Prévia do material em texto
<p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 01 - Dia 28/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: ALEXANDRE FERREIRA DE ASSUMPCAO ALVES</p><p>01 Tema: CONTRATO DE COMISSÃO. Partes. Obrigações e responsabilidades. Remuneração do</p><p>comissário. Comissão del credere.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Bons Pneus e Acessórios de Veículos Ltda. ajuizou ação de cobrança em face de Palermo Indústria de</p><p>Pneus S/A. para receber comissões provenientes de negócios celebrados entre esta e um terceiro, no</p><p>Município de Nova Friburgo.</p><p>Alega a demandante que tais negócios se realizaram em desacordo com a cláusula de exclusividade</p><p>que a beneficiava. Assim, pleiteia indenização por perdas e danos em virtude da infração contratual.</p><p>Em sua defesa, a parte ré sustentou que a cláusula de exclusividade não se aplica à cidade de Nova</p><p>Friburgo, local onde foram feitos os negócios com terceiros, uma vez que sua abrangência territorial</p><p>estaria circunscrita à Região dos Lagos, razão pela qual não teria havido infração contratual. Acresce,</p><p>também, à sua defesa, o contrato social, demonstrando que as vendas dos pneus eram realizadas em</p><p>nome da própria autora, que prestava contas do faturamento mensalmente à ré, e que a autora não tem</p><p>registro profissional de representante comercial.</p><p>Pergunta-se: qual a natureza do contrato entabulado entre as partes? Justifique.</p><p>RESPOSTA:</p><p>O contrato celebrado entre as partes foi o contrato de comissão. A respeito da distinção entre a</p><p>representação comercial e a comissão, leciona Fran Martins, na obra "Contratos e Obrigações</p><p>Comerciais", 14ª ed., pág. 274, Rio de janeiro, Forense, 1984: "... aproxima-se a representação do</p><p>contrato e comissão, já que ambos visam à realização dos atos em proveito do representado. Mas dele</p><p>se destaca porque, na comissão, o comissário age e se obriga, perante terceiros, em seu próprio nome,</p><p>o que não acontece com o representante". A delimitação geográfica e a cláusula de exclusividade,</p><p>embora presentes no contrato de representação comercial (art. 27, Lei nº 4.8886/65), não permitem</p><p>que se conclua pela celebração deste contrato, posto faltar-lhe características essenciais: a falta de</p><p>representação e a do registro profissional.</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Distribuidora Gasolina Confiável Ltda. celebrou contrato de comissão com Abasteça Bem Ltda. O</p><p>contrato continha cláusula expressa quanto ao percentual da comissão do comissário, bem como da</p><p>cláusula del credere. O comitente ajuizou ação de cobrança em face do comissário para recebimento</p><p>da quantia devida e não paga por determinado comprador, por venda intermediada pelo comissário. O</p><p>pedido foi julgado procedente. Correta a decisão? Fundamente.</p><p>06/03/2024 - Página 1 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>A cláusula del credere, prevista nos contratos de comissão ou de representação, importa em maior</p><p>responsabilidade do comissário ou representante (art.698 CC/02). O comissário responderá pela</p><p>inexecução das obrigações com quem contratar, mesmo ocorrendo força maior ou caso fortuito.</p><p>Firmada entre o comitente e o comissário, este assume, pessoalmente, a responsabilidade pelo</p><p>pagamento a ser feito pelo comprador, na venda em que atuar como intermediário. A cláusula implica</p><p>a corresponsabilidade do agente vendedor no negócio que coordena. O comissário passa a assumir</p><p>perante o comitente, os riscos pelo pagamento de terceiros. A cláusula del credere surgiu num</p><p>momento em que o antigo comerciante, para manter seu comércio com praças longínquas, precisava</p><p>enviar a mercadoria a um comissário ou representante, que a colocava nas mãos dos destinatários</p><p>finais. Para evitar riscos maiores, o comitente exigia que o comissário se responsabilizasse pela</p><p>pontualidade ou, mesmo, insolvência de terceiros.</p><p>06/03/2024 - Página 2 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 02 - Dia 28/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: ALEXANDRE FERREIRA DE ASSUMPCAO ALVES</p><p>02 Tema: CONTRATO DE CORRETAGEM. Obrigações do corretor. Remuneração. Pluralidade de</p><p>credores. Dispensa do corretor.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Marcos adquiriu um imóvel junto à sociedade Perfil Empreendimentos Imobiliários Ltda., ocasião em</p><p>que foi atendido por um corretor de imóveis, que lhe informou que deveria arcar com o pagamento da</p><p>comissão de corretagem, no importe de R$ 13.000,00.</p><p>Sobre o tema, responda?</p><p>a) É válida a cláusula contratual que transfere ao consumidor a obrigação de pagar comissão de</p><p>corretagem?</p><p>b) Qual é o prazo prescricional para a pretensão ao ressarcimento da comissão de corretagem?</p><p>As respostas devem ser fundamentadas de acordo com o entendimento mais atual do C. STJ.</p><p>06/03/2024 - Página 3 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>Tema Repetitivo n. 938, STJ:</p><p>RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. INCORPORAÇÃO</p><p>IMOBILIÁRIA. VENDA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM ESTANDE DE VENDAS.</p><p>CORRETAGEM. CLÁUSULA DE TRANSFERÊNCIA DA OBRIGAÇÃO AO CONSUMIDOR.</p><p>VALIDADE. PREÇO TOTAL. DEVER DE INFORMAÇÃO. SERVIÇO DE ASSESSORIA</p><p>TÉCNICO-IMOBILIÁRIA (SATI). ABUSIVIDADE DA COBRANÇA.</p><p>I - TESE PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015: 1.1. Validade da cláusula contratual que</p><p>transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de</p><p>promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária, desde que</p><p>previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da</p><p>comissão de corretagem.</p><p>1.2. Abusividade da cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria técnico-imobiliária</p><p>(SATI), ou atividade congênere, vinculado à celebração de promessa de compra e venda de imóvel.</p><p>II - CASO CONCRETO: 2.1. Improcedência do pedido de restituição da comissão de corretagem,</p><p>tendo em vista a validade da cláusula prevista no contrato acerca da transferência desse encargo ao</p><p>consumidor. Aplicação da tese 1.1.</p><p>2.2. Abusividade da cobrança por serviço de assessoria imobiliária, mantendo-se a procedência do</p><p>pedido de restituição. Aplicação da tese 1.2.</p><p>III - RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.</p><p>(REsp n. 1.599.511/SP, relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, julgado em</p><p>24/8/2016, DJe de 6/9/2016.)</p><p>AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DECISÃO DA PRESIDÊNCIA.</p><p>RECONSIDERAÇÃO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA</p><p>DE IMÓVEL. COMISSÃO DE CORRETAGEM. TRANSFERÊNCIA DA OBRIGAÇÃO AO</p><p>CONSUMIDOR. DEVER DE INFORMAÇÃO. AUSÊNCIA. DANOS MORAIS. VIABILIDADE.</p><p>AGRAVO INTERNO PROVIDO PARA CONHECER DO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.</p><p>RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.</p><p>1. A parte recorrente impugnou todos os fundamentos da decisão de inadmissibilidade do recurso</p><p>especial, devendo, portanto, ser reconsiderada a decisão proferida pela Presidência desta Corte.</p><p>2. A Segunda Seção desta eg. Corte, no julgamento do REsp 1.599.511/SP, sob o rito do recurso</p><p>repetitivo previsto no art. 1.040 do CPC/2015, conclui pela "Validade da cláusula contratual que</p><p>transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de</p><p>promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária, desde que</p><p>previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da</p><p>comissão de corretagem" (Rel.Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Segunda Seção, DJe</p><p>de 6/9/2016), situação não demonstrada no caso dos autos.</p><p>3. O mero inadimplemento contratual é incapaz de gerar abalo moral indenizável, sendo necessária a</p><p>existência de uma consequência fática capaz de acarretar dor e sofrimento por sua gravidade, como</p><p>devidamente apontado pela Corte de origem nos autos. Precedentes.</p><p>4. Agravo interno provido para conhecer do agravo e</p><p>juízo, que julgou extinto o processo sem resolução do mérito.</p><p>Irresignado, o autor interpôs recurso de apelação, no qual sustenta, em suas razões, a possibilidade de</p><p>aplicação subsidiária do Decreto-Lei nº 911/69 aos contratos de arrendamento mercantil, a fim de</p><p>permitir a conversão da ação de reintegração de posse em ação de execução.</p><p>Pergunta-se: diante da não localização do bem objeto do contrato de arrendamento mercantil, é</p><p>possível a conversão do pedido de reintegração de posse em ação de execução, aplicando</p><p>analogicamente o Decreto-Lei nº 911/69? Responda de forma fundamentada.</p><p>06/03/2024 - Página 29 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>RECURSO ESPECIAL Nº REsp 1785544(2018/0327141-8 de 24/06/2022). RELATOR: MINISTRO</p><p>RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA.</p><p>EMENTA: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ARRENDAMENTO</p><p>MERCANTIL. INADIMPLEMENTO. LIMINAR DEFERIDA. VEÍCULO NÃO LOCALIZADO.</p><p>CONVERSÃO EM AÇÃO DE EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM</p><p>GARANTIA. ART. 4º DO DECRETO-LEI Nº 911/1969. APLICABILIDADE.</p><p>1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de</p><p>2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).</p><p>2. Cuida-se, na origem de ação de reintegração de posse que objetiva a retomada de veículo em</p><p>virtude do inadimplemento de contrato de arrendamento mercantil. O pedido de conversão da ação</p><p>em processo executivo em virtude da não localização do bem foi indeferido, tendo sido extinto o</p><p>processo sem resolução de mérito.</p><p>3. Cinge-se a controvérsia a definir se, diante da não localização do bem objeto do contrato de</p><p>arrendamento mercantil, é possível a conversão do pedido de reintegração de posse em ação de</p><p>execução, por aplicação analógica do Decreto-Lei nº 911/1969 que estabelece normas de processo</p><p>acerca de alienação fiduciária.</p><p>4. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça traçou orientação no sentido de que, em ação de</p><p>busca e apreensão processada sob o rito do Decreto-Lei nº 911/1969, o credor tem a faculdade de</p><p>requerer a conversão do pedido de busca e apreensão em ação executiva se o bem não for encontrado</p><p>ou não se achar na posse do devedor (art. 4º).</p><p>5. A Lei nº 13.043/2014, que trouxe modificações no Decreto-Lei nº 911/1969, autoriza a aplicação</p><p>das normas procedimentais previstas para a alienação fiduciária aos casos de reintegração de posse de</p><p>veículos referentes às operações de arrendamento mercantil (Lei nº 6.099/1974).</p><p>6. Recurso especial provido.</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Os sócios de Netuno Informática S/A. foram informados que a sociedade estava passando por dois</p><p>problemas simultaneamente. O primeiro, e mais grave, era a escassez de recursos para o pagamento</p><p>de dívidas de curtíssimo prazo, uma vez que os valores disponíveis em caixa e em conta corrente não</p><p>eram suficientes para o pagamento de dívidas com alguns fornecedores, que já ameaçaram entrar com</p><p>pedido de falência em caso de inadimplência. O outro problema é a necessidade, também premente,</p><p>da aquisição ou locação de uma máquina moderna de impressão, na medida em que a atual foi</p><p>definitivamente perdida em um pequeno incêndio.</p><p>Considerando a existência de bens de alto valor e liquidez dentro do imobilizado da sociedade, mas</p><p>indispensáveis para a atividade, e a absoluta falta de capital de giro, responda:</p><p>a) É possível a utilização do contrato de arrendamento mercantil para a obtenção de capital de giro</p><p>para a sociedade em questão? Em caso positivo, qual modalidade e quais os benefícios?</p><p>b) Em relação à máquina de impressão, considerando que tais equipamentos, embora caros, ficam</p><p>rapidamente obsoletos, sem olvidar da necessidade de uma manutenção muito especializada, seria</p><p>aconselhável o arrendamento? Em caso positivo, qual modalidade e quais os benefícios?</p><p>c) Ao final de todo o contrato, quais as opções que o arrendador deve oferecer ao arrendatário?</p><p>d) Em caso de inadimplemento, além da cobrança, qual a medida que pode ser intentada pelo credor?</p><p>Quais as verbas que são devidas?</p><p>Respostas fundamentadas.</p><p>06/03/2024 - Página 30 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>a) Sim, por meio do leasing-back ou de retorno. A vantagem é que por meio do seu próprio ativo</p><p>imobilizado a sociedade conseguiria obter capital de giro com taxas mais baixas, haja vista o baixo</p><p>risco de inadimplemento dos contratos de leasing, diante da garantia dada ao credor. O bem dado em</p><p>garantia fica na posse do devedor, com a expectativa de voltar ao seu ativo no final do contrato diante</p><p>da possibilidade de recompra.</p><p>b) Sim, por meio da modalidade de leasing operacional. Durante a vigência do contrato a arrendadora</p><p>é obrigada a prestar serviço de manutenção em relação ao bem objeto do negócio, sem olvidar que</p><p>todos os pagamentos são lançados como despesas e o total das parcelas jamais poderá ultrapassar</p><p>75% do valor de mercado do bem, com possibilidade de renovação do contrato com substituição da</p><p>máquina por um modelo mais moderno. (Cf. art. 7º, VII, da Res. BACEN 2309/96).</p><p>c) Arrendamento Mercantil é o contrato celebrado entre uma pessoa jurídica, denominada</p><p>Arrendadora, e uma outra pessoa, física ou jurídica, denominada Arrendatária, através do qual a</p><p>Arrendadora adquire bens MÓVEIS ou IMÓVEIS segundo a especificação da Arrendatária,</p><p>transferindo para esta a posse direta desse bem e ficando com a credora a posse indireta do bem,</p><p>mediante o pagamento de parcelas a título de aluguel, sendo certo que ao final do contrato a devedora</p><p>terá sempre as seguintes opções: 1) Extinguir o contrato devolvendo o bem; 2) Renovar o contrato em</p><p>condições previamente pactuadas; 3) Comprar o bem pelo preço residual. (art. 1º, parágrafo único, e</p><p>5º, "c", da Lei nº 6.099/74). Cf. art. 7º, V, da Res. BACEN 2309/96).</p><p>d) Ação de reintegração de posse, com a prévia notificação do devedor. Deve ser comprovada a</p><p>notificação com a juntada do AR, sob pena de extinção do processo sem o julgamento do mérito.</p><p>06/03/2024 - Página 31 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 09 - Dia 22/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: JOSE EDUARDO CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE</p><p>09 Tema: CONTRATO DE FRANQUIA EMPRESARIAL. Definição. Características. Partes.</p><p>Direito e obrigações das partes. Contratos acessórios.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Um produto eletrônico é adquirido por Josué num estabelecimento franqueado em que o empresário é</p><p>apenas vendedor sob licenciamento de marca de produto. Esse produto apresenta defeito de</p><p>fabricação que o torna impróprio ao uso a que se destina.</p><p>Pergunta-se: É possível Josué responsabilizar solidariamente o franqueador e o franqueado pelos</p><p>danos sofridos, considerando-se que o primeiro fabricou e distribuiu o produto e o segundo vendeu?</p><p>Explique e embase juridicamente a resposta.</p><p>RESPOSTA:</p><p>PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO</p><p>ESPECIAL. FRANQUEADORA. LEGITIMIDADE PASSIVA. RESPONSABILIDADE</p><p>SOLIDÁRIA. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA 7/STJ. NÃO PROVIMENTO.</p><p>1. "Cabe às franqueadoras a organização da cadeia de franqueados do serviço, atraindo para si a</p><p>responsabilidade solidária pelos danos decorrentes da inadequação dos serviços prestados em razão da</p><p>franquia" (REsp 1.426.578/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,</p><p>DJe 22/9/2015).</p><p>2. Não cabe, em recurso especial, reexaminar matéria fático-probatória (Súmula n. 7/STJ).</p><p>3. Agravo interno a que se nega provimento.</p><p>(AgInt no AREsp 1090404/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA,</p><p>julgado em 21/03/2019, DJe 28/03/2019)</p><p>No contrato de franquia empresarial há um vínculo associativo entre sociedades empresárias distintas,</p><p>caracterizado pelo uso necessário de bem intelectuais do franqueador e a participação no aviamento</p><p>do franqueado. Assim, tem-se que o contrato de franquia</p><p>tem relevância apenas nas estritas esferas</p><p>das sociedades contratantes, traduzindo uma clássica obrigação contratual inter partes. Por tal motivo,</p><p>afasta-se a incidência do CDC para disciplina dessa relação contratual.