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Sistema Cardiovascular Sumário 1. Sistema cardiovascular ............................................................................................... 3 Estrutura geral dos vasos sanguíneos ........................................................................ 5 As túnicas dos vasos sanguíneos ............................................................................... 6 A inervação dos vasos sanguíneos ............................................................................. 9 Classificação das artérias ......................................................................................... 10 Grandes artérias elásticas ......................................................................................... 10 Artérias musculares médias ...................................................................................... 12 Arteríolas ..................................................................................................................... 13 Estruturas sensoriais especializadas das artérias .................................................. 15 Capilares ..................................................................................................................... 17 Classificação das veias ............................................................................................. 19 Coração ....................................................................................................................... 24 Camadas da parede cardíaca .................................................................................... 25 Esqueleto fibroso cardíaco ........................................................................................ 30 Válvulas cardíacas ..................................................................................................... 30 2. Sistema vascular linfático ......................................................................................... 33 Capilares linfáticos ..................................................................................................... 33 Vasos linfáticos .......................................................................................................... 33 Ductos linfáticos ......................................................................................................... 35 Referências ..................................................................................................................... 37 Sistema Cardiovascular 3 1. SiStema CardiovaSCular O sistema cardiovascular é um tanto quanto complexo, cabe dividi-lo em dois com- ponentes para ter melhor compreensão. É composto por dois circuitos, o primeiro é o circuito pulmonar, já o segundo é o circuito sistêmico. Figura 1. Coração e seus principais vasos. Fonte: Kudinova Olena/Shutterstock.com O circuito pulmonar segue a sua própria lógica, sendo ela: o sangue é conduzido do coração até o pulmão e, logo após, volta ao coração. É pertinente ressaltar o ca- ráter químico desse sangue nessa etapa da circulação, sendo caracterizado como venoso, ou seja, um sangue pobre em oxigênio. Essa circulação tem início quando o sangue sai do ventrículo direito pela artéria pulmonar em direção aos pulmões. A artéria pulmonar ramifica-se e segue cada uma para um pulmão. Ao ocorrer essa ramificação, há uma diminuição no calibre dessas artérias, que se tornam artérias de pequeno calibre até os capilares que irão envolver os alvéolos pulmonares. Nos alvéolos, ocorrerão trocas gasosas (hematose), que se caracterizam pela passagem do gás carbônico do sangue para o interior dos alvéolos e do oxigênio presente nos alvéolos para o interior do capilar, fenômeno importante na manutenção do sangue em condições adequadas para o bom funcionamento dos sistemas. Outra informa- ção de grande relevância para a compreensão desse circuito é entender o local onde começa essa circulação. O tronco da artéria pulmonar é a origem da pequena circu- lação, também chamada de circulação pulmonar. Ela tem a sua origem no ventrículo direito do coração, de quem recebe o sangue venoso, pobre em oxigênio, que deve ser dirigido até os (pulmões), onde ocorrerá a oxigenação. A partir daí, se divide em dois ramos: a artéria pulmonar esquerda e a artéria pulmonar direita. Após o proces- so de hematose, o sangue segue pelas vênulas e, posteriormente, para as veias pul- monares. Essas veias tem grande relevância, pois levam o sangue novamente para o coração. O sangue irá chegar a esse órgão pelo átrio esquerdo. Sistema Cardiovascular 4 Figura 2. Sistema circulatório. Fonte: metamorworks/Shutterstock.com. A circulação sistêmica ou grande circulação é um processo em que o sangue é levado do coração até os tecidos e, após isso, é levado novamente para o coração. Essa circulação tem início quando o sangue sai do ventrículo esquerdo pela artéria aorta. Na grande circulação, o sangue do ventrículo esquerdo vai para todo o orga- nismo, por intermédio da artéria aorta, e retorna até o átrio direito do coração, pelas veias cava. É uma circulação que se caracteriza pela seguinte dinâmica: coração-tecido-coração, entre o ventrículo esquerdo e o átrio direito do coração. Da artéria aorta, partem ramos que irrigarão o corpo inteiro. Nos capilares sanguíneos, ocorrerá trocas gasosas com células do tecido, após isso, o sangue se tornará rico em gás carbônico. Após ocorrer essas trocas gasosas, o sangue é coletado pelas vênulas que o levam até as veias cavas superior e inferior. A partir daí, as veias cavas levam o sangue para o coração, desembocando no átrio direito. Sistema Cardiovascular 5 estrutura geral dos vasos sanguíneos O sistema circulatório, propriamente dito, é considerado o responsável por condu- zir elementos essenciais para todos os tecidos do corpo, como, por exemplo, oxigê- nio para as células, hormônios (que são liberados pelas glândulas endócrinas) para os tecidos, a condução de dióxido de carbono para sua eliminação nos pulmões, coleta de excretas metabólicos e celulares, e, posteriormente, a entrega desses rejei- tos nos órgãos excretores, como, por exemplo, os rins. Além do mais, apresenta um papel essencial no sistema imunológico contra infecções e na termorregulação. ARTÉRIAS VEIAS Parede espessa Parede delgada Diâmetro externo menor Diâmetro externo maior Luz do lúmen estreita Luz do lúmen ampla A túnica média é mais espessa que a túnica adventícia A túnica adventícia é mais espessa que a túnica média Presença de lâmina elástica interna Ausência de lâmina elástica interna Vaso vasorum em menor quantidade Vaso vasorum em maior quantidade Tabela 1. Tabela comparativa artérias x veias. Fonte: Fonte: Gartner, 2017. Se liga! Entre os vasos sanguíneos, existem algumas diferenças funcionais, morfológicas e até mesmo estruturais que permitem que possa ha- ver a distinção entre elas. Entre os vasos, artérias e veias, essa regra não é uma exceção, nota-se algumas diferenças particulares das quais diferenciam as artérias das veias. Contudo só é possível observar ao microscópio em cortes transversais de um par formado por artéria e veia, a partir daí fica fácil compa- rar seus calibres e as espessuras das paredes. As artérias possuem paredes mais espessas, e esse aumento na espessura é uma aplicação fisiológica, haja vista que o coração lança o sangue a pressões elevadas por meio das artérias e ele é transportado até chegar ao nível de capilares, onde ocorrem as trocas de substâncias, enquanto as veias possuem paredes mais delgadas. Além disso, a luz do lúmen é mais estreita, devido à espessura de suas túnicas, outra diferen- ça é a presença da lâmina elástica interna nas artérias, enquanto que as veias não a possuem. Sua função é separá-la da túnica média, sendo o componente mais externo da camada. Há outra diferença muito pertinente, que é a quantidade de vaso vasorum, muito maior nas veias, pois sua túnica adventícia é mais es- pessa que na artéria, e isso fisiologicamentedificultaria a nutrição. Sistema Cardiovascular 6 Os vasos sanguíneos em conjunto dão origem a uma rede de tubos que irão rea- lizar o transporte do sangue pelo corpo. Esses tubos possuem algumas especifi- cações