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TÉCNICA E DIETÉTICA Dietas Hospitalares Docente: Thays Cantão DIETAS HOSPITALARES • A desnutrição que acontece no ambiente hospitalar vem normalmente associada à doença de base do paciente. Porém, diversos fatores contribuem para seu agravamento como a idade avançada, tratamento com múltiplas drogas, quimioterapia, radioterapia, cirurgias, saúde dental, isolamento social, entre outros. • A desnutrição causa um impacto negativo na saúde do indivíduo de forma geral. Um dos efeitos da desnutrição é a perda de massa magra, que eleva o risco de infecção, diminui a cicatrização e aumenta o risco de mortalidade em doenças agudas e crônicas. Há também o risco de complicações pós-operatórias e tempo maior de internação. • A detecção precoce do risco nutricional ou desnutrição é fundamental para recuperar este paciente. O manejo nutricional deste paciente engloba a orientação de um nutricionista, a adequação de toda a alimentação, o acréscimo de suplementos nutricionais sempre que necessário ou o uso de uma sonda enteral, se a alimentação oral estiver impossibilitada. DIETAS HOSPITALARES Em 2016, foi realizada uma revisão sistemática de literatura sobre a desnutrição em países latino-americanos. Foram identificados 66 estudos entre os anos de 1998 e 2014, incluindo 29.474 pacientes em 12 países latino-americanos. A prevalência da desnutrição esteve entre 40%-60% no momento da admissão, com vários estudos relatando aumento no tempo da hospitalização, das complicações clínicas infecciosas e não infecciosas e dos custos de internação. Em 1998 o estudo IBRANUTRI, que investigou a prevalência da desnutrição em hospitais brasileiros, demonstrou uma taxa de mortalidade de aproximadamente de 50% para os pacientes hospitalizados. O estudo elucidou que há um aumento de 61% do custo na estadia do paciente no hospital quando comparado com os pacientes bem nutridos. O aumento é decorrente aos pacientes que não estão recebendo uma terapia nutricional adequada apresentando maior suscetibilidade para infecções respiratórias tendo alto gasto com medicamento e exames para tratamento desta patologia. DIETAS HOSPITALARES Para prevenir a desnutrição e suas graves complicações uma estratégia sistemática para a identificação de sinais, sintomas e fatores de risco de má nutrição se faz necessária: • Dentre os tipos de avaliação nutricional, destaca-se a Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ANSG), proposta na década de 1980 por Detsky e colaboradores devido ao seu baixo custo e fácil aplicação. Essa avaliação tem como base o histórico clínico e exame físico do paciente, podendo ser facilmente ensinada aos profissionais de saúde, e consiste em um método seguro e válido para avaliação do estado nutricional. • Outro instrumento utilizado para o diagnóstico de desnutrição em pacientes hospitalizados é o NRS 2002 (Nutritional Risk Screenig), que considera além de outros fatores, o estresse do indivíduo a partir da enfermidade presente. Consiste de uma ferramenta de fácil execução. Uma desvantagem desse método é que ele não detecta pequenas alterações nutricionais. O diagnóstico de desnutrição deve ser considerado, quando, pelo menos, duas das seguintes características estiverem presentes: 1. Ingestão insuficiente de energia; 2. Perda de peso; 3. Perda de massa muscular; 4. Perda de gordura subcutânea, localizada ou generalizada; 5. Acúmulo de líquido. DIETA OU PLANO ALIMENTAR Conjunto padronizado de normas na alimentação de um individuo seja ele saudável ou enfermo. A dieta para enfermos é considerada um tratamento, onde fatores como a doença e as condições em que se encontra o individuo são determinantes para a elaboração de uma alimentação adequada (AUGUSTO et al.,1999). DIETAS HOSPITALARES • Resolução CFN nº 600/18 • Fundamento legal: Lei 8234/91 • Elaboração de dietas mediante o diagnóstico nutricional do paciente. DIETOTERAPIA • Parte do tratamento do indivíduo hospitalizado por doenças crônicas ou agudas. • Para recuperação do paciente. • Envolve mudanças na ingestão dos alimentos do paciente. • Para certas patologias, certos tipos de