</p><p>Sob outro viés, por meio desse tipo de contrato, o consumidor tem acesso a produtos vinculados a</p><p>uma empresa terceira, estranha à relação contratual diretamente estabelecida entre consumidor e</p><p>vendedor. A interpretação dos artigos 14 e 18 do CDC imputa a responsabilidade pela garantia de</p><p>qualidade e de adequação a toda a cadeia de fornecimento, inclusive aqueles que a organizam,</p><p>impondo a obrigação conjunta de qualidade-segurança.</p><p>Assim, fixada, em tese, a responsabilidade civil das empresas franqueadoras perante os consumidores,</p><p>por danos decorrentes da prestação do serviço franqueado, cabível a extensão da responsabilidade</p><p>solidária de ambos.</p><p>06/03/2024 - Página 32 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>TMA Tratamento Têxtil Ltda. ajuizou ação declaratória de resolução contratual cumulada com</p><p>indenizatória em face de Chocolates Neultrol do Brasil Franchising Ltda., objetivando a resolução do</p><p>contrato de franquia.</p><p>Afirma a parte autora que, em pouco menos de 2 (dois) anos de funcionamento, foi possível observar</p><p>que a realidade do negócio e a rentabilidade esperada não correspondiam às informações prestadas</p><p>pela franqueadora, o que só pôde ser verificado já na fase de execução do contrato. Argumenta a</p><p>demandante que o descumprimento de dever anexo ou acessório de informação, ainda que na fase</p><p>pré-contratual, caracteriza hipótese de descumprimento contratual, apto à rescisão do contrato por seu</p><p>inadimplemento.</p><p>Pergunta-se: a conduta da franqueadora na fase pré-contratual, que deixa de prestar informações que</p><p>auxiliariam na tomada de decisão pela franqueada pode ensejar a resolução do contrato de franquia</p><p>por inadimplemento? Responda, de forma fundamentada.</p><p>06/03/2024 - Página 33 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>RECURSO ESPECIAL Nº 1.862.508 - SP (2020/0038674-8). RELATOR: MINISTRO RICARDO</p><p>VILLAS BÔAS CUEVA. R.P/ACÓRDÃO: MINISTRA NANCY ANDRIGHI</p><p>EMENTA: CIVIL E EMPRESARIAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RESOLUÇÃO</p><p>CONTRATUAL. FRANQUIA. BOA-FÉ OBJETIVA. ART. 422 DO CC/02. DEVERES ANEXOS.</p><p>LEALDADE. INFORMAÇÃO. DESCUMPRIMENTO. FASE PRÉ-CONTRATUAL.</p><p>EXPECTATIVA LEGÍTIMA. PROTEÇÃO. PADRÕES DE COMPORTAMENTO (STANDARDS).</p><p>DEVER DE DILIGÊNCIA (DUE DILIGENCE). HARMONIA. INADIMPLEMENTO.</p><p>CONFIGURAÇÃO. PROVIMENTO.</p><p>1. Cuida-se de ação de resolução de contrato de franquia cumulada com indenização de danos</p><p>materiais, na qual se alega que houve descumprimento do dever de informação na fase pré-contratual,</p><p>com a omissão das circunstâncias que permitiriam ao franqueado a tomada de decisão na assinatura</p><p>do contrato, como o fracasso de franqueado anterior na mesma macrorregião.</p><p>2. Recurso especial interposto em: 23/10/2019; conclusos ao gabinete em: 29/10/2020; aplicação do</p><p>CPC/15.</p><p>3. O propósito recursal consiste em definir se a conduta da franqueadora na fase pré-contratual,</p><p>deixando de prestar informações que auxiliariam na tomada de decisão pela franqueada, pode ensejar</p><p>a resolução do contrato de franquia por inadimplemento</p><p>4. Segundo a boa-fé objetiva, prevista de forma expressa no art. 422 do CC/02, as partes devem</p><p>comportar-se de acordo com um padrão ético de confiança e de lealdade, de modo a permitir a</p><p>concretização das legítimas expectativas que justificaram a celebração do pacto.</p><p>5. Os deveres anexos, decorrentes da função integrativa da boa-fé objetiva, resguardam as</p><p>expectativas legítimas de ambas as partes na relação contratual, por intermédio do cumprimento de</p><p>um dever genérico de lealdade, que se manifesta especificamente, entre outros, no dever de</p><p>informação, que impõe que o contratante seja alertado sobre fatos que a sua diligência ordinária não</p><p>alcançaria isoladamente.</p><p>6. O princípio da boa-fé objetiva já incide desde a fase de formação do vínculo obrigacional, antes</p><p>mesmo de ser celebrado o negócio jurídico pretendido pelas partes. Precedentes.</p><p>7. Ainda que caiba aos contratantes verificar detidamente os aspectos essenciais do negócio jurídico</p><p>(due diligence), notadamente nos contratos empresariais, esse exame é pautado pelas informações</p><p>prestadas pela contraparte contratual, que devem ser oferecidas com a lisura esperada pelos padrões</p><p>(standards) da boa-fé objetiva, em atitude cooperativa.</p><p>8. O incumprimento do contrato distingue-se da anulabilidade do vício do consentimento em virtude</p><p>de ter por pressuposto a formação válida da vontade, de forma que a irregularidade de comportamento</p><p>somente é revelada de forma superveniente; enquanto na anulação a irregularidade é congênita à</p><p>formação do contrato.</p><p>9. Na resolução do contrato por inadimplemento, em decorrência da inobservância do dever anexo de</p><p>informação, não se trata de anular o negócio jurídico, mas sim de assegurar a vigência da boa-fé</p><p>objetiva e da comutatividade (equivalência) e sinalagmaticidade (correspondência) próprias da função</p><p>social do contrato entabulado entre as partes.</p><p>10. Na hipótese dos autos, a moldura fática delimitada pelo acórdão recorrido consignou que: a)ainda</p><p>06/03/2024 - Página 34 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>nafase pré-contratual, a franqueadora criou na franqueada a expectativa de que o retorno da capital</p><p>investido se daria em torno de 36 meses; b) apesar de transmitir as informações de forma clara e legal,</p><p>o fez com qualidade e amplitude insuficientes para que pudessem subsidiar a correta tomada de</p><p>decisão e as expectativas corretas de retornos; e c) a probabilidade de que a franqueada recupere o seu</p><p>capital investido, além do caixa já perdido na operação até o final do contrato, é mínima, ou quase</p><p>desprezível.</p><p>11. Recurso especial provido.</p><p>06/03/2024 - Página 35 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 10 - Dia 22/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: CLAUDIO CALO SOUSA</p><p>10 Tema: CONTRATO DE FACTORING. Definição. Características. Partes. A cessão de crédito ao</p><p>fator. Obrigações acessórias.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Celta Factoring Ltda. ingressou com ação monitória em face de Marilia objetivando a cobrança de um</p><p>cheque emitido pela demandada, no valor original de R$ 2.200,00, com vencimento aprazado para</p><p>11/06/2012, sendo que este cheque resulta do contrato de relações comerciais havidas entre a Marília</p><p>e a sociedade Marques & Marques Ltda. para a confecção de um projeto, venda, instalação de</p><p>materiais elétricos na residência da demandada, tudo pelo montante de R$ 4.400,00, a ser pago em</p><p>duas parcelas iguais e sucessivas de R$ 2.200,00, com vencimento em 20/03/2012 e 20/04/2012.</p><p>Contudo, a demandada não teria solvido a segunda parcela do pactuado.</p><p>Em sua resposta Marília defende que a sociedade contratada não teria cumprido o contrato, deixando</p><p>de prestar mais de metade do serviço e, em razão disso, deixou de pagar a segunda parcela do que</p><p>fora avençado. Afirma que as regras sobre o direito cambial, mormente a autonomia e a abstração</p><p>conferidas ao cheque não se aplicam a presente hipótese, devendo ser adotadas as regras de Direito</p><p>Civil.</p><p>Autos conclusos, decida.</p><p>RESPOSTA:</p><p>AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO</p><p>RECURSO ESPECIAL - CONTRATO DE FACTORING - OPOSIÇÃO DE EXCEÇÕES</p><p>PESSOAIS - IMPOSSIBILIDADE - PRECEDENTES DA SEGUNDA SEÇÃO.</p><p>INSURGÊNCIA DA AGRAVANTE.</p><p>1. A orientação jurisprudencial da Segunda Seção consolidou-se no sentido de admitir a transferência</p><p>do título de crédito - na hipótese um cheque - por endosso cambial nos contratos de factoring com os</p><p>efeitos dele decorrentes, sendo inviável opor exceções</p><p>pessoais à empresa de factoring.</p><p>Precedentes: EREsp 1439749/RS, Rel. Min. MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO,</p><p>julgado em 28/11/2018, DJe 06/12/2018, e EDcl nos EREsp 1482089/PA, desta Relatoria,</p><p>SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/11/2019, DJe 02/12/2019.</p><p>2. Agravo interno desprovido.</p><p>(AgInt no AgInt nos EREsp 1283369/RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, SEGUNDA SEÇÃO,</p><p>julgado em 29/09/2020, DJe 02/10/2020)</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Altus Fomento Mercantil ingressou com ação em face de Aqua Clínica e Resort Ltda., pretendendo o</p><p>reembolso de titulo de crédito endossado pela ré que teriam natureza e origem duvidosa.</p><p>A faturizadora tem direito de regresso contra a faturizada sob alegação de inadimplemento dos títulos</p><p>transferidos?</p><p>Responda a questão, de forma fundamentada.</p><p>06/03/2024 - Página 36 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA. NOTA</p><p>PROMISSÓRIA. FOMENTO MERCANTIL. INADIMPLEMENTO DE TÍTULOS</p><p>TRANSFERIDOS. DIREITO DE REGRESSO. NÃO CABIMENTO. RISCO QUE É DA</p><p>ESSÊNCIA DO CONTRATO DE FACTORING.</p><p>1. A faturizadora não tem direito de regresso contra a faturizada sob alegação de inadimplemento dos</p><p>títulos transferidos, porque esse risco é da essência do contrato de factoring.</p><p>2. Agravo interno a que se nega provimento.</p><p>(AgInt no AREsp n. 2.182.647/SP, relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em</p><p>2/10/2023, DJe de 5/10/2023.)</p><p>AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.</p><p>RECONSIDERAÇÃO DA DECISÃO DA PRESIDÊNCIA. VIOLAÇÃO AO ART. 373, I, DO CPC.</p><p>AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356 DO STF. CONTRATO DE</p><p>FACTORING. RESPONSABILIDADE DO CEDENTE. CLÁUSULA DE RECOMPRA.</p><p>IMPOSSIBILIDADE. CONSONÂNCIA DO ACÓRDÃO RECORRIDO COM A</p><p>JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO INTERNO PROVIDO.</p><p>AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL CONHECIDO PARA NEGAR PROVIMENTO AO</p><p>RECURSO ESPECIAL.</p><p>1. Não enseja a interposição de recurso especial matéria que não tenha sido debatida no acórdão</p><p>recorrido e sobre a qual não tenham sido opostos embargos de declaração, a fim de suprir eventual</p><p>omissão. Ausente o indispensável prequestionamento, aplicam-se, por analogia, as Súmulas 282 e 356</p><p>do STF.</p><p>2. A faturizadora não tem direito de regresso contra a faturizada sob alegação de inadimplemento dos</p><p>títulos transferidos, porque esse risco é da essência do contrato de factoring. Precedentes.</p><p>3. Segundo a jurisprudência desta Corte, a faturizada não responde pelo simples inadimplemento de</p><p>títulos transferidos, salvo se der causa ao inadimplemento do devedor, sendo nula a cláusula de</p><p>recompra que retira da empresa de factoring os riscos inerentes a esse tipo de contrato.</p><p>4. O entendimento adotado no acórdão recorrido coincide com a jurisprudência assente desta Corte</p><p>Superior, circunstância que atrai a incidência da Súmula 83/STJ.</p><p>5. Agravo interno provido para conhecer do agravo e negar provimento ao recurso especial.</p><p>(AgInt no AREsp n. 2.368.404/ES, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em</p><p>18/9/2023, DJe de 22/9/2023.)</p><p>06/03/2024 - Página 37 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 11 - Dia 26/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: THIAGO FERREIRA CARDOSO NEVES</p><p>11 Tema: CONTRATO DE LOCAÇÃO EMPRESARIAL. Disciplina legal. Particularidades. Ação</p><p>renovatória. Condições. Legitimidade. Prazos. Dispensa de renovação. Procedimento na ação</p><p>renovatória.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Na locação de uma loja para expansão dos negócios de uma sociedade empresária foi incluída,</p><p>observando o prazo quinquenal, a locação de um apartamento anexo, do mesmo locador, para</p><p>moradia do gerente do estabelecimento, além de eventual uso de um de seus cômodos para depósito</p><p>de mercadorias. O dito apartamento é incluído na ação renovatória aforada no prazo legal.</p><p>O locador contesta o pedido de inclusão por entender incabível a utilização do instituto para imóveis</p><p>de uso residencial. Procede a defesa? Justificar.</p><p>RESPOSTA:</p><p>O art. 55 da Lei n° 8245/91 considera como locação não residencial aquela em que o locatário é</p><p>pessoa jurídica e o imóvel, inclusive anexos, destina-se ao uso de certas pessoas ligadas à pessoa</p><p>jurídica, dentre elas os gerentes.</p><p>Consoante também a norma do art. 56, que não alberga a renovação compulsória e a não incidência</p><p>deste artigo à hipótese do enunciado, é forçoso concluir que não procede a defesa do locador,</p><p>inclusive pelo aforamento da renovatória no prazo do parágrafo 5° do art. 51 e pela observância do</p><p>prazo quinquenal, de acordo com o inciso II do art.51.</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Lojas Brasileiras S.A. ajuizou ação renovatória de contrato de locação empresarial em face de Luz</p><p>Empreendimentos Imobiliários Ltda., no qual narra ser locatária de lojas e espaços junto à ré desde</p><p>2008 e, ante a iminência do termo final do contrato, preencheria os requisitos legais para a respectiva</p><p>renovação, sob as mesmas condições do negócio original, inclusive no que se refere aos valores da</p><p>contraprestação mensal (5% do faturamento ou, no mínimo, R$ 15.000,00) e ao prazo de duração (12</p><p>anos e 11 meses).</p><p>A sentença julgou parcialmente procedentes os pedidos, para renovar por mais 5 (cinco) anos a</p><p>locação dos espaços comerciais.</p><p>Irresignada, Lojas Brasileiras S.A. interpôs recurso de apelação, na qual sustenta que a limitação</p><p>imposta na decisão combatida - por 5 (cinco) anos - não está prevista na lei e não pode ser extraída de</p><p>sua interpretação sistemática. Defende que a Lei 8.245/91 estabelece ser devida a renovação</p><p>compulsória do contrato locatício comercial pelo mesmo período em que vigorou o último contrato,</p><p>que, no caso, foi de 12 (doze) anos e 11 (onze) meses, podendo, portanto, ser renovado por igual</p><p>período.</p><p>O recurso deve ser provido? Responda a questão de forma fundamentada.</p><p>06/03/2024 - Página 38 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>RECURSO ESPECIAL Nº 1990552 (2018/0115020-4 de 26/05/2022). RELATOR: MINISTRO</p><p>RAUL ARAÚJO</p><p>EMENTA: CIVIL. LOCAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO RENOVATÓRIA DE CONTRATO</p><p>DE LOCAÇÃO COMERCIAL. AUSÊNCIA DE NEGATIVA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.</p><p>PRETENSÃO DO LOCADOR DE VER REPETIDO O PRAZO DO CONTRATO ORIGINAL.</p><p>IMPOSSIBILIDADE. PRAZO MÁXIMO DE PRORROGAÇÃO DE CINCO ANOS. RECURSO</p><p>DESPROVIDO.</p><p>1. Em sede da ação renovatória de locação comercial prevista no art. 51 da Lei 8.245/91, o prazo</p><p>máximo de prorrogação contratual será de cinco (5) anos. Assim, ainda que o prazo da última avença</p><p>supere o lapso temporal de cinco anos, a renovação compulsória não poderá excedê-lo, porquanto o</p><p>quinquênio estabelecido em lei é o limite máximo.</p><p>2. Recurso especial a que se nega provimento.</p><p>Trechos do Acórdão:</p><p>(...) Não se trata de acessio temporis, ou seja, não se está diante de situação em que a ação</p><p>renovatória, para preenchimento do requisito temporal previsto no inciso II do art. 51 da Lei de</p><p>inquilinato, foi ajuizada com base na soma dos períodos ininterruptos de sucessivos contratos escritos</p><p>de locação. Na realidade, há um único contrato de locação comercial, trazido aos autos, com prazo de</p><p>vigência de 12 anos e 11 meses, o qual se pretende ver prorrogado pelo mesmo período para</p><p>funcionamento da empresa.</p><p>A respeito da temática, esta Corte de Justiça, desde a vigência da antiga Lei de Luvas, o Decreto</p><p>24.150/1934 e, atualmente, com a atual Lei do Inquilinato (Lei 8.245/91), consagra orientação de que</p><p>o prazo máximo da renovação compulsória do contrato de locação comercial será de cinco (5) anos,</p><p>ainda que a vigência da avença locatícia supere esse período.</p><p>(...)</p><p>Após, com o advento da atual Lei do Inquilinato (Lei 8.245/91), revogando a antiga Lei de Luvas,</p><p>este Tribunal Superior manteve a mesma exegese, agora interpretando o disposto no art. 51 da</p><p>referida Lei, mas sem perder de vista o fundamento</p><p>do Eg. Supremo Tribunal Federal acerca do</p><p>Decreto 24.150/1934, de que o prazo máximo de renovação do contrato locatício deve ser de cinco</p><p>anos.</p><p>(...) Feita essas considerações, tem-se que a compreensão acolhida por esta Corte Superior de Justiça</p><p>até o presente momento é de que, em sede de ação renovatória de locação comercial prevista no art.</p><p>51 da Lei 8.245/91, o prazo máximo de prorrogação contratual será de cinco (5) anos, ainda que a</p><p>vigência da última avença locatícia supere esse período. Assim, como dito, ainda que o prazo da</p><p>última avença supere o lapso temporal de cinco (5) anos, a renovação não poderá excedê-lo,</p><p>porquanto o quinquênio estabelecido em lei é o limite máximo.</p><p>(...)