que servem como fator diferencial, como, por exemplo, eles têm diferentes diâmetros e fazem circular o sangue arterial (oxigenado) e venoso (rico em gás carbônico), constituindo o sistema cardiovascular ou circulatório. Existem estruturas morfológicas que compõem a parede desses vasos, formada por três camadas ou comumente conhecida como túnicas, são elas: a túnica íntima, a túnica média e a túnica adventícia, que é a camada mais externa. Figura 3. Túnicas. Fonte: VectorMine/Shutterstock.com as túnicas dos vasos sanguíneos A túnica íntima é a camada mais interna da parede de um vaso. Apresenta uma ca- mada de células endoteliais que está apoiada em outra camada de tecido conjuntivo frouxo, que, por sua vez, preenche espaços não ocupados por outros tecidos, apoia e nutre células epiteliais, envolve nervos, músculos e vasos sanguíneos linfáticos. Localizado na túnica íntima, o tecido conjuntivo frouxo é extremamente vantajoso do ponto de vista fisiológico para essa túnica. É pertinente ressaltar ainda que o tecido Sistema Cardiovascular 7 conjuntivo subendotelial só é facilmente observado em microscopia de luz, nos va- sos mais calibrosos, e é composto por fibras colágenas e elásticas, sintetizadas por fibroblastos. As fibras colágenas ou conjuntivas são constituídas por colágeno, o que acaba proporcionando força e resistência às trações e flexibilidade aos tecidos. Formam-se feixes de fibras brancas, geralmente de contorno ondulado, que se cruzam e entrelaçam, podendo mesmo ramificar-se. A camada subendotelial, que pode conter células musculares lisas, possui uma contração involuntária e lenta, composta por células fusiformes mononucleadas. Além disso, é constituída de uma única camada de células endoteliais, achatadas, pavimentosas, que formam um tubo que reveste o lúmen do vaso, e o tecido conjuntivo subendotelial subjacente. Por fim, a lâmina elásti- ca interna da túnica íntima apresenta em sua constituição básica a elastina, que é con- siderada uma proteína cuja função é estrutural, formando fibras elásticas, presentes nas artérias elásticas. Possui também pequenas aberturas que viabilizam a difusão de substâncias para células mais profundas no vaso, possibilitando a sua nutrição, o que se configura extremamente vantajoso do ponto de vista fisiológico. Hora da revisão! Como já pontuado anteriormente, o endotélio é um constituinte da túnica íntima, e a sua presença confere algumas funções para essa camada. A sua composição histológica é um tecido epitelial do tipo simples pavimentoso, com células tão achatadas que só podem ser reconhe- cidas por seus núcleos, que frequentemente fazem saliência para a luz do va- so. Uma das funções das células endoteliais é a de secreção de colágeno dos tipos III, IV e V, lamina, endotelina, óxido nítrico e o fator de von Willebrand. Paralelo a isso, sob condições patológicas, as células endoteliais fabricam fatores trombogênicos, incluindo o fator tecidual, o fator de von Willebrand e o fator ativador de plaquetas. Tal fato revela uma extrema importância clínica, pois o fator de Von Willebrand ajuda na mediação da adesão das plaquetas ao subendotélio lesado: funciona como uma ponte entre receptores da pla- queta (glicoproteína Ib e glicoproteína IIb/IIIa) e o subendotélio lesado. Além disso, a constituição histológica do endotélio proporciona a diminuição da fricção do fluxo sanguíneo, assim como algumas propriedades anticoagu- lantes e antitrombogênicas — secretando o fator ativador do plasminogênio, trombomodulina, glicosamino-glicanos, prostaglandinas e óxido nítrico. Estes dois últimos induzem uma resposta das células musculares lisa, causando o seu relaxamento. Outra função de grande relevância para a clínica é que o endotélio forma uma espécie de barreira semi-impermeável que se interpõe ao plasma sanguíneo e o fluido intersticial. As células endoteliais contém algumas enzimas que são ligadas à membrana, tais como a enzima conver- sora da angiotensina (ECA), que funciona clivando a angiotensina I, gerando a angiotensina II, assim como enzimas que inativam a bradicinina, serotonina, prostaglandinas, trombina e noradrenalina; ademais, elas ligam-se à lipase lipoprotéica, enzima que degrada lipoproteínas. Sistema Cardiovascular 8 A túnica média, como o próprio nome já revela, se encontra entre as demais túni- cas. Possui constituição histológica camadas de músculo liso com orientação heli- coidal, sendo uma musculatura lisa, pode ser considerada de contração involuntária e lenta. A camada média possui células concêntricas que formam a túnica média, compreendendo principalmente células musculares do tipo lisas, que estão dispos- tas helicoidalmente. Entremeadas com as camadas de músculo liso, são encontra- das lâminas elásticas (nas artérias de grande calibre), algumas fibras elásticas (nos vasos de pequeno e médio porte), assim como colágeno do tipo III e proteoglicanos. É importante salientar que as lâminas elásticas são constituídas por proteína elas- tina, miofibrilas e fibrilina, que se caracterizam por serem separadas umas das ou- tras, não constituindo feixes, como é o caso das fibras colágenas. Além disso, essas fibras podem ser divididas em delgadas e longas, possuindo capacidade de estira- mento até uma vez e meia o seu comprimento total. Essas fibras são encontradas em locais que requerem uma maior flexibilidade para realizar sua função, como, por exemplo, a parede de vasos. É pertinente ressaltar, ainda, que os vasos capilares e vênulas pós-capilares não possuem uma túnica média, entrando outro tipo de cama- da que exercerá uma função semelhante. Figura 4. Células da túnica. Fonte: udaix/Shutterstock.com A túnica adventícia é a camada mais externa dos vasos sanguíneos, e justamente por ser a mais externa, funde-se com o tecido conjuntivo circundante. A composição histológica dessa camada é formada por fibroblastos, fibras de colágeno do tipo I e fibras elásticas orientadas longitudinalmente. É a mais comum; aparece no tecido conjuntivo frouxo comum, no tecido conjuntivo denso (onde é predominante sobre os outros tipos), sempre formando fibras e feixes. A túnica adventícia é composta por um tecido conjuntivo denso não modelado cujas fibras são organizadas sem orientação definida. O tecido é classificado como conjuntivo denso não modelado, no qual as fibras formam uma trama que lhes confere certa resistência a trações Sistema Cardiovascular 9 exercidas em qualquer direção. Além disso, ele possui outro tipo de tecido, o tecido conjuntivo frouxo, que preenche espaços não ocupados por outros tecidos. Tem a função de apoiar e nutrir células epiteliais, envolve nervos, músculos e vasos sanguí- neos linfáticos, faz parte da estrutura de muitos órgãos e desempenha importante papel em processos de cicatrização. Ainda é pertinente ressaltar a importância de outro componente dessa túnica, o vaso vasorum, que fornece sangue para as pare- des musculares dos vasos sanguíneos. Se liga! Os vasos vasorum são pequenos vasos sanguíneos encon- trados ao redor das paredes de grandes vasos na camada adventícia, servindo para sua nutrição. a inervação dos vasos sanguíneos É comum os vasos sanguíneos que contêm músculo liso em suas paredes serem providos por uma rede profusa de fibras não mielínicas da inervação simpática (nervos vasomotores), cujo neurotransmissor é a norepinefrina, res- ponsável pelo controle da respiração e da regeneração do tecido epitelial e ner- voso, e atua promovendo a vasodilatação do vaso sanguíneo. Geralmente as terminações nervosas eferentes não penetram a túnica média das artérias, e os neurotransmissores precisam difundir-se por uma distância para poderem atingir as células musculares lisas da túnica média. Os neurotransmissoresliberados nesse processo vão atuar construindo espaços entre as junções intercelulares que conectam as células musculares lisas, conseguindo atingir as células mus- culares mais profundamente localizadas na túnica. Há um conjunto de nervos vaso-motores do componente simpático do sistema nervoso autônomo que iner- va as células musculares lisas dos vasos sanguíneos. Esses nervos simpáticos pós-ganglionares amielínicos são o motivo da vasoconstrição das paredes dos