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<p>UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA</p><p>‘JULIO DE MESQUITA FILHO’</p><p>ELEMENTOS DA LINGUÍSTICA PARA O TEXTO LITERÁRIO</p><p>Prof. Marco Antonio Domingues Sant’Anna</p><p>ANÁLISE E INTERTEXTUALIDADE ENTRE A MÚSICA</p><p>‘LIVROS’ , O CONTO ‘A TROCA’ E O TEXTO ‘A LEITURA POR SIMONE DE</p><p>BEAUVOIR’</p><p>Tarsilia Francisca Penheiro de Goes</p><p>2º Letras – 2º Semestre – Diurno</p><p>ASSIS</p><p>2024</p><p>Com o objetivo de analisar e intertextualizar a canção composta e cantada por Caetano Veloso, é importante saber um pouco da trajetória de vida do autor. Músico brasileiro, um dos criadores do Movimento Tropicalista no Brasil, cantou canções de destaque como “Leãozinho”, “Você é Linda” e “Sampa”. Nascido em Santo Amaro da Purificação – Bahia, a 07 de agosto de1942. Com 14 anos foi morar no Rio de Janeiro com a família. Em 1960, voltou para a Bahia, onde passou a cantar nos bares de Salvador e ingressou na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia. Em 1969, foi preso pela ditadura militar sob acusação de ter desrespeitado o Hino Nacional e a Bandeira, partindo para o exílio em Londres. Em 1997, lançou o álbum LIVROS com a canção Livros, a qual será analisada e intertextualizada com o conto A Toca – Lygia Bojunga Nunes, e o texto A Leitura por Simone de Beauvoir – Simone de Beauvoir.</p><p>A canção foi composta com case no último verso de Chão de Estrelas – composta em 1937 por Silvio Caldas e Orestes Barbosa, artistas da música brasileira.: E tu pisavas nos astros distraída/sem saber que a ventura desta vida/é a cabrocha, o luar/e o violão, sob a temática de uma desilusão que acometera a vida do palhaço, no Morro do Salgueiro – RJ. Sem a mulher amada que foi embora, o que restou foi o amontoado de lembranças dos dias em que compartilharam uma vida de pobreza, mas que era preenchida com a presença dela, apesar de toda falta que sofriam. Nos versos, a imagem das estrelas espelhadas no chão do barraco, apresenta uma visão de devaneio da favela, em versão romantizada da pobreza. A partir desse trecho, Caetano Veloso compôs a letra de Livros, obra que reflete sobre o poder transformador e transcendência da literatura. A figura que tropeça nos astros distraída pode ser tomada como metáfora para explicar alguém, que mesmo não tendo familiaridade com os livros, exercem efeitos significativos em sua vida. Apresenta o contraste da falta de livrarias na cidade e a influência profunda exercida pelos livros que entraram em sua vida, comparando à radiação de um corpo negro (que simboliza a expansão do conhecimento e do universo pessoal, através da leitura).</p><p>A 2ª estrofe, explora a dualidade humana: ventura e desventura, sugerindo que os livros e a contemplação: o luar contra a cultura, são essenciais para sobreviver a vida. Os livros são apresentados como elementos passíveis de serem amados, cultivados ou destruídos e, no entanto, seu valor independe de como são tratados, exercem profunda capacidade de influenciar. Podem tanto salvar quanto confundir quem os recebem. A canção remete nos versos em estantes, gaiolas, em fogueiras, à pressão que sofreu para escrever o livro Verdades Tropicais, e mais adiante: Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas, faz referência à produção do livro, que em meio a palavras inúteis, ele reconhece a grandeza da literatura bem estruturada.</p><p>Essa canção dialoga com o conto A Troca, escrito por Lygia Bojunga, escritora brasileira que nasceu em 1932, em Pelotas - RGS. Suas obras apresentam crítica social, monólogo interior, muita criatividade, o universo infantil e o feminino. Seu livro mais famoso: Bolsa Amarela. O conto A Troca faz parte da reunião de quatro contos que integram o livro intitulado Livros, publicado em 1984. As obras de Bojunga, aborda temas complexos, de maneira a torna-los mais perceptíveis e manipular a linguagem de fácil compreensão de leitores de todas as idades. O conto mostra uma troca espontânea de papéis identitários, elegendo uma narrativa experiencial de indivíduos que tentam superar as dificuldades tanto pessoais quanto sociais. Escolhe elementos imaginários para destacar o valor do conhecimento de sua própria fragilidade. Constrói uma narrativa rica em metáforas e simbolismos, reforçando uma amplitude dimensional que se aproxima do leitor. Frisa a construção como um processo da escrita. Nessa obra, a autora utiliza metáfora para comparar os sentimentos e situações, no trecho: De casa em casa, eu fui descobrindo o mundo (...) - a cada experiência vivida, constrói-se novas visões. Em: (...) devagarinho, me habituei com essa troca gostosa (...) – manifesta um sentimento de satisfação que a leitura traz, como se estivesse comendo algo que sacia suas necessidades. O objeto livro, adquire sentimento de afeto e cuidado, criando uma personificação do mesmo: (...) o livro agora alimentava a minha imaginação. (...) quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava. A ênfase que há, mas emoções ou situações, se dá pela intensificação da figura da hipérbole, encontrada no trecho: E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá/dentro pra brincar de morar em livro. “Morar em livro”, expressa de modo exagerado a intimidade e imersão que a própria Bojunga cultivava nos livros. A ironia, se encontra expressa no trecho: eu brincava de construtora, livro era tijolo;/em pé fazia parede, deitado, fazia degrau de escada;/inclinado, encostado num outro e fazia telhado./E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá/dentro pra de morar em livro. Essa figura é utilizada para representar o inverso do ato de brincar de construir casas com os livros sem atentar, que eles mesmos estariam construindo seus conhecimentos; os livros eram brinquedos e morar em livros, tinha uma significação que ia bem mais além, significando a sua imersão literária e crescimento interior.