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<p>a possibilidade de diplomas federais, estaduais e municipais, re- gulando os respectivos tributos, estabelecerem outras medidas Capítulo XVII assecuratórias, em função da natureza ou das características do gravame a que se reportem (art. 183, caput). E o crédito, com as Garantias e Privilégios garantias que reforçarem o teor de sua efetivação prática, não perde, por isso, a natureza tributária. É o que firma o preceito do do Crédito Tributário parágrafo único do art. 183 do Código Tributário Nacional, in verbis: A natureza das garantias atribuídas ao crédito tributário não altera a natureza deste nem a da obrigação tributária a que corresponda. A nos parece desnecessária, sobre con- Sumário: 1. Garantias do crédito tributário. 2. Garantias ter, outra vez, a dualidade entre crédito e obrigação, que tantas no CTN e outras garantias expressamente previstas em lei. 3. questões pode levantar. Não faria senso admitir que o crédito Bens que respondem pelo pagamento do crédito tributário. 4. tributário, assegurado por garantia real ou fidejussória, tivesse Presunção de fraude na alienação de bens. 5. Os privilégios do alterada a sua índole, perdendo caráter inicial. Pior ainda ima- crédito tributário. 6. O crédito tributário nos processos de fa- ginar que a modificação se operasse no próprio vínculo lência do devedor. 7. O crédito tributário nos processos de in- ventário, de arrolamento e na liquidação das pessoas jurídicas. obrigacional em que irrompeu o direito subjetivo do credor, que 8. Necessidade de quitação. chamamos de crédito. Interessante discussão que se vê às voltas do tema, e que 1. GARANTIAS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO adquire importância no instante mesmo de análise deste traba- lho, é o instituto do arrolamento de bens no regime do direito O Código Tributário Nacional reservou os arts. 183 a 193, tributário. Com efeito, valendo-se da competência para editar em duas seções do Capítulo VI, para disciplinar as garantias e normas sobre tópico, autorizado enunciado não exclui os privilégios inerentes ao crédito tributário. Por garantias de- outras que sejam expressamente previstas em lei no corpo do vemos entender os meios jurídicos assecuratórios que cercam o caput do art. 183, o Legislador ordinário entendeu por bem pres- direito subjetivo do Estado de receber a prestação do tributo. E crever na Lei n. 9.532/97 o procedimento a ser observado pela por privilégios, a posição de superioridade de que desfruta Autoridade Administrativa para arrolar bens do contribuinte. crédito tributário, com relação aos demais, excetuando-se os De acordo com a redação do enunciado do art. 64 da referida decorrentes da legislação do trabalho. Vê-se aqui, novamente, a lei, a Autoridade Administrativa está munida de competência presença daquele princípio implícito, mas de grande magnitu- para arrolar bens do contribuinte devedor sempre que valor de, que prescreve a supremacia do interesse público. dos créditos tributários de sua responsabilidade for superior a trinta por cento do seu patrimônio conhecido. Estabelece a norma, portanto, um limite objetivo para traçar as possibilida- 2. GARANTIAS NO CTN E OUTRAS GARANTIAS des deste procedimento administrativo. Levantados os bens do EXPRESSAMENTE PREVISTAS EM LEI contribuinte pelo Fisco e verificando-se que a dívida fiscal da- quele encontra-se em patamar superior a 30% do seu patrimônio, Segundo dispositivo do art. 183 do CTN, a enumeração deve a Administração Pública arrolar os bens, com fim de das garantias ao crédito tributário na Lei n. 5.172/66 não exclui assegurar a realização do crédito 636 637</p><p>Há que se mencionar também outro requisito, cumulativo ceiros, podendo causar dificuldades na consecução de suas ati- ao primeiro, que impõe novo limite objetivo: a soma de crédi- vidades negociais. tos deve ter valor superior a $ 500.000,00 (quinhentos mil Partindo da premissa segundo a qual o arrolamento é um reais), conforme preceituado no § do art. 64 da referida lei. procedimento administrativo da ordem dos vinculados, este deve Com efeito, arrolamento só se aplica quando valor total da guardar estreita observância ao regime jurídico constitucional dívida do contribuinte for superior a R$ 500.000,00, o que nos atribuído aos atos administrativos do Fisco. Posto isto, deverá permite asseverar haver cumulativamente dois requisitos im- observar os princípios do contraditório, da ampla defesa e do prescindíveis para a autoridade fiscal competente proceder ao devido processo legal. E tal assertiva não encerraria qualquer arrolamento de bens e direitos do sujeito passivo: o valor dos