múltiplos e público, isso é fundamental para evitar crises. Jamais devemos subestimar os atingidos pelas nossas decisões. O que é negociação? Doutrinariamente, é a catalisação, por parte do negociador, que se desenvolve no processo dialético entre as exigências dos causadores do evento crítico (tese) e a postura das autoridades (antítese), na busca de uma solução aceitável (síntese). gestao_de_conflitos.indb 43 26/7/2011 09:40:04 44 Universidade do Sul de Santa Catarina Negociar é uma arte que exige, além de habilidades pessoais, conhecimentos técnicos, pois poucos são capazes de intermediar entre a tese, a antítese e a síntese. Saber negociar é uma virtude que impõe ao administrador público qualificação diferenciada e cultura profissional. O que é um conflito? Podemos conceituar como um choque de interesses de ordem particular e coletiva, com objetivos nem sempre claros ou definidos. Num determinado conflito as pessoas envolvidas ficam obcecadas pelos interesses e perdem a capacidade de discernimento, desconsiderando, totalmente, princípios éticos, morais e legais. Essa situação requer profissionais preparados e com visão conceitual e holística das atividades que exercem, concorda? - Bem, agora que você já estudou os conceitos mais importantes ao entendimento do conteúdo tratado neste livro didático, vamos continuar nossa discussão no sentido de abordar como o gerenciamento de crises é visto nos campos de ação internacional. Vamos adiante? Seção 2 - O gerenciamento de crises e sua doutrina internacionalVocê viu que, conforme o conceito do que seja o gerenciamento de crises, podemos afirmar que gerenciar um evento crítico e com reféns é mais complexo que as simples análises que são formuladas e publicadas ao final de um gerenciamento. A grande maioria das pessoas não tem o dimensionamento da responsabilidade sobre o gerenciamento de um evento com reféns, que deve ser realizada pelo Estado. gestao_de_conflitos.indb 44 26/7/2011 09:40:04 45 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 Entendida como a quebra da ordem pública é dever do Estado restabelecê-la através de seus Órgãos de Segurança Pública, os policiais que atuam nos grupos de gerenciamentos e negociações, assumem um papel que não deve causar inveja a ninguém, pois sob a égide dos mandamentos doutrinários de cumprir a lei e preservar vidas, inclusive a dos causadores de crise, devem atender interesses que pontualizem os mais diversos segmentos sociais. A imprevisibilidade da ocorrência de um evento crítico e com a tomada de reféns que comumente acontecem em estabelecimentos penais ou assaltos, determina, até com certa imperiosidade que policiais tenham conhecimento básico de gerenciar e negociar, pois, a partir do momento que uma autoridade policial toma conhecimento da eclosão de uma crise, inicia-se o processo de gerenciamento. Mesmo que possa haver questionamentos significativos a serem feitos - como é o caso, por exemplo, da competência legal para a atitude que precisa ser desencadeada, que é o gerenciamento inicial - decisões de caráter imediato precisam ser adotadas logo nos primeiros momentos, a fim de favorecer o posterior controle e a própria condução do evento. A autoridade, que primeiro tomou conhecimento da crise, deve tomar algumas medidas essenciais para o gerenciamento definitivo do evento crítico instalado, quais sejam: Conter a crise. � Isolar o ponto crítico. � Iniciar as negociações. � Enfim, deverá possuir o conhecimento básico para conter, isolar e negociar. A ação de conter uma crise consiste em evitar que a teia se alastre, isto é, impedindo que os tomadores de reféns aumentem o número de reféns, ampliem a área sob seu controle, conquistem posições mais seguras, ou melhor, guarnecidas, tenham acesso a mais armamento, enfim, evitar ao máximo as condições favoráveis dos provocadores da crise. gestao_de_conflitos.indb 45 26/7/2011 09:40:04 46 Universidade do Sul de Santa Catarina A ação de isolar o ponto crítico, que se desenvolve praticamente ao mesmo tempo em que a de conter a crise, consiste em estremar o local da ocorrência, interrompendo todo e qualquer contato dos tomadores de reféns e dos reféns com o exterior. Essa ação tem como principal objetivo obter o total controle da situação pela polícia, que passa a ser o único veículo de comunicação entre os protagonistas do evento e o mundo exterior. O isolamento do local onde se instala o evento crítico não se caracteriza somente pela implantação dos perímetros interno e externo que selecionam as pessoas dentro do gerenciamento, mas também pela interrupção ou bloqueio dos possíveis meios de comunicação do ponto crítico com o mundo exterior. A prática tem ensinado que o sucesso do trabalho de gerenciamento de crises está diretamente relacionado com as medidas que são tomadas para o isolamento do ponto crítico e o início das negociações, terceira etapa, de fundamental importância, executada pela autoridade policial que primeiro tomou conhecimento da eclosão de uma crise. Após a tomada das três medidas iniciais, já citadas, o policial gerenciador dá início ao processo de instalação do teatro de operações. O teatro de operações, também denominado cena de ação, ficará sob a responsabilidade desse policial, denominado de Comandante do Teatro de Operações ou Comandante da Cena de Ação. A partir desse momento, toda e qualquer ação desenvolvida no âmbito do teatro de operações ou cena de ação, dependerá da anuência expressa desse policial, que passa a ser a mais alta autoridade na área em torno do ponto crítico. gestao_de_conflitos.indb 46 26/7/2011 09:40:04 47 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 Esse procedimento doutrinário tem como objetivo maior trazer a importante coesão e definição de autoridade no gerenciamento da crise, evitando-se a dispersão de comando e a perigosa ocorrência de cadeias de comando paralelas. Essa prerrogativa do comandante da cena de ação traz-lhe, como consequência, uma série de responsabilidades e encargos. Essas atividades, doutrinariamente próprias do gerenciador da crise, vão ser desempenhadas nas diversas fases da evolução do evento crítico, sendo importante ressaltar que poderão apresentar uma grande diversificação, dependendo da complexidade e da duração da crise. Nessas condições, na chamada fase da resposta imediata, em que a organização policial toma conhecimento e reage ao evento crítico, o comandante da cena de ação poderá ter, entre outras, as seguintes responsabilidades: Verificar se a organização policial possui um plano � de emergência para eventos críticos e, se for o caso, declará-lo acionado. Montar o posto de comando em local seguro, próximo � ao ponto crítico. Providenciar especialistas para atendimento a: � negociadores, grupo de operações especiais, técnicos em explosivos, bombeiros, médicos, ao pessoal de comunicação social ao trato com a mídia, aos técnicos em telecomunicações, eletricistas etc. Isolar a área, estabelecendo os perímetros táticos, � providenciando o patrulhamento ostensivo desses perímetros. Providenciar o posicionamento dos integrantes do grupo de � operações especiais em pontos estratégicos da cena de ação. Entrevistar ou interrogar pessoas que de qualquer modo � escaparem do ponto crítico. gestao_de_conflitos.indb 47 26/7/2011 09:40:04 48 Universidade do Sul de Santa Catarina Providenciar o imediato início das negociações, anotando � as exigências dos elementos envolvidos. Dar ciência da crise aos escalões superiores da � organização policial, fornecendo-lhes relatórios periódicos sobre a evolução dos acontecimentos. Providenciar, se for o caso, fotografias, diagramas ou � plantas do ponto crítico, para uso do grupo de operações especiais, se for o caso. Estabelecer uma rede de comunicação que cubra todo o � teatro de operações. Estabelecer esquemas de controle do ingresso de � pessoas na área isolada. Autorizar a entrada de pessoas (médicos, peritos, � técnicos etc) na área isolada. Cortar as comunicações dos elementos causadores da � crise com o mundo exterior, interrompendo-lhes a rede telefônica externa, a energia elétrica (no caso da existência de rádios ou televisores no ponto crítico) e outros meios que possibilitem essa comunicação. Preparar escalas de pessoal, no caso de a crise se estender � por um período de tempo que exija substituição do pessoal envolvido no teatro de operações, bem como não se esquecer de preparar uma pessoa para o substituir no comando da cena de ação. Na fase seguinte da crise, o chamado plano específico, quando se elabora o plano destinado a solucionar o evento, o comandante da cena de ação poderá ter, entre outros, os seguintes encargos: Participar de reuniões com os negociadores e o grupo � de operações especiais, objetivando negociar situações, traçar diretrizes e alternativas à solução da crise. gestao_de_conflitos.indb 48 26/7/2011 09:40:04 49 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 Participar de reuniões com os escalões superiores, � oferecendo-lhes sugestões e informações para o processo decisório. Analisar e discutir com o pessoal do grupo de operações � especiais as alternativas táticas. Estabelecer claramente as missões de cada elemento que � participar da execução do plano específico. Difundir entre todos os participantes os detalhes do � plano, a fim de que cada um conheça o seu papel no conjunto da ação a ser desencadeada.Providenciar algum reforço de pessoal, caso haja � necessidade, para o desencadeamento do plano. Realizar, periodicamente, � briefings com o pessoal da mídia para deixá-los informados acerca da evolução da crise. Verificar a existência dos recursos materiais necessários à � execução do plano específico. Providenciar, pelo menos a cada doze horas, alimentação � para os reféns e os elementos que os mantém nessa condição. No caso de se tratar de uma situação de crise exótica � ou de natureza extraordinária, que possa desencadear alguma catástrofe ou evento de elevado grau de risco para a comunidade, providencia a presença, in-loco, de representantes ou especialistas da área respectiva como meio-ambiente, recursos hídricos, energia nuclear, aeronáutica, epidemologia, corpo de bombeiros etc. Providenciar, estrategicamente, ambulâncias, � helicópteros e leitos em hospitais de emergência e prontos-socorro para atendimento de feridos, caso o plano específico preveja o uso de força letal. Verificar se o plano específico observa os denominados � critérios de ação, isto é, necessidade, aceitabilidade e validade do risco. gestao_de_conflitos.indb 49 26/7/2011 09:40:04 50 Universidade do Sul de Santa Catarina Providenciar, se possível, um ensaio do plano, corrigindo � as deficiências e cronometrando as ações previstas. Verificar se a ação tática escolhida está dentro da � capacidade de desempenho dos policiais envolvidos; - Providenciar, sempre que possível, vigilância técnica do ponto crítico para coleta de informações. Providenciar autoridade policial e escrivão para � lavratura]de autos de prisão em flagrante que porventura se façam necessários. Providenciar alimentação e alojamento para os policiais, � no caso de crises que se prolonguem excessivamente. Providenciar os seus períodos de descanso a fim de evitar � que a fadiga afete a sua capacidade de decisão; e - no caso de transferência da crise, avisar às autoridades policiais do local de destino, fornecendo-lhes as informações mais detalhadas e atuais possíveis sobre o evento crítico. Na última fase da crise, a resolução, isto é, quando o plano específico é colocado em execução, o comandante da cena de ação terá as seguintes responsabilidades: Avisar a todos os policiais para se posicionarem em locais � apontados como seguros pelo comandante do grupo de operações especiais. Tomar providencia com relação a perfeita identificação � dos bandidos e dos reféns, após o termino do trabalho do grupo de operações especiais. Resguardar-se, colocando-se em local seguro, evitando, � assim, prejudicar o desenrolar da resolução com a ocorrência de qualquer acidente com a sua pessoa. Providenciar o imediato resgate dos feridos, dando � prioridade aos reféns e aos policiais, cuidando para que aqueles em situação mais grave sejam socorridos em primeiro lugar. Providenciar para que os bandidos (tomadores de reféns) � sejam algemados e recolhidos a local seguro. Providenciar para que sejam adotadas as medidas de � polícia judiciária cabíveis com relação aos criminosos. gestao_de_conflitos.indb 50 26/7/2011 09:40:04 51 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 Mesmo após a resolução, o comandante da cena de ação ainda tem uma série de responsabilidades, por exemplo: Providenciar o recolhimento e a devolução do material � porventura cedido para operação (cordas, binóculos, lanternas, equipamento de escuta técnica, estojos de primeiros socorros etc). Elaborar relatórios para encaminhamento aos seus � superiores. Providenciar perícias de local com vistas a virtuais � indenizações de terceiros, cujo patrimônio tenha sido lesado em decorrência da crise. Antes de seguir ao tópico seguinte, relate um caso de crise que você presenciou e pode constar a sequência ou não das fases e etapas necessárias. Quando há a quebra de alguns desses procedimentos, o que pode ocorrer? Quais as responsabilidades e que possíveis procedimentos são tomados. Reflita sobre isso. Use o espaço a seguir para registrar suas considerações. As crises no contexto de ação do Estado A atividade policial ou de bombeiros constitui-se uma constante administração de crises, pois atua sempre na prevenção ou repressão de conflitos, na proteção da pessoa, do patrimônio e das instituições. Como se pode deduzir do estudo do ambiente da segurança acima abordado, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros têm seu espaço de atuação na Defesa Pública, Defesa Interna, na Defesa Territorial e na Defesa Civil. gestao_de_conflitos.indb 51 26/7/2011 09:40:04 52 Universidade do Sul de Santa Catarina Você viu em seção anterior o que é crise, e como você pode verificar tais conceitos, observe agora os seguintes elementos essenciais: ameaças a metas de alta prioridade; � ameaças a interesses vitais; � tempo limitado de resposta; � surpresa para o nível decisório; � necessidade de recursos nacionais para alcançar os � objetivos nacionais; possibilidade do uso de força. � Atos terroristas possuem características críticas muito próprias e exigem algumas considerações especiais. O terrorismo consiste no uso da violência e intimidação para subjugar pessoas ou alcançar um fim ou propósito, caracterizando-se pelo desenvolvimento do medo. Embora possa estar ancorado numa causa nobre, o ato terrorista viola a lei e os padrões aceitáveis de comportamento humano. Normalmente se manifestam com ações de forte impacto psicológico, como sequestros de aviões, tomada de reféns e uso de bombas. Um ato será considerado terrorista se: for ilegal; � envolver o uso ou ameaça do uso da força; � objetivar coação sobre um governo; � a sociedade se tiver objetivos politicos, religiosos ou � ideológicos gestao_de_conflitos.indb 52 26/7/2011 09:40:04 53 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 As crises de fundamentação terrorista caracterizam-se por: Impacto multinacional � : Um dos objetivos do terrorismo é a propaganda, e suas ações visam a, justamente, chamar a atenção do mundo para as causas. A globalização permitida pela rapidez dos meios de comunicação de massa atinge todos os recantos do planeta. Complexidade � : São crises complexas e confusas, por envolver interesses conflitantes e colocar em evidência decisões governamentais eminentemente políticas. Implicações a longo prazo � : O ato terrorista em si e as decisões tomadas na administração da crise podem exercer impactos futuros sobre a imagem do país, sobre a economia e as relações internacionais. Por aquela conceituação, traficantes que ameacem ou executem moradores e policiais em suas áreas de atuação; mafiosos que destroem estabelecimentos comerciais para forçar o pagamento de proteção; criminosos que ameacem testemunhas, todos estarão impondo o terror como armas de pressão, mas não seriam considerados terroristas e sim criminosos comuns. Não há objetivos políticos, religiosos ou ideológicos, nem ameaçam a estrutura de governo do país. Por outro lado, sequestros aéreos, colocação de bombas em locais ou estabelecimentos públicos, a tomada de reféns, ou ocupação de prédios públicos por trabalhadores, com o fim de fazer propaganda ou denúncia, forçar o governo a ceder a suas exigências, se o fundamento for político ou ideológico, de acordo com a conceituação, seriam atos enquadrados como terroristas. No nível que nos interessa abordar, uma crise poderá surgir de uma emergência severa e pode manifestar-se de diferentes formas: tentativas de suicídio, incêndios, inundações, terremotos, acidentes comerciais ou industriais, desastres de aviação, desabamento de minas e prédios, derramamento de petróleo, epidemias, violências trabalhistas, motins, extorsões criminosas mediante sequestros, tomada de reféns, levantes políticos, insurreições, ações terroristas etc. gestao_de_conflitos.indb 53 26/7/2011 09:40:04 54 Universidade do Sul de Santa Catarina O Federal Bureau ofInvestigation (FBI), ao tratar de Gerenciamento de Crises, em cursos destinados a policiais, restringe o conceito de crise a ocorrências de responsabilidade da polícia, mais especificamente, tentativas de suicídio, ações terroristas, sequestros e tomadas de reféns. Na verdade, praticamente toda crise acaba, de certa forma, sendo responsabilidade da polícia a atuação principal ou coadjuvante. Crise é toda situação crucial que exige resposta especial da polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável. De acordo com o FBI, uma crise terá as seguintes características: imprevisibilidade; � ameaça à vida; � compressão de tempo; � necessidade de considerações legais especiais; � necessidade de planejamento especial analítico; � necessidade de postura institucional não rotineira. � Veremos a seguir cada uma dessas características com mais detalhes: Imprevisibilidade - a característica da imprevisibilidade � não estará obrigatoriamente associada a todos os tipos de crise, pois há eventos críticos perfeitamente previsíveis