vasos. Não é comum que as fibras nervosas penetrem a túnica média dos vasos e façam sinapse com as células musculares lisas de forma direta. O que ocorre é a liberação da noradrenalina que se espalha pela túnica média e atua nas células musculares lisas presentes nas proximidades. Para que esses impulsos sejam propagados, é imprescindível a ação das junções comunicantes, células do tipo gap, que coordenam contrações de todas as camadas de células musculares li- sas e reduzem, assim, o diâmetro do lúmen vascular. Sistema Cardiovascular 10 Se liga! Apesar de as artérias apresentarem maior quantidade de nervos vasomotores quando comparado com as veias, as veias apresentam terminações nervosas que alcançam até a túnica adventícia, além de possuí- rem mais vaso vasorum do que as artérias pela dificuldade de suprimento de oxigênio e nutrientes, uma vez que o sangue que percorre as veias é um sangue pobre em ambos. As artérias responsáveis pela irrigação dos músculos esque- léticos também sofrerão influência de nervos parassimpáticos (colinérgicos), incentivando o processo de vasodilatação. Classificação das artérias As artérias são responsáveis por carrear o sangue a partir do coração e podem ser classificadas em três tipos: artérias elásticas, que são consideradas condutoras, artérias musculares, que são classificadas como distribuidoras, e as arteríolas. Grandes artérias elásticas Figura 5. Corte histológico de grande artéria elástica. Corado com orceína. Fonte: BioFoto/Shutterstock.com Sistema Cardiovascular 11 Esses vasos possuem uma coloração amarelada, devido à composição ser praticamente toda de elastina, lembrando de que a elastina tem função estrutural que forma fibras elásticas. As artérias elásticas apresentarão todas as túnicas com algumas características particulares, como, por exemplo, o fato de a sua túnica íntima ser composta por endotélio sustentado por delgada camada sub- jacente de tecido conjuntivo frouxo com alguns fibroblastos, células musculares lisas e fibras colágenas. Por consequência da presença de diversas outras lâmi- nas elásticas na túnica média, a lâmina elástica interna dificilmente é distinguível na túnica íntima das artérias elásticas. Há também células endoteliais nessa ca- mada, unidas por junções de oclusão, compostas por duas proteínas, claudina e ocludina, entre as camadas mais externas de células adjacentes, que servem de barreira à entrada de macromoléculas (lipídios, proteínas) nas células. Ainda nas células endoteliais, há corpúsculos de Weibel-Palade, grânulos revestidos por membrana, que possuem uma matriz densa com elementos tubulares contendo alguns elementos, como, por exemplo, a glicoproteína fator de von Willebrand. Apesar de ser armazenado somente em vasos arteriais, são as células endote- liais que produzem o fator de Von Willebrand, responsável por contribuir com a agregação e adesão plaquetária no processo de formação de coágulo. A próxima camada é a túnica média das artérias elásticas, composta por mui- tas lâminas fenestradas de elastina, conhecidas como membranas fenestradas, que varia com camadas circulares de células musculares lisas. A matriz extrace- lular, que é secretada pelas células musculares lisas, é composta principalmente por condroitino-sulfato colágeno do tipo III (fibras reticulares) e elastina. A lâ- mina limitante elástica externa também está presente na túnica média e marca a mudança da túnica média para a túnica adventícia. A túnica adventícia das ar- térias elásticas é fina e é constituída por tecido conjuntivo frouxo fibroelástico, contendo alguns fibroblastos. Os vaso vasorum são abundantes na adventícia, pois permitem a nutrição do tecido conjuntivo e das células musculares lisas com nutrientes e oxigênio. Leitos capilares se originam dos vaso vasorum e se estendem para os tecidos da túnica. Um exemplo de artéria elástica é a aorta e os ramos que se originam do arco da aorta (a artéria carótida comum e a artéria subclávia), as artérias ilíacas comuns e o tronco pulmonar. Na prática! Indivíduos com a patologia de von Willebrand, um distúrbio hereditário que leva a um defeito nas plaquetas, possuem um tem- po de coagulação prolongado e excesso de sangramento no local de uma lesão. Sistema Cardiovascular 12 artérias musculares médias Figura 6. Corte histológico de artéria muscular em coloração tricrômica. Fonte: José Luis Calvo/Shutterstock.com Tal como as artérias grandes elásticas, as artérias musculares médias possuem to- das as camadas com algumas particularidades. A característica mais marcante de uma artéria muscular média é a espessa túnica média constituída principalmente por células musculares lisas. Um dos exemplos das artérias musculares são a maioria dos vasos originários da aorta, exceto os grandes troncos que se originam do arco da aorta e da bifurcação terminal da aorta abdominal, pois, como visto anteriormente, essas são iden- tificadas como artérias elásticas. A túnica íntima das artérias musculares é mais fina do que a das artérias elásticas, contudo a camada subendotelial contém poucas células musculares lisas, a lâmina limitante elástica interna das artérias musculares é notória e apresenta uma superfície ondulada ao qual o endotélio se molda. Uma curiosidade pertinente nesse tipo de artéria é que a lâmina elástica interna é dupla, denominado lâ- mina limitante elástica interna bífida. As células endoteliais dessa camada possuem co- municação com as células musculares lisas da túnica média situadas próximo à túnica íntima, por meio das junções comunicantes do tipo gap. Já a túnica média das artérias musculares é composta principalmente por células musculares lisas. Os feixes de fibras musculares lisas estão, em sua maioria, organizados de forma circular na região de túni- ca média, com exceção do local de transição com as outras túnicas que podem apresen- tar algumas células organizadas em posição longitudinal. Existe uma relação lógica de proporcionalidade entre diâmetro do vaso arterial e quantidade de camadas de células circundantes. Enquanto as artérias musculares maiores costumam apresentar mais faixas de células musculares lisas (chegando até 40) em disposição circular, as artérias musculares menores vão apresentar entre três e quatro camadas. Além disso, é perti- nente ressaltar que as túnicas musculares contam com várias fibras musculares que Sistema Cardiovascular 13 estão dispostas de forma concêntrica. Quando essas fibras estão relaxadas, as artérias dilatam-se e, quando se contraem, o diâmetro arterial diminui. Esse mecanismo possibili- ta o controle, pelo sistema nervoso autônomo, do fluxo sanguíneo, que pode distribuir-se de diversos modos às diversas regiões anatômicas, segundo as necessidades de cada momento. As fibras elásticas e colágenas (dispostas de forma longitudinal), juntamente com a substância fundamental (composta por dermatan-sulfato e heparan-sulfato), vão compor a túnica adventícia das artérias musculares, fundindo-se com o tecido conjun- tivo ao redor. Na parte mais externa da camada adventícia, serão encontrados os vaso vasorum e os feixes nervosos sem bainha de mielina. Na prática! O aneurisma é uma espécie de dilatação em formato de saco na parede de uma artéria, comumente relacionado à idade. Possui alguns vasos que são mais suscetíveis à ocorrência do aneurisma, como, por exemplo, a aorta abdominal. O aneurisma pode ser reparado caso seja diagnosticado. No entanto o mais comum é que eles só sejam descobertosde forma acidental ou em situação de rotura que impacta em grande risco, uma vez que o sangramento gerado de forma rápida pode ter como conse- quência a morte do paciente. arteríolas As arteríolas são classificadas de acordo com o diâmetro: artérias com diâme- tro menor que 0,1 mm são consideradas arteríolas. Os vasos em foco são os vasos terminais que regulam o fluxo sanguíneo para os leitos capilares. A camada suben- dotelial é muito fina, diferente das artérias de grande calibre. Nas arteríolas muito pequenas, a lâmina elástica interna está ausente, e a camada média geralmente é formada por uma ou duas camadas de células musculares lisas circularmente organizadas; não apresentam nenhuma lâmina elástica externa. O endotélio