curiosidade, uma vez que é cediço o princípio, segundo o qual, créditos tributários de sua responsabilidade (i) ser superior a em toda aplicação de um novo ônus ao contribuinte, que toca trinta por cento do seu patrimônio conhecido; e (ii) ultrapassar os direitos patrimoniais deste, deve-se proceder a uma verifica- o quantum de R$ 500.000,00. No plano lógico, frise-se, esse ção contraditória, em consonância com inúmeros postulados, "e" funciona como conjuntor, sendo a ocorrência das duas refe- ridas condições imprescindível para que se dê a Administração entre eles o da ampla defesa e do devido processo legal. Com Pública por competente para proceder ao arrolamento dos bens. supedâneo nesses ditames, apreendidos em toda a sua Inexistindo uma só dessas condições, ainda que ocorra a outra, abrangência, é que emerge a necessidade de conferir-se ampla não se tem por admissível a adoção do procedimento. defesa ao administrado, não só como requisito erigido nos sis- temas liberais, em homenagem à pessoa humana do particular, Convém esclarecer ainda que assunto tem se mostrado mas, sobretudo, como disposição técnica para assegurar a efe- bastante controverso, discutindo-se sobre a constitucionalidade tiva e correta aplicação da "legalidade objetiva", dando mar- deste artigo em face dos direitos individuais que protegem a gem a que o contribuinte possa exibir o teor de juridicidade e o figura do contribuinte em planos executórios. Segundo enten- fundamento de justiça das pretensões deduzidas em Juízo. São dimento dos doutrinadores que defendem a constitucionalidade preceitos que devem aplicar-se com assomas de princípio capi- do art. 64 da Lei n. 9.532/97, o arrolamento não só traz benefi- tal ao procedimento administrativo tributário e, maior especia- cio ao Fisco, garantindo a realização do crédito tributário, como lidade, os de caráter vinculado como é o caso do também protege direitos de terceiros, sem que com isso viole as garantias da propriedade e os princípios da ampla defesa e Cumpre enumerar, aqui, que são três os efeitos jurídicos do devido processo legal. O registro do arrolamento na concretos e imediatos do arrolamento: cula do bem imóvel confere publicidade ao ato e, com isso, (i) obrigar o contribuinte a declarar perante a Receita todo divulga a situação real do bem a terceiros, isto é, existência de ato de alienação ou oneração de seus bens, sob pena de dívidas tributárias gravando o objeto. Neste sentido, segundo ajuizamento de medida cautelar fiscal; esta percepção, o arrolamento nada mais seria que uma medida meramente acautelatória e de interesse público, que traz bene- (ii) dar publicidade ao gravame do bem arrolado, decor- ficios a todos, sem que implique indisponibilidade dos bens ao rência do próprio registro obrigatório; e mais; proprietário. Sobre viés diverso, é exatamente essa publicidade (iii) certificar a existência do arrolamento nas certidões que macula de inconstitucionalidade o arrolamento de bens, já emitidas pela Receita Federal (§§ 3.° a do art. 64 da Lei n. que expõe a situação patrimonial do contribuinte perante ter- 9.532/97). 638 639</p><p>Na primeira hipótese, se de um lado a Lei n. 9.532/97 insti- tui arrolamento, averbado nos órgãos públicos de registro dos natureza, o julgador deve verificar se a tutela é realmente ne- bens imóveis para gravar bem do contribuinte em da cessária, considerando a plausibilidade do direito alegado (fumus dívida fiscal; de outro, CPC confere à Receita tutela de medida boni bem como o possível comprometimento do resulta- cautelar fiscal para assegurar o cumprimento do débito. São, por- do final, demandando medida urgente para afastar algum peri- tanto, duas formas de proteção, conferidas à Administração Pú- go, incompatível com o tempo necessário para que a ação seja blica, em face de um contribuinte que nada tem para resguardá- decidida definitivamente (periculum in mora). -lo que não sejam seus direitos constitucionalmente declarados e protegidos. Com vemos uma clara desigualdade assecuratória São elementos característicos da tutela cautelar: (i) já que não possui um fim em si mesma, des- entre Fisco e Na esteira desse pensamento, temos que a isonomia opera justamente nessas situações, acionando a tinando-se a assegurar os efeitos advindos de outro processo; (ii) pois não se reveste de caráter definitivo, proporcionalidade e, com isso, temperando as desigualdades ju- durando somente até que se oportunize a prolação de decisão rídicas entre os sujeitos de direito. A equidade, como critério de há de levar-se em conta também entre Fisco e contribuin- no processo principal; (iii) revogabilidade na medida em que a te no procedimento ao tratarmos