como, por exemplo, uma rebelião em presídio, uma manifestação popular violenta, a ocorrência de fenômenos naturais catastróficos. Porém, é bastante comum que as autoridades sejam surpreendidas pela deflagração de uma crise sem que haja tempo para minimizar seus impactos, nem preparação para enfrentá-la. gestao_de_conflitos.indb 54 26/7/2011 09:40:04 55 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 Ameaça à vida - entre as características da crise de � ameaça à vida é a que mais justifica a preocupação das instituições com o seu preparo para administrar eventos críticos, mesmo quando a vida em risco seja do próprio causador da crise, seja ele um suicida ou um delinquente de alta periculosidade. Compressão de tempo - a compressão de tempo é outra � característica que acompanha as situações críticas, exigindo grande rapidez de raciocínio, autocontrole e conhecimento técnico do administrador de crises. Quando se trata de crises provocadas por tomadores de reféns, sequestradores ou terroristas, é uma das armas utilizadas pelos causadores de crise para pressionar as autoridades para o alcance de seus fins. Necessidade de considerações legais especiais - em � relação à necessidade de considerações legais especiais, durante uma crise, muitas vezes, o administrador do evento crítico deverá avaliar aspectos legais quanto à responsabilidade pela condução das operações e os limites de atuação. Talvez tenha que administrar conflitos institucionais e de disputa pela administração da crise. Poderá ter que considerar quanto ao amparo legal em relação à sua autoridade na área crítica, quanto ao atendimento ou não de exigências, quanto ao possível emprego de força, refletir quanto ao estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal, responsabilidade civil e administrativa, respeito aos direitos humanos etc. Vale a pena lembrar que o bom senso e a preocupação com as vidas que estão em jogo devem prevalecer sobre orgulhos corporativistas, porém, deve-se ocupar com competência o espaço legalmente destinado à Corporação. gestao_de_conflitos.indb 55 26/7/2011 09:40:04 56 Universidade do Sul de Santa Catarina Necessidade de planejamento especial analítico - � quanto à necessidade de planejamento analítico especial, a primeira consideração é que cada caso é único, não havendo uma crise exatamente igual a outra. Além disso, o administrador de crise estará, muitas vezes, decidindo com deficiência de informações, sob os holofotes da imprensa, dentro de interesses e posições políticas superiores, muitas vezes conflitantes entre si, com a doutrina e com princípios pessoais, o que poderá contribuir para uma maior insegurança. Daí a importância de preparo e treinamento prévio de estabelecimento de hipóteses e soluções alternativas para atuar nestas condições. Necessidade de postura institucional não rotineira � – de todas as características da crise, a que mais contribui para o estresse do administrador de crise é a necessidade de postura organizacional não rotineira. Só o conhecimento da doutrina e o treinamento poderão minimizar os efeitos do estresse sobre o eventual administrador de crises. Profissionais habituados a enfrentar ocorrências policiais serão mais confiantes para administrar crises de natureza policial. Aquela experiência aliada ao conhecimento da doutrina contribuirá enormemente para o controle emocional do eventual gerente de crise. Como vimos, a palavra crise tem um entendimento de abrangência muito ampla e ela pode ser maior ou menor para os comandantes de polícia ou de bombeiros, dependendo, respectivamente, do menor ou do melhor preparo para enfrentá- la. Uma simples ocorrência policial ou de salvamento poderá ser uma grande crise para quem a realizar. Assim, tão logo quanto possível, é preciso fazer uma avaliação crítica dos resultados: Efetuar uma última entrevista com os representantes da � mídia, informando-os sobre os resultados da crise. Providenciar o apoio psicológico necessário para os � policiais que porventura são afetados por traumas resultantes do evento crítico. gestao_de_conflitos.indb 56 26/7/2011 09:40:04 57 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 Como podemos observar, as atribuições e responsabilidades do comandante da cena de ação ou teatro de operações, que é o gerenciador de uma crise, são muitas, e determinam o sucesso, ou não, na resolução de um evento. Por essas razões, o policial que assume essa função deve estar qualificado, sua escolha deve ser criteriosa, pois de sua atuação estarão dependendo vidas envolvidas, diretamente ou não, no evento crítico. Seção 3 - A negociação de crises e as regras consagradas a observar na negociação A negociação é fundamental no gerenciamento de uma crise, em que pesem todos os fundamentos e ações desenvolvidas pelo gerenciador, grande parte das probabilidades de lograr êxito reside na disponibilidade de um policial negociador, bem qualificado e experiente. Costuma-se dizer que gerenciar crises é negociar, negociar e negociar. E quando ocorre de se esgotarem todas as chances de negociação, deve-se, ainda, tentar negociar mais um pouquinho. Essa tarefa de negociação, dada a sua primazia, não pode ser confiada a qualquer um. Dela ficará encarregado um policial com treinamento específico, denominado de negociador. Conforme já citado, o papel fundamental do negociador é o de servir de intermediário entre os causadores do evento crítico e o comandante da cena de ação. Funciona ele, portanto, como um catalisador, no processo dialético que se desenvolve entre as exigências dos causadores do evento crítico, que costumamos chamar de tese, e a postura das autoridades, que chamamos de antitese, na figura de uma solução aceitável, que denominamos de síntese. Historicamente, simplesmente tem-se por hábito caracterizar a figura do negociador como a de alguém que se utiliza de gestao_de_conflitos.indb 57 26/7/2011 09:40:04 58 Universidade do Sul de Santa Catarina todos os meios de persuasão para que os causadores da crise rendam-se sem qualquer resistência, e por conseguinte libertem as pessoas tomadas como reféns. Quando esse objetivo não era substancialmente atingido, a função do negociador era considerada encerrada e a solução da crise passava a cargo do grupo de operações especiais. Era uma visão distorcida da doutrina, de que o papel do negociador e do grupo de operações especiais são distintos e excludentes entre si. Recentemente, estudos realizados pela Special Operations and Research Unit da Academia Nacional da FBI mostram que essa visão tornou-se equivocada, porquanto ambos têm, de fato, a mesma missão, isto é, resgatar pessoas tomadas como reféns, e que tal missão permanece a mesma ao longo de todo o evento crítico. Mesmo no caso do gerenciamento da crise, após oferecer informações e consultar autoridadesdo escalão superior, decidir pelo emprego do grupo de operações especiais, o negociador não deve ser afastado, mas aproveitado nesse momento decisivo, haja vista que seus recursos são imprescindíveis no apoio para o emprego de uma ação tática coordenada. Tautologicamente, a figura do negociador (ou até mesmo negociadores), é de fundamental importância na cena de ação, sendo o seu papel tático de suma importância no curso de uma crise. Este papel tático, de acordo com Pontes (1996), sustenta posições teóricas de Dwayne Fuselier, profissional do FBI. De acordo com os escritos desse agente, o papel tático pode ser desempenhado de três maneiras: por meio da coleta de informações durante as negociações. � por meio da utilização de técnicas de negociação que � otimizem a efetividade do risco de uma ação tática. pelo uso de técnicos de negociação específicas, como � parte de uma ação tática coordenada. gestao_de_conflitos.indb 58 26/7/2011 09:40:04 59 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 - Descreveremos, a seguir, como se pode processar, em cada uma dessas modalidades, o papel tático do negociador. A coleta de informações O negociador é a mais confiável fonte de informação de que pode dispor o comandante do teatro de operações, ou seja, o gerenciador do evento crítico. Por meio dele, é possível obter informações a respeito da condição mental, do estado de espírito e da personalidade dos elementos causadores da crise. Além do mais, pode, um negociador, colher preciosas informações por meio das seguintes táticas: Diálogo com os causadores da crise ou tomadores de � reféns. A título de informação, a Polícia Metropolitana de Londres, citada no Manual de Gerenciamento de Crises da Academia Nacional do FBI, calcula que 40% do total de informações de uma crise é obtido por meio deste procedimento (MONTEIRO, 1997). Durante o diálogo, o negociador pode obter ou confirmar informes acerca do verdadeiro número de bandidos e de reféns, armas, exigências, nomes e posição social das pessoas envolvidas, enfim, todos os elementos essenciais de informações, fundamentais para o gerenciamento da crise. Soltura de reféns. Isso proporciona a oportunidade de se � obter dados preciosos de alguém que estava no interior do ponto crítico, dados esses que podem ser analisados e cotejados com outros obtidos de outras fontes. Aproximação do ponto crítico. Essa aproximação, � feita para dialogar ou fazer entrega (de comida, água, remédios etc), possibilita uma observação mais próxima e mais detalhada do interior do ponto crítico, com a consequente coleta de dados de muita importância para orientação do grupo de operações especiais. gestao_de_conflitos.indb 59 26/7/2011 09:40:04 60 Universidade do Sul de Santa Catarina Realização de fotografias (com máquina oculta) do ponto � crítico, aproveitando as oportunidades de entrega de água, comida, remédios etc. Coleta de declarações escritas dos bandidos (tomadores � de reféns) ou dos próprios reféns, para análises. Que técnicas de negociação podem otimizar a efetividade do risco? São técnicas que o negociador pode utilizar com a finalidade de diminuir o risco de uma possível ação tática a ser, por ventura, desencadeada pelo grupo de operações especiais. No exercício desse papel, o negociador poderá: Inventar histórias, chamadas de coberturas para justificar � aos tomadores de reféns algum ruído ou movimento estranho causado pelo grupo de operações especiais nos seus preparativos para entrar em ação. Ganhar tempo, através de conversas prolongadas � com os causadores da crise, possibilitando um melhor amadurecimento das decisões do grupo de operações especiais. Prolongar a negociação para que o plano de ação do grupo � de ações especiais possa ser melhor detalhado e ensaiado. Desenvolver um estreito relacionamento com os � causadores da crise, de modo a torná-los mais receptivos às ideias, sugestões e propostas dos responsáveis pelo gerenciamento da crise. Prolongar a negociação de sorte que ocorra a Síndrome � de Estocolmo, fazendo assim com que se reduzam as possibilidades de maus tratos e até de homicídios contra os reféns, pelo não cumprimento dos prazos fatais por parte das autoridades. gestao_de_conflitos.indb 60 26/7/2011 09:40:05 61 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 Técnica de negociação como parte de uma ação tática coordenada Conceituada pela psicologia como uma transferência de sentimentos, foi observada pela primeira vez em um assalto na Suécia, na cidade de Estocolmo, onde ocorre um relacionamento afetivo entre o sequestrador e o refém. São técnicas que o negociador pode utilizar para apoiar diretamente uma ação tática. Nesse decisivo papel, o negociador, como coadjuvante do plano de ação do grupo de operações especiais, poderá: Conseguir o ingresso de pessoas no ponto crítico, sob � o pretexto de fazer entregas (de água, comida, cigarros, remédios etc), de prestar socorro médico, de realizar reparos em instalações etc. Identificar o líder ou o tomador de decisões dos � responsáveis pelo evento crítico, estabelecer sua localização e mantê-lo distraído numa conversa, no momento crucial de entrada em ação do grupo de operações especiais. Arranjar tarefas para ocupar os tomadores de reféns, � localizando-os em posições onde eles representem uma menor ameaça aos reféns ou onde eles se tornarem menos capazes de obstruir uma missão de resgate. Fazer com que os reféns possam estar em posições de � menor perigo ou onde o socorro seja mais viável, no momento da ação do grupo de operações especiais. Possibilitar a aproximação de um veículo ou de outro � objeto que facilite a ação dos atiradores de elite. Fazer concessões importantes aos tomadores de reféns, � levando-os a acreditar na obtenção de seu êxito, o que resultará numa queda natural do seu estado de alerta e de suas defesas psíquicas, fator esse de muita importância para que sejam apanhados desprevenidos. gestao_de_conflitos.indb 61 26/7/2011 09:40:05 62 Universidade do Sul de Santa Catarina Como podemos observar, por meio dessas atribuições � e muita habilidade comportamental do negociador, identificamos sua fundamental importância na composição da equipe de gerenciamento, na solução de uma crise. Quando da eclosão de uma ocorrência de alto risco que � redundará, infelizmente, em uma crise a ser negociada, torna-se necessário que os órgãos de Segurança Pública estejam preparados. Devemos considerar a realidade posta, em que já não é mais surpresa ocorrências desta natureza. Para tanto, precisamos ter a consciência do valor do papel tático do negociador, bem como ter pacificamente assentada, nos órgãos de segurança, a doutrina de gerenciamento de crises com reféns. Quantos negociadores devem ser empregados na negociação? Depende da duração e complexidade da crise, mas o mínimo recomendado é dois, sendo ideal de três a quatro. Isso permite a troca de ideias e o revezamento, ou, até uma eventual e necessária substituição. 1 . Escolha o momento correto para fazer contato Na deflagração de uma crise onde os marginais se vêm cercados pela polícia, os pri meiros 45 minutos são cruciais, pela instabilidade dos bandidos.É necessário muito tato para abordá-los. O Comandante do Teatro de Operações e o negociador deverão escolher o me lhor momento para fazer o contato, de tal forma que os marginais não se sintam pressionados e inseguros, a tal ponto que cometam algum ato desatinado. Enquanto isso, desenvolve se entre reféns e os bandidos a “Síndrome de Estocolmo”. Conforme Manual de Gerenciamento de Crises da Polícia Militar do Estado do Paraná (PONTES, 1996). REGRAS A OBSERVAR NA NEGOCIAÇÃO gestao_de_conflitos.indb 62 26/7/2011 09:40:05 63 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 Da mesma forma no sequestro para fins de extorsão, há que se aguardar o contato dos marginais para o iníciodas negociações, que normalmente eles não querem fazer com a polícia. Muitas vezes tais contatos serão feitos pelos familiares, com o assessoramento de um policial. 2. Estabilize e contenha a situação A tensão normal decorrente do início de uma crise deve ser estabilizada para que os protagonistas do evento possam agir dentro de um nível de raciocínio lógico. Dependerá muito do preparo do negociador induzir para a situação se estabilizar e não se tornar mais crítica. O objetivo será o de arrefecer o ânimo dos bandidos, dando-lhes a ideia de ter o controle da situação, evitando, inclusive, atos de violência contra os reféns. 3. Evite negociar cara a cara O negociador não deverá se expor a se tornar mais um refém, ou até, ser ferido ou morto pelos marginais. Sendo inevitável essa situação, o negociador não deverá se aproximar a menos de 10 metros, a não ser que esteja protegido por algum obstáculo físico. Possíveis expressões fisionômicas do negociador poderão até trair suas verdadeiras intenções. 4. Identifique-se como negociador Ao fazer contato com os marginais, deve o policial identificar-se e dar-lhe ciência de que será ele o negociador, para que o bandido saiba exatamente a quem deve dirigir-se. 5 . Estabeleça código de reconhecimento Para que o marginal se sinta mais seguro em suas ligações com o negociador, e para que o próprio negociador tenha gestao_de_conflitos.indb 63 26/7/2011 09:40:05 64 Universidade do Sul de Santa Catarina certeza de estar tratando com o representante dos marginais, é, muitas vezes, importante que se estabeleça um código de reconhecimento. Isso po derá evitar que engraçadinhos venham a tumultuar as negociações, o que é bastante comum nas situações de extorsão mediante sequestro. 6. Evite as palavras tais como: reféns, sequestrados, superiores, problema Tais palavras poderão dar aos marginais uma sensação de maior poder e contro le da situação. Ao ser mencionado pelo negociador a existência de superiores, o marginal entenderá ser mais produtivo falar diretamente com tais pessoas. 7. Ouvir muito e falar pouco A tendência de quem está tenso é falar muito alto e em tom agressivo. O bom negociador é um bom ouvinte. Portanto, é necessário o negociador ter a habilidade de ouvir muito e falar o necessário, e até estimular o bandido a exteriorizar suas ideias. Is so permitirá ao bandido promover um arejamento e desabafar, reduzindo o seu estado de ansiedade, evitando atitudes agressivas com os reféns. Ao mesmo tempo, o negociador es tará ganhando tempo. 8. Não responda às agressões Será normal também que o bandido acuado passe a proferir agressões ao ne gociador. Mais uma vez cabe ao negociador ouvir sem agredi-lo.O marginal tem motivo para estar nervoso, o negociador não. gestao_de_conflitos.indb 64 26/7/2011 09:40:05 65 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 9. Não corte a conversa do bandido Quanto mais o marginal falar, mais o negociador ganha tempo, mais se processa o fenômeno do arejamento, mais ele passa informações. Portanto, deve o negocia dor ter a paciência de ouvir e estimulá-lo a falar. A boa técnica de discussão consiste em ouvir tudo e depois chamar a aten ção do interlocutor para aquilo que ele não tem razão. 10. Fale mais baixo e devagar Ao falar mais baixo e devagar, o negociador demonstra calma, paciência e senhor da situação. Naturalmente, o bandido irá baixando o volume e a rapidez da sua conversa. 11. Não ameace Se o negociador fizer ameaças poderá levar o bandido ao desespero ou se ver por ele desafiado a cumprir com a ameaça feita. Isso poderá causar a interrupção da negociação ou desmoralizar o negociador. 