dieta. • As modificações podem ser alteradas no decorrer do tratamento conforme prescrição médica e aval do nutricionista. DIETAS HOSPITALARES • Modificações qualitativas e quantitativas da alimentação normal. • As dietas hospitalares podem ser modificadas em consistência, volume, temperatura, valor calórico total, alterações de nutrientes. • De acordo com o tratamento do indivíduo. SERVIÇO DE NUTRIÇÃO E DIETÉTICA ( SND) O Serviço de Nutrição e Dietética ( SND) é o setor que tem por responsabilidade o fornecimento das refeições com qualidade e segurança nutricional destinada aos enfermos e seus acompanhantes. SERVIÇO DE NUTRIÇÃO E DIETÉTICA ( SND) • Segue a prescrição médica e autorização do Nutricionista; • 24 horas de funcionamento; • Padroniza horários das refeições oferecidas; • É composto por uma equipe formada por nutricionistas, técnicos em nutrição, auxiliares de nutrição, cozinheiros, copeiros e outros importantes para o processo; • É o setor determinante para o cuidado nutricional do paciente internado e seu acompanhante. FLUXOGRAMA DE DISTRIBUIÇÃO DE REFEIÇÕES TIPOS DE DIETAS DIETA LIVRE OU GERAL DIETA PASTOSA LIQUIDA COMPLETA NUTRIÇÃO ENTERAL DIETA BRANDA LIQUIDA - PASTOSA LIQUIDA RESTRITA NUTRIÇÃO PARENTERAL DIETA LIVRE OU GERAL OBJETIVO Manter o estado nutricional de pacientes com ausência de alterações metabólicas e complicações significativas do estado nutricional PARA QUEM É INDICADO Pacientes que não necessitam de restrições com funções da mastigação, deglutição e gastrintestinais em ótimo funcionamento. CARACTERÍSTICA DA DIETA Consistência normal, harmônica, suficiente, balanceada ,completa e com uma oferta normal de nutrientes (normoglicídica, normoproteica e normolipídica). DIETA LIVRE • Exemplo de dieta livre : arroz; feijão; salada crua e cozida; carne grelhada, cozida, frita, entre outros. • As dietas livres geralmente também são ofertadas nos hospitais para acompanhantes. CARDÁPIO DIETA LIVRE DIETA BRANDA OBJETIVO Mantêm o estado nutricional do paciente com o fornecimento de calorias e nutrientes sem desconforto na mastigação, deglutição e digestão dos alimentos. PARA QUEM É INDICADO Para indivíduos com alterações ou perturbações orgânicas e funcionais do trato gastrintestinal como gastrites e flatulências. CARACTERÍSTICA DA DIETA Alimentos abrandados por cocção, balanceada e completa em nutrientes. Não é permitido nenhum alimento flatulento ou cru. DIETA BRANDA • Exemplo de dieta branda: salada cozida, frango cozido ao molho, arroz simples cozido, entre outros. CARDÁPIO DIETA BRANDA DIETA PASTOSA OBJETIVO Oferecer ao paciente uma dieta que possa ser mastigada e deglutida com pouco ou nenhum esforço. PARA QUEM É INDICADO Pacientes com dificuldades na mastigação e deglutição, que necessitam de repouso gastrintestinal ou pelo uso de próteses dentárias. CARACTERÍSTICAS DA DIETA A consistência desta dieta é muito abrandada por cocção, pode ser liquidificada e alterada por processos mecânicos, possui nutrientes completos. DIETA PASTOSA • Exemplo de dieta pastosa: purê de abóbora, arroz muito cozido, feijão batido, carne moída ou frango desfiado, entre outros. CARDÁPIO DIETA PASTOSA DIETA LÍQUIDA PASTOSA OBJETIVO Fornecer ao paciente uma dieta que permite minimizar o trabalho gastrintestinal e a presença de resíduos no cólon. PARA QUEM É INDICADO Pacientes com problemas na mastigação e deglutição, complicações na digestão, pós operatórios de cirurgias do trato gastrintestinal. CARACTERÍTICA DA DIETATotalmente liquidificada, sua consistência deverá ser semi- líquida, fracionada 200 a 400 ml por refeição. Não é permitido alimentos crus e presença de grãos. DIETA LÍQUIDA PASTOSA • Exemplo de dieta líquida pastosa: papa de frutas, vitamina de banana, sopa de carne e legumes batido, suco de goiaba coado, entre outros. CARDÁPIO DIETA LÍQUIDA PASTOSA DIETA LÍQUIDA COMPLETA OBJETIVO Hidratar o paciente, nutrir órgãos e tecidos, repousar o trato gastrintestinal e diminuir os sintomas da patologia. PARA QUEM É INDICADO Pacientes com alterações na mastigação, deglutição e digestão, para quem apresenta disfagia, casos de infecção grave, pós operatórios, anorexia, desnutrição