da túnica íntima é apoiado por uma fina camada de tecido conjuntivo subendotelial, composta por colágeno do tipo III e poucas fibras elásticas imersas na substância fundamental. Nas arteríolas de pequeno calibre, a túnica média é formada somente por uma camada de células musculares lisas, que engloba totalmente as células endoteliais. Nas arteríolas maiores, a túnica média possui duas a três camadas de células musculares lisas. Com uma túnica média muito mais desenvolvida, compos- ta de inúmeras fibras musculares, é possível contrair ou relaxar, de modo a reduzir ou dilatar, respectivamente, a entrada, podendo fluir maior ou menor quantidade de sangue. Esse mecanismo, igualmente controlado pelo sistema nervoso autônomo, é essencial na modulação da pressão arterial e na regulação da quantidade de sangue que passa para os capilares. A túnica adventícia das arteríolas é escassa e é repre- sentada por tecido conjuntivo fibroelástico com poucos fibroblastos. Sistema Cardiovascular 14 Se liga! As arteríolas que fornecem suprimento aos leitos capi- lares apresentam uma camada de músculo liso não contínua, diferenciando- se estruturalmente das arteríolas comuns e, por isso, sendo chamadas de metarteríolas. Na prática! Quando há algum problema embrionário durante o processo de desenvolvimento, esse erro pode, de algum modo, enfraquecer as paredes dos vasos sanguíneos. Além disso, essas paredes podem ser lesadas por alguma outra patologia, como, por exemplo, aterosclerose, sífilis ou distúrbios do tecido conjuntivo, por exemplo, a síndrome de Marfan e a síndrome de Ehlers-Danlos. O local afetado pode dilatar-se, formando um aneurisma. Um enfraquecimento posterior pode causar a rotura do aneuris- ma, uma condição grave que pode levar à morte. Figura 7. Corte histológico mostrando uma arteríola no canto superior direito apresentando quatro camadas de fibras musculares lisas. Fonte: José Luis Calvo/Shutterstock.com Sistema Cardiovascular 15 ARTÉRIA TÚNICA ÍNTIMA TÚNICA MÉDIA TÚNICA ADVENTÍCIA Artéria elástica (ex: Aorta) Lâmina basal, camada subendotelial, lâmina limitante elástica interna incompleta pouco evidente, endotélio com corpúsculos de weibel-palade Células musculares lisas, lâmina elástica externa delgada e pouco evidente, vaso vasorum na metade externa Delgada camada de tecido conjuntivo fibroelástico, vaso vasorum, vasos linfáticos, fibras nervosas Artéria muscular (ex: Artéria femoral) Endotélio com corpúsculos de weibel-palade, lâmina basal, camada subendotelial, lâmina limitante elástica interna espessa e bastante evidente Células musculares lisas, lâmina elástica externa espessa e evidente Delgada camada de tecido conjuntivo fibroelástico, vaso vasorum, vasos linfáticos, fibras nervosas Arteríola Endotélio com corpúsculos de weibel-palade, lâmina basal, camada subendotelial não muito desenvolvida, lâmina limitante elástica interna bem- definida em arteríolas maiores desaparecendo nas menores Uma ou duas camadas de células musculares lisas Tecido conjuntivo frouxo, fibras nervosas Tabela 2. Artérias e suas túnicas. Fonte: Elaborado pelo autor. estruturas sensoriais especializadas das artérias As estruturas sensoriais especializadas das artérias possuem funções essenciais para o bom funcionamento do circuito sanguíneo, sendo consideradas especializações que monitoram a pressão e a composição sanguíneas. As estruturas que serão abordas nesse tópico são: os seios carotídeos, os corpos carotídeos e os corpos aórticos. O seio carotídeo é um barorreceptor que pode ser encontrado na região da artéria ca- rótida interna distal à bifurcação da artéria carótida comum. Antes de mais nada, é es- sencial compreender a função dos barorreceptores para compreender o papel que o seio carotídeo desempenha. O barorreceptor consegue notar mudanças na pressão do fluxo sanguíneo e transmite essa informação ao sistema nervoso central. O seio carotídeo es- tá presente na parede da artéria carótida interna e, nesse local, a túnica adventícia desse vaso é mais espessa e muito rica em terminações nervosas sensoriais originadas do nervo glossofaríngeo (nervo craniano IX). Ao receber os impulsos dos nervos aferentes, o Sistema Nervoso Central processa a informação no cérebro com a função de controlar a vasoconstrição e manter a pressão sanguínea normal. O corpo carotídeo é outra especialização das artérias, que funciona como um qui- miorreceptor, que monitora as mudanças dos níveis de oxigênio e dióxido de carbono, assim como a concentração dos íons hidrogênio. A sua localização é extremamente positiva do ponto de vista fisiológico, pois são encontrados perto da bifurcação da ar- téria carótida comum. Essa especialização é irrigada por vasos capilares fenestrados que envolvem as células do tipo I e as do tipo II. As células do tipo I são denominadas de células glômicas, que contêm várias vesículas que armazenam dopamina, serotonina e epinefrina, essa última substância age diretamente sobre o sistema nervoso simpático. Sistema Cardiovascular 16 Já as células do tipo II são conhecidas como células da bainha e são mais complexas, possuem longos prolongamentos que englobam quase que por completo os prolonga- mentos das células glômicas. Ao adentrarem os grupos de células glômicas, as termina- ções nervosas acabam perdendo suas células de Schwann e se tornam cobertas pelas células da bainha, de modo similar às células gliais, que formam bainhas em fibras no sistema nervoso central. O corpo carotídeo é inervado por dois nervos, o glossofaríngeo e o vago, com fibras aferentes, que levam impulsos ao sistema nervoso central e pro- movem as modulações necessárias para regular o pH. Em algumas sinapses, as células glômicas parecem funcionar como corpos celulares de neurônios pré-sinápticos, mas as relações específicas ainda são desconhecidas. O corpo aórtico é também uma especialização das artérias e localiza-se no arco da aorta, entre a artéria subclávia direita e a artéria carótida comum direita, e entre a artéria carótida comum esquerda e a artéria subclávia esquerda. Sua estrutura e funções são similares às dos corpos carotídeos, ou seja, é composto por fibras afe- rentes que levarão as alterações no pH do sangue para o sistema nervoso central, e a partir dessa resposta é que ocorrerá a regulação, tendo em vista que o corpo aórti- co é sensível à baixa tensão de oxigênio, à alta concentração de gás carbônico e ao baixo pH do sangue arterial. Se liga! Fisiologicamente, a pressão arterial é regulada pelo cen- tro vaso motor do encéfalo, por meio do reflexo barorreceptor. Ao ocorrer os circuitos sistêmicos e pulmonar do coração, o centro vasomotor do cérebro, como resposta ao monitoramento contínuo do coração, controla o tônus va- somotor ou estado de contração constante das paredes dos vasos, o qual é modulado através de vasoconstrição e de vasodilatação. Nesse sentido, com a ativação do sistema nervoso simpático, os nervos vasomotores promovem a vasoconstrição; já a vasodilatação é uma função do sistema parassimpático e ocorre da seguinte forma: a acetilcolina presente nas terminações nervosas da parede dos vasos promove a liberação de óxido nítrico (NO) localizadonas células endoteliais (que pode ser liberado também a partir da fricção que o sangue promove na parede do vaso), que processam a mensagem para as cé- lulas musculares lisas. Essas células ativam o sistema de monofosfato cíclico de guanosina (cGMP), resultando no relaxamento das células musculares, o que dilata, assim, o lúmen do vaso. Ademais, quando a pressão sanguínea está baixa, os rins secretam a enzima renina, que irá clivar o angiotensinogênio cir- culante no sangue, formando, dessa forma, a angiotensina I, que se converterá em angiotensina II por meio de uma enzima angiotensina, ECA. A angiotensina II é um potente vaso-constritor que irá iniciar a contração do músculo liso, redu- zindo, desse modo, o diâmetro do lúmen vascular, o que resultará no aumento da pressão sanguínea, pois haverá diminuição da área do vaso e, com isso, au- mento da pressão. Em casos mais graves, onde ocorre uma perda muito signifi- cativa de sangue, ocorrerá uma liberação na hipófise do hormônio antidiurético, ADH, ou a vasopressina, que