12. Evite truques e blefes Uma negociação estará no caminho do sucesso se houver um clima de mútua confiança. Portanto, deve haver desde os primeiros contatos uma atitude firme e con fiável do negociador, pois o uso de truques ou blefes poderá reverter em maus tratos ao refém, assim o bandido mostra que não está amedrontado nem disposto a brincar. 13. Não prometa se não puder cumprir Se o negociador fizer uma promessa e não cumprir, o clima de confiança estará prejudicado, o que fatalmente implicará em radicalização dos bandidos e, possivelmente, exigirá a substituição do negociador. E as negociações voltarão à estaca zero. gestao_de_conflitos.indb 65 26/7/2011 09:40:05 66 Universidade do Sul de Santa Catarina 14. Procure ganhar tempo Quanto mais durar uma crise melhor, pois há mais condições de ter um final feliz. Isso permitirá maior desenvolvimento da “Síndrome de Estocolmo”, maior tempo para o raciocínio dos bandidos, melhor amadurecimento do processo decisório, melhor preparo dos meios, principalmente do Grupo Tático. 15. Respeite o marginal Todos gostam de ser tratados com respeito, inclusive os marginais. Qual quer demonstração de menosprezo ao bandido poderá ter um alto preço para o refém. 16. Desconfie sempre Assim como o marginal não confia na polícia, é muito mais lógico que o policial não confie nos princípios e no caráter do bandido. Trata-se de um indivíduo acuado, dotado de inteligência e que tentará todas as formas de enganar a polícia, procurando sair-se vitorioso em seu intento. Portanto, desconfie sempre. 17. Desconfie de pequenas quantias Nas negociações em que os marginais exigem pequenas quantias, especi almente nos casos de tentativa de extorsão mediante sequestro, é de se desconfiar que, na realidade, não tenham o refém em seu poder. 18. Regatear sempre/ abrandar exigências Tudo o que seja pedido pelo bandido deve ser regateado pelo negocia dor, dentro da premissa de abrandar exigências e ganhar tempo. Também deve-se ter o cuidado de demonstrar ao bandido que não é tão fácil conseguir o que exige e evitar o arrependimento de ter pedido “pouco”. gestao_de_conflitos.indb 66 26/7/2011 09:40:05 67 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 19. A cada concessão exigir algo em troca As concessões feitas aos bandidos devem ser exploradas como gestos de boa vontade da polícia. Deve ser aproveitado pelo negociador para exigir do margi nal que também demonstre boa vontade. A primeira preocupação do negociador deve ser a diminuição do número de reféns. 20. Não permitir a troca de reféns A troca de reféns tem sido comum nas administrações de crises em nosso país, embora os questionamentos de ordem ética, em muitos casos tal troca tem se constituído em elemento positivo para a solução da crise. Muitos bandidos têm se politizado e se conscientizado de que não deverão hostilizar padres, juízes, promoto res, políticos e, especialmente, a imprensa. A doutrina preocupa-se com a quebra da “Sín drome de Estocolmo”, e o perigo a que ficará exposto o novo refém. Será profunda mente desgastante à polícia ter concordado com a troca de reféns se houver morte do substituto. Em princípio, não se faz a troca de reféns, mas não nos precipitemos em criticar aqueles casos em que se adotou tal medida. E se você souber que se trata de um advogado dos próprios bandidos? 21. Policial não pode ser refém Não se pode admitir que um policial seja trocado por reféns, por princípios morais e éticos. A normal aversão de bandidos por policiais e a expectativa de que o po licial tenha aversão pelos marginais torna praticamente impossível a expectativa de que se desenvolva entre eles a “Síndrome de Estocolmo”. Por outro lado, a presença de um policial como refém dos bandidos poderá alterar o equilíbrio emocional dos policiais na resolução do caso. Portanto, é inadmissível que o policial seja trocado por reféns. gestao_de_conflitos.indb 67 26/7/2011 09:40:05 68 Universidade do Sul de Santa Catarina 22. Não conceder armas e munições Essa é outra condição da qual a polícia não pode abrir mão. Armas e muni ções fornecidas aos bandidos poderão ser usadas contra a população e contra a polícia. 23. Não fornecer bebidas ou drogas Tais produtos irão alterar o comportamento dosbandidos, os quais pode rão cometer atos extremos, justamente pelo seu uso. Por outro lado, se houver a depen dência daqueles produtos, a abstinência servirá como mais um desconforto a desgastada resistência dos marginais. Contraria também o Critério da Aceitabilidade. 24. Nunca diga “não” Um bom político nunca diz “não”. Sempre diz “talvez”, “vamos ver o que é possível “isto, realmente será difícil”,”talvez, algo mais fácil. A anotação do pedido e a solicitação de um tempo para dar a resposta, pode ser uma saída para buscar u ma alternativa viável. 25. Nunca ignorar exigências O negociador não pode ignorar nenhum pedido dos bandidos. Pequenos pedidos devem ser atendidos de imediato, tais como cigarros, água, papel higiênico, a limentação, numa demonstração de boa vontade e de preocupação com eles. 26. Estimular a rendição Constantemente o negociador estimulará a rendição dos marginais co mo sendo a melhor alternativa para todos, procurando mostrar o lado bom de tal ti tude. Aproveitar todos os meios possíveis para sensibilizá-los à rendição. gestao_de_conflitos.indb 68 26/7/2011 09:40:05 69 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 27. O refém é a garantia dos marginais Conscientizar os marginais de que AS PESSOAS QUE ESTÃO EM SUA COMPANHIA são a garantia de um bom tratamento pela polícia, motivo pelo qual elas devem ser bem tratadas por eles. 28. Desenvolva a síndrome de estocolmo Quanto maior for a dependência psicológica dos bandidos em relação aos reféns, menor será a possibilidade de qualquer ato extremo contra esses. Portan to deve ser preocupação constante do negociador estimular o desenvolvimento dessa síndrome. 29. Garantir a integridade física dos marginais A maior preocupação dos marginais que se disponham a render-se à polícia é ser maltratado e humilhado por ela. Cabe ao negociador garantir a integrida de física aos marginais, inclusive concordando com o acompanhamento da imprensa, de advogados, juiz, promotor, padres, ao ato da prisão. 30. Não tome a iniciativa de sugerir O negociador não deve tomar iniciativa de sugerir nada aos marginais, a não ser que seja autorizado, após ter discutido o caso com o Gerente da Crise. 31. Não estabeleça nem aceite prazos fatais O negociador deve ter a habilidade para não estabelecer prazos fatais, nem mos trar aos marginais intimidação com prazos fatais. Isso contraria o princípio de ganhartempo, e, ao mostrar- se cumpridor de prazos, dará ao marginal a sensação de que está impondo as regras. A não ser nos casos de tratamento com terroristas radicais, não tem sido comum os bandidos praticarem atos extremos após ter decorrido prazos por eles es tabelecidos. gestao_de_conflitos.indb 69 26/7/2011 09:40:05 70 Universidade do Sul de Santa Catarina 32. Gravar conversações As gravações de conversações com os marginais poderão servir de meio para identificá-los, sendo prova documental para os procedimentos de polícia judiciária e para as medidas judiciais. Portanto, deverá o negociador estar munido de equipamentos de gravação e gravar as conversações. 33. Atenção aos vícios de linguagem Os vícios de linguagem poderão permitir à investigação identificar a origem dos marginais, o grau cultural, e até a correta identificação do marginal 34. Preservar documentos para perícia Induzir para que os marginais utilizem pratos ou bandejas metálicas para facilitar a coleta de impressões digitais, sugerir o preenchimento de bilhetes, preservar cartas e outros objetos enviados pelos bandidos para perícia, isso muito contribui para a identificação dos marginais. 35. Ser discreto no trato com a família Tal conselho é mais apropriado nos casos de negociação de extorsão medi ante sequestro, quando o negociador, muitas vezes, passa a conviver como se fosse membro da família da vítima. O negociador, nesse caso, deverá manter-se discreto, sem querer mostrar-se excessivamente íntimo, pois é um estranho, num momento muito difícil, nem demonstrar elevados conhecimentos, contando outros casos de sequestro. Deve limitar-se a interferir de maneira estritamente profissional. No caso de ser o negociador de uma crise num ponto crítico, o negociador, se tiver contato com familiares, será única e exclusivamente para colher informações nas conversações com os bandidos. gestao_de_conflitos.indb 70 26/7/2011 09:40:05 71 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 36. Pedir constantes provas de vida Em muitos casos de sequestro, os marginais ou lobos solitários fazem exigências sem ter o refém em seu poder. Cabe ao negociador exigir constantes provas de vida que poderão constar de fotos ou filmes com o jornal do dia, ou por meio de respostas a perguntas que só seriam de conhecimento do refém. 37. Não delatar decisões táticas Muitas decisões táticas são de conhecimento do negociador. Nas suas conversações com os marginais, o negociador deve tomar o cuidado de não deixar transpa recer tais raciocínios táticos, sob pena de colocar em risco a vida dos policiais, dos reféns ou desmoralizar a instituição policial. 38. Apoiar ações táticas por meio da negociação O negociador desempenhará importante papel por meio de ações diversas, como a tranquilização dos marginais, na preparação ou na execução da ação do Grupo Tático. Poderá, ainda, contribuir para a colocação de equipamentos de escuta no interior do ponto crítico, ou infiltração sigilosa de grupo tático 39. Não envolva outras pessoas, a não ser policiais, nas negociações Psicólogos, psiquiatras, advogados, assistentes sociais, padres etc., podem não ser bem-vidos para assessorar o Gerente da Crise e os negociadores, porém, não deverão ser utilizados como negociadores. Tais pessoas, por bem intencionadas que sejam, não terão uma visão nem compromisso policial com o final do evento crítico. Se algo der errado no final do evento, eles serão poupados da crítica, a polícia não. gestao_de_conflitos.indb 71 26/7/2011 09:40:05 72 Universidade do Sul de Santa Catarina Esses são conselhos e parâmetros das negociações, segundo estudos e expe riências vivenciadas pela polícia. Porém, cada caso é um caso. Além da doutrina, deverá imperar o equilíbrio e o exercício da inteligência. O gerenciamento de Crises exige muito preparo técnico, mas depende, principalmente, da conjugação das habilidades técnicas, intelectuais e psicológicas, não só do negociador, mas da equipe do gerenciamento de uma crise. Nas palavras do Cel. Valter Wintenburg Pontes, autor do Manual de Gerenciamento de Crises da Polícia Militar do Paraná e um dos precursores da profusão dessa doutrina no Brasil: Se você estiver à frente de uma situação crítica, não se esqueça desses princípios, mas, principalmente, não se esqueça de sua responsabilidade com a vida de seu semelhante. Ela está acima de doutrinas, vaidades pessoais e de orgulhos corporativistas. (PONTES, 1996). Seção 4 - Doutrina de inteligência e gerência de informações nas crises A inteligência disponível no momento oportuno e de forma precisa é um elemento chave para a administração de crises. Quando coletada e analisada de maneira adequada, ela é muito útil à prevenção, preparação, resposta e recuperação, em qualquer situação de crise. Define-se INTELIGÊNCIA como sendo o produto da coleta, avaliação, integração e interpretação de informações de significado especial para um planejamento. Enquanto informações são os dados brutos, a inteligência consiste na transformação daqueles dados para um produto processado. gestao_de_conflitos.indb 72 26/7/2011 09:40:05 73 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 A inexistência de um trabalho de inteligência para orientar decisões conduzirá o administrador da crise a possíveis erros ou escolhas de alternativas equivocadas. Portanto, é de fundamental importância o assessoramento de um eficiente serviço de inteligência em funcionamento constante, voltado para a identificação de potenciaiscausas de crises e para a minimização dos danos da crise. Identificação de crises potenciais A preparação para crises potenciais envolve quatro ações essenciais e que se apoiam mutuamente: Identificação de prováveis crises. � Planejamento de respostas às prováveis crises. � Atualização dos planos de acordo com alteração das � prováveis crises. Prática de respostas. � Administradores de crise não podem planejar antecipadamente respostas a crises se não tiverem informações sobre os possíveis tipos disso. Teoricamente, uma infinidade de hipóteses podem ser aventadas. A inteligência tem importante papel na identificação de prováveis crises. Além de elencar as diversas hipóteses de crise, a inteligência deverá fornecer apoio adicional ao planejamento das respostas. Inteligência na área ambiental poderá auxiliar na definição da magnitude de um desastre natural, o que permitirá adoção de medidas de redução dos efeitos do incidente. Inteligência na área política poderá assessorar o planejamento do administrador de crise para diversas posições políticas frente à crise potencial. Inteligência na área de segurança pública pode permitir prever provável ação de quadrilhas em determinadas áreas, e a elaboração de planos de prevenção ou repressão a possíveis crises. gestao_de_conflitos.indb 73 26/7/2011 09:40:05 74 Universidade do Sul de Santa Catarina A inteligência permitirá constantes atualizações dos planejamentos, de acordo com a dinâmica das ameaças potenciais e o treinamento da estrutura de manejo de crises. Qual a diferença entre inteligência estratégica e inteligência tática? A INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA tem como enfoque as ameaças numa visão mais ampla e abrangente, que permitam aos governantes e administradores estabelecer linhas gerais de ação frente a determinados eventos críticos. Já a INTELIGÊNCIA TÁTICA tem como enfoque períodos de tempo mais curtos e informações de consumo mais imediatos, para determinado momento e para determinado evento crítico. Análises de informações relativas a fatores que poderão dar margem a distúrbios civis, a desastres naturais, ao aumento da criminalidade, a um possível surto de sequestros, a interesses políticos adversos de apoiar a deflagração de crises, estariam enquadrados num nível estratégico. Análises de informações relativas a fatores imediatos, na iminência da ocorrência da crise ou frente a elas, estariam enquadradas no nível tático. Na área de Defesa Civil, a identificação da inexistência de Comissões Municipais de Defesa Civil ou de resistências à constituição delas, e a adoção de medidas técnicas e políticas de sensibilização para aquela necessidade, estariam enquadradas num nível estratégico. Na ocorrência de desastres naturais, a identificação da possibilidade de saques em área abandonadas pelos flagelados estaria enquadrada num nível tático. Na administração de uma crise com reféns, a identificação dos causadores do evento crítico, seus objetivos, poder de fogo, apoios, número de reféns etc. são informações de nível tático. Em síntese, a inteligência tática oferece apoio a batalhas, a inteligência estratégica oferece apoio contra guerras. gestao_de_conflitos.indb 74 26/7/2011 09:40:05 75 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 Quais fontes de informação podem ser usadas? Pessoal de inteligência pode valer-se de diversas fontes para conseguir informações, como: valer-se da interpretação de manifestações das pessoas, interceptação de comunicações, da interpretação de fotografias, filmes, gravações, sensores infravermelhos, radares, revistas, livros, jornais, imprensa em geral, publicações governamentais, análises, estudos e relatórios, consultas a arquivos policiais, informações de serviços meteorológicos etc. Na ocorrência de uma crise com reféns, a maior fonte de informações será o próprio bandido que negocia com a polícia, reforçada por testemunhas da ocorrência, reféns liberados, arquivos policiais. Agentes infiltrados na multidão poderão permitir a avaliação de sentimentos da massa. É muito importante que informações coletadas sejam confirmadas por outras fontes para aumentar-lhes a credibilidade e diminuir as chances de equívocos. Valorização da inteligência Todo administrador de crise deve ter constituído um Serviço de Inteligência com pessoal atuando continuamente, antes, durante e após a crise. Fica muito difícil administrar informações com pessoal não integrado, principalmente sob pressão que caracteriza todo evento crítico. Um apoio efetivo de inteligência exige um fluxo de informações em duas direções, ou seja, oficial de inteligência deve conhecer o que é importante para o gerente da crise, para que possa dirigir seu esforço em busca de informações. O gerente da crise também deve estabelecer com o oficial de inteligência as prioridades de informações em termos de urgência e importância. gestao_de_conflitos.indb 75 26/7/2011 09:40:05 76 Universidade do Sul de Santa Catarina A preparação dos agentes do governo envolvidos na crise, para coletar informações e repassá-las em tempo hábil, contribuirá muito com o serviço de inteligência, por serem as mais confiáveis fontes. Todas as informações solicitadas pelo gerente da crise são válidas e dispensam explicações quando não se quiser dá-las. Se não for possível atendê-lo ou se for demorado o retorno, deve ser esclarecido àquela autoridade para que possa aguardar ou solicitar informações alternativas. Informações urgentes não devem sofrer os atrasos das formalidades burocráticas, muito características daquele tipo de atividade, necessitam ser enviadas diretamente ao usuário. Por outro lado, o assessor de informações do gerente da crise deve ter a liberdade para conectar-se com outras agências. Procedimentos como dedicação integral durante crises, manter as informações atualizadas, adaptar-se a novas situações, são alguns dos requisitos que garantem um clima de harmonia entre o serviço de inteligência e a administração do evento. Os relatórios de informações Um oficial de inteligência, em apoio a um administrador de crises, deve questionar (na fase que antecede à crise): Qual o tipo de crise