severa. CARACTERÍTICA DA DIETA Dieta hipocalórica (1000 a 1200 kcal), indicada a ser administrada em 200 ml com intervalos de 3 horas de consistência líquida. DIETA LÍQUIDA COMPLETA • Exemplo de dieta líquida completa: iogurte, gelatina, caldo verde (batatas e couve), sucos, sorvetes, entre outros. CARDÁPIO DIETA LÍQUIDA COMPLETA DIETA LÍQUIDA RESTRITA OBJETIVO Saciar a sede e hidratar órgãos e tecidos, evitar acidose, manter a função renal, repousar o trato gastrintestinal, amenizar sintomas. PARA QUEM É INDICADO Pacientes submetidos a exames (pré- exames) como endoscopia, colonoscopia, para pré e pós operatório, doenças do trato gastrintestinal. CARACTERÍTICA DA DIETA Hipocalórica ( 500 a 600 kcal), hipoproteica , hipolipídica, consistência líquida, com administração de 200 ml por refeição a cada 3 horas. Deve ser ISENTA DE FIBRAS. DIETA LÍQUIDA RESTRITA • Exemplo de dieta liquida restrita: água de coco, sucos coados, chás, caldos coados. CARDÁPIO DIETA LÍQUIDA RESTRITA TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL • São indicadas para pacientes impossibilitados de alimentação via oral seja pelo fator patológico do trato gastrintestinal, comprometimento buco-maxilar, distúrbios neurológicos e mastigatórios. Também indicado para pacientes com anorexia e com inapetência ou baixa ingesta via oral. • É administrada através de sondas. • É uma dieta que pode ser calculada por nutricionistas. • É permitido a nutrição enteral via sonda associado a nutrição via oral, desde que não haja intercorrências com o paciente. TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL Vias de administração: • Pode ser administrada por bolo ( através de seringas) ou por infusão ( intermitente ou contínua); • Através de sondas macias, flexíveis de poliuretano ou silicone, possui vários diâmetros e centímetros; • A nutrição Enteral possui as seguintes vias : - Sonda Naso - enteral (Gástrica, Duodenal e Jejunal). - Estomias ( gastrostomia, jejunostomia). DIETA ENTERAL DIETA ENTERAL - VIAS TIPOS DE DIETA ENTERAL Dieta Caseira Dieta preparada com alimentos em sua forma natural, devem ser liquidificados e coados, deve-se ter cuidado com a contaminação. Dieta Industrializada Dieta já pronta balanceada com todos os nutrientes necessários. Pode estar em forma de pó, que deverá ser diluído e em forma líquida pronta para administração. As dietas preparadas em casa podem ter contaminação devido a manipulação fora das condições higiênico sanitárias adequadas. As dietas industrializadas possuem menor risco de contaminação. TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL • Indicada quando o trato gastrintestinal (TGI) não pode ser utilizado (Pancreatite, Fístula digestiva, Síndrome do intestino curto e outras); • Pode ser administrada quando o TGI não suporta o aporte calórico proteico via oral ou sonda, neste caso pode ser utilizado os dois; • Não pode ser prescrita por nutricionistas. TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL Vias de administração: A Nutrição Parenteral possui as seguintes vias : • Periférica (Calibre da veia é mais fino e o fluxo sanguíneo mais baixo, tolera soluções com baixa osmolaridade); • Central (infundida em veia central de grosso calibre e fluxo sanguíneo alto, tolera soluções com osmolaridade acima de 700mOsm/l). DIETA PARENTERAL - VIAS Nutrição parenteral central Nutrição parenteral periférica DIETAS COM MODIFICAÇÕES DOS NUTRIENTES E/OU ESPECIAIS • Algumas dietas são oferecidas com modificações de nutrientes; • Conforme a patologia do paciente; • Visando oferecer uma terapia alimentar com a finalidade de não promover a piora do estado nutricional do paciente internado; • Além de diminuir os sintomas e monitorar através da alimentação modificada o estado geral e nutricional do enfermo; • Algumas dietas são consideradas especiais, pois estão diretamente ligadas às patologias como por exemplo: refluxo gastroesofágico, gastroplastia, intolerâncias e alergias e outras; • Estas dietas podem ser: hipossódica, hipoproteica, hiperproteica, hipoglicidica, hipolipídica e/ou hipocalêmica, entre outros. DIETA HIPOSSÓDICA • Indicada para pacientes