</p><p>De fato, possibilitar que a ação renovatória de aluguel comercial seja capaz de compelir o locador a</p><p>renovar e manter a relação locatícia, quando já não mais possui interesse, por prazo superior ao</p><p>razoável lapso temporal de cinco anos, certamente desestimularia os contratos de locação comercial</p><p>mais longos, pois ensejaria, de certa forma, a expropriação do imóvel de seu proprietário.</p><p>Especialmente se levar-se em conta que sucessivas</p><p>06/03/2024 - Página 39 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>açõesrenovatórias dalocação poderão ser movidas.</p><p>Como dito pela eminente Ministra Nancy Andrighi, a ação renovatória prevista no aludido artigo 51</p><p>da Lei do Inquilinato "não pode se tornar uma forma de eternizar o contrato de locação, restringindo</p><p>os direitos de propriedade do locador, e violando a própria natureza bilateral e consensual da avença</p><p>locatícia (REsp 1.323.410/MG). Há de prevalecer, nesses contratos de natureza privada, a mínima</p><p>autonomia da vontade, a despeito de a lei autorizar a renovação compulsória, quando preenchidos os</p><p>requisitos por ela exigidos.</p><p>Além disso, não se pode perder de vista as constantes alterações econômicas que ocorrem ao longo do</p><p>período de tempo, de maneira que se pode tornar, na prática, inviável a prorrogação do ajuste por</p><p>período de tempo maior do que cinco anos.</p><p>Destarte, o prazo máximo de cinco anos mostra-se razoável para renovação compulsória de contratos</p><p>de locação de imóveis para uso comercial, quando atendidos os requisitos legais, maxime quando se</p><p>considera poder ser a renovatória requerida novamente pelo locatário ao final de cada período</p><p>quinquenal, o que possibilita, de certa forma, a postergação do ajuste por sucessivos quinquênios.</p><p>Ainda nessa hipótese, entende-se que não há como fugir do raciocínio consagrado pela jurisprudência,</p><p>de longa data, de que o prazo máximo de prorrogação compulsória do referido contrato deve ser de</p><p>cinco (5) anos, pelas razoes de direito acima expostas.</p><p>06/03/2024 - Página 40 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 12 - Dia 26/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: THIAGO FERREIRA CARDOSO NEVES</p><p>12 Tema: SHOPPING CENTERS. Aspectos jurídicos do shopping center. Conceito. Estrutura do</p><p>negócio jurídico. Personagens. Aplicação da Lei Nº 8.245/91. Res Sperata. Aluguel mínimo.</p><p>Tenant mix. Cláusula de raio. Décimo terceiro aluguel. Publicidade. Cobrança de estacionamento.</p><p>Questões afins.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Lojas Cariocas S.A. propôs ação renovatória de locação em face de Internacional Shopping Fundo de</p><p>Investimento Imobiliário Ltda. visando à renovação do contrato que tem por objeto a locação de loja</p><p>no piso térreo do Internacional Shopping.</p><p>Em sua contestação, a parte ré não se insurgiu contra a pretensão renovatória, requerendo apenas a</p><p>majoração do aluguel percentual para 2,5%, ao argumento de que o valor contratado está abaixo do</p><p>valor de mercado.</p><p>Diante do caso concreto apresentado, indaga-se: em ação renovatória de locação de espaço em</p><p>shopping center, é possível a alteração do percentual ajustado a título de remuneração variável?</p><p>Responda fundamentadamente.</p><p>06/03/2024 - Página 41 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO RENOVATÓRIA. LOCAÇÃO DE ESPAÇO.</p><p>SHOPPING CENTER. ALTERAÇÃO DO ALUGUEL PERCENTUAL. DISCREPÂNCIA COM O</p><p>VALOR DE MERCADO. INVIABILIDADE. AUTONOMIA DA VONTADE E PACTA SUNT</p><p>SERVANDA. JULGAMENTO: CPC/2015.</p><p>1. Ação renovatória de locação ajuizada em 10/05/2018, da qual foi extraído o presente recurso</p><p>especial interposto em 14/10/2020 e atribuído ao gabinete em 31/05/2021.</p><p>2. O propósito recursal consiste em definir se é possível, em ação renovatória de locação de espaço</p><p>em shopping center, a alteração do percentual ajustado a título de remuneração variável.</p><p>3. O contrato celebrado entre o empreendedor e o lojista é marcado por certas singularidades, as quais</p><p>o diferenciam dos contratos ordinários de locação. Por essa razão, há divergência na doutrina sobre a</p><p>natureza desse contrato. Apesar dessas singularidades, revela-se mais razoável considerar o contrato</p><p>pactuado entre o empreendedor do shopping center e o lojista como um típico contrato de locação,</p><p>com características próprias.</p><p>4. Independentemente da natureza jurídica que se atribua a essa espécie contratual, a Lei nº 8.245/91</p><p>consagra a possibilidade da propositura, pelo lojista, de ação renovatória de locação. Assim,</p><p>preenchidos os requisitos legais previstos nos arts. 51 e 71 da referida lei, o lojista fará jus à</p><p>renovação do contrato de locação da unidade imobiliária localizada em shopping center.</p><p>5. A ação renovatória de locação tem como escopo principal a extensão do período de vigência do</p><p>contrato. E, considerando que a retribuição inicialmente entabulada guarda relação com a alteração do</p><p>prazo estipulado, também é possível a alteração do valor do locativo por essa via. Essa espécie de</p><p>ação judicial é dúplice, daí porque é juridicamente possível ao locador postular, em sede de</p><p>contestação, a majoração do valor do locativo.</p><p>6. No contrato de locação de espaço em shopping center, para a fixação do locativo, são ponderadas</p><p>as características especiais do empreendimento e que o diferencia dos demais, como a disponibilidade</p><p>e facilidade de estacionamento, a segurança do local, a oferta de produtos e serviços, opções de lazer,</p><p>entre outros. Ou seja, há uma série de fatores que influenciam na fixação da remuneração mensal e</p><p>que são alheios ao valor de mercado.</p><p>7. Frente às singularidades que diferenciam tais contratos, o art. 54 da Lei nº 8.245/91 assegura a</p><p>prevalência dos princípios da autonomia da vontade e do pacta sunt servanda. Nesse sentido, alteração</p><p>do aluguel percentual em sede de ação renovatória de locação de espaço em shopping center somente</p><p>é viável caso demonstrado pela parte postulante - locatário ou locador - o desequilíbrio econômico</p><p>superveniente resultante de evento imprevisível (arts. 317 e 479 do CC/02). Vale dizer, a dissonância</p><p>entre o locativo percentual contratado e o valor de mercado não autoriza, por si só, a alteração do</p><p>aluguel, sob pena de o juiz se imiscuir na economia do contrato 8. Recurso especial conhecido e</p><p>provido.</p><p>(REsp n. 1.947.694/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi,</p><p>06/03/2024 - Página 42 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>TerceiraTurma, julgado em 14/9/2021, DJe de 16/9/2021.)</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Determinado empreendedor de shopping center ajuizou ação de execução em face de um de seus</p><p>lojistas por inadimplemento do pagamento de res sperata. O executado opôs embargos à execução</p><p>alegando exceção do contrato não cumprido, fato ensejador da inexigibilidade do débito em razão do</p><p>descumprimento de contrato de reserva de área comercial para instalação de lojas-âncora, a que se</p><p>obrigara o exequente. Decida a questão de forma fundamentada.</p><p>06/03/2024 - Página 43 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO</p><p>DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>Apelação Cível. Pretensão da autora de declaração de resolução do contrato de locação comercial</p><p>firmado entre as partes, por culpa do réu, de reconhecimento da inexistência de obrigação da</p><p>demandante de pagar parcelas relacionadas à mencionada avença, além do recebimento de</p><p>indenização por dano material, a título de danos emergentes e de aplicação, por simetria, de cláusula</p><p>penal, sob o fundamento em síntese, que o demandado não cumpriu com a obrigação de entrega de</p><p>infraestrutura e "mix de lojas", conforme promessas contidas em anúncios publicitários ostensivos,</p><p>inviabilizando o exercício de sua atividade comercial no citado espaço. Sentença de improcedência do</p><p>pedido. Inconformismo da demandante. Apelante que não juntou aos autos qualquer instrumento</p><p>preliminar ou documento no qual tenha sido estipulado entre as partes que a entrega de lojas "âncora"</p><p>se afigurava essencial à concretização da avença, ou mesmo que a ausência de funcionamento</p><p>daquelas permitiria a resolução contratual por parte da locatária. Na realidade, a cláusula 19 do</p><p>supracitado negócio contém previsão bastante distinta. Não há qualquer ilegalidade ou abusividade</p><p>nesse tipo de disposição, tendo em vista que se aplica a Lei do Inquilinato ao contrato de locação de</p><p>imóvel em shopping center, a qual estabelece a prevalência das condições livremente pactuadas em</p><p>tais contratos atípicos, vedando apenas as cobranças de despesas extraordinárias de condomínio</p><p>relacionadas a obras ou acréscimos relacionados a estrutura do imóvel, serviços de pintura e</p><p>iluminação e indenizações trabalhistas e previdenciárias, nos termos dos artigos 22 e 54 do referido</p><p>diploma legal. Precedentes desta Corte. Em se tratando de contrato de natureza empresarial, deve ser</p><p>respeitada a alocação dos riscos do negócio livremente dispostos pelas partes, noção interpretativa</p><p>que hoje se encontra expressamente prevista no artigo 421-A, inciso II, do Código Civil. Anúncio ao</p><p>grande público de inauguração de lojas relacionadas a marcas de alto renome, possui o condão de</p><p>atrair os consumidores da região e, consequentemente, alavancar a locação de espaços comerciais aos</p><p>demais lojistas. Apelado que, a despeito de não ter inaugurado determinadas lojas "âncora", conforme</p><p>planejado incialmente, obteve êxito em firmar parcerias com outras de mesma natureza. Manutenção</p><p>do decisum. Recurso a que se nega provimento, majorando-se os honorários advocatícios em 5%</p><p>(cinco por cento) sobre o quantum fixado pelo Magistrado a quo, nos termos do § 11 do artigo 85 do</p><p>Código de Processo Civil.</p><p>(0003375-05.2020.8.19.0066 - APELAÇÃO. Des(a). GEÓRGIA DE CARVALHO LIMA -</p><p>Julgamento: 26/10/2023 - SETIMA CAMARA DE DIREITO PRIVADO (ANTIGA 12ª CÂMAR)</p><p>Apelação cível. Ação de rescisão contratual c/c indenizatória. Contratos de locação e de promessa de</p><p>cessão parcial dos direitos de uso da infraestrutura técnica do Shopping Center Park Sul. Alegação</p><p>autoral de descumprimento de obrigações contratualmente assumidas. Pleito de rescisão contratual e</p><p>indenização por danos materiais. Sentença de improcedência. Descabida a rescisão do contrato pela</p><p>alegada falta de cumprimento do contrato por parte doempreendedor,</p><p>06/03/2024 - Página 44 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>inclusive na fase pré-contratual, sobretudo em relação às prometidas lojas âncoras, que não abriram</p><p>ou inauguraram tempos após o início do funcionamento do shopping center. Documentos revelam</p><p>que, das oito lojas âncoras anunciadas apenas duas não foram inauguradas, sendo substituídas por</p><p>outras três grandes marcas. Previsão contratual acerca da ausência de garantia de inauguração e de</p><p>permanência das lojas âncoras anunciadas. Locatário que, ciente desta condição, optou por celebrar o</p><p>contrato e exercer suas atividades no local. Contrato de natureza empresarial, prevalecendo a alocação</p><p>dos riscos do negócio livremente dispostos pelas partes, noção interpretativa expressamente prevista</p><p>no art. 421-A, inciso II do Código Civil. Entrega das chaves efetuada antes do ajuizamento da ação,</p><p>constando expressamente o término da relação locatícia. Pretensão autoral que subsiste apenas quanto</p><p>ao pleito indenizatório. Não demonstrada a falta de prestação de contas por parte do empreendedor.</p><p>Cobranças mensais encaminhadas ao autor com expressa menção à disponibilidade da prestação de</p><p>contas na administração do shopping center. Não constatada que a eventual falta de manutenção dos</p><p>banheiros do andar térreo, registrada em ata notarial, tenha sido habitual, e não momentânea.</p><p>Inexistência de nexo causal entre os fatos elencados e o insucesso do negócio exercido pelo apelante.</p><p>Descabida a pretendida indenização. Negado provimento ao recurso.</p><p>(0015685-43.2020.8.19.0066 - APELAÇÃO. Des(a). CLÁUDIA TELLES DE MENEZES -</p><p>Julgamento: 30/05/2023 - QUARTA CAMARA DE DIREITO PRIVADO (ANTIGA 5ª CÂMARA)</p><p>06/03/2024 - Página 45 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 13 - Dia 01/03/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: THIAGO FERREIRA CARDOSO NEVES</p><p>13 Tema: CONTRATOS BANCÁRIOS. Característica. Operações bancárias. A intervenção do</p><p>Estado nos negócios bancários. Incidência do CDC. Contrato de utilização de cofre de segurança.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Isaac ajuizou ação em face do Banco Brasileiro S.A. narrando ser militar aposentado e titular de</p><p>conta-corrente junta à instituição ré realizando transações normais de débito e crédito que envolvem</p><p>relacionamentos dessa espécie. Aduziu que o contrato estabelece cheque especial, representando</p><p>crédito rotativo, no valor de R$ 3.000,00.</p><p>Expôs o demandante que, durante o relacionamento contratual com a ré foram firmadas várias</p><p>negociações, resultando em crédito pessoal e que, aceitando a sugestão do gerente para a obtenção de</p><p>juros menores do que os do cheque especial e para a cobertura de débitos existentes, firmou operação</p><p>para renovação e consignação, no valor de R$ 130.000,00, em 85 parcelas mensais e sucessivas de R$</p><p>2.543,56.</p><p>Esclareceu que os débitos vêm sendo efetuados em sua conta-corrente e, todo mês, depois que recebe</p><p>seus proventos, praticamente 50% do valor depositado é descontado para o pagamento da prestação</p><p>contratual, restringindo-se o montante da verba utilizada para satisfação de suas demais despesas</p><p>pessoais.</p><p>Afirma que o réu age como verdadeiro sócio de seus proventos, não se importando com a dignidade</p><p>da pessoa humana, devendo ser determinada a proibição dos descontos para pagamento do crédito</p><p>pessoal. Assim, pretende a limitação do desconto do empréstimo em sua conta-corrente.</p><p>A pretensão deve ser acolhida?</p><p>06/03/2024 - Página 46 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>Tema Repetitivo nº 1.085.</p><p>RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. PRETENSÃO DE</p><p>LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS DAS PARCELAS DE EMPRÉSTIMO COMUM EM CONTA-</p><p>CORRENTE, EM APLICAÇÃO ANALÓGICA DA LEI N. 10.820/2003 QUE DISCIPLINA OS</p><p>EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS EM FOLHA DE PAGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE.</p><p>RATIFICAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, COM</p><p>FIXAÇÃO DE TESE REPETITIVA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. PREJUDICADO O</p><p>RECURSO ESPECIAL DA DEMANDANTE, QUE PLEITEAVA A MAJORAÇÃO DA VERBA</p><p>HONORÁRIA.</p><p>1. A controvérsia inserta no presente recurso especial repetitivo está em definir se, no bojo de contrato</p><p>de mútuo bancário comum, em que há expressa autorização do mutuário para que o pagamento se dê</p><p>por meio de descontos mensais em sua conta-corrente, é aplicável ou não, por analogia, a limitação de</p><p>35% (trinta e cinco por cento) prevista na Lei n. 10.820/2003, que disciplina o contrato de crédito</p><p>consignado em folha de pagamento (chamado empréstimo consignado).</p><p>2. O empréstimo consignado apresenta-se como uma das modalidades de empréstimo com</p><p>menores</p><p>riscos de inadimplência para a instituição financeira mutuante, na medida em que o desconto das</p><p>parcelas do mútuo dá-se diretamente na folha de pagamento do trabalhador regido pela CLT, do</p><p>servidor público ou do segurado do RGPS (Regime Geral de Previdência Social), sem nenhuma</p><p>ingerência por parte do mutuário/correntista, o que, por outro lado, em razão justamente da robustez</p><p>dessa garantia, reverte em taxas de juros significativamente menores em seu favor, se comparado com</p><p>outros empréstimos.</p><p>2.1 Uma vez ajustado o empréstimo consignado em folha de pagamento, não é dado ao mutuário, por</p><p>expressa disposição legal, revogar a autorização concedida para que os descontos afetos ao mútuo</p><p>ocorram diretamente em sua folha de pagamento, a fim de modificar a forma de pagamento ajustada.</p><p>2.2 Nessa modalidade de empréstimo, a parte da remuneração do trabalhador comprometida à</p><p>quitação do empréstimo tomado não chega nem sequer a ingressar em sua conta-corrente, não tendo</p><p>sobre ela nenhuma disposição. Sob o influxo da autonomia da vontade, ao contratar o empréstimo</p><p>consignado, o mutuário não possui nenhum instrumento hábil para impedir a dedução da parcela do</p><p>empréstimo a ser descontada diretamente de sua remuneração, em procedimento que envolve apenas a</p><p>fonte pagadora e a instituição financeira.