considerada? � Que decisões serão necessárias? � Que informações serão necessárias para aquelas decisões? � Quem possui as informações? � Como coletar aquelas informações? � gestao_de_conflitos.indb 76 26/7/2011 09:40:05 77 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 O assessor de informações deve considerar ainda a necessidade que o gerente terá de fornecer informações ao público para convencê-lo de que a situação está sob controle. Pode não ser possível prever todas as necessidades do processo decisório, devendo o serviço de informações estar preparado para buscar informações adicionais diante de situações imprevistas, o que realça a importância dessa busca em todas as fases do processo. O relatório de ameaça Um relatório de ameaça deve conter: descrição resumida do tipo de ameaça; � data, horário e local da ocorrência prevista; � possíveis alvos ou vítimas; � potencial destrutivo da ameaça; � possíveis causadores do evento crítico; � dispositivo da força de reação; � recursos disponíveis; � descrição resumida das medidas preventivas adotadas; � outras informações julgadas necessárias. � O relatório de incidente Quando ocorre um incidente, o Serviço de Informações deverá elaborar o Relatório do Incidente, até duas horas após o início. Nele deve constar: data e horário do incidente; � pessoas atingidas; � gestao_de_conflitos.indb 77 26/7/2011 09:40:05 78 Universidade do Sul de Santa Catarina descrição dos danos; � medidas tomadas. � A cada duas horas, a partir do incidente, o gerente da crise deve ser informado do andamento da crise e das providências adotadas, constando no relatório verbal, ou por escrito, os seguintes detalhes: tipo e local do incidente; � data e horário doincidente; � descrição detalhada do incidente; � responsáveis pela crise; � número de vítimas; � medidas de segurança adotadas. � Após 24 horas do início do incidente, o relatório escrito, descrevendo todos os acontecimentos e medidas adotadas, deve ser enviado ao Gerente da Crise. Procedimentos posteriores Após terminada a crise, devem ser elaborados relatórios posteriores ao evento, com uma discussão das lições aprendidas. O que pode ser feito no futuro para reduzir a � possibilidade de ocorrência da crise? O que deveria servir de alerta para evitar a crise? � Qual a possibilidade de tal ocorrência no futuro? � Como o serviço de informações poderia ter sido mais � eficiente? gestao_de_conflitos.indb 78 26/7/2011 09:40:05 79 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 Síntese Nesta unidade, você estudou o quanto é importante e necessário os órgãos de Segurança Pública terem, nos seus quadros, profissionais capacitados e com habilidades específicas para desempenharem a função de gerenciador e negociador, e que ambos desempenham funções distintas dentro do processo de gerenciamento. Você pôde perceber que muitos são os oportunistas na busca da fama (momentânea) e sem qualquer compromisso, aparecem de forma irresponsável, prejudicando o trabalho, não raras as vezes, do Estado, que deverá possuir profissionais capacitados e habilitados para o exercício de tal mister. Não podemos esquecer que a preservação das vidas e o cumprimento das leis são objetivos do gerenciamento de crises, e por essa razão não podemos prescindir de profissionais altamente qualificados. O momento em que vivemos, com a abertura política e os problemas sociais que persistem ao logo dos anos, implica o surgimento de crises, impondo uma postura diferenciada dos Estados Membros, por meio de seus órgãos de Segurança Pública. A sociedade, por sua vez, quer que a solução desses problemas esteja sustentado nos princípios de legalidade, com resolutividade inteligente, e que todos os atores de crises sejam recompensados ou penalizados na proporção de sua influência no evento crítico. O sucateamento do sistema penitenciário é um indicador potencial para eclosão de crises, que podem ser qualificadas de alto-risco, com a presença de reféns, o que exigirá uma responsabilidade maior do Estado. gestao_de_conflitos.indb 79 26/7/2011 09:40:05 80 Universidade do Sul de Santa Catarina Atividades de autoavaliação 1) Conceitue o que você entendeu por gerenciamento de crise, crise e negociação. 2) No gerenciamento de uma crise, por que é importante a figura do negociador ligado à área de Segurança Pública? gestao_de_conflitos.indb 80 26/7/2011 09:40:05 81 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 3) Fale sobre o papel do gerenciador e do negociador no gerenciamento de uma crise. 4) Dentre as 39 (trinta e nove) regras a observar na negociação, qual a que fala que o negociador não deverá se expor e se tornar mais um refém, ou até ser ferido ou morto pelos marginais. Sendo inevitável esta situação, o negociador não deverá se aproximar a menos de 10 metros, a não ser que esteja protegido por algum obstáculo físico? gestao_de_conflitos.indb 81 26/7/2011 09:40:05 82 Universidade do Sul de Santa Catarina 5) Qual o conceito de crise do Curso Avançado de Manejo de Crises do Escritório de Assistência ou Anti-terrorismo do Serviço de Segurança Diplomática dos E.U.A? 6) Quais as fontes de informações que o pessoal de inteligência pode valer-se para melhor gerenciar uma crise? gestao_de_conflitos.indb 82 26/7/2011 09:40:06 83 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 2 Saiba mais Para aprofundar os conhecimentos dos conteúdos tratados nesta unidade sugere-se: A leitura do Livro “O negociador” de Frederick Forsyth. É uma história fictícia sobre o sequestro do filho do presidente dos Estados Unidos. Com a leitura deste livro podemos extrair alguns aspectos muito interessantes e possíveis de ocorrer durante um sequestro e nas negociações, cujas frases foram trancritas em texto. Acesse o texto na Midiateca O filme “Um dia de cão” (1975/EUA), título original: (A Dog Day Afternoon) 1975 (EUA) com Al Pacino. Em agosto de 1972, um assalto em um banco no Brooklyn (EUA) chama a atenção da mídia e transforma-se em um show, com uma enorme audiência. Era um roubo que teoricamente duraria apenas dez minutos, mas após várias horas os assaltantes estavam ainda cercados com reféns dentro do banco. Sonny (Al Pacino), o líder dos assaltantes, planejou conseguir dinheiro para Leon (Chris Sarandon), seu amante homossexual, fazer uma cirurgia de mudança de sexo. Enquanto tudo se desenrola, a multidão apoia e aplaude as declarações de Sonny e fica contrária ao comportamento da polícia. Texto e imagem adaptados de: Um dia de Cão (1975), Adoro Cinema. Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/ dia-de-cao/. Acesso em: 11 mar. 2011. gestao_de_conflitos.indb 83 26/7/2011 09:40:06 gestao_de_conflitos.indb 84 26/7/2011 09:40:06 UNIDADE 3 O surgimento da crise: exemplos e posturas Objetivos de aprendizagem Identificar como as crises podem surgir. � Identificar os graus de risco de uma crise. � Compreender os perímetros internos e externos � quando da instalação de uma crise. Seções de estudo Seção 1 O surgimento da crise: características e justificativas Seção 2 Objetivos do gerenciamento de crises e critérios de ação Seção 3 Elementos operacionais essenciais e a doutrina na administração do teatro de operações 3 gestao_de_conflitos.indb 85 26/7/2011 09:40:06 86 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Nesta unidade você vai estudar desde o surgimento das crises até as posturas que devem ser adotadas para sua resolução. A partir do perfil que deve assumir o negociador, observaremos a importância do papel do gerenciador em eventos desta natureza. Iremos nos certificar que os Órgãos de Segurança Pública, por meio dos seus dirigentes, necessitam, de forma implacável, de profissionais disponíveis, capacitados e habilitados para desempenharem essas funções tão necessárias nos dias atuais. Podemos verificar que vários fatores são condicionantes para eclosão de uma crise. Uma crise, por si só, já é complexa para gerenciar, mas quando se apresenta com reféns sua complexidade aumenta, tornando-se de alto risco. Para tanto é importante salientar que a adoção de medidas preventivas é de fundamental importância para que ela não ecloda. Você terá a oportunidade de agregar conhecimentos doutrinários internacionalmente consagrados na arte de gerenciar e negociar uma crise instalada, conhecimento que até pouco tempo não fazia parte dos ensinamentos e currículos dos cursos dos centros de formação de profissionais da área de Segurança Pública. gestao_de_conflitos.indb 86 26/7/2011 09:40:06 87 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Seção 1 - Surgimento da crise: características e justificativas Uma crise pode surgir de uma emergência grave e pode se manifestar de diferentes formas: incêndios, inundações, terremotos, acidentes comerciais ou industriais (desastres de aviação, desabamento de minas e derrames de petróleo), epidemias, violência trabalhista, extorsão criminosa, levantes políticos, insurreições, motins em presídios, ocupação ilegal de terras etc, bem como terrorismo. Observe alguns exemplos. Assalto a banco; ocupação de propriedades; rebelião num presídio; bloqueio de uma estrada por manifestantes. Características da crise As crises apresentam características que nos possibilitam identificá-las. Observe alguns determinantes que lhe são peculiares e devem ser compreendidos na dimensão de sua resolução: imprevisibilidade; a) compressão de tempo; b) ameaça de vida, mesmo quando a vida ameaçada é a do c) próprio elemento causador da crise. Diante das características que se apresentam há sempre a necessidadede: Uma postura organizacional não rotineira com a) treinamento prévio da organização policial. Um planejamento analítico especial e capacidade de b) implementação. Uma insuficiência de informações, ação da mídia e c) tumulto provocado por multidões, são óbices. gestao_de_conflitos.indb 87 26/7/2011 09:40:06 88 Universidade do Sul de Santa Catarina As considerações legais especiais e éticas diante da crise são: acompetência para atuar;a) quem é encarregado do gerenciamento. b) Quais as justificativas para a exigência de estudos e treinamentos especiais? Neste contexto é preciso considerar que: as características de crise provocam o stress; � o stress reduz a capacidade de desempenho em tarefas de � soluções de problemas; o gerenciamento de crises é uma complexa tarefa de � solução de problemas; os resultados da incompetência profissional podem ser � imediatos e fatais. Quantas situações de gerenciamento de crise não obtiveram êxito por falha de alguma dessas variáveis, portanto, não basta atuar, simplesmente, é preciso atuar considerando preceitos de ação, ética e profissionalismo. Pense nisso! Seção 2 - Objetivos do gerenciamento e critérios de ação Os objetivos do gerenciamento de crise norteiam-se pelo caráter ético e legal voltado à preservação da dignidade da pessoa humana e da integralidade física do sujeito para preservação da ordem pública. Portanto, os maiores objetivos são os de: preservar vidas; � aplicar as leis. � gestao_de_conflitos.indb 88 26/7/2011 09:40:06 89 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Nem precisamos dizer que os dois se articulam, não basta atender a um, tão somente, mas é preciso saber gerenciar esses objetos, sem isso não há justificativa para ação. Vamos conhecer os critérios de uma ação. Critérios de ação Aos objetivos articulam-se critérios de ação e devem ser considerados no contexto e a partir da situação que os envolvem. Vamos analisar cada um deles? Necessidade � : toda e qualquer ação somente deve ser implantada quando for indispensável. Validade do risco � : toda e qualquer ação tende levar em conta se os riscos dela advindos são compensados pelos resultados. Os riscos se justificam quando a probabilidade de redução da ameaça exceder os perigos a serem enfrentados e a continuidade do status quo. Aceitabilidade � : toda ação deve ter respaldo legal, moral e ético. Graus de riscos ou ameaças Observe, a seguir, quais graus de risco que estão contidos quando do estabelecimento de uma crise ou no gerenciamento dela. Alto risco: assalto a banco por elemento armado de � pistola ou revólver sem reféns. Altíssimo risco: assalto a banco por dois elementos � armados de escopetas ou metralhadoras com reféns. Ameaça extraordinária: terrorista armado de � metralhadoras ou outras armas automáticas com oitenta reféns a bordo de um avião. gestao_de_conflitos.indb 89 26/7/2011 09:40:06 90 Universidade do Sul de Santa Catarina Ameaça Exótica: elemento com material venenoso ou � radioativo ameaça contaminar o reservatório de água da cidade. Medidas mediatas As medidas mediatas devem ser compreendidas sob as seguintes circunstâncias: conter a crise; � evitar que a crise se alastre; � isolar o ponto crítico; � ação que se desenvolve ao mesmo tempo que a de conter � a crise; consiste em interromper todo e qualquer contato dos sequestradores e reféns (se houver) com o exterior; iniciar as negociações; mesmo que a autoridade que primeiro teve contato � com a crise não seja o negociador oficial, deve iniciar o processo. Fases da evolução do evento crítico A organização policial toma conhecimento e reage ao evento crítico. O gerenciador deve, entre outras atividades: Verificar se as organizações policiais possuem um plano � de emergência para eventos críticos e, se for o caso, acioná-lo (Fase da resposta imediata). Manter o posto de comando (PC) em local seguro e � próximo à cena do incidente. Providenciar os especialistas (negociadores, técnicos � em explosivos, médicos, pessoal de comunicação social, bombeiros etc.). gestao_de_conflitos.indb 90 26/7/2011 09:40:06 91 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Isolar a área, estabelecendo os perímetros táticos e seu � patrulhamento. Providenciar o posicionamento do GT. � Entrevistar ou interrogar pessoas que eventualmente � escaparam do ponto crítico. Iniciar a negociação. � Cientificar os escalões superiores e fornecer-lhes � relatórios periódicos. Estabelecer uma rede de comunicação que cubra toda a � cena do incidente. Racionar o contato dos causadores da crise com o mundo � exterior. Designar seu substituto eventual. � Designar uma porta-voz para o contato com a mídia. � Plano específico Participar de reuniões com os negociadores e o pessoal � do GT. Participar de reuniões com as autoridades encarregadas � do gerenciamento da crise, oferecendo sugestões e informações. Estabelecer claramente as missões de cada elemento que � participar da execução do plano específico. Realizar encontros com o pessoal da imprensa, filtrando � as informações. Verificar a existência dos recursos materiais necessários. � Providenciar a presença de técnicos ou especialistas da � área específica para assessoria. Viabilizar assistência médica. � gestao_de_conflitos.indb 91 26/7/2011 09:40:06 92 Universidade do Sul de Santa Catarina Verificar se o plano específico observa os critérios de � ação: necessidade, aceitabilidade e validade do risco. Verificar se a equipe tem condições de desempenhar as � ações propostas no Plano. Providenciar autoridades policiais e assistentes para a � lavratura de eventuais procedimentos. Providenciar alimentação para os policiais e técnicos � envolvidos. Definir seus períodos de descanso. � Em caso de transferência da crise, contactar as � autoridades locais. Resolução Esta fase se inicia quando o plano é posto em execução: Adaptar os perímetros táticos à dinâmica de ações. � Posicionar os policiais. � Identificar com segurança os reféns. � Dar o comando para o início dos procedimentos finais. � Providenciar o resgate dos feridos, priorizando reféns e � policiais. Deter os meliantes e providenciar as medidas de polícia � jurídica cabíveis. Mesmo após a resolução da crise, há tarefas para o gerenciador. Veja quais são: Recolher e devolver o material. � Elaborar relatórios. � Providenciar perícia no local. � gestao_de_conflitos.indb 92 26/7/2011 09:40:06 93 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Avaliar criticamente os resultados obtidos. � Informar os resultados finais na mídia. � Doutrina preparatória para emergência e crises A responsabilidade pelo bem-estar do cidadão é do governo, e praticamente toda a comunidade mundial tem consciência do dever do Estado. Portanto, em qualquer dificuldade enfrentada pela sociedade, imediatamente é despertada a consciência da necessidade de segurança e o não atendimento das expectativas da comunidade pode contribuir para catástrofes. Todos os órgãos públicos devem estar preparados para reagir imediatamente frente à iminência ou ocorrência de crise, dentro de suas respectivas áreas de responsabilidade, de forma coordenada com os demais órgãos essenciais ao manejo de crise. A imediata comunicação à comunidade da iminência ou ocorrência de uma ameaça, além das instruções quanto às medidas a adotar para minimizar os riscos, é um dever do governo. Passado o perigo, cabe ao governo providenciar o socorro e dar pronto atendimento às necessidades imediatas da população atingida pela crise ou emergência. O primeiro passo para o planejamento das medidas a adotar nas crises e emergências é a identificação do potencial de perigo a que a comunidade está sujeita. Desastres naturais, incêndios, terremotos, deslizes de barreiras, inundações, desmoronamento de prédios, explosões,acidentes com produtos químicos, bacteriológicos ou radiológicos, manifestações, distúrbios civis, greves, sabotagem, ataques terroristas, tomada de reféns, sequestros, apoderamento ilícito de aeronave etc. são algumas das catástrofes ou eventos de crise. gestao_de_conflitos.indb 93 26/7/2011 09:40:06 94 Universidade do Sul de Santa Catarina Um governo preocupado com a segurança do cidadão terá um plano abrangente que contemple todos os tipos possíveis de ameaças. Terá também estruturado um Sistema de Manejo de Crises. A lista, a seguir, apresenta diversos tipos de crises potenciais a que está sujeita a população: incêndios florestais � incêndios urbanos � inundações � furacões � secas � acidentes com produtos � químicos acidentes com explosivos � acidentes industriais � ameaças nucleares, � químicas ou biológicas derramamento de óleo em � rios ou no mar desabamento de prédios � acidente de avião � acidente ferroviário � acidente rodoviário envolvendo � diversos veículos