de assunto tão sentença no processo cautelar não forma coisa julgada materi- complexo como este, com intuito de que também os contribu- al, podendo ser substituída, modificada ou revogada (arts. 805 intes vejam resguardados seus direitos. e 807 do CPC), desde que os pressupostos fácticos o determi- nem; e (iv) autonomia, pela circunstância de que sua função e Em meu entender, a previsão do arrolamento de bens, em resultado não se confundem nem estão implicados naquele line- sede é causa de desigualdades na relação Fisco rente ao processo e contribuinte, ferindo os princípios da isonomia, da razoabilidade e da Restringindo de forma Vê-se, pois, que a medida cautelar cumpre, no sistema tri- exagerada o patrimônio privado, o legislador ao pre- butário brasileiro, a função de garantir o crédito tributário, sem ver a figura do arrolamento. esqueceu-se de que Fisco já tinha que com isso deixe de preservar os direitos e garantias individu- alternativas para preservar a dívida fiscal e esta se dava com a ais do contribuinte assentados na Constituição Brasileira de medida Falemos um pouco sobre ela. despicienda a previsão de nova forma de onerar o contribuinte para a garantia do cumprimento da dívida Nesta medida, a A tutela cautelar é medida processual que tem por objetivo previsão do arrolamento de bens pela Lei n. 9.532/97 não só fere garantir resultado final de processo diverso ao dela, conferin- do àquele eficácia e utilidade. Diferentemente das decisões os direitos de propriedade do como também atinge declaratórias ou condenatórias. a cautelar não visa à declara- os princípios da razoabilidade e da aplicados aos atos administrativos vinculados, segundo os quais deve ha- ção, constituição ou realização coativa do direito. Seu objetivo é garantir o resultado final de outro processo, de conhecimento ver adequação entre o meio empregado e o fim que se deseja ou de execução. portanto, outra tutela, cujo efeito alcançar, e que encontram aplicação em todo raciocínio jurídico. visa a resguardar. Essa modalidade de demanda justifica-se nas E, no que pertine à modalidade penhora online, a ideia situações em que a demora para a solução da lide pode compro- não diverge. Sendo meio, a penhora deve guardar relação com meter a efetividade da decisão. Por isso, diante de pedido de tal a sua finalidade, qual seja, tão só garantir a dívida fiscal em decorrência do inadimplemento. Com todos os efeitos que one- 640 641</p><p>ram e agravam a situação jurídica do contribuinte, vê-se, pois, que a penhora online é medida excessiva em relação ao fim I os bens inalienáveis e os declarados, por ato almejado pela Administração Pública. voluntário, não sujeitos à execução; II as provisões de alimento e de combustível, Sobre os efeitos do arrolamento de bens, vale registrar, ain- necessárias (está na lei) à manutenção do devedor e de da, que as certidões fiscais expedidas em nome do contribuinte, sua família durante um mês; que se referem ao fato de se ter o bem arrolado, divulgam pu- III anel nupcial e os retratos de família; blicamente situação fiscal não consolidada em termos jurídi- cos, atribuindo ônus ao contribuinte antes mesmo que se tenha IV os vencimentos dos magistrados, dos pro- fessores e dos funcionários públicos, soldo e os salá- por definitiva a dívida fiscal. Eis outro atentado aos direitos constitucionalmente assegurados aos rios, salvo para pagamento de prestação V os equipamentos dos militares; VI os livros, as máquinas, os utensílios e os 3. BENS QUE RESPONDEM PELO PAGAMENTO DO instrumentos, necessários ou úteis ao exercício de CRÉDITO TRIBUTÁRIO qualquer profissão; VII as pensões, as tenças ou os montepios, per- Não traz novidades, também, o comando do art. 184 (CTN), cebidos dos cofres públicos, ou de institutos de previ- no que atina à circunstância de que responde pelo crédito tribu- dência, bem como os provenientes de liberalidade de tário a totalidade dos bens e das rendas, de qualquer origem ou terceiro, quando destinados ao sustento do devedor ou natureza, do sujeito passivo, seu espólio ou sua massa falida. da sua família; Até aqui chegam todos os créditos juridicamente formalizados. VIII os materiais necessários para obras em A particularidade está no restante da redação do art. 184, ao andamento, salvo se estas forem prescrever: inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de IX seguro de vida; inalienabilidade ou seja qual for a data da constituição do ônus ou da cláusula, excetuados unicamente X imóvel rural, até um módulo, desde que este seja o único de que disponha o devedor, ressalva- os bens e rendas que a lei declare absolutamente da a hipoteca para fins de financiamento agropecuário. Já