</p><p>2.3 É justamente em virtude do modo como o empréstimo consignado é operacionalizado que a lei</p><p>estabeleceu um limite, um percentual sobre o qual o desconto consignado em folha não pode exceder.</p><p>Revela-se claro o escopo da lei de, com tal providência, impedir que o tomador de empréstimo, que</p><p>pretenda ter acesso a um crédito relativamente mais barato na modalidade consignado, acabe por</p><p>comprometer sua remuneração como um todo, não tendo sobre ela nenhum acesso e disposição, a</p><p>inviabilizar, por consequência, sua subsistência e de sua família.</p><p>3. Diversamente, nas demais espécies de mútuo bancário, o estabelecimento (eventual) de cláusula</p><p>que autoriza o desconto de prestações em conta-corrente, como forma de pagamento, consubstancia</p><p>uma faculdade dada às partes contratantes, como expressão de sua vontade, destinada a facilitar</p><p>06/03/2024 - Página 47 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>aoperacionalização do empréstimo tomado, sendo, pois, passível de revogação a qualquer tempo pelo</p><p>mutuário. Nesses empréstimos, o desconto automático que incide sobre numerário existente em conta-</p><p>corrente decorre da própria obrigação assumida pela instituição financeira no bojo do contrato de conta-</p><p>corrente de administração de caixa, procedendo, sob as ordens do correntista, aos pagamentos de débitos</p><p>por ele determinados, desde que verificada a provisão de fundos a esse propósito.</p><p>3.1 Registre-se, inclusive, não se afigurar possível - consideradas as características intrínsecas do contrato</p><p>de conta-corrente - à instituição financeira, no desempenho de sua obrigação contratual de administrador</p><p>de caixa, individualizar a origem dos inúmeros lançamentos que ingressam na conta-corrente e, uma vez</p><p>ali integrado, apartá-los, para então sopesar a conveniência de se proceder ou não a determinado</p><p>pagamento, de antemão ordenado pelo correntista.</p><p>3.2 Essa forma de pagamento não consubstancia indevida retenção de patrimônio alheio, na medida em</p><p>que o desconto é precedido de expressa autorização do titular da conta-corrente, como manifestação de</p><p>sua vontade, por ocasião da celebração do contrato de mútuo.</p><p>Tampouco é possível equiparar o desconto em conta-corrente a uma dita constrição de salários, realizada</p><p>por instituição financeira que, por evidente, não ostenta poder de império para tanto. Afinal, diante das</p><p>características do contrato de conta-corrente, o desconto, devidamente avençado e autorizado pelo</p><p>mutuário, não incide, propriamente, sobre a remuneração ali creditada, mas sim sobre o numerário</p><p>existente, sobre o qual não se tece nenhuma individualização ou divisão.</p><p>3.3 Ressai de todo evidenciado, assim, que o mutuário tem em seu poder muitos mecanismos para evitar</p><p>que a instituição financeira realize os descontos contratados, possuindo livre acesso e disposição sobre</p><p>todo o numerário constante de sua conta-corrente.</p><p>4. Não se encontra presente nos empréstimos comuns, com desconto em conta-corrente, o fator de</p><p>discriminação que justifica, no empréstimo consignado em folha de pagamento, a limitação do desconto</p><p>na margem consignável estabelecida na lei de regência, o que impossibilita a utilização da analogia, com</p><p>a transposição de seus regramentos àqueles. Refoge, pois, da atribuição jurisdicional, com indevida</p><p>afronta ao Princípio da Separação do Poderes, promover a aplicação analógica de lei à hipótese que não</p><p>guarda nenhuma semelhança com a relação contratual legalmente disciplinada.</p><p>5. Não se pode conceber, sob qualquer ângulo que se analise a questão, que a estipulação contratual de</p><p>desconto em conta-corrente, como forma de pagamento em empréstimos bancários comuns, a atender aos</p><p>interesses e à conveniência das partes contratantes, sob o signo da autonomia da vontade e em absoluta</p><p>consonância com as diretrizes regulamentares expedidas pelo Conselho Monetário Nacional, possa, ao</p><p>mesmo tempo, vilipendiar direito do titular da conta-corrente, o qual detém a faculdade de revogar o</p><p>ajuste ao seu alvedrio, assumindo, naturalmente, as consequências contratuais de sua opção.</p><p>6. A</p><p>06/03/2024 - Página 48 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>pretendidalimitação dos descontos em conta-corrente, por aplicação analógica da Lei n. 10.820/2003,</p><p>tampouco se revestiria de instrumento idôneo a combater o endividamento exacerbado, com vistas à</p><p>preservação do mínimo existencial do mutuário.</p><p>6.1 Essa pretensão, além de subverter todo o sistema legal das obrigações - afinal, tal providência, a</p><p>um só tempo, teria o condão de modificar os termos ajustados, impondo-se ao credor o recebimento</p><p>de prestação diversa, em prazo distinto daquele efetivamente contratado, com indevido afastamento</p><p>dos efeitos da mora, de modo a eternizar o cumprimento da obrigação, num descabido dirigismo</p><p>contratual -, não se mostraria eficaz, sob o prisma geral da economia, nem sequer sob o enfoque</p><p>individual do mutuário, ao controle do superendividamento.</p><p>6.2 Tal proceder, sem nenhum respaldo legal, importaria numa infindável amortização negativa do</p><p>débito, com o aumento mensal e exponencial do saldo devedor, sem que haja a devida</p><p>conscientização do devedor a respeito do dito "crédito responsável", o qual, sob a vertente do</p><p>mutuário, consiste na não assunção de compromisso acima de sua capacidade financeira, sem que</p><p>haja o comprometimento de seu mínimo existencial. Além disso, a generalização da medida - sem</p><p>conferir ao credor a possibilidade de renegociar o débito, encontrando-se ausente uma política pública</p><p>séria de "crédito responsável", em que as instituições financeiras, por outro lado, também não</p><p>estimulem o endividamento imprudente - redundaria na restrição e no encarecimento do crédito, como</p><p>efeito colateral.</p><p>6.3 A prevenção e o combate ao superendividamento, com vistas à preservação do mínimo existencial</p><p>do mutuário, não se dão por meio de uma indevida intervenção judicial nos contratos, em substituição</p><p>ao legislador. A esse relevante propósito, sobreveio - na seara adequada, portanto - a Lei n.</p><p>14.181/2021, que alterou disposições do Código de Defesa do Consumidor, para "aperfeiçoar a</p><p>disciplina do crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do</p><p>superendividamento.</p><p>7. Ratificação da uníssona jurisprudência formada no âmbito das Turmas de Direito Privado do</p><p>Superior Tribunal de Justiça, explicitada por esta Segunda Seção por ocasião do julgamento do REsp</p><p>1.555.722/SP.</p><p>8. Tese Repetitiva: São lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta-</p><p>corrente, ainda que utilizada para recebimento de salários,</p><p>desde que previamente autorizados pelo</p><p>mutuário e enquanto esta autorização perdurar, não sendo aplicável, por analogia, a limitação prevista</p><p>no § 1º do art. 1º da Lei n. 10.820/2003, que disciplina os empréstimos consignados em folha de</p><p>pagamento.</p><p>9. Recurso especial da instituição financeira provido; e prejudicado o recurso especial da demandante.</p><p>(REsp n. 1.863.973/SP, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, julgado em</p><p>9/3/2022, DJe de 15/3/2022.)</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Rosemary Salen propôs ação de indenização por danos morais e materiais contra Banco Master S.A.,</p><p>afirmando que mantinha há mais de 30 anos cofre particular no qual depositava suas joias.</p><p>Relata a demandante que foi informada pela ré do roubo ocorrido nos cofres da agência bancária</p><p>situada na Avenida Rio Branco, Centro, no dia 28/08/2021. Assim, pretende o pagamento da</p><p>indenização por danos morais e materiais.</p><p>Em sua contestação, a instituição financeira defende a validade da cláusula expressa de limitação de</p><p>armazenagem dos bens e que os valores que excedessem ao limite estipulado deveriam ser</p><p>informados, e deveria ser contratado seguro em separado. Sustenta a inexistência de danos morais a</p><p>serem reparados.</p><p>Pergunta-se: é abusiva a cláusula meramente limitativa do uso do cofre locado, ou seja, aquela que</p><p>apenas delimita quais são os objetos passíveis de serem depositados e os limites da indenização?</p><p>06/03/2024 - Página 49 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO</p><p>ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. CONTRATO DE LOCAÇÃO DE COFRE. CLÁSULA</p><p>LIMITATIVA DE USO. ABUSIVIDADE. INEXISTÊNCIA. ASSALTO. AGÊNCIA BANCÁRIA.</p><p>ARROMBAMENTO E ESVAZIAMENTO DO COFRE. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.</p><p>LIMITAÇÃO DO DEVER DE INDENIZAR. DANO MATERIAL. CONTEÚDO LICITAMENTE</p><p>ARMAZENADO. JOIAS DE FAMÍLIA. VALOR SENTIMENTAL. DANOS MORAIS.</p><p>CONFIGURAÇÃO.</p><p>1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de</p><p>1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).</p><p>2. O contrato bancário de locação de cofre particular é espécie contratual mista que conjuga</p><p>características tanto de um contrato de depósito quanto de um contrato de locação, qualificando-se,</p><p>ainda, pela verdadeira prestação dos serviços de segurança e guarda oferecidos pela instituição</p><p>financeira locadora, ficando o banco locador responsável pela guarda e vigilância do recipiente</p><p>locado, respondendo por sua integridade e inviolabilidade.</p><p>3. A prática de crimes por terceiros que importem no arrombamento do cofre locado (roubo/furto)</p><p>constitui hipótese de fortuito interno, revelando grave defeito na prestação do serviço bancário</p><p>contratado, provocando para a instituição financeira o dever de indenizar seus consumidores pelos</p><p>prejuízos eventualmente suportados.</p><p>4. Não se revela abusiva a cláusula meramente limitativa do uso do cofre locado, ou seja, aquela que</p><p>apenas delimita quais são os objetos passíveis de serem depositados em seu interior pelo locatário e</p><p>que, consequentemente, estariam resguardados pelas obrigações (indiretas) de guarda e proteção</p><p>atribuídas ao banco locador.</p><p>5. A não observância, pelo consumidor, de regra contratual limitativa que o impedia de, sem prévia</p><p>comunicação e contratação de seguro específico, depositar no interior do cofre bens de valor superior</p><p>ao expressamente fixado no contrato exime o banco locador do dever de reparação por prejuízos</p><p>materiais diretos relativos à perda dos bens excedentes ali indevidamente armazenados. Precedente.</p><p>6. Agravo interno não provido.</p><p>(AgInt nos EDcl no AREsp n. 1.206.017/SP, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira</p><p>Turma, julgado em 25/11/2019, DJe de 27/11/2019.)</p><p>06/03/2024 - Página 50 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 14 - Dia 01/03/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: THIAGO FERREIRA CARDOSO NEVES</p><p>14 Tema: CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO. Sistema de cartão de crédito. Natureza</p><p>jurídica. Características. Direitos e obrigações das partes. Incidência do CDC.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Nos contratos de cartão de crédito celebrados entre Inter Administradora de Cartões de Crédito Ltda.</p><p>e seus clientes, há cláusula de mandato cuja validade está sendo contestada em ação coletiva proposta</p><p>pelo Ministério Público, sob a alegação de abusividade, por impor um terceiro na contratação de</p><p>produtos em nome do cliente e omitir ao mesmo a taxa de juros.</p><p>A defesa da administradora Inter sustenta estar obrigada a buscar recursos no mercado para financiar</p><p>as compras não pagas pelos clientes, quando estes resolvem optar pelo pagamento rotativo ou</p><p>parcelado; que a taxa de juros é informada antecipadamente na fatura do cartão. Aduziu ainda que</p><p>como não é instituição financeira, acaba arcando com o custo de captação do capital e repassá-lo aos</p><p>clientes, acrescido de outros encargos. Salienta que a cláusula-mandato é apenas um expediente para</p><p>possibilitar a contratação de crédito em favor do usuário e não é aplicada quando este liquida seus</p><p>débitos no vencimento.</p><p>Discorra sobre a ilegalidade/abusividade da cláusula-mandato inserida nos contratos de cartão de</p><p>crédito.</p><p>06/03/2024 - Página 51 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>A controvérsia resume em verificar a ilegalidade de cláusula-mandato que permite à operadora de</p><p>cartão de crédito que permite à operadora de cartão de crédito emitir título cambial contra o usuário</p><p>do cartão.</p><p>Inicialmente, é imprescindível esclarecer que o instituto jurídico da cláusula-mandato em sentido</p><p>amplo possui estipulações destinadas a três propósitos distintos.</p><p>O primeiro, inerente a todos os contratos de cartão de crédito, tenham ou não sido estabelecidos com</p><p>as instituições financeiras ou com administradoras de cartão private label, é aquele por meio do qual a</p><p>administradora/mandatária do cartão se compromete a honrar, mediante anuidade e até o limite do</p><p>crédito estipulado para aquele consumidor/mandante, o compromisso assumido por este perante</p><p>comerciantes ou prestadores de serviços.</p><p>O segundo, inerente aos contratos de cartão de private label, refere-se à autorização dada pelo</p><p>consumidor à administradora do cartão de crédito para que, em seu nome, obtenha recursos no</p><p>mercado financeiro para saldar eventuais dívidas e financiamentos advindos do uso do cartão.</p><p>O terceiro, reputado abusivo pelo ordenamento jurídico, diz respeito à atribuição de poderes às</p><p>administradoras/mandatárias do cartão de crédito para emissão de títulos de crédito em nome do</p><p>consumidor/mandante.</p><p>No caso, se discute o último propósito da cláusula-mandato, ou seja, a possibilidade de se conferir</p><p>poderes às administradoras de cartões de crédito para emissão de títulos de crédito e nome do</p><p>consumidor.</p><p>Tem-se por abusiva a cláusula-mandato que prevê a emissão de título de crédito, por parte do</p><p>mandatário contra o mandante, haja vista que tal procedimento expõe o outorgante à posição de</p><p>extrema vulnerabilidade, a ponto de converter-se em prática ilegítima, eis que dela resulta um</p><p>instrumento cambial apto a possibilitar a pronta invasão de seu patrimônio por meio da compensação</p><p>bancária direta ou pela via executiva, reduzindo, inegavelmente a sua capacidade defensiva,</p><p>porquanto possibilita a obtenção de seu crédito de forma mais célere, em detrimento dos princípios da</p><p>ampla defesa e do contraditório.</p><p>A regra do instituto do mandato é que o representante deve atuar em nome do representado,</p><p>respeitando e agindo dentro dos interesses do mandante, a fim de que não haja um conflito de</p><p>interesses, tal como o estabelecido quando o mandatário atua em seu próprio interesse, celebrando</p><p>contrato consigo mesmo ou autocontrato.</p><p>Assim, não pode o representante agir objetivando o seu</p><p>próprio interesse concernente ao saneamento</p><p>de eventual dívida, pois a cláusula-mandato para o saque de título cambial, por somente beneficiar o</p><p>mandatário, é considerada abusiva.</p><p>A propósito, o núcleo do conceito de abusividade presente no art. 51 do CDC está na existência de</p><p>encargos que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada perante o fornecedor, ou seja,</p><p>funda-se no desequilíbrio das posições contratuais. No caso, o desiquilíbrio decorre do monopólio da</p><p>produção das cláusulas encartadas no pacto pelo fornecedor e a nulidade da modalidade de cláusula-</p><p>mandato em comento se verifica em razão de sua potestatividade, uma vez que deixa ao alvedrio do</p><p>mandatárioa e</p><p>06/03/2024 - Página 52 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>expedição de cambial, sem que esteja presente a indicação prévia ao usuário do cartão, do fator</p><p>externo que concorreu para a emissão da cártula, dando ciência dos moldes segundo os quais fora</p><p>concebida.</p><p>Por isso que, atendo a esses fatos, a muito o STJ editou o enunciado nº 60 da Súmula: "É nula a</p><p>obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo</p><p>interesse deste".</p><p>Desse modo, a cláusula-mandato que possibilita ao mandatário a emissão de cambial contra o</p><p>mandante, mesmo quando inserida nos contratos de cartão de crédito, é inegavelmente abusiva, pois,</p><p>além de contrariar a própria natureza do mandato, ao posicionar de forma antagônica os interesses do</p><p>mandante e do mandatário, insere o consumidor/mandante em notória e exagerada desvantagem, o</p><p>que atenta contra a boa-fé e a equidade, violando o art. 51, IV do CDC.