falta de energia elétrica � colapso do serviço telefônico � falta de água � escassez de alimentos � fracassos agrícolas � vazamento de gás natural � falha no sistema de � saneamento deslizamento de barreiras � ataques por gafanhotos � sequestros � tomada de reféns � tentativa de suicídio � motins em presídios � controle de áreas por � narcotraficantes greves nos serviços essenciais � manifestações populares � distúrbios civis � sabotagens � atentados à bomba � movimentos de guerrilha � urbana movimentos de guerrilha rural � resistência a operações de � reintegração de posse resistência de grupos religiosos � extremistas ataques militares � convencionais bombardeios � gestao_de_conflitos.indb 94 26/7/2011 09:40:06 95 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Uma só crise ou emergência pode envolver vários perigos, como acabamos de citar. Esses podem se apresentar da seguinte forma: Um movimento de massa urbana poderá ser acompanhado de sabotagem dos serviços essenciais, como: o abastecimento de energia elétrica, de saneamento, água e esgoto, serviço telefônico, de greves de motoristas de ônibus, incêndios em postos de gasolina, atentados à bomba, ações contra quartéis, ocupação de prédios públicos, tomada de reféns, liberação de presos, interrupção do abastecimento de alimentos. No planejamento das ações frente a diversas crises, num mesmo quadro, há que se prever todos os impactos possíveis para cada caso e adotar linhas de ação específicas para cada uma delas. Proteção de recursos e da população Selecionado o cenário de perigo potencial, o responsável pelo planejamento para situações de crise ou emergência deve identificar as pessoas e as instalações a serem provavelmente afetadas em tais situações. Em caso de extorsão mediante sequestro, por exemplo, os planejadores devem levantar todos os alvos potenciais, tendo em vista sua importância política ou condições financeiras, seus hábitos de rotina, residência e local de trabalho, itinerários utilizados, hábitos da família, enfim, todos os detalhes que permitam planejar medidas de proteção ou de rápida varredura policial, em caso de alarme de sequestro. Para os casos de inundações, há que se levantar nas áreas susceptíveis, residências e prédios públicos, comerciais ou industriais, o número de moradores, as áreas para abrigo e assistência médico hospitalar, as vias de fuga, o acesso a pontos elevados. Especial atenção deve ser dada a pessoas idosas e crianças, escolares, pacientes hospitalizados, deficientes físicos, mentais ou emocionais, gestao_de_conflitos.indb 95 26/7/2011 09:40:06 96 Universidade do Sul de Santa Catarina presidiários, residentes sem condições de acesso a meios de comunicação para serem alertados da emergência ou crise. Um método de planejamento que pode ser adotado é o da classificação dos diversos níveis de risco de possíveis acontecimentos, levando em conta a maior ou a menor probabilidade e de impacto do incidente crítico. Nos Estados Unidos é adotado o seguinte sistema de classificação. Observe o quadro. Classificação de riscos Ausência de ameaça 0 Ameaça mínima 1 Certa ameaça 2 Clara ameaça 3 Séria ameaça 4 Quadro 1- Classificação de riscos - doutrina norte americana. Fonte: adaptado por Monteiro (1997) Perceba que a classificação de séria ameaça implica a prioridade de planejamento.Veja que quanto maior o potencial de risco para cada área, maiores deverão ser os cuidados preventivos a serem desenvolvidos nelas. Quando for impossível eliminar ou reduzir as vulnerabilidades, os planos de emergência devem ser detalhados e abrangentes, a fim de minimizar a ocorrência de vítimas e prejuízos. Alerta e avisos A tarefa de comunicar-se, principalmente durante crises, é bastante tumultuada. Sistemas telefônicos ficam congestionados ou falham, ocorrem interferências, ocorrem ordens e contra- ordens, meios de comunicação são utilizados para assuntos pessoais e assuntos de pouca ou nenhuma importância. Porém, há três redes cruciais, para a atividade de alerta e aviso, que devem ser consideradas: Comunicação que informa as autoridades sobre a � iminência ou ocorrência de crise. gestao_de_conflitos.indb 96 26/7/2011 09:40:06 97 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Comunicação que aciona os órgãos de resposta a crises e � dá instruções. Comunicação de alerta ao público em geral. � Muitas informações que servem para alertar o sistema de manejo de crises podem vir do serviço meteorológico. Outras virão da população, ou das centrais de comunicação da polícia ou dos bombeiros, que são os primeiros a serem acionados para atividades de proteção e socorro. A comunicação entre os órgãos de socorro deve ser constantemente testada para se apurar sua eficiência. O sistema de alerta ao público pode ser feito pela imprensa, por telefone, ou pessoalmente, pelo pessoal das equipes de socorro. A interrupção da energia elétrica cortará as comunicações por meio do rádio e da televisão. As comunidades poderão ter organizado um sistema de alerta, pessoa a pessoa, por sistema de alto-falante ou alarme sonoro ou visual. É prudente que mais de um meio de comunicação seja estabelecido. Pense na seguinte situação: Há a eminência de uma catástrofe: um tremor, furação, uma inundação. Já é de conhecimento da defesa pública e dos órgãos ligados ao atendimento a emergências. A população não foi informada para evitar pânico. Isso está correto? Quais as implicações desse ato? O que fazer após eclodida a crise, neste caso? Dê seu ponto de vista. O que você faria se fosse autoridade ou se fosse cidadão comum? gestao_de_conflitos.indb 97 26/7/2011 09:40:06 98 Universidade do Sul de Santa Catarina Em nosso Estado, as atividades principais de socorro à população são feitas por meio das Polícias Militares e do Corpo de Bombeiros Militar. Especial atenção deverá ser dada à continuidade dos serviços públicos, pois é com eles que conta a população. O colapso de tais serviços poderá contribuir para aumentar a crise pela perda da confiança da população. Seção 3 - Elementos operacionais essenciais e a Doutrina na administração de teatro de operações Nesta seção você vai conhecer os elementos que fazem parte dos procedimentos operacionais que compõem o campo de ação quando há um evento de crise se seu respectivo gerenciamento. O Negociador: qual seu papel? O negociador faz contato com os tomadores de reféns. Qual o perfil do negociador? Antes de fazer qualquer afirmação a respeito do perfil do negociador, é imprescindível que se diga que um negociador que não inspira respeito e confiança nos seus pares e nos causadores do evento crítico não tem a mínima possibilidade de bom êxito. Daí resulta um dos grandes axiomas da negociação que é o de que “negociador confiável torna a negociação viável”. A missão do negociador é ganhar tempo, reunir informações,e auxiliar o comando no processo de tomar decisões. Harmonia com os sequestradores é a chave para o processo. Durante as negociações devem ser feitas tentativas para libertação dos reféns, gestao_de_conflitos.indb 98 26/7/2011 09:40:06 99 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 preservando sua integridade física, tentando conseguir a eventual rendição pacífica do sequestrador. É recomendável que sejam designados pelo menos 02 (dois) negociadores de reféns, pois, as negociações são frequentes e extensas, sendo mentalmente exaustivas. Entretanto, os negociad ores não são substituídos desnecessariamente, isso irá ajudar a planejar a transição do negociador principal para outro, evitando perder a harmonia com os suspeitos. Como podemos constatar, o profissional que desempenhará o papel de negociador em uma situação de alto risco com reféns deverá estar muito bem preparado, e sua escolha deve ser muito criteriosa. Para facilitar o critério de escolha, algumas características foram consideradas para ajustar o perfil do negociador: bom senso e bom julgamento; � habilidade de falar com as pessoas e não diminuí-las; � um pensador ponderado e orador que possui controle de � suas emoções e linguagem; deve ser um organizador de pensamentos; � alguém que está alerta e sempre atento ao que � está acontecendo ao seu redor, sem se distrair com pensamentos; excepcional autodisciplina; � excepcionalmente estável sob stress; � maturidade; � bom ouvinte; � alguém paciente o suficiente para não agir quando essa � não for a melhor opção; gestao_de_conflitos.indb 99 26/7/2011 09:40:06 100 Universidade do Sul de Santa Catarina bom argumentador, com talento para persuasão e � habilidade para interrogar e entrevistar; bom ator, com habilidade para demonstrar, de forma � convincente, sensitividade e empatia sob pressão e por períodos prolongados; ser firme, mas sem excesso; � não ser superficial ou argumentativo; � ter boa autoestima e ego sadio. � Essas características, somadas ao perfil de um negociador, devem estar diretamente relacionadas as suas habilidades profissionais, dentre essas, habilidades técnicas, intelectuais e as psicológicas. Considerando a importância dessas habilidades para um negociador, falaremos sobre cada uma delas, citando obras e autores. Quais as habilidades que deve possuir um negociador? Habilidades técnicas Com referência à habilidade técnica, Hersey e Blanchard (1986, p. 6) definem como A capacidade que tem o ser humano para aplicar conhecimentos, técnicas, métodos e equipamentos necessários à execução de tarefas específicas, é adquirida através da experiência, da educação e do treinamento. Segundo Kooker (1993, p. 71), abordando o pensamento de Mortimer Smith: gestao_de_conflitos.indb 100 26/7/2011 09:40:06 101 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 [...] o indivíduo melhor preparado para qualquer ocupação é aquele cuja inteligência foi tão bem treinada, que é capaz de adaptar-se a qualquer situação e cuja concepção foi tão humanizada por sua educação, que ele será tão bom em qualquer atividade ou chamamento. Com este pensamento, Smith expressa a necessidade da habilidade técnica do profissional de qualquer atividade humana, pois, de acordo com o autor do livro, a versatilidade é necessária na atividade policial. São acrescentadas mais técnicas profissionais no moderno serviço de policiamento, que em qualquer outro campo de atividade. Os policiais são desafiados a todo o momento à prestação de serviços ao público. Em um dia rotineiro, por exemplo, um policial pode ter de prestar primeiros socorros a um motorista ferido, localizar um endereço, perseguir e prender um marginal perigoso, assistir a um processo- crime ou convencer um garoto fugitivo dos erros de sua atitude. Acrescentamos que o policial deve ser um líder, um administrador, planejador, organizador, motivador e controlador. Essas funções são sempre relevantes, qualquer que seja o tipo de organização.Segundo Hersey e Blanchard (1986, p. 45), abordando o que disse Koontz O’Donnell: Ao usar de sua função gerencial, presidentes, chefes de departamentos, capatazes, supervisores, reitores, padres ou chefes de organismos governamentais, fazem todos a mesma coisa. Estão empenhados em realizar coisas com e por intermédio de pessoas. Cada um deles deve cumprir, em determinado momento, todas as funções características de um administrador. Kooker (1993, p. 71) preconiza ainda: Esses, e muito mais, são serviços que o público espera confiante do policial. O policial deveria, propriamente, ter alguns dos conhecimentos do advogado, do médico, do engenheiro, deve ter a resistência de um atleta, a visão de um sociólogo, a compaixão e a compreensão de um sacerdote. Em resumo, eles devem apresentar personalidades delicadas e dinâmicas, particularmente caracterizadas pela magnanimidade. gestao_de_conflitos.indb 101 26/7/2011 09:40:07 102 Universidade do Sul de Santa Catarina Diante do que foi firmado, pelos autores supra citados, destacamos a importância de um negociador de uma Situação de Alto Risco, qual seja: possuir habilidades técnicas para conduzir a contento uma situação dessa natureza. Outra habilidade que julgamos imprescindível para um negociador de alto risco é a habilidade psicológica. Habilidades psicológicas A habilidade psicológica está relacionada com a personalidade, que, segundo Sigmund Freud, é “a organização, dinâmica biológica e de ajustamento singular do indivíduo ao meio”. São emoções, valores, necessidades do indivíduo e a forma com a qual percebe o mundo. Enfim, é uma organização integrada de características cognitivas, afetivas, volitivas e físicas de um indivíduo, e como se manifestam. O desenvolvimento da personalidade é formado por um grande número de fatores e todos mostram-se inter-relacionados. Dentre esses, quatro influenciam na formação da personalidade, que são: biológico, cultural, relacional e situacional. Segundo Cabral e Nick (1997, p. 87), habilidade psicológica é a “Capacidade para realizar complexas tarefas motoras ou mentais, com a facilidade, precisão e adaptabilidade à variação de condições”. Mosquera (1973, p. 5), afirma que: Identidade, autoimagem e autoestima, são elementos nucleares da personalidade. A identidade é o processo geral que engloba os demais aspectos. O estudo da identidade é um estudo recente, sem uma larga tradição. No entanto, no momento atual, a perspectiva freudiana, a posição antropológica, as ideias sociológicas e behaviorismo têm dado forte impulso a esses estudos. Segundo Mosquera (1973, p. 5) há autores que se preocupam mais com a identidade; outros com autoimagem e autoestima. Outros ainda focalizam a vida familiar, a identidade e a ansiedade, ou então aspectos de imitação e de modelos. gestao_de_conflitos.indb 102 26/7/2011 09:40:07 103 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Para saber mais sugerimos: FREUD, Sigmund. Repressão. Em: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. (originalmente publicado em 1915).1996. _______. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. MOSQUERA, João José Mouriño. Sociopsicologia. Ed Sulina. 1978 _______ . Psicologia social de ensino. Ed Sulina. 1973 Todos esses autores, têm focado o indivíduo na sociedade, dando ênfase ao inter-relacionamento entre as pessoas e a decorrência para o processo do desenvolvimento humano. Destes processos, a identidade é o mais abrangente, pois partilha do processo cultural e dos decorrentes níveis de ansiedade. Autoimagem, autoestima e ansiedade são processos focados no indivíduo. O processo de desenvolvimento do “eu” passa por quatro etapas da vida do ser humano: na infância, quando predomina o “id” e o “ego” esboça-se principalmente por meio da relação com a mãe; na adolescência, quando o “eu”é periclitante e procura sua afirmação; na idade adulta, quando se consegue um lugar de relevância e se é responsável por si mesmo e pelos que o rodeiam; na velhice, quando “eu” declino e o indivíduo cede seu lugar de relevância; depreenda-se daí a importância da fase da adolescência. Todas essas teorias ratificam a necessidade da importância em considerarmos a habilidade psicológica como preponderante na formação e escolha do negociador de situações de alto risco, pois segundo Mosquera (1978, p. 153), Em cada época o homem tem suas características e comportamentos, sem modificar sua vida ou sua natureza. O homem primitivo enfrentou o mundo de sua maneira, assim o homem de hoje tem sua maneira de ser e de viver. Não significa que os homens de cada época são habilitados a uma maneira idêntica de ser e de viver, gestao_de_conflitos.indb 103 26/7/2011 09:40:07 104 Universidade do Sul de Santa Catarina mas há características comuns. Cada época histórica representa uma série de aspirações, de anseios, de valores, em busca de planificação. Habilidades intelectuais Quanto à habilidade intelectual, é aquela que diz respeito ao intelecto, que é a faculdade mental humana em termos de cognição (relacionar, julgar, avaliar, conceber, pela aplicação do pensamento). Seria, então, habilidade intelectual, pertinente à ideia e “às coisas da mente”, ao raciocínio a ao pensamento de alta qualidade. Características de uma pessoa de elevada capacidade intelectual, ou que contribui valiosamente. O negociador não policial: uma visão doutrinária No pensamento de DWAYNE FUSELIER, da Academia do FBI, “a menos que haja razões específicas em contrário, os negociadores devem ser recrutados dentre policiais com treinamento apropriado”. É justamente dessas “razões específicas em contrário”, referidas na citação acima, que vamos nos ocupar agora. Existem, efetivamente, situações em que a figura do negociador não policial não somente é inafastável, como aparece sendo a única alternativa viável de negociação. Geralmente isso ocorre nos casos de extorsão mediante sequestro, em que a família do sequestrado é a primeira a ser contatada pelos sequestradores. Esses contatos iniciais, quase sempre feitos por telefone, contêm, invariavelmente, a exigência preliminar de que a polícia se mantenha afastada do caso. Tal situação praticamente inviabiliza o exercício da negociação por parte da polícia, porquanto aos bandidos só interessa que ela se mantenha afastada do evento. Nessas condições, a doutrina recomenda aos organismos policiais que adotem a postura de se afastarem do caso, desde que formalmente solicitado pela família da vítima. gestao_de_conflitos.indb 104 26/7/2011 09:40:07 105 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Esse afastamento, todavia, deve ser realizado mediante o esclarecimento explícito de duas condições aos familiares: em primeiro lugar, que a polícia se manterá afastada somente enquanto durar o cativeiro do ente sequestrado, e, em segundo lugar, que a polícia põe à disposição da família todos os seus recursos para viabilizar o bom êxito da crise, orientando os negociadores não policiais para evitar que sejam vítimas de golpes de espertalhões (que se aproveitam do evento para se passarem pelos sequestradores e abocanharem o resgate), assim, prepara-se o terreno para que uma possível entrega do resgate ocorra sem incidentes (que podem ser causados involuntariamente pela própria polícia, se estiver completamente desinformada sobre o assunto). Essa assessoria da polícia aos negociadores não policiais, em casos dessa natureza, é indispensável, sendo também uma boa estratégia para desmascarar sequestros forjados