pontificam os privilégios do crédito tributário, que suplanta as garantias de crédito de outras origens, para alcançar os bens No mesmo sentido, entoa-se o art. 30 da Lei de Execuções e as rendas do devedor, mesmo gravados por ônus real ou cláu- Fiscais (Lei n. 6.830/90): sula de inalienabilidade e impenhorabilidade. Esbarra, contu- do, num não pode atingir os bens e as rendas que a Sem dos privilégios especiais sobre de- lei declare absolutamente impenhoráveis. Mas, antes mesmo terminados bens, que sejam previstos em lei, responde de enunciar a legislador do Código Tributário já hou- pelo pagamento da Dívida Ativa da Fazenda Pública a vera aberto uma ressalva dentro dos bens excepcionados. Veja- totalidade dos bens e das rendas, de qualquer origem mos quais são os bens absolutamente impenhoráveis, segundo ou natureza, do sujeito passivo, seu espólio ou sua a relação do art. 649 do Código de Processo Civil: massa, inclusive os gravados por real ou cláusu- la de inalienabilidade ou impenhorabilidade, seja qual 642 643</p><p>for a data da constituição do ônus ou da cláusula, Decreto-lei n. 227/67 inserindo o Código de Minas; a Lei n. 9.636/ excetuados unicamente os bens e rendas que a lei de- clara absolutamente impenhoráveis. 98 que dispõe sobre regularização, administração, aforamento e alienação de bens imóveis de domínio da União; entre tantas A ressalva da exceção, que a bem da verdade já estava posta outras que poderiam ser trazidas nesta lista, falando, direta ou nas palavras que a antecederam, reside logo no item I e diz indiretamente, sobre termo bem público. Eis que, para o mo- respeito aos bens declarados não sujeitos à execução mento da análise ora empreendida, todos esses bens são consi- (impenhoráveis), por disposição de vontade do devedor. Frise- derados impenhoráveis. -se que, quanto a esses, de nada vale a arguição de que a cláusu- Também estão no domínio dos impenhoráveis os bens de la de impenhorabilidade fora constituída anteriormente à família, regulados de forma específica e minuciosa na Lei n. formalização do crédito tributário e até mesmo ao seu nasci- 8.009, de 29 de março de 1990. Referido Diploma, fixou novas mento, com a ocorrência do fato jurídico da exação. Firmemos, regras sobre a impenhorabilidade do bem de família, estipulan- por outro lado, que, a despeito da identidade do texto do art. do que: (art. 1.°) O imóvel residencial próprio do casal, ou da 649 do CPC e do art. 30 da Lei 6.830/90, é de suma importân- entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qual- cia notar que último efetuou pequena ampliação, estendendo quer tipo de civil, comercial, fiscal, previdenciária ou tais normas ao pagamento da dívida ativa como um todo, ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou seja, tanto os créditos tributários como os não tributários ins- filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas critos em dívida ativa, mais uma forma encontrada pela lei para hipóteses previstas nesta Lei. Tal impenhorabilidade é oponível simplificar a cobrança e arrecadação de valores devidos aos em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, cofres públicos. trabalhista ou de outra natureza (art. IV), ressalvados os São também impenhoráveis os bens públicos, conceito casos previstos nos incs. I a VI desse mesmo artigo, especial- entendido aqui no seu sentido de origem, transportados do Di- mente o n. IV, que exclui os efeitos protetores sempre que tra- reito Civil e Administrativo ao domínio do Direito tar-se da cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e Entende-se, pois, por bem público aquela coisa material ou contribuições devidas em função do imóvel familiar. imaterial, com valor econômico, pertencente a um Ente pes- Entre os vários dispositivos deste Diploma é bom chamar soa jurídica de feitio público, isto é, integrante do domínio de a atenção para o que dispõe o art. Não se beneficiará do direito público interno, podendo ser este de caráter Federal, disposto nesta Lei aquele que, sabendo-se insolvente, adquire Estadual, Distrital ou Municipal. Na Constituição, o bem pú- de má-fé imóvel mais valioso para transferir a residência fami- blico encontra-se disposto nos arts. 20 e 26. Porém, muitas ou- liar, desfazendo-se ou não da moradia antiga. Verificada a cir- cunstância, poderá Juiz, na respectiva ação do credor, trans- tras normas dispõem sobre o assunto tais como o Decreto n. ferir a impenhorabilidade para a moradia familiar anterior, 24.643/34 que diz sobre as águas públicas; o Decreto-lei n. ou anular-lhe a venda, liberando a mais valiosa para execução 7.841/45 que introduz Código de Águas Minerais; o Decreto- ou concurso, conforme