</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Fausto propôs ação de prestação de contas em face de Golden Administradora de Cartões de Crédito</p><p>S/A. alegando que os extratos mensais enviados pela ré eram insuficientes para o esclarecimento das</p><p>operações realizadas e dos encargos cobrados.</p><p>A contestação da ré baseou-se no fato de as faturas enviadas ao autor apresentarem todos os</p><p>lançamentos efetuados e previstos, sendo as taxas de juros publicadas através dos jornais.</p><p>Pergunta-se: independentemente do recebimento das faturas mensais, pode o titular do cartão acionar</p><p>judicialmente a administradora de cartão de crédito, objetivando receber a prestação de contas dos</p><p>encargos que lhe são cobrados? Justifique.</p><p>RESPOSTA:</p><p>AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE CARTÃO DE</p><p>CRÉDITO. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. POSSIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ.</p><p>AGRAVO NÃO PROVIDO.</p><p>1. Esta Corte Superior tem admitido a ação de prestação de contas em relação ao contrato de cartão de</p><p>crédito, para aferir a higidez dos encargos cobrados. Incidência da Súmula 83/STJ.</p><p>2. Agravo interno não provido.</p><p>(AgInt no AREsp 785.443/RJ, Rel. Ministro LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR</p><p>CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), QUARTA TURMA, julgado em 21/06/2018, DJe</p><p>29/06/2018)</p><p>06/03/2024 - Página 53 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>negar provimento ao recurso especial.</p><p>(AgInt no AREsp n. 2.333.794/SP, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em</p><p>25/9/2023, DJe de 28/9/2023.)</p><p>b)</p><p>Tema Repetitivo STJ n. 938:</p><p>RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL E DOCONSUMIDOR.</p><p>06/03/2024 - Página 4 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. VENDA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM ESTANDE DE</p><p>VENDAS. CORRETAGEM. SERVIÇO DE ASSESSORIA TÉCNICO-IMOBILIÁRIA (SATI).</p><p>CLÁUSULA DE TRANSFERÊNCIA DA OBRIGAÇÃO AO CONSUMIDOR. PRESCRIÇÃO</p><p>TRIENAL DA PRETENSÃO. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA.</p><p>1. TESE PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015: 1.1. Incidência da prescrição trienal sobre</p><p>a pretensão de restituição dos valores pagos a título de comissão de corretagem ou de serviço de</p><p>assistência técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere (art. 206, § 3º, IV, CC).</p><p>1.2. Aplicação do precedente da Segunda Seção no julgamento do Recurso Especial n. 1.360.969/RS,</p><p>concluído na sessão de 10/08/2016, versando acerca de situação análoga.</p><p>2. CASO CONCRETO: 2.1. Reconhecimento do implemento da prescrição trienal, tendo sido a</p><p>demanda proposta mais de três anos depois da celebração do contrato.</p><p>2.2. Prejudicadas as demais alegações constantes do recurso especial.</p><p>3. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.</p><p>(REsp n. 1.551.956/SP, relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, julgado em</p><p>24/8/2016, DJe de 6/9/2016.)</p><p>AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. SÚMULA</p><p>284/STF. NÃO INCIDÊNCIA. RECONSIDERAÇÃO DA DECISÃO DA PRESIDÊNCIA.</p><p>APELAÇÃO. RESCISÃO CONTRATUAL. COMISSÃO DE CORRETAGEM. PRESCRIÇÃO</p><p>TRIENAL. TERMO INICIAL. PAGAMENTO. SÚMULA 83/STJ. PERCENTUAL DE</p><p>RETENÇÃO. CULPA DO COMPRADOR. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO INTERNO PROVIDO.</p><p>AGRAVO CONHECIDO PARA NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL.</p><p>1. Agravo interno contra decisão da Presidência que não conheceu do agravo em recurso especial, por</p><p>incidência da Súmula 284/STF. Reconsideração.</p><p>2. A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que "o termo inicial da prescrição da pretensão de</p><p>restituição dos valores pagos parceladamente a título de comissão de corretagem é a data do efetivo</p><p>pagamento (desembolso total)" (REsp 1.724.544/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA</p><p>TURMA, julgado em 02/10/2018, DJe de 08/10/2018).</p><p>3. Conforme estabelecido no Tema 938/STJ, ocorre a "incidência da prescrição trienal sobre a</p><p>pretensão de restituição dos valores pagos a título de comissão de corretagem ou de serviço de</p><p>assistência técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere (artigo 206, § 3º, IV, CC)" (REsp</p><p>1.551.956/SP, Relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, julgado em 24/8/2016,</p><p>DJe de 6/9/2016).</p><p>4. A Segunda Seção do STJ, por ocasião do julgamento do REsp 1.723.519/SP (Rel. Ministra MARIA</p><p>ISABEL GALLOTTI), consolidou o entendimento de que, na rescisão de contrato de compra e venda</p><p>de imóvel por desistência do comprador, mesmo anteriormente à Lei 13.786/2018, deve prevalecer o</p><p>percentual de 25% (vinte e cinco por cento) de retenção pelo fornecedor, tal como definido no</p><p>julgamento dos EAg 1.138.183/PE (Rel. Ministro SIDNEI BENETI, DJe de 4.10.2012), por ser esse</p><p>percentual adequado e suficiente para indenizar o construtor das despesas gerais e do rompimento</p><p>unilateral do contrato.</p><p>5. Agravo interno provido para conhecer do agravo e negar provimento ao recurso especial.</p><p>(AgInt no AREsp n. 2.239.994/MS, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em</p><p>15/5/2023, DJe de 22/5/2023.)</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Caio celebrou contrato de corretagem com Euzébia, inserindo cláusula de exclusividade pelo prazo de</p><p>6 (seis) meses, a fim de que esta mediasse a venda de seu imóvel. Passados três meses, Euzébia,</p><p>embora diligente, não conseguiu o resultado pretendido.</p><p>Por sua vez, Caio, caminhando pela praia, encontrou um velho amigo, Tício, que se interessou pelo</p><p>imóvel, vindo a efetivar a compra do bem. Euzébia, ao saber do negócio jurídico celebrado, ajuizou</p><p>ação indenizatória em face de Caio, cobrando-lhe o percentual ajustado sobre o valor da venda do</p><p>imóvel a título de corretagem.</p><p>Diante do caso concreto, indaga-se:</p><p>a) Caio tem o dever jurídico de indenizar Euzébia por inadimplemento de obrigação contratual?</p><p>b) Na hipótese de Euzébia ter aproximado as partes e o negócio não ter se realizado por</p><p>06/03/2024 - Página 5 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>arrependimento de Caio, seria devida a corretagem?</p><p>RESPOSTA:</p><p>A) Sim. Caio deve pagar a Euzébio o percentual ajustado a título de corretagem. Isso porque, tendo</p><p>sido ajustada a cláusula de exclusividade, ainda que concluído o negócio diretamente entre as partes</p><p>sem a intermediação da corretora, Euzébia terá direito à remuneração integral pela sua corretagem,</p><p>salvo se comprovada sua inércia ou ociosidade, nos termos do Art. 726, do Código Civil.</p><p>B) Sim, pois mesmo que o negócio não fosse concluído por arrependimento de qualquer das partes, a</p><p>remuneração seria devida, conforme dispõe o art. 725, do Código Civil.</p><p>06/03/2024 - Página 6 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 03 - Dia 27/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: CLAUDIO LUIZ DE MIRANDA BASTOS FILHO</p><p>03 Tema: CONTRATOS DE AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO. Distinção. Obrigação do proponente e</p><p>do agente. Garantia de zona. Remuneração do agente.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Smallcell Telecom Comercial Ltda. ajuizou ação indenizatória em face de Belo Brasil S.A.,</p><p>objetivando a compensação pelos danos materiais e morais supostamente sofridos em razão do</p><p>inadimplemento contratual da ré.</p><p>Para tanto, alega a demandante ter firmado com a parte ré contrato de agenciamento em 2019,</p><p>renovando-o em 2020 por 24 (vinte e quatro) meses, prorrogáveis por períodos sucessivos de 12</p><p>(doze) meses, cujo objetivo era a distribuição de serviços da Alive, mediante a promoção e</p><p>comercialização dos produtos e serviços para sociedades empresárias com até 500 funcionários,</p><p>recebendo como contrapartida, comissões.</p><p>Informa que, em fevereiro de 2021, a ré, de forma unilateral, reduziu e retirou os clientes da carteira</p><p>da autora, resolvendo enquadrá-la em um novo perfil, sem qualquer aviso prévio. Argumenta que tal</p><p>manobra implica em infração contratual, quebra de contrato e rescisão unilateral do mesmo. Finaliza</p><p>alegando que, como consequência, a sua atividade econômica se tornou inviável.</p><p>Em sua defesa, a ré alega que o contrato firmado entre as partes é um contrato atípico e não de</p><p>"agência e distribuição", não se enquadrando no regramento dos artigos 710 a 721 do Código Civil.</p><p>Sustenta que as cláusulas foram livremente pactuadas e que não havia exclusividade ou outra cláusula</p><p>característica do contrato de distribuição.</p><p>No contrato entabulado entre as partes havia a seguinte previsão contratual como objeto da avença a</p><p>"distribuição dos serviços da ALIVE pelo DISTRIBUIDOR, pessoa jurídica independente que</p><p>desenvolve todas as atividades vinculadas à promoção e comercialização dos serviços exclusivamente</p><p>em relação ao mercado empresarial, (...), bem como as tarefas relacionadas com a contratação desse</p><p>serviço entre a ALIVE e o Cliente, às relações com este último e sua correta assistência e quaisquer</p><p>outras atividades conexas".</p><p>Diante do caso concreto apresentado, qual a natureza do contrato firmado entre as partes? Responda,</p><p>de forma fundamentada.</p><p>06/03/2024 - Página 7 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>Trata-se de um contrato de agência, que consiste na promoção e intermediação de certos negócios, à</p><p>conta e em favor do agenciado, em caráter não eventual e sem vínculos de dependência, mediante</p><p>retribuição, geralmente fixada em percentual sobre as transações efetivamente concretizadas.</p><p>Ensina o Prof. Humberto Theodoro Júnior, no artigo</p><p>"Do contrato de agência e distribuição no Novo</p><p>Código Civil", publicado na Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas</p><p>Gerais que: "Segundo a definição legal do contrato de agência, contida no art. 710 do Código Civil,</p><p>sua estrutura fundamental envolve a combinação de quatro elementos essenciais; a) o</p><p>desenvolvimento de uma atividade de promoção de vendas ou serviços por parte do agente, em favor</p><p>da empresa do comitente; b) o caráter duradouro da atividade desempenhada pelo agente</p><p>(habitualidade ou profissionalidade dessa prestação); c) a determinação de uma zona sobre a qual</p><p>deverá operar o agente; d) a retribuição dos serviços do agente em proporção aos negócios</p><p>agenciados. No caso, no contrato firmado entre as partes havia a previsão da clausula prevendo que o</p><p>objeto da avença seria "distribuição dos serviços da ALIVE pelo DISTRIBUIDOR, pessoa jurídica</p><p>independente que desenvolve todas as atividades vinculadas à promoção e comercialização dos</p><p>serviços exclusivamente em relação ao mercado empresarial, (...), bem como as tarefas relacionadas</p><p>com a contratação desse serviço entre a ALIVE e o Cliente, às relações com este último e sua correta</p><p>assistência e quaisquer outras atividades conexas".</p><p>Assim, embora conferida pelas partes ao pacto a nomenclatura de contrato de distribuição, trata-se</p><p>efetivamente, de ajuste visando o agenciamento pela autora dos serviços de telefonia móvel da Alive,</p><p>incidindo, portanto, à espécie, as disposições do Código Civil sobre o contrato de agência.</p><p>06/03/2024 - Página 8 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 04 - Dia 27/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: CLAUDIO LUIZ DE MIRANDA BASTOS FILHO</p><p>04 Tema: CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO. Exclusividade da representação. Comissão sobre</p><p>as vendas. Foro competente. Natureza do crédito na falência do representado.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Determinada sociedade limitada foi contratada por companhia aérea para a sua representação e venda</p><p>de passagens e serviços de transporte de cargas e fretamentos prestados por esta.</p><p>Após determinado período, a companhia aérea rescinde imotivadamente o contrato, o que faz com</p><p>que a referida sociedade limitada exija, judicialmente, a indenização prevista no art. 27, j, da Lei nº</p><p>4.886/65, com redação dada pela Lei nº 8.420/90, sob o argumento de tal norma ser de ordem pública,</p><p>de modo a prevalecer sobre a cláusula contratual que prevê a resilição sem ônus.</p><p>Por sua vez, a companhia aérea discorda da indenização pretendida, por entender que o contrato</p><p>firmado teria a natureza de simples agenciamento, característico de agências de viagens, que, em seu</p><p>entender, não se confundiria com a representação comercial.</p><p>Da análise do contrato, verifica-se que restou pactuado que a sociedade limitada desenvolveria as suas</p><p>atividades em benefício da companhia aérea e sempre se reportaria à matriz desta. Estabeleceu-se que,</p><p>para possibilitar o desempenho dos serviços contratados, a companhia aérea entregaria à sociedade</p><p>todos os formulários que se fizessem necessários. Foi prevista, ainda, exclusividade na prestação de</p><p>serviços, assim como a obrigação da agência de cumprir as normas expedidas pela companhia aérea,</p><p>de manter instalações compatíveis com o padrão por ela exigido e de vestir os seus empregados com</p><p>uniformes. Somado a isso, a sociedade limitada se obrigou a atender as agências de turismo, dentro do</p><p>limite geográfico estabelecido, inclusive fornecendo todas as orientações necessárias, quando da</p><p>abertura de crédito. Vê-se, ainda, registro da sociedade limitada no Conselho Regional dos</p><p>Representantes Comerciais.</p><p>Assiste ou não razão à companhia aérea? Responda, fundamentadamente.</p><p>RESPOSTA:</p><p>A atividade da empresa que, contratada por companhia aérea, vende passagens e serviços de</p><p>transportes de cargas e fretamentos prestados por esta, constitui representação comercial. Tendo a</p><p>representada rescindido imotivadamente o contrato, faz jus a representante à indenização prevista no</p><p>art. 27, ""j"", da Lei nº 4.886/65, com a redação dada pela Lei nº 8.420/92, eis que tal norma é de</p><p>ordem pública, prevalecendo sobre a cláusula contratual que prevê a resilição sem ônus.</p><p>06/03/2024 - Página 9 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Futuro Representações S/C ajuizou ação de indenização em face de Cia Ônix de Equipamentos</p><p>Eletrônicos, na qual alega diversos prejuízos oriundos da rescisão do contrato de representação por</p><p>justa causa, além do não pagamento de todas as verbas previstas em lei pela injusta rescisão.</p><p>Após a instrução probatória, restou comprovado que houve o descumprimento contratual pela</p><p>demandante, que violou cláusula proibitiva prevista na política interna da sociedade representada.</p><p>Pergunta-se: havendo resolução do contrato de representação comercial por justa causa, é devido o</p><p>pagamento do aviso-prévio previsto na Lei nº 4.886/65?</p><p>Responda à questão de acordo com o entendimento do STJ, apresentando a devida fundamentação.</p><p>06/03/2024 - Página 10 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>Acórdão paradigma:</p><p>RECURSO ESPECIAL Nº 1.190.425 - RJ (2010/0074677-7). RELATOR: MINISTRO LUIS</p><p>FELIPE SALOMÃO. EMENTA: RECURSO ESPECIAL. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL.</p><p>DENÚNCIA DO CONTRATO PELA RÉ POR JUSTA CAUSA. PRÉ-AVISO (ART. 34 DA LEI N.</p><p>4.886/1965). VERBA INDEVIDA.</p><p>1. Havendo o reconhecimento da justa causa para a rescisão do contrato de representação comercial, é</p><p>de se ter por inexigível a indenização correspondente à falta de aviso prévio. Precedentes.</p><p>2. Deveras, "o aviso prévio é incompatível com a argüição de falta grave cometida pela outra parte.</p><p>Assim, se cometida falta grave, a denúncia do contrato, seja de agência, seja de representação</p><p>comercial, terá natureza abrupta, rompendo-se o contrato tão logo a denúncia chegue ao</p><p>conhecimento da parte faltosa" (REQUIÃO, Rubens Edmundo. Nova regulamentação da</p><p>representação comercial autônoma. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 153).</p><p>3. Recurso especial provido.</p><p>TRECHOS DO ACÓRDÃO:</p><p>(...)</p><p>Nessa toada, afirma a recorrente que o reconhecimento da justa causa para a rescisão do contrato de</p><p>representação comercial acabou por afastar a verba indenizatória correspondente ao pré-aviso (art. 34</p><p>da Lei n. 4.886/1965).</p><p>Estabelece o proêmio do dispositivo que:</p><p>Art. 34. A denúncia, por qualquer das partes, sem causa justificada, do contrato de representação,</p><p>ajustado por tempo indeterminado e que haja vigorado por mais de seis meses, obriga o denunciante,</p><p>salvo outra garantia prevista no contrato, à concessão de pré-aviso, com antecedência mínima de</p><p>trinta dias, ou ao pagamento de importância igual a um têrço (1/3) das comissões auferidas pelo</p><p>representante, nos três meses anteriores.