promoverá uma vasoconstrição. Sistema Cardiovascular 17 Capilares Os capilares são formados nas extremidades das arteríolas. São constituídos de uma única camada de células endoteliais que se enrolam em forma de tubo. O diâme- tro dos capilares varia entre 7 a 9 mm e tem como extensão, no máximo, 50 mm. Essa camada dos capilares geralmente é formada de 1 a 3 camadas de células. Essas células repousam sob uma lâmina basal cujos componentes moleculares são produzidos pelas próprias células endoteliais. A forma que as células endoteliais se prendem uma à outra é denominada zônula de oclusão. Além disso, é lícito ressaltar a importância dos perici- tos que estão localizados ao longo de toda a superfície externa da parede dos capilares e das pequenas vênulas; dentre as organelas que compõem os pericitos, destacam-se: complexo de Golgi pouco desenvolvido, mitocôndrias, REG, microtúbulos e filamentos que se estendem para os prolongamentos; além disso, essas células também possuem tropomiosina, isomiosina e proteína-quinase, todas têm relação com a contração que irá regulará o fluxo de sangue através dos capilares. Os capilares ainda se subdividem em 4, são eles: contínuo, fenestrados, fenestrado e destituído de diafragma e sinusoides. Figura 8. Tipos de capilares: contínuo, fenestrado e sinusoide. Fonte: artsuvari/Shutterstock.com Os capilares contínuos tem essa nomenclatura, pois não têm fenestras, tampouco furos em sua parede, o que os diferenciam dos demais no aspecto visual. Os capila- res contínuos podem ser localizados nos tecidos muscular, nervoso e conjuntivo; no tecido cerebral, eles são classificados como capilares contínuos modificados, tendo em vista que aquela região precisa de diferenças morfológicas para suprir as neces- sidades fisiológicas daquele tecido. É pertinente ressaltar que as junções comuni- cantes que ficam entre as suas células endoteliais são do tipo faixas de oclusão; esse tipo de junção comunicante é muito importante do ponto de vista fisiológico, pois ela possui certa seletividade, impedindo a passagem de algumas moléculas, formando a barreira hematoencefálica. Substâncias como aminoácidos, glicose, nu- cleosídeos e purinas passam por essas junções, mas com o auxílio de carreadores. Se liga! Zônulas de oclusão têm um papel de extrema importân- cia no que tange a fisiologia do sistema circulatório. Essas junções possuem permeabilidade variável a macromoléculas, consoante com o tipo de vaso san- guíneo, e desempenham um papel fisiológico significativo tanto em condições normais como patológicas. Sistema Cardiovascular 18 Os capilares fenestrados, como o próprio nome revela, têm fenestras e podem ser classificados com ou sem diafragma. Esse diafragma não tem a estrutura tri- laminar típica de uma unidade de membrana. A lâmina basal dos vasos capilares fenestrados é contínua. Os capilares fenestrados podem ser localizados em tecidos nos quais ocorrem trocas rápidas de substâncias entre os tecidos e o sangue, como o rim, o intestino e as glândulas endócrinas. Essas trocas são possíveis justamente por conta das fenestras e da delgada camada que compõe o diafragma. Uma exce- ção é o glomérulo renal, composto por capilares fenestrados sem diafragma. Nesse tipo de capilar, na altura das fenestras, o sangue só está separado dos tecidos por uma lâmina basal muito espessa e contínua, diferentemente dos capilares fenestra- dos com diafragma que contam com mais uma camada. Na prática! O edema é caracterizado pelo aumento da quantida- de de líquido intersticial em um tecido ou então no interior de uma cavidade. Esse líquido acumulado no edema é composto por uma solução aquosa de sais e proteínas do plasma sanguíneo. O edema pode ter várias causas, mas a que é pertinente à nossa discussão é o edema provocado por altera- ções na parede de um capilar, tais como dano ao endotélio, em que pode ha- ver passagem de água e íons para fora do vaso, ocasionando o acúmulo de líquido no interstício. Normalmente ocorre em casos de alergias agudas. Os capilares sinusoides têm células endoteliais e lâmina basal que são descon- tínuas e possuem muitas fenestras grandes sem diafragma, aumentando as trocas entre o sangue e o tecido. A composição histológica é formada por células endote- liais que juntas formam uma camada descontínua separadas por amplos espaços. Os sinusoides são revestidos por endotélio. Em alguns órgãos, o endotélio é muito fino e contínuo, já em outros, ele pode ter áreas contínuas misturadas com áreas fe- nestradas, tome-se como exemplo as glândulas endócrinas. Além disso, constata-se que a lâmina basal tem uma descontinuidade durante o seu percurso. Há também a presença de macrófagos entre as células endoteliais, mesmo as células endoteliais não possuindo vesículas pinocíticas. Os capilares sinusoides estão presentes em alguns canais vasculares em certos órgãos do corpo, que incluem a medula óssea, o fígado, o baço, órgãos linfóides e algumas glândulas endócrinas. A estrutura da parede desses vasos possui uma grande vantagem fisiológica, haja vista que ela fa- cilita o intercâmbio entre o sangue e os tecidos. Sistema Cardiovascular 19 CAPILARES CONTÍNUOS CAPILARES FENESTRADOS COM DIAFRAGMA CAPILARES FENESTRADOS SEM DIAFRAGMA CAPILARES SINUSOIDES Ausência de fenestras Possuem fenestras nas paredes endoteliais obstruídas por diafragma Possuem fenestras, mas não apresentam diafragma Contêm fenestras sem diafragma Encontrados em todos os tipos de tecido muscular, tecidos conjuntivos, glândulas exócrinas e tecido nervoso Encontrados nos rins, intestinos e glândulas endócrinas Característico do glomérulo renal Encontrados no fígado e órgãos hemocitopoéticos. Tabela 3. Tabela capilares Fonte: Elaborado pelo autor. Classificação das veias As veias são vasos que transportam o sangue de volta para o coração. O início desse circuito inicia-se no retorno venoso, em que há condução do sangue dos ór- gãos e tecidos de volta para o coração, na extremidade distal dos capilares, onde se iniciam pequenas vênulas. A partir disso, as vênulas lançam seu conteúdo em veias que vão aumentando o seu calibre e se tornando cada vez maiores. Sob um panora- ma histológico, as veias seguem em paralelo às artérias; contudo suas paredes em geral estão colabadas, pois são mais delgadas e menos elásticas do que a parede das artérias, e o retorno venoso é um sistema de baixa pressão. As veias são clas- sificadas em três grupos, com base em seu diâmetro e espessura de sua parede: de pequeno, médio e grande calibres. As vênulas e veias de pequeno calibre possuem esse nome, pois a classificação das veias é baseada no diâmetro do vaso. As vênulas possuem paredes que se as- semelham às dos capilares, com um fino endotélio revestido por fibras reticulares e pericitos. Contudo como diferença, os pericitos das vênulas pós-capilares formam uma intrincada rede frouxa envolvendo o endotélio.À medida que o diâmetro da vê- nula aumenta, as células musculares lisas diminuem o espaço entre elas e acabam por formar uma camada contínua nas vênulas musculares e nas veias de pequeno calibre. É válido lembrar que as vênulas pós-capilares possuem uma permeabili- dade maior e, com isso, ocorre o intercâmbio de substâncias entre os espaços do tecido conjuntivo e o lúmen, não apenas nas vênulas pós-capilares que possuem uma maior permeabilidade, mas também nos próprios capilares. Nesse local, ocorre a migração dos leucócitos da corrente sanguínea para os espaços teciduais. Esses vasos respondem a agentes farmacológicos como a histamina e a serotonina. As células endoteliais das vênulas estão localizadas nos órgãos linfoides em disposi- ção cuboide e recebem o nome de vênulas de endotélio alto. Sistema Cardiovascular 20 Na prática! A histamina tem alguns efeitos, dentre eles está o efeito vasodilatador que predomina sobre os vasos sanguíneos finos, tendo como resposta o aumento da permeabilidade vascular, em rubor, queda da resistência periférica total e redução da pressão sanguínea. Figura 9. Corte histológico mostrando três vênulas. Fonte: Jose Luis Calvo/Shutterstock.com As veias de médio calibre possuem menos de 1 cm de diâmetro e realizam a dre- nagem na maior parte das regiões do corpo. Possuem