a hipótese (§ -lei n. 9.760/46 enumerando os bens da União; o Estatuto da Nas hipóteses em que o contribuinte tenha em seu poder Terra Lei n. 4.504/64 esclarecendo sobre as terras públicas bem gravado por alienação fiduciária e por venda com reserva rurais; a Lei n. 4.771/65 apresentando o Código Florestal; de domínio, não se aplica a garantia do crédito tributário sob 644 645</p><p>comento, pois nesses dois casos somente a posse é transferida monstrar que independeu da vontade do devedor. Todavia, a ao adquirente do bem (contribuinte), permanecendo o domínio prova haverá de ser rigorosa e contundente. Caso contrário, pre- em poder de terceiros. valecerá o aspecto de fraude presumida. Ainda sobre a Lei, para efeitos de impenhorabilidade, a no- Julgamos supérfluo o parágrafo único do art. 185 ao dizer ção de residência alcança tão só imóvel utilizado pelo casal ou que inexiste presunção de fraude quando o devedor, alienando pela entidade familiar para moradia permanente (art. e, na bens ou rendas, reserva outros para garantir o total pagamento hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários da dívida tributária. Sobressai à evidência que não houve nem imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá poderia haver fraude em situações dessa natureza. Que fraude sobre de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para seria essa em que o sujeito passivo sob reserva bens sufici- esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código entes para o implemento de seu débito? Civil. Tal é a ressalva do parágrafo único do art. É bom advertir que embora haja uma precisa unidade de Valendo-se das modulações acima colocadas, em linha de tempo, a contar da qual emerge a presunção de fraude do deve- princípio, é possível afirmar que bens absolutamente dor alienante de seus bens ou rendas, nem por isso estará veda- impenhoráveis a que se refere o art. 184 do CTN significam do à Fazenda o caminho de comprovar que a operação anterior aqueles que decorrem direta e exclusivamente da lei, sendo in- visou a defraudar o Fisco. A prova, certamente, não é fácil, mas dependente de qualquer ato de vontade, isto é, são os bens: teoricamente pode ser produzida. a) impenhoráveis (art. 469 do CPC); Acerca do tema, Luciano assevera que, do teor do b) públicos (art. 67 do CC); e, art. 185, parágrafo único, do Código Tributário Nacional c) de família (arts. 70 a 73 do CC, art. 649 do CPC, Lei n. depreende-se não ser necessário que o devedor mantenha bens 8009/90. e arts. 260 a 265 da Lei n. 6.015/73). imóveis ou móveis, podendo despojar-se de todos os seus bens, desde que suas rendas sejam suficientes para pagamento do Não se incluem na lista, portanto, os bens impenhoráveis e débito. São suas as seguintes palavras: "Se alguém, devedor de os inalienáveis por cláusulas contratuais. 1.000, aliena o único imóvel que possui por 5.000, e aplica os recursos em depósitos bancários, não há por que falar-se em fraude, mesmo porque próprio parágrafo único do art. 185 a 4. PRESUNÇÃO DE FRAUDE NAALIENAÇÃO DE BENS afasta, nessa hipótese. O problema, porém, aparece se o deve- Inscrito o débito tributário pela Fazenda Pública, no livro dor se desfaz de bens cuja propriedade é mais 'ostensiva' (bens de registro da dívida ativa, fica estabelecido o marco temporal, com maior rastreabilidade, isto é, mais facilmente identificáveis após o que qualquer alienação de bens ou rendas, ou seu come- no seu patrimônio), trocando-os por dinheiro e ocultando o pro- pelo sujeito devedor, será presumida como fraudulenta. Este duto da venda". é teor do art. 185. A presunção de fraude também não é absoluta, segundo acreditamos. Uma série de razões pode ser levantada para de- 1. Direito tributário brasileiro, 4. ed., São Paulo, Saraiva, 1999, p. 450. 646 647</p><p>Por outro lado, ocorrendo alienação de bens da qual resul- rolamento (CTN, art. 187). É o que Aliomar chama te presunção de fraude à execução, deve a Fazenda Pública fa- de supremacia do executivo fiscal. Normalmente, a ação de exe- zer uso da ação revocatória, com a finalidade de anular a alie- cução só prossegue regularmente se não houver concurso de nação fraudulenta. Além disso, ocorrendo alienação patrimonial credores, falência ou concordata. No caso da execução para a em fraude à execução, ato realizado é ineficaz perante a Fa- cobrança de crédito tributário, é irrelevante a existência de ou- zenda Pública, de modo que os bens assim alienados podem ser tros credores que postulem, ao mesmo tempo, a satisfação de arrestados ou penhorados no processo de execução seus direitos perante devedor insolvente. Ela se inicia e tem É preciso enfatizar, também, o problema