por ricaços inescrupulosos, que simulam tais situações com o objetivo de sanearem as suas finanças, uma prática hedionda, que, infelizmente, tem começado a se difundir no Brasil. O Grupo Tático Especial: quem é e como age? Também conhecido como Grupo de Operações � Especiais (GOE). Se a população tem problemas, chama a polícia; se a � polícia tem problemas, chama o GOE. Composto basicamente por snipers e atacantes, havendo � várias especializações entre os subgrupos. Unidade de baixo efetivo. � Forte ênfase em hierarquia, disciplina, lealdade e respeito � aos direitos e garantias individuais. Recrutamento feito com base em voluntariado, com � rígidos critérios de seleção. gestao_de_conflitos.indb 105 26/7/2011 09:40:07 106 Universidade do Sul de Santa Catarina Treinamento constante. � Regime de dedicação exclusiva ao grupo. � Todos atuam com base no compromisso da utilização � da força letal (neutralizar). Fundamentos éticos preconizados pela Doutrina. O chefe do Grupo Tático reporta-se diretamente ao � Gerenciador. Doutrina na administração de teatro de operações O que fazer num evento de crise? O que é preciso saber? Na eclosão de qualquer tipo de crise, as autoridades têm obrigações de intervenção imediata para limitar seus efeitos ou socorrer os atingidos por ela. Uma crise envolvendo reféns pode ocorrer a qualquer momento, em qualquer local e é responsabilidade da polícia intervir para recuperar a ordem, salvar as vítimas e prender os causadores do evento crítico. A alegação de desconhecimento da doutrina de gerenciamento de crises não exime um comandante de responsabilidade. A ocorrência de um sequestro com fins de extorsão, quando os bandidos e a vítima se encontram em local não sabido, exige intenso trabalho de negociação e investigação, mais adequados às características de atividade da polícia judiciária. Casos de reféns e seus captores homiziados em local conhecido são de administração mais próprias a policiais militares pela necessidade de emprego de grandes efetivos uniformizados e uma ação coordenada com rígida disciplina. Porém, se policiais civis já estiverem na administração da ocorrência, cabe à Polícia Militar colocar-se à disposição daqueles para apoiá-los na ocorrência. O que veremos nesta unidade são as medidas a adotar no Comando de um Teatro de Operações, quando bandidos e reféns se encontrem cercados pela polícia. Vamos a elas: gestao_de_conflitos.indb 106 26/7/2011 09:40:07 107 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Resposta imediata Tão logo a polícia tome conhecimento de uma crise, as primeiras medidas a adotar são: a) conter a crise; b) isolar o ponto crítico; c) iniciar as negociações. A primeira preocupação da polícia deve ser a de evitar que a crise se alastre, ou seja, impedir que os sequestradores aumentem o número de reféns, ampliem o espaço sob seu domínio ou tenham acesso a pontos mais seguros, ou ainda tenham acesso a mais armas ou pontos sensíveis que aumentem seu poder de pressão. Isto é CONTER A CRISE. O isolamento do ponto crítico consiste em dificultar aos bandidos e reféns qualquer contato com o exterior, permitindo total controle da polícia e total dependência dos protagonistas do evento crítico. A população deve ser afastada das proximidades e a polícia passa a ser o único canal de contato dos sequestradores e reféns. É promovida uma verdadeira assepsia no local, com o estabelecimento dos perímetros táticos. Perímetros táticos são de tão grande importância que será impossível administrar um evento crítico com reféns se eles não estiverem corretamente estabelecidos. Eles têm o objetivo de permitir total controle dos bandidos, disciplinar movimentação na área interna e externa do ponto crítico e manter a população (a distância) segura, sem interferir no gerenciamento da crise. Os perímetros táticos a adotar serão um INTERNO e outro EXTERNO. Vamos ver como se configura cada um deles? gestao_de_conflitos.indb 107 26/7/2011 09:40:07 108 Universidade do Sul de Santa Catarina Perímetro interno Será um cordão de isolamento que circunda o ponto crítico, formando uma zona estéril. No seu interior só estarão os bandidos e os reféns. Os policiaisdesignados para tal cordão de isolamento devem estar uniformizados e serem fiéis cumpridores de ordens, dotados de temperamento alerta e firmes para afastar os curiosos. Qualquer movimentação para o interior desse perímetro só ocorrerá por autorização do Comandante do Teatro de Operações. Perímetro externo É destinado a formar uma zona tampão entre o perímetro interno e o público. Na faixa formada entre o perímetro interno e perímetro externo pode ser instalado o Posto de Comando e organizado o estacionamento de viaturas policiais, de bombeiros e ambulâncias; pode ser permitida a circulação de autoridades ou policiais e técnicos convocados para apoio à missão, e da mídia, se for o caso. Os policiais empregados neste perímetro devem ter habilidade no trato com as pessoas e saber contornar conflitos com curiosos, principalmente se forem autoridades. É importante que seja designado um comandante para coordenar as atividades do perímetro interno e outro para o perímetro externo. É conveniente, também, se estabelecer um só ponto de controle de entrada de pessoas e viaturas, o que limitará conflitos ao longo do cordão de isolamento com os policiais. Quanto maior a extensão dos perímetros maior será a dificuldade para administrá-los. As condições físicas do terreno onde ocorre o incidente crítico influirão nas características dos perímetros, como, por exemplo, um aeroporto ou um alto prédio num grande centro urbano. Também faz parte das medidas iniciais, cortar as condições de comunicação dos bandidos, por meio de telefone, fax, computadores, interferir na radiocomunicação, televisão, rádio. O corte de energia elétrica resolve quase todos esses casos. gestao_de_conflitos.indb 108 26/7/2011 09:40:07 109 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Algumas medidas exigem o concurso de técnicos como é o caso do corte de telefone e o estabelecimento de uma linha direta entre bandidos e a polícia. O corte de água pode ser outra medida inicial para criar a dependência dos bandidos em relação à polícia e criar condições de negociação e barganha. Permitir aos causadores da crise ampla liberdade de acesso aos noticiários pode dar margem ao conhecimento de informações passadas pela polícia ou criadas por fantasias e opiniões de alguns órgãos de imprensa mais comprometidos com o lucro do que com a solução do evento. Um procedimento já utilizado pela polícia inglesa é a colocação de tapumes que dificultam a visão externa dos delinquentes. A negociação deve ser iniciada tão logo seja possível, porém, o tempo será determinado pelo interesse dos criminosos. Os primeiros 45 minutos são os mais tensos para os bandidos e mais perigosos para os reféns. Não é conveniente que a polícia acue os bandidos e que dê tempo para o início da “Síndrome de Estocolmo”, contribuindo para maior segurança às vítimas. Outras medidas iniciais são desenvolvidas ao mesmo tempo, entre as quais temos: verificar e acionar o plano de emergência, se houver; � designar um sub comandante ou substituto eventual; � designar equipe de negociação; � designar encarregado de pessoal; � determinar o efetivo mínimo necessário para a missão; � designar encarregado da logística e orientar; � designar encarregado de informações e orientar; � designar porta-voz e orientar procedimentos; � comunicar ao escalão superior; � posicionar força tática e orientar procedimentos; � gestao_de_conflitos.indb 109 26/7/2011 09:40:07 110 Universidade do Sul de Santa Catarina entrevistar testemunhas; � providenciar rede de comunicações; � providenciar esquemas gráficos do ponto crítico e � adjacências; instalar posto de comando; � estabelecer controle de entrada de veículos e pessoas; � acionar a imprensa; � prever socorro de saúde e transporte de feridos; � prever apoio de bombeiros. � Para facilitar os procedimentos a adotar frente à ocorrência de eventos críticos é conveniente que a unidade tenha um plano de emergência e realize treinamentos. Ao se deflagrar uma crise bastará acionar aquele plano. Um comandante de teatro de operações deverá ter momentos para descanso, pois uma crise poderá durar muitos dias. Por outro lado, poderá se ver impedido por incidentes de ordem profissional, pessoal ou familiar. Portanto, é prudente que uma de suas primeiras providências frente a crises seja a designação de um substituto eventual ou subcomandante. Um erro normalmente praticado nas administrações de crises em nosso país tem sido o comandante do teatro de operações também desempenhar o papel de negociador, seja por falta de preparo de outros policiais, seja por puro “estrelismo”. Um negociador não pode ter o poder de decisão, portanto, não pode ser também o gerente da crise. O correto é o comandante do teatro de operações designar uma equipe de negociação, preferentemente constituída por pessoal especialmente treinado para tal missão. Ao designar um encarregado de pessoal, o comandante do teatro de operações não terá a preocupação com escalas, substituições e controle do efetivo no local, que deve ser apenas o mínimo necessário. Assim também ocorrerá em relação a recursos gestao_de_conflitos.indb 110 26/7/2011 09:40:07 111 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 materiais que devem ser atribuídos à responsabilidade de um encarregado de logística. Viaturas, equipamentos, meios de comunicação, armamento e munições, instalações e alimentação serão preocupações específicas de um encarregado. A administração de uma crise necessita, em grande escala, de informações. Para tanto, um policial deverá ser encarregado de buscá-las para alimentar decisões do comando do teatro de operações. Os elementos essenciais de informações dizem respeito ao(s): Bandidos � : quantidade, motivação, identificação, passado de crimes etc. Reféns � : quantidade, identificação, nacionalidade, posição política ou social, estado de saúde etc. Objetivo � : localização, vias de acesso, áreas sensíveis, material de construção, tamanho, planta, características das proximidades etc. Armas � : quantidade, tipos, munição, explosivos, equipamentos de proteção, meios de comunicação etc. Testemunhas dos momentos iniciais da crise, conhecedores do local ocupado pelos bandidos, parentes das vítimas, reféns liberados são importantes fontes de informações a serem entrevistadas. Esquemas gráficos do ponto ocupado e das adjacências permitirão uma visualização de acessos, vias de fuga e pontos importantes a considerar para a segurança dos moradores vizinhos ou decisões táticas. Outro importante cuidado que deve ter um comandante de teatro de operações é a designação de um porta-voz. O estresse a que é submetido poderá levá-lo a tratar de forma inconveniente a mídia, ou fazer declarações que poderão lhe causar problemas futuros. Tal porta-voz deverá ser policial experiente no trato com a imprensa, ser de total confiança do comandante, e estar totalmente inteirado do andamento da ocorrência. Deverá, também, ser orientado quanto ao que pode ou o que não deve declarar, para evitar explorações levianas ou denunciar hipóteses levantadas. Deve ser, ainda, o encarregado de proporcionar conforto e todo o gestao_de_conflitos.indb 111 26/7/2011 09:40:07 112 Universidade do Sul de Santa Catarina apoio possível ao trabalho da imprensa, ouvido o comandante do teatro de operações. A iniciativa de comunicar uma ocorrência aos profissionais da imprensa deve partir da própria polícia. O escalão superior não deverá receber a notícia da crise pela imprensa ou através de autoridades políticas. Deve receber as informações relativas ao caso diretamente do comandante do teatro de operações, cabendo ao comando geral da instituição os contatos no nível político. Qual o melhor lugar para o posto de comando? O posto de comando é o quartel general do comandante do teatro de operações e ponto focal de onde atuam, além do comandante,os seus auxiliares diretos, tais como o sub comandante ou substituto eventual, o porta voz, o encarregado de pessoal, o encarregado de informações, encarregado da logística, pessoal de comunicação, e os negociadores. Os integrantes do Comando de Operações Especiais (COE) devem ficar em local próprio, nas proximidades do posto de comando. Locais próprios para os negociadores, para a sala de planejamento e operações, comunicações, atendimento à imprensa, local para atendimento médico, local para estacionamento de viaturas, locais para descanso, higiene pessoal e toaletes podem complementar a organização do posto de comando. Rádios da própria organização e de outras instituições envolvidas, telefone para ligações externas e com o interior do ponto crítico, videocassetes e televisores, rádio comercial, computadores, quadros de situação, mesa de reunião, são alguns meios que proporcionarão melhores condições de trabalho. O posto de comando pode ser um órgão público ou mesmo uma residência próxima ao local do evento crítico. O ideal seria a disponibilidade de veículos equipados com os recursos necessários para tal fim. A instalação em barracas de campanha, em local abrigado dos possíveis tiros dos bandidos, poderá ser uma boa alternativa para se evitar os inevitáveis danos a prédios particulares, porventura ocupados. gestao_de_conflitos.indb 112 26/7/2011 09:40:07 113 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Rádios da própria organização e de outras instituições envolvidas, telefone para ligações externas e com o interior do ponto crítico, videocassetes e televisores, rádio comercial, computadores, quadros de situação, mesa de reunião, são alguns meios que proporcionarão melhores condições de trabalho. O acesso ao posto de comando deve permitir total segurança e não deve ser visto a partir do ponto ocupado pelos bandidos. Uma rede de comunicações deve ser implantada a partir do posto de comando de tal forma que permita controlar os perímetros, as viaturas de patrulhamento, agentes infiltrados na multidão, atiradores de elite posicionados ao redor do ponto crítico, grupo de operações especiais, os apoios administrativos, além de permitir contato direto com os bandidos e com o escalão superior. Sempre que houver reféns há que se considerar a grande possibilidade de ter que se valer da força tática para a solução do evento. Porém, tal grupo especial deve estar próximo ao posto de comando com a missão específica de reconhecer o terreno e preparar-se para um possível emprego. Dependendo do nível de perigo que esteja representando a crise, pode ser necessário que o grupo fique posicionado para uma entrada de emergência. Pode ser necessário o emprego de atiradores de elite do grupo especial para ocupar posições dominantes do terreno, prontos para eventual emprego ou observação do ponto crítico. Reconhecimentos podem ser realizados pelos integrantes do grupo especial, tendo em vista possível intervenção. O que é inaceitável é que os integrantes do grupo especial passem dias e noites na atividade de inquietação dos bandidos, circulando com seus uniformes especiais e com o rosto descoberto à frente da mídia, inclusive tumultuando a vida do Posto de Comando. Nesse caso, não é compreensível qual seria a necessidade do uso de balacrava por ocasião do assalto. Há a considerar, ainda, que no caso de emprego, espera-se que esses homens estejam descansados, e no uso perfeito de suas faculdades mentais. gestao_de_conflitos.indb 113 26/7/2011 09:40:07 114 Universidade do Sul de Santa Catarina Tradicionalmente, costumava-se estereotipar a figura do negociador como a de alguém que simplesmente utilizava todos os meios usuários ao seu alcance para conseguir a rendição dos elementos causadores da crise? Quando esse objetivo não era atingido, a tarefa do negociador estava encerrada e a solução da crise ficaria a cargo do grupo tático (SWAT). Era como se as negociações e o grupo tático tivessem duas missões distintas e excludentes entre si. Estudos realizados pela “Special Operations and Research Unit” (SOARU), da Academia Nacional do FBI, mostram que essa concepção revelou-se errônea, porquanto os dois grupos têm, de fato, a mesma missão, isto é, resgatar pessoas tomadas como reféns, e que tal missão permanece a mesma ao longo de todo o evento crítico. De sorte que, se porventura houver a decisão de uso de força letal, não é o caso dos negociadores serem afastados, mas de utilizarem todos os seus recursos no sentido de apoiar uma ação tática coordenada.Em outras palavras, o negociador (ou negociadores) tem um papel tático de suma importância no curso da crise. A possibilidade de ocorrência de ferimentos ou doença súbita entre os reféns, bandidos e policiais exige a presença de socorro médico e ambulâncias no local. Também é prudente a presença de bombeiros para apoio às ações, pelos equipamentos de que dispõem e pelo preparo que têm para rompimento de obstáculos e salvamentos. Fase do plano específico Estabilizada a situação, o comandante do Teatro de Operações deve diagnosticar a situação e considerar as diversas hipóteses de solução da crise: Tentar uma solução negociada. � gestao_de_conflitos.indb 114 26/7/2011 09:40:07 115 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Exigir a rendição. � Usar agentes químicos. � Neutralizar o bandido por meio de atirador de elite. � Empregar o grupo tático. � A solução negociada é a menos traumatizante para os reféns e para a instituição policial. Às vezes, a solução negociada poderá ser a fuga dos bandidos, com apoio da própria polícia, acreditando na promessa de que reféns serão soltos sem nenhum dano. Outras vezes a solução negociada poderá ser a transferência da crise para outras áreas. Exigir a rendição é uma opção quando o bandido demonstra falta de coragem ou arrependimento por seu ato, ou quando não tem nenhum refém. Nesse último caso, não será necessário a entrada da polícia, bastando aguardar-lhe a saída. O uso de agentes químicos seria uma opção quando se acredita que na realidade o bandido não executará seus reféns, mas reagirá a uma entrada da polícia. O emprego de atirador de elite só é possível quando esgotadas todas as negociações possíveis, quando não houver acordo com o bandido e houver iminente perigo