uma túnica íntima que inclui endotélio, lâmina basal e fibras reticulares. Não há formação de uma fibra elástica interna como em alguns tipos de artérias, mas possuem uma rede elástica que cir- cunda o endotélio. Além disso, a túnica íntima possui tecido conjuntivo frouxo que tem função de preenchimento. Na túnica média, há presença de células musculares lisas que se organizam em uma camada frouxa entremeada por fibras colágenas e elásticas. A túnica adventícia nesse tipo de veia costuma ser muito espessa e é composta por feixes de fibras colágenas e fibras elásticas dispostas longitudinal- mente, em conjunto com poucas células musculares lisas dispersas. As veias de grande calibre realizam o retorno do sangue venoso vindo das extremi- dades, da cabeça e do fígado diretamente para o coração. São exemplos de veias de grande calibre: veias cavas, pulmonares, porta, renal, jugular interna, ilíaca e ázigo. Assim como nos vasos arteriais, nas veias também existem algumas diferenças his- tológicas baseadas nos tamanhos. A túnica íntima venosa é muito parecida nas veias maiores e nas veias de médio calibre, no entanto nas veias mais calibrosas, é possível observar uma camada subendotelial de tecido conjuntivo rica em fibroblastos e fibras elásticas dispostas em redes, enquanto nas veias médias a túnica íntima costuma ser mais discreta. As veias de grande calibre não possuem túnica média, com exceção de algumas das veias principais, como, por exemplo, as veias pulmonares. A túnica Sistema Cardiovascular 21 adventícia possui muitas fibras elásticas, várias fibras colágenas e vaso vasorum, o que permite uma boa nutrição, enquanto que a veia cava inferior possui células muscu- lares lisas dispostas longitudinalmente na sua túnica adventícia. É pertinente ressaltar, ainda, que as veias pulmonares e as veias cavas, ao se aproximarem do coração, têm células musculares estriadas cardíacas na camada adventícia. Figura 10. Corte histológico de uma grande veia mostrando as camadas de cima para baixo: endotélio, túnica média e túnica adventícia. Fonte: Jose Luis Calvo/Shutterstock.com Se liga! As valvas venosas são compostas por dois folhetos, cada um constituído por uma fina prega da túnica íntima, que sai da parede e se projeta para o lúmen. As valvas das veias são muito importantes, dentre elas, se destaca as val- vas localizadas nas veias da perna, que atuam contra a força da gravidade. VEIAS GRANDE CALIBRE MÉDIO CALIBRE PEQUENO CALIBRE Túnica íntima A camada subendotelial de tecido conjuntivo é relativamente espessa Endotélio e fibras reticulares Endotélio delgado e com fibras reticulares e pericitos Túnica média Pouco desenvolvida; Possui células musculares, poucas fibras elásticas e reticulares. Pouco desenvolvida ou praticamente ausente Células musculares lisas entremeadas por fibras Pouco desenvolvida Túnica adventícia Mais espessa que as anteriores Bem desenvolvida Pode conter feixes de músculo liso Presença de agentes farmacológicos, como a histamina e a serotonina Tabela 4. Fonte: Elaborado pelo autor. Sistema Cardiovascular 22 Na prática! Podemos encontrar veias dilatadas e tortuosas, as denominadas veias varicosas, com formato alterado, acarretando em uma pa- tologia muito conhecida pelos indivíduos, as famigeradas varizes, que surgem devido à insuficiência das válvulas, que desencadeia refluxo e dilatação. Como resultado disso, ocorre distensão contínua, as veias perdem sua elasticidade, e, devido à falta de elasticidade e ao mal funcionamento das válvulas, o sangue passa a ficar parado nelas, gerando mais dilatação e mais refluxo. Figura 11. Comparação veia varicosa e veia normal. Fonte: Olga Bolbot/Shutterstock.com O tratamento das varizes varia de acordo com o paciente, sendo fundamental avaliar qual veia acometida. Dentre os tratamentos, destacam-se o cirúrgico e a escleroterapia (aplicação de medicamentos denominados esclerosantes). Figura 12. Varizes em membros inferiores. Fonte: Solarisys/Shutterstock.com Sistema Cardiovascular 23 X VEIA Grande calibre Mais vasa vaso rum Leva o sangue de volta ao coração Túnicas Íntima Média Adventícia Sangue venoso Pouco O2 Muito CO2 Médio calibre Pequeno calibre Íntima Média Adventícia Íntima Média Adventícia Íntima Média Adventícia Valvas Menos desenvolvida Mais espessa Endotélio Ausente Vênulas ARTÉRIA Grandes elásticasLeva o sangue do coração ao resto do corpo Pouco O2 Muito CO2 Túnicas Íntima Média Adventícia Sangue arterial e venoso Musculares médias Arteríolas Íntima Média Adventicía Íntima Média Íntima Média Adventícia Sem lâmina elástica interna Coloração Verhoeff Vasa vasorum Lâmina elástica interna Vaso vasorum Lâmina elástica interna Sem lâmina elástica externa Fonte: Elaborado pelo autor. Sistema Cardiovascular 24 Coração O coração é um órgão muscular que bombeia o sangue através dos vasos sanguí- neos do sistema circulatório. O sangue que flui no sistema circulatório fornece ao corpo oxigênio e alguns nutrientes e ajuda a eliminar resíduos metabólicos. Hora da revisão! O coração está localizado no mediastino, cerca de dois terços de sua massa está à esquerda da linha mediana. Tem a forma de um cone deitado de lado. Seu ápice é a parte inferior pontiaguda; sua base é a ampla parte superior. Essa eficaz bomba fica recoberta por uma membrana, denominada pericárdio, que possui a função primordial de pro- teção contra choques mecânicos. Entre uma camada e outra do pericárdio, encontra-se um líquido lubrificante, que reduz o atrito pericárdico entre as duas membranas. Fisiologicamente e anatomicamente, o coração conta com 4 câmaras eficazes, duas delas são os ventrículos, o direito recebe sangue do átrio direito, já o ventrículo esquerdo bombeia o sangue oxigenado através da valva da aorta até a aorta. O coração conta ainda com mais duas câmaras, os átrios: o direito recebe sangue da veia cava superior, veia cava inferior e seio coronário por meio da atrioventricular direita. O átrio esquerdo recebe o san- gue arterial (com O2) do pulmão conduzido pelas veias pulmonares. Figura 13. Anatomia do coração. Fonte: Katalin Macevics/Shutterstock.com Sistema Cardiovascular 25 Camadas da parede cardíaca As camadas da parede cardíaca contam com 3 tipos diferentes: endocárdio, mio- cárdio e o epicárdio. A primeira camada, a mais interna, é o endocárdio, formado por um endotélio do tipo epitélio simples pavimentoso e pelo tecido conjuntivo subendotelial, que tem como função revestir o lúmen do coração. O endocárdio é contínuo com a túnica ín- tima dos vasos sanguíneos.Mais internamente, encontra-se uma camada de tecido conjuntivo denso, rico em fibras elásticas misturadas com algumas células muscu- lares lisas. Abaixo do endocárdio, situa-se uma camada subendocárdica, cuja cons- tituição histológica é composta de tecido conjuntivo frouxo, que contém pequenos vasos sanguíneos, nervos e fibras de Purkinje do sistema de condução do coração. A camada subendocárdica constitui o limite do endocárdio, através do qual essa túnica se liga ao endomísio do músculo cardíaco. É lícito pontuar que o endomísio é uma camada de tecido conjuntivo que engloba uma fibra muscular e é composta, principalmente, por fibras reticulares. Além disso, contém capilares, nervos e vasos linfáticos. Figura 14. Corte histológico do coração. Fonte: José Luis Calvo/Shutterstock.com A camada intermediária é o miocárdio, muito importante do ponto de vista fisiológico no que concerne a transmissão do impulso nervoso. O miocárdio é a mais espessa das três camadas do coração, formada por células musculares estriadas cardíacas dispostas em espirais complexas ao redor dos orifícios das câmaras. Tais células musculares estriadas cardíacas são importantes no que concerne à fixação do miocárdio ao esqueleto fibroso do coração. Outras células Sistema Cardiovascular 26 possuem especializações para secreções endócrinas, assim como para geração ou condução dos impulsos cardíacos. Essa camada ainda conta com um impor- tante marcapasso natural, o nó sinoatrial. É pertinente ressaltar que o nodo sino- atrial é uma massa de células musculares cardíacas especializadas, formadas por células fusiformes, menores do que as células musculares do átrio, e apre- sentam