concernente ao seguimento normal, independentemente do concurso de credo- momento em que uma alienação pode ser caracterizada como res, da falência, da recuperação judicial ou da concordata, in- ventário ou arrolamento. fraudulenta. Nos termos do art. 185, pode-se entender que esse instante é da inscrição do débito em dívida ativa. Inscrito o O tacitamente revogado art. 187, parágrafo único, do Có- débito tributário pela Fazenda Pública, no livro de registro da digo Tributário Nacional, prescrevia o seguinte: dívida ativa, fica estabelecido marco temporal, após o que qualquer alienação de bens ou rendas, ou seu começo, pelo su- O concurso de preferência somente se verifica entre jeito devedor, será presumida fraudulenta. pessoas jurídicas de direito público, na seguinte A Lei Complementar n. 118, de 2005, acresceu ao Código I União; Tributário Nacional art. 185-A, cujo teor confere ao juiz titu- II Estados, Distrito Federal e Territórios, con- lar da execução fiscal a prerrogativa de determinar a indisponi- juntamente e pro rata; bilidade dos bens e direitos do devedor, na hipótese de falta de III Municípios, conjuntamente e pro rata. pagamento ou ausência de indicação de bens à penhora. A or- dem de arresto, que será emitida, preferencialmente, por meio Em edições anteriores, em face do dispositivo transcrito, eletrônico, poderá recair sobre bens imóveis e moeda em con- argumentamos: tas correntes bancárias. "Sua inconstitucionalidade ressalta ao primeiro súbito de vista. É flagrante, insofismável e vitanda, sob qualquer 5. os PRIVILÉGIOS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO ângulo pelo qual pretendamos encará-la. Fere, de maneira Tirante os créditos provenientes da legislação trabalhista, frontal e grosseira, magno princípio da isonomia das pes- vale dizer, as importâncias reclamadas com base na relação de soas políticas de direito constitucional interno, rompendo emprego, ou fundadas em acidentes de trabalho, o crédito tri- que Texto Superior consagra e prestigia. Discri- butário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou a mina a União, em detrimento dos Estados, e estes, juntamen- data de sua constituição (art. 186). Além disso, sua cobrança te com Distrito Federal, em dos Municípios, quan- judicial não está sujeita a concurso de credores ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, inventário ou ar- 2. Direito tributário, cit., p. 607. 648 649</p><p>do sabemos que estão juridicamente parificados, coexistindo a massa falida deve efetuar. O art. 188 contempla a hipótese de num clima de isonomia. E, como se isso não bastasse, dá pre- deveres tributários vencidos ou vincendos, mas depois de de- ferência aos Territórios, que não têm personalidade política, cretada a falência. Estes é que hão de ter preeminência sobre com relação aos Municípios. Lamentavelmente, a ordem pre- os débitos trabalhistas, não os devidos pela empresa antes da ferencial que art. 187, parágrafo único, cristaliza na reda- sentença declaratória. A situação ocorre toda vez que as ativi- ção de seu texto vem sendo passivelmente acolhida e dades negociais da empresa não sofrerem solução de continui- cordatamente aplicada, sem que meio jurídico nacional se dade, produzindo novos fatos jurídicos tributários, com nas- dê conta da manifesta inconstitucionalidade que encerra no cimento de outras relações obrigacionais. Os débitos rios que assumirem essa dimensão, isto é, vencidos ou vincendos seu significado em face do sistema do direito positivo brasi- após a decretação da falência, são considerados encargos da leiro. Exclamam algumas vozes, como as de Geraldo Ataliba, massa falida, usufruindo de privilégio total e Michel Temer, Roque Carrazza e poucos mais, sem que delas Para contestá-los, quer a massa falida, quer concorda- façam eco os pronunciamentos do Poder tário, terão de garantir a instância, depositando a importância Com a Lei Complementar n. 118, de 2005, não há mais equivalente ao débito. Se não puderem fazê-lo, juiz remeterá essa ordem de preferência. Agora, os créditos tributários da as partes ao processo competente, mandando reservar bens su- União, dos Estados, do Distrito Federal e Municípios concor- ficientes à extinção total do crédito e de seus acrescidos, ouvin- rem em igualdade de condições. O dispositivo corrigiu a fla- do, quanto à natureza e valor dos bens reservados, repre- grante aberração, valendo a crítica que adscrevemos nos textos sentante da Fazenda Pública interessada (art. 188, § das anteriores edições deste Curso. Fica a experiência sempre Quanto se dispõe no art. 188 e seu § aplica-se, igual- valiosa de que os enunciados legais que contrastam com a Cons- mente, aos