</p><p>Conforme se depreende da leitura, realmente, poderá haver, sem justo motivo, a denúncia do contrato</p><p>de representação por qualquer das partes, desde que concedido o aviso prévio de 30 dias ou</p><p>indenizado o prejudicado.</p><p>(...)</p><p>Nessa linha de intelecção, reconhecida a justa causa, também é de se ter por inexigível a indenização</p><p>correspondente a falta de aviso prévio.</p><p>Deveras, "o aviso prévio é incompatível com a argüição de falta grave cometida pela outra parte.</p><p>Assim, se cometida falta grave, a denúncia do contrato, seja de agência, seja de representação</p><p>comercial, terá natureza abrupta, rompendo-se o contrato tão logo a denúncia chegue ao</p><p>conhecimento da parte faltosa" (REQUIÃO, Rubens Edmundo. Nova regulamentação da</p><p>representação comercial autônoma. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 153).</p><p>(...)</p><p>Portanto, indevida a indenização pela falta do aviso prévio, correspondente a 1/3 (terça parte) das</p><p>comissões auferidas pelo representante nos últimos três meses de representação.</p><p>06/03/2024 - Página 11 de 53DIREITO</p><p>EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 05 - Dia 29/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: ALEXANDRE FERREIRA DE ASSUMPCAO ALVES</p><p>05 Tema: CONTRATO DE TRANSPORTE. Formação e classificação. Incidência do CDC.</p><p>Cláusulas abusivas. Transporte de passageiros. Direitos e obrigações do passageiro e do</p><p>transportador. Bilhete de passagem. Transporte benévolo e responsabilidade civil.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Mario propôs ação indenizatória em face de English Airlines INC. pleiteando danos materiais</p><p>decorrentes de danos ocorridos em sua bagagem durante o trajeto de transporte aéreo internacional</p><p>operacionalizado pela ré. Pretende ser indenizado no montante de R$ 30.000,00 (trinta mil reais)</p><p>Em sua contestação, a parte ré defendeu o regime de indenização tarifada prevista nas Convenções de</p><p>Varsóvia e de Montreal.</p><p>Autos conclusos, decida a questão abordando, necessariamente o mais recente entendimento das</p><p>Cortes Superiores sobre o tema.</p><p>06/03/2024 - Página 12 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO REGRESSIVA DE</p><p>RESSARCIMENTO DE DANOS - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO</p><p>AO RECLAMO. INSURGÊNCIA RECURSAL DA PARTE AUTORA.</p><p>1. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, "a pretensão indenizatória decorrente</p><p>de danos a cargas ou a mercadorias em transporte aéreo internacional está sujeita aos limites impostos</p><p>pela Convenção de Montreal, salvo se o expedidor da bagagem houver feito ao transportador uma</p><p>declaração especial de valor do objeto a ser entregue no lugar de destino, tendo pago uma quantia</p><p>suplementar, se cabível" (AgInt no AREsp n. 2.081.153/SP, relator Ministro Raul Araújo, Quarta</p><p>Turma, julgado em 12/12/2022, DJe de 14/12/2022.) - incidência do enunciado contido na Súmula</p><p>83/STJ.</p><p>2. Incorre no óbice contido na Súmula 7/STJ a pretensão voltada para aferir a ocorrência de dolo ou</p><p>culpa a autorizar a aplicação da regra prevista no art. 25, do Pacto de Varsóvia, ou, ainda, para</p><p>infirmar a ausência de declaração, pelo expedidor, do valor da carga transportada.</p><p>3. Segundo o entendimento jurisprudencial adotado por esta Colenda Corte, rever a proporção de</p><p>vitória/derrota das partes na demanda, para aferir a sucumbência recíproca ou mínima, implica em</p><p>revisão de matéria fática e probatória, providência inviável de ser adotada na presente esfera recursal,</p><p>ente o enunciado contido na Súmula 7/STJ.</p><p>4. Agravo interno desprovido.</p><p>(AgInt no AREsp n. 2.250.749/SP, relator Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em</p><p>29/5/2023, DJe de 1/6/2023.)</p><p>AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SEGURO. TRANSPORTE DE</p><p>COISAS. INDENIZAÇÃO PELO EXTRAVIO. VALOR INTEGRAL DO DANO MATERIAL.</p><p>APRESENTAÇÃO DE DECLARAÇÃO ESPECIAL DOS BENS OBJETO DO CONTRATO DE</p><p>TRANSPORTE. REVISÃO. SÚMULA 7 DO STJ. AGRAVO INTERNO PROVIDO.</p><p>1. Conforme entendimento desta Corte Superior, o art. 22, alínea 3, da Convenção de Montreal</p><p>estabelece que, no transporte de carga, a responsabilidade do transportador em caso de destruição,</p><p>perda, avaria ou atraso se limita a uma quantia de 17 Direitos Especiais de Saque por quilograma, a</p><p>menos que o expedidor haja feito ao transportador, ao entregar-lhe o volume, uma declaração especial</p><p>de valor de sua entrega no lugar de destino, e tenha pago quantia suplementar, se for cabível. Com</p><p>efeito, o Diploma transnacional</p><p>06/03/2024 - Página 13 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>nãoimpõe uma forçosa tarifação, mas faculta ao expedidor da mercadoria que se submeta a ela, caso</p><p>não opte por fazer declaração especial - o que envolve, em regra, pagamento de quantia suplementar.</p><p>Precedentes.</p><p>2. Na hipótese vertente, o Tribunal de origem, amparado nos elementos fático-probatórios dos autos,</p><p>concluiu que: "No caso dos autos, o valor das mercadorias avariadas foi declarado, pois constava da</p><p>fatura comercial mencionada no conhecimento de transporte. Também restou demonstrada a</p><p>reparação dos danos sofridos pela segurada e a consequente sub-rogação da apelada no direito dela.".</p><p>Assim, alterar o entendimento do acórdão recorrido demandaria, necessariamente, reexame de fatos e</p><p>provas dos autos, o que é vedado em sede de recurso especial, em razão do óbice da Súmula 7 do STJ.</p><p>3. Agravo interno provido.</p><p>(AgInt no AREsp n. 1.472.850/SP, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em</p><p>1/12/2020, DJe de 9/12/2020.)</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Sebastião e Antônio propuseram ação indenizatória em face da Viação Nascente Ltda, no qual</p><p>pretendiam ser indenizados por danos morais e materiais.</p><p>Aduzem como causa de pedir terem adquirido bilhete de passagem para o trajeto Rio de Janeiro -</p><p>Sorocaba e que, durante a parada para descanso do motorista e dos passageiros, na cidade de</p><p>Guaratinguetá, o preposto da ré teria partido com o coletivo, deixando-os em cidade diversa do seu</p><p>destino. Aduzem que o fato ocorreu de madrugada, causando-lhes danos diversos.</p><p>Restou incontroverso nos autos que os passageiros foram chamados pelo alto-falante para o</p><p>embarque.</p><p>Houve falha na prestação de serviços de transporte terrestre em virtude de o ônibus ter partido da</p><p>parada obrigatória deixando os passageiros?</p><p>Responda, de forma fundamentada. A mera menção ao artigo de lei não pontua.</p><p>06/03/2024 - Página 14 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>RECURSO ESPECIAL Nº 1.354.369 - RJ (2012/0225873-0). RELATOR: MINISTRO LUIS</p><p>FELIPE SALOMÃO. EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO ESPECIAL.</p><p>TRANSPORTE INTERESTADUAL DE PASSAGEIROS. USUÁRIO DEIXADO EM PARADA</p><p>OBRIGATÓRIA. CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR.</p><p>1. A responsabilidade decorrente do contrato de transporte é objetiva, nos termos do art. 37, § 6º, da</p><p>Constituição da República e dos arts. 14 e 22 do Código de Defesa do Consumidor, sendo atribuído</p><p>ao transportador o dever reparatório quando demonstrado o nexo causal entre o defeito do serviço e o</p><p>acidente de consumo, do qual somente é passível de isenção quando houver culpa exclusiva do</p><p>consumidor ou uma das causas excludentes de responsabilidade genéricas (arts. 734 e 735 do Código</p><p>Civil).</p><p>2. Deflui do contrato de transporte uma obrigação de resultado que incumbe ao transportador levar o</p><p>transportado incólume ao seu destino (art. 730 do CC), sendo certo que a cláusula de incolumidade se</p><p>refere à garantia de que a concessionária de transporte irá empreender todos os esforços possíveis no</p><p>sentido de isentar o consumidor de perigo e de dano à sua integridade física, mantendo-o em</p><p>segurança durante todo o trajeto, até a chegada ao destino final.</p><p>3. Ademais, ao lado do dever principal de transladar os passageiros e suas bagagens até o local de</p><p>destino com cuidado, exatidão e presteza, há o transportador que observar os deveres secundários de</p><p>cumprir o itinerário ajustado e o horário marcado, sob pena de responsabilização pelo atraso ou pela</p><p>mudança de trajeto.</p><p>4. Assim, a mera partida do coletivo sem a presença do viajante não pode ser equiparada</p><p>automaticamente à falha na prestação do serviço, decorrente da quebra da cláusula de incolumidade,</p><p>devendo ser analisadas pelas instâncias ordinárias as circunstâncias fáticas que envolveram o evento,</p><p>tais como, quanto tempo o coletivo permaneceu na parada; se ele partiu antes do tempo previsto ou</p><p>não; qual o tempo de atraso do passageiro; e se houve por parte do motorista a chamada dos viajantes</p><p>para reembarque de forma inequívoca.</p><p>5. O dever de o consumidor cooperar para a normal execução do contrato de transporte é essencial,</p><p>impondo-se lhe, entre outras responsabilidades, que também esteja atento às diretivas do motorista em</p><p>relação ao tempo de parada para descanso, de modo a não prejudicar os demais passageiros (art. 738</p><p>do</p><p>CC).</p><p>6. Recurso especial provido.</p><p>Trechos do Acórdão:</p><p>(...)</p><p>Sob esse enfoque, cinge-se a controvérsia em saber se houve falha na prestação do serviço de</p><p>transporte terrestre, em virtude de o ônibus ter ido embora da parada obrigatória deixando o</p><p>passageiro.</p><p>A responsabilidade decorrente do contrato de transporte é objetiva, nos termos do art. 37, § 6º, da</p><p>Constituição da República e do art. 22 do Código de Defesa do Consumidor, respectivamente:</p><p>§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos</p><p>responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito</p><p>de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.</p><p>Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob</p><p>qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços</p><p>06/03/2024 - Página 15 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>adequados,eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.</p><p>Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo,</p><p>serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste</p><p>código.</p><p>O art. 14 do mesmo diploma legal, referindo-se ao fornecedor de serviços em sentido amplo, estatui a</p><p>responsabilidade objetiva deste na hipótese de defeito na prestação do serviço, atribuindo-lhe o dever</p><p>reparatório desde que demonstrado o nexo causal entre o defeito do serviço e o acidente de consumo (fato</p><p>do serviço), do qual somente é passível de isenção quando houver culpa exclusiva do consumidor ou uma</p><p>das causas excludentes de responsabilidade genéricas - força maior ou caso fortuito externo - (c/c arts.</p><p>734 e 735 do CC).</p><p>Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos</p><p>danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por</p><p>informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.[...]</p><p>§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:</p><p>I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;</p><p>II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.</p><p>Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo</p><p>motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.</p><p>Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida por</p><p>culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.</p><p>Isso porque a responsabilidade do transportador baseia-se no risco, defluindo do contrato de transporte</p><p>uma obrigação de resultado que lhe incumbe de levar o transportado incólume ao seu destino (art. 730 do</p><p>CC).</p><p>É estreme de dúvida que cabe à concessionária a obrigação de levar o passageiro do local de embarque ao</p><p>de destino e zelar pela sua segurança durante o itinerário, atuando com cordialidade e presteza na</p><p>prestação do serviço, sendo ainda o usuário sujeito dos seguintes direitos: a) de ser transportado com</p><p>pontualidade, segurança, higiene e conforto, do início ao término da viagem; b) de ser atendido com</p><p>urbanidade pelos prepostos da transportadora e pelos agentes de fiscalização; c) de receber da</p><p>transportadora informações acerca das características dos serviços, tais como horários, tempo de viagem,</p><p>localidades atendidas, preço de passagem e outras relacionadas com os serviços (incisos VI, VIII e X do</p><p>Decreto n. 2.521/1998, que regula a exploração, mediante permissão e autorização, de serviços de</p><p>transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros):</p><p>Art. 29. Sem prejuízo do disposto na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, são direitos e obrigações</p><p>do usuário:</p><p>I - receber serviço adequado;</p><p>II - receber do Ministério dos Transportes e da transportadora informações para defesa de interesses</p><p>individuais ou coletivos;</p><p>II - receber da Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT e da transportadora informações para</p><p>defesa de interesses individuais ou coletivos;</p><p>III - obter e utilizar o serviço com liberdade de escolha;</p><p>IV - levar ao conhecimento do órgão</p><p>06/03/2024 - Página 16 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>defiscalização as irregularidades de que tenha conhecimento, referentes ao serviço delegado;</p><p>V - zelar pela conservação dos bens e equipamentos por meio dos quais lhes são prestados os serviços;</p><p>VI - ser transportado com pontualidade, segurança, higiene e conforto, do início ao término da viagem;</p><p>VII - ter garantida sua poltrona no ônibus, nas condições especificadas no bilhete de passagem;</p><p>VIII - ser atendido com urbanidade pelos prepostos da transportadora e pelos agentes de fiscalização;</p><p>IX - ser auxiliado no embarque e desembarque, em se tratando de crianças, pessoas idosas ou com</p><p>dificuldades de locomoção;</p><p>X - receber da transportadora informações acerca das características dos serviços, tais como horários,</p><p>tempo de viagem, localidades atendidas, preço de passagem e outras relacionadas com os serviços;</p><p>Contudo, no tocante à cláusula de incolumidade, esta se refere à garantia de que a transportadora irá</p><p>empreender todos os esforços possíveis no sentido de isentar o consumidor de perigo e de dano à sua</p><p>integridade física, mantendo-o em segurança durante todo o trajeto, até a chegada ao destino final.</p><p>Com efeito, recai sobre o transportador:</p><p>[...] o dever de entregar as pessoas ou coisas transportadas no estado em que as recebeu, tomando todas as</p><p>precauções possíveis para oferecer transporte seguro e com o mínimo de suscetibilidade possível a riscos.</p><p>O transportador se obriga a conduzir a pessoa ou coisa, de um local para outro, e entregá-la em seu</p><p>destino, em tempo certo e previamente estabelecido no horário publicado, ou segundo o estipulado,</p><p>devendo ainda guardar e conservar a coisa que lhe foi confiada, além de velar pela incolumidade da</p><p>pessoa transportada [...]. (TEPEDINO, Gustavo. Código civil interpretado conforme a Constituição da</p><p>República. Rio de Janeiro: Ed. Renovar, 2012, v. 2, p. 520-521).</p><p>Sergio Cavalieri Filho, no mesmo sentido, pontua:</p><p>Sem dúvida, a característica mais importante do contrato de transporte é a cláusula de incolumidade que</p><p>nele está implícita. [...] Tem o transportador o dever de zelar pela incolumidade do passageiro na extensão</p><p>necessária a lhe evitar qualquer acontecimento funesto, como assinalou Vivante, citado por Aguiar Dias.</p><p>[...]</p><p>Em suma, entende-se por cláusula de incolumidade a obrigação que tem o transportador de conduzir o</p><p>passageiro são e salvo ao lugar de destino. (CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade</p><p>civil. São Paulo: Ed. Atlas, 2010, p. 711-712)</p><p>(...)</p><p>Dessarte, a meu juízo, a mera partida do coletivo sem a presença do ora recorrido não pode ser equiparada</p><p>automaticamente à falha na prestação do serviço - decorrente da quebra da cláusula de incolumidade -,</p><p>devendo ser analisadas pelas instâncias ordinárias as circunstâncias fáticas que envolveram o evento, tais</p><p>como, exemplificadamente, quanto tempo o coletivo permaneceu na parada; se ele partiu antes do tempo</p><p>previsto; qual o tempo de atraso do recorrido; tendo em vista que, consoante expendido, a chamada dos</p><p>passageiros foi feita pelo alto-falante e que todos os demais usuários tiveram tempo suficiente para</p><p>reembarcar no ônibus.