menor quantidade de miofibrilas. Algumas células musculares do nodo atrioventricular sofrem modificações e passam a ser reguladas por impulsos provenientes do feixe atrioventricular (feixe de His). As fibras do feixe atrioven- tricular passam pelo septo interventricular conduzindo o impulso para o músculo cardíaco, produzindo, assim, uma contração rítmica. Anatomicamente falando, mais distalmente, essas células tornam-se maiores e adquirem uma forma carac- terística. Elas são conhecidas como células de Purkinje e possuem um ou dois núcleos centrais e citoplasma rico em mitocôndrias e glicogênio. Tais células transmitem os impulsos para as células musculares estriadas cardíacas locali- zadas no ápice do coração. Células musculares cardíacas especializadas, que se localizam primariamente na parede atrial e no septo interventricular, produzem e secretam um conjunto de pequenos peptídeos. Tome-se como exemplo a atrio- peptina, polipeptídeo natriurético atrial, cardiodilatina e cardionatrina, que são liberados nos capilares circundantes. Esses hormônios auxiliam na manutenção de fluidos e no balanço eletrolítico e diminuem a pressão sanguínea. Figura 15. Corte histológico — disco intercalado. Fonte: José Luis Calvo/Shutterstock.com Sistema Cardiovascular 27 Se liga! A camada intermediária, o miocárdio, possui algumas es- pecializações, dentre elas está o nó sinoatrial, atrioventricular e feixe de His (fibras de purkinje). Nó ou nodo sinoatrial é um marcapasso fisiológico na- tural, localiza-se na junção da veia cava superior com o átrio direito. Essas células musculares cardíacas nodais especializadas tendem a se despola- rizar espontaneamente 70 vezes por minuto, gerando um impulso que se espalha pelas paredes da câmara atrial, através de vias internodais até o nó ou nodo atrioventricular, localizado na parede septal, logo acima da valva tricúspide. Além disso, há o feixe de His, situado no interior do músculo car- díaco do septo interventricular. A composição histológica desse feixe é por cardiomiócitos, ou seja, células musculares cardíacas especializadas, que não possuem a capacidade contrátil para se tornarem condutoras rápidas de impulsos nervosos, facilitado por meio do fluxo iônico, que passam atra- vés das junções comunicantes. Figura 16. Condução de impulsos anatomia. Fonte: Alila Medical Media/Shutterstock.com Sistema Cardiovascular 28 O epicárdio é a camada mais externa do coração, também é denominado camada visceral do pericárdio, constituído por um epitélio simples pavimentoso, denomina- do mesotélio. A camada subepicárdica é formada por tecido conjuntivo frouxo que contém vasos coronários, nervos e gânglios. Além disso, essa é a região em que a gordura é armazenada na superfície do coração. Há também as raízes dos vasos que entram e saem do coração, onde há a formação do pericárdio, que é dividido em fibroso e seroso. O pericárdio é uma espécie de saco que recobre o coração, pos- suindo, como dito anteriormente, duas estruturas: a externa, que é fibrosa, e a inter- na, serosa. A fibrosa recobre externamente os grandes vasos, e a interna possui uma cons- tituição mais serosa, o pericárdio seroso, constituído por duas lâminas: a lâmina parietal e a lâmina visceral. A lâmina parietal é a mais externa e recobre a superfície interna do pericárdio fibroso e a lâmina visceral, ou epicárdio, é a reflexão ao nível dos grandes vasos da lâmina parietal em direção ao coração. O pericárdio fibroso possui uma constituição histológica composta por uma camada densa de faixas colágenas que se entrelaçam com o esqueleto de fibras elásticas. É importante assinalar ainda que o coração está preso no mediastino por ligamentos, como, por exemplo, a base do coração, está presa ao centro tendíneo do músculo diafragma, por meio do ligamento freno-pericárdio. Figura 17. Camadas do coração. Fonte: Jeniffer Fontan/Shutterstock.com Sistema Cardiovascular 29 Na prática! Algumas patologias são decorrentes de alguns dis- túrbios no tecido cardíaco, dentre elas, doença coronariana e pericardite. Figura 18. Doença coronariana. Fonte: ilusmedical/Shutterstock.com A Cardiopatia Isquêmica é uma doença provocada pela obstrução nas arté- rias coronárias, vasos que levam sangue para o coração, em decorrência do acúmulo de placas de colesterol, que pode levar ao infarto do miocárdio ou até à insuficiência cardíaca. Os tratamentos incluem mudanças no estilo de vida, medicamentos, angioplastia e cirurgia Figura 19. Pericardite. Fonte: Anastasiia/Shutterstock.com Já a pericardite é uma inflamação da membrana que recobre e protege o cora- ção, podendo ser classificada como aguda ou crônica. O sintoma mais comum é dor aguda no peito com irradiação para o ombro esquerdo e pescoço. A peri- cardite geralmente tem início rápido, contudo não dura muito tempo. A maioria dos casos é leve e costuma melhorar por conta própria. O tratamento dos casos mais graves pode incluir medicamentos e, raramente, cirurgia. Sistema Cardiovascular 30 esqueleto fibroso cardíaco O esqueleto cardíaco, ou ânulo (anel) fibroso do coração, não é uma estrutura óssea como o esqueleto do corpo humano, mas um suporte estrutural fibroso para as câmaras do coração, o órgão principal do sistema cardiovascular. Sua constituição histológica é de tecido conjuntivo denso não modelado, incluindo três componentes principais: anéis fibrosos, trígono fibroso e o septo mem- branáceo. Os anéis fibrosos localizam-se em torno da base da aorta, da artéria pulmonar e dos orifícios atrioventriculares. O trígono fibroso é localizado na vi- zinhança da área da cúspide da valva aórtica. Já o septo membranáceo forma a porção superior do septo interventricular. De modo geral, o esqueleto cardíaco possui algumas funções, dentre elas a ancoragem das cúspides das valvas car- díacas, função muito importante, tendo em vista que de certo modo ela fixa as cúspides para que nenhum movimento brusco a desloque. Além disso, impede a distensão das valvas atrioventriculares e semilunares, haja vista que nas valvas atrioventriculares passam um grande fluxo de sangue, e o esqueleto fibroso im- pede que haja uma distensão excessiva. É importante pontuar ainda que possui duas funções extremamente importantes: serve como inserção dos feixes do músculo cardíacoe promove o isolamento elétrico. válvulas cardíacas As válvulas cardíacas são estruturas fibrosas, posicionadas na entrada e saída dos ventrículos, cuja função é garantir que o sangue siga em uma única direção, sempre dos átrios para os ventrículos, e destes para a aorta e artérias pulmonares. É importante salientar que tanto as válvulas de entrada como as de saída, em condições normais, se fecham em perfeita sincronia a cada batimento cardíaco. Qualquer distúrbio em umas das válvulas prejudica o bom funciona- mento do sistema circulatório, podendo causar trombos, coagulação no interior do vaso sanguíneo, fruto da agregação plaquetária. Algumas válvulas se desta- cam, como a válvula tricúspide (VT), localizada entre o átrio e o ventrículo direito. Ela possui três folhetos que se fecham no início da contração ventricular, impe- dindo que o sangue retorne do ventrículo ao átrio direito. Os folhetos são susten- tados em forma de um guarda-chuva pelas cordoalhas tendinosas. Além disso, há a válvula pulmonar (VP), posicionada na saída do fluxo sanguíneo do ventrícu- lo direito para o tronco da artéria pulmonar. Seus folhetos se fecham no final da contração ventricular, evitando que o sangue que atingiu a artéria pulmonar re- torne para o ventrículo direito. O diâmetro dessa válvula é menor do que a válvula tricúspide. A válvula mitral (VM), situada entre o átrio e o ventrículo esquerdo, tem como função evitar o refluxo de sangue do ventrículo para o átrio esquerdo. É importante pontuar que a VM se fecha no início da contração ventricular. Sistema Cardiovascular 31 Na prática! A febre reumática (FR), também chamada de reuma- tismo infeccioso, é uma doença inflamatória que se desenvolve após uma infecção anterior provocada pelo estreptococo. Um dos sintomas da FR é a inflamação no músculo do coração (cardite), além do sopro cardíaco, quan- do há comprometimento das válvulas do coração. O tratamento é medica- mentoso