processos de concordata (art. 188, § tituição da República devem ser suprimidos, quer pelo Poder Judiciário, quer por novas disposições provenientes do Poder Quanto à possibilidade ou não de a Fazenda Pública re- Legislativo. querer a falência do devedor, tem-se como favorá- veis fato de que a lei falimentar impede que credor com garantia real requeira a falência, exceto se renunciar à referi- 6. CRÉDITO TRIBUTÁRIO NOS PROCESSOS DE da garantia. Argumenta-se, assim, que a Fazenda Pública é FALÊNCIA DO DEVEDOR mera quirógrafa, não possuindo garantia a renunciar, haja vis- ta que seu privilégio só surge com a decretação da falência. Sob a vigência do tacitamente revogado art. 188, §§ e Tais argumentos, todavia, não procedem. crédito da Fa- comentamos o seguinte: zenda Pública, conquanto não constitua uma verdadeira ga- "No decurso do processo de falência, são prioritários a rantia real, apresenta particularidades que aproximam des- quaisquer outros encargos da massa falida os créditos ta, e, em certos aspectos, conferem vantagem sobre ela. É rios, vencidos ou vincendos, exigíveis assim que decretada a que se depreende do art. 184 do Código Tributário Nacional, quebra. A prioridade é de tal ordem que mesmo as dívidas de segundo o qual crédito tributário é garantido pela 'totalida- cunho trabalhista cedem diante das prestações tributárias que de dos bens e das rendas, de qualquer origem ou natureza, do 650 651</p><p>sujeito passivo, seu espólio ou sua massa falida, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou quadro geral dos créditos habilitados, a dívida tributária pre- impenhorabilidade, seja qual for a data da constituição do ônus fere a qualquer outro encargo do monte, seja ela vencida ou ou da cláusula, excetuados unicamente os bens e renda que a vincenda, ensejada pelo autor da herança ou pelo espólio, lei declare absolutamente (grifos nossos). exigível no curso do processo. As prescrições formam o con- teúdo do art. 189 e seu parágrafo único. Com tantas vantagens, é insustentável a opinião da equi- valência entre os créditos pessoais comuns e crédito Aberta a sucessão, cumpre ao inventariante relacionar to- rio, pois este, embora pessoal, muito se aproxima do crédito das as dívidas existentes, ficando pessoalmente responsável pelas com garantia real, e, por vezes, supera-o em privilégios". prestações tributárias suscitadas pelo espólio. A título de provi- Com a edição da Lei Complementar n. 118, de 2005, o cré- dência acauteladora, o magistrado a quem está submetido o pro- dito tributário, no processo de falência do devedor, continua a ter cesso de inventário ou de arrolamento manda saber, dos órgãos primazia em face de todos os demais, exceto diante dos créditos da Administração Tributária, da possível existência de débitos trabalhistas e decorrentes de acidente de trabalho, dos créditos fiscais, a fim de que se resguardem seus privilégios. extraconcursais, das importâncias susceptíveis de restituição, nos Repete-se a primazia do crédito tributário na liquidação termos da lei falimentar, bem como dos créditos com garantia judicial ou voluntária das pessoas jurídicas de direito privado. real, no limite do valor do bem gravado. Consideram-se "crédi- Vencidos ou vincendos, desde que exigíveis no decurso da li- tos extraconcursais", de acordo com art. 84 da Lei n. 11.101, de quidação, gozam de prioridade absoluta (CTN, art. 190). 2005, as remunerações devidas ao administrador judicial e a seus auxiliares, os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou derivados de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados 8. NECESSIDADE DE QUITAÇÃO após a decretação da falência, as custas e demais despesas incor- A prova da quitação dos débitos tributários é imposição ridas no curso do processo falimentar e os créditos tributários inarredável para que se conceda a recuperação judicial ou se de- cujos eventos jurídicos ocorrerem depois da decretação da falên- clarem extintas as obrigações do falido. As prestações fiscais cia. Desse modo, é curioso notar que tais créditos tributários pre- atinentes à atividade mercantil hão de estar saldadas, sem o que ferem aos créditos com garantia real. Por sua vez, as "importân- não se libera o falido (CTN, art. 191). O pretendente da recupe- cias passíveis de restituição" são as quantias emprestadas à mas- ração judicial, para fazer jus ao privilégio, deve, pelo menos, portar sa pelos próprios credores. Com essas modificações, crédito a certidão positiva com efeitos "de negativa", em razão do tributário perde um pouco de sua "força", diante da antiga reda- ção do art. 188 do CTN. parcelamento do crédito (CTN, arts. 191-A, 151, 155, 205 e 206). Também