</p><p>De modo que, ambas as obras: Livros e A Troca, reforçam o conceito de que os livros são instrumentos de transformação, tanto no âmbito pessoal quanto no social. Mostram que a leitura amplia o ângulo de visão do leitor possibilitando novas perspectivas e proporcionando, tanto conhecimento quanto prazer aos receptores.</p><p>Seguindo a mesma linha de análise, o texto intitulado A Leitura por Simone de Beauvoir, expõe um nítido dialogismo com a música Livro, de Caetano Veloso. Para este trabalho, se torna considerável, conhecer o percurso de vida de Beauvoir. Escritora francesa, de caráter existencialista, nascida a 09 de janeiro de 1908 em Paris, na França, frequentou colégio católico e estudou matemática. A filosofia, o latim e a literatura também fizeram parte de seus estudos e de 1929 até 1943, foi professora de filosofia e iniciou sua carreira literária com a publicação do romance chamado A Convidada. Falecida em 14 de abril de 1986; em sua vida, foi ateia, feminista, defensora do amor de forma livre, e existencialista. Sua obra mais famosa foi de caráter teórico, sob o título de O Segundo Sexo.</p><p>No texto de Beauvoir, pode se identificar figuras de linguagem, como a metáfora, a qual a autora frequentemente utiliza em suas obras, para ilustrar a experiência da leitura e compará-la a uma viagem que permite conhecer mundos e perspectivas diferentes. Nos fragmentos, em todo o texto, pode se verificar a seguir: (...) a chave que me abria o mundo. (...) a metamorfose dos pequenos sinais pretos, numa palavra que me joga no mundo, que traz o mundo para dentro de minhas quatro paredes. (...) para que adquiram vida, é preciso que eu lhes dê um sentido (...). (...) o livro lhe proporciona riquezas imprevisíveis. (...) e é possível que transcorram séculos antes que me reencontre, a duas ou três horas de distância, neste lugar do qual não saí. Todas essas pequenas partes do texto, querem significar que a leitura é uma forma muito aberta para transcender ao mundo material, para adentrar o mundo dos sentidos, em que o leitor tem sua experiência de modo direto com a troca de conhecimentos que a leitura oferece. A transformação ocorre à medida em que a semântica toma vida e aguça as percepções, tornando possível que a distância e o tempo não existam e o</p><p>ato de ler se transforma em riquezas de conhecimentos.</p><p>A figura da personificação está presente como se fosse um mago a transportar o leitor para situações reais, através de uma magia transformadora, como esses fragmentos exemplificam: Ela me anunciava meu futuro: identificando-me com heroínas de romance (...); E eis que me ocorre a surpreendente aventura relatada por alguns sábios taoístas (...); (...) apenas um volume em minha mão -, cria relações novas e duráveis entre mim e as coisas.</p><p>Em alguns trechos, é utilizada a figura da hipérbole, a qual enfatiza a intensidade com que se dão as experiências e em que se vivem as emoções dentro da leitura, destacando acentuadamente o impacto gerado no leitor: Nos momentos ingratos de minha juventude, salvou-me da solidão. Mais tarde, ajudou-me a ampliar meus conhecimentos, a multiplicar minhas experiências, a compreender melhor minha condição de ser humano (...); Abro as cortinas do meu quarto, deito-me num divã, tudo em volta deixa de existir, (...); durante séculos viajavam de cume em cume, através da terra inteira e até o céu, (...).</p><p>Beauvoir faz uso da antítese, quando contrasta a realidade do cotidiano com o imaginário que cria outros mundos por meio da leitura, definindo de maneira clara as diferenças entre a vida real e as experiências que cada leitor vive literariamente. Os trechos que exemplificam são os seguintes: Hoje, minha vida está realizada, minha obra está realizada, (...); (...) continuo lendo muito: pela manhã, à tarde, antes de começar a trabalhar, (...); Leio esse pequeno anúncio e a França se povoa de máquinas de escrever e de jovens desempregadas; (...) tenho consciência de que colaboro com o autor para fazer existir a página que decifro: agrada-me contribuir para a criação do objeto que usufruo.</p><p>Em resumo, a música de Livros, de Caetano e o texto A Leitura por Simone de Beauvoir, de Beauvoir, dialogam no sentido de que ambos valorizam a leitura por sua capacidade impactante de transformar a vida de todos aqueles que amam a literatura.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BOJUNGA, Lygia. Tchau: A Troca. Casa Lygia Bojunga: Rio de Janeiro, 2004. COSSON, Rildo. O Espaço da Literatura na Sala de Aula. Disponível em:</p><p>FRAZÃO, Dilva. Biografia de Caetano Veloso. Atualizado em 12 de fev. de 2024. Disponível em:</p><p>https://www.ebiografia.com/caetano_veloso/</p><p>SOUZA, Warley. Simone de Beauvoir: biografia, obras e frases. Brasil Escola, 16 de ago. 2024. Disponível em:</p><p>https://brasilescola.uol.com.br/literatura/simone-de-beauvoir.htm</p><p>image1.png</p>

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