com doença hipertensiva, edemaciados, cardiopatias, doença renal e doença hepática. • Caracterizada pela ausência ou diminuição de adição de sal, não uso de alimentos industrializados, diminuindo a ingestão de sódio. DIETA HIPOPROTÉICA • Indicada para pacientes com insuficiência renal (IRC). • Caracterizada em diminuir ou retirar a porção de carnes ou derivados, leguminosas, leite e derivados e em alguns casos conforme prescrição médica e diminuir a ingestão hídrica. DIETA HIPERPROTÉICA • Para pacientes com doenças infecciosas, neoplásicas, queimaduras e pós cirúrgicos. • A alimentação deverá ser rica em proteínas para evitar o catabolismo proteico muito intenso nas situações descritas acima. • Em alguns casos deverá ser indicada a suplementação. • Na gestação também é considerada uma dieta hiperproteica. DIETA HIPOGLICÍDICA • Dieta para pacientes diagnosticados com Diabetes Mellitus, DPOC e doenças oncológicas. • Consiste na diminuição de carboidratos simples, respectivamente, evitando o aumento dos níveis de glicose no sangue, formação de gás carbônico nos pulmões. DIETA HIPOLIPÍDICA • Utilizada em pós operatório do cólon, desconforto abdominal, doença hepática e pancreática, cardiopatia associada a dislipidemia ( Triglicerídeo e Colesterol alto). • São retirados da dieta as gorduras de adição como manteiga, margarina, óleo e azeite, e também os alimentos ricos em gordura, como embutidos, queijos, abacate, frituras e gema de ovo. • Consiste no consumo de alimentos desnatados, chás, carnes magras e sem pele, aumento de folhosos, legumes e frutas. DIETA HIPOCALÊMICA • Consiste na diminuição de Potássio; • Indicada para pacientes com insuficiência renal e/ou outra patologia que tem dificuldade em eliminar o excesso de potássio ingerido. • O potássio é um mineral largamente encontrado nos alimentos de origem vegetal, desse modo, no caso de haver necessidade de restrição de potássio, deve-se controlar a ingesta desses alimentos. • Como esse mineral se perde facilmente pela cocção em meio líquido, além do controle na ingesta dos mesmos, devemos deixar os alimentos ricos em potássio de molho, cozinhá-los com bastante água, trocar a água de cozimento e no final desprezar a água do cozimento. DIETA SEM LACTOSE • Consiste na retirada de leite e derivados da dieta. • A intolerância à lactose causa dor de barriga, gases e outros desconfortos gastrointestinais, após a ingestão de leite e derivados. • Decorre da incapacidade total ou parcial do organismo de produzir a lactase, uma enzima que quebra a lactose, o açúcar dos produtos lácteos. DIETA SEM GLÚTEN • A intolerância ao glúten ou Doença Celíaca provoca sintomas intestinais como excesso de gases, dor no estômago, diarreia ou prisão de ventre, entre outros. • Acontece devido à incapacidade ou dificuldade emdigerir o glúten, que é uma proteína presente no trigo, no centeio e na cevada, e seu tratamento consiste na retirada dessa proteína da dieta. CONCLUSÃO • Todas as dietas devem ser calculadas através da evolução do paciente. • Em âmbito Hospitalar é necessário a presença do Nutricionista, é ele que realiza o acompanhamento e a evolução do paciente definindo a melhor terapia alimentar. • Para ofertar a dieta, é necessário verificar dados como peso, altura, estado nutricional, patologia, funcionamento do trato gastrintestinal, metabolismo, mecanismo de mastigação e deglutição e outros determinantes. • As dietas hospitalares são de suma importância para a melhora do quadro nutricional do paciente evitando principalmente a desnutrição. EXERCÍCIOS • 1- Quais os tipos de dietas hospitalares? • 2- Quais as características da dieta livre? • 3- Quais as características da dieta branda? • 4- Quais as características da dieta pastosa? • 5- Diferencie dieta líquida pastosa, líquida completa e líquida restrita: • 6- Diferencie dieta enteral x parenteral: • 7- Quais as vias de administração da dieta enteral? • 8- Quais as vias de administração da dieta parenteral? • 9- Quais as modificações quanto ao nutriente podem ser realizadas nas dietas hospitalares? • 10- Qual o papel do nutricionista na equipe multidisciplinar de terapia nutricional?