</p><p>Afinal, ao lado do dever principal de transladar os passageiros e suas bagagens até o local de destino com</p><p>cuidado, exatidão e presteza, há o transportador que observar os deveres secundários de cumprir o</p><p>itinerário ajustado e o horário marcado, sob pena</p><p>06/03/2024 - Página 17 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>deresponsabilização pelo atraso ou pela mudança de trajeto:</p><p>Art. 737. O transportador</p><p>está sujeito aos horários e itinerários previstos, sob pena de responder por</p><p>perdas e danos, salvo motivo de força maior.</p><p>Ademais, é relevante notar que, nos termos do art. 738 do CC:</p><p>Art. 738. A pessoa transportada deve sujeitar-se às normas estabelecidas pelo transportador, constantes no</p><p>bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo ou prejuízo</p><p>aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a execução normal do serviço.</p><p>Dessarte, o dever de o consumidor cooperar para a normal execução do contrato de transporte é essencial,</p><p>impondo-se-lhe, entre outras responsabilidades, que também esteja atento às diretivas do motorista em</p><p>relação ao tempo de parada para descanso, de modo a não prejudicar os demais passageiros.</p><p>Gustavo Tepedino elucida:</p><p>Cabe aos passageiros "cooperar em tudo quanto em si estiver para que o transporte se execute</p><p>normalmente" (Carvalho de Mendonça, Tratado, p. 82). Portanto, deve o passageiro de transporte</p><p>coletivo, em nome do interesse dos demais viajantes ao conforto e segurança, obedecer às regras</p><p>disciplinares, uma vez que assume, pelo simples fato de utilizar-se do veículo, obrigações geralmente</p><p>constantes de tabuletas, avisos ou recomendações, relativamente ao seu comportamento ou à forma de</p><p>utilização do serviço (Caio Mário da Silva Pereira, instituições, p. 332). (Op. cit., p. 539)</p><p>Nessa linha de intelecção, a pontualidade é não só um dever do transportador como também do</p><p>passageiro:</p><p>[...] que deve encontrar-se no dia e horário designados para o início da viagem, para a continuação dela,</p><p>ou para sair do veículo". Se faltar à hora de embarque, nada tem de indenizar-lhe o transportador; da</p><p>mesma forma, se deixar de voltar ao ponto de parada (Pontes de Miranda, Tratado, pp. 48-49).</p><p>(TEPEDINO, Gustavo. Op. cit., p. 539).</p><p>(...)</p><p>No caso, tendo havido o chamado em alto-falante, bem como o embarque tempestivo dos demais</p><p>passageiros, e ante a subjetiva fundamentação constante do acórdão recorrido - que, repita-se, entendeu</p><p>pela falha do serviço em decorrência da quebra da cláusula de incolumidade pela transportadora</p><p>recorrente -, parece-me medida mais escorreita a restauração da sentença, que concluiu pela culpa</p><p>exclusiva do recorrido decorrente da falta do dever de cuidado e pela inverossimilhança de suas alegações</p><p>(fl. 94):Inicialmente, não é crível que, se o autor e o informante tivessem ido imediatamente para o ônibus</p><p>após a primeira chamada pelo alto-falante, este já teria partido do local, uma vez que depois da chamada é</p><p>necessário aguardar que todos os passageiros embarquem no veículo e se acomodem em seus lugares.</p><p>Neste ponto, deve-se ressaltar que todos os outros passageiros regressaram tempestivamente ao coletivo.</p><p>Assim, verifica-se que o autor e seu amigo faltaram com o dever de cuidado quanto ao momento de</p><p>regresso ao ônibus. Se não sabiam quanto tempo podiam demorar dentro da loja da rodoviária, deveriam</p><p>ter perguntado ao motorista qual era o tempo da parada.</p><p>Em que pese o dever da ré de contar os assentos e efetuar a chamada para que os passageiros faltantes</p><p>retornem imediatamente para o coletivo, é certo que os passageiros também possuem a obrigação de agir</p><p>com atenção e responsabilidade durante</p><p>06/03/2024 - Página 18 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>asparadas, instruindo-se quanto ao seu tempo, de modo a evitarem o retardamento injustificado da</p><p>saída do coletivo. Não é razoável impor à empresa que penalize a maioria de seus consumidores em</p><p>razão da falta de cuidado de uma minoria.</p><p>Entendo que conclusão em sentido diverso franquearia ao consumidor de má-fé a possibilidade de</p><p>locupletamento ilícito, estimulando-o a não reembarcar no ônibus com o escopo de acionar o Poder</p><p>Judiciário para a percepção de indenização.</p><p>06/03/2024 - Página 19 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 06 - Dia 29/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: ALEXANDRE FERREIRA DE ASSUMPCAO ALVES</p><p>06 Tema: CONTRATO DE TRANSPORTE DE COISAS. Noções. Partes. Formação. Classificação.</p><p>Conhecimento de transporte. Obrigações e direitos dos contratantes. Responsabilidade civil do</p><p>transportador.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Vênus Comércio Varejista de Roupas Ltda. ME. ajuizou ação em desfavor de Transalfa Transportes</p><p>Ltda. EPP, pois contratou os serviços da parte ré para o transporte de 704 peças de vestuário, que</p><p>foram adquiridas na cidade de São Paulo da vendedora God Way Ind. e Com. de Roupas Ltda., no dia</p><p>29/03/2017, por R$ 33.720,00.</p><p>Segundo a demandante, as informações do documento auxiliar de conhecimento de transporte</p><p>eletrônico (DACTE) eram as mesmas da nota fiscal de venda, que indicava um volume de 36 fardos e</p><p>o peso de 790 kg. Contudo, no dia 04/04/2017, a ré entregou apenas 26 fardos de retalhos e, após ser</p><p>questionada sobre isso, relatou que foi vítima de uma fraude, pois alguém havia se passado por</p><p>representante da vendedora e trocado as mercadorias quando elas ainda se encontravam no seu</p><p>estabelecimento.</p><p>A autora afirmou que a ré se negou a ressarcir o prejuízo experimentado, motivo por que, ao final,</p><p>requereu que ela fosse condenada a pagar-lhe o valor despendido para a aquisição das peças de roupa.</p><p>A ré apresentou contestação, quando afirmou que recebeu o telefonema de uma funcionária da</p><p>vendedora, no mesmo dia em que coletou a mercadoria e que tal funcionária solicitou a devolução do</p><p>produto sob a justificativa de que houve um erro no embarque. Acrescentou que verificou junto à</p><p>Secretária de Fazenda de São Paulo que a nota fiscal relativa à venda foi retificada, algo que somente</p><p>poderia ser feito pela vendedora das roupas, e que os produtos indicados à troca correspondiam aos</p><p>dados do novo documento fiscal, quais seja, 26 fardos, pesando 590 kg. A nova mercadoria</p><p>encontrava-se com a mesma embalagem da anterior e com os lacres intactos, mas, ainda assim, exigiu</p><p>que o pedido de substituição fosse documentado, o que, contudo, não foi feito em virtude de a</p><p>funcionária alegar que se encontrava sem acesso à internet. Ressaltou que o gerente da parte autora</p><p>conferiu a mercadoria no momento da entrega e não fez qualquer ressalva, tendo a ela dirigido um</p><p>questionamento 24 horas após a entrega, quando o fato foi comunicado à autoridade policial.</p><p>Autos conclusos, decida a questão.</p><p>06/03/2024 - Página 20 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL. APELAÇÃO CÍVEL N° 0026085-96.2017.8.19.0042.</p><p>RELATORA: DESEMBARGADORA MARIA REGINA NOVA. APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO</p><p>CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTADOR. PRETENSÃO OBJETIVANDO</p><p>O PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANOS MATERIAIS. MERCADORIAS</p><p>TROCADAS MEDIANTE ARDIL DE TERCEIROS QUANDO JÁ ESTAVAM NO DEPÓSITO</p><p>DA TRANSPORTADORA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS.</p><p>INCONFORMISMO DA TRANSPORTADORA.</p><p>- A meu ver, sem razão a Recorrente.</p><p>- O transporte de carga é disciplinado pelos artigos 743 a 756 do Código Civil. No que diz respeito à</p><p>responsabilidade do transportador a controvérsia se subsumi ao disposto nas normas dos dispositivos</p><p>744, 749 e 750 do CC.</p><p>- São obrigações do transportador receber, transportar e entregar a coisa, emitir conhecimento de</p><p>transporte, bem como conferir a quantidade e espécie, sob pena de ser responsabilizado pela perda e</p><p>avaria da carga transportada.</p><p>- No caso em análise, os fatos são incontroversos, uma vez que a Recorrente não os nega. Apenas os</p><p>interpreta de modo a se exonerar de sua responsabilidade pela perda da carga.</p><p>- O depoimento da funcionária da Apelante, prestado em sede policial, forneceu um relato seguro e</p><p>coerente sobre a dinâmica dos fatos, que resultaram na perda dos produtos adquiridos pela Apelada, e</p><p>que estavam sob sua responsabilidade para o transporte</p><p>até o Rio de Janeiro.</p><p>- O DACTE (documento auxiliar de conhecimento de transporte eletrônico) nº 56670 da Apelante,</p><p>com frete a pagar, registra os dados da carga conforme indicado na nota fiscal de venda do fornecedor</p><p>da Apelada. Esse documento cria a presunção relativa de que as mercadorias nele discriminadas, e</p><p>com aposição do recibo, foram entregues ao transportador, sendo seu ônus a conferência dos</p><p>produtos, quantidade e peso da coisa.</p><p>- Assim, se após a coleta das mercadorias, e já em seu depósito para a transição do frete com destino</p><p>para o Rio de Janeiro, a Apelante permitiu, sem a observância das cautelas devidas, que os produtos</p><p>fossem trocados através de um ardil, deve ela ser condenada ao pagamento de indenização pelo dano</p><p>material causado à Apelada em decorrência da perda das peças.</p><p>- Ademais, a fraude utilizada por terceiros poderia ser facilmente identificada, mediante</p><p>procedimentos de checagem de informações e autorizações com o fornecedor e o adquirente das</p><p>mercadorias.</p><p>- Pontua-se, desse modo, que o transporte de carga é uma obrigação de resultado, sendo a</p><p>Transportadora responsável pelos bens que não chegaram ao seu destino, não podendo se esquivar da</p><p>sua própria ausência do dever de cuidado.</p><p>- RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Fácil Companhia de Seguros propôs ação indenizatória decorrente de contrato de transporte contra</p><p>XYZ Transportes S.A. Narra como causa de pedir que a atividade precípua da ré é o transporte</p><p>rodoviário de cargas e que, no dia 21/11/2021, um dos veículos da ré, que é segurado pela parte</p><p>autora, foi objeto de roubo à mão armada e que, em razão disso, teve de arcar com o pagamento do</p><p>seguro.</p><p>Em sua defesa, a parte ré sustenta que o roubo à mão armada seria excludente de responsabilidade</p><p>civil.</p><p>Com relação ao contrato de transporte, indaga-se: o roubo de carga em transporte rodoviário,</p><p>mediante o uso de arma de fogo exclui a responsabilidade da transportadora perante a seguradora,</p><p>mesmo quando se adotou todas as cautelas que dela se esperavam? Responda, de forma</p><p>fundamentada.</p><p>06/03/2024 - Página 21 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>Informativo 744 - 15/08/2022.</p><p>Tema: Transporte rodoviário. Roubo de carga. Adoção de todas as cautelas assecuratórias pela</p><p>transportadora. Agravamento do risco pelo segurado. Ato culposo ou doloso. Responsabilidade Civil.</p><p>Dever de indenização da seguradora. Exoneração.</p><p>DESTAQUE: O roubo de carga em transporte rodoviário, mediante uso de arma de fogo, exclui a</p><p>responsabilidade da transportadora perante a seguradora do proprietário da mercadoria transportada,</p><p>quando adotadas todas as cautelas que razoavelmente dela se poderia esperar, assim como a conduta</p><p>direta do segurado que agravar o risco da cobertura contratada, por ato culposo ou doloso, acarreta a</p><p>exoneração do dever da seguradora do pagamento da indenização.</p><p>INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR: O dissenso submetido à análise da Segunda Seção do STJ</p><p>diz respeito ao direito de indenização da seguradora sub-rogada nos direitos e ações da proprietária da</p><p>carga no caso de fortuito externo (roubo de carga com o emprego de arma de fogo), na hipótese de o</p><p>risco ser agravado pela transportadora.</p><p>O art. 393 do CC/2002 afasta a responsabilidade do devedor pelos prejuízos resultantes de caso</p><p>fortuito ou força maior, se expressamente não houver por eles se responsabilizado. No seu parágrafo</p><p>único, define caso fortuito ou força maior como o fato necessário, cujos efeitos não eram possíveis</p><p>evitar ou impedir.</p><p>O art. 768 do diploma civil, por sua vez, comina a perda do direito à garantia do segurado se ele</p><p>agravar intencionalmente o risco objeto do contrato, obrigando o segurado a se abster de todo e</p><p>qualquer ato que acarrete o agravamento dos riscos pactuados pelas partes.</p><p>O roubo, mediante uso de arma de fogo, é fato de terceiro equiparável a força maior, que exclui o</p><p>dever de indenizar, ainda que haja responsabilidade civil objetiva na situação em concreto. Trata-se</p><p>de fato inevitável, porém, previsível no transporte de cargas, tanto que há obrigatoriedade na</p><p>realização de seguro (art. 13 da Lei n. 11.442/2007).</p><p>A adoção de medidas de prevenção antecipada de sinistros está inserida no dever de colaboração</p><p>decorrente da boa-fé objetiva, resultando na perda do direito do segurado se ele agravar</p><p>intencionalmente o risco do objeto do contrato.</p><p>Desse modo, o roubo de carga exclui a responsabilidade da transportadora perante a seguradora do</p><p>proprietário da mercadoria transportada, quando adotadas todas as cautelas que razoavelmente dela se</p><p>poderia esperar.</p><p>Ademais, é pacífico o entendimento no sentido de que a conduta direta do segurado que agravar o</p><p>risco da cobertura contratada, por ato culposo ou doloso, acarreta a exoneração do dever da</p><p>seguradora do pagamento da indenização.</p><p>O posicionamento do Tribunal da Cidadania buscou, assim, solução razoável para equacionar o</p><p>problema da criminalidade do roubo de cargas, evitando a empresa proprietária da mercadoria</p><p>suportar todo o ônus da perda da carga, tampouco impor tal ônus a transportadora, que não presta</p><p>serviço de segurança à carga, mas de transporte, nem a seguradora, que é contratada por imposição</p><p>legal em razão do agravamento desenfreado do risco pelos envolvidos.</p><p>06/03/2024 - Página 22 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 07 - Dia 23/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: JUAN LUIZ SOUZA VAZQUEZ</p><p>07 Tema: CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. Noções gerais.</p><p>Disciplina legal. Partes. Requisitos do contrato. Inscrição. Inadimplemento. Constituição em mora</p><p>do fiduciante. Ação processual adequada. Alienação fiduciária de imóveis.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Banco Findis S.A. ajuizou ação de busca e apreensão amparada no Decreto-Lei nº 911/69 em</p><p>desfavor de Art Plásticos Comércio de Embalagens Plásticas Ltda., objetivando a consolidação da</p><p>propriedade fiduciária sobre o veículo caminhão, marca Iteco, ano/modelo 2020), dado em garantia a</p><p>dois contratos de cédula de crédito bancário, cujo saldo devedor corresponde a R$ 45.000,00.</p><p>O juízo da 34ª Vara Cível deferiu a liminar.</p><p>Regularmente citada, a parte ré compareceu aos autos e requereu a suspensão da liminar de busca e</p><p>apreensão, o que foi indeferido pelo juízo.</p><p>O veículo restou apreendido, tendo o réu, posteriormente, peticionado ao juízo informando ter tido</p><p>ciência de que o veículo apreendido fora vendido pelo banco, porém a instituição financeira não teria</p><p>lhe repassado o valor que sobejou da venda do bem, com o abatimento da dívida. Sustentou o</p><p>demandado que, de acordo com a tabela FIPE, o preço médio do veículo seria de aproximadamente</p><p>R$ 62.000,00 e, em razão da dívida atualizada perfazer aproximadamente o montante de R$</p><p>49.000,00, deveria lhe ser devolvida a importância de R$ 13.000,00. Com base em tais informações,</p><p>requereu que fosse expedido alvará.</p><p>Sobre o tema alienação fiduciária de bem móvel, responda:</p><p>1) Segundo o entendimento consolidado da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, como se</p><p>dá a purga da mora no contrato de alienação fiduciária de bens móveis após o advento da Lei nº</p><p>10.931/2004?</p><p>2) É cabível a discussão, de forma incidental, da prestação de contas quanto ao bem objeto da garantia</p><p>no bojo da própria ação de busca e apreensão?</p><p>As respostas devem ser justificadas e fundamentadas.</p><p>06/03/2024 - Página 23 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>1) O Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar o tema sob o rito dos recursos repetitivos, consolidou a</p><p>jurisprudência no sentido de que "compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após a execução da</p><p>liminar na ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida - entendida esta como os valores</p><p>apresentados e comprovado pelo</p><p>credor na inicial -, sob pena de consolidação da propriedade do bem</p><p>móvel objeto da alienação fiduciária".