e inclui prescrição de antibióticos específicos, tendo em vista que o agente infeccioso é uma bactéria. Além da prescrição de medicamentos anti-inflamatórios e de medicamentos anticonvulsivos. Sistema Cardiovascular 32 Endocárdio Camadas Camadas FUNÇÕES Exemplos Válvulas cardíacas Miocárdio Pericárdio Intermediária Mais interna Mais externa Seroso Fibroso Lâmina visceral Lâmina pariental Impulsos nervosos Nó sinoatrial Fibras de Purkinje Nó atrioventricular Fluxo de sangue unidirecional Válvula tricúspide Válvula mitral Válvula pulmonar FUNÇÕES Aorta Artéria pulmonar Ancoragem Impede a distensão Isolante elétrico Valva aórtica Septo membranáceo Septo interventricular Fonte: Elaborado pelo autor. Sistema Cardiovascular 33 2. SiStema vaSCular liNfátiCo Apesar de pensarmos sempre em vasos sanguíneos quando falamos de sistema circulatório, o sistema linfático é de suma importância para o funcionamento do corpo humano e também constitui esse sistema. Os vasos linfáticos são semelhantes estrutu- ralmente às veias. Suas paredes são delgadas e forradas por tecido endotelial. Apesar da semelhança, as paredes dos vasos linfáticos são ainda mais finas, quando compa- radas às veias, e a separação entre as túnicas não é perceptível. O conteúdo também difere. Enquanto as veias carreiam sangue pouco oxigenado e pobre em nutrientes, nos vasos linfáticos corre a linfa, fluido coletado nos espaços intersticiais. A função do siste- ma linfático é realizar o retorno do sangue ao fluido dos espaços intersticiais. O sistema linfático é parte do sistema imune, e ao adentrar os capilares linfáticos, o fluido presente nos espaços intersticiais vão compor a linfa e passar por agentes imunológicos para execução de defesa contra elementos potencialmente prejudiciais. Se liga! O sistema vascular linfático se caracteriza por ser um sis- tema aberto, em que não há bomba, diferenciado do sistema cardiovascular, que tem o coração como uma bomba que realiza a circulação do sangue em um sistema fechado. Capilares linfáticos Os capilares linfáticos possuem uma única camada de células endoteliais extre- mamente achatadas e uma lâmina basal incompleta. É importante assinalar que eles se originam como vasos finos e sem aberturas terminais. As células endote- liais ficam em uma conformação que se sobrepõem umas às outras em alguns lo- cais, mas existem fendas intercelulares que facilitam o acesso ao lúmen do vaso. Além do mais, os capilares linfáticos se caracterizam por não apresentarem fenes- tras e não estabelecerem junções de oclusão umas com as outras. Os feixes de filamentos de ancoragem linfáticos (5 a 10 nm de diâmetro) terminam na membra- na plasmática luminal. Pesquisas ainda estão sendo feitas e acredita-se que esses filamentos possam desempenhar um papel mantendo a patência do lúmen desses vasos delicados. vasos linfáticos De forma semelhante às pequenas veias, os vasos linfáticos de grande calibre vão apresentar delgadas camadas compostas por fibras elásticas e células musculares lisas. Apesar das semelhanças, quando comparados, os vasos linfáticos de grande cali- bre apresentarão lúmens maiores e paredes mais finas. O fato de as fibras musculares Sistema Cardiovascular 34 lisas serem abraçadas por fibras elásticas e colágenas fundidas com tecido conjuntivo lembra as características de uma túnica adventícia, mas apesar disso, não há consenso sobre a existência de túnicas nos capilares linfáticos. Já os vasos pequenos e médios vão apresentar valvas com pequenos intervalos entre si. Nas porções entre as válvulas, os vasos linfáticos apresentam-se mais dilatados e exibem um aspecto nodular ou “em colar de contas’’. Os vasos linfáticos possuem válvulas em forma de bolso, como as das veias, e elas asseguram o fluxo da linfa em uma só direção. Estão ausentes no sistema nervoso central (SNC), na medula óssea, nos músculos esqueléticos (mas não no tecido conjuntivo que os reveste) e em estruturas avasculares. Se liga! A anatomia dos vasos linfáticos superficiais e profundos atravessam os linfonodos em seu trajeto no sentido proximal, tornando-se maiores à medida que se englobam com os vasos que drenam em regiões adjacentes. Os grandes vasos linfáticos entram em grandes vasos coletores denominados troncos linfáticos, que se unem para formar o ducto linfático direito ou ducto torácico. CAPILARES LINFÁTICOS Finas VASOS LINFÁTICOS Paredes Características Camadas Lâmina basal incompleta Única camada endotelial Alta permeabilidade Não possuem fenestras Não possuem junções de oclusão Calibre Valvas Camada Fibras elásticas Tecido conjuntivo Fluxo unidirecional Pequeno Grande Células musculares lisas Fonte: Elaborado pelo autor. Sistema Cardiovascular 35 ductos linfáticos Os ductos linfáticos são semelhantes às grandes veias, com algumas diferenças, pois lançam seu conteúdo nas grandes veias do pescoço. O ducto torácico e o ducto linfático direito desembocam na junção das veias jugular interna esquerda com a veia subclávia esquerda na confluência da veia subclávia direita e a veia jugular di- reita interna. Ao longo de seu trajeto, os vasos linfáticos atravessam os linfonodos. O ducto linfático direito tem como função recolher a linfa do quadrante superior di- reito do corpo, já o ducto torácico recolhe a linfa do restante do corpo. Dentre todos os ductos, o maior, o ducto torácico, tem sua origem no abdome como a cisterna do quilo, e ascende através do tórax e do pescoço para desembocar na junção das veias jugular interna e subclávia esquerdas. A túnica íntima dos ductos linfáticos tem sua constituição histológica formada por um endotélio e muitas camadas de fibras elás- ticas e colágenas. A túnica média possui uma camada condensada de fibras elásti- cas que se assemelha a uma lâmina elástica interna, contudo não pode ser nomeada de lâmina elástica interna. Além disso, encontram-se presentes na túnica média camadas de músculo liso em disposições longitudinal e circular.A túnica adventícia contém células musculares lisas com orientação longitudinal e fibras colágenas que se fundem com o tecido conjuntivo circundante. Ao penetrar nas paredes do ducto torácico, existem pequenos vasos semelhantes aos vaso vasorum das artérias. Na prática! Células de tumores malignos, em especial os carci- nomas, se confluem pelo corpo por meio dos vasos linfáticos. Quando as células malignas chegam até um linfonodo, elas ficam mais lentas e multipli- cam-se, surgindo, assim, a metástase, ou seja, um tumor em local secundá- rio. Por isso, na remoção cirúrgica de um crescimento canceroso, o exame dos linfonodos e a extração tanto dos linfonodos aumentados como dos vasos linfáticos associados daquele trajeto são essenciais para a prevenção do crescimento secundário do tumor. Sistema Cardiovascular 36 Veia SISTEMA CIRCULATÓRIO Coração Válvulas Camadas Febre reumática Endocárdio Miocárdio Pericárdio Septo membranáceo Artéria Capilares Sistema Cardiovascular Capilares linfáticos Ductos linfáticos Vasos linfáticos Sistema Vascular Linfático Pequeno calibre e vênulas Médio calibre Grande calibre Elástica Musculares médias Arteríolas Contínuo FenestradosCom diafragma Sem diafragma Sinusoide Camadas Alta permeabilidade 1 camada endotelial Ducto direito Ducto torácico Cisterna do quilo Válvulas Calibre Grande Pequeno Fonte: Elaborado pelo autor. Sistema Cardiovascular 37 referêNCiaS BREIJE, T. C.; SORENSON, R. L. Histology guide: virtual histology laboratory. 2020. Disponível em: http://www.histologyguide.com/. Acesso em 04/05/2020. GARTNER, Leslie P. Tratado de histologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J.; ABRAHAMSOHN, P. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 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Sistema cardiovascular Estrutura geral dos vasos sanguíneos As túnicas dos vasos sanguíneos A inervação dos vasos sanguíneos Classificação das artérias Grandes artérias elásticas Artérias musculares médias Arteríolas Estruturas sensoriais especializadas das artérias Capilares Classificação das veias Coração Camadas da parede cardíaca Esqueleto fibroso cardíaco Válvulas cardíacas 2. Sistema vascular linfático Capilares linfáticos Vasos linfáticos Ductos linfáticos Referências