a prolação da sentença de julgamento de partilha ou da adjudicação fica na dependência da prova de que se achem 7. O CRÉDITO TRIBUTÁRIO NOS PROCESSOS DE IN- quitadas as obrigações tributárias relativas aos bens do espólio, VENTÁRIO, DE ARROLAMENTO E NA LIQUIDA- ou de suas rendas (art. 192), o que significa que os trâmites ÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS formais da transferência do domínio dos bens não se opera sem De modo diverso, crédito tributário mantém posição pri- que os interessados exibam os documentos de quitação. Tanto vilegiada nos processos de inventário e de arrolamento. No essa quanto a anterior são medidas de alcance prático conside- rável, no sentido de proteger os créditos tributários. 652 653</p><p>Nesta temática, excelente foi a decisão do acórdão do juiz líbrio no vínculo tributário existente entre Fisco e contribuinte. Henrique Miranda, da Vara Cível de Ponta Grossa/PR, nos Fator estrutural do direito tributário, o referido ditame é com- autos de Recuperação Judicial 390/2005, em que dispensou a preendido como a conjugação de três subprincípios: (i) da apresentação de CND para fins de se deferir o pedido de recu- pertinência, aptidão ou adequação do meio utilizado para al- peração judicial: cançar determinado fim de interesse público; (ii) o da "a exigência de apresentação de certidões nega- exigibilidade ou necessidade da medida para lograr tal fim; e, (iii) da proporcionalidade stricto sensu na escolha do meio tivas que, na prática, equivale a impor ao empresá- rio estar em dia com as obrigações fiscais e previden- específico. É utilizado, precipuamente, para harmonizar valo- ciárias inviabiliza a recuperação judicial. Fazendo- res e princípios, especialmente na ocorrência de tensão entre -0, conflita com princípio constitucional da função princípios. E o que se dá no caso em tela. No entrechoque entre social da empresa e com os outros que a ele se ligam, garantir a exigibilidade do crédito tributário e a função social entre os quais da dignidade da pessoa humana. E, na da empresa, atribui-se ao primeiro maior relevância, impondo colisão de e norma, prevalece aquele, deven- ao contribuinte a prova de quitação das obrigações fiscais e do ser dispensada a autora, destarte, da apresentação previdenciárias, mediante apresentação de certidões negativas. das certidões (...). Eis que, em considerando que a ausência de prova nada altera o Se não há empecilho ao ajuizamento de execuções direito das Fazendas Públicas e, por outro lado, muito onera o fiscais, ou ao prosseguimento de execuções já instau- contribuinte, dificultando o acesso ao procedimento que tem radas, é desarrazoado exigir do devedor a regulariza- por objetivo, justamente, a recuperação judicial da empresa, deve ção de sua situação perante Fisco para ver deferido ler-se o enunciado do art. 191-A, em nome da proporcionalidade, pedido de recuperação judicial, considerando que com uma série de cautela, buscando também atender ao precei- esta, concedida, nenhuma limitação acarretará ao to constitucional que visa a preservar a instituição direito das Fazendas Públicas. Embora não esteja es- crito na Constituição, da razoabilidade está Paralelamente, é vedado a qualquer órgão da Administração nela, e, quando ferido injustificadamente, Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Muni- autoriza relevar exigências desmedidas, que não te- cípios, ou de suas autarquias, celebrar contratos ou aceitar pro- nham outra finalidade senão a de impedir a realização postas em concorrência pública, sem que o contratante ou o pro- de direitos. ponente faça prova da quitação de todos os tributos devidos à Fazenda Pública interessada, relativos à atividade em cujo exer- No quadro conceptual da referida relação jurídica de dever cício contrata ou concorre, salvo disposição de lei que expressa- instrumental, que estipula ao contribuinte o dever de apresentar mente autorize a dispensa (CTN, art. 193). Também a Constitui- CND para fins de adquirir direito de recuperação judicial, so- ção Federal, em seu art. 195, § veda a contratação entre o breleva observar a presença inexorável do princípio da Poder Público e a pessoa jurídica em débito com o sistema da proporcionalidade, mais uma vez atuando em benefício do equi- seguridade social, bem como a concessão de ou in- centivos fiscais creditícios a quem se encontre nessa situação. 3. José Eli Salamacha, A recuperação judicial de empresas e as dívidas Duas observações são colocadas, a respeito da disposição fiscais, RET 47, jan.-fev./06. desse art. 193: uma, sobre a possibilidade que o legislador tem 654 655</p>

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