</p><p>Nesse sentido:</p><p>RECURSO ESPECIAL Nº 1.418.593 - MS (2013/0381036-4). RELATOR: MINISTRO LUIS</p><p>FELIPE SALOMÃO. EMENTA: ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. RECURSO</p><p>ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. AÇÃO DE</p><p>BUSCA E APREENSÃO. DECRETO-LEI N. 911/1969. ALTERAÇÃO INTRODUZIDA PELA LEI</p><p>N. 10.931/2004. PURGAÇÃO DA MORA. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE</p><p>PAGAMENTO DA INTEGRALIDADE DA DÍVIDA NO PRAZO DE 5 DIAS APÓS A</p><p>EXECUÇÃO DA LIMINAR.</p><p>1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: "Nos contratos firmados na vigência da Lei n.</p><p>10.931/2004, compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após a execução da liminar na ação de</p><p>busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida - entendida esta como os valores apresentados e</p><p>comprovados pelo credor na inicial -, sob pena de consolidação da propriedade do bem móvel objeto</p><p>de alienação fiduciária".</p><p>2. Recurso especial provido</p><p>Trechos do acórdão:</p><p>Com a vigência da Lei n. 10.931/2004, o art. 3º, parágrafos 1º e 2º, do Decreto-Lei n. 911/1969</p><p>passaram a estabelecer, in verbis:</p><p>Art 3º O Proprietário Fiduciário ou credor, poderá requerer contra o devedor ou terceiro a busca e</p><p>apreensão do bem alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, desde que</p><p>comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor.</p><p>§ 1º - Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput, consolidar-se-ão a propriedade e a</p><p>posse plena e exclusiva do bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições</p><p>competentes, quando for o caso, expedir novo certificado de registro de propriedade em nome do</p><p>credor, ou de terceiro por ele indicado, livre do ônus da propriedade fiduciária. (Redação dada pela</p><p>Lei 10.931, de 2004)</p><p>§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo</p><p>os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído</p><p>livre do ônus. (Redação dada pela Lei 10.931, de 2004</p><p>O texto atual do art. 3º, parágrafos 1º e 2º, do Decreto-Lei n. 911/1969 é de clareza solar no tocante à</p><p>necessidade de quitação de todo o débito, inclusive as prestações vincendas.</p><p>2) Não. As questões concernentes à venda extrajudicial do bem, imputação do valor alcançado no</p><p>pagamento do débito e apuração acerca de eventual saldo remanescente em favor do devedor, em</p><p>princípio, não podem ser discutidas, incidentalmente, no bojo da ação de busca e apreensão, que visa</p><p>tão somente a consolidação da propriedade do bem no patrimônio do credor fiduciário.</p><p>Nesse sentido:</p><p>AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. BUSCA E</p><p>APREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. VENDAEXTRAJUDICIAL.</p><p>06/03/2024 - Página 24 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>PRESTAÇÃO DE CONTAS NO ÂMBITO DA PRÓPRIA DEMANDA. INVIABILIDADE.</p><p>PRECEDENTES. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA.</p><p>AGRAVO INTERNO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.</p><p>(AgInt no REsp n. 1.866.396/MS, relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma,</p><p>julgado em 20/9/2021, DJe de 23/9/2021.)</p><p>PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.</p><p>ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 282/STF.</p><p>VENDA EXTRAJUDICIAL DO BEM. PRESTAÇÃO DE CONTAS. AÇÃO AUTÔNOMA.</p><p>1. Ação de busca e apreensão de veículo alienado fiduciariamente.</p><p>2. Ação ajuizada em 25/06/2018. Recurso especial concluso ao gabinete em 04/03/2020. Julgamento:</p><p>CPC/2015.</p><p>3. O propósito recursal é definir se o devedor fiduciante pode pleitear a prestação de contas relativa à</p><p>venda extrajudicial do bem alienado fiduciariamente no bojo da própria ação de busca e apreensão ou</p><p>se, ao revés, há a necessidade de ajuizamento de ação autônoma para tal desiderato.</p><p>4. A ausência de decisão acerca dos argumentos invocados pela recorrente em suas razões recursais</p><p>impede o conhecimento do recurso especial.</p><p>5. No caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais garantidas mediante alienação</p><p>fiduciária, o proprietário fiduciário ou credor poderá vender a coisa a terceiros, independentemente de</p><p>leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo</p><p>disposição expressa em contrário prevista no contrato, devendo aplicar o preço da venda no</p><p>pagamento de seu crédito e das despesas decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se</p><p>houver, com a devida prestação de contas.</p><p>6. As questões concernentes à venda extrajudicial do bem, imputação do valor alcançado no</p><p>pagamento do débito e apuração acerca de eventual saldo remanescente em favor do devedor não</p><p>podem ser discutidas, incidentalmente, no bojo da ação de busca e apreensão que, como se sabe, visa</p><p>tão somente à consolidação da propriedade do bem no patrimônio do credor fiduciário.</p><p>7. Assiste ao devedor fiduciário o direito à prestação de contas, dada a venda extrajudicial do bem,</p><p>porém tal pretensão deve ser perquirida pela via adequada, qual seja, a ação de exigir/prestar contas.</p><p>8. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, não provido, com majoração de</p><p>honorários.</p><p>(REsp n. 1.866.230/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 22/9/2020,</p><p>DJe de 28/9/2020.)</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Arnaldo propôs ação em face de ABC Incorporadora Ltda., objetivando a rescisão do contrato</p><p>particular de compra e venda de unidade imobiliária com pacto adjeto de alienação fiduciária e a</p><p>devolução dos valores pagos.</p><p>Regularmente citada, a parte ré apresentou contestação, na qual aduziu que, para resolver o</p><p>instrumento particular de contrato de compra e venda de imóvel com financiamento imobiliário e</p><p>pacto adjeto de alienação fiduciária, deveria prevalecer a Lei nº 9.514/97, lei especial que</p><p>regulamenta o contrato e estabelece que a única possibilidade de rescisão do contrato seria por meio</p><p>de leilão extrajudicial, previsto no art. 27 da mencionada lei.</p><p>Defende ainda que o procedimento de leilão extrajudicial teria sido previsto no instrumento particular</p><p>de compra e venda, razão pela qual a rescisão contratual e a devolução dos valores pagos deveriam se</p><p>conformar com o que dispõe o art. 27, § 4º da Lei nº 9.514/97.</p><p>Tendo em consideração o caso concreto apresentado, indaga-se:</p><p>a) É necessário o registro do contrato com cláusula de alienação fiduciária em garantia para que esta</p><p>seja constituída?</p><p>b) Caso o contrato com cláusula de alienação fiduciária não esteja registrado no Registro de Imóveis,</p><p>aplica-se a ele o art. 27 da Lei nº 9.514/97?</p><p>As respostas devem ser fundamentadas. A mera menção a dispositivo legal não pontua.</p><p>06/03/2024 - Página 25 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>Em se tratando de propriedade fiduciária de bem imóvel, regida pela Lei nº 9.514/97 verifica-se que a</p><p>garantia somente se constitui com o registro do contrato que lhe serve de título no registro imobiliário</p><p>do local onde o bem se situa. É o que dispõe expressamente o art. 23 da Lei nº 9.514/17, segundo o</p><p>qual "constitui-se a propriedade fiduciária de coisa imóvel mediante registro, no competente Registro</p><p>de Imóveis, do contrato que lhe serve de título".</p><p>E não poderia ser diferente, pois, no sistema adotado no país, seguindo a tradição romana, a</p><p>propriedade de bem imóvel, seja resolúvel ou não, apenas é adquirida, a título derivado e inter vivos,</p><p>com o registro do contrato no Cartório de Registro de Imóveis. O registro de fato, assim como ocorre</p><p>em relação aos demais direitos reais sobre imóveis, tem natureza constitutiva da propriedade</p><p>fiduciária.</p><p>Dessa forma, sem o registro do contrato no competente Cartório de Registro de Imóveis, há simples</p><p>crédito, situando-se no campo obrigacional, sem qualquer garantia real nem propriedade resolúvel</p><p>transmitida ao credor.</p><p>Assim, faz-se necessário o registro do contrato garantido por alienação fiduciária</p><p>para que o credor se</p><p>torne titular do domínio.</p><p>Nesse sentido:</p><p>Informativo 789, STJ - 03 de outubro de 2023.</p><p>EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. IMÓVEL.</p><p>COMPRA E VENDA. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. REGISTRO. AUSÊNCIA. EFEITOS ENTRE</p><p>OS CONTRATANTES. MANUTENÇÃO. ALIENAÇÃO EXTRAJUDICIAL. REGISTRO.</p><p>IMPRESCINDIBILIDADE.</p><p>1. A ausência do registro do contrato de alienação fiduciária no competente Registro de Imóveis não</p><p>lhe retira a eficácia, ao menos entre os contratantes, servindo tal providência apenas para que a avença</p><p>produza efeitos perante terceiros.</p><p>2. Ainda que o registro do contrato no competente Registro de Imóveis seja imprescindível à</p><p>constituição da propriedade fiduciária de coisa imóvel, nos termos do art. 23 da Lei nº 9.514/1997,</p><p>sua ausência não retira a validade e a eficácia dos termos livre e previamente ajustados entre os</p><p>contratantes, inclusive da cláusula que autoriza a alienação extrajudicial do imóvel em caso de</p><p>inadimplência.</p><p>3. O registro, conquanto despiciendo para conferir eficácia ao contrato de alienação fiduciária entre</p><p>devedor fiduciante e credor fiduciário, é, sim, imprescindível para dar início à alienação extrajudicial</p><p>do imóvel, tendo em vista que a constituição do devedor em mora e a eventual purgação desta se</p><p>processa perante o Oficial de Registro de Imóveis, nos moldes do art. 26 da Lei nº 9.514/1997.</p><p>4. A ausência de registro do contrato que serve de título à propriedade fiduciária no competente</p><p>Registro de Imóveis não confere ao devedor fiduciante o direito de promover a rescisão da avença por</p><p>meio diverso daquele contratualmente previsto, tampouco impede o credor fiduciário de, após a</p><p>efetivação do registro, promover a alienação do bem em leilão para só então entregar eventual saldo</p><p>remanescente ao adquirente do imóvel, descontados os valores da dívida e das demais despesas</p><p>efetivamente comprovadas.</p><p>5. Embargos de divergência não providos.</p><p>(EREsp n. 1.866.844/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi, relator paraacórdão</p><p>06/03/2024 - Página 26 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, julgado em 27/9/2023, DJe de 9/10/2023.)</p><p>b) Diante da ausência de registro do pacto adjeto de alienação fiduciária junto ao cartório de registro</p><p>de imóveis competente, não há a constituição da garantia na modalidade alienação fiduciária. Deste</p><p>modo, o direito real de garantia não se perfectibiliza e, portanto, a relação existente entre os</p><p>contratantes continua a ser uma relação de direito pessoal, o que afasta, portanto, a incidência do art.</p><p>27 da Lei nº 9.514/1997, que prevê o leilão extrajudicial para alienação do imóvel.</p><p>RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. RESCISÃO DE CONTRATO PARTICULAR DE</p><p>COMPRA E VENDA DE IMÓVEL COM PEDIDO DE DEVOLUÇÃO DAS QUANTIAS PAGAS.</p><p>CLÁUSULA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. AUSÊNCIA DE REGISTRO.</p><p>GARANTIA NÃO CONSTITUÍDA. VENDA EXTRAJUDICIAL DO BEM. DESNECESSIDADE.</p><p>APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA. ANÁLISE QUE ENCONTRA ÓBICE NA</p><p>SÚMULA 7/STJ.</p><p>1. Recurso especial interposto em 10/9/2021 e concluso ao gabinete em 16/12/2021.</p><p>2. O propósito recursal consiste em dizer se: a) é necessário o registro do contrato com cláusula de</p><p>alienação fiduciária em garantia para que esta seja constituída; e b) é aplicável à hipótese de venda de</p><p>imóvel com financiamento imobiliário e pacto adjeto de alienação fiduciária o Código de Defesa do</p><p>Consumidor, tendo em vista a Lei 9.514/97, legislação especial.</p><p>3. No ordenamento jurídico brasileiro coexiste um duplo regime jurídico da propriedade fiduciária: a)</p><p>o regime jurídico geral do Código Civil, que disciplina a propriedade fiduciária sobre coisas móveis</p><p>infungíveis, sendo o credor fiduciário qualquer pessoa natural ou jurídica; b) o regime jurídico</p><p>especial, formado por um conjunto de normas extravagantes, dentre as quais a Lei 9.514/97, que trata</p><p>da propriedade fiduciária sobre bens imóveis.</p><p>4. No regime especial da Lei 9.514/97, o registro do contrato tem natureza constitutiva, sem o qual a</p><p>propriedade fiduciária e a garantia dela decorrente não se perfazem.</p><p>5. Na ausência de registro do contrato que serve de título à propriedade fiduciária no competente</p><p>registro de imóveis, como determina o art. 23 da Lei 9.514/97, não é exigível do adquirente que se</p><p>submeta ao procedimento de venda extrajudicial do bem para só então receber eventuais diferenças do</p><p>vendedor.</p><p>6. No tocante à aplicação do Código de Consumidor à hipótese de venda de imóvel com</p><p>financiamento imobiliário e pacto adjeto de alienação fiduciária, é firme o entendimento dessa Corte</p><p>de que, em havendo inadimplemento do devedor em contrato de alienação fiduciária em garantia de</p><p>bens imóveis, a quitação da dívida deve se dar na forma dos arts. 26 e 27 da Lei 9.514/1997 - norma</p><p>posterior e mais específica -, afastando-se, por consequência, a regra genérica e anterior prevista no</p><p>art. 53, do Código de Defesa do Consumidor.</p><p>7. Na hipótese dos autos, diante da ausência de registro do pacto adjeto de alienação fiduciária junto</p><p>ao cartório de registro de imóveis competente e da conseguinte ausência de constituição da garantia</p><p>real, arelação existente entre as c</p><p>06/03/2024 - Página 27 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>ontratantes permanece sendo uma relação de direito pessoal.</p><p>8. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, não provido.</p><p>(REsp n. 1.976.082/DF, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 9/8/2022, DJe</p><p>de 12/8/2022.)</p><p>Tema Repetitivo n. 1.095:</p><p>RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA - ARTIGO 1.036 E</p><p>SEGUINTES DO CPC/2015 - TEMÁTICA ACERCA DA PREVALÊNCIA, OU NÃO, DO</p><p>CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NA HIPÓTESE DE RESOLUÇÃO DO CONTRATO</p><p>DE COMPRA E VENDA DE BEM IMÓVEL, COM CLÁUSULA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA</p><p>EM GARANTIA.</p><p>1. Para fins dos arts. 1036 e seguintes do CPC/2015 fixa-se a seguinte tese:</p><p>1.1. Em contrato de compra e venda de imóvel com garantia de alienação fiduciária devidamente</p><p>registrado em cartório, a resolução do pacto, na hipótese de inadimplemento do devedor, devidamente</p><p>constituído em mora, deverá observar a forma prevista na Lei nº 9.514/97, por se tratar de legislação</p><p>específica, afastando-se, por conseguinte, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor.</p><p>2. Caso concreto: É incontroverso dos autos, inclusive por afirmação dos próprios autores na exordial,</p><p>o inadimplemento quanto ao pagamento da dívida, tendo ocorrido, ante a não purgação da mora, a</p><p>consolidação da propriedade em favor da ré, devendo o procedimento seguir o trâmite da legislação</p><p>especial a qual estabelece o direito dos devedores fiduciários de receber quantias em função do</p><p>vínculo contratual se, após efetivado o leilão público do imóvel, houver saldo em seu favor.</p><p>3. Recurso Especial provido.</p><p>(REsp n. 1.891.498/SP, relator Ministro Marco Buzzi, Segunda Seção, julgado em 26/10/2022, DJe</p><p>de 19/12/2022.)</p><p>06/03/2024 - Página 28 de 53DIREITO EMPRESARIAL - CP04 - 04 - CPIV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPIV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO EMPRESARIAL</p><p>Sessão: 08 - Dia 23/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: JUAN LUIZ SOUZA VAZQUEZ</p><p>08 Tema: CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. Noções gerais. Elementos do</p><p>contrato. Disciplina legal. Natureza jurídica. Obrigação das partes. Pagamento de valor residual</p><p>garantido (VRG). Leasing-back. Arrendamento residencial.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Banco Sim S.A. propôs ação de reintegração de posse em face de André Davi objetivando a retomada</p><p>de veículo em virtude do inadimplemento de contrato de arrendamento mercantil.</p><p>O pedido de liminar foi deferido pelo juízo da 23ª Vara Cível.</p><p>Apesar das diligências, o réu e o bem não foram localizados, razão pela qual o autor postulou a</p><p>conversão da ação de reintegração de posse em ação de execução de título extrajudicial, o que foi</p><p>indeferido pelo</p>