ou a indubitável intenção de ele executar reféns. Porém, há que se considerar a possibilidade de o bandido trocar de roupa com algum refém. Empregar o grupo tático é a opção de mais alto risco para os reféns, para os policiais e para os bandidos. Durante toda a administração da crise há que se manter os reféns alimentados e com assistência a qualquer problema de saúde. A mídia deve continuar sendo considerada um escalão superior, constantemente informada, a negociação deve sempre mantida. gestao_de_conflitos.indb 115 26/7/2011 09:40:07 116 Universidade do Sul de Santa Catarina Os seguintes procedimentos devem ser observados: estabelecer as diversas alternativas de solução; � analisar vantagens e desvantagens de cada alternativa; � discutir com a força tática as alternativas táticas; � discutir com autoridades as alternativas viáveis; � estabelecer planos de ação; � esclarecer a cada elemento seu papel específico; � providenciar reforços e equipamentos necessários; � prever médicos, ambulâncias, helicópteros; � alertar pronto socorro; � prever atividades de polícia judiciária; � prever adaptação dos perímetros táticos; � prever rotas de deslocamentos de emergência; � determinar ensaios cronometrados. � - Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de autoavaliação e aprofunde seus conhecimentos, consultando o Saiba mais. gestao_de_conflitos.indb 116 26/7/2011 09:40:07 117 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Síntese Tenho a firme convicção de que você agregou conhecimentos que o possibilitou compreender a importância e a necessidadede gerenciadores e negociadores de uma situação de crise com ou sem reféns, com formação específica para essas situações tão cruciais e comuns nos dias de hoje. Tratar sobre esse assunto no âmbito das Organizações de Segurança Pública, permite- nos buscar mais soluções para combater o amadorismo que pode comprometer o próprio Estado, ou seja, a segurança da população. Destaco, também, que nossas autoridades da área de Segurança Pública devem estar conscientes da necessidade premente de termos de preparar profissionais para atuarem como negociadores no gerenciamento de crises, sob pena de ficarmos a cada eclosão de uma crise à mercê da negociação por pessoas totalmente despreparadas, subscrevendo de forma irresponsável o livro da história que registrará as tragédias e as inconsequentes soluções de crise pela falta de um negociador profissional. Nesta unidade, você também estudou como as crises podem surgir e a necessidade de profissionais capacitados e habilitados para gerenciá-las. Além disso viu a importância do gerenciador na instalação do teatro de operações, e sua responsabilidade na aplicação de medidas mediatas. O estudo proporcionou agregar conhecimentos do significado de estabelecermos perímetros internos e externos, o que facilita o trabalho dos integrantes do grupo de gerenciamento de crises. Em síntese, esta unidade nos fez entender o quanto é complexa a tarefa de gerenciar uma crise, quer envolva reféns ou não, e que um gerenciador tecnicamente preparado é fundamental para conduzir a crise de maneira profissional. Saber no devido tempo as decisões a serem tomadas é de vital importância, pois na eclosão de uma crise é comum as pessoas, que normalmente não estão preparadas, ficarem desnorteadas e ineptas. gestao_de_conflitos.indb 117 26/7/2011 09:40:07 118 Universidade do Sul de Santa Catarina Atividades de autoavaliação 1)Agora que você já estudou as características da crise, justifique a existência de estu- dos e treinamentos especiais. 2)Nas fases da evolução do evento crítico, o gerenciador deve, entre outras atividades, preocupar-se com a fase da resposta imediata. Fale sobre essa atividade. gestao_de_conflitos.indb 118 26/7/2011 09:40:07 119 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 3)Fale sobre a importância da instalação do perímetro interno e perímetro externo. 4)Dentre o elenco dos diversos tipos de crises potenciais a que está sujeita a popu- lação, uma delas é sequestro. Comente. 5)Quais os elementos essenciais de informação para administração de uma crise? gestao_de_conflitos.indb 119 26/7/2011 09:40:07 120 Universidade do Sul de Santa Catarina 6)Quais habilidades deve possuir um negociador. Fale sobre cada uma delas. 7)Como você analisa a figura do negociador não policial no gerenciamento de uma crise? 8)Segundo Dwayne Fuselier, “a menos que haja razões específicas em contrário, os negociadores devem ser recrutados dentre policiais com treinamento apropriado. Quais são essas razões? gestao_de_conflitos.indb 120 26/7/2011 09:40:07 121 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 Saiba mais Para a sedimentação de conhecimento é de fundamental importância que busquemos estudos e leituras complementares, que servirão como diferencial, dentre aqueles que possuem a mesma formação. Para aprofundar seus conhecimentos, sugerimos o textos descritos a seguir, sobre a Síndrome de Estocolmo. Síndrome de Estocolmo Segundo o Capitão Frank Bolz, do Departamento de Polícia de Nova Ior que, essa síndrome nada mais é do que um mecanismo de tolerância, tão involuntário quanto respirar. Ainda segundo o mesmo autor, a expressão Síndrome de Estocolmo foi criada pelo Dr. Harvey Schlossberg, um detetive policial que mais tarde se tornou psicólogo clínico. Tal denominação decorreu, segundo Frank Bolz, de uma crise ocorrida em Estocolmo, na Suécia. Um elemento armado entrou no Banco de Crédito de Estocolmo e tentou praticar um roubo. Com a chegada da polícia, o assaltante tomou três mulheres e um homem como reféns e entrou com eles no caixa-forte do Banco, exigindo da polícia que trouxesse ao local um antigo cúmplice, que se encontrava na prisão. Atendido nessa exigência, o assaltante e o seu companheiro mantiveram os reféns em seu poder durante seis dias, no interior do caixa-forte, tendo ao final desse tempo se entregado sem resistência. Ao saírem da caixa-forte, os quatro reféns usaram seus próprios corpos como escudos para proteger os dois bandidos de qualquer tiro da polícia, ao mesmo tempo em que pediram aos policiais para não atirarem. Mais tarde, ao ser entrevistada pela mídia, uma das jovens que estivera co mo refém expressou sentimentos de muita simpatia para com um dos bandidos, chegando a dizer que esperaria até o dia que ele saísse da cadeia para se casarem. gestao_de_conflitos.indb 121 26/7/2011 09:40:08 122 Universidade do Sul de Santa Catarina Muitas pessoas ficaram chocadas ao ouvirem isso, chegando mesmo a imaginar que tivesse havido algum envolvimento sexual entre aquela moça e o ban dido, durante o tempo em que ficaram confinados no interior do caixa-forte. Mas, na verdade, não ocorrera nenhum contato sexual ou relacionamento amoroso. Muito pelo contrário. Por várias vezes, durante a crise, o bandido exibira a referida moça, com uma arma sob o queixo, aos policiais. Soube-se também que, a certa altura, ao desconfiarem que a polícia pretendia jogar gás lacrimogêneo no interior do caixa-forte, os bandidos amarraram os pescoços dos reféns aos puxadores das gavetas de aço dos cofres ali existentes. Com isso, pretendiam responsabilizar a polícia por algum virtual enforcamento dos reféns, causado pelo pânico que adviria com o lançamento do gás no interior do caixa-forte. Apesar de todas essas ações violentas, a jovem desenvolveu sentimentos de profunda amizade para com um dos bandidos, fato esse que até mesmo ela considerou inexplicável. Havia, portanto, outras razões que motivaram aquele inesperado sentimento de amor e simpatia da jovem para com o seu ex-algoz. Com a repetição desses fenômenos em vários outros casos semelhantes, os estudiosos do assunto chegaram à conclusão de que a Síndrome de Estocolmo era uma perturbação de ordem psicológica, paralela à chamada transferência, termo usado pela Psicologia para se referir ao relacionamento desenvolvido entre um paciente e o psiquiatra, permitindo que a terapia tenha sucesso. O paciente precisa acreditar que o médico pode ajudá-lo, a fim de o tratamento ter bom êxito. Como resultado desse esforço, o paciente desenvolve o fenômeno da “transferência”. As pessoas, quando estão vivendo momentos cruciais, costumam se apegar a qualquer coisa que lhes indique a saída, e é exatamente isso que ocorre com os reféns e os bandidos. Por ocasião de um evento crítico, tanto uns como outros estão sob forte tensão emocional. Por essa razão, os reféns passam conscientemente a desejar que tudo dê certo para os bandidos, isto é, que eles consigam o dinheiro do resgate, que Ihes sejam satisfeitas todas as exigências e possam fugir em paz, deixando os reféns com vida. Nesse processo mental, os reféns passam a considerar como totalmente indesejável toda e qualquer intervenção policial e, gestao_de_conflitos.indb 122 26/7/2011 09:40:08 123 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 frequentemente, os próprios va lores sedimentados ao longo da vida costumam ser questionados e até mudados por essas pessoas. Dessa ânsia desesperada pelo bom sucesso dos bandidos para a simpatia, a admiração, e até mesmo o amor ou o bem-querer, é um passo. A Síndrome de Estocolmo, hoje uma denominação já mundialmente consagrada, inserida inclusive em alguns dicionários de uso comum, como é o caso do Michaelis Chambers Complete English Dictionary, Edição 1996 e do Diccionario Didáctico de Español, da editora SM, de Madri, edição 1994, tem-se verificado com bastante frequênciano Brasil. Em 1987, durante um assalto à Agência do Banco Banestado, em Londrina/PR, os assaltantes, com a chegada inopinada da polícia, fizeram como reféns dezenas de pessoas que se encontravam no interior do Banco. Ao final da crise, que durou quase três dias, os assaltantes lograram fugir, levando consigo todo o produto do roubo. Todos os reféns liberados sofreram os efeitos da Síndrome de Estocolmo, tendo feito muitos e muitos elogios aos assaltantes, descrevendo-os sempre como pessoas muito simpáticas, educadas e inteligentes. Um capitão da PM/PR, que junto a uma jovem foi levado como refém durante a fuga, narrou-nos que, durante o trajeto da fuga, no interior do veículo, a jovem pôs de lado toda a pudicícia e ofereceu-se a um dos bandidos, dizendo-lhe que se apaixonara por ele e que gostaria de fazer amor com ele, ali ou em qualquer outro lugar, pois temia que ele viesse a morrer e ela não pudesse realizar esse desejo. Em 1980, um ônibus da empresa Penha, que trafegava pela BR-116, fazendo a linha Lages (SC) - Curitiba (PR), foi tomado por dois elementos que haviam assaltado um banco em Mafra/ SC. Com a chegada da polícia, eles agarraram uma jovem, uma mulher e uma criança de colo como reféns. O ônibus foi finalmente parado e cercado por policiais civis e militares do Paraná, num trevo rodoviário situado no perímentro urbano de Curitiba. Após três horas de muita tensão e negociação - inclusive com a ocorrência de um disparo feito por um dos assaltantes contra a pessoa do policial negociador - a polícia conseguiu invadir o gestao_de_conflitos.indb 123 26/7/2011 09:40:08 124 Universidade do Sul de Santa Catarina ônibus, capturando os bandidos e libertando as duas mulheres e a criança. Minutos após ser resgatada, a jovem refém, entrevistada por uma rede de televisão, disse aos jornalistas que os bandidos não queriam fazer mal algum aos reféns e que eles eram muito bacanas. Gente fina. Em junho de 1991, a estudante carioca Flávia De Oliveira Teixeira foi sequestrada, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro. Libertada após três dias de cativeiro e mediante o pagamento de milhares de dólares como resgate, ela apresentou sintomas bastante evidentes de que de senvolveu o fenômeno da Síndrome de Estocolmo. Segundo reportagem publicada numa revista de âmbito nacional, sob o tí tulo “garota carioca se apaixona por seus sequestradores”, a ex-refém não estava revoltada pela violência que sofreu e, ao contrário, fez uma defesa apaixonada de seus sequestradores, que, segundo ela, eram gente de bom coração, fruto de uma sociedade gananciosa. A referida jovem, segundo a reportagem, desenvolveu até uma especial relação de carinho para com um dos sequestradores, de nome Jorge, que, como ela própria narra, ficou apaixonado e chegou a se deitar ao seu lado, no tapete, e Ihe acariciou os seus cabelos, durante o cativeiro. Segundo ela, foi também esse sequestrador que Ihe deu um anel de prata, que ela agora usa na mão direita e não pretende mais tirar. Essa síndrome não atinge apenas os reféns. Também os causadores do evento crítico, pelo fato de serem seres humanos vivendo um momento crucial, estão sujeitos aos seus efeitos. Para os bandidos, os reféns são a sua tábua de salvação, o seu passaporte para a liberdade e o grande anteparo que os protege das balas da polícia. Nessas condições, é inevitável que os bandidos passem a desenvolver sentimentos de proteção, de cuidado, e até de amor e carinho, para com os reféns. Como resultado disso, os reféns passam a gozar de uma proteção psicológica cuja principal consequência é o não cumprimento de prazos fatais por parte dos bandidos. Instalada a síndrome, é quase impossível que algum dos reféns venha a ser executado simplesmente porque as autoridades não estão atendendo essa ou aquela exigência. gestao_de_conflitos.indb 124 26/7/2011 09:40:08 125 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Unidade 3 E a partir de que instante se instala a Síndrome de Estocolmo? A experiência tem demonstrado que o fenômeno leva de 15 a 45 minutos para começar a se manifestar, tendendo a crescer e a se sedimentar num determi nado patamar, logo nas primeiras horas de evolução. Esse lapso de 15 a 45 minutos iniciais decorre do fato de que é esse o tempo que os causadores da crise levam para conseguir obter o total controle da situação no interior do ponto crítico, dominando todos os reféns, posicionando-os da for ma mais conveniente e neutralizando possíveis reações ou resistências por parte de alguém mais afoito ou desesperado. A Síndrome de Estocolmo é uma constante em toda e qualquer crise, embora apresente graus de intensidade que variam de caso a caso, a depender dos seguintes fatores: Grau de risco ou ameaça. (Quanto maior o risco mais rápida e intensamente se desenvolve a síndrome). Estado de saúde mental dos bandidos. Está comprovado que os psicopatas e os fanáticos religiosos não desenvolvem a síndrome, daí a razão da letalidade dos eventos que envolvem esse tipo de elementos. Condicionamento mental das pessoas. Quem se condiciona a não desenvolver a síndrome, geralmente obtém êxito nisso. A proximidade física entre as pessoas. Quanto mais exíguo for o ambiente, melhor desenvolve o fenômeno. Até mesmo o negociador é suscetível de ser contagiado por essa síndrome, sendo comuns os casos de negociadores que se envolveram emocionalmente com os bandidos, a tal ponto que chegaram a se tornar autênticos advogados de defe sa das exigências desses e empedernidos adversários da opção de uso de força letal. Cabe ao comandante da cena de ação o cuidado de diagnosticar a tempo esse contágio e providenciar a imediata substituição do negociador. gestao_de_conflitos.indb 125 26/7/2011 09:40:08 gestao_de_conflitos.indb 126 26/7/2011 09:40:08 Para concluir o estudo Prezado Aluno, A atual realidade brasileira, infelizmente, é insegura e desprovida de qualquer doutrina no que tange à figura do negociador no gerenciamento de uma crise com reféns. Nossas autoridades costumam ver o policial, quer seja militar ou civil, com especialização em gerenciamento, como alguém capacitado a resolver uma situação de alto risco com reféns, o que não é verdadeiro, conforme pudemos constatar nos estudos realizados. A notoriedade da complexidade da crise reside no risco de vida que passam as pessoas seqüestradas, quer seja uma rebelião em um presídio, um assalto a um ônibus, um assalto a um banco etc. Como vimos, a importância da polícia para gerenciar esses momentos é imprescindível, mas é fundamental a pessoa do policial negociador, altamente preparado para intermediar o quadro dialético formado entre os bandidos – tomadores de reféns – e as autoridades responsáveis pelas decisões finais, para a resolução da crise gerada. Acreditamos que pelo conteúdo aqui relatado e com a experiência de tantos outros casos já ocorridos, não só no seu Estado ou no Brasil, e até mesmo no mundo, podemos afirmar que a utilização de negociadores não policiais é uma opção de alto risco. Dwaine Fuselier, da Academia do FBI, é enfático ao dizer que essas pessoas, em virtude de geralmente não terem sido treinadas para a negociação, tenderão, provavelmente, devido ao “stress” causado pela situação, a se apegar ao seu modo e maneira de falar, ao dialogarem com os bandidos, no que concordamos plenamente, pois gestao_de_conflitos.indb 127 26/7/2011 09:40:08 128 Universidade do Sul de Santa Catarina não possuem o preparo e a experiência necessários para lidar com esses tipos de pessoas. Sendo assim, de acordo com Dwaine, os religiosos tenderão a se manter excessivamente moralistas ou teológicos, os advogados sentirão dificuldade em decidir por qual dos lados estariam atuando, e até mesmo os profissionais de psiquiatria, se não tiverem um treinamento prévio a respeito de gerenciamento de crises, em pouco ou nada poderão contribuir, porquanto estão acostumadosa serem procurados por pessoas que vão lhes pedir auxílio, e nunca por pessoas que resistam a esse auxílio. Outro tipo de negociador que frequentemente utiliza os responsáveis pelo gerenciamento de crises são os familiares de alguns bandidos. A crônica policial tem divulgado e registrado que essa prática tem resultado em consequências muitas vezes desastrosas. Toda vez que um gerenciador achar conveniente, em que pese os alertas da doutrina, utilizar algum familiar do bandido para facilitar a resolução da crise, deverá ser bastante criterioso nesta decisão e se cercar de todos os cuidados para validação da sua atitude. Já houve casos verdadeiramente folclóricos em que o cônjuge, o pai ou a mãe de algum causador de evento crítico se ofereceu para servir de negociador com a melhor das intenções, e tão logo se estabeleceu o contato com aquelas pessoas e o elemento causador do evento crítico, esse reagiu de forma mais agressiva possível, argumentando que ele se encontrava naquela situação justamente devido àquele cônjuge, àquele pai ou àquela mãe e não admitia que a polícia voltasse a utilizá-los como negociadores, por considerar aquilo chantagem emocional. A maior razão para a utilização de negociadores não policiais parece não ser somente a sua falta de habilidade para desempenhar tal mister, mas a total inexistência de compromisso entre eles e a polícia. A autoridade policial não tem como precisar se nos contatos realizados com os tomadores de reféns, o negociador não policial vá se manter fiel às orientações e propostas anunciadas pelo gerenciador da crise. gestao_de_conflitos.indb 128 26/7/2011 09:40:09 129 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos Até podemos acreditar que o negociador não policial tenha interesse na solução da crise, mas quem pode garantir que ele concordará com as diretrizes da polícia, principalmente se, na fase do planejamento específico, estiver se desenhando uma solução com o emprego do grupo de operações especiais. Se realmente a situação ficar insustentável e se decidir pelo emprego letal do Grupo de Operações Especiais, não se pode esperar de uma pessoa sem treinamento específico para exercer um papel tático na negociação atribuição fundamental de um negociador nessas circunstâncias. E, finalmente, com o emprego do Grupo de Operações Especiais, a responsabilidade civil do Estado ficará em situação comprometedora, se o negociador não policial vier a se ferir ou mesmo a perder a vida. Diante de todos esses posicionamentos, a doutrina de gerenciamento de crises considera condenável o emprego de negociadores não policiais. O agente do FBI, Dwaine Fuselier, já citado, é categórico ao afirmar que a menos que haja razões específicas em contrário, os negociadores devem ser recrutados entre policiais com treinamento específico sobre esse assunto e se sentir à vontade para assumir esse papel. Destaco que nossas autoridades na área de Segurança Pública devem estar conscientes da necessidade premente de termos que preparar policiais, quer sejam militares ou civis, para atuarem como negociadores no gerenciamento de uma crise, à mercê da negociação por pessoas totalmente despreparadas, subscrevendo de forma irresponsável o livro da história que registrará as tragédias e as inconsequentes soluções de crise pela falta de um negociador policial e profissional. Espero ter atendido à expectativa de todos na busca deste novo conhecimento. Acredito ter sido uma nova experiência para muitos, que ajudará no crescimento individual e coletivo de todos os alunos que frequentam este curso. gestao_de_conflitos.indb 129 26/7/2011 09:40:09 130 Universidade do Sul de Santa Catarina Ter o conhecimento da importância da negociação do gerenciamento de crises é um diferencial que muito irá contribuir para aqueles que optaram pela graduação na área de Segurança Pública. Necessariamente, o mais interessante não é possuir características e o perfil para ser um negociador e gerenciador de crises e conflitos, mas sim ter o conhecimento, o entendimento que essas questões impõem à necessidade de profissionais capacitados e habilitados para desenvolverem essas atividades. Se você assimilou dessa forma, tenho certeza de ter alcançado os meus propósitos. Almejo, portanto, a todos vocês, sucesso neste curso superior. Espero, em breve, encontrar com vocês para debatermos sobre esses e outros assuntos. Tenho certeza de que juntos poderemos lutar por um mundo melhor. Sucesso e até breve! Prof. Edson Souza gestao_de_conflitos.indb 130 26/7/2011 09:40:09 Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituiçao.htm>. Acesso em 18 mar. 2011. BRASIL. Decreto-lei nº 2.010, de 12 de janeiro de 1983. Altera o Decreto-Lei nº 667, de 02 de julho de 1969, que reorganiza as Polícia Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/ Del2010.htm>. Acesso em 11 mar 2011. CRETELLA JUNIOR José. Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987. DE SOUZA, Wanderley Mascarenhas. Gerenciamento de Crises: negociação e atuação de grupos especiais de polícia na solução de eventos críticos. Monografia do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais - CAO-II/95. Polícia Militar do Estado de São Paulo. Centro de Aperfeiçoamento e Estudos Superiores. São Paulo, 1995. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA. Manual Básico da Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro: A Escola, 2009. ESTADOS UNIDOS, Governo Federal. Departamento De Justiça. Federal Bureau of Investigation (FBI). Disponível em: <http:// www.fbi.gov/>. Acesso em: 11 mar. 2011. FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. 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NICK, Eva e CABRAL, Álvaro. Dicionário técnico de psicologia. Ed. Cultrix. 14º ed., 2006. ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Resolução nº 34/169, de 17/12/1979. Código de Conduta para os Policiais. Disponível em: <http:// fabianofederal.spaces.live.com/Blog/cns!736210F41AC6BF1D!199.entry>. Acesso em 18 mar. 2011. PONTES, Valter Wintenburg. Operações policiais militares e administração de crises: Manual de gerenciamento de Crises. Polícia Militar do Paraná. 1996. SILVA, Plácido. Vocabulário jurídico. Vol 4. Citado por Edmundo José Bastos Júnior em dissertação apresentada. UFSC. 1984. SANT´ANNA, Flávia M. Microensino e habilidades técnicas do professor. Ed Bels. 1974. SOUZA, Colombo de. Rebelião termina após 5 horas de tensão. Diário Catarinense. Florianópolis, 19 ago 1988. p.4. SOUZA, Colombo de. SABEDRA, Jefferson. 30 detentos amotinados ameaçam queimar reféns. Diário Catarinense. Florianópolis, 12 mai 1997.p.40. (Texto traduzido da obra de Hostage Negotiation Teams – Paladim Press – Boudier - Colorado/USA) THOMÉ, Ricardo Lemos. A solução policial e gerenciada das situaçõescríticas. Florianópolis, SC: Pallotti. 1998. UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS. Universal Declaration of Human Rights. OFFICE OF THE HIGH COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS (OHCHR), 1948. Traduzido por United Nations Information Centre, Portugal. Disponível em: <http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Pages/Language. aspx?LangID=por>. Acesso em: 18 mar. 2011 ZANFRA, Marco Antônio. Duas rebeliões destroem penitenciária. O Estado. Florianópolis, 26/27 Set. 1998.p.14-15. gestao_de_conflitos.indb 132 26/7/2011 09:40:09 Sobre o professor conteudista Edson Souza Formado pela Escola de Oficiais da Academia de Polícia Militar de Santa Catarina (1974-1977). Já exerceu as funções de chefe da Divisão de Ensino do Centro de Ensino da Polícia Militar (1986) e secretário adjunto da Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos do Município de Florianópolis (2007). Desde 2009, é Secretário de Segurança e Defesa Social do Município de São José/SC. Com curso Superior de Policial na Academia da Polícia Militar de Santa Catarina (2000), é também especialista em Administração de Segurança Publica, pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL (2000). Sua formação profissional compreende os seguintes cursos: curso de atualização em Direito Penal - Florianópolis (1981); curso de Oficial Instrutor (1982); curso de aperfeiçoamento de Oficiais na Academia de Polícia Militar de Minas Gerais (1990); curso de Capacitação de Multiplicador e Facilitador em Qualidade Total (1995); curso de Gerenciamento de Situação de Alto Risco na Brigada Militar do Rio Grande do Sul, com Estágios na Polícia Nacional e Guarda Civil Espanhola – Madrid – Espanha (1997); curso de Procedimentos de Inteligência – Agência Brasileira de Inteligência – ABIN (2001) e também viagens de estudo nas Polícias de Paris, Madrid e Lisboa (2000). Também é autor do livro sobre Conflitos e Negociação na Segurança Pública. gestao_de_conflitos.indb 133 26/7/2011 09:40:09 gestao_de_conflitos.indb 134 26/7/2011 09:40:09 Respostas e comentários das atividades de autoavaliação Unidade 1 1) Elabore um texto sobre a origem da Polícia dentro da história civilizada, bem como sua origem no Brasil, destacando sua principal mudança, após o advento da nossa Carta Política (CF), datada de 1988. Foque sua atenção sobre alguns elementos-chave. R. O objetivo desta questão é fazer com que o aluno adquira um aculturamento, relacionado aos órgãos de Segurança Pública do seu Estado e que a principal mudança, após o advento da nossa Carta Magna (CF/88) de 1988, está relacionada ao fato de que as polícias militares, principalmente, estão muito mais voltadas à Defesa Social, do que simplesmente ser um órgão de força dos Estados na preservação da Ordem Pública. 2) São elementos constantes da definição de Polícia: R. Estado, finalidade e conjunto de restrições ou limitações. 3) Conceitue segurança pública e segurança nacional, em seguida, realce qual a diferença marcante entre os dois conceitos? R. A segurança nacional é a garantia, em grau variável, proporcionada à nação, principalmente pelo Estado, por meio de ações políticas, econômicas, psicossociais e militares, para, superando os antagonismos e pressões, conquistar e manter os objetivos nacionais, seja no âmbito interno, seja no externo. Enquanto a Segurança Publica é garantia que o Estado (União, Unidades Federativas, Municípios), proporciona a Nação, a fim de assegurar a ordem publica contra violações de toda espécie, que não contenham conotação ideológica. 4) Após análise do art 144 (CF), destaque quais são os órgãos de segurança pública dos Estados membros e qual a missão constitucional de cada um? R. Para todos nós que estudamos e vivenciamos a Segurança Pública é fundamental que saibamos quais os seus órgãos gestao_de_conflitos.indb 135 26/7/2011 09:40:09 136 Universidade do Sul de Santa Catarina integrantes e suas missões constitucionais, que estão preconizadas no art. 144 da Constituição Federal. Pesquise e transcreva. 5) Após leitura atenta da seção 4, estabeleça a diferença entre “preservação” e “manutenção” da ordem pública. R. Polícia Administrativa – A Polícia Administrativa é preventiva, regida pelos princípios jurídicos do Direito Administrativo e incide sobre os bens, direitos ou atividades. Polícia Judiciária - A Polícia Judiciária e repressiva é regida pelas normas do Direito Processual Penal e incide nas pessoas. 6) Conceitue Polícia Administrativa e Polícia Judiciária. R. Além da linha tênue e sutil da diferença entre preservação e manutenção, podemos afirmar que uma está no estado de segurança, que é a preservação e a outra está no Estado de Defesa, que é a manutenção. Houve a quebra da ordem pública, é necessário que se disponibilize todos os meios para restabelecimento da ordem, neste momento está sendo realizada a manutenção. Voltando à normalidade, assume-se novamente o Estado de Segurança, alcançando a preservação da ordem. Unidade 2 1) Conceitue o que você entendeu por gerenciamento de crise, crise e negociação. R. Gerenciamento de Crise é um processo de identificar, obter e aplicar os recursos necessários à antecipação, prevenção e resolução de uma crise. Crise é um evento ou situação crucial que exige uma resposta da polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável. Negociação, classicamente, é a catalisação por parte do negociador, que se desenvolve no processo dialético entre as exigências dos causadores do evento critico (tese) e a postura das autoridades (antítese) na busca de uma solução aceitável (síntese). 2) No gerenciamento de uma crise, por que é importante a fi gura do negociador ligado à área de Segurança Pública? R. A importância está relacionada ao fato do comprometimento deste profissional com as responsabilidades do Estado, bem como seu preparo técnico-profissional na área de Segurança Pública, o que facilitará o emprego do grupo tático, caso seja necessário. 3) Fale sobre o papel do gerenciador e do negociador no gerenciamento de uma crise. R. A autoridade que primeiro tomou conhecimento da crise deve tomar algumas medidas essenciais para o gerenciamento definitivo do evento gestao_de_conflitos.indb 136 26/7/2011 09:40:09 137 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos crítico instalado, quais sejam: conter a crise, isolar o ponto crítico e iniciar as negociações, enfim, deverá ter o conhecimento básico para conter, isolar e negociar. Após a tomada das 3 (três) medidas iniciais, já citadas, o policial gerenciador dá início aos processos de instalação do teatro de operações ou cena de ação e será denominado seu comandante. O papel do negociador é o de servir de intermediário entre os causadores do evento critico e o comandante da cena de ação. É a figura do negociador caracterizada como a de alguém que se utiliza de todos os meios de persuasão para que os causadores da crise rendam-se sem qualquer resistência e, por conseguinte, libertem as pessoas tomadas como reféns. 4) Dentre as 39 (trinta e nove) regras a observar na negociação, qual a que fala que o negociador não deverá se expor e se tornar mais um refém, ou até ser ferido ou morto pelos marginais. Sendo inevitável esta situação, o negociador não deverá se aproximar a menos de 10 metros, a não ser que esteja protegido por algum obstáculo físico? R. É a regra de número 3. Evite negociar cara a cara. 5) Qual o conceito de crise do Curso Avançado de Manejo de Crises do Escritório de Assistência ou Anti-terrorismo do Serviço de Segurança Diplomática dos E.U.A? R. Situação que ameace metas de alta prioridade do nível decisório, restrinja a quantidade de tempo disponível de resposta antes da tomada de uma decisão e sua ocorrência, surpreenda os responsáveis pela sua decisão. 6) Quais as fontes de informações que o pessoal de inteligência pode valer-se para melhor gerenciar uma crise? R. Interpretação de manifestações das pessoas. Interceptação de comunicações. Interpretaçãode fotografias, filmes, gravações, sensores infravermelhos, radares, revistas, livros, jornais e imprensa em geral. Publicações governamentais. Análise, estudos, relatórios e consultas a arquivos policiais. Informações de serviços meteorológicos etc. gestao_de_conflitos.indb 137 26/7/2011 09:40:09 138 Universidade do Sul de Santa Catarina Unidade 3 1) Agora que você já estudou as características da crise, justifique a existência de estudos e treinamentos especiais. R. As características de crises provocam o stress. O stress reduz a capacidade de desempenho em tarefas de soluções e problemas. O gerenciamento de crises é uma complexa tarefa de solução de problemas. Os resultados da incompetência profissional podem ser imediatos e fatais. 2) Nas fases da evolução do evento crítico, o gerenciador deve, entre outras atividades, preocupar-se com a fase da resposta imediata. Fale sobre essa atividade. R. A fase da resposta imediata compreende todas as providências que o gerenciador deve aplicar, valendo-se do princípio da oportunidade. São providências que irão garantir um gerenciamento sem problemas maiores do que aqueles causadores da própria crise. Essa fase tem significativo valor na solução da crise. 3) Fale sobre a importância da instalação do perímetro interno e perímetro externo. R. O perímetro interno e o perímetro externo, doutrinariamente, denominados de perímetros táticos, são de tão grande importância que será impossível administrar um evento crítico com reféns se eles não estiverem corretamente estabelecidos. Eles têm o objetivo de permitir total controle dos bandidos, disciplinar a movimentação na área interna e externa do ponto crítico e manter a população a distância segura, sem interferir no gerenciamento da crise. 4) Dentre o elenco dos diversos tipos de crises potenciais a que está sujeita a população, uma delas é sequestro. Comente. R. Em caso de extorsão mediante sequestro, por exemplo, os planejadores devem levantar todos os alvos potenciais, tendo em vista sua importância política, as condições financeiras, os hábitos de rotina, a residência e o local de trabalho, itinerários utilizados, hábitos da família, enfim, todos os detalhes que permitam planejar medidas de proteção ou de rápida varredura policial em caso de alarme de sequestro. gestao_de_conflitos.indb 138 26/7/2011 09:40:09 139 Gestão de Conflitos e Eventos Críticos 5) Quais os elementos essenciais de informação para administração de uma crise? R. Bandidos. Reféns. Objetivo. Armas. 6) Quais habilidades deve possuir um negociador. Fale sobre cada uma delas. R. Técnicas; psicológicas; intelectuais. 7) Como você analisa a fi gura do negociador não policial no gerenciamento de uma crise? R. Que deva ser utilizado, conforme afirma Dwaine Fuselier, “a menos que haja razões específicas em contrário, os negociadores devem ser recrutados dentre policiais com treinamento apropriado”. 8) Segundo Dwayne Fuselier, “a menos que haja razões específicas em contrário, os negociadores devem ser recrutados dentre policiais com treinamento apropriado. Quais são essas razões? R. Quando ocorrem casos de extorsão mediante sequestro, em que a família do sequestrado é o primeiro contato dos sequestradores por meio do telefone. Assim, pedem o afastamento da polícia, o que inviabiliza o exercício da negociação por parte do negociador profissional. Esse pedido de afastamento deve ser formalmente solicitado. gestao_de_conflitos.indb 139 26/7/2011 09:40:09 gestao_de_conflitos.indb 140 26/7/2011 09:40:09 Biblioteca Virtual Veja a seguir os serviços oferecidos pela Biblioteca Virtual aos alunos a distância: Pesquisa a publicações online � www.unisul.br/textocompleto Acesso a bases de dados assinadas � www. unisul.br/bdassinadas Acesso a bases de dados gratuitas selecionadas � www.unisul.br/bdgratuitas Acesso a jornais e revistas on-line � www. unisul.br/periodicos Empréstimo de livros � www. unisul.br/emprestimos Escaneamento de parte de obra � * Acesse a página da Biblioteca Virtual da Unisul, disponível no EVA e explore seus recursos digitais. Qualquer dúvida escreva para bv@unisul.br * Se você optar por escaneamento de parte do livro, será lhe enviado o sumário da obra para que você possa escolher quais capítulos deseja solicitar a reprodução. Lembrando que para não ferir a Lei dos direitos autorais (Lei 9610/98) pode-se reproduzir até 10% do total de páginas do livro. gestao_de_conflitos.indb 141 26/7/2011 09:40:09